Você está na página 1de 2

Há um entendimento entre especialistas políticos que defendem que estamos sentindo os

efeitos das revoltas de 2013 até hoje. As Jornadas de Junho, como são chamadas hoje,
se iniciaram a partir da insatisfação da população paulista com o aumento de 20
centavos nas tarifas de ónibus, gerando um efeito cascata que tomou conta do Brasil em
junho daquele ano. Cobranças por melhorias nos setores educacionais e médicos,
reclamações dos esquemas de corrupção tão propagados pela mídia, desejo de
rompimentos com o sistema... Esses eram apenas alguns dos pontos que os
manifestantes cobraram massivamente e que levou a uma das maiores polarizações
políticas dos últimos anos.
Jair Bolsonaro, que desde sua primeira eleição nos anos 90 já se portava como um
político fora da curva e anti-establishment, conseguiu sair da bolha da extrema-direita
brasileira para se projetar como candidato à presidência do Brasil. Bolsonaro foi
esperto, utilizando do caos no meio político e identificando a oportunidade de ser o
grande salvador da pátria uma vez que não se curvava à burocracia e fazia o que queria
quando bem entendia. Não importava se Bolsonaro estava ofendendo uma presidente
eleita, as instituições democráticas ou até mesmo a própria população brasileira, ele
conseguiu ser visto pela grande massa como o único capaz de ‘salvar o país’ da ameaça
que pairava a ano.
É aqui que surge Steve Bannon.
Empresário estrategista da campanha à presidência de Donald Trump em 2016, Bannon
é o que a mídia estadunidense gosta de chamar de ‘conspirador’. Isso se dá pois Bannon
soube usar a situação política dos EUA com maestria, encontrando os principais pontos
de insatisfação da classe republicana e, ao invés de reforçar um projeto que desse conta
dessas insatisfações, atacar o partido Democrata e a mídia liberal para descredibilizar
suas falas e substituí-las por absurdos, gerenciando esses conflitos a fim de expor a
‘desesperança’ que o povo americano vinha sentindo desde o segundo mandato de
Obama.
Assim foi criado o movimento da extrema-direita que iria ditar grandes eleições dali a
frente. A insatisfação com governos e políticas recentes, defesa de um livre mercado de
Estado mínimo, antiliberal, favorável a penas de morte, pró-cristão, contrário à direitos
humanos...
“As pessoas querem seu país de volta, simples assim.” dizia Bannon.
Desse modo, Bannon encontrou um aliado inesperado enquanto construía sua estratégia
de tornar Trump, uma celebridade de reality show, em presidente dos Estados Unidos: a
internet.
A mídia online possui pouca checagem e é muito rápida de se propagar, tendo reações
quase imediatas. Esse foi o palco perfeito para a instauração do caos, com mentiras
disfarçadas de verdade se espalhando com água pela nação norte-americana, sem
escrúpulos para derrubar quem quer que fosse no projeto de poder. Essa não é uma
política de conciliação em prol do país, mas sim a arte do conflito para colocar ‘nós
contra eles’.
Se isso deu certo na mais antiga democracia do mundo, por que não daria em nossa
jovem e prematura democracia de menos de 40 anos?
Bannon foi consultor pessoal de Jair Bolsonaro na campanha de 2018, traçando
estratégias para que o então capitão, assim como Trump, deixasse de ser uma
celebridade de televisão barata para despontar com chefe de Estado.

Você também pode gostar