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guerra da informação e
censura no século XXI.
Cristian Derosa
Sumário
A guerra da informação
O problema das Bolhas
Ressurgimento do conservadorismo
Fact-checking e a caça às bruxas
O poder narrativo
Efeitos de longo prazo
Estrutura de um movimento político
segundo Olavo de Carvalho
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esde que Donald Trump utilizou para classificar
a CNN, durante a campanha, o termo fake news
vem sendo apropriado pelos próprios ofendidos
para devolver o rótulo de maneira sistemática e organiza-
da, tendo como base o conceito expresso no influente artigo
The Science of fake news, que conceitua o fenômeno como a
“mentira politicamente orientada”, ou seja, conteúdo de di-
reita ou conservador. Desde que se tornou evidente a práti-
ca do Facebook e Twitter de perseguir vozes anti-establish-
ment nos EUA e no Brasil, não é mais possível negar que o
termo fake news é definido pela esquerda. E é de lá que os
jornais importam o seu significado, assim como setores da
política tradicional.
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jornais e chegou à magistratura e o Legislativo. Com a
CPMI das Fake news, os setores conservadores que ga-
nharam voz após a eleição de Jair Bolsonaro temeram a
instalação de um aparato de censura e perseguição por
meio do judiciário. Mais do que isso: a comissão preten-
deu inicialmente punir qualquer cidadão que compar-
tilhasse conteúdo considerado falso, uma prática muito
comum em países com tradição de controlar ativamente
a opinião pública, como China e Rússia.
As redes sociais são a principal preocupação dos cen-
sores atuais. A grande transformação da internet nas
últimas décadas trouxe um crescimento assustador da
participação da sociedade na política, uma ampliação do
debate político que alcançou as massas populares. Mas o
que deveria ser motivo de comemoração dos apóstolos da
pluralidade, porém, vem causando medo em quem sem-
pre teve o controle das informações.
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sobre a comunicação e a informação no mundo.
É assim que as chamadas “bolhas” terminam colaboran-
do para uma polarização que, na visão dos arquitetos do
mundo, só leva à discórdia, à intolerância, preconceito,
enquadrando nisso a liberdade opinativa e expressiva da
Internet.
Aliados a partidos, movimentos organizados e entida-
des da esquerda internacional, os gigantes da mídia vêm
utilizando seu poder para impor censura a ideias contrá-
rias. A participação livre nas redes sociais acabou crian-
do obstáculos para a construção de uma nova ordem e
a população passou a apoiar espontaneamente políticos
conservadores que prometem enfrentar os monopólios
da mídia e da política tradicional, uma situação contra a
qual os gigantes já vêm buscando saídas.
No Brasil, as manifestações de 2013 culminaram em um
processo de retomada da consciência política por parte
das massas, que afinal elegeram Jair Bolsonaro, passando
pelo Impeachment de Dilma Rousseff, que representou
o início da queda da esquerda na América Latina. Mani-
festações contra exposições artísticas impróprias, além de
diversos outros episódios acenderam o alerta para os ris-
cos políticos e econômicos que corriam os barões da es-
querda, resultado da liberdade que vem das redes sociais.
O tema do controle social da mídia, que culmina no
controle total da internet, já é tema tradicional nos de-
bates da esquerda, embora só recentemente tenha ganha-
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Ressurgimento do conservadorismo
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capital do The Washington Post nos EUA, sócio com 16%
do capital da agência de notícias NBC, 8,92% da Coca-
-Cola e a 4,57% da Liberty Media (também no ramo de
comunicação), além de bancos e empresas na área da saú-
de. A Coca-Cola tem investido em campanhas de promo-
ção da Ideologia de Gênero e outras causas progressistas.
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za o sonho do jornalista Walter Lippmann, que em 1922,
recomendou que “as opiniões fossem organizadas para a
imprensa e não pela imprensa”, como era feito então.
Embora Soros compartilhe interesses com Buffet, Bill e
Melinda Gates e Zuckerberg, recentes notícias pareciam
caracterizar um clima de guerra entre Soros e o Face-
book. Soros afirmou que tanto Google como o Facebook
estariam tendo um monopólio da informação e portanto
deveriam ser controlados ou censurados. Parece que todo
o controle da informação exercido pelo Facebook tem se
mostrado insuficiente diante da iminente queda das es-
querdas pelo mundo. Soros não gosta da versão livre do
Facebook.
A solução para o problema enfrentado pelos grandes ve-
ículos, que há décadas sofrem com a vertiginosa queda
de credibilidade, veio a calhar: o rótulo fake news, popu-
larizado por Trump durante as eleições, está sendo usado
em favor do próprio establishment midiático que detém
o controle do fluxo das informações. Todo canal, página,
site ou blog que “furar” a mídia, isto é, que divulgar in-
formações sonegadas por eles, será fatalmente carimbado
e estereotipado com o rótulo que ninguém quer. A Folha
de São Paulo divulgou uma lista de sites confiáveis e outra
dos não confiáveis, praticantes de fake news.
Recentemente, analistas do jornal El País manifestaram
temor pelas consequências da democratização da mídia.
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buscava converter as redes sociais em uma via de mão
única, que poderia facilmente ser usada para angariar
apoio a causas e pautas de maneira controlada. Mas per-
deu a capacidade de influenciar a sociedade a partir da
rede social, pela difusão de informações, o que deveria
ser feito por outros meios. A informação passa a ser um
bem relativo no tempo da “pós-verdade”, termo que ficou
na moda e significa o uso da informação, verdadeira ou
falsa, para a legitimação de pautas e causas. O ativismo,
mais do que nunca, vai ganhando mais credibilidade e a
informação (ou a verdade) sendo relativizada em nome
de conveniências.
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político ou entrevistado. O rótulo já vem pronto antes
mesmo do repórter fazer a primeira pergunta.
Em tempos de hegemonia de esquerda nas redações, o
aparato midiático tem uma estrutura bastante simples,
que pode ser percebida fonte a fonte, na estrutura discur-
siva dos jornais. Nela o que mais importa não são as in-
formações, mas o critério narrativo de seleção das infor-
mações, fornecido por fontes específicas. Os especialistas,
os estudos consultados ou personagens representativos
de um determinado “drama social” são fornecidos aos
jornais e dificilmente descobertos por eles. Este aspecto
é o que muitas vezes determina o tom de uma cobertura
e impossibilita respostas ou discussões, já que o nível dos
pressupostos dificilmente é tocado pelo eixo argumenta-
tivo tradicional em que transcorrem os debates públicos.
Não é da natureza dos debates públicos questionar as
premissas de uma discussão
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Dinâmica histórica (marxista) >> análise
de conjuntura >> diagnóstico dos problemas
>> eleição de problemas >> critério de rele-
vância noticiosa >> fatos representativos >>
Livre “debate” de soluções.
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A estrutura da Janela de Overton é expressa pela Teoria
do Agendamento, na qual a primeira etapa é a do agen-
damento de objeto, a definição da pauta de discussão pú-
blica. Em segundo lugar, o enquadramento ou atributos
associados ao objeto, definindo assim uma estrutura per-
suasiva de longo prazo.
Em 2013, delineei um esquema persuasivo utilizando
o padrão da Teoria do Agendamento, que foi admitida-
mente utilizado por ativistas ambientais para gerar deba-
tes nos jornais. O padrão se iniciava com a etapa infor-
mativa, seguida pela pressão política e terminando com
a abordagem pedagógica. A última abordagem, de cunho
educativo e conscientizador, define-se pela ausência total
de debate sobre as informações, que são tomadas como
premissas inquestionáveis das soluções propostas, pois já
partem da definição prévia dos problemas.
Diálogo intelectual
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toridade intelectual e política que utilizam, vez por ou-
tra, massas de manifestantes para as suas causas. São os
organizadores das massas e influenciadores da opinião
pública. Difere-se da classe intelectual primordial pela
intenção política clara, sem intenções científicas ou inte-
lectuais, mas submetendo-a à atividade estritamente po-
lítica.
Estudos e informação estratégica
Segundo Washington Platt, no livro A Produção de In-
formação Estratégica, a informação com função estraté-
gica difere-se da informação pura ou descontextualizada
pela função que integra-se no seu corpo de critérios. Platt
se refere a Intelligence (informações estratégicas) divi-
dindo-a em dois tipos básicos: o dado bruto, descontex-
tualizado e inacabado (raw information) e a informação
acabada (finished intelligence).
A informação deve ser objetiva e oportuna. Por opor-
tuna entendemos a necessidade em dado momento, o
que no jornalismo chamamos de relevância. Mas rele-
vância é um conceito bem mais complexo do que sim-
plesmente uma necessidade. Afinal, grupos e movi-
mentos ideológicos sempre necessitam de informações
que exemplifiquem, confirmem e deem a sensação de
continuidade às suas narrativas históricas, sociológicas.
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ções específicas dentro de um sistema democrático e seus
significados, sempre cambiantes, vão abastecendo a so-
ciedade com normas de conduta e pensamento. A palavra
“empatia”, por exemplo, veio da área da psicologia com-
portamental, no âmbito de um modo normativo de agir
para alcançar consensos em negociações. Assim como as
“dinâmicas de grupo”, que viraram febre a partir dos anos
90, técnicas de transformação comportamental acabaram
se normalizando como se fossem conceitos descritivos da
realidade, como veremos.
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do século XIX e início do XX, jornais tentavam criar a sua
versão de método científico, com investigação em cober-
turas de campo, confrontação de versões e contrapontos,
hipóteses e uma vasta gama de figuras análogas ao méto-
do científico.
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longo do tempo, adaptando-se e desconstruindo a ideia
de objetividade originária, a “metáfora do espelho”, reco-
nhecendo os méritos da investigação isenta, mas trazen-
do possibilidades de construção específicas para o que os
professores de jornalismo passaram a chamar de “contex-
tualização”.
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seleção de notícias, poder definidor que dispensa o uso de
outros esforços.
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É preciso entender as forças em jogo e saber articular seus
símbolos e mitos, suas imagens mentais, suas contradi-
ções e idiossincrasias, para comunicar à sociedade seden-
ta por entendimento do mundo em que vivem.
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