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Os riscos eticos
da globalizaçâo
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Entrevistas sobre
globalizaçao
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EDITORAAnLIADA
Premliu Editora
Todos os direîtos reservados. Proibida a reproduçâo, armazenaraento outransmissâo de partes deste livro,
através de quaisquer meios, sem prévia autorizaçâo por escrito do autor oueditora.
Michel Schooyans
Professor Emérito da Universidade de Louvain
Entrevistas sobre
Os riscos étioos da
globalizaçao
Prefâcio
Prof. Antonio Mourâo Cavalcante
Titular da Faculdade de Medicina da
Universidade Fédéral do Cearâ
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EDITORA
Copyright © 2003 Michel Schooyans
EDITORA
IMPRESSÂOE ACABAMENTO
PREMLTUS EDITORA
Rua Antonio Pompeu, 1705 - Centro
PABX: (85)281.5072-Fax: (85)283.1083
Fortaleza - Cearâ - Brasil
www.premiuseditora.ind.br
premiuseditora@uol.com.br
premius©premiuseditora.ind.br
Capa
Calasans Neto
(gravura em madeira)
Diagramaçâo
Elias Sabôia
Montagem e Gravaçâo
Carlos Antonio (Tonhâo)
104 p.
Prefâcio
L
Capîtulo VI: Wâo matarâsl, entrevista recolhida pelo
Frei Nuno Serras Pereira, ofm, para a agência Infovitae
(Lisboa), 4 de maio de 2002 73
11
futuro da sociedade mundial. Esses termos significam antes
de mais nada, que as sociedades humanas tornaram-se
interdependentes: por exemplo, uma desvalorizaçâo do yen
japonês repercute em toda a economia mundial. Isso
significa também que as sociedades mundiais estâo
integradas: as viagens e a mîdia ensinam os homens a se
conhecer melhor; a informaçâo cientifica é amplamente
divulgada e discutida em fôruns virtuais abertos 24 horas por
dia. Em princîpio, devemos evidentemente nos alegrar com
essa evoluçâo e é claro que ela demanda novos instrumentos
de conduçâo das relaçôes internacionais.
Tradicionalmente essas relaçôes internacionais se
organizam a partir de dois modelos. De um lado, um modelo
encarnado hoje pelos EUA. O globalismo é aï concebido a
partir do projeta hegemônico da naçâo dominante, cujo
objetivo é impor uma organizaçâo do mundo de inspiraçâo
neoliberal. Esse projeta tem de inicio uma forte conotaçâo
econômica: seuobjetivo é a globalizaçao do mercado; mas
comporta também, evidentemente, uma vontade de gerir
politicamente o mundo. Nâo pode ser realizado senâo com
a conivência das naçôes ricas. O outro modelo é herdeiro
do intemacionalismo socialista e, se insiste sobre as
necessârias reformas econômicas, coloca em primeiro piano
um objetivo polîtico: limitar a soberania dos estados e
submetê-los ao contrôle de um poder polîtico mundial. O
método para atingir esse fim nâo é mais revolucionârio; no
espîrito de Gramsci, é reformista.
Quando fala em globalizaçao, a ONU incorpora os
12
significados dessa palavra tais como viemos de recordar.
Mas aproveita-se da imagem positiva associada ao termo
para imprimir-lhe novo significado. A globalizaçao é
interpretada à lui de umanova vlsôo de mundo e do lugar
do homem no mundo. Essa visâo "holîstica" considéra que o
mundo constitui um todo dotado de maior realidade e valor
do que as partes que o compôem. Nesse todo, o surgimento
do homem nâo é senâo um avatar da evoluçâo da matéria.
13
J_
predador. E como todas as populaçôes de predadores,
afirma-se que a populaçâo humana deve ser contida,
limitada imperativamente, dentro dos limites do.
desenvolvimento sustentàvel.
14
incandescência na Declaraçâo de 1948. Ao documento
caberia nâo somente superar a Declaraçâo Universal, mas,
para alguns, deveria mesmo suplantar o prôprio Decâlogo,
modéstia à parte!
15
uniôes homossexuais têm o mesmo direito que a famîlia, etc.
Daî nascem os assim chamados ttnovos direitos do homem",
sempre renegociâveis ao sabor dos interesses daqueles que.
podem fazer prevalecer sua vontade.
Para tornar palatâveis esse unovos direitos" e sobretudo
a concepçâo do direito que Ihes é subjacente, dois eixos de
açâo devem ser privilegiados. É preciso inicialmente
enfraquecer as naçôes soberanas, pois sâo geralmente as
primeiras a protéger osdireitos inalienâveis de seus cidadâos.
Em seguida, nas assembléias internacionais, é preciso obter-
se o maior consenso possîvel, recorrendo se preciso à
corrupçâo, à chantagemouà ameaça. Uma vez alcançado,
o consenso pode ser invocado parafazer adotar convençôes
internacionais que adquirem força de lei nos estados que as
ratificaram. Esse tipo de globalizaçao, sustentado por uma
concepçâo puramente positivista do direito, justifica as mais
intensas apreensôes. Aos poucos, a ONU esta procedendo à
supranacionalizaçâo do direito e do judiciârio a fim de
extender um "direito" de ingerência - que ela usurpa.
16
pela presença em seu interior de "fraternidades" e de "redes".
Contudo, tais realidades existem sem sombra de dûvida. Nos
as conhecemos nâo somente por suas açôes, mas também
pelo que alguns de seus membros dizem a seu respeito
publicamente, por exemplo na televisâo. Evidentemente,
sempre hâ pessoas prontas a negar fervorosamente as
evidências, incluso quando nem sequer sabem onde
encontrar os dossiês. Mas sera preciso esperar que os
membros da DGSE francesa (Direçâo Gérai de Segurança
Exterior) desfilem com uma braçadeira para saber que a
DGSE existe?
Na realidade, a ideologia onusiana da globalizaçao
esta plasmada em referências livre-exaministas, agnôsticas,
utilitaristas e hedonistas. Se analisarmos pacientemente as
récente reuniôes da ONU sobre questôes tâo diversas como
saûde, populaçâo, meio-ambiente, habitat, economia
mundial, informaçâo, educaçâo - para citar apenas esses
exemplos, percebemos uma notâvel comunidade de
inspiraçâo e uma igualmente notâvel convergência de
objetivos. Éclaro que sob instigaçâo das naçôes soberanas
que sâo seus membros, a ONU deveria procéder à uma
auditoria interna, sem o que darâ cada vez mais a impressâo
de estar sob influencia de uma mafia tecnocrâtica. Tenho
sobre outras a vantagem de chegar à essa conclusâo apôs
vârios anos de pesquisa. Porém, se me perguntar se vi com
meus prôprios olhos a "mâo invisîvel", devo Ihe responder
que vî somente sua sombra. Mas no casa isso é suficiente.
Traduçâo de RuiA. C. Costa.
17
Capîtulo II
Prioridade do homem
na era da globalizaçao
Entrevista recolhida por
Josué Costa
para O Libéral (Belém do Para),
29dejunhode2002.
19
Em Belém, Schooyans palestra sobre questôes muito
actuais, que eie submete à luz dos Evangelhos. Aos
empresârios, politicos, padres e agentes de pastoral, fala
da ética nas relaçôes internacionais e da globalizaçao.
Schooyans é considerado uma das maiores autoridades
internacionais quando as questôes politicas e econômicas
exigem uma abordagem ética. O sacerdote nâo poupa
chicotadas à portados templos da Organizaçâo das Naçôes
Unidas (ONU), culpando-a por alguns dos principais
desmandos de ordem internacional. "O que vale, é o
consenso, que se oficializa nas convençôes, sem nenhuma
preocupaçâo com a busca da verdade", observa o
sacerdote.
20
Y
21
homens sâo iguais em dignidade. A ONU exerceu entâo, com
uma autoridade respeitâvel, o papel de relevo nas relaçôes
entre as naçôes, na manutençâo da paz, na promoçâo do
desenvolvimento. Tinha méritas indiscutîveis nesses campos.
Hoje, nâo. A ONU sofreu um processo de transformaçâo do
quai somos testemunhas: os direitos humanos jâ nâo sâo
reconhecidos como verdade; sâo o resultado de um
consenso. Contracepçâo de qualquer tipo, aborto, uniôes
homossexuais, eutanâsia, par exemplo, jâ corresponderiam
a assim chamados "novos direitos humanos". Os direitos
humanos se confundem com os direitos comerciais: estamos
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a vida ainda é respeitada, felizmente, apesar do bombardeio
mediâtico e das crîticas de que sâo vîtimas as famîlias que
acolhem a vida. O capitalmais importante e que maispode
vlr a faltar é o capital humano, isto é o homem bem formado,
na famîlia e num bom sistema educativo. GaryBecker, chefe
da Escola de Economia de Chicago, ganhou o Prêmio Nobel
de Economia em 1992 por ter demonstrado isso.
23
organizaçâo. Épreciso desmistificar os chavôes que nos sâo
apresentados como "verdades", mas que sâo na realidade
subprodutos de ideologias néocolonialistes e eugênicas,
Essas, por exemplo, levam hoje a programas inadmissîveis
de esterilizaçâo das massas pobres.
24
as réservas dos recursos naturais sem que os paîses pobres,
donos natos desses recursos, tenham acesso ao saber e
tecnologias para explorâ-los em benefîcio prôprio.
Quai a receita?
Nâo hâ receita pronta e aplicâvel em qualquer
espaço geopofrtico. Penso, no enfanta, que entre as açôes
comuns esta a imediata escolarizaçâo acessh/el a todos,
jovens e adultos, sem discriminaçâo. Amaior riqueza de um
pais é seu prôprio povo. Eie merece, prioritariamente, zelo,
25
dedicaçâo, empenho. Depois, hâ necessidade de mudança
radical nos programas polîticos. As açôes politicas nâo
abrangem, e muito menos alcançam a énorme massa
marginalizada. No Brasil, segundo avaliaçôes sérias, um terço
da populaçâo pertence ao sub-proletariado, tâo odiado por
Marx e consortes. Até os partidos tidos como populares
incluem principalmente os operârios urbanos. Ora, um
programa polîtico décente nâo pode se focalizar apenas
sabre os interesses da classe operâria urbana industrial. A
periferia da periferia concentra uma multidao
proporcionalmente bem maior de gente. Nâo hâ progresso
sem a integraçâo da populaçâo hoje excluida, refluida,
contida até, como se fosse um perigo para o bem-estar dos
abastados.
26
Sobre os valores familiares que o senhor tanto défende...
Como resgatâ-los numa sociedade imediatista,
consumista, hedonista, indMdualista...?
Os programas que concernem as famîlias sâo
preocupantes. Somos pessoas, isto é indivîduos que se
relacionam. Afamîlia é a primeira célula de proximidade. É
inicialmente na famîlia que hâ encontro, unidade,
entrelaçamento. Hoje, a famîlia é reduzida a um nûcleo
privado, orientado para o bem e a felicidade dos seus
membros: pai, mâe, filhos, etc. Tudo isso é verdade, mas
além disso, é verdade que a famîlia é também um bem
para a sociedade. Importa para a sociedade que as famîlias
possam contribuir ao bem estar gérai, principalmente através
da educaçâo dos filhos, da preparaçâo do "capital humano".
Gary Becker, jâ citado, demonstrou que o interesse e o dever
do estado é de favorecer a familla e de reconhecer um
estatuto à mâe que cuida da educaçâo dos filhos.
27
Os marginalizados nâo têm voz nem vez nas assembléias.
Eles buscam canais de expressâo desse ressentimento
acumulado. Eas armas preferidas dessa gente sâo as armas
do prôprio adversârio, pois chefiando essa gente, hâ
intelectuais de primeira linha. Épreciso abordar o éventa do
dia 11 na perspectiva do outra lado, a do terrorista. Nâo em
busca de justificativa, que evidentemente nâo cabe, mas
em busca da compreensâo da questâo como recado para
a humanidade. Esse povo que recorre à violência précisa
ser ouvido, ter seus apelos decifrados. Aameaça nunca vai
acabar. Amassa dos excluîdos constitui uma bomba relôgio
social que pode ser detonada a qualquer momento. No Brasil,
temos essa situaçâode perigo que se expressa noterrorismo
urbano e nas açôes dos sem terra. Aguerrilha, a guerra do
pobre, esta prestes a se alastrar à escala mundial.
28
autonomia. Agora, sâo os Estados os organismos pûblicos
os mais indicados e melhor equipados para promover, em
primeira linha, os direitos humanos, a justiça, a saûde, a
educaçâo, etc..
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1 29
I
funçâo da capacidade que têm os cidadâos da exercerem
sua liberdade. Épor ter demonstrado isso que Amartya Sen
ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1998. A liberdade
se torna objeto, e nâo mais meio, do desenvolvimento. Mas
essa liberdade nâo pode eclodir nem se exercer se nâo hâ
educaçâo generalizada. Essa, sim, desperta em todos a
capacidade de fazer as opçôes libertadoras da
personalidade.
30
r
Capîtulo III
O "crash" demogrâfico
e as suas consequências
Entrevista recolhida por
te
Antonio Gaspari
para Zenit (Roma),
28 de fevereiro de 2002.
32
r
33
Hâ uns cinqùenta anos, a India contava corn alguns
duzentos milhôes de habitantes e sofria terriveis fomes.
Posteriormente, a india lançou a "revoluçâo verde".
Beneficiou-se dos trabalhos de um dos maiores benfeitores
da humanidade, o agrônomo Norman Borlaug. Mas quem
conhece esse Prêmio Nobel da Paz (1970)? Ora, graças aos
trabalhos de Borlaug, e também graças as boas medidas
polîticas e econômicas, a India alimenta hoje em dia mais
de um bilhâo de habitantes e exporta cereais. O que nâo
quer dizer que todos os problemas estejam resolvidos. A
crença na reincarnaçâo, o sistema de castas, por exemplo,
obstaculizam a integraçâo dos parias aos beneficios da
modernizaçâo. Mas isso mostra que hojeo problema da tome
pode ser resolvido graças à aplicaçâo de descobertas
decisivas, acompanhadas de boas medidas politicas e de
boas decisôes educativas e econômicas. Isso é confirmado
por uma outra observaçâo: as raras fomes atuais sâo
conseqûência de guerra, de conflitos, de uma ma
distribuiçâo, da corrupçâo, da incompetência ou da
ignorância. Veja por exemplo o que acontece na Etiôpia.
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previdência social, estruturado na euforia dos anos do pôs-
guerra. Oque vai aindacomplicar as coisas, é que as pessoas
idosas vivem mais e mais tempo e, por consequência,
requerem mais e mais cuidados dispendiosos. Daî a
importância de mimar osidosos, porque seu impactoeleitoral
é muito mais relevante do que aquele dos jovens. Daî a
tentaçâo de apararos orçamentos de educaçao e pesquisa
para agradar as pessoas idosas. Daî os desequilîbrios violentas
entre os segmentas jovens e idosos da populaçâo, com os
conflitos previsîveis entre geraçôes. Daî o fantasma da
eutanâsia.
35
Hoje contudo, o Estado engenha-se em lisonjear o
indivîduo banalizando o divôrcio e dando sua cauçâo as
uniôes as mais estrambôticas. Assim agindo, como estudos
récentes mostraram-no, o Estado précipita os indivîduos, os
mais vulnerâveis, em situaçôes de exclusâo e de
marginalizaçâo. Ora, face a tais situaçôes, o Estado-
Previdência esta simplesmente desmunido: cria problemas
que é incapaz de resolver. Leva a seu paroxismo os excessos
do liberalismo conjugados as aberraçôes do socialismo. Por
mordiscadas insidiosas, aplica-se em destruir a famîlia,
enquanto que, em todos os lugares e desde sempre, esta
desenvolve as solidariedades naturais e é em todos lugares
o ûltimo refûgio dos excluîdos da sociedade.
A conclusâo é Clara: uma mudança radical de rota
se impôe, pois o dever do Estado coincide com seu interesse;
ele deve ajudar à famîlia. Bem para seus membros, a famîlia
é igualmente um bem para a sociedade. Somente um poder
incendiârio, ignorante ou irresponsâvel pode hoje deixar de
reconhecer que na famîlia forma-se de maneira primordial
o capital humano - aquele cujo risco de vir a faltar é maior.
O economista Gary Becker demonstrou-o em trabalhos que
Ihe valeram o Prêmio Nobel de Economia em 1992. Mas
pode-se pedir a avestruzes conhecerem Borlaug e Becker e
levarem em conta suas conclusôes?
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Capftulo IV
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Existe hoje uma tendência comum quanto ao futuro da
populaçâo mundial?
Atualmente, ao contrario do que se espalha, observa-
se em todas as partes uma tendência à queda da
fecundidade. Jâ em 1997, a prôpria DMsâo da Populaçâo
da ONU reconhece esse fato. A fecundidade é o numéro
médio de filhos por mulher no perîodo fecundo da sua vida.
Os demôgrafos costumam considerar que esse perîodo se
estende dos 15 aos 49 anos. Mais precisamente, o que se
chama a taxa de fecundidade total esta baixando. O numéro
38
crescimento natural da populaçâo. Nos anos 60, ao nîvel
mundial, essa taxa era de cerca de 2,7; atualmente, a
mesma taxa é da ordem de 1,3. Prevê-se que para o ano
2005, ou mesmo antes, essa taxa poderia ser de 0,59.
Mencionemos ainda um outro parâmetro: a Idade
médiane Éa idade que divide uma populaçâo em duas
partes iguais: uma que tem mais de tantos anos, e outra que
tem menos de tantos anos. No caso da Europa Ocidental a
idade mediana atual é de 39 anos. Mas se prevê que até o
ano 2025 essa idade mediana alcançarâ cerca de 55 anos.
Donde perguntas serîssimas, como por exemplo: Quantas
mulheres haverâ em idade fecunda em 2025? Quai sera a
taxa de fecundidade total daquelas mulheres?
A evoluçâo desses très indicadores, a taxa de
fecundidade total, a taxa de acrescimo natural, a idade
mediana, confirma que nâo hâ perigo de explosâo
demogrâfico, mas antes envelhecimento e, em vârios casos,
implosdo demogrâfico. Essas tendências sâo bastante
preocupantes e redundam em algumas consequencias que
podemos considerar.
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desenvolvidos ou nos segmentos abastados das nossas
sociadades, uma tendência ao consumismo desenfreado
que se observa especialmente no fim do ano. Isso deve
provocar uma reflexâo por parte dos catôlicos. Nos devemos
redescobrir alguns valores evangélicos. Por exemplo, uma
certa austeridade de vida. Isso nâo significa que devemos
voltar à idade das cavernas, mas que devemos ser capazes
de nâo nos tornarmos escravos de bens de consumo.
Devemos dominar, conter, controlar nossos desejos. Tomar
decisôes responsâveis e razoâveis na hora de comprar uma
casa, de instalar o mobiliârio, de comprar um carro.
Por outro lado, devemos suscitar, como recomenda
o Evangelho em todas as suas paginas, a preocupaçâo com
a partilha. Comportilhar os nossos bens. Comportilhar o que
temos. Compartilhar significa nos apartarmos de certes bens
que nos gostarîamos de conservar, mas que fazemos questâo
de dividir com os outros. Um dos problemas mais gritantes
no mundo atual é justamente a concentraçâo fabulosa de
riquezas à escala do que observamos primeiro em termos
do mundo inteiro. Uma parte da populaçâo do planeta -no
mâximo 20%- vive muito bem, enquanto que uma imensa
maioria da humanidade vive em condiçôes bastante
precârias. Inclusive nas regiôes mais pobres do mundo hâ
distorçôes muito graves entre segmentos da populaçâo. Uns
que têm muitos recursos e outros que mal dispôem do
dinheiro suficiente para comprar hoje o que corner. E
realmente uma coisa escandalosa que numa época em
que se anda na Lua, ou em que se projeta conquistar o
40
planeta Marte, haja, de acordo com dados do Banco
Mundial, mais de um bilhâo de homens e mulheres vivendo
abaixo do nîvel da pobreza absoluta. Quando existem e até
sobram recursos para alimentar essa gente, que essa seja a
situaçâo de hoje é simplesmente inadmissîvel. Etanto mais
inadmissîvel que temos a possibilidade de transformar essa
situaçâo. Essa possibilidade da quai dispomos evidencia a
existencia de um problema moral, de uma récusa de
decisôes pessoais e polîticas para enfrentar aquelas
situaçôes.
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que invocam o preceito evangélico de ter piedade dos
pobres, sâô irresponsâveis. Nâo respeitam a uLei da Natureza"
que ordena a sobrevivência dos fortes e a eliminaçâo dos
fracos.
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se dâ ao luxo de sustentar uma populaçâo de mais de um
bilhâo de habitantes. Nâo desconheço que subsistem
problemas graves, especialmente os que estâo ligados ao
sistema de castas. Assim mesmo, convem perguntar-se a
que se deve essa mudança positiva. Basicamente ao que
se chama a Revoluçâo Verde. Aindia tomou medidas muito
acertadas do ponto de vista cientîfico, politico, econômico,
ao acolher as descobertas de um agrônomo desconhecido
da opiniâo pûblica, mas que é um dos maiores benfeitores
da humanidade no século XX. Este engenheiro norte-
americano se chama Norman Borlaug; ganhou o Prêmio
Nobel da Paz em 1970. Através de seus estudos, iniciados no
Mexico, ele conseguiu elaborar novas variedades de cereais
que foram aclimatadas na India. Essas variedades novas
permitiram à India nâo sô de alimentar sua populaçâo, mas
possibilitaram que a India se tornasse exportadora de cererais.
Isso mostra que quando o ser humano querrealmente
enfrentar a questâo da fome, ele é perfeitamente capaz de
fazê-lo. Significa que as fronteiras da criatividade humana
sâo indefiniveis: felizmente, nâo podemos fixar-lhe limites.
Outrocaso que se pode evocar é o da Uniâo Européia,
para a quai o problema nâo é a produçâo de alimentos mas a
contençâo, o contrôle e até a reduçâo da produçâo! Isso
significa, mais uma vez, que osproblemas politicos e de moral
politica estâo hoje em dia entre os mais agudos que existem.
Essa situaçâo révéla a falta de empenho. Afatta de empenho
moral que consiste, primeiro, em nâo querer enxergar problemas
solûveis, e em segundo lugar, nâo querer enfrentâ-los.
43
Enfâo, nâo tem sustentaçâo o discurso repisado que,
para que haja desenvolvimento, é indispensavel
controlar a natalidade?
Quer na sua forma original, quer nas suas expressôes
contemporâneas, a cartilha malthusiana nâo tem cabimehto.
Uma populaçâo jovem estimula o dinamismo e alenta a
esperança. As novas geraçôes incitam as gefaçôes adultas
a investir no homem, na educaçao, na formaçâo dos filhos.
O que voudizer agora é um pouco paradoxal e chega
a ser provocador. Hoje em dia existem estudos dos mais
autorizados que evidenciam que recurso natural é uma coisa
que nâo existe pura e simplesmente. Numa visâo moderna,
contemporânea, da riqueza de uma naçâo ou da
humanidade, nâo podemos nos atera parâmetros e critérios
que vigoravam na época colonial. Minérios, por exemplo,
petrôleo, rios, florestas, o sol, vento, orla marrtima, etc. em si
nâo constituem riquezas. O que faz de uma coisa uma riqueza
é o homem. O que faz da areia uma riqueza prodigiosa é a
capacidade de seres humanos bem preparados que,
aproveitando o silîcio, transformam essa areia em
computadores com as suas inûmeras aplicaçôes, em fibras
ôticas, etc. Sâo essas pessoas que revolucionaram nâo sô
todo o sistema mundial de telecomunicaçôes, mas também
a pesquisa cientîfica em gérai, a arte dodiagnôstico médico,
banalizando exames antes muito invasivos.
Hâ muitos outros exemplos que se poderiam sugerir.
Hoje, na Alemanha, estuda-se muito a geotermia, o estudo
da temperatura nas profundidades da terra para
44
eventualmente produzir energia. Nos, aqui em Fortaleza,
temos o privilégio de ver estaçôes expérimentais que estâo
utilizando o vento. Ovento é uma coisa à toa (como sedizl),
ordinâria, banal. Mas, o ser humano, amestrando o vento,
transforma-o numa fonte de riqueza, de energia util. Todas
as grandes descobertas foram feitas desse jeito, isto é, a partir
da intervençâo do ser humano. Na histôria das ciências e da
tecnologia apareceram assim o carvâo, o petrôleo, as
hidroelétricas, o âtomo, etc. Todo desenvolvimento résulta
nâo de coisas naturais que estariam là, à nossa disposiçâo,
mas da intervençâo humana.
Em termos teolôgicos, poderiamos dizerque Deus nâo
quis nos dar um mundo perfeito, acabado. Ele nos deu,
primeiro, a nossa inteligência, a nossa liberdade responsâvel,
a nossa vontade. Em segundo lugar, nos deu um meio
ambiente no quai vivemos e do quai devemos ser bons
gerentes. Ele nos confiou a missâo de sermos bons
administradores desse tesouro, graças aos nossos talentos.
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Os maiores economistas contemporâneos sâo
unanimes em reconhecer que o grande perigo que résulta
das campanhas de contrôle da natalidade é que elas sâo
obstâculo à emergência do capital humano. O que poderâ
vir a faltar nâo sâo os assim chamados recursos naturais, e
sim o capital humano. Os grandes economistas da Escola
de Chicago, por exemplo, sâo unanimes em reconhecer a
importância fundamental do ser humano para um futuro feliz
da humanidade. Evidentemente, eles têm em vista o ser
humano instruîdo, preparado caracterial, moral e,
acrescentemos, religiosamente. Educado nâo apenas do
ponto de vista intelectual, mas em todas as dimensôes da
sua personalidade. Um dos mais brilhantes deles, Gary Becker,
chega a afirmar e a provar que é na familia que se forma
esse capital humano. Acrescenta que a môe na famîlia tem
um papel decisivo e primordial na preparaçâo e eclosâo
desse capital humano. O menino do quai a mâe cuida no
âmbito da famîlia vai receber no lar as grandes qualidades
que serâo apreciadas e valorizadas na sociedade: o senso
da solidariedade, o senso da colaboraçâo, o senso da
iniciativa, o respeito dos outros, a responsabilidade, etc.
Segue-se que, como diz freqùentemente o Papa Joâo
Paulo II, devemos voltar a uma culture da vida, apreciar a
vida, um dom maravilhoso de Deus. As campanhas
antinatalistas inspiram-se nas ideologias lugubres da culture
da morte. As prôprias campanhas de esterilizaçao sâo
expressôes de um fascînio da morte, do rechaço da vida.
Trata-se de uma espécie de morte preventiva, antecipada,
46
que se provoca através de prâticas violentas e totalmente
contrarias aos direitos humanos. Sera que mutilar uma mulher
é uma maneira credîvel de honrar a sua dignidade?
Circunstância agravante: consta que elevada proporçâo
dessas esterilizaçôes sâo forçadas ou coercivas. Essasprâticas
ferem gravemente o direitoda mulher à sua integridade fîsica
e à sua dignidade.
Frente àquela situaçâo, nâo devemos apenas
proclamar que a vida é belîssima, que é uma dâdiva de
Deus. Devemos ajudar aqueles que se encontram em
situaçôes precarîssimas a dispor dos recursos que Ihes
permitam aceder a um nîvel de vida mais digno da sua
condiçâo humana.
47
psicolôgica; que toda discriminaçâo deve ser condenada;
que o homem tem liberdade de se associar, de se exprimir,
de praticar a sua religiâo, de se casar, de ser educado e
assim por diante.
Ora, existe atualmente, sobretudo nos meios ligados
diretamente à ONU, uma tendência a considerar que o ser
humano é apenas uma parcela no universo. Isto é, que
devemos abandonar o antropocentrismo tradicional.
Devemos considerar que o ser humano é uma partîcula fugaz,
efêmera no mundo ambiente. E, assim como o ser humano
é o resultado de uma evoluçâo puramente material, esse
mesmo ser vai desaparecer definitivamente do cenârio
ambiental, no fim da sua vida, isto é, na hora da sua morte.
Daî o interesse pela Etologia, que estuda o
comportamento das espécies animais. De acordo com esses
etologistas, descendemos de animais e para entender como
devemos nos comportar, devemos estudar o
comportamento dos animais. Tal é o rumo que nos conduzirâ
a descobrirmos uma "ética natural", nova. Evidentemente,
nessa perspectiva, a dimensâo instintiva desse
comportamento fica destacada. E no fim da vida, vamos
voltar ao nada, do quai um belo dia procedemos.
Essa visâo é a visâo ecolôgica novîssima. Como se
nota, leva forte marca do NewAge ou Nova Era. Antigamente,
havia uma ecologia mais soft, suave, que dizia com razâo
que devemos cuidar da natureza, que devemos evitar tudo
o que polui a atmosfera e o meio ambiente, que nâo
podemos disperdiçar os bens que estâo a nosso dispor.
48
Todavia a nova ecologia é radical, e totalmente atéia,
materialista, pagâ. Existe apenas uma grande realidade, uma
sô realidade, na quai o ser humano é imerso. Na quai a sua
individualidade vai se diluir definitivamente aos poucos.
Esta claro que a partir dessas primicias se tiramalgumas
conclusôes. A mais significativa delas é que o ser humano
deve se submeter ao cosmos. Ao invés de ser o gerente
responsavel do cosmos, deve se curvar a ele, se submeter ao
determinismo, à moïra dos Antigos. Deve aceitar as leis da
"moral natural" entendida num sentido inadmissîvel, pois se
trata de uma assim chamada "ética" ditada pelo meio
ambiente. O ser humano deve aceitar se submeter aos seus
instintos e tender a maximizar os seus prazeres.
Estamos aqui na presença de uma expressâo nova,
de um remake do monismo panteîstico côsmico, combinqdo
com uma nova formulaçâo de epicurismo, cuja expressâo
mais évidente se encontra hoje no New Age. De fato, essas
idéias sâo expostas, por exemplo, num livro de Marylin
Ferguson, que explicita o que acabamos de resumir,
mostrando que devemos aceitar essa nossa condiçâo. Por
conseguinte, segundo essa corrente, o discurso sobre os
Direitos Humanos clâssicos, tradicionais, deve ser posto de
lado, a favor da emergência de uma nova visâo do ser
humano, de sua situaçâo no mundo.
49
De fato, essa evoluçâo é realmente inquiétante e
deveria comporter implicaçôes polîticas das mais graves. O
que acabamos de explicar, que vale para os individuos, é
extrapolado ao nîvel das comunidades humanas,
especialmente ao nîvel das naçôes. Aqui tocamos numa
das interpretaçôes da globalizaçôo, tema hoje muito
badalado. Convém prestar atençâo as armadilhas que esse
tema pode comportar.
Em nome da globalizaçâo, os individuos devem
aceitar a situaçâo deles no cosmos; sua autonomia, sua
liberdade, mas também sua responsabilidade pessoal estâo
hipotecadas. O mesmo se dâ com as naçôes: essas jâ nâo
podem reinvindicar sua autonomia. Elas devem abandonar
sua pretensâo de serem soberanas. Também elas sâo apenas
uma rodinha na grande mâquina do cosmos. Significa que,
como os seres humanos, as naçôes devem aceitar as leis
da natureza, enunciadas por aqueles que se gabam de
conhecerem o cosmos e as suas leis. Devem se submeter
àquela tecnocracia supranacional que esta pululando
atualmente, que vai dizer uem nome do bem superior do
cosmos", eporconseguinte da humanidade, quaié o papel
que cabe a tal naçâo e a tal indivîduo.
Segundo essesdefinidores do "politicamente correto",
o Brasil, porexemplo, nâo deveria se apegar à sua soberania
sobre a Amazônia, ou até deveria ser privado da sua
soberania sobre esta imensa regiâo, sob o prétexta de que
ela é upatrimônio comum da humanidade". O Almirante
Armando Amorim Ferreira Vidigal publicou recentemente
50
brilhante estudo sobre a questâo. Argumentam da seguinte
maneira: o Brasil nâo consegue administrar bem a Amazônia,
que é um bem da humanidade; urge que se tomem.
medidas para alienar o Brasil de sua soberania sobre a
Amazônia. Esse é um refrâo que, infelizmente, se ouve com
frequência cada vez maior.
Antes, durante e depois da celebraçâo dô Millenium,
no ano 2000, varias assembléias gérais ou especiais da ONU,
reuniôes de ôrgâos especializados, fôros de ONGs
cuidadosamente selecionados, se empenharam em
conseguir um consenso mundial sobre essa nova visâo do
ser humano e do mundo.
51
que o cristâo deve manifestar a eficâcia da sua fé através
doamor. Éo que diz também Sâo Joâo, com outras palavras,
em sua primeira carta. Sâo Tiago nâo diz outra coisa na sua .
ûnica carta. Afinal de contas, esta é a mensagem central
de todo o Evangelho.
Segue-se que a primeira coisa que precisamos fazer é
questionar-nos pessoalmente. Que posso fazer, eu, com as
minhas qualidades e limitaçôes? Que posso fazer graças as
minhas competências, graças as oportunidades das quais
disponho no mundo que me cerca, graças as relaçôes
privilegiadas que tenho na sociedade? Que posso fazer para
sensibilizar os outros, para informâ-los, para responsabilizâ-los?
Éum dever do cristâo comportilhar o queelesabe e
o que ele expérimenta, até mesmo do ponto de vista
cientîfico. Hoje em dia hâ muitos ambientes cientîficos que
sonegam a informaçâo. Devemos aprender a comportilhar
a informaçâo. Comunicar. Sabemos que informaçâo é poder.
Mas, justamente, a concentraçâo da informaçâo e a
ocultaçâo da informaçâo sâo novos tipos de pecado, novas
formas de avareza, que o cristâo deve denunciar. Temos uma
visâo libéral e até mercantil da propriedade intelectual. Nos
consideramos como donos do saber. Esse egoîsmo
radicalizado bloqueia a mobilidade social e deve ser
desmascarado.
52
disso. Ao destruir a famîlia, torna-se mais fâcil controlar a
pessoa humana e monitorar a sociedade. Por isso devemos
enfrentar os programas de engenharia social que manipulam
os indivîduos como se fossem peças num jogo de xadrez.
Muitas sâo as oportunidades ao nosso alcance para
impulsionar e organizar esse trabalho de transformaçâo da
sociedade: pressionar os polîticos, ocupar as colunas que se
abrem nos jornais, no radio, na TV. Pressionar inclusive os nossos
amigos, utilizando todas as tribunasacessîveis, parasensibilizâ-
los a essas questôes que concernem o futuro da sociedade
humana.
Devemos também continuarar a defender a famîlia.
Nâo como uma realidade puramente privada, mas como
uma realidade que intéressa à comunidade humana e
eclesial. Muitas vezes os moralistas catôlicos têm uma visâo
bastante privatizante da famîlia. Vejam, por exemplo, os
tratados de moral conjugal. Nâo se trata de subestimar essa
moral conjugal clâssica. Obviamente, convém expor as
questôes da fidelidade, da fecundidade, da paternidade
responsavel, da educaçao dos filhos, etc. Mas as vezes
esquecemos também que, além de ser um bem para os
que delà participam, a famîlia é também um bem para a
sociedade e para a Igreja. Eisso nos deverîamos dizê-lo com
muito mais força. Isso permitiria a muitos casais em
dificuldade descobrir novos motivos para consolidarem e
salvarem a sua relaçào. Descobrir o papel que uma famîlia
pode ter na sociedade é um motivo suplementar para que
a famîlia se una e para que seja fecunda, nâo apenas ao
53
nîvel restrito do lar, mas ao nîvel da comunidade e da
sociedade.
54
rede, dando subsîdios pûblicos de acordo com o numéro
de meninos e meninas pobres que forem atendidos? Séria
tâo difîcil fazer uma reforma tributâria para alimentar essa
reforma escolar? Séria tâo chocante condicionar o
reconhecimento oficial dos diplomas das escolas privadas
à acolhida, por elas, de um significativo contingente de
meninos e meninas de rua? Sem uma decisâo herôica desse
tipo, esses guris nunca vâo ter acesso à escola. O exemplo
vindo das instituiçôes catôlicas arrastaria o conjunto das
instituiçôes privadas. Tanto ao nîvel municipal como estadual
e fédéral, deveria haver esse tipo de abertura, com homôloga
abertura na rede escolar privada.
No caso especîfico das instituiçôes catôlicas, tal
projeta permitiria a muitas congregaçôes de voltar ao espîrito
de seus fundadores e de atrair novas vocaçôes. De fato, na
histôria dessas congregaçôes, consta que os fundadores
sempre aparecem como educadores preocupados com a
formaçâo intégral das crianças pobres.
Este foi o meu sonho. Um sonho que começava a se
tornar realidade quando caï em mim mesmo nas ruas do
BomJardim...
55
uma das mais importantes é que os cristâos e todos os
cidadâos de boa vontade devem se abrir muito mais ao
dlâlogo com as forças pensantes do mundo. Nesta.
perspectiva, na Academia Pontifîcia de Ciências Sociais, e
no Conselho Pontifîcio da Famîlia, fazemos experiências dds
mais enriquecedoras, sobretudo na Academia, onde se
convidam constantemente autoridades cientîficas que nâo
sâo necessariamente cristâs. Por exemplo, na Academia de
Ciências Sociais, temos o privilégio de ter um economista de
fama mundial, judeu, professor da Universidade de Stanford;
trata-se de Kenneth J. Arrow, Prêmio Nobel de Economia em
1972. No Conselho Pontifîcio para a Famîlia, contamos com
as contribuiçôes de outro economista de fama mundial, Gary
S. Becker, judeu também, professor da Universidade de
Chicago, e Prêmio Nobel de Economia em 1992.
Intercâmbios com personalidades deste nîvel nâo têm preço
para aprofundar a reflexâo cristâ e motivarem vista da açâo.
Vivemos num mundo fechado demais; devemos nos abrir
as Ciências Humanas, as Ciências Econômicas e em
particular à Geografia humana e à Demografia, domînios
surpreendentemente ignorados pela maioria dos teologos
atuais. Essa pista me parece primordial.
Outra pista que esta sendo explorada com certas
dificuldades é a pista ecumênica. Nâoséria um tanto ilusôrio
esperar uma comunhâo doutrinal total se nâo se articulam
antes certas projetas conjuntos de grande vulto? Nâo é
necessârio esperar uma unidade compléta de fé antes de
tomarmos decisôes concretas ao nîvel da açâo,
56
especialmente no domînio dos direitos humanos, da
populaçâo, da luta pelo saber, da reforma agrâria.
Éverdade que nesse particular confesso que estamos
aos braços com grandes dificuldades. Certas denominaçôes
cristas chegaram as vezes a tomar posiçôes infelizes.
Entretanto isso nâo significa que nâo haja possibilidades de
acordos e de cooperaçâo, especialmente com as grandes
confissoes protestantes luterana e calvinista, com os
anglicanos e os ortodoxos. Mas essas pistas, curiosamente
sâo pouco exploradas atualmente.
Temos também uma rede de universidades catôlicas
no mundo. Algumas sâo catôlicas apenas de nome, e pode
acontecer que tal universidade nâo valha grande coisa do
ponto de vista cientifico. Ora, tâo complexos sâo os
problemas atuais que eles mereceriam se beneficiar de uma
prioridade nas universidades catôlicas. Por exemplo, esses
problemas da famîlia, da populaçâo, da difusâo do saber,
dos direitos humanos. Certas sâo mais lugares onde se
transmite um saber que nâo mexe com o establishment, que
nâo perturba a paz acadêmica. Urge renunciar a transmitir
um saber mais ou menos esclerosado, partir à procura de
novos saberes e explorar novos campos que se oferecem à
indagaçâo cientifica para o bem da sociedade. Nos,
catôlicos, dispomos com essas universidades de um
instrumenta caro, inadaptado, e em gérai mal aproveitado.
57
nos novos me/os de comunicaçâo e em particular na
internet?
58
conhecimento dos dados continuamente fornecidos pela
ONU. Esses documentos evidenciam uma situaçâo
totalmente nova, se a compararmos com o que se passou
hâ 25 ou 30 anos atrâs. A problemâtica gérai do
desenvolvimento e da pobreza evoluiu de maneira
substancial. Hoje ainda existem evidentemente situaçôes
intolerâveis de opressâo, mas a sua leltura é diferente da
que vigorava hâ duas décodas. O célèbre economista e
filôsofo indiano de Oxford, Amartya Sen, ganhou o Prêmio
Nobel de economia em 1998 por ter demonstrado que a
liberdade era o objeto do desenvolvimento, e nâo apenas o
meio que a ele conduz. O potencial de generosidade que
até hoje aparece entre os teologos da libertaçao deveria
ser voltado para essas novas colocaçoes. Urge perceber que
os parâmetros mudaram; que se renovaram as anâlises da
pobreza, e que hoje estamos vivendo novas formas sutis de
opressâo, onde as armas nâo sâo sô econômicas, mas
provêm da biologia, da medicina, da demografia, da histôria,
do direito. Sâo essas as armas novas da opressâo que o Norte
utiliza para subjugar e controlar o Sul. Éimportante levar em
consideraçâo esses fatos novos se a gente nâo quiser fazer
diagnôsticoserrados sobre a situaçâo atual e, principalmente,
sobrea situaçâo que se perfila na alvorada do novo milênio.
59
Capitule» V
/ ••
61
o uma questôo essenclal: como o medicina pode melhorar
a vida da populaçâo carente?
Parafraseando um economista que recebeu o Prêmio
Nobel de Economie Schooyans nâo cansou de afirmar que
a grande solda para o Brasil e o Planeta é investir no "capital
humano". Ao contrario do capital matériel lembra, o
homem é uma fonte inesgotavel de criatividode e vida. Além
disso, nâo poupou a ONU, que, através de varias agêneias,
esta exercendo uma politlca "anti-vida".
62
mesma forma. Pode atender melhor os pacientes mais ricos,
porque têm mais recursos. Os pacientes mais pobres, mas
que têm também uma grande necessidade de cuidados,
sâo menos bem atendidos, porque eles sâo pobres. Entâo,
a medicina participa de um processo de exclusao social.
Evidentemente, isso constitui um obstâculo a uma vida
democrâtica realmente participativa. O médico deve ser
muito atento a essas condiçôes do seu trabalho, porque
através das suas atividades, pode consolidar um sistema de
estratificaçâo social que acaba marginalizando mais ainda
os pobres.
Poderia comparar a situaçâo da medicina com a
situaçâo da educaçao, Os pobres dificilmente têm acesso
à educaçao de qualidade. Entâoconvém melhoraro sistema
de atendimento escolar, justamente para que todos os
meninos e meninas, quaisquer que sejam as suas famîlias,
sua origem social ou a cor da sua pelé, tenham o acesso à
escola de qualidade. Isso atualmente nem sempre se realiza.
63
exemplo os cancerosos em fase terminal, custam caro à
sociedade; é durante seu ûltimo ano de vida que o paciente
custa mais caro à sociedade. Entâo para reduzir esta
despesa, matam-se os pacientes. Em vez de curar, matam.
Éisso o que se faz na Holanda e em vârios outros paises. Isso
révéla uma submissâo total da medicina ao sistema
econômico vigente, e uma perversâo do direito, que aprova
e legaliza essa matança.
64
para ajudâ-los no a refinar as suas prâticas criminosas.
Pressôes de quem?
Pressâo, sobretudo, da prôpria sociedade. Éum dos
papéis fundamentais dos jornais e da média em gérai.
Convém que haja uma pressâo nâo apenas sobre os
médicos, mas também sobre os polîticos, a fim de que
deixem de utilizar os médicos para levar à trente polrficas
inadmissîveis. Aqui no Brasil, de acordo com dados
publicados pelo prôprio governo em 1999, das mulheres que
utilizam um método qualquer de contrôle da natalidade, 43%
jâ foram esterilizadas. Médicos estâo castrando, mutilando
definitivamente mulheres, muitas vezes inocentes, pobres, que
nem sabem o que esta Ihes acontecendo. Na sua Primeira
fala ao Senado (março de 1991), Darcy Ribeiro denunciou
vigorosamente essa vergonha nacional. Isso é uma coisa
que merece um exame de consciência por parte de todos.
Nâo se résolve a questâo da pobreza através de
esterilizaçôes. Nâo se acaba com o acolismo do marido
esterilizando a sua mulher. A pobreza se résolve por medidas
voluntaristas: polîticas, econômicas, sociais, fiscais, agrârias;
por umadistribuiçâo mais equitativa da renda. Oûltimo censo
65
do IBGE revelou que o Cearâ é o Estado do Pais que tem a
pior repartiçâo da renda. isso significa uma falta de justiça
social tremenda, e nâo é através de campanhas de
esterilizaçôes que a gente vai remediar isso. Nâo se corrige
uma injustiça grave com outra injustiça grave. Ora, muitos
médicos foram levados a fazer essas mutilaçôes porque se
tornaram funcionârios do Estado ou empregados de
companhias que preconizam essas operaçôes. Resumindo:
a gente précisa ver bem claramente que o bom exercicio
da medicina faz parte de um processo de democratizaçâo.
66
Mourâo Cavalcante levou-me a ver as eolianas: sâo uma
tecnologia energética nova, barata e que nâo polui.
Atualmente estamos ainda na fase expérimental, mas essa
tecnologia sera aprimorada, pois o ser humano tem
engenhosidade sem limite. Ele é capaz de transformar uma
coisa banal, o vento, em uma riqueza. Fantâstico isso! O
homem é capaz de transformar a areia em produtos
altamente sofisticados. Da areia provém toda a indûstria
eletrônica, que utiliza o silîcio para criar novos produtos como
computadores, relôgios e demais aparelhos de precisâo. Da
areia provém também as fibras ôticas que revolucionam os
sistemas de comunicaçâo e modificaram totalmente uma
série de exames médicos que antigamente eram menos
precisos e mais agressivos.
67
generalizado da populaçâo mundial; em segundo lugar, o
Dr Becker demonstrou matematicamente que o capital
humano se forma primordialmente na famîlia; em terceira
lugar, demonstrou matematicamente o papel déterminante
da mâe de familia na formaçâo do capital humano. Em
resumo, o capital humano é essencial para o bem-estar da
sociedade.
68
causa do envelhecimento de uma populaçâo é a queda
do indice de fecundidade. Ora, nos ûltimos dados do IBGE,
se pode constatar a queda do indice de fecundidade no
pais, ou seja do numéro médio de crianças por mulher em
idade reprodutiva, isto é de 15 a 49 anos. Hâ 10 anos, este
indice chegava a quase 3 crianças por mulher; hoje em dia
caiu a 2,4. E para que a populaçâo se rénove, sâo
indispensâveis 2,1 filhos por mulher. Entretanto, devido ao fato
que o Brasil ainda tem 34 por mil de mortalidade infantil, o
indice de fecundidade de 2,4 é o limiar da renovaçâo da
populaçâo do pais. Vejam o caso do Rio por exemplo: o indice
de fecundidade jâ esta abaixo do indice de reposiçâo: 1,9.
Todos os paîses da Europa estâo abaixo desse limiar de 2,1.
Apopulaçâo envelhece. Entâo todo mundo se queixa
porque as caixas do socorro mûtuo e de aposentadoria vâo
secando, desde que o numéro de ativos, que as alimentam,
começam a faltar. Alem deste aspecto econômico, essa
situaçâo pode chegar a ser polîticamente desastrosa, porque
a credibilidade polîtica de um pais dépende, em parte, do
peso demogrâfico do pais em questâo. Alguns se vangloriam
porque o Brasil teria "alcançado niveis demogrâficos do
primeiro mundo". Tomara que tal afirmaçâo permaneça
duravelmente errônea!
69
precisamente, favorecer a transmissâo da vida e a formaçâo
intégral dos homens e das mulheres. O maior perigo é o que
eu chamo de ilusâo colonial, que consiste em pensar que
um pais é rico porque possui muitas recursos naturais. Isso é
uma concepçâo colonial antiquada. O que importa para o
desenvolvimento de um pais é a estrutura por idades da sua
populaçâo. O que importa é que a populaçâo seja jovem,
ativa e bem preparada. A populaçâo do Brasil é pouco
dinâmica, porque sofre a influência de muitas campanhas
—exteriores e interiores —de contrôle da populaçâo. Diz o
IBGE que 70% das mulheres brasileiras de idade fértil usam
um método qualquer de contrôle da natalidade—um dado
assustador. Isso evidentemente acaba tendo repercussôes
sobre e perfil demogrâfico do Pais, mas também sobre a
sua estatura econômica e polîtica.
Fora disto, convém que a populaçâo seja bem
escolarizada. Nesse particular, o Brasil esta numa situaçâo
bastante precâria, porquea maior riqueza do Pais sâo aqueles
meninos de rua que nunca vâo freqùentar a escola, que
mais tarde, talvez, vâo ser delinqùentes ou criminosos, porque
a sua famîlia foi desmanchada e porque nâo têm acesso a
uma escolaridade de boa qualidade. Me disseram
recentemente que a grande maioria dos alunos que entram
nas faculdades de medicina, provém de escolas particulares,
geralmente boas, mas muito caras. Isto freia a mobilidade
social e mantém um sistema discriminatôrio. Esta mâquina
educativa é discriminatôrio, e a sua injustiça ainda é
reforçada pelo fato de que esses alunos, vindo de famîlias
70
geralmente abastadas, aprovados no vestibular, vâo se
beneficiar com o ensino pouco dispendioso mas de
qualidade, dispensado nas faculdades fédérais.
71
esperança de vida. Significa que a mortalidade recua entre
as pessoas idosas. Este primeiro fenômeno résulta da melhoria
das condiçôes gérais de vida: alimentaçâo, higiene, saûde,
conforme jâ indicamos. Em contraparte, o envelhecimento
résulta de uma notâvel queda do efetivo da populaçâo
jovem, devido a uma fecundidade fraca, que compromete
a reposiçâo das geraçôes.
Obviamente, nos dois fenômenos considerados, a
responsibilidade social do médico é engajada — para o
melhor, ou para o pior.
72
Capftulo VI
Nâo mafarâs!
Entrevista ao
73
estamos assistindo ao surto da tendência totalitâria da
ideologia neo-liberal.
Agora, quando vemos as duas ideologias - digamos
a comunista de um lado, a neo-liberal do outro lado -
constatamos que à primeira vista, tem uma grande diferença
entre as duas, que tem quase uma oposiçâo. Entretanto, na
realidade, tem um traço comum, uma caracterîstica comum
as duas ideologias: as duas ideologias exaltam a luta, exaltam
uma forma de sobrevivência do mais forte, A luta de classes,
por exemplo, no sistema comunista, consagra a vitôria do
mais forte, De acordo com Marx, os burgueses, numa certa
fase da histôria, tiveram razâo porque eles conseguiram
derrubar a nobreza; mas logo a seguir, o proletariado esta se
tornando cada vez mais forte, e vai acabar com a burguesia,
motivo pelo quai ele vai ter razâo na histôria. Esta idéia da
luta de classes é muito central no sistema marxista e na sua
encarnaçâo comunista,
Entretanto, quando vemos o que se passa na
ideologia neo-liberal, encontramos exatamente a mesma
dinâmica: vemos a dinâmica da concorrência ferrenha, da
sobrevivência. Oque é o mercado? Éumcampo de batalha
onde se opôem as forças das diversas, as forças dos mais
fracos e dos mais poderosos. E quem sobrevive, quem tem
direito de sobreviver nesse mercado sâo justamente aqueles
que têm a capacidade de consumir e de produzir. ttOs outros
que se danemi", como se diz famiiiarmente. Entâo
precisamos perceber com muita clareza que hoje em dia
estamos numa situaçâo onde o dinamismo da ideologia
74
comunista soviética e o dinamismo da ideologia neo-liberal
se conjugam, se somam, para constituir uma espécie de
consagraçâo da violência institucionalizada.
Eé justamente onde a situaçâo do cristâo é crucial,
porque a dinâmica do Evangelho é exatamente o contrario
daquilo. A dinâmica do Evangelho é uma dinâmica de
defesa do mais fraco, o que recusam tanto a ideologia
comunista como a ideologia neo-liberal. Para essas duas
ideologias, a natureza é violenta e deve consagrar a vitôria
do mais forte através de uma seleçâo natural e/ou artificial,
através da luta de classes, através da concorrência. Mas em
todos os casos, trata-se de consagrar a supremacia do mais
forte, enquanto que para os cristâos, e inicialmente para o
prôprio Cristo, o que importa é a dignidade de todos os seres
humanos qualquer que seja a sua condiçâo fîsica, o seu
tamanho, a cor de pelé, a idade, e assim por diante. Basta
observar os textes que se lêem na liturgia dos domingos.
Aparecem muitas vezes relates de curas. Jésus se aproxima
dos doentes, se aproxima daqueles que a sociedade rejeita,
e essa gente procura Cristo, justamente porque eles
percebem que uma coisa nova e boa esta acontecendo
na histôria. Enquanto que os doentes, os aleijados, os pobres
estavam afastados, expulsos da sociedade, Cristo se
aproxima deles. Ele é o Bom Samaritano que se aproxima,
que toma a iniciativa de se aproximar deles.
É justamente o drama do nosso tempo, que a
sociedade rejeita esta mensagem de Cristo. Porque de
acordo com a "vulgata" ideolôgica dominante, o pobre, o
75
marginal, o aleijado, nâo valem nada jâ que sâo inûteis na
sociedade. E nos cristâos, justamente o que devemos fazer
é o que Cristo fez, isto é, restituir àquela gente, reconhecer
àquelas pessoas marginalizadas, fracas, doentes, aleijadas,
uma dignidade igual à dignidade de todos os demais seres
humanos. A nossa ética cristâ, nesse particular, é uma ética
que contraria terminantemente a ética hédoniste, a ética
utilitarista, que a gente encontra tante na tradiçâo marxiste,
como também na tradiçâo libéral,
76
humanos, Ea questâo da universalidade dos direitos humanos,
Universalidade proclamada solenemente em 1948, na
Declaraçao Universal dos Direitos Humanos e em muitos
documentes constitucionais ou legais. Agora, quando uma
sociedade que se prétende democrâtica, décide que o ser
humano nasoituro, como se diz, isto é antes do seu
nascimento, que este ser humano pode ser abortado,
eliminado, esta sociedade introduz na dinâmica democrâtica
uma exceçâo que, na realidade, destrôi o princîpio da
universalidade dos direitos humanos, A partir de tal decisâo,
hâ uma categoria de seres humanos — os nascituros — que
nâo tem a mesma dignidade que os demais, jâ que a lei,
em vez de protegê-los, autoriza a sua eliminaçâo.
Mas uma sociedade onde isso acontece é uma
sociedade que Jâ entrou num processo de totalitarismo,
porque esta se réserva o direito de définir e decidir quem
pode viver e quem pode ser eliminado. E se este "direito" se
extende ao caso do nâo nascido, nâo hâ motivo para que o
catâlogo das exceçôes nâo se multiplique, o que de fato se
observa. Por exemplo, na Holanda, na Bélgica e em vârios
paîses da Europa ocidental, jâ se pratica a eutanâsia de
pessoas idosas, e nada impede que mais tarde se eliminem
os menos vâlidos, os déficientes de todo o tipo, e os
dissidentes polîticos,..
77
totalitârio e a ilustraçâo disso, a concretizaçâo disso, se verifica
na evoluçâo do Direito, O Direito torna-se simplesmente um
positivismo juridico, isto é émana simplesmente da voz dos
mais fortes, da voz da maioria. A maioria que tem esse poder
de impor a sua vontade, décide quem é admitido a viver e
quem pode ser encaminhado para a morte, É uma
sociedade realmente totalitâria. É um totalitarismo brando,
manso, sutil, que esta sendo propalado, mas é um
totalitarismo de tipo novo que eu chamo, alias, um "ultra-
nazismo", porque esse totalitarismo consagra, potencializa,
o totalitarismo nazista com o totalitarismo comunista e o neo-
liberal.
78
tem na sociedade natural. Isto significa que na base da
democracia ocidental, o homem é reconhecido como titular,
como sujeito de direitos inatos, de direitos dos quais ele nâo
pode ser privado, e que esses direitos devem ser protegidos
pelas instituiçôes polîticas e juridicas, Hoje em dia, isso tudo
esta sendo questionado em nome, justamente, de um
positivismo juridico que considéra que os direitos humanos
sâo simplesmente o produto de uma espécie de concessâo
da maioria. Isso significa que a democracia entrou num
processo de perigo, esta periclitando.
79
em alguns casos, de acordo com os interesses da sociedade
e do Estado. Nâo podemos esquecer que durante o século
passado, eu quero mencionar aqui o século XX, muitos
médicos se dedicaram a tratamentos psiquiâtricos
dégradantes, na Uniâo Soviética, por exemplo; que outros,
na Alemanha nazista, se dedicaram à seleçâo, à
esterilizaçâo, à eutanâsia, à eliminaçâo dos considerados
como inûteis; que em muitos paîses da Âsia, da America
Latina e também da Europa, médicos se dedicaram ao
serviço da tortura. Hâ também médicos que, priorizando os
interesses do mercado e do lucro, se dedicam a experiências
inadmissfveis sobre seres humanos. Quer dizer que, muitos
médicos em vez de se empenharem ao serviço e ao cuidado
dos mais vulnerâveis, se dedicam aos interesses do poder
ou da sociedade. E hoje em dia, nâo se trata apenas de se
dedicarem aos interesses dos poderosos ou da sociedade;
mas aos interesses de companhias comerciais. Certa
medicina tornou-se wum bom negôcio".
Mais ainda: hojeem dia, quando se acompanha temas
discutidos no âmbito da Organizaçâo Mundial de Saûde,
constata-se que alguns estâo querendo outorgar os cuidados
médicos proporcionalmente ao poder aquisitivo, muito variâvel,
da gente, da populaçâo, das populaçôes. Isso significa que
na mentalidade de alguns dos lideres da Medicina atual, a
saûde séria uma espécie de produto que se compra de acordo
com o poder aquisitivo que se tem. Isso, evidentemente,
significaria que a Medicina setornaria um instrumente poderoso
de contrôle e de dominaçâo dos mais pobres.
80
Aliâs, é bom destacar que, agora mesmo, nas regiôes
pobres de America Latina, por exempte, médicos estâo sendo
utilizados para esterilizar massivamente populaçôes femininas
consideradas como pobres e como inûteis no mercado de
trabalho, Denûncia feita hâ anos, no Brasil, por Darcy Ribeiro,
Mulheres consideradas como indignas de transmitir uma vida
que séria uma vida inûtil, que séria um pesadelo para a
sociedade... Das mulheres brasileiras que utilizam um método
qualquer de contracepçâo, de contrôle da natalidade, mais
de 40% jâ foram esterilizadas, O mesmo se dâ no Mexico.
Isto significa que tem muitos médicos que cooperam com
este tipo de programa discriminatôrio, que em vez de acabar
com a pobreza, préfère acabar com os pobres.
81
preceito "Nâo matarâs!", a sociedade humana se torna
impossivel, a convivência humana se torna impossivel, porque
se cada um se réserva, se outorga o direito de dispor
Ivremente" da vida dos outros, entâo a sociedade se torna
anârquica. Ora, uma sociedade anârquica é
necessariamente uma sociedade onde prevalece a vioiencia
dos mais fortes; é uma sociedade sem norma ética a nâo
ser a vioiencia; é uma sociedade bârbara.
Entâo devemos considerar que as formas exteriores
da barbarie podem evoluir; jâ nâo sâo mais necessariamente
as formas évidentes que a gente conheceu na histôria
récente, Hoje em dia tem novas expressôes, novas
manifestaçôes, da mesma dinâmica bârbara. Eé justamente
uma das nossas responsabilidades chamar a atençâo sobre
essas novas formas.
82
acusado de ser um empecilho à prosperidade, à carreira;
foi acusado de todos os maies da humanidade, inclusive
pelo atraso em matéria de desenvolvimento,
Tudoisso é profundamente escandaloso, e nos mostra
mais uma vez o quanto a humanidade é sensîvel à imitaçâo.
Éo desejo mimético, o famoso desejo de imitaçâo. uOs outros
fazem isso". Projetamos a culpabilidade num bode expiatôrio
- no caso particular "que mencionamos" é o caso do
nascituro, da criança nâo nascida - e entâo, essa criança
inocente é apresentada como culpada de uma situaçâo,
ou de varias situaçoes, na quai a responsabilidade dessa
criança é nula! Mas se invoca, se acusa essa criança de ser
responsâvel pela situaçâo em questâo e, por conseguinte,
condena-se e elimina-se a criança, e se considéra que
podemos dispor dessa vida, apresentada como a causa de
muitos maies da humanidade. Isso se chama a "vioiencia
primordial". Quando uma lei autoriza o massacre dos
inocentes, quando uma lei numa sociedade democrâtica
autoriza isto, nos devemos constater que esta sociedade jâ
se tornoutotalmente bârbara, na quai tudo se torna possîvel.
Ede fato, é isso que acontece. Hoje em dia considera-se a
esterilizaçâo massiva dos pobres uma coisa muito normal,
Hoje em dia considera-se que a eutanâsia é umacoisa muito
normal. Hoje em dia considera-se que a experimentaçâo, a
vaidade do pesquisador, a fome do lucro justificam todas as
manipulaçôes. Evamos ver que nessa sociedade onde todos
seguem o quediz a maioria, imitando a maioria, vai acabar,
e jâ esta acabando, dando como resultado, uma sociedade
83
totalmente desumana. Esta vioiencia primordial contra o
nascituro deve entâo ser a mâe de todas as formas de
insegurança.
84
do Bom Samaritano, Eque é que faz o Bom Samaritano? Ele
nâo se réfugia numa casuîstica de definiçôes para saber
quem é ou quem nâo é o prôximo. Ele toma a atitude prâtica
de quem se aproxima e de quem reconhece neste ser înfimo,
neste ser nos primôrdios da sua existencia, neste ser cuja
existencia individual jâ conseguimos felizmente detectar
muito cedo, o Samaritano - digo - reconhece, o cristâo
reconhece um ser que tem a mesma dignidade que a minha
dignidade. Como eu, este ser recebeu de Deus a existencia.
Entre ele e eu, nâo hâ uma fraternidade por decreto, Ele é o
meu irmâo, porque justamente ele como eu recebemos a
existencia do mesmo Deus cheio de bondade. Isto,
evidentemente, vai contra a ética naturalista da quai tanto
falamos, isto é, uma ética da força e da violencia. Aqui
estamos na presença de uma ética do amor e da ternura.
Essa é a ética do Cristo. Nâo é uma coisa teôrica; é uma
atitude: Ide, e haja da mesma forma".
85
de um ser humano na sua situaçâo de total inocência e de
total falta de defesa. De tal modo que convém chamar a
atençâo dos polîticos sobre isso. Sera que eles vâo ser
medrosos até legalizar este tipo de açâo ou de gesto? É
uma coisa inimaginâvel mas que infelizmentese verifica em
alguns paîses. Agora, acontece que devemos considerar
sobretudo que isso nâo é primeiramente um problema de
ética cristâ; é um problema de ética natural, porque todas
as nossas sociedades civilizadas sâo fundadas sobre o fato
86
dominantes. Se ele nâo fizer isso, se ele forapenas uma caixa
de ressonância do que diz a massa, a quai imita e repercute
os brados bélicos gritados contra os mais débeis, entâo nâo
vale a pena se engajar na politica, porque a massa jâ vai
fazer este serviço. Os représentantes do povo nâo sâo meros
seguidores do povo; eles sâo lideres do povo. Eles devem
indicar ao povo os caminhos do respeito do ser humano e
devem indicar também aos cidadôes, as naçôes, as
populaçôes, os becos sem saîda e os caminhos que podem
levar a uma sociedade bârbara de novo estilo.
Me parece que isso merece ser destacado também
jâ que a ttlei da maioria" deve ser manejada com muito
cuidado. Porque, veja, no ano de 1931 em Itâlia, 90% dos
professores universitârios apoiaram Mussolini. Aqueles que
deviam ter sido os profetas, os vigias, chamando a atençâo
sobre os perigos que estavam se perfilando, em vez disso,
eles caïram na imitaçâo da massa e fizeram como todo o
mundo fazia, istoé, aprovaram os programas de Mussolini. Eo
mesmo aconteceu também na Alemanha. Isto significa que
a maioria por si sô nâo é um critério, e muito menos uma
garantia de verdade. A maioria pode votar uma lei perversa.
87
autoriza a roubar o meu vizinho"; "Eu vou envenenar a minha
sogra porque a minha sogra me enche a paciência". Isso
sâo critérios de uma debilidade mental total, porque a gente
nâo pode governar uma sociedade a partir de uma récusa
de principios morais elementares como é o principio que
reza o respeito a vida humana. Porque se o respeito da vida
e dos bens do meu vizinho depender da minha consciência
subjetiva, isto significa que nâo hâ mais nenhuma norma ética
na sociedade, e que a lei é - voltamos ao que estâvamos
dizendo - simplesmente o reflexo da vontade dos mais fortes.
Mas nesse caso, os mais fracos nâo têm future nâo têm mais
existencia, nâo têm mais direito nenhum.
Entâo a gente deve saber quai é a sociedade que
queremos. E nâo podemos ter uma sociedade de
solidariedade e de liberdade para todos se nâo houver uma
relaçâo intima entre a lei e a moral. Isso é uma coisa muitas
vezes negada hoje. Evidentemente, a lei nâo résolve todos
os problemas, de acordo. Mas tem alguns principios
fundamentais, como o respeito de todos os seres humanos,
a igualdade de todos os seres humanos, que numa
sociedade civilizada e democrâtica devem ser respeitados
e protegidos pela lei.
O documenta ao quai me referia antes, a Declaraçâo
Universal dos Direifos Humanos de 1948, nâo é a bem dizer
um documenta jurîdico; é um documenta moral. Mas é um
documenta moral que convida a varias aplicaçôes no setor
das legislaçôes nacionais. Por exemplo, o respeito à vida de
todo o indivîduo humano - é o artigo 3° da Declaraçâo -
88
esse direito de todos os indivîduos humanos à vida deve ser
traduzido em todas as legislaçôes nacionais, mas é sempre
a mesma referência ao mesmo valor, isto é, a vida humana,
que esta protegido através da legislaçâo.
89
boa fé, aparece com perfeita nitidez uma coisa diferente. O
que diz o n° 73 é o seguinte: se existe uma lei autorizando,
digamos, o aborto a 20 semanas, o deputado, o politico
catolico pode lutar para que o prazo de 20 semanas venha
a ser reduzido a 15 semanas, justamente para diminuir,
através desta modificaçâo da lei, o alcance nocivo de uma
lei na quai ele nâo colaborou inicialmente. Éisso que diz o
famoso n° 73 da enciclica, muitas vezes utilizado de maneira
desonesta, inclusive por catôlicos, nâo sô politicos.
90
que aparece a partir das estatisticas. Nos paîses onde a
contracepçâo esta mais difundida - na Europa sâo paises
como a Itâlia, a Espanha, a França - constatamos que a
divulgaçâo massiva da contracepçâo nâo diminuiu o
numéro de abortos. Na França, por exemplo, onde a
porcentagem das usuârias de contracepçâo é um dos mais
altos do mundo, observamos também um dos mais altos
niveis de ocorrencias de abortos. Isto, mais de vinte cinco
anos apôs a legalizaçâo do aborto.
Mas tem uma explicaçâo muito mais simples e muito
mais compreensîvel do ponto de vista psicolôgico: a
contracepçâo deve ser totalmente eficaz; se ela nâo for
eficaz, a gente deve poder recorrer ao aborto. A lôgica do
aborto e a lôgica da contracepçâo sâo duas lôgicas que se
complementam. Éuma coisa muito simples. Quando falham
os processos contraceptivos, o aborto aparece como a
soluçâo que se impôe. De tal modo que é da mesma atitude
fundamental de récusa à vida que procedem tanto a
contracepçâo como o aborto.
Isto é confirmado por estudos que justamente
evidenciam que o numéro elevado de abortos résulta de
contracepçôes fracassadas. Entre as duas coisas, hâ uma
relaçâo que ninguém hoje pode negar. Eu sei que tem gente
que esta querendo ocultar essa relaçâo ou dissociar
totalmente as duas coisas, porque tal é o seu interesse. Mas
a anâlise séria desses dois tipos de comportamento révéla,
ao contrario, a complementaridade quase que natural entre
esses dois procedimentos.
91
Consta também que muitos desses contraceptivos
acabam sendo abortivos...
92
Capitule VII
O dossiê da eutanâsia
Entrevista de
Klaudia Schank e Michel Schooyans
por
Agnès Jauréguibéhére
para LHomme Nouveau (Paris),
2dejunhode2002.
93
segunda de 1922. Binding, nascido Frankfurt-sobre-o-Mainz,
era um eminente professor de direito. A obra de peso que
deixou apôs sua morte em 1920, desperta até hoje um
grande interesse. Hoche, nascido em 1865 em Wildenhain,
era professor de psiquiatria. Tornando-se escritor ao fim de
sua vida, suicida-se em 1943. A obra conjunta insere-se na
lôgica da evoluçâo das ciências com a concepçâo
cientificista e materialista do homem dai résultante. Reduzido
à sua dimensâo corporal, o homem torna-se um ser
unidimensional, desprovido de toda abertura à
transcendência.
94
E para lutar contra essa degenerescência, e para
preveni-la, que os "higienistas" da raça alemâ propunham
medidas visando a melhoria do patrimônio hereditârio.
Rapidamente, suas propostas foram transformadas em
reivindicaçôes eugênicas e raciais. Somente aqueles que
fossem julgados aptos, teriam o direito a se reproduzirem.
Influenciados pela ciência da raça, com seu postulado da
superioridade da raça nôrdica, esses whigienistas" limitavam
sua missâo à conservaçâo do povo alemâo.
95
tomada erroneamente em nada preocupa nossos autores.
Hâ tanta gente que morre por erro, que uma pessoa a mais
ou a menos, nâo pesa na balança. Hoche, por sua vez,
desenvolve toda uma argumentaçao que tende sobretudo
a justificar do ponto de vista médico o homicidio dos
déficientes mentais. Estes sâo por ele colocados no mesmo
piano dos animais. Aos seus olhos, os déficientes mentais nâo
podem portante fazer valer um direito à vida subjetivo. Hoche,
sem titubear, caracteriza-os como uexistencias-peso-morto"
e uconchas humanas vazias".
96
impacto considerâvel sobre o curso da histôria. A
responsabilidade direta desses universitârios na elaboraçâo
e execuçâo de programas de extermînio de déficientes,
adultos e crianças, esta fora de qualquer dûvida. Por aï,
abriram largamente o caminho ao Holocausto e à
banalizaçâo do ttdom da morte" por motivo de incorreçâo
polîtica ou de nâo conformidade biolôgica. Por ocasiâo da
chegada do nazismo ao poder, desencadeia-se na
Alemanha um debate pûblico sobre a eutanâsia. Éna revista
Ethik que os diferentes protagonistas tomam a palavra. Os
adeptos da eutanâsia, entre os quais um teôlogo chamado
Rose, referem-se frequentemente à obra de Binding e Hoche.
O prôprio Hoche interveio diretamente nesse debate. Como
jâ se estabeleceu que toda essa discussâo era seguida de
perto pela Administraçâo do Estado nazista, podemos afirmar
sem medo que os dois autores prepararam os burocratas,
os médicos e psiquiatras nâo somente à aceitaçâo, como
também à execuçâo dos assassinatos em massa à partir de
1939, e mesmo antes.
E a eutanâsia hoje?
Todas as idéias que evocamos permanecem no
centro do debate sobre a eutanâsia. Sem cair em um
reducionismo cego, coloquemo-nos algumas questôes.
Quais sâo atualmente os perigos que resultariam de uma
legitimaçâo juridica da eutanâsia? Essa legitimaçâo estaria
totalmente isenta de motivaçôes econômicas e sociais? Essa
mesma legitimaçâo nâo nos colocaria em um piano
97
inclinado escorregadio? Nâo somos envolvidos, sem nossa
vontade, em inumerâveis situaçôes que nos impulsionam a
fazer um julgamento a respeito da dignidade humana? Nâo
chegamos assim a criar categorias de homens cuja vida
nâo se bénéficia mais do direito à uma proteçâo légal? Na
Bélgica, por exemplo, alguns jâ nâo estâo considerando o
debate sobre a eutanâsia dos déficientes graves?
98
perceberia que sua dignidade continua sendo reconhecida
pelos outros. O que mais falta sem dûvida aos moribundos,
é portanto o carinho: uma comunicaçâo em cujo coraçâo
o paciente se descobre amado. Amelhor maneira de ajudar
alguém a morrer dignamente consistiria em dar-lhe a morte?
99
Obras do mesmo auîor
101
Dominando a vida, Manipulando os homens, IBRASA,
Sâo Paulo, 1993.
Théologie et libération. Questions disputées, Le Préambule,
Longueuil, Québec, 1987.
Lenjeu politique de l'avortement, 2aed., OEIL, Paris, 1991.
(Traduçôes espanhola, italiana e polaca). Traduçao
brasileira: O aborto: aspectos polîticos, Marques-
Saraiva, Rio de Janeiro, 1993.
De "Rerum novarum" à xxCentesimus annus", Pontificio
ConselhoJustiça e Paz, Città del Vaticano, 1991. (Com
Roger Aubert). Traduçao brasileira: Da Rerum Novarum
à Centesimus annus, Loyola, Sâo Paulo, 1993.
Initiation à l'Enseignementsocial del'Église, L'Emmanuel Paris,
1992. (Traduçôes espanhola, eslovaca, italiana,
inglesa e chinesa).
Bioéthique et Population, Fayard, Paris, 1994. (Traduçôes
inglesa (USA), espanhola, italiana, eslovaca, alemâ e
chinesa). Traduçao portuguesa:/\ escolha da vida.
Bioética e Populaçôo, Grifo, Lisboa, 1998.
El imperialismo contraceptivo. Sus agentes y sus vitimas,
livrinho, ALAFA, Caracas, VHI, Miami, 1994.
La dérive totalitaire du libéralisme, obra honrada com uma
Lettre de Sua Santidade o Papa Joâo Paulo II, 2a éd.,
Marne, Paris, 1995. (Traduçao inglesa (USA); traduçôes
italiana, espanhola; traduçao brasileira em
preparaçâo).
Pour comprendre les évolutions démographiques, 2aed.,
Université de Paris-Sorbonne, APRD, Paris, 1995.
102
(Traduçao espanhola (Mexico); traduçôes inglesa e
brasileira em preparaçâo).
LEvangile face au désordre mondial, Prefacio do Cardeal
Ratzinger, 2aed., Fayard, Paris, 1998 (Traduçôes inglesa
(USA), espanhola (Mexico) e italiana).
Le crash démographique, Le Sarment-Fayard, Paris, 1999
(Traduçao inglesa (USA); traduçôes alemâ e italiana
em preparaçâo).
La face cachée de l'ONU, Le Sarment-Fayard, Paris, 2000,4a
impressâo, 2002. (Traduçôes inglesa (USA) e espanhola
(Mexico); traduçao italiana em preparaçâo).
Le Chemin de Croix du Jubilé des Familles, Prefacio de Daniel-
Ange, Le Sarment-Fayard, Paris, 2001. (Traduçôes
inglesa, italiana, espanhola, alemâ, inglesa).
Euthanasie. Le dossier Binding-Hoche (1922), Traduction de
l'allemand, présentationet analyse, em colaboraçâo
com Klaudia Schank, Le Sarment-Fayard, Paris, 2002.
No prelo
103
a sobre o autor
E-mail: <schooyans@mora.ucl.ac.be>
104
ESTA OBRA FOI COMPOSTA EM AVANTGARDE
BK BT, PROCESSADA EM LASER FILM E
IMPRESSO EM PAPEL 24 KG. IMPRESSAO E
ACABAMENTO NA PREMIUS EDITORA EM
FORTALEZA/CE JANEIRO DE 2003.
Essa coletânea de entrevistas,
obtidas em muitas de suas viagens,
registra um pouoo o pensamento
deste mestre do humano.
Apesar dos momentos serem bem distintos,
ela guarda uma coerencia e um sentimento
pungente que ainda hâ espaço para crer
nas possibilidades do ser humano na Terra,
podendo a globalizaçâo ser entendida
como uma abertura para a ampla
construçâo da justiça e da paz.
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