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A ESCOLHA
DA VIDA
Bioetica e Populaçâo
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Grifb
A ESCOLHA
DAVIDA
MICHEL SCHOOYANS
A ESCOLHA
DA VIDA
Bioetica e Populaçâo
Grijb
Traduçâo
Guilherrnina Rebelo de Andrade
Henrique Barrilaro" Ruas
Teresa Ameal
Titulo original:
Bioéthique et population: le choix de la vie
© Librairie Arthème Fayard
© Grifo - Editores e Livreiros, Lda.
Rua dos Cegos, 34 • 1100 Lisboa •Portugal
Telef. (351-1) 886 00 91
Impresso em Portugal
EL
Apenas a necessidade
deve levar a que se empreenda a guerra;
sô hâ-de travar-se combate quando nâo se saiba
fazer a guerra de outra forma.
Sun Tsé
PROLOGO
10
bro de 1994, e a do passado Setembro (1995) em
Pequim sobre a condiçâo feminina, dedicaram-se pri-
mordialmente a levar a aceitar um programa de acçâo
distribuïdo ao longo de duas décadas e destinado a
refrear o crescimento da populaçâo mundial, sobretu
do nos païses pobres. Discutîvel tanto nos pressupostos
como nos fins, este programa nâo o é menos quanto
aos meios que recomenda. Entre estes, sugerem-se prin-
cipalmente a generalizaçâo da contracepçâo, a divul-
gaçâo dos dispositivos intra-uterinos (diu), a banaliza-
çâo da esterilizaçâo (sobretudo a feminina) e o acesso
generalizado ao aborto. Para mais, e por ocasiâo do
cinquentenârio da Declaraçâo Universal dos Direitos
do Homem, que se celebrarâ em 1998, circulam diver-
sas propostas de uma nova Declaraçâo, que se arriscarâ
a agravar as ameaças que jâ pesam sobre a vida hu-
mana.
A "legitimada" marginalizaçâo
Recorda a enciclica as correntes ideolôgicas que ' justi-
ficam" esta mentalidade oposta à vida e mascaram os
crimes mais atrozes [£1/4]. Nâo se réfère Malthus, mas
é posta em debate a ideologia liberalista na medida
em que ela da origem ao individualismo e, conse-
quentemente, ao egoïsmo [EV 4, 18ss.]. Sâo paralela-
mente defendidas as éticas do prazer ou hedonïsticas
11
[cf. EV 59], o utilitarismo [£1/64] e o materialismo
[£F22ss.].
Estes programas e estas ideologias conduzem, como
jâ aconteceu em diversos paises, à "legitimaçâo" do
aborto, as tentativas de "légitimai-" o assassinio dos
bébés que sofram de malformaçôes, à eutanâsia dos
seres "inûteis" e à esterilizaçâo por motivos econômi-
cos e sociais.
Tendo o cuidado de chamar as coisas pelos seus
nomes [EV 58], Joâo Paulo II regista, pois, que as
ameaças contra a vida dâo origem a uma guerra dos
poderosos contra os fracos [cf. EV 16ss.]. Guerra de
novo género, visto que o agressor nâo actua de rosto
descoberto e troca o mal pelo bem ou vice-versa [EV
24]. Guerra de novo género, ainda, porque apela para
os recursos das ciências biomédicas e se prevalece da
demografia para ' justificar" que os mais fortes dispo-
nham da vida dos mais fracos, quer individuos quer
nacôes.
A situaçâo actual tem, portanto, algo de contra-
ditôrio e até de surrealista. Na verdade, por um lado, é
frequentemente proclamado o alcance universal dos
Direitos humanos; por outro lado, multiplicam-se os
atentados contra a vida humana, acompanhados por
correspondentes "legitimaçôes" [EV 18]. As Decla-
raçôes dos Direitos do Homem sâo deturpadas me-
12
diante uma lista de derrogaçoes que permitem aligeirar
legalmente esses direitos. E essa mesma incoerência
que sai da pena de certos moralistas que afirma, por
exemplo, o direito fundamental de todos os homens à
vida, mas que, corn toda facilidade, se apressam a acres-
centar que é "necessârio", em certos casos, transgredir a
lei moral que proclama esse direito.
Em sïntese, a nossa sociedade, apesar das aparências,
pratica amplamente a marginalizaçâo, à custa, quer dos
povos, quer das pessoas.
A enciclica nâo se limita a registar: desce as raïzes do
mal. As causas deste podem ser descobertas à luz da
moral social e da moral fundamental. Quanto à moral
social, a Evangelium vitae retoma, sem o tornar a desen-
volver, tudo o que a Sollicitudo rei socialis e a Centesimus
annus tinham analisado.Vemos mencionadas: a incûria
culposa, as injustiças na distribuiçâo das riquezas, a cor
rida aos armamentos, a cultura da morte [EV 10].
Quanto à moral fundamental, a enciclica remete para
os ensinamentos da Veritatis splendor. Mostra que as
ameaças contra a vida nascem do relativismo [£J/20],
do proporcionalismo [EV 68], da confusâo entre o
bem e o mal [EV 24], de uma falsa concepçâo das
relaçôes entre a liberdade e a verdade [EV24, 96], das
lacunas de uma moral meramente consensual ou
processual [£1/68-71].
13
•_. ;
14
mente resultado da queda generalizada da mortalidade:
vivendo mais tempo, os homens sâo em maior numéro
quanto à ocupaçâo simultânea da Terra. Demonstrarâ
ainda que a "sobre-ocupaçâo da Terra" é uma noçâo
absolutamente relativa à capacidade que os homens
têm ou nâo têm de dar soluçâo aos seus problemas. E
nâo deixarâ de sugerir, na linha de Bourgeois-Pichat,
que, se a fecundidade mundial viesse a cair e se man-
tivesse constante o nïvel actual da fecundidade na Ale-
manha, o homem desapareceria dos païses industriali-
zados à volta do ano 2250 e dos païses em vias de
desenvolvimento cerca do ano 2400.
Com base nestes estudos, sera possîvel empreender
uma acçâo a favor da vida, que induira a valorizaçâo
da famîlia, célula-mâe da sociedade e da Igreja; a valo
rizaçâo da mulher em todas as dimensôes da sua
especificidade [EV 99]; a valorizaçâo de cada homem
mediante a participaçâo no saber e nas competências
profissionais, em virtude da educaçâo (cf. Centesimus
annus, 32); fmalmente, a valorizaçâo do compromisso
politico [£1/93]. Da convergência de estas linhas de
acçâo hâo-de surgir necessariamente formas de mais
larga solidariedade [£F93].
Tudo isto acentua a urgência - para teôlogos, mora-
listas e pastores - de prestar atençâo as realidades
demogrâficas. De facto, afïrma a encîclica, e com
15
cristalina clareza, que o respeito da vida humana nâo se
limita à moral sexual e familiar, mas tem de ser tam-
bém a maior preocupaçâo da moral social, econômica
e politica.
Deus —recorda Joâo Paulo II [EV 19], insistindo
aqui no ensino da Centesimus annus (CA 38) —confia
o homem ao homem. Ora, o homem esta confiado ao
homem mediante as instituiçôes polîticas, jurîdicas,
econômicas, sociais, sem esquecer as organizaçôes
nacionais e internacionais, tanto pûblicas como pri-
vadas. E no interior de estas instituiçôes e organiza
çôes que os Cristâos sâo convidados, como pessoas e
como Povo de Deus, a proclamar o Evangelho da vida
[EV19\
16
APRESENTAÇÂO
17
HB55S
••
19
ADVERTENCIA
INTRODUCAO
1
1. No que respeita ao aborto, nâo estarâo os cristâos
a querer itnpor a sua moral as outras pessoas?
23
2. Existera dados sobre o numéro de abortos praticados
no mundo?
24
1
o mesmo problema: «Le nombre véritable des avortements. On ne doit pas
déroger à la vérité des chiffres», em La Croix-VÉvénement (3 e 4 de Marco de
1991); e «Avortement: le refus de voir», em L'Homme Nouveau, de 18 de Abril
de 1993. Sobre o caso inglês, ver o estudo.de R. Whelan, Légal Abortion
Examined. 21 Years qfAbortion Statistics, Londres, Spuc Educational Research
Trust, 1992.
25
CAPITULO n
29
4. Por que razâo certos partidârios do aborto puseram
em dûvida o carâcter humano da criança nâo nascida ?
'A respeito da natureza humana da criança nâo nascida, ver Jérôme Lejeune,
L'enceinte concentrationnaire, Paris, Le Sarment-Fayard, 1990.
2Cf. La dérive totalitaire du libéralisme, Paris, Éditions Universitaires, 1991,
p. 173.
*Evangelium Vitae, 60.
30
5. Os progressos da biologia permitem duvidar da
natweza humana da criança antes do nascimento ?
31
6. Quando a criança nâo é desejada, o aborto justiji-
ca~se?
32
i
para a criança, é o casai unido, onde dois seres hu-
manos constituem uma familia, ou seja, formam um
projecto que inclui duraçâo, fidelidade e confiança para
enfrentar, juntos, os imprevistos (cf. 63). Hâ todo um
clima que deve ser desenvolvido na sociedade, pois esta
muitas vezes dissuade os casais de projectar e procriar,
ou culpabiliza aqueles que têm filhos.
33
7. A criança desejada nao éfruto da paternidade respon-
sâvel ?
xHuis clos.
34
8. Tendo em vista as técnicas de procriaçâo medicamente
assistida, nâo e normal que os pais exijam uma crian
ça de perfeita qualidade ?
35
i f
36
I!
10. Tornâmo-nos sensiveis à qualidade de vida. Militas
crianças concebidas serâo infelizes e nâo terâo acesso a
uma vida de qualidade. O aborto previne e résolve este
problema.
37
mente: a soluçâo da pobreza nâo esta na supressâo do
pobre mas em partilhar com ele (cf. 136).
d) A nossa sociedade nunca foi tâo abastada. Séria
suficiente uma polîtica de ajuda à maternidade, bem
pensada, bem aplicada, bem controlada, para que qual-
quer criança dispusesse à nascença do minimo indis-
pensâvel para lhe garantir uma vida digna.
:,
'il
il '
38
I !
11. Em nome do direito à qualidade de vida} nâo se
deveria recusar a vida a um ser votado ao sofrimento ou
a uma deficiência?
39
corporal que lhe é essencial. Falar de qualidades fîsicas
ou psicolôgicas deste homem sô tem sentido relativa
mente a esta existência. Relativamente significa que sô se
fala de qualidades em relaçào a uma existência real, em
dependência desta.
40
12. Quando se détecta uma malformaçâo na criança,
nâo é melhor recorrer ao aborto para a poupar a uma
vida indigna do homem?
41
v n
1I 42
i,
existência é indigna do homem? Em França, aconse-
lharam uma mulher a abortar porque a criança que ela
trazia corria riscos de ser estéril2!
43
13. O diagnôstico pré-natal permite detectar os mon
goloïdes. Perante este progresso da ciência, temos o
direito de deixar viver uma criança que sera uma cruz
para os pais e cuja vida nâo desabrocharâ ?
44
ao extremo! Nâo podem imaginai* a minha felicidade
quando estou com o Rodrigo e canto para ele. Ele ali
fica, a sorrir, e abraça-me, sem querer eu acabar. É
indescritîvel. O Rodrigo cativa-nos completamente.
Talvez porque se sente aceite, tal como é...».
45
CAPITULO m
49
15. Uma vez que a mulher optou por abortar, nâo tem
de se respeitar a sua decisâo ?
50
16. O direito de abortar, o direito da mulher a dispor
livremente do seu corpo, nâo éuma reivindicaçâo essen
cial dofeminismo?
s
51
17.-4 lei que pune a prâtica do aborto é odiosa para a
mulher e ignora os seus direitos.
52
iH
18. A democracia sô e entâo possivel mediante um min-
imo de moralidade polîtica ?
53
19. A liberalizaçâo do aborto nâo deverâ ser considera-
da uma etapa importante na longa marcha das mulhe
res rumo à sua libertaçâo?
54
20. A dignidade da mulher nâo é mais honrada quando
Ihe ê atribuido o direito de abortar?
55
m
21. .4 liberalizaçâo do aborto respeita apenas a algumas
categorias particulares de mulheres ?
57
garantir a essas mulheres, durante a gravidez, um
«acompanhamento» discreto, eficaz e caloroso. Po-
derâo, assim, levar a sua gravidez até ao fim, nas melho-
res condiçôes possîveis, com a perspectiva de confiar o
seu filho a pais adoptivos, se o desejarem (cf. 111,113).
No fundo, um dos dramas do raundo em que vivemos
é que existem muitas crianças sem pais e muitos pais
sem crianças (cf. 124).
58
23. Contudoy quando a angûstia da mulher é extrema, o
aborto pode ser considerado um mal menor?
59
24. Quefazer quando a vida da mâe e/ou a do bébé cor-
rem perigo ?
60
t
c) Querer provocar a morte, mesmo indirectamente,
de ura inocente, nâo séria nunca lîcito, mesmo se o fim
fosse bom: por exemplo, salvar a mâe. Contudo, pode
suceder que uma acçâo, certamente boa, como tratar a
mâe de um cancro, possa provocar um efeito funesto,
que nâo é querido nem desejado: a morte da criança
que esta mâe traz no seio.
d) Resumindo, pode suceder que ao tentar, honesta-
mente, salvar alguéra, outra pessoa venha a ser vitima-
da. Situaçâo semelhante é aquela onde se buscam as
vïtimas de um desabamento. Pôe-se todo o empenho
em salvar tudo o que pode ser salvo.
Quando praticamos uma acçâo de duplo efeito, um
positivo e outro negativo, nunca se quer o efeito nega-
tivo, resignamo-nos a ele; nâo o desejamos, toleramo-lo
(cf. 23).
61
25. Promover a mulher na sociedade implica assitn pré
venir o aborto ?
62
CAPITULO IV
A VIOLAÇAO
26. Nào se justificarâ oaborto em caso de violaçâo?
65
27. Perante o numéro de violaçôes, a possibilidade de
abortar é uma segurança de que a mulher dispoe.
66
28. Nâo se observa que uma das causas fréquentes do
aborto é o pai nao quêter assumir as suas responsabili-
dades em relaçâo à criança ?
67
29. Certas situaçoes excepcionais, como a SIDA em
Âfrica ou as violaçôes na ex-Jugoslâvia, nâo justiftcarâo
medidas de excepçâo?
69
CAPITULO V
A EUTANASIA
30. Como e que a legalizaçâo do aborto abre caminho à
legalizaçâo da eutanâsia?
73
31. Hâ quem aftrme que do aborto se deslizafacilmente
para a eutanâsia. Mas, apesar de tudo, nâo se trata de
dois problemas muito diferentes ?
%
caminho para atingirem os seus fins. AAlemanha nazi,
por exemplo, regulamentava o aborto; facilitava-o para
as raças ditas impuras, proibia-o as mulheres de estirpe
ariana. Mas foi sobretudo a esterilizaçâo em larga escala
que preparou os espîritos para a aceitaçâo da eutanâsia
(cf. 137).
'Evangelium Vitae, 63, 65. Cf. L'Enjeu politique de l'avortement, cit., pp. 42, 96,
206.
Hdem, pp. 14ss., 57, e cap. vin.
yEvangéiium Vitae, 18.
75
1
t
76
33. Nâo terâo alguns factores econômicos reforçado a
influencia perversa desse vitalismo irracional ?
77
CAPITULO VI
O CORPO DISPONIVEL
1
34. Sera que o nosso ordenamento juridico tende a aco-
Iher uma concepçâo de corpo que o considéra uuma
coisa"?
81
e o mundo das coisas é actualmente posta em causa por
alguns. E este o custo fatal de um conceito da liber-
dade, que reduz o corpo a um objecto de prazer
(cf. 61).
Esta tendência résulta também das prâticas de que
tanto se orgulha a razâo tecnicista. Com efeito, muitas
dessas prâticas tratam com desenvoltura como objectos
nâo apenas tecidos ou ôrgâos do corpo mas os prôprios
corpos.
82
35. Podem citar-se exemplos que demonstrem que o
corpo é tratado como um objecto ?
'Sobre este problema, v. a nossa obra Maîtrise de la vie, domination des hommes,
Paris, Lethielleux (col. «Le Sycomore»), 1986, maxime pp. 53-100.
2V. Le Monde, de 18-19.02.1990 e 06.06.1991; La Libre Belgique, 08.07.1991.
83
*Evangelium Vitae, 14.
''Cf. Jean-Louis Baudoin e Catherine Labrusse-Riou, Produire l'homme: de
quel droit? Étudejuridique et éthique des procréations artificielles, Paris, PUF, 1987,
maxime pp. 185-210: «Du droit des personnes au droit des biens».
84
36. Que consequências acarreta que se ponha em causa
a indisponibilidade do corpo ?
85
|3 \
\'i k
ri
j.ê
regras semelhantes as que presidem à gestâo dos outros
(if bens materiais.
1
'Para uma anâlise pormenorizada, v. La dérive totalitaire du libéralisme, cit.,
:i 3 especialmente pp. 147-156,173-178, passim.
2Evangelium Vitae, 63.
"Idem, 23, 42ss.
I !
86
37. A liberalizaçâo do aborto nâo sera consequência de
uma nova percepçâo do corpo humano?
87
mética dos prazeres (cf. 12). É vista ou como um corpo
I .
que incomoda e a que o aborto bem depressa porâ
! I'
fim; ou como um objecto que darâ prazer aos parceiros,
ou mesmo sô a um deles.
1Evangelium Vitae, 15; cf. La dérive totalitaire du libéralisme, cit., pp. 122ss.
88
Ml
38. Nao se correrâ o risco de rapidamente vir a consi
derar o corpo uma coisa como outra qualquer?
89
mitidas sexualmente. Ora, se estas proporcionam as fir-
mas farmacêuticas uma clientela ampla e indefesa,
criam também dramas terrïveis nos individuos e nas
famîlias e pesam imenso sobre o orcamento de toda a
sociedade. Assim, a juventude é votada à depravaçâo
por empresas possuîdas por um cinismo que confina
com a loucura, enquanto a pesquisa cientïfica e a segu-
rança social permanecem desprovidas dos meios
necessârios perante a amplitude do problema.
Esta é, fundamentalmente, a mesma lôgica que,
partindo de uma concepçâo restrita da liberdade
humana, acaba por considerar que se pode dispor do
corpo humano como se dispôe de uma coisa. O corpo
é objecto de alienaçâo. Esquece-se uma verdade ele-
mentar: é demasiado redutor dizer que nos temos um
corpo, porque nos somos um corpo. Esta formula nâo
exprime a totalidade da antropologia, mas exprime
algo de essencial.
90
39. Mas nao houve reticências das empresas farmacêu-
ticas as investigaçoes sobre produtos contraceptivos ?
91
os ensinamentos produzidos pelos reveses sofridos
pelas firmas farmaceuticas norte-americanas. Mostra
como podem ser tomadas a sério as ameaças de
boicote que pesam sobre as firmas privadas que pro-
duzem drogas contraceptivas.
92
CAPITULO v n
A LEGISLAÇAO
40. «A lei reflecte os costumes; ora o aborto entrou nos
costumes, portanto deve ser legalizado.»
95
declarados anormais, dos doentes incurâveis, dos
velhos, de "todos os que estâo a cargo da sociedade"3.
lTimest 03.03.1975.
2Cf. L'enjeu politique de l'auortement, cit., pp. 34, 55, 99ss.
*Evangclium Vitae, 101.
96
\k
41. As leis que liberalizam o aborto nâo terao, ao me-
noSy a vantagem de limitar o numéro de abortos ?
'Cf. L'enjeu politique de l'avortement, cit., pp. 34, 57. A este respeito, v. o estu-
do estatistico, ûnico no género, coordenado por Robert Whelan, com uma
introduçâo de Hubert Campbell, Légal Abortion Examined. 21 Years ojAbortion
Statistics, Londres, Spuc Educational Research Trust, 1992.
97
42. «Em democracia, é a maioria que décide; o parla-
mento pode, pois, mudar a lei.»
99
1
100
44. A leijâ nâo era aplicada. Nâo se estaria a desprezar
o Estado de direito ?
101
*
%
102
m i M l u i l i j i m - l i u u i t»u . m i l — m .
46. Uma vez que hâ abortos, nâo vale mais legalizâ-los
e tornâ-los um acto medico, afim de que sejam pratica-
dos "em boas condiçoes" ?
103
praticam-se sempre em mâs condiçoes (pelo menos
para as vîtimas).Vamos, pois, organizar centros em que
as violaçôes e os assassinatos se pratiquem em "boas"
condiçoes (para os seus autores), com supervisao mé-
dica?
104
i i
47. Pode reprovar-se que o legislador defina as condiçoes
necessârias para que o aborto seja autorizado ?
105
48. O facto é que hâ abortos clandestinos. Nâo valerâ a
pena legalizar o aborto para reduzir o seu numéro?
106
JkL
despenalizaçâo contribui, inevitavelmente, para que se
crie uma mentalidade abortiva que multiplica o
numéro dos abortos legais e dos abortos clandestinos.
Foi deste modo que na Uniâo Soviética se chegou, por
vezes, a situaçôes em que havia mais abortos que nasci-
mentos.
107
49. Osjuizes nâo terâo poder para fazer respeitar uma
lei liberalizadora do aborto?
108
50. Nâo hâ diferença entre despenalizar o aborto (ou
seja, retirâ-lo do côdigo pénal) e liberalizâ-lo (ou seja,
tornâ-lo mais livre e mais fâcil)?
109
despenalizaçâo: promulgar uma lei que autorize o
aborto.
110
tEÉUH
51. Nos debates sobre a legalizaçâo do aborto, por vezes
houve quem pedisse que o Estado desculpabilizasse o
aborto. Que significa este termo ?
111
provoca uma perversâo da razâo e da consciencia
moral que arrasta, por sua vez, à destruiçâo do sentido
de justiça (cf. 41).
112
IL.
c a p i t u l o vni
OS ACTORES:
MÉDICOS E MAGISTRADOS
52. A pratica do aborto nâo ira modificar a imagem da
medicina ?
115
- Além disso, estudos publicados recentemente
provam que certos médicos projectam associar-se ao
poder, participar nele e, até, realizar uma "gestâo esta-
tizada da vida". À eusta de quem se instalarâ esta tec-
nocracia médica? Das naçôes ditas desenvolvidas ? Do
Terceiro Mundo? Dos pobres5?
Daqui a necessidade de que cada médico divulgue,
sem ambiguidades, a sua posiçâo perante o respeito
pela vida e a sua posiçâo perante o poder polîtico. E a
necessidade de que os médicos que sâo servidores
incondicionais da vida se organizem no piano interna-
cional. Dar-se a conhecer é indispensâvel para ter cre-
dibilidade.
116
53. Poder-se-â encarar um desdobramento de personal-
idade nos médicos?
117
54. Nâo sera de temer uma ingerência da moral no
dominio cientijico?
118
55. Como pode o médico ser levado a subordinar os
interesses dos indivîduos aos da sociedade?
119
56. A pratica do aborto nâo ira modificar a imagem da
magistratura ?
120
57. Como poderâ repercutir-se na sociedade politica a
atitude do juiz que se abstém de processar?
121
58. A legislaçâo liberalizadora do aborto poderâ
ameaçar a separaçâo de poderes e consequentemente a
qualidade democrâtica da sociedade?
122
Ul
aplicaçâo mecânica e cega da lei acabaria, também, na
arbitrariedade e na injustiça.
Fica, assim, patente o risco que a legislaçâo sobre o
respeito pela vida faz correr à separaçâo dos poderes.
Se legislasse em funçâo dos interesses de uma potência
estrangeira, o legislador tornar-se-ia culpado de alta
traiçâo. Quando o legislador excède o seu poder,
alargando abusivamente a esfera da sua competência, o
juiz fica reduzido a executor das determinaçôes mais
ou menos arbitrârias do legislador. Nâo é preciso
acrescentar que este perigo é exacerbado sempre que a
lei é uma emanaçâo directa da vontade do executivo.
A lei e, com ela, a magistratura, arriscam-se a tornar-se
meros apêndices da administraçâo.
123
CAPITULO IX
127
60. Nâo haverâ, contudo, nenhuma possibilidade de
excepçâo a esta regra?
128
1
61. Nâo sera essencial, para uma sociedade democrâti
ca, favorecer ao mâximo a liberdade dos indivîduos?
129
mas de discriminaçâo.Jâ nâo ha uma pesquisa comum
do bem;jâ nâo hâ um esforço convergente em prol da
justiça. A propria ideia do bem comum perde o sentido;
existe apenas o bem particular. Na sociedade jâ so hâ lugar
para o compromisso. O que é preciso é trocar pontos
de vista usando defair-play, usando uma tolerância total
(cf. 62) para com aquilo que cada quai considéra, no
momento présente, bom ou mau.
Para evitar ao mâximo os inconvenientes da con-
vivência com outros indivîduos, para nâo soçobrar na
anarquia, é, pois, necessârio harmonizar os interesses
particulares. Todas as opçôes sâo "igualmente
respeitâveis" —mas isso nâo impede que, por razôes de
utilidade ou de interesse, seja preferîvel ficar-se por
uma moral meramente "processual"4. E o triunfo dos
comités de ética em que se procède caso a caso sem
referência a princîpios morais normativos e universais.
Daî, a invocaçâo da tirania da maioria (cf. 42) e a tâc-
tica da derrogaçâo (cf. 3). Neste ûltimo caso, em par
ticular, transferem-se para o direito os processos da
casuistica: do mesmo modo que esta corrompe a moral,
a tâctica da derrogaçâo perverte o Direito. Recusa-se,
à partida, qualquer referência aos princîpios gérais do
Direito, por forma a que este se acomode aos prazeres
e aos interesses daqueles a quem se quer agradar5. E
opera-se o retorno triunfante da sofisticct. O que é
130
proibido aqui e agora poderâ ser permitido ali e ama-
nhâ, porque o que conta, sempre e em toda a parte, é
incomodar o menos possîvel os indivîduos, que por sua
vez desejam serem incomodados o menos possîvel.
c) Deixa, portanto, de haver espaço para uma moral
aceite por toda a gente, que seja como que a teia do
tecido comunitârio humano. Com efeito, nesta con
cepçâo da liberdade tudo é relativizado. A propria ideia
de uma declaraçâo universal dos Direitos do Homem
torna-se vazia de sentido. Nâo hâ nada mais que indi
vîduos; e a exaltaçâo, até ao paroxismo, da liberdade de
cada um é promessa segura de um futuro de divisôes
sobreexcitadas entre os homens.7
d) As democracias ocidentais enfraquecem, porque,
em vez de se referirem a valores —como a verdade, a
justiça, a solidariedade - sâo governadas a partir do con-
senso proveniente de determinaçôes puramente
"processuais". Nacionais ou internacionais, as assem-
bleias polîticas tornaram-se por assim dizer comissôes
de ética alargadas, em que os mais fortes se esforçam
por fazer prevalecer um consenso que esteja de acordo
com os seus interesses.
e) Quando se récusa o reconhecimento a todos os
homens dos mesmos direitos fundamentais, torna-se
impossïvel criar uma sociedade mais justa e mais
humana.
131
f) Em suma, esta concepçâo ultra-individualista da
liberdade volta-se contra a prôpria liberdade. Com esta
concepçâo da liberdade, a dimensâo polîtica da
existência humana é totalmente recusada e cai-se na
anarquia. Esta significa a ausência de princîpios, de autori-
dade légitima emportante, de umgoverno que cuide do bem
comum.8
lEvangelium Vitae, 4.
2Estes temas sào centrais na enciclica Veritatis Splendor, de Joào Paulo II.
(V todo o cap. il, n.°' 28-83, e especialmente o n.° 35.)
*Evangelium Vitae, 20, 96.
4Idem, 68.Ver as discussôes suscitadas pela obra deJohn Rawls A Theory ofJus
tice (cf. éd. da Oxford University Press, 1971).
5Cf. Pierre Cariou, Pascal et la casuistique, Paris, PUF, 1993.
6Cf. L'Enjeu politique de Vavortement, cit., pp. 89-101.
1Evangelium Vitae, 18.
*Idem, 72.
;•
il i1
132
62. A tolerância nâo significa que todas as opinioes sâo
respeitâveisy incluindo as dos que preconizam o aborto e
a eutanâsia?
133
rância doutrinal ou do pluralismo doutrinal. Com efeito,
segundo estas orientaçôes, a ética é simplesmente
"processual", uma vez que todas as opiniôes sâo "igual-
mente respeitâveis" (cf. 61). Portanto, se triunfar a
opiniâo de acordo com a quai "esta ou aquela catego-
ria de seres humanos nâo é digna de viver", os seres
humanos assim catalogados - por uma maioria -
poderâo ser eliminados legalmente.
d) Esta forma de conceber a tolerância doutrinal ou o
pluralismo doutrinal marca pois, numa dada sociedade, o
desterro da tolerância civil em nome da tolerância doutrinal.
134
63. Porque éque o Estado tem um papel a desempenhar
a propôsito do aborto ?
I 136
64. Nâo revelarâ uma perversâo do poder que o exerci-
cio deste possa custar a vida a inocentes ?
137
65. Se a ameaça do totalitarismo fosse real, nâo séria
manifesta para toda a gente e nâo provocaria uma
mobilizaçâo gérai contra ela ?
138
Assim, quando se chega a pedir ao Estado que diga
quais sâo os inocentes que podem ser eliminados,
quando o autoriza a lei, e quando dispôe um ministro
de meios para prover à sua execuçâo —entâo, jâ é tarde
demais para que alguém se interrogue se ainda se vive
em régime democrâtico.
139
CAPITULO X
RUMO AO ULTRANAZISMO ?
66. O aborto sera um método moderno de discrimi-
naçâo ?
143
num estado extremo de fraqueza e de depen-
dência.
il
I
•!
1 I
i :
144
67. A ideologia em que se inspiram os partidârios do
aborto nâo é, ainda assim, diferente da ideologia nazi?
145
68. No entanto, nâo importarâ concéder que, se as prati
cas sâo as tnesmasjâ as ideologias apresentam grandes
diferenças ?
lEwmgelitim Vitae, 8.
146
69. Que ligaçâo hâ entre os ideôlogos da discriminaçâo
e os engenheiros biomédicos?
147
ros e vezeiros destas formas refinadas de abuso de
poder.
148
70. Nâo encontramos aqui, invocados em proveito da
sociedade, critérios anâlogos aos que sâo invocados em
proveito dos casais?
149
Isto verificou-se desde 1926, na URSS, onde o aborto
foi legalizado para que a populaçâo pudesse ser total
mente submetida à exigência de planificaçâo imperati-
va pelo Estado. A URSS foi assim o primeiro paîs a
legalizar o aborto por razôes de Estado.
c) Em suma, e contrariamente ao que pensam os
ricos, verificamos que eles é que constituem uma
ameaça para os pobres.
150
71.-4 récusa de qualquer risco précipita portantoy
impiedosamente, numa espiral da pura eficâcia?
151
72. Pode-se falar, a propôsito do aborto, de "crimes
imprescritiveis contra a humanidade"?
152
Nuremberga. Ela explicita, déclara as razôes ûltimas pelas
quais era preciso —e ainda é - lutar contra o nazismo,
condenar os seus crimes e prévenir a sua revivificaçâo.
A Hberalizaçâo do aborto remete portanto em
questào os prôprios princîpios sobre os quais se fundou
a condenaçâo do nazismo.
153
73. Sera imaginâvel que nos esqueçamos de tirar as
liçoes} alias évidentes, que decorrem da experiência
nazi ?
154
tirano, mas votadas por parlamentares, que se continua
a executar inocentes.
155
74. A Jidelidade à memôria das vitimas bastarâ para
nos vacinar contra uma nova barbarie ?
156
75. Como explicar esta inconsequência que leva a
legalizar hoje prâticas ontem condenadas por serem
ilegitimas ?
157
indigna de ser vivida2 (cf. 60); é também um "dever",
e a mesma sociedade tem de garantir a sua execuçâo
para aqueles que desejam "morrer com dignidade",
por considerarem que a sua vida é indigna de ser vivi
da (cf. 30).
À consideraçâo do Direito da sociedade a infligir a
morte aos seres cuja vida é indigna de ser vivida, tipi-
ca do nazismo (cf. 60),junta-se pois, aqui, aquela outra,
tipica do liberalismo, do direito do individuo a "mor
rer com dignidade".
c) Mas nos dois casos, de facto, e para là dos tra-
vestismos ideolôgicos, o acto de infligir a morte é
coberto pela lei e a sua execuçâo confiada ao pessoal
médico. Em suma, a lei légitima o assassînio médico
(cf. 46, 53).
d) Por estas mesmas razôes, quando um Estado dâ aos
pais o "direito" de matar os seus filhos, acaba rapida-
mente por dar aos filhos o "direito" de matar os pais
(cf. 30-32, 46, 52).
Assim, nestes diferentes casos, a "lei" é chamada
a "legitimar" a "medicalizaçâo" do homicidio (cf. 46,
53).
Esta aliança totalitâria entre a mentira e a violência
foi implacavelmente denunciada por André Frossard:
«O mentiroso sabe que mente, o criminoso esconde
ou nega o seu crime, e os sistemas politicos mais dia-
158
bolicamente injuriosos para a espécie humana julgam-
-se obrigados a enfeitar com a dignidade da justiça as
suas ignominias, e a macaquear o direito cada vez que
o violam».3
159
76. A evocaçâo do passado pode incomodar alguns. Mas
para os que hoje préparant^ fabricant e distribuent dro-
gas abortivasy nâo sera também incômodo verificar a
eftcâcia dos seus produtos?
160
ali, ocultam-se as motivacôes actuais incômodas. Estes
dois processos entrelaçam-se muitas vezes, reforçando,
assim, o efeito de ocultaçâo.
161
77. Nâo sera apesar de tudo pouco verosimil que aque-
les que préparant e comercializant métodos de aborto
quimico tâo eficazes sejam totalmente insensiveis as
liçoes do passado?
162
b) No caso que nos ocupa, esta reactivaçâo poderia,
por exemplo, levar a perguntarmo-nos se um novo
genocidio nâo se esta a preparar. Este genocïdio nâo
teria jâ como vïtimas as visadas pelo nazismo "histôri-
co"; teria sobretudo como alvo, hoje em dia, a imensa
multidâo dos pobres. Observador tâo perspicaz como
interessado, o doutor Baulieu afirma que, «de acordo
com a Organizaçâo Mundial de Saûde, a firma
Hoechst decidiu que nos paises do Terceiro Mundo,
que representam os verdadeiros, os grandes mercados,
a pilula (RU 486) séria vendida a um preço muito
baixo ou mesmo cedida gratuitamente».1
c) No caso do laboratôrio Hoechst que, com Rous-
sel-Uclaf, produz o RU 486 (cf. 95 s.), o medo desta
representaçâo do passado foi cuidadosamente analisado
pelo mesmo doutor Baulieu. Numa entrevista à revista
italiana L'Espresso, notava ele: «Sâo precisamente os
dirigentes da filial norte-americana da Hoechst que
influenciaram a opiniâo da casa-mâe da Alemanha.
Hilger, o seu présidente, mesmo sendo um catôlico
bâvaro, nunca foi contra a pilula (RU 486). Mas hoje
em dia tem medo. E os seus temores sâo alimentados
também por certos velhos fantasmas do passado
A firma Hoechst nasceu apôs a guerra, do desmantela-
mento da sociedade IG-Farben, o gigante industrial
que, entre outros, tinha produzido o gâs para os cam-
163
pos de extermînio nazis. Hilger fica aterrado com a
ideia de que grupos anti-abortos desencadeiem uma
campanha para acusar a Hoechst de continuar a matar
como no tempo de Hitler»2 (cf. 46).
Se se compreende, certamente, este "terror", sâo
menos compreensïveis os bloqueios que limitam a per-
cepçâo ao présidente da firma.
164
78. Nâo é chocante que se sugira um paralelo entre os
verdugos do régime nazi e os abortadores dos nossos dias?
165
CAPITULO XI
OS ASPECTOS DEMOGRAFICOS
79. Que podemos dizer actualmente sobre a populaçâo
mundial ?
169
•^Gérard-François Dumont, «Révolutions démographiques», in Le Spectacle du
monde, n.° 361 (Abril de 1992), pp. 80ss.
4Sobre estas questôes v. o nosso trabalho Para entender las evoluciones demogrâ-
ficas, Mexico DF, IMDOSOC, 1995.
170
80. Pelo menos um quinto da populaçâo vive numa
situaçâo de pobreza absoluta, em condiçoes infra-
-humanaSy indignas do homem. No interesse destas pes
soas e suas familiasy nâo sera preferivel impedi-las de
terfilhos ?
171
sos alimentares, mas também no que respeita, por
exemplo, aos conhecimentos relativos à agricultura, à
saûde, à higiene, à regulaçâo natural dos nascimentos,
etc. - sem contar com a corrupçâo2. O que os pobres
esperam é que os ajudem a sair da sua miséria, nâo que
os deixem atolar-se depois de lhes terem "oferecido"
abortos e esterilizaçôes.
c) A esterilizaçâo em massa dos pobres, tal como é
praticada actualmente, esta provocando consequencias
terrïveis3. Uma vez que sejam velhos, estes pobres con-
tinuarâo igualmente pobres, mas jâ nâo terâo filhos
com quem contar. Serâo abandonados, e a violência
exercida pela sociedade acelerarâ a sua morte, tal como
faz jâ morrer crianças da rua recusando cuidar delas.
d) Apresentadas nos dias de hoje sob uma nova
embalagem, as teses de Malthus sâo mais que nunca
um instrumento idéal para todos os reaccionârios que
se opôem a qualquer reforma social. Os malthusianos
de hoje intoxicam a opiniâo internacional fazendo-a
"engolir" a ideia de que a pobreza nâo é causada nem
por injustiças sociais, nem erros economicos, nem
incompetência politica, nem aberraçôes ideolôgicas.
Segundo eles, a pobreza é originada pela proliferaçâo
vertiginosa dos prôprios pobres. E ôbvio que na medi-
da em que esta tese, apesar de falsa, é inculcada e rece-
bida como uma ofuscante "evidência", as autênticas
172
exigências relativas à justiça e ao desenvolvimento
podem ser ignoradas e pode continuar, sem escrupulos,
a exploraçâo dos pobres.
e) Malthus tornou-se assim, hoje, bandeira de todos
os que se opôem à justiça social - tanto entre os
homens como entre as naçôes -, à fraternidade univer-
sal, à igualdade, à liberdade para todos, ao respeito dos
mais fracos, dos mais pobres, dos déficientes, dos doen-
tes, etc. Para os malthusianos da actualidade, os pobres,
os fracos, os Negros, os Indianos, e outros ainda, sâo de
desprezar; a igualdade de todos os homens, o direito de
todos à liberdade, o acesso de todos aos bens materiais,
intelectuais e espirituais sâo, para eles, objectivos inad-
missïveis e que importa combater. Cuidar dos fracos,
promover a igual dignidade de todos os homens per
turba, segundo eles, o equilibrio querido pela Natureza,
que selecciona os melhores e élimina os mais fracos.
Em suma, as ideias malthusianas inspiram as versôes
contemporâneas da moral, naturalista e nietzschiana,
dos senhores. Neste sentido, estas ideias sâo totalmente
incompatïveis com o Cristianismo.
173
81. Nâo se contribuirâ para a felicidade dos pobres ao
facilitar-lhes o acesso à esterilizaçâo e ao aborto ?
174
82. Nâo existe essa terrivel ameaça que pesa sobre a
humanidade, a "explosâo demogrâfica" do Terceiro
Mundo ?
177
83. Ha quem faie mesmo de uma "bomba demogrâfica >>
pronta a explodir.
178
84. Este medo do desenvolvimento do Terceiro Mundo
visa alguns paises em particular?
179
publicado em Le Temps de VÉglise (Paru), n.» 8(Abnl de 1993,VV- 2M&
=Limitamo-nos a mencionar alguns documentes ma* recen'es s0^e °
"Relatôrio Kissinger": GtoW 2000.The Report to the Prévenu coonl. Gerald
O Barnev pref limmy Carter, Arlington, Seven Locks Press, 1991 (1. éd.
?980 sK Conly./joseph Spe.del, Sharon L. Camp, US PopuMon As,s-
tance' Issues for the 1990s, Washington, Populaaon Crms Connu tee, 1991
estTinstituïçào éaactual Population Action International); Users Guide to
éeOiSl Potion, january 1993, Office of Population/Bureau for
Reselh and D^evelopment/US Agency for ^"^E***^
Washington 1993.Ver tb. OStatement apresentado a11.05.1993 por limo
TeX"h, représentante dos EUA na segunda Comissâo Preparatona da
Conferência Internacional do Cairo (5-13.09.1994) sobre aPopuaçâo eo
gstXmento. Este texte>J»^^£^£&ÏZ
eign Policy», in Covert Action, n.° 39 (Inverno 1991-1992), pp. 26-30.
180
85. Como se apresenta a situaçao demogrâfica do lado
da Europa?
181
fecundidade esta daramente abaixo do limiar necessârio à
substituiçao das geraçôes2. Para a Comunidade Europeia,
os dados publicados em 1993 pela Eurostat dào conta
de um indice de fecundidade que era de 2,61 em 1960
e que desceu a 1,51 em 1991. Sô a Manda, com um
indice de 2,10, assegura a renovaçâo das geraçôes. Para
que cada um julgue por si, sempre segundo aEurostat,
o ûltimo indice de fecundidade disponivel é de 1,82
para a Grà-Bretanha; 1,62 para aBélgica; 1,33 para a
Alemanha; 1,33 para aEspanha; 1,26 para a Itâlia3, mas
os mais récentes dados do Istituto Centrale di Statisti-
ca revelam que em 1994 o indice de fecundidade
desceu para 1,19 filhos por mulher. Para a França, a
mesma Eurostat (1993) da o numéro de 1,78, indice de
1990. Mas um estudo mais récente do INSEE, apresen-
tado por Guy Herzlich no Monde de 10 de Fevereiro
de 1994, dâ o indice de 1,65 para 1993.
A derrocada é ainda mais espectacular nos paises da
Europa oriental: «o numéro de filhos por mulher caiu
abruptamente na Alemanha de Leste; de cerca de 1,6
em meados de 1990, desceu para 0,83 em 1992.
ARûssia caiu em 2anos de 1,9 para 1,56. [...] Acatôli-
ca Polônia [...] voltou a 1,95 filhos por mulher, tal
como a Eslovâquia [...]. Na Rûssia, desde o final de
1991, o numéro total de mortes ultrapassa mesmo o
dos nascimentos»^ Até aos anos 1965-1970, o indi-
182
cador sintético de fecundidade na Europa era em quase
todo o lado superior a 2,1. A tïtulo de comparaçâo, é
de notar que este indice, que déclina praticamente em
todos os continentes desde 1965 (cf. 79), estima-se em
3,3 para o conjunto do mundo, e em 3,7 para o Ter
ceiro Mundo5.
183
86. Como chegou a Europa a tal colapso demogrâfico ?
As causas desta implosâo demogrâfica sâo, evidente-
mente, complexas. Em todo o caso, hâ uma que
merece ser sublinhada. Para fazer aceitar a contra-
cepçâo, oaborto eaesterilizaçâo no Terceiro Mundo,
aEuropa dévia "dar oexemplo". Odiscurso que diri-
gia aos paises pobres nâo teria sido credivel se ela
prôpria nâo tivesse começado a adoptar e alegalizar
estas prâticas. Em 1973, o agrônomo René Dumont
escrevia: «Medidas limitativas autoritârias da natalidade
vâo [...] tornar-se cada vez mais necessârias, mas nâo
serâo aceites anâo ser que comecem pelos paises ricos e pela
educaçâo dos outros»'.
O exemplo europeu provocou efeitos de imitaçâo
no Terceiro Mundo, mas teve principalmente um
"efeito de boomerang" na prôpria Europa. Éuma nova
versâo da histôria do feitiço que se virou contra o feiti-
ceiro: a Europa foi e continua a ser a primeira vitima
das prâticas "anti-vida" que queria exportar para asse-
gurar o contrôle do Terceiro Mundo.
'V. René Dumont, L'Utopie ou la mort, Paris, Seuil, 1973, pp. 49ss. (Sublinhado
no texto.)
184
87. Os eua nâo conhecem tambétn uma queda
detnogrâjica comparâvel à da Europa ?
185
88. A implosâo demogrâjica da Europa poderâ preocu-
par os eua ?
187
Europa; tal como com o seu "envelhecimento"2, que,
além de mais, provocarâ inevitavelmente problemas
sociais a partir do momento em que se ponham em
causa as politicas de assistência social, de saûde-
-invalidez e de reforma - problemas estes, alias, jâ
largamente enunciados.
Sob a influência de lideres de opiniâo talvez pagos, a
Comunidade Europeia, enfeitiçada, apressou-se a inte-
grar a ideologia neomalthusiana do direito ao prazer,
de origem principalmente anglo-saxônica. Mas o inte
resse dos EUA é que a prôpria Europa, cedendo aos
comportamentos malthusianos, restrinja (cf. 93, 96) estri-
tamente o crescimento da sua prôpria populaçâo (cf. 80). Os
EUA devem portanto sorrir perante a solicitude com
que os Europeus interiorizam as teses que eles tanto
divulgam! Como exemplo de colonizaçâo ideologica,
nunca se fez melhor...
e) É chegado o momento, portanto, para a Europa e
para o Terceiro Mundo, de se lembrarem da sentença
atribuïda a Disraeli: «O Império britânico nâo tem
amigos permanentes, nem inimigos permanentes. Nâo
tem senâo interesses permanentes.»
188
2Na Revue des Deux Mondes de Marco de 1993 foi publicado um dossier inti-
tulado La retraite et les retraites. V. nomeadamente o artigo de G.-F. Dumont
«Le vieillisssement, un phénomène social majeur», pp. 104-124.
189
89. Sendo tào grave a situaçâo demogrâfica da Europa,
porque preocupa tâo poucos politicos ?
191
90. Como se apresenta o problema do aborto nutn pais
como ojapao, ondefoi banalizado?
193
91. Tem-se alguma ideia das consequências da queda da
fecundidade nos paises desenvolvidos ?
195
'V. a este respeito Bichara Khader, Le Grand Maghreb et l'Europe. Enjeux et
perspectives, Paris, Publisud, 1992.
2V. por exemplo Pierre Chaunu, Trois millions d'années, Paris, Robert LafFont,
1990. Este ponto também é sublinhado por Hannah Harendt em Condition
de l'homme moderne (1958), trad. fi\, Paris, Calmann-Lévy, 1988 (reimpr.),
p. 43.
196
92. Pelo seu numéro, os homens nâo se tornaram
nocivos para o meio ambiente?
198
CAPITULO xn
AS ORGANIZAÇOES
INTERNACIONAIS
93. Evoca-se comfrequência uma campanha dos ricos e
poderososy que se empenhariam em limitar apopulaçâo
mundial pobre, afim de nâo serem obrigados a parti-
lhar as suas riquezas. Nâo sera uma visâo um tanto
sombria da sociedade e do futuro do mundo?
201
que a «recomendaçào» pela quai se convidava o Banco Mundial a concentrai*
a acçao na ajuda ao governo senegalês para que este desenvolvesse uma
polîtica demogrâfica global «foi aceite e por fini executada, fazendo-se da
sequência de tal declaraçào polîtica uma condiçào para libertar a segunda
fatia do terceiro ajustamento estrutural do empréstimo». Outra consequên
cia da boa aceitaçào desta polîtica e do papel do Banco Mundial foi o
«desenvolvimento de um Projecto de Recursos Humanos para o Sénégal,
aprovado pelo Conselho de Administraçào em Abril de 1991. Uma das
condiçôes de negociaçào era a libertaçâo das restriçôes à prestaçâo de
serviços de planeamento familiar. (...) Uma das condiçôes de aprovaçà'o era a
adopçào oficial do Programa Nacional de Planeamento Familiar». Ver tam
bém o estudo do mesmo Banco Mundial, Sub-Saharan Africa: Front Crisis to
Sustainablc Growth, Washington, The World Bank, 1989, p. 6.
202
94. Como é possivel que tais publicaçôes sejam tâo
pouco conhecidas?
203
95. Pode-se estabelecer a existência desta campanha
citando alguns factos ?
204
aborto ligando-o aos métodos de contencâo da natali-
dade4(cf.39).
205
96. E neste quadro que aparece a ptlula abortiva RU
486?
'V. Étienne-Émile Baulieu, Génération pilule, Paris, Odile Jacob, 1990. Sobre
a RU 486, v.Janice G. Raymond, Renate Klein, Lynette J. Dumble, RU 486.
Misconceptions, Myths and Morals, Cambridge, Institute on Women and Tech
nology, 1991.
206
97. Signifîcarâ isto que instituiçoes especializadas da
ONU, e talvez apropria ONUy estâo implicadas em cam-
panhas antinatalistas nos paises pobres ?
207
98. Custa a acreditar que uma instituiçâo tâo prestigia-
da como a onu avalize politicas de "contencâo"
demogrâfica que comportam a prâtica do aborto.
208
Indïcios convergentes einquiétantes levam apensar
que a ONU, com as suas agências especializadas, se este-
ja a transformar numa imensa mâquina manipulada
pelos Estados mais ricos do mundo, a começar pelos
EUA, para edifîcar um governo mundial4 que se exerça em
seu proveito.
209
99. Quemganha com esta mutaçâo?
210
100. Esta mutaçâo aproveita a algumas naçôes em par
ticular?
211
mento da populaçâo é simultaneamente causa e conse
quência de uma pobreza propagada.»1
'Relatôrio, p. 115. Ver também, no mesmo Relatôrio, pp. 22, 101, 117, etc.
Cf. La dérive totalitaire du libéralisme, cit., p. 85.
212
101. O relatôrio Kissingerfala do aborto?
Aborto
1. Prâticas mundiais do aborto
«Alguns factos relativos ao aborto devem ser apre-
ciados.
213
2. A législaçâo dos EUA e suas politicas relativas ao aborto
«[...] O programa da AID [Agenda norte-americanapara
o Desenvolvimento International].
«A parte prédominante do programa de assistência
da AID concentrou-se sobre os métodos de contra-
cepçâo ou de prevençâo. Todavia, a AID reconheceu
que, nas condiçôes dos paises em desenvolvimento, os
métodos de prevençâo nâo sô sâo frequentemente difi-
ceis de praticar, como muitas vezes falham devido à
ignorância, à falta de preparaçâo, a uma errada utiliza
câo ou à sua nâo utilizacâo. Por causa destas condiçôes,
um numéro crescente de mulheres, no mundo em vias
de desenvolvimento, recorreu ao aborto, habitual-
mente em condiçôes perigosas e muitas vezes fatais. Na
realidade, hoje em dia o aborto, légal e ilegal, tornou-
-se o método mais propagado de contrôle da fertili-
dade no mundo. Dado que no mundo em vias de
desenvolvimento, a prâtica cada vez mais divulgada do
aborto é muitas vezes feita em condiçôes precârias, a
AID esforçou-se, através da investigaçâo, por reduzir os
riscos de saûde e outras complicaçôes que sâo causadas
pelas formas ilegais e precârias do aborto. Um resulta-
do foi o desenvolvimento do kit de regulaçâo mens-
trual, que é um meio simples, barato, seguro e eficaz de
contrôle da fecundidade, e que é de fâcil utilizacâo nas
condiçôes dos paises subdesenvolvidos.»
214
[Seguem-se entâo consideraçoes relativas as restriçoes feitas
pela administraçào norte-americana da época, à utilizacâo de
fundos da AID para o aborto. Estas consideraçoes terminam
desta formai]
«Os fundos da AID podem continuar a ser usados
para a investigaçâo respeitante ao aborto, dado que o
Congresso decidiu especificamente nâo incluir esta
investigaçâo nas actividades proibidas.
«Um dos maiores efeitos desta emenda e da decisâo
polîtica é que a AID nâo sera mais implicada no desen
volvimento ulterior ou na promoçâo do kit de regula-
çâo menstrual. Contudo, outras entidades ou organiza-
çôes poderâo interessar-se em promover com os seus
prôprios fundos a divulgaçâo deste prometedor méto-
do de contrôle da fecundidade.. .»2
b) Esta determinaçâo dos EUA foi confirmada em
1993 e expressa com maior clareza por Timothy E.
Wirth, représentante dos EUA, no texto citado acima
(cf. 84 e nota).
«O Présidente Clinton esta profundamente em-
penhado em colocar o problema da populaçâo na
primeira linha das prioridades internacionais da
America. [...] O governo dos EUA crê que a Confe-
rência de Cairo (5-13 de Setembro 1994) faltarâ ao
seu dever se nâo elaborar recomendaçôes e linhas de
conduta relativas ao aborto. A nossa posiçâo consiste
215
em apoiar a escolha reprodutiva, incluindo o acesso ao
aborto seguro.»
' Sobre este ponto, v. Stephen Mumford e Elton Kessel, «Rôle of Abortion
in Control of Global Population Growth», Clinics in Obstetrics and Gyneaco-
logy, 1.13, Marco de 1986, pp. 19-31.
2 Cf. Relatôrio, pp. 182-184.
216
J-i^..
102. Haverâ algutna relaçao entre esta politica
demogrâfica dos eua e a mutaçâo que se observa na
natureza da onu?
'Ver, por exemplo, no Relatôrio Kissinger, as pp. 113ss., 150, 159, 164-166.
Em La Dérive totalitaire du libéralisme (cit.) estudamos em pormenor questôes
que aqui sô afloramos.V. também William F. Jasper, Global Tyranny..Step by
Step,Appleton,Wisconsin, Western Islands, 1992.
217
a
103. Como explicar que as democracias ocidentais sejam
cûmplices dos EUA na restriçâo do crescimento demogrâ-
fico do Terceiro Mundo ?
218
xEvangelium Vitae, 12.
2V James Kurth, «Hacia el Mundo Posmoderno», in Facetas, Fevereiro de
1993, pp. 8-13. (Ed. original publ. em Tlte National Interest,VzxZo de 1992.)
>V.Êxodo, 1,8-21.
219
104. A atitude destes ricos e partilhada por todos os
cidadàos dos EUA e das democracias ocidentais ?
220
direito ao serviço da vida dos inocentes. O Présidente
Clinton, que sobre estes pontos rompeu com os seus
dois predecessores, deverâ ter estes grupos em conta
cada vez mais.
221
105. Nâo ha incoerência das naçôes ocidentais ao
exportarem produtos abortivos, continuando simulta-
neamente a proclamar-se campeoes da democracia e do
desenvolvimento ?
222
'Ver o livro espantoso de Graham Hancock, Lords ofPoverty. Tlie Power, Pres
tige, and Corruption of the International Aid Business, Nova York, The Atlantic
Monthly Press, 1989.
2C£ La dérive totalitaire du libéralisme, cit., pp. 157-172.
223
106. Quem sdoy em ûltima anâlise, os verdadeiros
responsâveis e verdadeiros instauradores do totali-
tarismo contemporâneo ?
224
Li
107. Em suma: se nenhuma acçao pela vida humanafor
desenvolvida a nivel mundial, perfilar-se-â uma nova
guerra ?
225
^m
108. Nào sera excessivo falar de guerra a propôsito do
aborto ?
'Sobre estas questôes, v.Tony Anatrella, Non àla société dépressive, Paris, Flam
marion, 1993.
226
CAPITULO xni
PREVENÇAO - REPRESSAO
- ADOPÇÂO -
109. Nao existe ao menos um ponto sobre o quai os
partidârios e os adversârios do aborto estejam de acor-
do?
229
110. Em vez de reprimir o aborto, nâo valeria mais pre-
veni-lo ?
230
«Lisi.
111. As legislaçôes liberalizadoras do aborto nâo terâo
um papel preventivo ?
231
112. É entâo necessârio continuar a reprimir o aborto?
232
"A este respeito, note-se a acçào corajosa de Christine Boutin, deputada por
Yvelines (França), que ilustra beni a sua obra Pour la défense de la vie, Paris,
Téqui, 1993.
2Cf. L'enjeu politique de l'avortenient, cit., pp. 27, 51.
233
113. A adopçâo oferece uma iCalternativayy ao aborto?
234
CAPITULO XIV
A IGREJA E A NATALIDADE
114. Que diz a Igreja sobre o aborto?
237
trad. port, de Paulo Quintela: Fundamentaçào da Metafisica dos Costumes, Lis-
boa, Edicôes 70,1995 (rééd.), pp. 69, 59.)
>V por exemplo Mt 5,38; 7,12; 22,34. Le 6,31; Jo 13, 34ss.
'Cf. Gen 4, 10; Ex 20,13; Dt 5,17; Sg 2, 24; Rm 1,29-32; Jo 8,39-44; IJo
3 12-15; Ap 21,8; 22,15.V. Gaudium et Spes, 27.
sCf. Gaudium et spes, 51; Cânone 1398. O ensino da Igreja sobre o aborto
encontra-se exposto nos n.m 2270-2275 do Catecismo da Igreja Catôlica.
238
115. Sobre o respeito da vida humana} e em particular
sobre o respeito pela criança nâo nascida, nâo se verifi-
ca que muitos cristâos estâo em desacordo aberto com a
Igreja ?
239
116. Nâo se arriscam os cristâos de hoje a ser censura-
dos por uma falta de coragem tâo lamentâvel como
aquela de queforam acusados alguns cristâos no passa-
do?
240
117. Nâo deveria a Igreja Catôlica ter em conta a
evoluçâo dos costumes e adaptar a sua concepçâo do
pecado ?
241
118. Porque é que a Igreja récusa a contracepçao
Zn7>
242
119. Nâo haverâ que distinguir cuidadosamente a con
tracepçao hormonal da esterilizaçâo ?
î 243
responsâvel. E contudo completamente diferente o
instalarem-se numa atitude habituai de adiamento da
procriaçâo. Tal atitude, com efeito, tem os seus riscos,
pois na prâtica cada um sabe por experiencia prôpria
que adiar uma acçâo pode por vezes significar pura e
simplesmente nâo agir. Sabemos, por exemplo, o que
acontece com certos fumadores que dizem querer
deixar de fumar: se adiam constantemente a sua
decisâo, acabam por nunca renunciar ao tabaco. O
exemplo do que se passa com os estudantes univer-
sitârios é ainda mais éloquente: alguns adiam incessan-
temente a sua decisâo de começar a estudar para um
exame e quando por fim se decidem é demasiado
tarde.
d) Em matéria de contracepçao, intervêm mecanis-
mos psicolôgicos anâlogos. Muitos casais jovens disso-
ciam prazer e procriaçâo, afirmando que o fazem, para
diferir esta ûltima. Ora, à medida que o tempo passa,
insinua-se nestes casais uma perplexidade crescente:
«Nâo estamos a ficar demasiado velhos para ter filhos?»
E quando a mulher se aproxima dos 35 anos, uma
outra consideraçâo confirma-a na sua perplexidade
psicolôgica. Explicam-lhe que na sua idade aumenta o
risco de por no mundo uma criança anormal.
Assim se contrai o periodo de fecundidade efectiva
dos casais que praticam a contracepçao. Enquanto a
244
fecundidade da mulher se estende naturalmente dos 15
aos 49 anos, aproximadamente, o perîodo de fecundi
dade destes casais diminui para poucos anos e por vezes
desaparece totalmente.
E portanto évidente que a banalizaçâo da contra
cepçao é uma das maiores causas da quebra demogrâ
fica dos paises ditos desenvolvidos.
245
120. Quem diz paternidade responsâvel diz contra
cepçao. Ora, a Igreja opoe-se à contracepçao.
246
F
247
b) A vontade dos esposos de evitar a procriaçâo pela
contracepçao artificial, e ainda mais pela esterilizaçâo,
repousa sobre um discurso implicito fâcil de reconsti-
tuir. Tudo se passa como se o marido dissesse à sua
mulher, habitualmente a principal interessada: «Queri-
da, eu amo-te, mas nâo como tu es, ou seja, fecunda.
Eu amo-te na condiçào de tu seres infecunda, ou mesmo
estéril.Tens de te modelar segundo o meu desejo para
que eu possa ter-te quando quero». E de resto contra
este tipo de discurso fantasma que as mulheres
começam a insurgir-se4.
c) Em suma, a Igreja recomenda aos casais que
respeitem o laço essencial entre sexualidade e amor.
Este laço supôe durabilidade, ou seja compromisso e
fidelidade (cf. 135).A procriaçâo inscreve-se no quadro
deste projecto concertado de vida conjugal.
O que muitos têm dificuldade em perceber é que a
Igreja quer salvar a liberdade como dimensâo constitutiva
da existência humana. Esta liberdade nâo pode ser
reduzida à ausência de constrangimentos fïsicos ou
morais; ela nâo é abandono as pulsôes egoistas do
instinto sem peias. Esta liberdade é capacidade de con
sentir valores (como o bem ou a justiça) que a razâo
pode descobrir; é capacidade de se abrir a outrem, ou
seja, de amar.
O mïnimo séria reconhecer que a posiçâo da Igreja
248
é coerente e que ela leva a sério a liberdade e a res-
ponsabilidade do homem, assim como a dimensâo cor-
poral do amor humano.
249
122. Uma contracepçao ejtcaz nâo sera o melhor meio
de prévenir o aborto ?
250
l:
consequencias —a transmissâo da vida —é delegada na
técnica (cf. 120); segundo, em caso de falha contracep
tiva, recorre-se ao aborto de "correcçâo".
b) Todavia, a coisa mais grave a notar agora, é que a
contracepçao se confunde cada vez mais com o aborto5. Com
efeito, muitas das pilulas actuais têm a capacidade de
produzir très efeitos distintos:
—O primeiro é contraceptivo, ou seja, previne a fecun-
dacâo.
—O segundo é um efeito de barreira: ao modificar a
composiçâo do muco cervical, a substância "contra
ceptiva" impede os espermatozôides de passarem ao
utero e as trompas para ai encontrar o ôvulo.
—O terceiro é antinidatôrio (ou "contragestivo"), ou
seja, provoca um aborto précoce.
Os dois primeiros efeitos sâo preventivos; exercem-se
apriori, impedindo que um ser seja concebido. O ter
ceiro é consecutivo-, exerce-se a posteriori, destruindo um
ser concebido. Mas, por razôes fisiolôgicas évidentes, sô
um destes efeitos é produzido. A pilula ora âge apriori,
ora âge a posteriori. Ou a concepçâo nâo se deu, e o
efeito é preventivo; ou a concepçâo deu-se, e o efeito
é antinidatôrio ou "contragestivo". Todavia, qualquer
que seja o caso, nâo se tem um meio de saber o que
aconteceu.
251
mulher, nâo sabendo nunca verdadeiramente o que se
passa, se encontra totalmente espoliada de qualquer
responsabilidade moral, tanto em relaçâo ao filho que
pode eventualmente ter concebido, como em relaçâo
ao seu parceiro. A eficâcia total junta à ignorância total na
quai ela é mantida significa a sua total alienaçâo: ela é o
objecto de um processo quimico determinado,
impiedoso.
c) Em conclusâo, nâo se é coerente consigo prôprio
quando se afirma ser a favor da contracepçao e contra o
aborto, dado que muitos dos preparados apresentados
como contraceptivos sâo também, se necessârio,
abortivos. Dai que para acabar com o flagelo do abor
to seja necessârio abandonar a contracepçao e pro-
mover os métodos naturais que favorecem a pater-
nidade responsâvel.
252
123. Quais sao as consequencias da dissociaçao entre
sexualidade e procriaçâo na uniâo conjugal ?
253
CAPITULO XV
A IGREJA E A DEMOGRAFIA
124. Como é que a contracepçao praticada por alguns
casais tem uma dimensâo politica ? Nâo é um assunto
puramente privado ?
257
idade de procriar e utilizadoras de contraceptivos
encontrar-se-iam esterilizadas.3 No Mexico, o panora
ma é semelhante. Uma das demôgrafas mexicanas de
maior renome informa que so no ano de 1982 foram
esterilizadas 1 358 400 mulheres.4 Numa publicaçâo
oficial, o prôprio governo mexicano révéla dados rela-
tivos a 1992. Naquele ano, de entre as mulheres que
utilizavam contraceptivos, 17,7% tinham um dispositi-
vo intra-uterino (diu) e 43,3% haviam sido esteri
lizadas.5
b) Assim, a nossa sociedade é testemunha de duas
novas formas de alienaçào.
Nela encontram-se muitas crianças sem pais e
muitos pais sem filhos (cf. 22).Os filhos nascidos fora
do casamento, da niesma mâe mas de pais diferentes,
sâo maioritârios em vârios paises da America Latina.
Privados do afecto de uma famïlia, tornam-se delin-
quentes, traficantes de droga, criminosos; prostituem-
-se. É o drama dos meninos de rua. A este propôsito é
notôrio que, se as crianças nascidas fora do casamento
sâo a expressào de um aspecto significativo dos fenô-
menos demogrâficos no Terceiro Mundo, é ai urgente
trabalhar para a revalorizaçâo da familia.
Por outro lado, se nâo é raro que crianças sejam
desapossadas dos pais, écada vez mais fréquente que os
esposos sejam espoliados desta consequência natural do
258
seu comportamento que é a procriaçâo. Assistimos
aqui à eclosâo de uma situaçâo inversa à denunciada
por Marx. Para este, com efeito, a proie, os filhos, eram
a ûnica riqueza dos trabalhadores, aquela de que nâo
eram espoliados. Os proletârios descntos por Marx
eram espoliados do produto do seu trabalho, nâo dos
seus filhos6. Os casais do século xxi arnscam-se a ser
espoliados da sua progenitura (cf. 132).
'Sobre este assunto, v.John S. Aird, Foreign Assistance ta Coercive Family Plan
ning in China. Rcsponse to Récent Population Policy in China, Canberra,Terence
Hull, 1992; também se deve a este grande especialista um estudo intitulado
Family Planning, Women, and Human Rights in (lie People's Republic of China,
Taipei, Meeting on Family and Demography in Asia and Oceania (Setembro
de 1995).
2Cf. La dérive totalitaire du libéralisme, cit., p. 157.V. também Délcio da Fonse-
ca Sobrinho, Estado e Populaçào. Uma histôria do planejaniento familiar no Brasil,
Rio de Janeiro, Rosa dosTempos/FNUAP, 1993. Sobre a atitude dos EUA e do
governo militer brasileiro, v. pp. 91-100. V. ainda Carlos Penna Botto,
«Explosào demogrâfica», in Revista Maritima Brasilcira (Rio de Janeiro),
vol. 113,Janeiro-Março de 1993, pp. 103-113.
3Ver a revista Open File (Londres, ippf), n.° de Novembro-Dezembro de
1996, p. 15.
4Cf. Marïa-Eugenia Cosio-Zavala, Changements defécondité au Mexique et poli
tiques de population, Paris, Institut des Hautes Études de l'Amérique Latine,
1994; v. quadro IV.ll, p. 151.
5Programa Nacional de Poblaciôn, Mexico DF, Poder Ejecutivo Fédéral, 1995;
v. quadro II.5, p. 24.
'Hannah Harendt consagrou paginas notâveis as relaçôes entre trabalho e
procriaçâo em Condition de l'homme moderne, éd. fi\, Paris, Calmann-Lévy,
1988 (v.,v.g.,pp. 133, 152ss.).
259
125. Com a sua moral, nâo terà a Igreja uma pesada
responsabilidade no crescimento demografïco mundial?
260
desequilîbrios na distribuiçâo da riqueza, na ma orga-
nizaçâo, etc. Mas a Igreja acrescenta îmediatamente
que para estes problemas hâ soluçôes, e que estas
soluçôes se chamam direitos do homem, respeito,
justiça, paz, solidariedade, amor.
'O caso da China foi recentemente estudado por um dos maiores especialis-
tas da demografia deste pais, John S.Aird, Foreign Assistance to Coercive Family
Planning in China. Response to Récent Population Policy in China, Canberra,
Terence Hull, 1992.
2Cf. Britannica Book qf (lie Year, 1978, Chicago, Encyclopaedia Britannica,
p. 434.
261
126. Porque é que muitos rejeitam a mensagem da Igre
ja sobre a miseria do Terceiro Mundo ?
262
127.-4 moral conjugal da Igreja nâo é natalista?
263
128. Segundo certos especialistas, a posiçâo da Igreja em
materia de contracepçao e de demografia vai engendrar
consequencias dramâticasy principalmentefornes.
264
129 Porque haveria de se instaurât uma C(licença de
procriaçâo" nos paises ricos, onde a baixa natalidade
torna jâ proporçoes inquiétantes?
265
130. Onde esta afonte do ensinamento da Igreja sobre
a populaçâo ? Nâo é numa moral conjugal natalista ?
'O ensinamento sobre a vida dado por Joào Paulo II nos primeiros dez anos
do seu pontifîcado deu origem a uma compilaçào de mais de oitocentas
paginas: Dieci anni per la vita (organizaçào de Giovanni Caprile e apresentaçào
266
de Carlo Casini, Roma, Soc. Coop. Centro Documentazione e Solidarietà,
1988).V. também Le droit à la vie, Solesmes (col. «L'Enseignement des Papes»),
1981; e, na colecçào «Ce que dit le Pape» das ediçôes Le Sarment-Fayard,
De la Sexualité à l'amour (n.° 15), Se préparer au mariage (n.° 7), L'euthanasie
(n.°ll).
2É o que sublinhajoào Paulo II na enciclica Veritatis Splendor,nr 95-101.
267
131. Nâo estarâ a Igreja a negligenciar completamente
osproblemas demogrâficos quando enuncia os seus belos
principios sobre o desenvolvimento?
268
132. Em materia de demografia, nâo estarâo de mâfé os
moralistas catôlicos ? Com efeito, dizem que o desen
volvimento leva à queda da natalidade, mas ocultam que
esta queda da natalidade é obtida, nos paises desen-
volvidos, através de métodos que a Igreja condena.
269
fazem nos paises onde sâo largamente aplicados e
reconhecer portanto que nâo sâo bons.
b) Pelo contrario, é totalmente certo dizer que, num
pais onde nâo hâ absolutamente nenhuma protecçâo
eficaz dos pobres, a pobreza exacerbada aumenta
formidavelmente o desejo de ter muitos filhos,porque é
o ûnico meio de sobreviver. Todos os que trabalham no
terreno sabem que os pobres dizem muitas vezes
«Haverâ pelo menos um ou outro dos meus filhos que
me alimentarâ e cuidarâ de mim quando eu for velho».
Como nâo dar razâo à Igreja ? Diz a Igreja que nas
sociedades que nâo protegem as camadas pobres da
populaçâo, é a propria pobreza que leva a esta condu-
ta de sobrevivência baseada no afecto de um filho.
A razâo profunda, e de resto ûnica, que inspira esta con-
duta, e que foi perfeitamente identificada por... Marx, é
que o filho é a ûnica riqueza do pobre (cf. 124). Ter
muitos filhos é o ûnico recurso de que dispôem os
pobres para subsistir no futuro.
Quando nâo hâ segurança social, quem vai alimentai-
os velhos, senâo os seus filhos ? E como estes filhos sâo
eles mesmos vïtimas de uma taxa de mortalidade
muito elevada, porque sâo mal cuidados e nâo comem
o suficiente, é preciso ter muitos para sobreviver.
É assim perfeitamente lôgico dizer que quando se
luta eficazmente contra a pobreza, esta procura de
270
segurança - baseada na progenitura - perde a sua razâo
de ser. Esta situaçâo nova diminui desde logo o desejo
e a necessidade de ter uma descendência numerosa.
c) Os defensores da moral catôlica nâo tem portan-
to nenhuma razâo para esconderem uma tal situaçâo.
Eles devem, pelo contrario, denunciâ-la e con-
tribuirem para Ihe dar remédio. Aos que Ihe pedem
que aprove os seus métodos "modernos", a Igreja
recomenda: «Verificai vos prôprios aonde leva o quefazeis.
Disseram-vos que esses métodos eram maus; vede: a
prôpria Natureza vos mostra que fazeis mal a vos mes-
mos e aos outros».
'Cf. La dérive totalitaire du libéralisme, cit., pp. 33ss.V. outros dados na resposta
à questào 85.
-'Sobre este assunto v. a comunicaçào apresentada (18.10.1993) por Gérard-
-François Dumont à Académie des Sciences Morales et Politiques de Paris
sob o titulo De "l'explosion" à "l'implosion" démographique?
271
•'Cf. Eurostat (1993), quadro ElO, p. 98. Segundo os dados de Eurostat, «por
comparaçào com 1975, frequentam hoje as escolas primârias dos paises da
Comunidade Europeia menos sete milhôes de alunos, aproximadamente».V.
Europe Today (Bruxelas), n.° 111 (23.03.1992), p. 1.
272
133. Nâo se é irrealista ao imaginât que os métodos
naturais possam ser largamente divulgados e uti-
lizados ?
273
134. Nâo haverâ ingenuidade - se nâo provocaçâo - da
parte dos Cristâos ao preconizarem o recurso aos méto
dos naturais?
274
135. As discussoes sobre os métodos naturais remetem,
portanto, para uma reflexâo de fundo sobre o desen
volvimento humano ?
275
A discussâo relativa aos métodos admitidos ou rejeita-
dos pela Igreja conduz-nos assim a repor o problema
da qualidade do desenvolvimento humano, e em consequen-
cia, o da qualidade das relaçôes no seio do casai.
276
136. Quai é entâo o cerne deste ensinamento social da
Igreja sobre a demografia?
277
137. Povque é que os ideôlogos da segurança demogrâji-
ca dâo tanta atençao aos problemas ecolôgicos ?
279
sub-continente latino-americano, considerado - desde
o présidente Monroe - como o "quintal" dos EUA. Um
"quintal" que nâo para de se estender, sob um contrôle
reforçado.
d) Os paises ricos estendem o seu direito de preferência
ao saber e ao saber-fazer. Guardam ciosamente para si os
sectores de ponta. Por exemplo, tendo a maioria na
OMC (a Organizaçâo Mundial do Comércio, ex-GATT)
seleccionam cuidadosamente os conhecimentos que
estâo dispostos a partilhar. Os EUA retiraram-se da
UNESCO quando se aperceberam de que os paises do
Terceiro Mundo reclamavam uma "nova ordem mun
dial" da informaçâo. Como eles, os outros paises ricos
sabem que uma populaçâo numerosa, se bem educada e
instruida, é fonte de desenvolvimento porque é propi-
cia as trocas. Mas como esquecer que todos os totali
tarismes se empregam em empobrecer estas trocas,
congelando assim os povos no seu subdesenvolvi-
mento ?
e) Assim aparece a conexâo estreita que existe entre as
campanhas de contrôle da vida humana e a mentalidade
conservadora. Os poderosos deste mundo consideram
que a sua segurança é o fundamento dos seus direitos
(cf. 70); nâo sô do seu direito a controlar o conjunto
da populaçâo mundial, mas também do direito de con
trolar o conjunto dos recursos, inclusive intelectuais.
280
Ora esta obsessâo pela segurança engendra, nos indivî-
duos como nas sociedades, uma avareza de um tipo
novo e uma inibiçâo da criatividade. Esta avareza con
siste em invocar a mundializaçào da sociedade humana
e do mercado, para subtrair aos paises pobres a possi-
bilidade de disporem dos seus recursos naturais (cf.
100). Os ricos e os fortes querem perpétuai" o présente;
nâo fazem senâo previsôes. Fazem contudo mas pre-
visôes, porque, à força de sublinharem que uma crian-
ca custa, perdem de vista que vira normalmente um dia
em que produzirâ. Como todos os avarentos, os ricos
pensam o futuro como a rîgida consolidaçâo do seu
bem-estar actual. Recusam-se a indicar a menor
prospectiva, dado que esta os levaria a por generosa-
mente em questâo as prâticas de hoje em nome de um
mundo mais justo e mais solidârio que se desejaria ver
eclodir amanhâ (cf. 136).
281
CAPITULO XVI
RESUMO E CONCLUSOES
138. A despenalizaçào do aborto e a liberalizaçao que
na prâtica dai decorre fazem entao pesar sérias ameaças
sobre a nossa sociedade?
285
139. Estaremos nos a ser testemunhas da execuçao de
um programa cientiftco de engenharia social ?
286
140. Mas a capacidade da Terra para suportar a vida
nâo terâ atingido os seus limites com uma populaçâo de
cerca de seis bilioes de habitantes ?
287
leveza, a sua dureza e a sua resistência à corrosâo
começou a ser aproveitado pela indûstria aeroespacial,
pela investigaçâo submarina e, mais tarde, na cirurgia.
De todos os elementos quimicos que se encontram na
Terra, o Titânio é um dos mais abundantes; ocupa a 9.a
posiçao. O que fez dele um recurso natural foi o génio
do homem.
O Silicone foi descoberto no fim do século xvm.
Depois do oxigénio, é o elemento quimico mais abun-
dante na Terra, apresentando-se sobretudo sob a forma
de areia. Utilizado tradicionalmente para a cerâmica,
ele é largamente aproveitado na metalurgia. Entretan-
to, hâ apenas algumas décadas é que se tornou na base
da revoluçâo electrônica.Ainda mais recentemente, sob
a forma de fibras ôpticas, revolucionou os métodos de
diagnôstico médico, assim como as telecomunicaçôes.
Alguns técnicos, os "motoristas", aplicam-se a aper-
feiçoar motores de aviâo por forma a que consumam
menos. Quando produzem um motor que consome
30 % de querosene a menos do que o mesmo motor
da geraçâo précédente, estes "motoristas" aumentam,
na mesma proporçâo, as réservas de petrôleo.
O vento é utilizado hâ séculos pelos Holandeses,
primeiro para secar os polders (isto é os territôrios con-
quistados ao mar) e para moer o trigo e, depois, para
produzir a electricidade.
288
il-
As pesquisas no campo da agronomia e da zootécnica
estâo em constante progresso (cf. 104, 126). Nos pai
ses do Terceiro Mundo, sô os que continuam apega-
dos a uma visâo arcaica da agricultura e da criaçâo
de gado continuam a gerir a terra como se os ho-
mens fossem gado (cf. 36) e como se a rentabilida-
de dos solos estivesse condenada a ser o que sempre
foi.
c) Ofapâo, considerado, nos anos cinquenta, um pais,
ainda, subdesenvolvido, compreendeu muito cedo que
o recurso primordial - e ûnico, por assim dizer - de
que dispunha era o homem. Por isso realizou - e con
tinua a realizar - um trabalho exemplar de educaçâo e
formaçâo profissional da sua juventude.
d) Pode concluir-se dizendo que o recurso principal —
se nao o ûnico, realmente —do homem, é a sua inteligência e
a sua vontade livre, pelas quais ele manifesta explicita-
mente a sua semelhança com Deus. Graças a esses dons
emmentes, o homem tem a capacidade de aperfeiçoar
constantemente a sua relaçâo com a natureza, de dar
aos seus elementos um valor acrescentado, de transfor-
mar simples materiais em bens, de organizar melhor a
sociedade2. Apresentar o homem como um consumi-
dor predisposto a destruir o meio ambiente, ou como
um predador programado para a defesa do seu espaço
vital, é mjuriar a sua dignidade.
289
'Cf. Sheldon Richman, «Population is no Threat to Progress», in Freedom
Daily (Washington), Julho de 1993, pp. 18-23.
2EvangeHinn Vitae, 34, 42ss.
290
141 . Enfim, hâ que deixar de falar de populaçâo em
excesso r
291
como sendo a causa dos problemas sociais de que
sofrem (cf. 83). Isto dispensa interrogaçôes pertinentes
sobre as suas condiçôes de vida.
c) Quando se fala de "pobres pessoas", o nosso
coraçâo comove-se e insurgimo-nos contra as situa-
çôes de injustiça de que os pobres sâo vitimas; mobi-
lizamo-nos para exprimir-lhes a nossa solidariedade (cf.
63).
Mas quando se fala de "excesso de populaçâo", os
ricos sentem-se ameaçados na sua segurança (cf. 70,
137). A elementar preocupaçâo de justiça derrete-se
como neve ao sol. Em vez de querermos manifestar a
nossa solidariedade (cf. 10), persuadimo-nos - usando
uma boa dose de mâ-fé - e persuadimos os infelizes -
baralhando a sua capacidade de ajuizar - de que devem
aceitar a contracepçâo organizada, a esterilizaçâo em
massa e o aborto "para o seu bem e de toda a sociedade
humana" (cf. 69, 80).
Em resumo, mais preocupados com a sua segurança
do que com a solidariedade, os ricos invocam o
"excesso de populaçâo" para "justificar" a coerçâo
exercida sobre os pobres.
'Evangelium Vitac, 16. Cf. Michael Schwartz, «Overpopulation and the War on
the Poor», comunicaçào à"Third International Conférence ofthe Family of
the Americas Foundation" (Caracas,Venezuela, Outubro de 1985).
292
J
142. Sera a ucultura da morte" uma caracteristica do
nosso século ?
293
51); e o serviço do Estado, da Raça ou do Partido exi-
giam do individuo a disposiçâo de se esvaziar de si
mesmo até na morte. Expor a prôpria vida à morte e
infligir a morte a outrem eram como que a expressâo
paroxïstica da liberdade suprema ao serviço da Causa,
fosse a do Estado, da Raça ou do Partido.
Destas ideologias, e da ideologia neo-liberal, de que
vamos falar, Hegel (1770-1831) é, ao mesmo tempo,
uma fonte e uma chave de interpretaçâo.1
b) Nas suas expressôes paroxisticas actuais a corrente
neo-liberal nâo pode ser compreendida senâo integra-
da no cortejo funèbre das ideologias totalitârias que o
século XX viu desfilar. Com efeito, para esta nova cor-
rente ideolôgica, a afirmaçâo, por excelência, da liber
dade soberana do individuo encontra-se no consumo
desenfreado, ou seja na possibilidade de desperdiçar, o
que significa destruir sem ter de dar contas aninguém.
Consumir, desperdiçar, é, assim, uma maneira de se
libertar de qualquer espécie de vinculo material e de
toda e qualquer referência moral ou juridica. E uma
forma de afirmar a soberania do eu.
Ora, como vimos, esta afirmaçâo da soberania do eu
leva o individuo a desejar dispor da vida de outrem (cf.
8s., 70). Disponho da vida da criança, do déficiente, da
do velhote acamado, ou da do pobre, se eles me forem
inûteis2. Pelo contrario, produzirei"criznças" se os cofres
294
da segurança social correrem o risco de se apre-
sentarem vazios na altura em que eu atmgir a idade da
reforma (cf. 30). Admitirei os pobres se eles me permi-
tirem, pelos seus baixos salânos, que continue a con-
sumir e a desperdiçar, isto é a afirmar-me como dono
e senhor (cf. 97).
c) Estamos prestes a atmgir, pouco a pouco, o limite
possïvel desta evoluçâo. E quanto atesta o cammho do
desvio agressivo descrito acima, em direcçâo ao desvio
suicida observado na sociedade ocidental rica (cf. 129)3.
Esta quer afirmar a sua liberdade soberana de duas for
mas complementares Queima o seu passado, ao tornar
impossivel a transmissâo - tradiçâo do seu patrimônio
por falta de homens que o recolham (cf. 77, 91).
E queima o seu futuro ao recusar povoâ-lo e ao sacri-
ficâ-lo totalmente ao présente (cf. 137).
Os mdivïduos caracteristicos desta sociedade que-
bram as solidariedades naturais (cf. 63) sincrônicas
(entre indivïduos ou sociedades contemporâneas) e
diacrônicas (entre indivïduos ou sociedades ligadas
pelas geraçôes)4 por forma a nâo terem de responder
senâo perante si proprios pela sua vida e pela sua
morte. Fabricam, pois, instituiçôes e "direitos" que
apoiem a afirmaçâo do que eles consideram como
sendo a expressâo soberana da sua liberdade: dar a
morte e, mesmo, matar-se.5
295
Georges Bataille, que neste ponto ultrapassa Sade,
résume perfeitamente um tal niilismo: «A vida é a busca
do prazer, e o prazer é proporcional à destruiçâo da
vida. Por outras palavras, a vida atinge o mais alto grau
de intensidade na negaçâo do seu princïpio».6
d) E, portanto, a "cultura da morte" que explica nâo
apenas os lugubres régimes que o nosso século co-
nheceu, mas também a obstinaçâo posta na legalizaçâo
do aborto e da eutanâsia, assim como a banalizaçâo da
esterilizaçâo em massa. A expansâo da SIDA encontra
aqui uma das suas explicaçôes mais évidentes. A raiz
comum de todas estas manifestaçôes da "cultura de
morte" é o niilismo (cf. 32), ele mesmo fundado na
révolta contra a finitude humana7. Os homens dâo a
morte e matam-se porque pensam ser impossivel
verem plenamente realizado o seu desejo de um além
- ainda que esse desejo se encontre gravado profunda-
mente, bem no centro da sua aima. Imaginam, entâo,
poder libertar-se desse desejo por meio desse gozo
supremo que procuram na morte. Ora a morte, conce-
bida assim, é, na realidade, a suprema expressâo do
desespero. De acordo com a nova ideologia libéral, é ao
fim e ao cabo desse desespero que se torna necessârio
que os pobres partilhem para que sejam subjugados.
Haverâ no mundo alguma tarefa mais exaltante,
especialmente para os Cristâos, e mais portadora de
296
alegria do que aquela que consiste em mostrar porque
é que se deve escolher a vidaH?
297
143. Mas as manipulaçôes genéticas, em vez de se
inscreverem na "cultura da morte,}, nâo estarâo orien-
tadas pava o serviço da vida ?
298
jii _
mento da dignidade do embriâo exerce-se, primeiro,
no piano prâtico e, depois, no piano teôrico - porque
os médicos e cientistas envolvidos se apressam a fa-
bncar "legitimidades" teôncas. Desde as suas mais
sécrétas origens, a vida do ser humano permanece sus-
pensa; o embriâo fica totalmente disponivel (cf. 34-38).
Como o professor Jérôme Lejeune fez notar, o
embriâo é tratado como um simples produto do corpo
humano; é colocado no mesmo piano do que o ôvulo
ou os espermatozoides, apesar de ser jâ um ser
humano.
O futuro deste ser humano é hipotético no mais forte
sentido da palavra: a eventualidade desse futuro é total
mente subordinada à qualidade que sera ou nâo reco-
nhecida ao embriâo, ou entâo à utilidade que ele repré
sentait.
b) Este duplo critério - qualidade, utilidade - é uma
das expressôes ou mâximas da "moral do senhor", isto
é da moral do dono perante o seu escravo (cf. 32, 142).
O senhor, o dono, imagina ter o direito de dar a morte
uma vez que é capaz de suscitar a vida2. Esta moral do
senhor, de que mostrâmos as raïzes hegelianas (cf. 142),
considéra que a expressâo suprema da liberdade do ser
finito, que é o homem, consiste em desenvolver um
dominio absoluto e arbitrârio sobre a vida e sobre a
morte3.
299
Este domïnio "senhorial" da vida exprime-se de
diversas formas. Da lugar, para começar, a um canibalis-
mo celular — como condiçâo preliminar da recons-
truçâo, pelo manipulador, de um ser que seja rigorosa-
mente a incarnaçâo do seu prôprio projecto sobre ele.
Da lugar, em seguida, a um canibalismo histologico que
—para jâ e enquanto outros objectivos nâo tem —
recorre aos tecidos cerebrais das crianças abortadas
para os enxertar, por exemplo, em pacientes atingidos
pela doença de Parkinson. Dâ lugar, ainda, a um cani
balismo académico ou "cientïfico", mediante o quai o ser
humano sera manipulado, triturado, imolado, no altar
da Pesquisa Cientîfica colocada sob o signo de uma
Liberdade Académica completamente subtraîda a qual
quer referência moral e que nâo tem de prestar contas
a ninguém. Dâ lugar, enfim, a uma eugenia tecnicizada,
por comparaçâo com o quai as eugenias atestadas pela
histôria nâo passam de incipientes balbuciamentos.
Esta eugenia, que apresenta resultados de loucura, abre
aos médicos e aos cientistas do ultranazismo (cf. 75)
perspectivas de uma segregaçâo cientîfica implacâvel.
Com efeito, a tipologia da selecçâo e da discriminaçâo
fica completamente ao arbîtrio dos manipuladores. Em
resumo, o homem nâo se arroga somente o direito de
ser a fonte das normas morais; prétende, além disso,
afirmar-se como o senhor da prôpria existência.
300
]Evangelium Vitae, 21, 24, 26.
-Idem, 22.
"Ibidem, 52, 96.
301
144. Poder-se-ao prever as consequências destas mani-
pulaçoes e das legislaçoes que visam "legitimâ-las"?
302
humanos ficarâo sem ajuda médica que lhes inspire e
mereça confiança.
b) A segunda consequência é, no entanto, a mais
dramatica que possa imaginar-se. Tendo em conta que
elas sâo permeadas pela cultura da morte e que sobre
esta assentam, as mampulaçôes genéticas e as leis que
pretendem avalizâ-las, desembocam nâo sô na destrui-
çâo da vida mas na destruiçâo do amor e dafamilia que é
o centro vivificante de uma e de outra1. Retoma-se,
assim, uma tradiçâo anti-familiar que remonta a
Friedrich Engels. A lôgica destas mampulaçôes é, efec-
tivamente, muito simples, e o seu carâcter "senhorial"
aï se révéla uma vez mais. A motivaçâo profunda de
que émana a vontade manipuladora pode exprimir-se
nos seguintes termos: «Eu sou suficientemente forte e
poderoso para nâo precisar de ninguém que me ajude
a ser eu prôprio. Nâo tenho, pois, motivo algum para
correr o risco de descobrir-me pobre - nem aos olhos
de outrem nem, muito menos, aos meus prôprios
olhos. Porque, entâo, arriscar-me à aventura de amar e
ser amado ? Qualquer espécie de amor verdadeiro que
sentisse ou exprimisse a alguém séria a marca insupor-
tâvel de uma fraqueza e de uma pobreza, o sinal supre-
mo da minha finitude - aquela, precisamente, que
quero recusar e negar2. Portanto, e uma vez que me
reconheço esse poder, disporei à minha vontade dos
303
outros ou transformo-os, segundo a minha conveniência,
de acordo com os critérios de qualidade que me convêm
e em funçâo da utilidade para que os destino.
E assim aparece o encadeamento em que a cultura da
morte prende e destrôi a sociedade humana.
Perante este desafio, do quai nâo hâ précédente
conhecido na histôria, nâo hâ senâo uma resposta: aco
lher alegremente a quotidiana experiencia da nossa
pobreza, que, se acolhida, é como que o ancoradouro
da nossa esperança. Paradoxalmente, é esta a condiçâo
que nos permite amar e abrir-nos ao Amor - acolher
e ser acolhidos. É este o preço que teremos de pagar
para redescobrir um sentimento que parece assustar
muitos dos nossos contemporâneos - a ternura.
Todas as contas feitas, em vez da cultura da morte,
porque nâo arriscar a cultura da vida ?
304
145. Além das razoes enunciadas, haverâ razoes par-
I ticulares que incitent os Cristaos apromover orespeito
pela vida ?
305
146. Finalmente: sera a vida humana um sinal de espe
rança para todos os homens ?
306
BIBLIOGRAFIA
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312
l
!
I. INTRODUÇÀO
1. No que respeita ao aborto, nâo estarâo os Cristâos a querer impor a
sua moral as outras pessoas ?
2. Existem dados sobre o numéro de abortos praticados no mundo ?
313
este progresso da ciência, temos o direito de deixar viver uma criança
que sera uma cruz para os pais e cuja vida nào desabrocharâ ?
314
CAPITULO V. A EUTANÂSIA
30. Como é que a legalizaçào do aborto abre caminho à legalizaçào da
eutanâsia ?
31. Ha quem afirme que do aborto se desliza facilmente para a
eutanâsia. Mas, apesar de tudo, nào se trata de dois probîemas muito
diferentes ?
32. Como é que a sociedade alemà foi levada a organizar o extermînio
i
em massa ?
33. Nào terâo alguns factures econômicos reforçado a influência per-
versa desse vitalismo irracional ?
315
45. Hâ quem denuncie um "vazio jurîdico" em certes paises. Nâo é
inadmissivel que esse vazio exista ?
46. Uma vez que hâ abortos, nào vale mais legalizâ-los e tornâ-
-los um acto médico, a fini de que sejam praticados "em boas
condiçôes" ?
47. Pode reprovar-se que o legislador defina as condiçôes necessârias
para que o aborto seja autorizado ?
48. Ofacto éque hâ abortos clandestinos. Nào valerâ apena legalizar o
aborto para reduzir o seu numéro ?
49. Os juîzes nào terào poder para fazer respeitar uma lei liberalizadora
do aborto ?
50. Nào hâ diferença entre despenalizar o aborto (ou seja, retirâ-lo
do côdigo pénal) e liberalizâ-lo (ou seja, tornâ-lo mais livre e mais
fâcil)?
51. Nos debates sobre alegalizaçào do aborto, por vezes houve quem
pedisse para oEstado desculpabilizar oaborto. Que significa este termo?
CAPITULO VIII. OS ACTORES: MÉDICOS E MAGISTRADOS
52. Aprâtica do aborto nào ira modificar a imagem da medicina ?
53. Poder-se-â encarar um desdobramento de personalidade nos médi-
cos
316
62. A tolerância nào significa que todas as opiniôes sào respeitâveis,
incluindo as dos que preconizam o aborto e a eutanâsia ?
63. Porque é que o Estado tem um papel a.desempenhar a propôsito do
aborto ?
64. Nâo revelarâ uma perversào do poder que o exercicio deste possa
custar a vida a inocentes ?
65. Se a ameaça do totalitarisme fosse real, nào séria manifesta para toda
a gente e nâo provocaria uma mobilizaçâo gérai contra ela ?
317
78. Nào é chocante que se sugira um paralelo entre os verdugos do
régime nazi e os abortadores dos nossos dias ?
318
94. Como é possïvel que tais publicaçôes sejam tào pouco conhecidas ?
95. Pode-se estabelecer a existência desta campanha citando alguns
factos ?
96. É neste quadro que aparece a pilula abortiva RU 486 ?
97. Significarâ isto que mstituiçôes especializadas da ONU, e talvez a
prôpria ONU, estào implicadas em campanhas antinatalistas nos paîses
pobres ?
98. Custa a acreditar que uma instituiçào tào prestigiada como a onu
avalize politicas de "contençâo" demogrâfica que comportam a prâtica
do aborto.
99. Quem ganha corn esta mutaçào ?
100. Esta mutaçào aproveita a algumas naçôes em particular ?
101. O relatôrio Kissinger fala do aborto ?
102. Haverâ alguma relaçào entre esta polîtica demogrâfica dos EUA e a
mutaçào que se observa na natureza da ONU ?
103. Como explicar que as democracias ocidentais sejam cûmplices dos
EUA na restriçâo do crescimento demogrâfico do Terceiro Mundo ?
104. A atitude destes ricos é partilhada por todos os cidadâos dos EUA e
das democracias ocidentais ?
105. Nâo hâ incoerência das naçôes ocidentais ao exportarem produtos
abortivos, continuando simultaneamente a proclamar-se campeôes da
democracia e do desenvolvimento ?
106. Quem sâo, em ûltima anâlise, os verdadeiros responsâveis e ver-
dadeiros instauradores do totalitarisme contemporâneo ?
107. Em suma: se nenhuma acçào pela vida humana for desenvolvida a
nivel mundial, perfilar-se-â uma nova guerra ?
108. Nâo sera excessivo falar de guerra a propôsito do aborto ?
319
CAPITULO XIV. A IGREJA E A NATALIDADE
114. Que diz a Igreja sobre o aborto ?
115. Sobre o respeito da vida humana, e em particular sobre o respeito
pela criança nào nascida, nào se verifica que muitos cristàos estao em
desacordo aberto corn a Igreja ?
116. Nao se arriscam os cristàos de hoje a ser censurados por uma falta
de coragem tào lamentâvel como aquela de que foram acusados alguns
cristàos no passado ?
117. Nào deveria a Igreja Catôlica ter em conta a evoluçao dos cos
tumes e adaptar a sua concepçào do pecado ?
118. Porque é que a Igreja récusa a contracepçào ?
119. Nâo haverâ que distinguir cuidadosamente a contracepçào hor
monal da esterilizaçâo ?
120. Quem diz paternidade responsâvel diz contracepçào. Ora, a Igreja
opôe-se à contracepçào.
121. A Igreja pôe as pessoas na necessidade de recorrerem ao aborto
porque se opôe à contracepçào.
122. A contracepçào eficaz nào sera o melhor meio de prévenir o aborto ?
123. Quais sào as consequências da dissociaçâo entre sexualidade e pro
criaçào na uniào conjugal ?
320
131. Nâo estarâ a Igreja a negligenciar completamente os probîemas
demogrâficos quando enuncia os seus belos principios sobre o desen-
volvimento ?
132. Em matéria de demografia, nào estarâo de ma fé os mora-
listas catôlicos ? Com efeito, dizem que o desenvolvimento leva à
queda da natalidade, mas ocultam que esta queda da natalidade é
obtida, nos paîses desenvolvidos, através de métodos que a Igreja con-
dena.
133. Nâo se é irrealista ao imaginât que os métodos naturais possam ser
largamente divulgados e utilizados ?
134. Nâo haverâ ingenuidade - senào provocaçâo - da parte dos cristàos
ao preconizarem o recurso aos métodos naturais ?
135. As discussôes sobre os métodos naturais remetem, portanto, para
uma reflexâo de fundo sobre o desenvolvimento humano ?
136. Quai é entâo o cerne deste ensinamento social da Igreja sobre a
demografia ?
137. Porque é que os ideôlogos da segurança demogrâfica dâo tanta
atençâo aos probîemas ecolôgicos ?
321
INDICE ANTROPONÎMICO
323
Hartmann, B., 84 MontenayY, 82
Hegel, G. W. F, 142ss. Mumford, S. D., 101
Hendnckx, M.,25 Mussolini, B., 42
Hennaux,J.-M., 115 Nathanson, B., 48
Herzlich, G.,79,85 Nau,J.Y.,77
Hilger,W.,77 Nyiszli, M.,53
Hindenburg, P. L., 33 Perloff,J.,98
Hitler, A., 32, 33, 42, 128, 139 Poullot, G., 12
Hoechst, 77 Raimondi, R., 13
Hours,B.,92 Raymond, J. G., 96
Jahangir,B. K.,92 Rawls,J., 61
Jasper,W.F.,98, 102 Richman, S., 140
Jésus Cristo, 145 RôtzerJ., 134
Joào Paulo 11,61,130,136 Roussel-Uclaf, 39, 77
Jolivet, M.,90 Sakiz, E., 77
Kant,L, 114 Sartre, J.-P, 7
Kessel, E., 101 Sauvy,A.,89
Khader,B.,91 Schwartz, M., 141
Klein, R., 96 Somadossi,Y, 13
Kissinger, H., 84, 100-102 SpeidelJ.J.,84
Kojève,A.,142 Stanford, S. M., 19
KurthJ., 103 Teresa de Calcutâ (Madré),
Labrusse-Riou, C, 35 112,134
Le Bonniec,Y., 142 Torelli, M., 72
Lecaillon,J.-D., 82 Tremblay, E., 46
Le Coadic, M., 121 Veil-Pelletier, 3, 48
LejeuneJ., 4, 12 Veil, S., 40
Lifton,R.J.,53,75,77 Verhaegen, J., 138
Malthus, 80, 92, 121,137 Vilaine, A.-M. de, 121
Mao Tsé-Tung, 77 Weil,S.,138
Marx, K., 124 Whelan.R.,2, 41
Mattèi, J.-E, 63 Wirth,T.E.,84, 100
324
INDICE GERAL
325
X. RUMO AO ULTRANAZISMO ? 141
questoes 66-78
XL OS ASPECTOS DEMOGRAFICOS I67
questoes 19-92
XII. AS ORGANIZAÇÔES INTERNACIONAIS 199
questoes 93-108
XIII. PREVENÇÀO - REPRESSAO - ADOPÇÀO 227
questoes 109-113
9^
xiv.a Igreja e a natalidade *DD
questoes 114-123
xv. a Igreja e a demografia *DD
questoes 124-131
~ 98^
XVI. RESUMO E CONCLUSOES *OD
questoes 138-146
307
BIBLIOGRAFIA
LISTA DAS QUESTOES 3
INDICE ANTROPONÎMICO 323
325
INDICE GERAL
326
_J
MICHEL SCHOOYANS
327
tîfico de La Società (Verona), do conselho consultivo do Plater
Collège (Oxford), do Institut de Démographie Politique (Paris).
Foi consultor do Conselho Pontifîcio Justiça e Paz (1977-1994)
e é consultor do Conselho Pontifîcio para a Famîlia (Roma).
Entre outras distinçôes honorificas recebeu a de Capelâo de
Sua Santidade, Cavaleiro da Ordem de Leopoldo e Comen-
dador da Ordem da Coroa (Bélgica), e Medalha de Pedro
Âlvares Cabrai (Brasil). Em 1994 recebeu o prémio "Vittoria
Quarenghi" da Fondazione Vita Nova (Roma-Milâo) e o
prémio da Académie d'Éducation et d'Études Sociales (Paris).
Tem-se dedicado ao estudo de temas de filosofia polî
tica, ideologias contemporâneas, ética das politicas demogrâficas
e teologia moral social.
Tem desempenhado numerosas missôes e viagens de estudo a
paîses do Terceiro Mundo. Além de mais de duzentos artigos
(publicados em revistas de vârios paîses), é autor dos seguintes
livros: O comunismo e o futuro da Igreja no Brasil, Sâo Paulo,
Herder, 1963; O desafw da secularizacao, Sâo Paulo, Herder, 1968;
Chrétienté en contestation: TAmérique latine, Paris, Le Cerf, 1969;
Destin du Brésil. La technocratie militaire et son idéologie, Gembloux,
Duculot, 1973; La Provocation chinoise, Paris, Le Cerf, 1973
(existe ediçâo italiana); LAvortement, problème politique, Lovaina,
Université Catholique de Louvain / Département de Science
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(existem ediçôes italiana e inglesa); Demain, le Brésil?, Paris, Le
Cerf, 1977 (existe ediçâo espanhola); Droits de Vhomme et tech
nocratie, Chambray-lès-Tours, CLD, 1982; Démocratie et libération
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Maîtrise de la vie, domination des hommes, Paris, Lethielleux, 1986
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politique de Vavortement, Longueil, Le Préambule, 1990 (l.a éd.),
328
JU
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liana, polaca e brasileira; ediçâo russa em preparaçâo); De «Re-
rum Novarum» à «Centesimus Annus», em colaboraçâo com
R. Aubert, Cidade do Vaticano, Conselho Pontifîcio Justiça e
Paz, 1991 (existe ediçâo brasileira); Initiation à l'Enseignement
social de VEglise, Paris, L'Emmanuel, 1992 (existem ediçôes espa
nhola, eslovaca e italiana; ediçâo inglesa e chinesa em
preparaçâo); Bioéthique et Population. Le choix de la vie, Paris,
Fayard, 1994 (existem ediçôes espanhola, italiana, inglesa e eslo
vaca; ediçâo alemâ no prelo); El imperialismo contraceptivo. Sus
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Colecçao
TESTEMUNHOS & DOCUMENTOS
Espéra
de ISABEL A.
A Escolha da Vida
de Michel Schooyans
a seguir:
Cristo ou o Aquârio ?
do Cardeal Godfried Danneels
Composiçào de Manuela Duarte
Montagem de Computextos
A Escolha da Vida,
Bioética e Populaçào
da autoria de Michel Schooyans
foi impresso nas oficinas
de A. Coelho Dias
emjunho de
1998
Op. 23
Dep. légal n.° 125 116/98
isbn: 972-8178-32-8
O exercicio da liberdade
exige o respeito pelo direito à vida.
Se este nâo for respeitado e protegîdo,
todos os outros direitos
estarâo ameaçados.
Colecçâo
Testemunhos & DocLimentos
n.°3
Colecçâo
Testemunhos & Documentos
n.°3
ISBN 972-8178-32-8
9 789728n178321 Grifo