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REPÚBLICA DE ANGOLA

MINISTÉRIO DO ENSINO SUPERIOR, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO


UNIVERSIDADE KATYAVALA BWILA
FACULDADE DE ECONOMIA
Telefone 222728430
Campus Universitário da Catumbela
Catumbela, Angola

DEPARTAMENTO DE ENSINO E INVESTIGAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EXACTAS

APONTAMENTOS DE DEMOGRAFIA

" A morte é mais universal do que a vida;


todos morremos, mas nem todos vivemos...
Por isso, devemos de forma comprometida
e responsável lutar pela vida e pela
dignidade humana, até às últimas
consequências".

Benguela, 2023

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
UNIDADE I: A DEMOGRAFIA COMO CIÊNCIA DA POPULAÇÃO

1.1 - ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE A DEMOGRAFIA

1.1.1 - As primeiras reflexões sobre a população

Na pré-história, a população era tanto mais escassa quanto mais remota. Pequenas hordas de
seis a trinta membros vagueavam por áreas imensas à cata de alimentos. Pode-se dizer que, há
cerca de vinte mil anos, o total da população mundial caberia numa cidade moderna de tamanho
médio. Com a agricultura, no período neolítico, deu-se a primeira expansão demográfica (sétimo
milénio a.C.), materializada no aumento da densidade populacional e multiplicação das aldeias
em todos os países do planeta terra.

Porém, apesar de a preocupação com os problemas da população remontar à antiguidade, a


Demografia como ciência apenas aparece na segunda metade do século XVIII. Até esta altura, as
preocupações com a problemática populacional surgem quase sempre sob uma perspectiva
filosófica e doutrinal. Deste modo, durante os séculos XVII e XVIII ocorre progressivamente uma
viragem importante na forma de tratar os problemas da população: a Demografia emerge como
ciência, cujo foco foi essencialmente a procura de respostas aos seguintes questionamentos:

 Quem foram e o que fizeram os homens que transformaram em ciência um conjunto de


problemas relatados nos primeiros documentos escritos?
 Qual é realmente o objecto Estudo da Demografia?
 Por que não existem escolas do pensamento demográfico à semelhança do que se passa
nas ciências económicas e sociais?
 Quais são as grandes teorias e os grandes problemas de Demografia na época
contemporânea?
 Por que é que a Demografia é simultaneamente una e diversa?
 Quais são as grandes divisões da ciência da população actual?

1.1.2 - Evidências históricas das primeiras reflexões sobre a população

A história regista que os primeiros escritos onde foram encontrados alguns rudimentos daquilo
que hoje se chama "pensamento demográfico" remontam à antiguidade, e revelam a existência
de uma certa preocupação com crescimento da população, tal como se atesta nas evidências que
a seguir se apresentam:

No Antigo Testamento encontramos registada a necessidade de um aumento da população -


"crescei e multiplicai-vos (Génesis 1.22);

Na Grécia da Época Clássica e na Civilização Romana, encontramos dois grandes filósofos


(Platão e Aristóteles) e um notável historiador (Políbio) que concederam particular atenção ao
problema da população. O ideal demográfico de Platão (428-348 a.C.), por razões de carácter
político e social, consiste no facto de considerar uma "população estacionária", ou seja, o de
uma população com o crescimento igual a zero, onde o número de fogos seria de 5040. Este
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número não foi escolhido por acaso. Corresponde, em primeiro lugar, a uma atitude de Pitágoras
de encontrar um número que resulta de sete factorial, ou seja, o produto dos sete primeiros
números inteiros. Em segundo lugar, trata-se de um número com 59 divisões, número
particularmente indicado para assegurar a igualdade entre os cidadãos nas operações
administrativas de partilha (Chaunu, 1990). Para tornar possível este ideal de estacionaridade,
Platão defende a existência de um conjunto de medidas que visam proteger a família, assegurar a
transmissão da terra a um único herdeiro, dar aos magistrados o poder de aumentar ou diminuir o
número de casamentos, consoante o volume da população e as condições económicas e sociais
do momento. Platão acreditava, assim, que é possível o poder legislativo intervir, no sentido de
procurar manter constante o volume da população na sua cidade natal. Platão acreditava que o
risco do excesso crescimento da população resolvia-se através da fixação de uma idade mínima
para o casamento (30 anos para os homens e 18 para as mulheres), e da limitação da idade da
procriação (apenas os primeiros 10 ou 14 anos de casamento); acreditava também que, o risco
inverso, o de a população diminuir, resolver-se-ia através de legislação que punisse os que não
quisessem ou não pudessem ter filhos, os celibatários e os casais estéreis. Ainda assim, de
acordo com Platão, se o poder de regulação se revelasse insuficiente, seria possível o recurso à
emigração ou à naturalização para fazer diminuir ou aumentar a população. Paralelamente à
preocupação com a quantidade, existe também uma preocupação com a qualidade. Na óptica de
Platão, o direito à vida era apenas reservado às crianças belas e saudáveis. Para os que não
pertenciam a esta categoria, este filósofo defende o recurso à exposição e até mesmo à
eliminação dos recém-nascidos deficientes, o que faz com que Platão seja considerado, para
alguns "especialistas da História da População", como verdadeiro pai do "eugenismo" (Russel,
1979).

As ideias de Aristóteles (384-322 a.C) estão muito próximas do seu mestre Platão. Aristóteles é
mais realista ao pensar que a preocupação fundamental é a de encontrar um número estável de
habitantes. Porém este filósofo acreditava que a procura desta estabilidade não implica a
existência de um número fixo de habitantes, como acontecia com o pensamento de Platão. Pelo
contrário, ao aperceber-se que a mortalidade e a natalidade fazem variar o volume da população,
defende o princípio da "justa dimensão" a fim de evitar que uma população numerosa seja fonte
de pobreza, crimes, violência e agitação social. Tal com Platão, defende o recurso ao aborto, ao
infanticídio, ao abandono e à exposição de crianças como forma de controlar os nascimentos e
de assegurar a qualidade dos cidadãos.

Portanto, tanto Platão como Aristóteles defendiam uma população com um crescimento próximo
de zero, de forma a tornar possível a existência de um equilíbrio social, político e económico. O
pensamento destes filósofos cingia-se apenas às cidades gregas, o que pressupõe que não
estamos perante uma atitude nem científica nem explícita em relação à população.

Já muito próximo do fim da civilização grega, o historiador Políbio (200-120 a.C), contemporâneo
de um período de declínio da população, constata que o país está em decadência. Atribui essa
decadência à deterioração dos costumes (vaidade, amor pelos bens materiais, recusa do
casamento, indiferença pela criança). Demonstra possuir uma excelente capacidade de
observação ao afirmar que quando existem dois filhos por agregado familiar basta que a guerra

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mate um e que a doença mate outro para que os lares fiquem vazios. Ao seu tempo e em relação
à Grécia, este historiador constatou que as pessoas gostavam do fausto, do dinheiro e da
preguiça a um nível tal que não querem casar, ou quando se casam não querem família; no
máximo têm dois filhos a fim de os deixar ricos e de os educar no luxo (Chaunu, 1990).

No império romano, não se destacaram filósofos como na Grécia, mas sim militares e juristas na
preocupação com os problemas da população. São os militares e juristas que analisam os
problemas populacionais numa óptica prática, ao sabor dos acontecimentos. O poder militar de
Roma, a extensão do seu império exigem uma atitude populacionista. Na prática os legisladores
romanos limitaram-se à elaboração de leis que procuravam esse objectivo (distribuição gratuita de
terras às famílias com mais de três filhos, punição do adultério, limitações em matéria de herança
para os celibatários). Apesar desta abundante legislação os resultados positivos alcançados
foram bastante magros, porque nem sempre ao rigor formal das leis corresponde um rigor nos
costumes.

Na generalidade, podemos afirmar que na antiguidade os problemas relacionados com a


população foram fundamentalmente analisados numa perspectiva política e social. Porém, na
Idade Média, dominada pelo pensamento cristão, esta perspectiva foi dominantemente teológica e
moral. Ali se destacaram na análise dos problemas que, nos dias de hoje, são o objecto de estudo
da História da População ou da História do Pensamento Demográfico: Santo Agostinho (345-
430), São Gregório (540-604) e São Tomás de Aquino (1235-1274). Estas individualidades não
se preocuparam com os interesses das cidades na terra. Preocuparam-se sim, com a salvação
individual, limitaram-se a privilegiar as virtudes da castidade e do celibato, defendendo igualmente
o valor do casamento, desde que este seja indissolúvel e fecundo. Este pensamento foi
sintetizado por São Jerónimo nesta pequena e magnífica frase: "se a contemplação povoa o
paraíso, o casamento povoa a terra." (Russel, 1979).

É nessa linha de pensamento que é preciso situar as atitudes de Santo Agostinho (345-430) e de
São Gregório (540-604) ao defenderem que o casamento une marido e mulher para gerar filhos.
Apoiando-se no princípio cristão da igualdade fundamental das pessoas, recusam a visão grega
de uma civilização qualitativa(eugenismo - entendido como "movimento dos que defendem ou
aplicam métodos conducentes ao aperfeiçoamento da raça humana através de técnicas de
selecção artificial, de controlo reprodutivo ou da eliminação de determinados grupos humanos").
O respeito pela vida humana, conjugado pela recusa de uma civilização qualitativa, leva-os a
defender o carácter sagrado do casamento, a encorajar a sua função procriadora, a condenar o
infanticídio, o aborto, bem como qualquer acção tendente a limitar os casamentos. Assiste-se
assim, a retoma da atitude populacionista dos primeiros tempos, havendo a preocupação de
afastar as motivações de ordem económica. A fome, a guerra, ou qualquer outro cataclismo que
se abata sobre a humanidade é considerado um acidente que não pode pôr em causa a confiança
na providência divina.

No fim da Idade Média, uma mudança intelectual começa a operar-se. São Tomás de Aquino
(1235-1274), defende a submissão da actividade humana à moral, reforça a condenação do
infanticídio e do aborto, reconhece o valor do celibato religioso. O pensamento de São Tomás é
retomado e desenvolvido pelos escolásticos que procuram subordinar a própria vida económica e
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social à doutrina cristã. Cada indivíduo tem direitos e deveres, é preciso dar ao trabalho a sua
dignidade, o crescimento da população é um favor divino, o casamento é sagrado e o celibato
(excepto o celibato religioso) é condenável.

O grande mérito de São Tomás de Aquino e dos escolásticos reside no facto de terem rompido
com a indiferença relativa às questões económicas e sociais que tinham adoptado os teólogos da
Alta Idade Média. Porém, a existência de um compromisso entre a doutrina cristã e a ordem
material irá ser posto em causa com o Renascimento.

Assim, numa primeira fase, a doutrina cristã é bastante indiferente às questões relacionadas com
a população - o "crescei e multiplicai-vos" é entendido como "ide e ensinai todas as nações".
Numa segunda fase, com a defesa explícita do valor do casamento, desde que tenha como
finalidade a procriação, podemos admitir a existência de uma atitude implícita em relação à
população, a qual pode ser considerada como moderadamente populacionista.

Com o início dos tempos modernos, as ideias respeitantes à população emancipam-se das
concepções morais e religiosas e passam progressivamente a depender de preocupações
políticas e económicas, procurando descobrir-se a forma mais adequada de organizar as
sociedades e de viver melhor a vida na terra.

É nesta linha de ideias que se deve interpretar o culto do ideal mercantilista pela riqueza,
associado à valorização do Estado. Por um lado, a fortuna dos negociantes , ao depender do
volume de exportações, implica a necessidade de um estado forte para defender a economia. Por
outro lado, a existência de um estado forte, implica a existência de um exército numeroso.
Consequentemente, um exército numeroso só é possível quando a população é abundante.

Neste contexto, é perfeitamente admissível que a doutrina de inspiração mercantilista seja


considerada, no seu conjunto, explicitamente mercantilista. Este populacionismo é defendido por
um conjunto variado de pensadores que explicitam vária reflexões interessantes sobre a
população, acelerando assim um processo que irá conduzir ao aparecimento da Demografia como
ciência.

Neste âmbito, destacam-se, por países , as reflexões dos mercantilistas que se seguem:

a) Mercantilistas da Itália

No mercantilismo italiano a história regista três grandes pensadores com reflexões


particularmente relevantes sobre a população: Maquiavel (1467-1527), Campanela (1568-1639)
e Botero (1540-1617).

Maquiavel, apesar de o seu pensamento ser globalmente como mercantilista, não aceita todas as
ideias que caracterizam esta corrente de pensamento, nomeadamente no que diz respeito ao
princípio de que o Estado é forte quando favorece o enriquecimento dos cidadãos. Contudo, ao
defender o ponto de vista de que uma população numerosa reforça o poder do príncipe, , adopta
uma atitude claramente populacionista.

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Campanela elabora os fundamentos filosóficos de um comunismo utópico, desenvolvendo ideias
eugénicas muito próximas das de Platão. Em certa medida, retoma a discussão dos aspectos
qualitativos da população, ao afirmar que as relações sexuais consistem em reunir mulheres
belas com homens robustos. Lastima igualmente que se tenha tido tanto cuidado na melhoria das
espécies canina e cavalar e tanta negligência no desenvolvimento da espécie humana.

Para Botero, uma população numerosa deve ser a primeira preocupação do Estado. Para que tal
seja possível, defende o desenvolvimento da agricultura, da indústria e a diversificação dos
ofícios. Mostra-se contrário às ideias que defendem a necessidade da exportação de matérias
primas, porque com elas partem os artífices. Defende um populacionismo moderado, advogando,
com Maquiavel, o recurso à colonização para evitar o excesso de população em relação aos
recursos alimentares.

b) Mercantilistas da França

No mercantilismo francês existem duas correntes diferenciadas:

 a que defende um populismo intransigente, tendo à cabeça Bodin e Montcherestien;


 a que defende um populismo mais racional, liderado por Vauban.

Bodin (1530-1596) - Desenvolveu uma tese que se resume no seguinte postulado: "Não existe
maior riqueza do que os homens." Com esta tese, pretende enfatizar que uma população
numerosa permite a valorização de um país e que numa terra bem explorada não existe perigo de
fome. Defendia que a emigração de cidadãos de um país enfraquece este país;

Montcherestien (1575-1621) - Defende o ponto de vista de que a grande riqueza da França é a


inesgotável abundância dos seus homens, mas a abundância em causa é a de um grupo
específico - o dos artesãos. A sua multiplicação seria uma forma de evitar a entrada em massa de
estrangeiros, asseguraria o funcionamento da economia, ajudaria a constituição duma classe
média forte, de forma a evitar o confronto entre grupos económicos muito desiguais.

O mercantilismo de Bodin e Montcherestien foi materializado por Colbert, ministro das finanças de
Luís XIV, no período 1661 a 1683. Este político defendeu o aumento da população com o
argumento de que é favorável à balança de pagamentos , favorecendo as famílias numerosas e a
imigração.

Para estimular a imigração, facilita as naturalizações, dá privilégios aos imigrantes e torna difícil a
emigração. No que diz respeito ao estímulo das famílias numerosas, publica leis importantes, tais
como: os contribuintes que se casam antes dos 20 anos são isentos de impostos até aos 25 anos,
os que se casam aos 21 anos são isentos de imposto até aos 24 anos, os pais de 12 filhos vivos
legítimos ficam isentos para sempre de todo o tipo de imposto, os membros da nobreza que
tenham mais de 10 filhos têm direito a uma pensão.

Para além destes dois, destaca-se ainda o Vauban (1633-1707), ao defender que a falta de
população é a maior desgraça que pode acontecer ao reino. Vauban ficou conhecido na história
do pensamento demográfico não só pelas estimativas que elaborou (estima em 25 mil o número
máximo de habitantes que a França pode ter), como por ser o inventor dos recenseamentos, ao
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chamar a atenção para a sua importância e grande utilidade para a administração: não é possível
gerir uma nação sem se saber o número exacto de habitantes, a sua profissão, religião e
condições de vida;

c) Mercantilistas da Inglaterra

Na Inglaterra, o mercantilismo toma um aspecto diferente do mercantilismo francês e do


mercantilismo Italiano. Aqui, existem duas correntes distintas: a primeira corrente considera a
população como uma variável, entre tantas outras, do sistema social; a segunda corrente a
população aparece como interessante em si própria... São os primórdios da Demografia
Científica.

Na primeira corrente não encontramos um populacionismo intransigente, mas sim autores que
defendem a existência de um equilíbrio entre a população e os recursos (Thomas More, Francis
Bacon, Thomas Hobbes).

Thomas More (1478-1535), ao estudar a causa da miséria do seu país, pensa que esta é devida
a três factores fundamentais: o luxo da nobreza, a existência de muitos domésticos improdutivos
e a extensão das pastagens em prejuízo das terras cultivadas.

Francis Bacon (1561-1626) preconiza um crescimento da população dominantemente qualitativo,


e Thomas Hobbes (1588-1689) concentra as suas atenções no equilíbrio entre a população e os
recursos. Para que exista tal equilíbrio é necessário um esforço produtivo, contenção no
consumo, recurso à emigração e, em caso extremo, o recurso à guerra. A linha fundamental do
seu pensamento pode ser resumida na sua famosa frase: "O homem é lobo do homem".

Porém, se estes três filósofos ingleses estão fundamentalmente preocupados com o equilíbrio
entre o crescimento da população e os recursos, no século XVII, algo de novo ocorre na
Inglaterra: a Demografia começa a dar os seus primeiros passos como ciência.

Ainda neste quesito, na Inglaterra aparecem de forma destacada, nomes como William Petty, john
Graunt, e Edmund Halley, que começam a considerar que os primeiros problemas da população
devem ser analisados e medidos independentemente das questões doutrinais e das relações que
possam ter com quaisquer outros problemas económicos, políticos e sociais. Estes autores serão
analisados mais adiante.

d) Mercantilistas da Alemanha

Na Alemanha, na época mercantilista, domina a ideia da necessidade de uma população


numerosa. Lutero, que começou a sua acção em 1517, mostra-se hostil ao celibato e é favorável
ao casamento generalizado a todos os grupos sociais, incluindo o religioso. Os diversos autores
existentes na época não se afastam desta linha, nomeadamente: Philipp Von Hornigk (1638-1715)
defende o aumento da população sobretudo depois da guerra dos 30 anos; Veit Von Seckendorff
(1626-1692) deseja um estado cristão com uma população numerosa, onde a agricultura e a
indústria se desenvolvam; Ernest Carl (1682-1743) talvez seja o único a pôr o acento tónico, a
maneira inglesa, no equilíbrio entre a população e os recursos, ao defender o princípio de que um
país deve viver dos seus próprios recursos.
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Em síntese, a época mercantilista - época do absolutismo dos príncipes - é uma época dominada
pela ideia do crescimento da população ser um bem precioso a defender Nessa época a
população progredia muito lentamente, era constantemente ameaçada pelas crises e era
necessário proteger o comércio dos príncipes com um exército numeroso, o qual só seria possível
com uma população numerosa. Só no século XVIII o crescimento da população, demasiado
rápido em alguns países, começou a inquietar os diferentes pensadores,

1.1.3 - A problemática da população no século XVIII e emergência da Demografia como


ciência

Os primeiros anos do século XVIII são caracterizados por uma diminuição da população na maior
parte dos países europeus. Este declínio teve como efeito o incentivo da atitude populacionista.
Na segunda metade deste século, as condições de existência melhoram e o número de
habitantes aumenta em quase todos os países europeus. Segundo Montesquieu, as causas
fundamentais que levavam à diminuição da população no Império Romano são várias,
destacando as seguintes: epidemias, guerras, celibato eclesiástico, divórcio, causas políticas e
sociais decorrentes de um mau governo. Este filósofo considerava que o celibato matava mais
homens do que as pestes e guerras mais sangrentas.

Já o filósofo inglês David Hume (1711-1776) opõe-se à tese do despovoamento defendida na


França por Montesquieu e na Inglaterra por Walacce. Pensa que a população mundial aumenta
naturalmente desde que o governo vele pela existência de prosperidade generalizada. Acreditava
que a reforma das instituições pode melhorar o destino dos homens e que uma população em
expansão é sinal de prosperidade. Além disso, tinha a convicção de que a existência de um poder
no instinto de procriação faz duplicar a espécie humana em cada geração. Nestes termos, as
catástrofes não despovoam um país tanto quanto se imagina porque o instinto do homem o faz
povoar de novo. A população regula-se pelo nível de subsistência. Uma diminuição da produção
só por si reduz de uma maneira decisiva o número de habitantes, enquanto que cataclismos, tais
como as guerras e as epidemias, têm apenas uma incidência limitada.

Com o economista de origem irlandesa Richard Cantilon (1680-1734), esta tese vai ser
consideravelmente alargada ao defender o ponto de vista de que "os homens se multiplicam
como ratos desde que tenham meios de subsistência". Porém, o que torna este autor original é o
facto de tomar em consideração factores a que hoje chamamos de sociológicos. É verdade que a
população é condicionada pela produção de meios de subsistência, mas também é preciso ter em
conta o modo de vida e os hábitos sociais: os homens de alimentação frugal podem multiplicar-se
mais rapidamente do que os homens que exigem uma alimentação abundante e variada. O
progresso do bem-estar e a civilização têm tendência a reduzir a fecundidade. Cantilon condena o
luxo, visto ser necessário tanto trabalho para produzir um bem de luxo como para produzir
grandes quantidades de alimentação.

Mirabeau (1715-1789), é um dos principais representantes da escola dos fisiocratas (fisiocrática).


A fisiocracia ou o governo da natureza, é uma escola de economistas que marca o início do
pensamento liberal no século XVIII. O princípio no qual se apoiam os fisiocratas é o do interesse e
o da utilidade. Segundo Mirabeau, "para que os homens sejam bons e justos, o meio mais seguro

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é torná-los ricos." Mirabeau também julga que a Europa do seu tempo se estava a despovoar e
que a causa fundamental é a decadência da agricultura, o luxo e o consumo demasiado de um
pequeno nº de habitantes. Só o progresso da agricultura permitirá valorizar as terras e aumentar a
população. Esta visão verdadeiramente optimista da relação entre população e a subsistência,
subjacente ao pensamento de Mirabeau, como aliás de outros fisiocratas como Quesnay (1694-
1774) e Necker (1732-1804), resume-se na seguinte frase: O maior bem são os homens e , em
seguida, a terra".

Finalmente, queremos aqui assinalar o valioso contributo prestado por um conjunto de autores
que durante o século XVIII, ao explicitarem a ideia da progressão aritmética, da progressão
geométrica, do equilíbrio entre população e recursos, como é o caso de "Jean Jacques
Rousseau (1712-1778), William Godwin (1756-1836), Adam Smith (1732-1790), Benjamim
Franklin (1706-1790) Stwart (1712-1780), Young (1741-1820)", anunciam o aparecimento de
Malthus e da Demografia como ciência.

A paternidade da palavra Demografia é em geral, atribuída a Achile Guillard, ao publicar em 1855


uma obra intitulada "Elementos de Estatística Humana ou Demografia comparada (Guillard,
1855)". Curiosamente, no prefácio, o autor pede desculpas ao leitor pela fraqueza de ter cedido
às exigências do seu editor. As exigências consistiram em Achille Guillard, por razões comerciais,
ter sido obrigado a alterar o título inicialmente previsto para esta obra - "Estudos de Demografia
Comparada". A palavra Demografia fez assim a sua aparição pública de uma forma atribuída, em
meados do século XIX, e associada à Estatística.

Porém, muito antes deste curioso acontecimento já a ciência da população tinha dado os seus
primeiros passos que consistiram em considerar os temas populacionais como interessantes em
si, sendo por isso passíveis de tratamento científico. Deste modo, o acento tónico deixa de ser
posto na discussão das vantagens e desvantagens do crescimento da população, no equilíbrio
entre a população e os recursos, ou ainda na discussão das consequências de certos aspectos
qualitativos e quantitativos de uma população. O que passou a ser importante foi a procura de
uma medição daquilo que hoje chamamos de movimento e estado de uma população. Começa a
fase dos aritméticos políticos:

William Petty (1623-1687) - foi o primeiro a inventar o termo, cujo conteúdo procura explicitar
lodo no prefácio da sua obra intitulada "Aritmética Política: <<O método que emprego ainda não é
muito vulgar... consiste em exprimir em termos numéricos, pesos e medidas, em servir-me
unicamente dos argumentos dados pelos sentidos, em considerar exclusivamente as causas que
têm bases visíveis na natureza...>> (Dupâquier, 1977).

Jon Graunt (1620-1674) - foi quem verdadeiramente escreveu o primeiro livro de Aritmética
Política intitulado "Observações naturais e políticas feitas através Óbitos (Viquin, 1977). Elaborou
uma autêntica metodologia científica do ponto de vista demográfico: constrói tábuas de
mortalidade com base nos arrolamentos publicados semanalmente, a partir do século XVI,
arquitecta diversos índices interessantes como, por exemplo, a relação entre os nascimentos e
os óbitos. Procura investigar as causas dos óbitos e estima o volume da população de Londres

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em cerca de 384 mil habitantes, enquanto a maior parte dos seus contemporâneos pensa que
esta cidade teria uma população de vários milhões de habitantes.

Edmund Halley (1656-1742) - foi astrónomo e matemático, tendo sido igualmente um dos
primeiros cientistas da população. Constrói tábuas de mortalidade a partir dos arrolamentos das
paróquias de Breslau. Os seus trabalhos são bastante interessantes devido à análise que faz da
qualidade dos dados existentes nos arrolamentos utilizados.

Esta visão do mundo e das coisas iniciada por William Petty, John Graunt e Edmund Halley, aos
quais podemos juntar outros nomes, como Mathew Hale (1609-1676), Gregory King (1648-1712),
Charles Davenant (1656-1714), John Arbuthnot (16671735), William Kersseboon (1691-1771), vai
desenvolver-se muito rapidamente durante o século XVIII. No entanto, os trabalhos realizados por
Buffon, Sussmilch, Bernnoulli, Simon e Moheau consolidam de uma forma decisiva o trabalho
pioneiro de W. Petty, J. Graunt e de E. Halley.

Vejamos em seguida os trabalhos que eles desenvolveram no contexto da Demografia:

Buffon (1707-1788) - foi matemático e estatístico, tendo traduzido os trabalhos matemáticos de


Newton (1643-1727) e, enquanto director dos jardins do rei, interessa-se pela biologia e pelo
desenvolvimento das espécies. Explica três leis da fecundidade animal: a fecundidade é
inversamente proporcional à dimensão do animal, o número de espécies aumenta a fecundidade.
Contudo, é na história natural dos homens que encontramos vários ensinamentos importantes
para a consolidação do pensamento demográfico numa perspectiva científica. A observação mais
curiosa reside na duração do crescimento do animal e a sua longevidade: o cão desenvolve-se
durante dois ou três anos e vive cerca de doze anos; o homem desenvolve-se fisicamente durante
cerca de dezoito anos e pode viver até aos 100 anos. É precisamente a partir deste último
aspecto, ou seja, da verificação que o homem morre em qualquer idade, que lhe surge a ideia de
construir uma tábua de mortalidade em termos científicos. Como, na época, os seguros eram
elaborados a partir da tábua dos óbitos dos clientes, Buffon apercebe-se da existência de uma
veracidade duvidosa por dizer respeito a uma população muito particular - a população dos
rendeiros. Como alternativa constrói tábuas a partir de uma amostra mais ampla (Várias
paróquias de Paris e da Borgonha) e utiliza uma metodologia mais próxima da actual. Consegue
mostrar que se tem uma possibilidade em duas, antes dos 8 (oito) anos de idade e que a
esperança de vida (este termo não é empregue por Buffon) é de 28 anos. Calcula aquilo a que
hoje chamamos de quociente de mortalidade e procede a estimativas da mortalidade infantil
(Dupâquier, 1985);

Johann Peter Sussmilch (1707-1767) - a partir dos registos paroquiais de Brandeboutg, elabora
estimativas de população para a Prússia, constrói uma tábua de mortalidade, calcula várias
relações entre nascimentos, casamentos e óbitos. Elabora várias observaçõe

s interessantes como, por exemplo, o facto de os óbitos passarem por um mínimo cerca de 15
anos. Porém, o seu objectivo é claramente teológico, ao afirmar que o povoamento da terra está
sempre conforme a vontade do criador e que a "Ordem Divina" se manifesta de várias formas,
nomeadamente através da relação entre nascimentos e óbitos;

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Daniel Bernoulli (1700-1782) - foi médico e matemático e é o autor do teorema sobre a lei dos
pequenos números. No caso específico da emergente ciência da população dá uma importante
contribuição ao estudar os efeitos da vacina da varíola na mortalidade e nos efectivos
sobreviventes;

Pierre Simon, marquês de Laplace (1749-1827) - foi matemático e astrónomo, tendo estudado
a relação existente entre a estrutura por idades e a mortalidade, tendo construído uma tábua de
mortalidade semelhante a de Buffon;

Finalmente, Moheau (1745-1794) - publicou em 1788 uma obra intitulada "Investigações e


Considerações sobre a População da França". Há que assinalar que, se Petty, Graunt e Halley
são referenciados como iniciadores da atitude científica em relação à população, se Guillard
inventa a palavra Demografia, Moheau escreve o "primeiro tratado de demografia científica.
Portanto, Moheau parte dos factos para a teoria segundo um método indutivo e é favorável ao
aumento da população. Confiante no progresso da técnica e no desenvolvimento da divisão do
trabalho, pensa que a população pode ser superior à fecundidade do solo, desde que se
encontrem na indústria os meios de suprir as suas necessidades. Condena o luxo, a desigual
repartição da riqueza e é bastante crítico em relação aos costumes da sua época. Consciente do
poder dos obstáculos preventivos que limitam a natalidade, condena com vigor a restrição dos
nascimentos e denuncia a sua generalização nas classes dirigentes.

Porém, em finais do século XVIII, na sequência de todo este conjunto de ideias e métodos, que
surgiram em torno da problemática populacional, um acontecimento particularmente importante
vai marcar o desenvolvimento da Demografia como ciência da população - Thomas-Robert
Malthus publica a sua obra com o título "Ensaio sobre o Princípio da População".

Thomas-Robert Malthus (17/02/1776-1834) - foi vigário da Igreja Anglicana de Arbury, em 1796.


Nesta altura entra em contradição com o seu pai, por este não acreditar que os governos, mesmo
os iluminados, possam mudar alguma coisa à natureza profunda da espécie humana. Malthus,
considera que se existe miséria, o único remédio é a limitação do crescimento da população e a
melhoria da produtividade na agricultura.

Em 1798, publica um livro que não tem nome do seu autor e que, a posterior passou a ser
chamado "Ensaio sobre o Princípio da População". Em 1803 aparece uma segunda versão já
assinada com o nome do autor, na qual algumas conclusões da primeira edição são
abandonadas. Pelo interesse por esta obra na altura, muitas edições foram surgindo. A 3ª edição
surge em 1806, a 4ª em 1807, a 5ª em 1817, tendo sido última a última do autor. Em 1805 é
nomeado professor de história de História e de Economia Politica no Colégio das Índias
Ocidentais . Durante o resto da sua vida continuou a trabalhar nas sucessivas edições do seu
ensaio e publicou outras obras, destacando-se "Os Princípios de Economia Política. Malthus
morreu em 18034 com uma crise cardíaca.

Tal como dissemos anteriormente, em 1798, Malthus publica, sem mencionar o seu nome como
autor, um livro intitulado "Ensaios sobre a População - como afecta o futuro progresso da
Humanidade, com notas sobre especulações do senhor Godwin, do senhor Condorcet e de
outros escritores. Trata-se de um livro polémico baseado em documentação muito sumária e
11
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
teórica e que provoca um autêntico escândalo. O livro faz escândalo devido a uma das suas
teses: A assistência aos pobres não serve senão para os multiplicar sem os consolar.
Também escandaliza-se devido como a tese é apresentada. Um simples parágrafo desencadeia
uma grande indignação num período onde emergiam os ideais da igualdade, do socialismo e da
solidariedade entre as classes oprimidas: Malthus considerava que <<um homem que nasce num
mundo ocupado, se não lhe é possível obter dos seus pais os meios de subsistência... e se a
sociedade não tem necessidade do seu trabalho, não tem direito a reclamar a mínima parte da
alimentação e está a mais. No grande banquete da natureza, não existe talher disponível para ele,
a natureza diz para ele ir embora e não tardará para executar esta ordem salvo se recorrer a
compaixão de alguns convivas do banquete. Se estes convivas se apertam para dar lugar, outros
intrusos se apresentarão reclamando os mesmos favores. A notícia de que existem alimentos
para todos enche a sala de numerosas pessoas. A ordem e a harmonia da festa são perturbadas,
a abundância que reinava anteriormente transforma-se em fome, a alegria dos convivas é
aniquilada pelo espectáculo da miséria e da penúria que reinarão em todas as partes da sala e
pelos clamores inoportunos daqueles que estão furiosos por não encontrarem os alimentos que
lhes tinham prometido.>> (Vilquin, 1980).

Em síntese, antes de Malthus já se pensava que uma população, submetida à influência única do
instinto de reprodução, duplica cada 25, 20, ou 15anos, que a terra era incapaz de produzir uma
quantidade de alimentos suficiente para acompanhar este crescimento populacional, que existem
obstáculos que podem ajustaras populações ao nível de recursos disponíveis. Malthus,
aproveitando todas essas ideias dispersas, é original pela ligação que estabelece entre todas
elas, pela força e precisão com que trata estes temas, pelas análises detalhadas que elabora dos
diversos tipos de obstáculos e por ter explicado as consequências do princípio da população.

A tese de Malthus introduziu uma nova perspectiva. Segundo ele, o equilíbrio entre crescimento
demográfico e os recursos alimentares depende principalmente de comportamentos individuais,
que assegurem o auto-controlo da descendência, através da castidade e do casamento tardio.

Assim e neste contexto, é justo reconhecer a importância de Malthus, não só em ter chamado a
atenção para a importância da população no funcionamento da sociedade, como por ter dado um
contributo decisivo à consolidação de uma ciência da população.

Neste sentido, é mister afirmar que a Demografia surgiu e foi ganhando consistência a partir dos
estudos de Thomas Robert Malthus, que denunciou o aumento constante da população muito
acima da produção de alimentos. Hoje em dia, o pensamento de Malthus continua rico, variado e
polémico, mas que existe explicitamente uma clara atitude científica em relação à população,
constituindo um mérito que todos temos de lhe reconhecer, concordemos ou não com as suas
ideias.

Em 1798 Thomas Robert Malthus, pelo impacto da sua obra " Ensaios sobre a População" foi
considerado "pai da Demografia moderna" pelo facto de, entre outras coisas, advertir
oportunamente a tendência constante do crescimento da população humana superior ao da
12
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
produção de alimentos, e de informar, naquela altura, sobre os distintos factores que influíam
sobre este crescimento. Suas predições alarmistas deram-lhe e dão-lhe ainda fama e
reconhecimento nos dias que passam, não obstante ao facto da história considerar o historiador,
sociólogo, demógrafo e humanista Ibn Jaldún (1332-1406) - o pai da Demografia clássica, por
ter sido, na época em que viveu, o primeiro a utilizar os dados estatísticos nos seus estudos para
representá-los e obter dados mais representativos.

É de realçar que apesar da existência de estudos sobre a população, muitos centrados em países
europeus, é apenas na segunda metade do século XX que a Demografia passou a ocupar espaço
na mídia e se tornou uma preocupação mundial com a criação de organismos internacionais no
seio da Organização das Nações Unidas, como a Divisão de População e o Fundo de População
das Nações Unidas FNUAP.

1.2 - Conceitos, objecto de estudo, importância e objectivos da Demografia

1.2.1 - Conceitos de Demografia e sua evolução

A palavra demografia, etimologicamente, tem a sua origem nas palavras gregas DHOMOV (Povo)
e GRAFEIN (Descrever) e significa “ ciência da População. Portanto refere-se à descrição de
populações concretas, ou seja, é o estudo da população humana.

Significado: Demo-povo; Grafia-estudo, ou seja, Demografia é o estudo do povo/população. A


demografia é um estudo que engloba desde estudos individuais e dependentes até projectos do
governo em relação à população, como por exemplo o IDH.

Na obra de Achille Guillard, "Demografia Comparada" encontramos dois conceitos distintos:


no sentido amplo - a Demografia estuda a história natural e social da espécie humana; no sentido
restrito - a Demografia estuda o conhecimento matemático das populações e dos seus
movimentos;

Segundo Huber, na sua obra "Curso de Demografia e de Estatística Sanitária", (Chevalier,


1951) assinala que Demografia - é a aplicação dos métodos estatísticos ao estudo das
populações ou, mais genericamente, ao estudo das colectividades humanas;

Landry, em 1945, na sua obra "Tratado de Demografia", considera dois tipos de Demografia: a
Demografia quantitativa - que estuda os movimentos que se produzem numa população,
acompanhado dos resultados desses movimentos; a Demografia qualitativa - que se ocupa das
qualidades dos seres humanos, esforçando-se, no entanto, por submetê-los à medida.

Principais definições que encontramos em manuais especializados:

13
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
1 - Em 1959, Hauser e Duncan apresentaram no texto “Demografia como Ciência” a seguinte
definição: “Demografia é o estudo do tamanho, da distribuição territorial e da composição da
população, das mudanças e dos componentes de tais mudanças; estes últimos podem ser
identificados como natalidade, mortalidade, movimentos territoriais e mobilidade social”.
Para os autores a composição populacional vai além da simples relação entre as variáveis
puramente Demográficas e incorporaram variáveis que aproximam da ideia de qualidade de vida
como saúde e nível de qualificação, por exemplo;

2 - Segundo Sheryock e J. Siegel, a "Demografia pode ser definida no sentido restrito e no


sentido lato: no sentido restrito - a Demografia formal preocupa-se com questões como a
dimensão, a distribuição, a estrutura e a mudança das populações; no sentido lato ou amplo -
inclui outras características tais como as etnias, as sociais e as económicas" (Sheryock e Siegel,
1976);

3 - Na óptica de Sauvy, existem igualmente duas definições de demografia: "a Demografia Pura
ou Análise Demográfica, que é uma contabilidade de homens e a Demografia alargada, que
estuda os homens nas suas atitudes, comportamentos e que se preocupa com as causas e as
consequências dos fenómenos. Entende que a Demografia Pura pertence ao grupo de ciências
exactas enquanto que a Demografia Alargada pertence ao grupo das ciências sociais (Sauvy,
1976);

4 - G, Wunsch e M. Termote, entendem que "a Demografia é o estudo da população, do seu


aumento através dos nascimentos e imigrantes, da sua diminuição através dos óbitos e dos
emigrantes; num contexto mais vasto, a Demografia é igualmente das diferentes determinantes da
mudança populacional e dos efeitos da população no mundo que nos rodeia" (Wunsch e Termote,
1978);

5 - Segundo Preston (1978), Demografia é o estudo dos determinantes e consequências do


tamanho e estrutura da população.

6 - Louis Henry, em seu livro Demografia Análise e Modelos, diz que, tendo em conta a definição
das Nações Unidas, não pode existir Demografia sem números. Sob este ponto de vista, estudos
envolvendo componentes da dinâmica Demográfica mas tratando-os sem a utilização de números
não poderiam ser considerados do campo da Demografia. Desta forma podemos separar a
Demografia, ou análise Demográfica, dos estudos populacionais. Este último irá incorporar, às
variáveis Demográficas, as dimensões externas “para dar conta das análises dos chamados
determinantes e consequências das tendências populacionais” (Patarra-1980);

7- Dicionário Demográfico da União Internacional para o estudo Científico da População -


"Demografia é a ciência que tem por objectivo o estudo científico das populações humanas no

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
que diz respeito à sua dimensão, estrutura, evolução e características gerais, analisadas
principalmente do ponto de vista quantitativo" (Henry, 1981);

8 - Em Poulalion, também encontramos uma definição interessante: a Ciência da População


estuda as colectividades humanas enquanto tal; não considera apenas o aspecto estático e
mensurável (Demografia Quantitativa), mas também o aspecto causal e relacional (Demografia
Qualitativa); também não considera apenas a sua estrutura numa época (Demografia Estática),
mas também as leis da evolução passada, presente e futura (Demografia Dinâmica), aparecendo
assim como uma ciência transdisciplinar tanto na vocação como nos métodos (Poulalion, 1984);

9 - Segundo o Centro Latino – Americano de Demografia (CELADE- UICEP,1985), a


Demografia é a "ciência cuja finalidade é o estudo da população humana e que se ocupa da sua
dimensão, estrutura, evolução e características gerais consideradas fundamentalmente do ponto
de vista quantitativo.

10 - Dicionário de Demografia de W. Petersen (4 volumes) distingue a Demografia Formal e a


Demografia social: Demografia formal - consiste na colheita, na análise estatística e na
apresentação técnica dos dados da população; baseia-se no ponto de vista de que, dentro de
certos limites, o crescimento da população é um processo auto-controlado, com uma interligação
mais ou menos fixa entre a fecundidade, mortalidade e estrutura por idade; e a Demografia
Social ou Estudos de População - "inclui análises onde a população tem em conta factores
sociais, económicos, políticos, geográficos e biológicos" (Petersen, 1986);

11 - Segundo o Dicionário Multilingue das Nações Unidas, “A Demografia é uma ciência cujo
fim é o estudo da população humana e que se ocupa da sua dimensão, estrutura, evolução e
características gerais, consideradas principalmente desde o ponto de vista quantitativo”. Por esta
definição, a Demografia teria um campo de investigação quase ilimitado, mas com forte carácter
quantitativo;

12 - Vinuesa, retoma a linha de definições exaustivas ao afirmar que a demografia tem como
objecto o estudo da população, entendendo por população "um conjunto de indivíduos que têm
uma dimensão temporal e que ocupam um determinado espaço; a dimensão temporal implica
uma dinâmica própria que resulta da capacidade que o homem tem de sobreviver, de se
reproduzir e de agrupar; a dimensão espacial é um elemento fundamental para compreender a
evolução das estruturas sociais, económicas, urbanas" (Vinuesa, 1994);

13 - Em Catherine Rollet também encontramos algumas reflexões interessantes sobre o objecto


da Demografia: "o objecto da Demografia é a sucessão das gerações, a duração da vida humana,
as relações do homem com a natureza e as relações entre os homens; apoiada numa
metodologia própria ocupa-se dos problemas mais importantes da vida da sociedade - a
reprodução, a longevidade, as disparidades sociais e o ambiente (Rollet, 1995);

15
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
14 - Lassonde, formula o objecto de estudo da Demografia em termos completamente originais:
"A problemática da Demografia tem de ser completamente reformulada; já não se trata de
precisar com exactidão o impacto da evolução da população nos recursos, mas de reflectir sobre
as consequências éticas de um mundo povoado com quase dez milhares de milhão de
habitantes" (Lassonde, 1996);

15 - Em Weinstein, encontramos o retomar de uma antiga tradição de acento tónico no rigor


técnico ao afirmar "a crescente complexidade da sociedade actual tornou indispensável a
necessidade de medição de todos os aspectos ligados à dimensão e à composição da
população... os demógrafos encarregam-se deste trabalho" (Hinde, 1998);

Em face do exposto, verificamos sem dificuldades que, neste conjunto de definições, com uma
maior ou menor variação formal, existem muitos elementos convergentes, Numa óptica restrita é
inequívoca a sua área de trabalho: a Demografia tem por objecto de estudo o estudo científico da
população. Mas como clarificar com objectividade o que se entende por um "estudo científico da
população"? Em nosso entender, uma definição aprofundada de Demografia comporta cinco
elementos fundamentais:

I. em primeiro lugar, não se analisam pessoas isoladas mas conjuntos de pessoas


delimitadas espacialmente e com um significado social (um continente, um país, um
distrito, uma nut, um conselho) Esta análise é feita observando, medindo e descrevendo a
dimensão, a estrutura e a distribuição espacial desse conjunto de pessoas. A dimensão
significa o volume da população (x milhões de habitantes); a estrutura significa a sua
repartição por conjuntos especiais (x solteiros, y casados, z viúvos e divorciados ou x
jovens, y adultos, e z idosos); a distribuição diz respeito à sua repartição no espaço. Ao
conjunto destes três elementos chama-se estado da população;
II. em segundo lugar, este estudo científico da população não se pode ocupar apenas do
aspecto estático, ou seja, descrever os aspectos específicos mencionados num
determinado momento do tempo; também deve preocupar-se em saber quais são as
mudanças ocorridas nos elementos que caracterizam o estado da população e qual a
intensidade e direcção dessas mudanças;
III. em terceiro lugar, analisa os factores, ou as variáveis demográficas que são responsáveis
pelas variações ocorridas no estado da população; estas variáveis são de três tipos:
natalidade, mortalidade e migrações; esta última variável demográfica abrange três
situações distintas - emigração, imigração e migrações internas; a nupcialidade não é uma
variável demográfica autêntica, porque o seu aumento ou a sua diminuição não contribuem
directamente para a modificação do estado da população, actuando dominantemente
através da natalidade; em síntese, o estado da população tem uma determinada dimensão,
estrutura e distribuição espacial, porque nesse conjunto de pessoas acontecem
nascimentos, óbitos e migrações;
IV. em quarto lugar, a Demografia também se ocupa dos efeitos que cada uma das variáveis
demográficas tem nos aspectos globais e estruturais da população, bem como dos efeitos
inversos; por exemplo, interessa-se em saber até em que ponto um aumento na natalidade

16
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
modifica estruturalmente a população ou em que medida uma mudança estrutural da
população se reflecte na modificação da evolução da natalidade;
V. finalmente, em quinto lugar, a Demografia também se preocupa com questões
relacionadas com as determinantes dos comportamentos demográficos e com as suas
consequências da evolução do estado da população.

Em resumo, a Demografia pode ser entendida não como uma ciência autónoma, mas como um
campo de estudo onde os determinantes da dinâmica Demográfica são observados sob diversos
aspectos e onde são analisadas as suas interacções e relações com outras áreas de estudos e
campos científicos.

Enfatizando a definição dada pelo CELADE, distingue-se três tipos de Demografia: a Demografia
quantitativa, Demografia qualitativa e a Demografia compreensiva.

Demografia quantitativa – Estuda essencialmente os movimentos que se produzem nas


populações. Nesta óptica, a Demografia será em primeiro lugar, uma ciência que mede as
populações humanas, consideradas estas enquanto conjuntos que se renovam mercê do jogo dos
nascimentos, dos óbitos e dos movimentos migratórios;

Por exemplo: Quando a Demografia procura saber o tamanho da população, a taxa de


natalidade, a taxa de crescimento populacional, e etc.
Demografia qualitativa – é a categoria mais complexa de Demografia, que investiga e examina
as causas dos fenómenos Demográficos, tais como a mortalidade e a fecundidade que
aproximam a Demografia da biologia e contribuem para a afirmação e desenvolvimento da própria
Demografia como domínio científico autónomo. Nesta dimensão, a Demografia qualitativa ocupa-
se do estudo “das qualidades dos seres humanos” (qualidades físicas e físico-intelectuais), bem
como o estudo das transmissões hereditárias;

Por exemplo: Aqui a Demografia procura saber elementos como o nível da qualidade de vida da
população, o IDH, as causas das variáveis Demográficas, o nível educacional da população, etc.
Demografia compreensiva – é a que intervém quer a montante quer a jusante da investigação
Demográfica, seja através de abordagens exploratórias ou seja enquanto complemento dos
resultados quantitativos e principalmente como contributo ao mesmo tempo reflexivo e
interpretativo. Ao mesmo tempo, esta Demografia aprofunda e prolonga a Demografia quantitativa
tradicional, introduzindo novos temas e novas questões, como sejam, as relações de género e a
sexualidade.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Por exemplo: A Demografia procura compreender mais a fundo sobre os fenómenos
Demográficos.
Como se pode ver, estas definições assinalam claramente a área temática da Demografia e a
distinguem de outras ciências sociais, cujo objecto de estudo é também a população humana.
Nestas definições, vê-se que a Demografia procura estabelecer as relações intrínsecas existentes
entre os componentes da dinâmica da população, nomeadamente a Fecundidade, a Mortalidade e
a Migração e encontrar os factores que as determinam e as consequências sociais, culturais,
biológicas, económicas e outras que resultam do comportamento destas mesmas variáveis.

Porém, a Demografia possui quatro abordagens diferentes que variam de acordo com o foco de
estudo:

1) A abordagem histórica que tem por objectivo estudar a evolução dos acontecimentos
Demográficos ao longo do tempo, pesquisando suas causas e tentando prever as
consequências;
2) A abordagem doutrinária que se ocupa da análise da teoria através dos estudos das
ideias e obras de filósofos, pensadores e pregadores no tocante à população;
3) A abordagem analítica, que por sua precisão matemática é a mais importante
tecnicamente, pelo facto de fornecer dados indispensáveis sobre determinados
acontecimentos; e, por fim,
4) A abordagem política, que apoiada em todas as outras abordagens, tenta formular
políticas Demográficas adequadas ao bem-estar da sociedade.

O emprego de conceitos como, índices de natalidade, mortalidade, fertilidade e outros,


conferiu à Demografia notável rigor científico. Sua aplicação permite estudar em quantidade e
qualidade o crescimento populacional e determinar alguns dos componentes que estão na
base da riqueza e da pobreza das nações.

1.2.2 - Objecto de estudo da Demografia


Apesar de implicitamente ter já sido anunciado nas diversas definições anteriormente
apresentadas, podemos dizer que o objecto de estudo da Demografia se prende sobretudo na
análise das populações humanas e nas suas características gerais.

O chamado “movimento da população” também constitui objecto de estudo da demografia.


Através de cálculos estatísticos são estudados os fenómenos da mortalidade, natalidade e

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
movimentos migratórios, todos estes influenciados por diversos factores como educação,
saneamento, e etc.

O estudo da demografia é fundamental porque:

 A população é o elemento político essencial, uma vez que não pode existir um Estado
despovoado;
 A população dá cunho específico a configuração de uma sociedade, conforme seja:
 Mais jovem ou mais idosa;
 Crescente ou decrescente;
 Predominantemente rural ou urbana;
 Mais rica ou mais pobre;
 Formada por uma ou mais etnias;
 Formada por uma ou várias línguas;
 Formada por uma ou várias religiões
 Consequentemente, todas as questões pertinentes a seus múltiplos aspectos (número,
flutuações, composição segundo vários critérios, distribuição territorial, movimentos
migratórios etc.) tanto actuais quanto futuros, são fundamentais para a perfeita compreensão
de um país e como base do planeamento económico, político, social ou cultural.

A população pode ser definida de acordo a sua condição de produtora e de consumidora:

a) Do lado da produção: exige-se saber o tamanho e a composição da população por idade e


sexo, para se determinar quantos trabalhadores em potencial estarão disponíveis para o
processo produtivo;
b) Do lado do consumo: interessa saber não só o tamanho e a composição da população,
mas o nível de rendimento dessa população que vai determinar o consumo da população.

Em estatística, o termo população (universo, colectivo) indica um conjunto de elementos com


características comuns, mas que não necessariamente relacionado com a espécie humana. A
Demografia prescinde do adjectivo “humana”, pois as populações do seu interesse são as
populações humanas. Em Demografia, população é o conjunto de habitantes num certo espaço
geográfico.

Em Demografia, população é o conjunto de habitantes em um certo espaço geográfico. É preciso


especificar quais pessoas são consideradas habitantes da área. Por exemplo, militares e

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
diplomatas que estão temporariamente ausentes, são habitantes do país de origem ou do país
onde estão em serviço? Estudantes que se mudam para a cidade onde fazem o curso, mas que
voltam para casa nos finais de semana e férias, são habitantes de que cidade? De acordo com a
condição da pessoa no domicílio, há duas formas de definir população.

População presente: inclui todas as pessoas que estão, de facto, presentes no domicílio de uma
certa unidade geográfica. Todas as pessoas presentes, na data de referência do levantamento de
dados, são consideradas, independentemente de ser morador ou não no domicílio, incluindo
visitantes e turistas.

População residente: inclui todas as pessoas que pertencem a uma certa unidade geográfica,
por cidadania ou por outro motivo que lhes dá o direito de serem moradores do domicílio.
Considera todos os residentes, estando presentes ou não no domicílio, na data de referência do
levantamento de dados.

1.2.3 - Objectivos da Demografia


A Demografia tem como principal objectivo a análise de dados populacionais, tais como:

- Crescimento populacional ou demográfico;

- Emigração e Imigração;

- Mortalidade e Natalidade;

-Distribuição da população por áreas geográficas;

- Distribuição da população por idade e sexo e por outros critérios (estado civil, pertença étnica,
religião, educação, nacionalidade, emprego e desemprego etc.).

1.2.4 - Importância da demografia

A importância do estudo da Demografia consiste no facto da população ser um elemento político


essencial que caracteriza uma sociedade e que, consequentemente, torna-se necessário
compreender a fim de tornar possível o planeamento económico, social, cultural ou político.

A importância do contributo da base (informação) Demográfica na análise dos grandes problemas


sociais contemporâneos ultrapassa o sistema social, e atinge várias áreas científicas que vão
desde as ciências económicas e as ciências da conduta às ciências da vida, passando pelos
recentes domínios directa e indirectamente ligados a gestão da informação.
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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
A importância do estudo da Demografia decorre do facto de que, os dados gerados por esta
ciência servirem de base para a definição de políticas sociais governativas, para além de
mostrarem também a qualidade de vida da população. Assim sendo, com o conhecimento sobre
os movimentos populacionais e a sua dinâmica o Governo pode decidir em aumentar ou reduzir o
tamanho da população por meio de duas políticas. Na definição de suas políticas o Governo pode:

1. Estimular novos nascimentos por via de medidas como a aplicação de complementos


salariais para os pais que possuem muitos filhos ou aumento de impostos para os jovens de
uma certa idade que ainda não tenham filhos. Este tipo de política é designado “Política
Natalista”, pois concorre para o estímulo das taxas de natalidade;
2. Dificultar novos nascimentos através do aumento de impostos (sobretaxa de impostos) aos
pais que têm mais filhos ou desencadeamento de políticas directas de controlo de
natalidade, oficializando o aborto ou distribuindo anticoncepcionais. Este tipo de política
chama-se antinatalista;

1.3 - A Demografia no contexto das Ciências Sociais

No início da década de 70, J. Bourgeois-Pichat escrevia que "o desenvolvimento económico é


antes de mais uma questão de produção de bens e serviços (...). Os seus objectivos são fixados
em função de necessidades, quer dizer de normas de consumo. A determinação dessas normas é
da competência dos peritos nos diversos domínios (...).

As variáveis demográficas não são estranhas à determinação das normas (...). É bem evidente
(...) que as necessidades de uma colectividade dependem da sua composição por idade bem
como do nível de fecundidade e mortalidade. Também os bens e serviços consumidos pelas
famílias dependem das características demográficas dessas famílias (dimensão e composição).
Enfim, certas necessidades individuais de nutrição estão igualmente ligadas à fecundidade e à
mortalidade. Mas, sobretudo, cada categoria média a partir da qual o especialista determina uma
norma de consumo é, na maior parte das vezes, definida em função de características
demográficas: crianças, adultos, pessoas idosas, trabalhadores, mulheres grávidas, jovens
casais, doentes, estrangeiros, famílias, aldeias, etc. Daí uma colaboração evidente e necessária
entre os diversos cientistas e os demógrafos, sendo estes últimos os únicos em condições de
quantificar as unidades em cada categoria e de permitir assim passar das necessidades
individuais médias às necessidades de conjunto, quer dizer à produção global indispensável à
satisfação de necessidades.

21
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Ao referir-se à demografia, Alain Girard observava igualmente que "a demografia, como qualquer
outra ciência, não se propõe apenas descrever os fenómenos. A estatística é um instrumento de
que se serve para tentar explicá-los, quer dizer determinar as causas e apreciar as
consequências". E logo a seguir acrescentava: "Os fenómenos demográficos não são
independentes do meio no qual se produzem. Desde logo, o demógrafo é obrigado a investigar as
relações que podem existir entre as suas variações e os diversos factores susceptíveis de exercer
uma influência sobre elas, factores de ordem médica, intelectual, moral, religiosas, política,
económica (...). A demografia quantitativa interessa-se pela distribuição de certas características
no seio das populações (...) etc. Do mesmo modo, a situação demográfica de um país tem
repercussões profundas nos mais diversos domínios. O poder político ou militar, a atmosfera
moral, o dinamismo de um povo e, em primeiríssimo lugar, o bem-estar dos habitantes e o
desenvolvimento económico, não são independentes do número de homens, do crescimento mais
ou menos rápido da população.

Falar-se-á aqui de demografia económica ou de demografia social (...). A análise


demográfica permite tomar consciência de toda a espécie de fenómenos no seu aspecto
numérico (...). Eis alguns exemplos: as deslocações no espaço, o crescimento das cidades, os
meios de transporte e de comunicação, o planeamento regional. O envelhecimento ou a
senescência, problema biológico e individual, ligado à higiene e à medicina, repercute-se sobre
toda a sociedade quando os efectivos ou as proporções de pessoas idosas aumentam e pesam
Bourgeois-Pichat sobre o conjunto da população. A repartição profissional (...) não cessa de se
modificar e de se transformar. Se o alcoolismo não é somente uma doença individual e se o
consumo global de álcool se agrava, tem consequências sobre a mortalidade geral e passa para o
campo da demografia. O ensino, submetido hoje a graves abalos devido ao afluxo crescente de
candidatos à instrução, apresenta-se a uma nova luz e a pedagogia não pode ignorar que se
dirige à massa. As autoridades responsáveis precisam conhecer e prever os efectivos.

A Demografia é hoje uma ciência com estatuto próprio. A sua utilização nas outras Ciências
Sociais, especialmente a Economia pelos economistas da população, é cada vez mais frequente
e de grande importância, tanto mais que os países industrializados já dispõem de dados
abundantes e de qualidade que permitem elaborar perspectivas de longo prazo. É da qualidade
dos registos de estado civil que depende a exactidão das taxas calculadas em Demografia. Na
maioria dos estados europeus a quase totalidade dos nascimentos, casamentos e falecimentos
começou a ser registados no início do século XIX. A situação é porém diferente no "Terceiro

22
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Mundo" onde se assiste mesmo, por vezes, a uma deterioração dos registos já existentes. As
comparações internacionais são prejudicadas pela pouca fiabilidade das estatísticas referentes a
muitos dos países menos desenvolvidos da América Latina, da Ásia e da África.

Em quase toda a parte os acontecimentos de estado civil são muito melhor declarados nas
cidades, onde a população compreende as vantagens que deles pode tirar (escolas, hospitais).
Seria excessivo, no entanto, pretender que os melhoramentos nesse capítulo vão a par com o
progresso da instrução e da modernização. No fim do século passado o grau de desenvolvimento
da Suécia rural era fraco e, todavia, todos os factos de estado civil eram aí consignados.

No longo prazo (digamos 50 anos por exemplo), trabalha-se em geral mais com
projecções do que com previsões. As primeiras, ainda que muito úteis, não têm o rigor das
segundas. Relembram-se as indicações de Léon Tabah nessa matéria: o termo previsão deve
ser reservado para os cálculos sobre o futuro pouco aleatório; a expressão projecção
demográfica diz respeito aos cálculos de tipo condicional sobre um futuro incerto; finalmente o
termo perspectiva demográfica cobre o conjunto.

O sistema oficial de informação mais corrente, observa Jean-Claude Chesnais, repousa sobre a
combinação de dados do recenseamento e do estado civil, aos quais se acrescentam os
inquéritos demográficos por sondagens e os registos da população.

Se o primeiro objectivo da investigação demográfica é determinar as grandezas que governam a


evolução da população (estrutura por idade e sexo, natalidade, mortalidade, nupcialidade,
divorcialidade, etc.), as tendências que se manifestam por causas endógenas ou exógenas e as
suas consequências a prazo, cada vez mais se procura estabelecer previsões (e não apenas
projecções) que ajudem a orientar a política económica e social em campos tão diversas como:
residência urbana e rural, agrupamento de famílias em divisões do território, frequência escolar,
distribuição de doenças no país, evolução do trabalho profissional, atitudes e opiniões, etc.

Para além do campo de estudo da população, propriamente dito, há diversas áreas do saber que
compartilham as preocupações da ciência demográfica, podendo-se citar as seguintes:

1. Ecologia humana;
2. Geografia da população;
3. Estudos actuariais;
4. Epidemiologia;

23
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
5. Biometria;
6. Genética da população.

1.3.1 - A distinção entre Demografia Social e Análise Demográfica.

A demografia continuará a ser uma disciplina devido a sua abordagem; a sua exigência de que as
conclusões serão de acordo com dados observáveis e verificáveis no mundo real, que estes
dados sejam utilizados com maior astúcia possível para obter o seu significado real e que o
estudo deve ser representativo de populações (de tamanho) consideráveis ou significativas e
definíveis.

Podemos distinguir duas dimensões da demografia: a "demografia pura" (ou mais precisamente a
análise demográfica) e a demografia geral. A primeira é, antes de mais, um exercício técnico,
uma aplicação da estatística às populações humanas. A segunda interessa-se pelas causas que
produziram os fenómenos estudados e pelas suas consequências possíveis, analisando
igualmente as estruturas biológicas, socio-económicas, culturais e étnicas das populações,
procedendo ao estudo da repartição por sexos, idade, profissão, habitat, nível de instrução,
nacionalidade, etnia, etc.

As técnicas da Análise Demográfica são essenciais ao estudo dos problemas do desenvolvimento


económico, não só porque o factor humano é elemento central na interacção, entre crescimento
económico e crescimento demográfico. Por sua vez, porque no quadro multidisciplinar que
caracteriza o desenvolvimento, a conjugação destas duas disciplinas é fulcral tanto para avaliar o
desenvolvimento das nossas próprias sociedades como para melhor compreender formas de
relacionamento entre os países do Norte e do Sul, que estão a delinear-se actualmente.

1.4 - As fontes de informação da Demografia.

A Demografia é das ciências sociais que mais explora a informação disponível. Para que os
demógrafos possam com propriedade descrever e analisar o comportamento das principais
variáveis demográficas: fecundidade, mortalidade e migração, bem como a estruturara e a
dinâmica da população de uma determinada região ou país, foram desenvolvidas técnicas e
artifícios de diversa natureza e foi feito um esforço muito grande no sentido de se mobilizar
recursos tendentes à melhoria dos sistemas de recolha de informações sócio - demográficas em
quase todos os países do mundo.

24
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
As principais fontes de dados demográficos são: os Censos Nacionais, o Registo Civil e as
Pesquisas de âmbito nacional (Inquéritos Demográficos), que proporcionam material de base para
investigar as causas e as consequências da alteração dos índices da população. A variação vem
determinada pelo número de nascimentos, falecimentos, imigrantes e emigrantes registados ao
longo de um determinado período de tempo. Estes factores de mudança são representados como
percentagens da população total para calcular por comparação o índice de natalidade, de
mortalidade, de imigração e de crescimento da população.

1.4.1 - Censos Gerais da População e Habitação

Os Censos definem-se como um conjunto de operações que consistem na colheita,


processamento, avaliação, análise e publicação de dados demográficos, económicos e sociais
referentes a todos os habitantes de um país ou de uma parte bem definida deste país num
momento específico.

1.4.1.1 - História dos censos

Devido à multiplicidade de critérios na definição de um censo, não é fácil afirmar com certeza,
quando o 1º censo foi realizado. Confúcio menciona em censo executado na China, durante o
reinado do rei Yaó, no ano de 2238 a.C.

Há também os censos da Bíblia. Estão relatados censos do povo de Israel realizados por Moisés
em Números (dois censos) e por Davi em II Samuel. Em Lucas, é mencionado um decreto do
imperador romano convocando toda a população do império para recensear-se, cada um em sua
própria cidade. Por isso José saiu de Nazaré com Maria, sua esposa, que estava grávida e foi
para Belém onde Jesus nasceu.

Os levantamentos populacionais da Sicília (1501) e de diversas outras regiões da Itália (anos


próximos), são algumas vezes apontados como os primeiros censos, no sentido pleno. Entretanto,
a maioria dos estudiosos considera o censo sueco (1749) como o 1º a satisfazer quase todos os
critérios considerados essenciais para um recenseamento moderno.

Desde 1980, não existe um país que nunca realizou um censo, embora alguns como o
Afeganistão e a Etiópia tivessem, somente uma experiência deste tipo; e em outros países como
Angola, Butão, Camboja e Coreia do Norte, a informação estava bastante desactualizada
(Hakkert,1996).

25
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Muito antes da era cristã, os impérios do Egipto, da Babilónia, da China e Romano já executavam
contagens periódicas das suas populações, com finalidades militares e fiscais. Nestes censos
antigos, só eram enumerados os chefes de famílias, proprietários de terras ou homens sujeitos ao
alistamento militar. O censo romano, por exemplo, foi realizado de cinco em cinco anos, durante
quase oito séculos.

1.4.1.2 - Características essenciais de um censo:

As principais características de um censo são:

1. Segredo Estatístico: Garantir o sigilo da informação prestada.


2. Direcção Oficial – O Estado deverá: especificar o escopo, especificar os objectivos,
determinar o orçamento, administrar o processo, exigir a obrigatoriedade da população
em fornecer dados, estabelecer medidas punitivas para aqueles que não o fizerem e
legalizar o pessoal a envolver no processo.
3. Periodicidade definida – Em geral os censos são realizados de 5 em 5 anos ou de 10
em 10 anos.
4. Simultaneidade de todo o levantamento – Em geral um censo deve ser iniciado a
meia-noite de uma data para a outra e que deve ser a data de referência obrigatória.
Deverão ser incluídos indivíduos vivos nesta data e mortos a chegada do recenseador;
e excluídas todas crianças nascidas depois desta data.
5. Referência territorial predefinida: Deve ser bem definido o espaço do território onde
se fará o censo e bem preparada a respectiva cartografia.
6. Universalidade da informação dentro deste território: Tem que abranger todo
espaço geográfico da área definida.
7. Enumeração Individual: É assim exigido para melhor qualidade de dados
demográficos.
8. Disponibilidade dos resultados: Cumprir com os prazos e publicar os dados por
áreas geográficas, população total por idade e sexo.
De realçar que em função dos objectivos perseguidos distinguem-se:

Censos Administrativos: que consistem no agrupamento das pessoas de cada bairro ou aldeia
por família e seu registo num livro próprio actualizável periodicamente para se conhecer a
população que não cumpre com as formalidades legais por ex. o pagamento de impostos ou
outras contribuições;

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Censos Eleitorais: destinados à inscrição da população em idade de votar na altura da
realização de pleitos eleitorais.

Um Censo pode ser designado de Facto, quando tem em conta o local onde se encontra o
individuo na altura da realização do Censo e de Direito quando considera o local onde o
individuo reside habitualmente. Existem países que combinam os dois critérios.

1.4.1.3 - Etapas principais para a realização de um CGPH

1 – Planificação da Operação: Esta etapa implica identificar:

- O que vamos investigar?

- Porquê que vamos investigar?

- Como vamos investigar?

- Onde vamos investigar?

- Quando vamos Investigar?

- Com quem vamos investigar?

- Consulta a todos os sectores da actividade económica e social do país para a determinação das
suas necessidades,

- Preparação da cartografia com divisões administrativas bem definidas: Província, Município,


Comuna, Zona, Bairro, Sector, Quarteirão, Ruas, Edifícios.

- Preparação dos recenseadores (um recenseador deverá apenas por regra inquirir 300-400
habitantes).

2 – Execução do Trabalho de campo: Preenchimento dos formulários censitários

3 – Processamento e análise da informação;

4 – Publicação dos resultados obtidos.

1.4.1.4 - Principais dados de um censo de população e habitação

1- Dados sobre as características Geográficas;

2 – Dados sobre o edifício, apartamento e família;


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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
3 – Dados sobre as características pessoais: sexo, idade, estado civil e nacionalidade;

4 – Dados sobre as características culturais;

5 - Dados sobre características socioeconómicas;

6 – Dados sobre a fecundidade e a mortalidade;

7 – Dados sobre migrações.

1.4.2 - Registos administrativos


O desenvolvimento da sociedade representa um ininterrupto processo de produção, distribuição, e
consumo de bens materiais. Este processo reflecte a interligação de uma série de fenómenos
económicos, sociais, políticos, demográficos e sociais, assim como outros factos que surgem de
forma massiva que, sem uma análise sistemática das suas causas e consequências, bem como
das suas tendências futuras, torna-se impossível qualquer forma de organização social que
inspire a satisfação das crescentes necessidades humanas.

A base da análise que é feita sobre estes fenómenos, radica, sem dúvidas, nos dados produzidos
pelos sistemáticos registos destas ocorrências. Deste modo, um registo pode ser entendido
como um ininterrupto e sistemático apontamento ou medição dos mais variados fenómenos,
processos e factos que marcam o desenvolvimento social, em que cada elemento ou unidade
deve ser necessariamente registado porque se pressupõe que possui característica quantitativa.

Actualmente, assiste-se a um incalculável aperfeiçoamento de todos os instrumentos de direcção


e planeamento da economia. Um destes instrumentos é o registo administrativo para fins
estatísticos.

Em suma, um registo administrativo não é mais do que um processo de recolha de dados que um
organismo ou empresa organiza para si próprio. Esta informação para ser utilizada para fins
estatísticos tem que ser tratada adequadamente.

São exemplos de registos administrativos os seguintes:

 Registo Civil ( ⃰ );
 Registo de Contribuintes;
 Registo de consumidores privados de energia eléctrica;
 Registo de consumidores privados de água;

28
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
 Registo de consumidores privados de telefonia;
 Registo predial;
 Registo de automóveis;
 Matrículas escolares,
 Registo de Serviços de Emigração e Fronteiras;
 Registos de dos efectivos militares desmobilizados;
 Registo de doentes por tipos de enfermidades;
 Registo de velhos da 3ª idade;
 Registo de empresas etc. etc.
( ⃰ ) Os mais relevantes para fins demográficos são os Registos Civis, também chamados de
Sistema de Estatísticas Vitais.

1.4.3 - Registo civil

É o termo jurídico que designa o assentamento dos factos da vida de um indivíduo (factos vitais),
tais como o seu nascimento, casamento, divórcio ou morte (óbito). Também são passíveis de
registo civil as interdições, as tutelas, as adopções, os pactos pré-nupciais, o exercício do poder
familiar, a opção de nacionalidade, os testamentos entre outros factos que afectam directamente
a relação jurídica entre diferentes cidadãos.

1.4.3 .1- História

O registo de indivíduos remonta à antiguidade, no entanto, aplicava-se apenas a alguns poucos


que na época possuíam o título de cidadãos (homens livres). Depois da queda do Império
Romano, a Igreja Católica tornou-se a responsável pelo registo dos indivíduos e dos seus títulos,
continuando a tradição clássica de registar factos que envolviam somente pessoas com posses,
sejam de ordem eclesiástica, dinástica ou nobiliárquica.

A primeira vez que se institui o registo universal dos baptismos e das mortes (sepulturas) foi em
1539 com a Ordenança de Villers-Cotterêts no Reino da França. Somente com o fim do Concílio
de Trento, em 1563, é que a obrigatoriedade do registo de baptismos, matrimónios e mortes de
todos os indivíduos é estendida à totalidade do mundo católico.

Finalmente, no início do século XIX o Registo civil como é conhecido hoje, ou seja, universal e
laico foi criado com o advento do Código Napoleónico de 1804.Todos os territórios sob o jugo de
Napoleão Bonaparte foram obrigados a adoptar o novo código, o que afectou sensivelmente o
29
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
poder da Igreja Católica. Pode-se considerar que o Código Napoleónico tenha sido o maior legado
de Napoleão à Humanidade, pois directa ou indirectamente e mesmo no Oriente todos os países
do mundo sofreram a sua influência em maior ou menor grau, o que se evidencia nos seus
sistemas legais.

Em suma, os registos civis, são registos oficiais sobre os principais acontecimentos vitais que
ocorrem numa determinada população, tais como:

 Nascimentos,
 Mortes,
 Matrimónios
 Divórcios
 Adopções etc.
Antigamente, tal como já se fez referência, estes factos ou acontecimentos, eram certificados
pelos organismos eclesiásticos. Hoje em dia, estes factos são registados por organismos
governamentais, normalmente chamados Registos Civis.

Um Registo Civil consiste na inscrição legal e compulsiva, com carácter contínuo e permanente,
dos acontecimentos vitais. Tem carácter compulsivo pelo facto de, aqueles que dele se furtarem
serem passíveis de sanção legal, porque não serão contabilizados e, como consequência não
poderão ter acesso aos serviços básicos. Neste sentido, o registo civil tem duas finalidades:

o Finalidade Jurídico-legal (função legal);


o Finalidade Estatística ou de compilação de informação (função estatística).
A finalidade jurídico-legal, constitui, de facto, a razão original da institucionalização do registo
civil que se consubstancia na produção de uma Base de Dados fiáveis respeitantes à existência,
filiação das pessoas, domicílio, e outras referências de natureza biológica, social ou jurídica,
necessárias para testemunhar “oficialmente” e por escrito os acontecimentos referidos.

A finalidade estatística foi incorporada ao registo civil, apenas no século. XX, para:

o Permitir a descrição e compreensão das relações entre as variáveis demográficas;


o Permitir a tomada de decisões optimizadas e mais rápidas;
o Facilitar a tomada de decisões para fazer face à mudança.
Como se pode ver, num Censo, a unidade de enumeração é o Individuo, enquanto que a
unidade de enumeração do registo civil é o Evento Demográfico (factos vitais).

30
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Segundo as Nações Unidas, o Sistema de Estatísticas Vitais, ou Registo Civil, deve compreender:

 O registo oficial dos eventos vitais (óbitos, nascimentos, casamentos, divórcios e,


eventualmente, adopções, legitimações, e mudanças de residência);
 A contabilização destes registos em informes estatísticos;
 A sua sistematização e consolidação; e
 A elaboração e publicação periódicas de relatórios sobre os eventos registados
Actualmente, na esmagadora maioria dos países desenvolvidos, os registos de alguns eventos
vitais são efectuados através da Internet.

O registo civil on-line veio tornar a vida das pessoas mais simples. Através da utilização deste site
vai passar a ser mais simples praticar actos de registo civil. É eliminada a necessidade de
deslocações às conservatórias e permite-se que as pessoas possam praticar actos de registo civil
de forma mais cómoda, mais simples e mais rápida. O primeiro serviço disponível no registo civil
on-line é a possibilidade de dar início ao processo de casamento (civil, católico e religioso) a partir
de casa ou de qualquer outro local com acesso à Internet, sem necessidade de se deslocar à
conservatória.

1.4.4 - Inquéritos Demográficos


Um inquérito Demográfico é o conjunto de operações orientadas para a obtenção de informação
sobre um objecto especial, através de entrevistas directas com os interessados ou por via de
correspondência. Estas operações são realizadas com fins diversos, cobrindo um vasto campo de
investigação científica, nos domínios da sociologia, economia, administração pública, psicologia,
estudos de mercado etc. Actualmente são largamente utilizados na Demografia e saúde pública,
dada a ausência de informação demográfica ou a deficiente informação disponível.

Por exemplo: Um estudo feito em Angola para fazer o levantamento de pessoas infectadas por
alguma epidemia.

O inquérito em geral se aplica apenas a uma parte da população, designada Amostra. Hoje em
dia, os inquéritos estão a ganhar terreno como forma mais rápida e eficiente para a obtenção de
dados necessários para uma investigação concreta.

Na generalidade, os inquéritos estatísticos são usados para recolher informação quantitativa


nos campos de marketing, sondagens políticas, e pesquisa nas ciências sociais. Um inquérito

31
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
pode incidir sobre opiniões ou informação factual, dependendo do seu objectivo, mas todos os
inquéritos envolvem a ministração de perguntas a indivíduos.

Quando as perguntas são colocadas por um pesquisador, o inquérito é chamado de entrevista ou


inquérito ministrado por um pesquisador.

Quando as questões são administradas pelo respondente, o inquérito é referido por questionário
ou um inquérito auto-administrado.

Um questionário é um instrumento de investigação que visa recolher informações baseando-se,


geralmente, na inquisição de um grupo representativo da população em estudo. Para tal, coloca-
se uma série de questões que abrangem um tema de interesse para os investigadores, não
havendo interacção directa entre estes e os inquiridos.

1.4.4.1 - Estrutura e padronização dos inquéritos

As questões de um inquérito estão normalmente estruturadas e padronizadas. A estrutura


pretende reduzir o enviusamento. Por exemplo, as questões devem ser ordenadas de tal forma
que uma questão não influencie a resposta às questões subsequentes. Os inquéritos são
padronizados para assegurar a confiança, generalidade e a validade. Cada respondente deverá
ser apresentado com as mesmas questões e na mesma ordem que os outros respondentes.

Vantagens dos inquéritos estatísticos:

 É uma forma eficiente de colectar informação de um grande número de respondentes.


Grandes amostras são possíveis. Técnicas estatísticas podem ser usadas para determinar
a validade, a fiabilidade e a significância estatística.
 Os inquéritos são flexíveis no sentido em que uma grande variedade de informação pode
ser recolhida. Eles podem ser usados para estudar atitudes, valores, crenças e
comportamentos passados.
 Porque eles estão padronizados, eles estão relativamente livres de vários tipos de erros.
 São relativamente fáceis de ministrar.
 Há uma economia da colecta dos dados devido à focalização providenciada por questões
padronizadas. Apenas questões de interesse para o pesquisador são colocadas, gravadas,
codificadas e analisadas. Tempo e dinheiro não são gastos em questões tangenciais e/ou
supérfluas.
32
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Desvantagens dos inquéritos:

 Eles dependem da motivação dos sujeitos, sua honestidade, memória e capacidade de


resposta. Os respondentes podem não estar conscientes das suas razões para qualquer
determinada acção. Eles podem ter esquecidos as suas razões. Eles podem não estar
motivados para dar respostas correctas, na verdade, eles podem estar motivados a
fornecer respostas que os apresentem numa luz favorável.
 Inquéritos não são apropriados para estudar fenómenos sociais complexos. O indivíduo
não é a melhor unidade de análise nestes casos. Os inquéritos não dão um completo
senso dos processos sociais e a análise parece superficial.
 Inquéritos estruturados, particularmente aqueles com repostas fechadas, podem ter baixa
validade quando pesquisando variáveis afectivas.
 As amostras de inquéritos são normalmente auto-escolhidas, e por isso amostras sem
probabilidade das quais as características da população não podem ser inferidas.

Vantagens dos questionários auto-administrados:

 São menos caros que as entrevistas.


 Não requerem um grande número de entrevistadores qualificados.
 Podem ser ministrados em grande número, num curto espaço de tempo, num só lugar.
 A anonimidade e privacidade encorajam respostas mais cândidas e honestas.
 Não há enviusamentos pelo entrevistador.
 Rapidez de ministração e análise.
 Possível de ser processada por computador.
 Menor pressão nos respondentes

Vantagens das entrevistas administradas pelo pesquisador:

 Menos questões mal entendidas e respostas impróprias.


 Menos respostas incompletas.
 Maior taxa de respostas.
 Maior controlo sobre o ambiente no qual o inquérito é ministrado.

Métodos de inquérito:

Há várias formas de administrar um inquérito, incluindo:


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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
 Telefone
 Correio
 Inquéritos on-line
 Inquérito pessoal em casa
 Inquérito por intercepção de passantes no shoping comercial

1.4.4.2 - Objectivos dos inquéritos estatísticos no domínio da investigação Demográfica


No campo da Demografia, os inquéritos estatísticos são geralmente usados para:

 Medir as relações entre as variáveis demográficas e socioeconómicas;


 Obter informações complementares em relação aos censos e estatísticas vitais;
 Avaliar a cobertura do censo mediante um inquérito pós-censitário;
 Aumentar a rapidez da divulgação de dados censitários mediante a publicação de
tabulações refinadas, com base numa amostra dos formulários censitários recolhidos;
 Investigar aspectos técnicos e metodológicos aplicáveis às estatísticas demográficas
(avaliação de erros comuns – omissão de pessoas, erros na declaração da idade, omissão
de crianças pequenas, omissões nas declarações de nascimentos e mortes);
 Conhecer profundamente as atitudes e comportamentos sobre migrações internas e suas
determinantes, planificação familiar, padrões de fecundidade e factores associados ou
padrões de formação de domicílios.
Importa salientar que a principal limitação dos inquéritos por amostragem radica no facto de que
eles se referem apenas a segmentos determinados da população.

Em função da frequência com que os inquéritos são realizados, distinguem-se:

a) Inquéritos Prospectivos: em que a população da amostra é entrevistada periodicamente


para se detectar as mudanças ocorridas na sua situação.
b) Inquéritos Retrospectivos: onde é feita apenas uma entrevista e se reconstrói os
eventos relevantes que tiveram lugar no passado com base na memória do entrevistado.

1.5 - As principais variáveis demográficas.


Em Demografia, ao determinar a estrutura, evolução e dinâmica é necessário o estudo de
variáveis como a natalidade, mortalidade e as migrações, sendo essas as principais variáveis
demográficas.

34
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Para se estudar a população utilizam-se indicadores ou variáveis como, taxa de natalidade, a taxa
de fecundidade, o índice sintético de fecundidade e a taxa de mortalidade. Neste sentido, para os
demógrafos consideram, que para se analisar com rigor uma população não podemos utilizar
apenas a taxa de natalidade, a qual se limita a relacionar os nascimentos com a população.

1.5.1 - Natalidade: A maior parte da população, em virtude da sua faixa etária não está em fase
de procriação. Porém, é preferível usar a taxa de fecundidade em que apenas se consideram as
femininas com idade entre os 15-49 anos, ou seja em idade de procriar. Para além da taxa de
natalidade e da taxa de fecundidade usa-se também o índice sintético de fecundidade.
O estudo da natalidade assenta no cálculo de várias taxas que permite exprimir certos aspectos
essenciais do fenómeno. Essas taxas tornam possível mostrar diferenças regionais e apreciar a
evolução com o tempo. Geralmente só se consideram Nados-vivos, pois apenas em situações
específicas é que se entra em linha de conta com os Nados-mortos.
Claro que, a natalidade é número de crianças que nascem ou de Nados-vivos ocorridos num
determinado período, geralmente em um ano, numa dada região ou País. A análise da natalidade
efectua-se através da taxa bruta da natalidade. Esta é o número de Nados-vivos ocorridos
durante um ano, por cada 1000 habitantes de um dado território.
As taxas de natalidade mais elevadas, superior a 28% dizem respeito a muitos países de África,
Ásia, América central, Paraguai, América do sul, Papua-Nova Guiné (Oceânia). Ao passo que as
taxas mais baixas, inferiores as 12% registam-se na Europa, Rússia, Japão e Canadá.
Numa população com estrutura normal a taxa de natalidade não pode ultrapassar um certo limite
superior, que corresponde ao máximo fisiológico para a espécie humana. Este limite é difícil de
determinar, mas admite-se que se situa a volta de 55%. Neste caso, cada mulher terá uma
descendência média de 5 a 8 filhos.
A natalidade depende de numerosos factores, na maior parte relacionados entre si e por isso
difíceis de destrinçar. De uma maneira podem-se sistematizar da seguinte forma: factores
demográficos, sociais e económicos, religiosos e doutrinais, factores políticos.
A nupcialidade se refere o matrimónio como um fenómeno da população, incluindo sua
quantificação, as características das pessoas unidas em matrimónio e a dissolução dessa união,
mediante o divórcio, a separação, a viuvez. A nupcialidade é também importante. O número de
casamentos que condiciona a natalidade na medida em que a ilegitimidade das uniões tende a
restringir o número de filhos nascidos dela. Por outro lado, a idade com que a mulher casa é
decisiva, pois quanto mais nova, maior será a probabilidade de ter muitos filhos.

35
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Todos esses factores se conjugam para que as taxas de natalidade sejam diferentes nos vários
países ou território.
1.5.2 - Mortalidade: O estudo da mortalidade faz-se identicamente com base em várias taxas que
permite pôr em evidencias certos aspectos do fenómeno. Essas taxas tornam possível
estabelecer diferenças regionais e apreciar a evolução com o tempo.
Mortalidade infantil é o número de mortos de crianças menores de um ano de idade numa
determinada área geográfica. A taxa de mortalidade infantil é o número de óbitos de crianças com
idade inferior a um ano, por cada mil Nados-vivos, num certo período de tempo geralmente um
ano, em dado território.
A taxa de mortalidade exprime o número de óbitos por 1000 habitantes durante um ano isto
Muitas crianças morrem antes de atingir o seu primeiro ano de vida, frequentemente nos dias e
semanas que se seguem ao seu nascimento. De um modo geral, a taxa de mortalidade infantil
tem decrescido em todo o mundo, logo, registam-se valores muitos elevados em determinadas
regiões do mundo. As mais altas, superiores a 16% encontram-se em muitas regiões africanas e
em algumas da Ásia, que se denominam a expressão, regiões em via de desenvolvimento. As
taxas de mortalidade infantil mais baixas, inferiores a 10% registam-se nos países desenvolvidos.
África subsariana é assim a região do mundo onde a taxa de mortalidade infantil é a mais
elevada.
A taxa de mortalidade varia com sexo: Porém, a mortalidade masculina é quase sempre maior do
que a mortalidade feminina, tanto no total da população, como por grupos etários. Este facto
resulta de vários factores. Um deles é a menor resistência dos homens a certas doenças. Outro é
a vida mais activa e portanto de maior desgaste. O alcoolismo, o fumo e outros vícios contribuem
para abreviar a vida dos homens. A pesar de nascerem normalmente mais rapazes que raparigas,
em médias 100 para 105, a mortalidade mais elevada dos primeiros tem por consequência um
predomínio das segundas, que vai aumentando com a idade. Esta diferença da mortalidade com o
sexo já se verifica mesmo que no ventre da mãe, pois nos Nados-mortos predominam os do sexo
masculino.
A taxa Bruta de Mortalidade expressa a intensidade com a qual a mortalidade actua sobre uma
determinada população. A taxa bruta de mortalidade é influenciada pela estrutura da população
quanto à idade e ao sexo, Taxas elevadas podem estar associadas as baixas condições
socioeconómicas ou reflectir elevada proporção de pessoas idosas na população total.
Elas permitem a comparação temporal e entre regiões.

36
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
1.5.3 - Migrações: São caracterizadas como processos de entrada e saída de uma população
numa determinada região ou país, durante um certo período de tempo, normalmente um ano. Há
que afirmar que as migrações classificam-se em Imigrações que são movimentos de entrada
para uma determinada região (destino) e Emigrações que são movimentos de saída nas
localidades de origem (origem).

UNIDADE II: ESTADO DA POPULAÇÃO

2.1. CARACTERÍSTICAS SOCIAIS E CULTURAIS: O CONCEITO DE RAÇA, NOÇÃO DE


ETNIA, GRUPO ÉTNICO, TRIBO, POVO, DOMICÍLIO E FAMÍLIA.

A análise das características sociais e culturais de uma determinada população, remete-nos à


apresentação e discussão dos conceitos de raça, grupo étnico, tribo, clã, linhagem, povo,
nação, pátria, domicílio e família.

Quando se faz um estudo de uma determinada população num determinado território é


fundamental indagar os aspectos atinentes à sua raça, embora sendo este termo bastante
controverso pelo facto de estar propenso a segregação, saber a pertença étnica de uma
população ou família em particular, bem como a tribo, clã, linhagem, o tipo de povo, a sua nação e
pátria. São aspectos que no estudo da população interessam bastante ao demógrafo, por que
qualquer que seja uma política social deve ter em conta esses elementos sob forma de procurar
defender os valores culturais e os direitos das minorias.

a) - Raça

Do ponto de vista antropológico, a palavra “raça” indica uma categoria de indivíduos que
apresentam características somáticas comuns, presumidas hereditárias.

Devido à mistura de raças que se vem verificando na sociedade humana (aparição de raças
mistas), a tipificação somática foi perdendo o seu significado real, perante a tipificação
socioeconómica e cultural. Deste modo, a definição de raça passou a ser a “ auto-qualificação”
feita pelos entrevistados, tal como acontece nos censos dos Estados Unidos da América.

O conceito de raças humanas foi usado pelos regimes coloniais e pelo apartheid (na África do
Sul), para perpetuar a submissão dos colonizados; actualmente, só nos Estados Unidos se usa
uma classificação da sua população em raças, alegadamente para proteger os direitos das
minorias.
37
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
A definição de raças humanas é principalmente uma classificação de ordem social, onde a cor da
pele e origem social ganham, graças a uma cultura racista, sentidos, valores e significados
distintos. As diferenças mais comuns referem-se à cor de pele, tipo de cabelo, conformação facial
e craniana, ancestralidade e, em algumas culturas, genética. O conceito de raça humana não se
confunde com o de subespécie e com o de variedade, aplicados a outros seres vivos que não o
homem.

Pelo seu carácter controverso (seu impacto na identidade social e política), o conceito de raça é
questionado por alguns estudiosos como fonte de conflitos sociais; entre os biólogos, é um
conceito com certo descrédito por não se conformar a normas taxonómicas aceitáveis.

Algumas vezes utiliza-se o termo raça para identificar um grupo cultural ou etnolinguístico, sem
quaisquer relações com um padrão biológico. Nesse caso pode-se preferir o uso de termos como
população, etnia, ou mesmo cultura.

A primeira classificação dos homens em raças foi a “Nouvelle division de la terre par les différents
espèces ou races qui l'habitent” ("Nova divisão da terra pelas diferentes espécies ou raças que a
habitam") de François Bernier, publicada em 1684. No século XIX, vários naturalistas publicaram
estudos sobre as “raças humanas”, como Georges Cuvier, James Cowles Pritchard, Louis
Agassiz, Charles Pickering e Johann Friedrich Blumenbach. Nessa época, as “raças humanas”
distinguiam-se pela cor da pele, tipo facial (principalmente a forma dos lábios, olhos e nariz), perfil
craniano e textura e cor do cabelo, mas considerava-se também que essas diferenças reflectiam
diferenças no conceito de moral e na inteligência, pois uma caixa cranial maior e/ou mais alta
representava um cérebro maior, mais alto e por consequência maior quantidade de células
cerebrais).

A necessidade de descrever os “outros” advém do contacto social entre indivíduos e entre grupos
diferentes. No entanto, a classificação de grupos traz sempre consequências negativas,
principalmente pelo facto dos termos empregues poderem ser considerados pejorativos pelos
grupos visados (ver, por exemplo ameríndio e hotentote). Tradicionalmente, os seres humanos
foram divididos em três ou cinco grandes grupos de linhagem (dependendo de interpretação),
mas a denominação de cada um – pelo motivo indicado – tem variado ao longo do tempo:

1. Mongolóide(raça amarela): povos do leste e sudeste asiático, Oceânia (malaios e


polinésios) e continente americano (esquimós e ameríndios).
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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
2. Caucasóide (raça branca): povos de todo o continente europeu, norte da África e parte do
continente asiático (Oriente Médio e norte do território Indiano).
3. Negróide(raça negra): povos da África Subsaariana.

Os outros dois grupos de linhagem humana poderiam ser:

 Australóide: sul da Índia (drávidas), negritos das Ilhas Andaman (Oceano Índico), negritos
das Filipinas, aborígenes de Papua-Nova Guiné, aborígenes da Austrália e povos melanésios
da Oceania.
 Capóide: tribos Khoisan (extremo sul do continente africano).

Obs. Apesar de poderem ser considerados como dois grupos distintos de linhagem humana,
australóides e capóides também podem ser considerados como negróides, de acordo com essa
mesma classificação tradicional.

Como qualquer classificação, esta é imperfeita e, por isso, ao longo do tempo, foram sendo
usados outros termos, principalmente para grupos cujas características não se ajustavam aos
grupos “definidos”, como é o caso dos pardos para indicar os indígenas do sub-continente
indiano, entre outros. De notar que, a par desta classificação baseada em características físicas,
houve sempre outras, mais relacionadas com a cultura, principalmente a religião dos “outros”,
como os mouros ou “infiéis”, como os europeus denominavam os muçulmanos, ou os judeus.

Análises genéticas recentes permitem que a evolução e migrações humanas sejam representadas
duma forma cladística. Estes estudos indicam que, como pensam os que defendem a teoria da
origem única, a África foi o berço da humanidade, outros defendem a teoria da origem
multiregional. Verificou-se que os aborígenes australianos foram originados num grupo que se
isolou dos restantes há muito tempo e que todos os outros grupos, incluindo “europeus”,
“asiáticos” e “nativos americanos” perfazem um único grupo monofilético resultante das migrações
para fora do continente africano e que poderia dividir-se no equivalente aos oeste e leste “euro-
asiáticos”, reconhecendo sempre haver muitos grupos intermédios.

Expressão raças humanas refere-se a um antigo conceito antropológico, fortemente criticado e


em desuso, mesmo nesta disciplina, desde meados da década de 1950, que classifica
populações ou grupos populacionais com base em vários conjuntos de características somáticas
e crenças sobre ancestralidade comum. As categorias mais amplamente usadas neste sentido

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
restrito, baseiam-se em traços visíveis, tais como cor da pele, conformação do crânio e do rosto e
tipo de cabelo, bem como a auto-identificação.

Em meados dos anos 1950, a UNESCO recomendou que o conceito de "raça humana", não-
científico e que levava à confusão, fosse substituído por grupos étnicos, o qual insiste fortemente
nas dimensões culturais dentro da população humana (língua, religião, costumes, hábitos etc.).
Todavia, as tentativas racistas persistem, como bem o demonstram os recentes debates sobre a
publicação de "The Bell Curve" (1994), de Richard Herrnstein e Charles Murray, que afirmam ter
estabelecido uma correlação científica entre "raça" (no caso, negros e brancos) e inteligência.

A palavra "raça" não deve ser utilizada para dizer que existe diversidade humana. A palavra
"raça" não tem base científica. Ela foi usada para exagerar os efeitos das diferenças aparentes,
ou seja, físicas. Não se pode basear nas diferenças físicas: a cor da pele, o tamanho, os traços do
rosto para dividir a humanidade de maneira hierárquica, ou seja, considerando que existem
homens superiores em relação a outros homens, que seriam postos em uma classe inferior.

b) Grupo étnico

i) Conceito: Etnia ou grupo étnico, traduz ou indica um agrupamento natural de indivíduos com
certas afinidades somáticas, linguísticas e culturais.

Uma etnia ou um grupo étnico é, no sentido mais amplo, uma comunidade humana definida por
afinidades linguísticas e culturais e semelhanças genéticas. Estas comunidades geralmente
reivindicam para si uma estrutura social, política e um território.

Exemplo: a etnia Bantu, a etnia Balanta.

A palavra etnia é usada muitas vezes erroneamente como um eufemismo para raça, ou como um
sinónimo para grupo minoritário.

Embora não possam ser considerados como iguais, o conceito de raça é associado ao de etnia. A
diferença reside no facto de que etnia também compreende os factores culturais, como a
nacionalidade, a afiliação tribal, a Religião, a língua e as tradições, enquanto raça compreende
apenas os factores morfológicos, como cor de pele, constituição física, estatura, traço facial, etc.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Etimologicamente, a palavra "etnia" é derivada do grego ethnos, significando "povo". Esse termo
era tipicamente utilizado para se referir a povos não-gregos, então também tinha conotação de
"estrangeiro". No posterior uso Católico - Romano, havia a conotação adicional de "gentio".

Um grupo étnico é um grupo de pessoas que se identificam umas com as outras, ou são
identificadas como tal por terceiros, com base em semelhanças culturais ou biológicas, ou ambas,
reais ou presumidas.

Tal como os conceitos de raça e nação, o de etnicidade desenvolveu-se no contexto da expansão


colonial europeia, quando o mercantilismo e o capitalismo promoviam movimentações globais de
populações ao mesmo tempo que as fronteiras dos estados eram definidas mais clara e
rigidamente. No século XIX, os estados modernos, em geral, procuravam legitimidade reclamando
a representação de nações. No entanto, os estados-nação incluem sempre populações indígenas
que foram excluídas do projecto de construção da nação, ou recrutam trabalhadores do exterior
das suas fronteiras. Estas pessoas constituem tipicamente grupos étnicos. Consequentemente, os
membros de grupos étnicos costumam conceber a sua identidade como algo que está fora da
história do Estado-nação – quer como alternativa histórica, quer em termos não-históricos, quer
em termos de uma ligação a outro Estado-nação. Esta identidade expressa-se muitas vezes
através de "tradições" variadas que, embora sejam frequentemente invenções recentes, apelam a
uma certa noção de passado.

Os grupos étnicos às vezes são sujeitos às atitudes e às acções preconceituosas por parte do
Estado ou por seus membros. No século XX, os povos começaram a discutir que conflitos entre
grupos étnicos ou entre membros de um grupo étnico e o estado podem e devem ser resolvidos
de duas maneiras. Alguns, como Jürgen Habermas e Bruce Barry, discutiram que a legitimidade
de estados modernos deve ser baseada em uma noção de direitos políticos para sujeitos
individuais autónomos. De acordo com este ponto de vista o estado não pode reconhecer a
identidade étnica, nacional ou racial e deve preferivelmente reforçar a igualdade política e legal de
todos os indivíduos. Outros, como Charles Taylor e William Kymlicka argumentam que a noção do
indivíduo autónomo é ela própria um construto cultural, e que não é nem possível nem correcto
tratar povos como indivíduos autónomos. De acordo com esta opinião, os estados devem
reconhecer a identidade étnica e desenvolver processos nos quais as necessidades particulares
de grupos étnicos possam ser levadas em conta no contexto de um Estado-nação.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
ii) Factores de Classificação dos grupos étnicos

I. Língua: Tem sido muitas vezes utilizada como factor primário de classificação dos grupos
étnicos, embora sem dúvida não isenta de manipulação política ou erro. É preciso destacar
também que existe grande número de línguas multiétnicas e determinadas etnias são
multilingues.
II. Cultura: A delimitação cultural de um grupo étnico, com respeito aos grupos culturais de
fronteira, se faz dificultosa para o etnólogo, em especial no tocante a grupos humanos
altamente comunicados com seus grupos vizinhos. Elie Kedourie é talvez o autor que mais
tenha aprofundado a análise das diferenças entre etnias e culturas.

Geralmente se percebe que os grupos étnicos compartilham uma origem comum, e exibem uma
continuidade no tempo, apresentam uma noção de história em comum e projectam um futuro
como povo. Isto se alcança através da transmissão de geração em geração de uma linguagem
comum, de valores, tradições e, em vários casos, instituições.

Embora em várias culturas se misturam os factores étnicos e os políticos, não é imprescindível


que um grupo étnico conte com instituições próprias de governo para ser considerado como tal. A
soberania portanto não é definidora da etnia, mas se admite a necessidade de uma certa
projecção social comum.

III. Genética: É importante considerar a genética dos grupos étnicos se devemos distingui-los
de um grupo de indivíduos que compartilham unicamente características culturais.

Estas características genéticas foram desenvolvidas durante o processo de adaptação daquele


grupo de pessoas a determinado espaço geográfico ou ecossistema (englobando clima, altitude,
flora e fauna) ao longo de várias gerações.

As etnias geralmente se remetem a mitos de fundação que revelam uma noção de parentesco
mais ou menos remoto entre seus membros. A genética actual tende a verificar a existência dessa
relação genética, porém as provas estão sujeitas à discussão.

c) Tribo

O termo tribo tem um alcance mais restrito, que indica, dentro de uma etnia, um grupo
organizado mínimo (comunidade ou aldeia) liderado por um chefe local. Visto historicamente ou

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
em evolução, uma tribo consiste de uma formação social antes do desenvolvimento de, ou fora
de, Estados. Muitas pessoas usam o termo para referir-se a sociedades indígenas não ocidentais.
Alguns cientistas usam o termo para referir a sociedades organizadas largamente baseadas em
corporações de grupos de descendentes. Em alguns países, tal como a Índia ou o Brasil, as tribos
têm estatutos legais reconhecidos e uma autonomia limitada pelo estado.

d) Clã

Um clã constitui-se num grupo de pessoas unidas por parentesco e linhagem e que é definido
pela descendência de um ancestral comum. Mesmo se os reais padrões de consanguinidade
forem desconhecidos, não obstante os membros do clã reconhecem um membro fundador ou
ancestral maior.

Como o parentesco baseado em laços pode ser de natureza meramente simbólica, alguns clãs
compartilham um ancestral comum "estipulado", o qual é um símbolo da unidade do clã. Quando
este ancestral não é humano, é referenciado como um totem animal (qualquer objecto, animal
ou planta que seja cultuado como deus ou equivalente por uma sociedade organizada em
torno de um símbolo ou por uma religião, a qual é denominada totemismo. Por definição
religiosa podemos afirmar que é uma etiqueta colectiva tribal, que tem um carácter
religioso. É em relação a ele que as coisas são classificadas em sagradas ou profanas). Em
geral, o parentesco difere da relação biológica, visto que esta também envolve adopção,
casamento e supostos laços genealógicos. Os clãs podem ser descritos mais facilmente como
sub-grupos de tribos e geralmente constituem grupos de 7000 a 10 000 pessoas.

i) Etimologia: Clã é a forma em língua portuguesa da palavra gaélica clann, que significa
"crianças". An Chlann Aoidh, o nome em gaélico escocês para o Clã Mackay, significa
literalmente "As Crianças do Fogo". Do qual Clannad é uma forma estendida da palavra
clann, e que pode ser traduzida por "família".

ii) Classificação: Alguns clãs são patrilineares, significando que seus membros são vinculados
à linhagem masculina; por exemplo, os clãs da Arménia. Outros são patrilineares, seus membros
são vinculados à linhagem feminina. Ainda existem clãs "bilaterais", consistindo de todos os
descendentes do ancestral maior, tanto da linhagem masculina quanto feminina; os clãs da
Escócia são um exemplo. Se um clã é patrilinear, patrilinear ou bilateral, depende das regras e
normas de parentesco que regem a sociedade onde ele se insere.
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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Em diferentes culturas e situações, um clã pode significar a mesma coisa que outros grupos
baseados em parentesco, tais como tribos e bandos. Frequentemente, o factor distintivo é que o
clã se constitui na parte menor de uma sociedade maior, tais como uma tribo ou um Estado.
Exemplos incluem clãs irlandeses, escoceses, chineses e japoneses, os quais existem como
grupos de parentesco dentro de suas respectivas nações. Observe-se, todavia, que tribos e
bandos podem também ser componentes de sociedades maiores.

e) Linhagem

Entende-se por linhagem a descendência varonil de uma família nobre, usando o mesmo nome e
armas. Temos, assim, por exemplo, a linhagem dos Vasconcelos, dos Távora, dos Albuquerque,
etc. A cada linhagem corresponde um símbolo Linhagem em genética refere-se ao tipo de raça
que uma espécie originou.

f) Povo

O termo povo, indica geralmente um conjunto de indivíduos unidos por um passado histórico
comum, falando frequentemente a mesma língua.

Do ponto de vista do Direito Constitucional moderno (a partir do século XVIII), o povo é o conjunto
dos cidadãos de um país, ou seja, as pessoas que estão vinculadas a um determinado regime
jurídico, a um Estado. Um povo está normalmente associado a uma nação e pode ser constituído
por diferentes etnias.

Na linguagem vulgar, a palavra povo pode referir-se à população de uma cidade ou região, a uma
comunidade ou a uma família; também é utilizada para designar uma povoação, geralmente
pequena.

i) História: Do ponto de vista histórico, o termo "povo" (do latim "populu", do etrusco "pupluna")
teve acepções bem diferentes. Para os gregos e romanos, o povo, que tinha a capacidade de
decidir sobre os assuntos do Estado, era composto apenas pelos cidadãos com disponibilidade
para isso.

Na Bíblia, o "povo de Deus" referia-se aos Judeus e, a partir do Concílio Ecuménico Vaticano II
passou a referir-se aos crentes da Igreja Cristã.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Na Idade Média, o povo era o "Terceiro Estado", ou seja, a plebe, sem direitos de estado, e ficou
com esse "estado" até aos nossos dias, considerado como a massa de cidadãos sem capacidade
psicológica para participar na gestão do Estado.

Mais tarde, com os Descobrimentos e a colonização, quando se "descobriram" e submeteram


outros povos, inventaram-se os "povos naturais", "povos primitivos" ou "povos indígenas" que, na
segunda metade do século XX passaram a ser designados por etnias.

g) Nação: (do latim, "natio") designa um grupo de indivíduos, ou comunidade humana, que
compartilha tradições culturais comuns (onde se inclui a etnia, língua, religião, mentalidade
predominante, educação); diferenciação geográfica, história, e, essencialmente, um sentimento
generalizado nesse grupo de indivíduos que comungam de uma mesma vontade (ou destino),
apesar das diferenças individuais de cada um (diferenças essas que podem incluir muitos dos
factores acima mencionados), o que os leva a defender o seu direito de autodeterminação.

h) Pátria: (do latím "patris", terra paterna) indica a terra natal ou adoptiva de um ser humano, que
se sente ligado por vínculos afectivos, culturais, valores e história. O primeiro registo histórico da
palavra "Pátria" tem a ver com o conceito de país, do italiano paese, por sua vez originário do
latim pagus, aldeia, donde também vem pagão.

Significa o sítio onde se vive, o local, ambiente ou espaço geográfico onde se insere a nossa vida.
Da mesma raiz, temos também a palavra paisagem.

i) Domicílio e Família

Domicílio

O direito romano já delineava de forma clara e precisa de domicílio. Era simplesmente o lugar
onde a pessoa se estabelecia permanentemente.

Domicílio civil é o lugar onde a pessoa natural estabelece residência com ânimo definitivo,
convertendo-o, em regra, em centro principal de seus negócios jurídicos ou de sua actividade
profissional.

Morada é mera relação de facto sem o ânimo de nela permanecer, é lugar onde a pessoa natural
se estabelece provisoriamente.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Conceito

"Domicílio é a sede jurídica da pessoa onde ela se presume presente para efeitos de direito e
onde exerce ou pratica, habitualmente, seus actos e negócios jurídicos" (Washington de Barros
Monteiro).

Para Orlando Gomes, "domicílio é o lugar onde a pessoa estabelece a sede principal de seus
negócios, o ponto central das ocupações habituais".

Cumpre ressaltar que domicílio e residência podem ou não coincidir. A residência representa o
lugar no qual alguém habita com intenção de ali permanecer, mesmo que dele se ausente
por algum tempo. Já o domicílio, como define Maria Helena Diniz, "é a sede jurídica da
pessoa, onde ela se presume presente para efeitos de direito e onde exerce ou pratica
habitualmente seus actos e negócios jurídicos". A chamada moradia ou habitação nada mais
é do que o local onde o indivíduo permanece acidentalmente, por determinado lapso de
tempo, sem o intuito de ficar (p. ex., quando alguém aluga uma casa para passar as férias).

Estão presentes no conceito de domicílio dois elementos: um subjectivo e outro objectivo. O


elemento objectivo é a caracterização externa do domicílio, isto é, a residência. O elemento
subjectivo é aquele de ordem interna, representado pelo ânimo de ali permanecer. Logo,
domicílio compreende a ideia de residência somada com a vontade de se estabelecer
permanentemente num local determinado.

-Importância do domicílio

É de interesse do próprio Estado que o indivíduo permaneça em determinado local no qual possa
ser encontrado, para que assim seja possível se estabelecer uma fiscalização quanto a suas
obrigações fiscais, políticas, militares e policiais.

- Classificação do domicílio quanto à natureza:

I. Voluntário: decorre do acto de livre vontade do sujeito, que fixa residência em um


determinado local, com ânimo definitivo.
II. Legal ou Necessário: decorre da lei, em atenção à condição especial de determinadas
pessoas. Assim, temos:

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
 Domicílio do incapaz: é o do seu representante ou assistente;
 Domicílio do servidor público: é o lugar em que exerce permanentemente as suas funções;
 Domicílio do militar: é o lugar onde serve, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede
do comando a que se encontra imediatamente subordinado;
 Domicílio do marinheiro: é o lugar onde o navio estiver matriculado;
 Domicílio do preso: é o lugar em que cumpre a sentença.

O domicílio necessário poderá ser originário ou legal. Será originário quando adquirido ao nascer,
como ocorre com o recém-nascido que adquire o domicílio dos pais. O domicílio legal é aquele
que decorre, como o próprio nome já acusa, de imposição da lei. É o caso dos menores
incapazes, que têm por domicílio o de seus representantes legais. O domicílio do menor
acompanha o domicílio dos pais, sempre que estes mudarem o seu. Ocorrendo impedimento ou a
falta do pai, o domicílio do menor será o da mãe. Se os pais forem divorciados, o menor terá por
domicílio o daquele que detém o pátrio poder.

E no caso de menores sem pais ou tutores, sob cuidados de terceiros? Levar-se-á em


consideração o domicílio desses terceiros. E se não existirem tais terceiros? Deverá ser levado
em conta o domicílio real.

Quanto ao militar, se em serviço activo, consiste o domicílio no lugar onde estiver servindo. Caso
esteja prestando serviço à Marinha, terá por domicílio a sede da estação naval ou do emprego em
terra que estiver exercendo. Em se tratando da marinha mercante (encarregada do transporte de
mercadorias e passageiros), seus oficiais e tripulantes terão por domicílio o lugar onde estiver
matriculado o navio.

O preso também está sujeito ao domicílio legal, no local onde cumpre a sentença. Se o preso
ainda não tiver sido condenado seu domicílio será o voluntário.

Domicílio da Pessoa Jurídica

O domicílio da pessoa jurídica de direito privado é o lugar onde funcionarem as respectivas


Direcções e administrações, isto quando dos seus estatutos não constar eleição de domicílio
especial.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
O termo domicílio, demograficamente refere-se não à estrutura física de uma moradia, mas sim
a um conjunto de pessoas consanguíneas ou não, que formam uma unidade de consumo. Uma
mesma moradia pode abrigar mais do que um domicílio.

Nas sociedades africanas, devido à prática de poligamia, há situações em que um domicílio ocupa
mais do que uma moradia física (uniões polígamas com um mesmo chefe de família).

As pessoas que vivem num mesmo domicílio, são geralmente classificadas em função da sua
relação com o chefe da família, podendo num domicílio existir: o próprio chefe (que pode ser
mulher), cônjuge, filho, pai ou mãe, outro parente e não parente.

- Família

- Conceito de família

O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi
criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao
serem introduzidas à agricultura e também escravidão legalizada.

A família é unidade básica da sociedade formada por indivíduos com ancestrais em comum ou
ligados por laços afectivos.

A família como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, diferindo a nível
dos parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais (MINUCHIN,1990).

A família no sentido restrito é caracterizada pelo nº de unidades familiares que compõem um


domicílio. Neste caso, unidade familiar é sinónimo de família nuclear. Para além da família
nuclear que é composta por chefe da família, sua esposa, filhos (naturais ou adoptivos) solteiros
conviventes.

No sentido amplo distinguem-se as seguintes tipologias de famílias:

 Família extensa: família nuclear + um ou mais parentes;


 Família composta: Família extensa + um ou mais não parentes.

- Estruturas familiares

A família assume uma estrutura característica. Por estrutura entende-se, “uma forma de
organização ou disposição de um número de componentes que se inter-relacionam de

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
maneira específica e recorrente” (WHALEY e WONG, 1989; p. 21). Deste modo, a estrutura
familiar compõe-se de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente
reconhecidas, e com uma interacção regular e recorrente também ela, socialmente aprovada. A
família pode então, assumir uma estrutura nuclear ou conjugal, que consiste num homem,
numa mulher e nos seus filhos, biológicos ou adoptados, habitando num ambiente familiar
comum. A estrutura nuclear tem uma grande capacidade de adaptação, reformulando a sua
constituição, quando necessário.

Existem também famílias com uma estrutura de pais únicos ou monoparental, tratando-se de
uma variação da estrutura nuclear tradicional devido a fenómenos sociais, como o divórcio, óbito,
abandono de lar, ilegitimidade ou adopção de crianças por uma só pessoa.

A família ampliada (ampla) ou extensa (também dita consanguínea) é uma estrutura mais
ampla, que consiste na família nuclear, mais os parentes directos ou colaterais, existindo uma
extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos.

Para além destas estruturas, existem também as denominadas de famílias alternativas, sendo
estas as:

 Famílias comunitárias e
 Famílias homossexuais.

1- As famílias comunitárias, ao contrário dos sistemas familiares tradicionais, onde a total


responsabilidade pela criação e educação das crianças se cinge aos pais e à escola,
nestas famílias, o papel dos pais é descentralizado, sendo as crianças da responsabilidade
de todos os membros adultos.
2- Nas famílias homossexuais existe uma ligação conjugal ou marital entre duas pessoas do
mesmo sexo, que podem incluir crianças adoptadas ou filhos biológicos de um ou ambos
os parceiros (Idem).

Quanto ao tipo de relações pessoais que se apresentam numa família, LÉVI-STRAUSS (cit. por
PINHEIRO, 1999), refere três tipos de relações. São elas:

 A relação de aliança (que se estabelece entre o casal),


 A relação de filiação (que se estabelece entre pais e filhos) e
 A relação de consanguinidade (que se estabelece entre irmãos).
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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
É nesta relação de parentesco, de pessoas que se vinculam pelo casamento ou por uniões
sexuais, que se geram os filhos.

O conceito de família, ao ser abordado, evoca obrigatoriamente, os conceitos de papéis e


funções, como se têm vindo a verificar.

Em todas as famílias, independentemente da sociedade, cada membro ocupa determinada


posição ou tem determinado estatuto, como por exemplo, marido, mulher, filho ou irmão, sendo
orientados por papéis. Papéis estes, que não são mais do que, “as expectativas de
comportamento, de obrigações e de direitos que estão associados a uma dada posição na família
ou no grupo social” (DUVALL ; MILLER cit. por STANHOPE, 1999; p. 502).

- Papel da família

Assim sendo, e começando pelos adultos na família, os seus papéis variam muito, tendo NYE
(cit. por STANHOPE, 1999) considerado como característicos os seguintes:

 A"socialização da criança”, relacionado com as actividades contribuintes para o


desenvolvimento das capacidades mentais e sociais da criança;
 Os"cuidados às crianças”, tanto físicos como emocionais, perspectivando o seu
desenvolvimento saudável;
 O"papel de suporte familiar”, que inclui a produção e/ ou obtenção de bens e serviços
necessários à família;
 O"papel de encarregados dos assuntos domésticos”, onde estão incluídos os serviços
domésticos, que visam o prazer e o conforto dos membros da família;
 O"papel de manutenção das relações familiares”, relacionado com a manutenção do
contacto com parentes e implicando a ajuda em situações de crise;
 Os"papéis sexuais”, relacionado com as relações sexuais entre ambos os parceiros;
 O “papel terapêutico”, que implica a ajuda e apoio emocional aquando dos problemas
familiares;
 O"papel recreativo”, relacionado com o proporcionar divertimentos à família, visando o
relaxamento e desenvolvimento pessoal.

Relativamente aos papéis dos irmãos, há a destacar:

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
 São promotores e receptores, em simultâneo, do processo de socialização na família,
ajudando a estabelecer e manter as normas, promovendo o desenvolvimento da cultura
familiar; e, por isso
 “Contribuem para a formação da identidade uns dos outros servindo de defensores e
protectores, interpretando o mundo exterior, ensinando os outros sobre equidade,
formando alianças, discutindo, negociando e ajustando mutuamente os comportamentos
uns dos outros” (Idem; p. 502).

Há a salientar, relativamente aos papéis atribuídos que, será ideal que exista alguma flexibilidade,
assim como, a possibilidade de troca ocasional desses mesmos papéis, quando, por exemplo, um
dos membros não possa desempenhar o seu (SOARES, 2003).

- Funções de família

Tal como os papéis, as funções estão igualmente implícitas nas famílias, como já foi referido. As
famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou renunciam funções de
protecção e socialização dos seus membros, como resposta às necessidades da sociedade a que
pertencem. Nesta perspectiva, as funções da família regem-se por dois objectivos:

 Sendo o primeiro objectivo, de nível interno, que se consubstancia na protecção


psicossocial dos membros; e
 O segundo, de nível externo, que se consubstancia na acomodação à uma cultura e à sua
transmissão.

A família deve então, responder às mudanças externas e internas de modo a atender às novas
circunstâncias sem, no entanto, sem perder a continuidade, proporcionando sempre um esquema
de referência para os seus membros (MINUCHIN, 1990). Existe consequentemente, uma dupla
responsabilidade, isto é, a de dar resposta às necessidades quer dos seus membros, quer da
sociedade (STANHOPE, 1999).

DUVALL e MILLER (cit. por STANHOPE, 1999) identificaram como funções familiares, as
seguintes:

 “Geradora de afecto”, entre os membros da família;


 “Proporcionadora de segurança e aceitação pessoal”, promovendo um desenvolvimento
pessoal natural;
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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
 “Proporcionadora de satisfação e sentimento de utilidade”, através das actividades que
satisfazem os membros da família;
 “Asseguradora da continuidade das relações”, proporcionando relações duradouras entre
os familiares;
 “Proporcionadora de estabilidade e socialização”, assegurando a continuidade da cultura
da sociedade correspondente;
 “Impositora da autoridade e do sentimento do que é correcto”, relacionado com a
aprendizagem das regras e normas, direitos e obrigações características das sociedades
humanas.

Para além destas funções, STANHOPE (1999) acrescenta ainda uma função relativa à saúde, na
medida, em que:

 A família protege a saúde dos seus membros, dando apoio e resposta às necessidades
básicas em situações de doença;
 A família, como uma unidade, desenvolve um sistema de valores, crenças e atitudes face à
saúde e doença que são expressas e demonstradas através dos comportamentos de
saúde-doença dos seus membros.

2.1.1. Indicadores educacionais: medição e importância.

A educação constitui um dos elementos chave do desenvolvimento humano e, pela influência que
exerce aumenta as oportunidades do indivíduo na sociedade.

A educação é também um factor essencial para o desenvolvimento económico, porque aumenta a


quantidade e qualidade do capital humano disponível ao processo de produção.

Os principais objectivos na área da educação, incluem o alcance de educação básica universal e


a erradicação do analfabetismo, de forma a garantir que toda a população tenha oportunidade de
desenvolver as capacidades mínimas para combater a pobreza.

No caso de Angola, um dos factores determinantes para o baixo nível de desenvolvimento


humano, com consequências drásticas para o desenvolvimento potencial, é sem dúvidas o nível
de educação alcançado pela população.

Nas definições censitárias, o nível de instrução refere-se à instrução formal proporcionada e/ou
controlada pelo Estado e medida em anos lectivos completos.
52
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Define-se analfabetismo, a incapacidade de uma pessoa maior de 10 ou 15 anos de ler,
compreendendo o que lê, e de escrever um texto simples na sua língua materna (no seu idioma).
Esta definição não é extensiva a crianças menores de 10 ou 15 anos, nem a estrangeiros que só
sabem compreender e expressar-se na sua língua de origem.

Também é considerado analfabeto um indivíduo que só sabe “desenhar” a sua assinatura ou


escrever uma frase de “memória” sem compreender o que está a escrever.

Há a destacar, por outro lado, a existência de analfabetos funcionais – aqueles indivíduos que
foram em determinada ocasião minimamente alfabetizados e que, por falta de novos e
continuados contactos, falta de leitura e prática de escrita, foram perdendo progressivamente os
conhecimentos adquiridos. Este tipo de indivíduos existe também nos países desenvolvidos, onde
o analfabetismo formal foi praticamente erradicado. Porém, nos censos e noutras fontes de
dados demográficos, esta situação é geralmente negligenciada.

Para a caracterização do sistema de educação, foram estabelecidos/definidos indicadores


educacionais divididos em duas grandes categorias:

 Indicadores do Desempenho do Sistema de Educação; e


 Indicadores do nível de educação atingido pela população.
Os indicadores do desempenho do sistema de educação, são indicadores que quantificam o nº de
pessoas que num determinado momento recebem instrução nos diferentes níveis de ensino.

Os indicadores do nível de educação atingido pela população, são aqueles que medem os
resultados e impactos advenientes dos estudos feitos por esta população.

A ) Indicadores do Desempenho do Sistema de Educação:

1) Taxa Bruta de Matrícula ou de Escolarização por Ciclo ou Níveis de Ensino (TBM);


A TBM é a razão entre o nº de alunos matriculados nas escolas de um determinado nível e a
população total do país:

2) Taxa Geral de Matrícula ou de Escolarização por Ciclo (TGM);

53
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
A TGM é a razão entre o nº de alunos matriculados nas escolas de um determinado nível e a
população na faixa etária correspondente a esse ciclo. Esta taxa é geralmente afectada pelos
repetentes e por alunos com idades fora da faixa etária (alunos mais velhos atrasados);

3) Taxa específica ou Líquida de Matricula ou escolarização por Ciclo (TEM);


A TEM é a proporção da população da faixa etária correspondente a um determinado ciclo escolar
que efectivamente está matriculada numa escola deste nível. A diferença desta taxa com a
anterior, consiste na exclusão do numerador dos alunos matriculados que não pertencem à faixa
etária “normal” para o ciclo que frequentam.

4) Taxa de Repetência (TR);


A TR é a percentagem de alunos repetentes, para cada ano ou nível de ensino.

5) Taxa de Evasão ou de Desistência (TE);


A TE é a percentagem de alunos que num determinado ano desistem dos estudos;

6) Taxa de promoção (TP);


A TP é a percentagem de alunos que num determinado ano transita de classe. Em geral calcula-
se subtraindo de100% as duas últimas taxas (TE e TP).

7) Número de Alunos por Professor;


É o indicador frequentemente usado, para quantificar o nível de utilização ou sobrecarga do
sistema educacional.

54
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
B) Indicadores do Nível de Educação Atingido pela População.

Os principais indicadores do nível de educação atingido pela população são:

1. Percentagem de analfabetismo;
2. Percentagem da População de uma determinada idade segundo o Nível de
Instrução Alcançado.
Estes indicadores calculam-se por grupos de idade e sexo e outras características.

Contrariamente aos indicadores de desempenho do Sistema escolar, que são calculados a partir
de informações fornecidas pelas próprias escolas, por via do Ministério da Educação, os
Indicadores do Nível de Educação atingido pela população normalmente não passam por este
canal, são calculados directamente a partir de dados censitários ou de inquéritos por amostragem
(pesquisas de campo) realizados no seio da população em geral.

2.2. ESTRUTURA DA POPULAÇÃO POR IDADE E SEXO.

A importância de uma análise estrutural da população está na inter-relação entre a estrutura


estática e a dinâmica da população. Os nascimentos, os óbitos e as migrações não ocorrem
igualmente em pessoas de qualquer idade e sexo. Deste modo, observa-se que:
 Os filhos nascidos vivos de mulheres entre 18 a 35 anos são mais comuns;
 A migração atinge mais fortemente os jovens;
 Os óbitos tendem a se concentrar entre idosos e recém-nascidos.
Assim, uma população com um número relativamente alto de idosos, pode ter uma elevada
ocorrência de óbitos (nível alto de mortalidade), mesmo em países desenvolvidos. Portanto, a
ocorrência de óbitos, nascimentos e migrações dependem da estrutura da população por sexo e
idade.
Por outro lado, a estrutura da população por sexo e idade, num dado momento, é reflexo da
natalidade, mortalidade e migrações passadas. Por exemplo, a mortalidade e a emigração
intensa, causada por um conflito armado, tenderá a reduzir o número de jovens do sexo
masculino na população, e anos depois, o número de homens mais idosos talvez seja pequeno
em comparação com as mulheres, como reflexo do que ocorreu muitos anos antes.
Uma alta fecundidade (grande número de filhos por mulher) produzirá, numa geração posterior,
um número comparativamente grande de mulheres em idade reprodutiva, que produzirá um
55
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
número grande de nascimentos (alta natalidade), mesmo que o nível de fecundidade caia.
Portanto, a estrutura por sexo e idade é influenciada pelo número de óbitos, nascimentos e
migrações que ocorreram no passado.
É importante o conhecimento da estrutura por sexo pois esta característica permite uma análise
mais aprimorada de alguns fenómenos demográficos que dependem desta variável como
migração, mortalidade, nupcialidade, fecundidade e força de trabalho.
A estrutura por idade de uma população é um conhecimento necessário e incontornável na
Demografia para analisar as tendências de evolução das populações, isto é, seu crescimento e
envelhecimento.
Uma população num dado momento, tem uma estrutura etária que é consequência de mudanças
ocorridas na mortalidade, natalidade e migração em algum momento anterior, sendo que este
passado pode ser bem longínquo.
O fenómeno conhecido como Transição Demográfica, transforma a estrutura por idade, passando
de uma estrutura jovem para uma mais velha, já que o declínio da fecundidade reduz a proporção
de crianças e a queda da mortalidade aumenta a probabilidade de sobreviver, inclusive nas
idades mais avançadas.
As características demográficas, sociais e económicas de uma população variam muito com a
idade. A estrutura etária varia com o tempo, diferenciando-se de uma localidade para outra. Por
isso, as populações não podem ser comparadas por essas características, a não ser que a idade
tenha sido de antemão “ajustada”.
A análise da estrutura por sexo e idade também é importante para avaliar a qualidade da
cobertura dos censos. Através de algumas tendências conhecidas, pode-se determinar um limite
para a variação de algumas medidas nos diferentes grupos de idade, independentemente dos
dados do censo. Assim, esses limites podem ser comparados com as contagens obtidas das
pesquisas para verificar a qualidade dos dados colectados.
A idade é uma variável chave no estudo da população. A definição precisa da idade constitui a
primeira etapa da análise demográfica. Por isso, entre as variáveis estáticas que descrevem uma
população a estrutura por idade e sexo ocupa um lugar de destaque.
A importância da idade, decorre essencialmente de dois aspectos:
 A acção permanente do tempo que provoca mudanças das características dos indivíduos e
da população que, por sua vez, condicionam as suas aptidões e capacidade (efeito de
idade);

56
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
 Os comportamentos e o significado Sócio-demográfico de cada classe etária que variam
consoante as épocas (efeito de geração);
A história demográfica de uma população pode ser obtida através do estudo da sua pirâmide
etária. A pirâmide etária de uma população é de fundamental importância para:
 Planificação em áreas de educação;
 Previdência;
 Planificação da mão-de-obra.
Dai que qualquer análise demográfica profunda de uma população, exige dos pesquisadores um
conhecimento profundo da estrutura etária desta população. Deste modo, todas as técnicas
usuais de análise, como por exemplo: a construção de tabelas de vida ou fecundidade, as
projecções e análise da nupcialidade e as protecções e analise da força de trabalho, passam
necessariamente pela intermediação da idade.
A idade e o sexo são características básicas da população e a estrutura da população segundo
estas características, tem repercussões sobre os fenómenos demográficos e socioeconómicos,
porque delas dependem todos os factores ou características de desenvolvimento de uma
população.
Em demografia utiliza-se dois conceitos de idade: o conceito de idade em anos exactos (ano,
mês, dia, hora e minuto) e o conceito de idade em anos completos (não incluem o mês, o dia e a
hora).
Nas sociedades tradicionais africanas, da América latina e mesmo da Índia segundo um estudo
demográfico realizado nos anos 50, grande maioria da população não tinha consciência da sua
idade. Por isso, para se determinar a idade das pessoas era necessário fazer-se um aturado
estudo antropológico.
Nos primeiros censos africanos não era possível quantificar as idades das pessoas. Geralmente
elas eram agrupadas em crianças, adultos e velhos ou mais detalhadamente, em meninos que
ainda não andam, crianças que já andam, pessoas casadas ou em idade de casar, pessoas
idosas e mulheres que já não podem ter filhos.
Ainda assim, as idades também eram geralmente determinadas pela simples aparência física das
pessoas pelo entrevistador ou através do uso do chamado Calendário Histórico que consistia num
roteiro dos eventos muito importantes e mais prováveis de serem recordados pela comunidade e
que podem servir para classificar os eventos demográficos relevantes como tendo acontecido
antes ou depois de um determinado de um determinado item no calendário.

57
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
2.3. PIRÂMIDE ETÁRIA: CONCEITO, IMPORTÂNCIA E INTERPRETAÇÃO E TIPOS DE
PIRÂMIDES ETÁRIAS.

Em Demografia utilizam-se as faixas etárias para diminuir o grau de detalhe da informação,


tomando os grupos etários quinquenais ou decenais. Esta forma de apresentação das idades, é
menos sujeita a erros na declaração das idades. Geralmente o quinquénio de 0-4 anos, desdobra-
se em grupos anuais (0,1,2,3,4) ou em dois grupos, sendo o primeiro de 0 anos e o segundo de 1-
4 anos pela sua importância devido a intensidade dos processos demográficos que se operam
nesta faixa etária.
O grau de detalhe na determinação dos grupos etários depende muito da especificidade da
investigação que se pretende fazer. Por exemplo, na área da educação, são geralmente usados
grupos etários de 0-4 anos, 5,6,7,... 14, 15-19 e 20 e mais.
O estado da população, num dado momento, pode ser sintetizado através de uma representação
gráfica das idades e do sexo, que designamos pirâmides das idades ou pirâmide etária, ou
seja a composição da população, em termos de idade e sexo, é representada através
de gráficos sob a forma de pirâmides etárias.

A pirâmide etária também conhecida como pirâmide demográfica ou pirâmide populacional,


é uma ilustração gráfica que mostra a distribuição de diferentes grupos etários em
uma população (tipicamente de um país ou região do mundo), em que normalmente cria-se a
forma de uma pirâmide. Esse gráfico é constituído de dois conjuntos de barras que representam
o sexo e a idade de um determinado grupo populacional. É baseado numa estrutura etária da
população, ou seja, a repartição da população por idades.

Nesse tipo de gráfico, cada uma das metades representa um sexo; a base representa o grupo
jovem (até 19 anos); a área intermediária ou corpo representa o grupo adulto (entre 20 e 59
anos); e o topo ou ápice representa a população idosa (acima de 60 anos).

As pirâmides etárias são usadas, não só para monitorar a estrutura de sexo e idade, mas como
um complemento aos estudos da qualidade de vida, já que podemos visualizar a média do tempo
de vida, a taxa de mortalidade e a regularidade, ou não, da população ao longo do tempo. Quanto
mais alta a pirâmide, maior a expectativa de vida e, consequentemente, melhor as condições de
vida daquela população. É possível perceber que quanto mais desenvolvido economicamente e
socialmente é o país, mais sua pirâmide terá uma forma rectangular.

Uma guerra, por exemplo, provoca distúrbios visíveis numa pirâmide etária: uma queda no
número de jovens e adultos do sexo masculino é o mais comum deles. Normalmente, após uma
58
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
crise como essa, é notável uma reposição populacional estimulada pelo governo, chamada
de baby boom.

Este método ou instrumento de análise da população por idade e sexo foi apresentado pela
primeira vez nos EUA pelo coronel Francis A. Walker, em 1870 enquanto superintendente do
recenseamento que teve lugar neste ano.
A pirâmide etária da população, é um gráfico do tipo histograma que facilita a analise da estrutura
da população segundo a idade e sexo da população num determinado momento. Pode ser feita
por idades simples mas é mais usual ser elaborada por grupos quinquenais de idade. A pirâmide
etária permite verificar os efeitos da fecundidade, imigração, emigração, guerras, epidemias e
permite também comparar ou identificar populações jovens ou envelhecidas.
Neste sentido, uma pirâmide etária é o resultado dos processos de mortalidade, fecundidade e
migração sobre esta população no passado. A configuração final de uma pirâmide etária e o grau
de envelhecimento da população são muito menos afectados pela mortalidade do que pela
fecundidade.

a) Principais características de uma pirâmide etária

Os principais elementos de uma pirâmide etária são:

 Base (parte inferior, representando a população jovem) – cor verde;


 Corpo (parte intermediária/representando a população adulta) – amarela;
 Cume ou ápice (parte superior/representando a população idosa) – castanha;
 Ordenada (grupos ou faixas de idade)
 Abcissa (quantidade de pessoas em valor absoluto ou percentagem).

Considera-se, para efeito de classificação da população em jovem adulta e idosa, os segmentos


da população compreendida nas seguintes faixas etárias :

 0 a 19 anos: população jovem (que se encontra na base da pirâmide);


 20 a 59 anos: população adulta (que se encontra no corpo da pirâmide);
 Acima dos 60 anos: população idosa (que se encontra no cume da pirâmide).

Daí a origem da expressão “terceira idade” voltada para a população idosa.


As pirâmides de “países jovens”, ou seja, onde há elevada proporção de jovens em relação aos
demais segmentos, apresentam uma base larga e o cume estreito, demonstrando baixo número

59
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
de idosos. Este formato de pirâmide caracteriza a estrutura da população da maior parte dos
países subdesenvolvidos.

Por sua vez, os chamados “países velhos” são aqueles, cuja estrutura etária configura uma
pirâmide de base mais estreita, configurando a baixa percentagem de jovens e o cume mais largo,
tendo em vista a grande proporção de idosos.

O formato da pirâmide etária vai sofrer modificações estruturais em função da evolução


demográfica dos países, a qual se encontra interligada ao estágio socioeconómico vigente.
Notadamente, quando ocorre o desenvolvimento do país, verifica-se um gradativo estreitamento
da base da pirâmide e um alargamento tanto do corpo quanto do ápice. Isso decorre em razão da
redução da taxa de natalidade e do aumento da expectativa de vida da população.

Em termos de sexo, na pirâmide etária, os homens são representados à esquerda e mulheres à


direita. O eixo vertical representa as idades da população e o eixo horizontal representa
o número de habitantes (em números absolutos ou relativos), como se ilustra no exemplo a
seguir:

Fonte:
Material de apoio de Demografia

Como acabamos de verificar, a pirâmide das idades é um diagrama que consiste de rectângulos
sobrepostos ao longo de uma escala etária vertical, cuja espessura representa a amplitude da
faixa etária e cuja área indica a população correspondente por sexo e idade.

b) Tipos de pirâmides etárias.

Mediante séries de Pirâmides escalonadas sucessivamente no percurso do tempo, torna-se


possível reconstruir a evolução de cada geração a medida em que ela nasce e vai envelhecendo.
60
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
A configuração de uma Pirâmide etária e o grau de envelhecimento da população são mais
afectados pela fecundidade do que pela mortalidade.

Deste modo, em função do comportamento da fecundidade, surgem pirâmides etárias


diversificadas, podendo-se diferenciar pirâmides etárias jovens, velhas, regressivas e em
rejuvenescimento cujas características passamos a apresentar:

1) Pirâmide jovem: caracterizada por populações de países subdesenvolvidos, com


fecundidade elevada. Este tipo de pirâmide tem uma base larga, devido ao grande número
de crianças, e o vértice pontiagudo, por causa do pequeno número de velhos. Muitas vezes
os flancos desta pirâmide são côncavos.

Tomamos como exemplos as pirâmides da população de Angola e de Moçambique.

Fonte: Material de apoio

Fonte: Material de apoio


2) Pirâmide velha: caracteriza alguns dos países desenvolvidos, onde a fecundidade há
muito tempo é baixa. A base é proporcionalmente pequena, com poucas crianças de
61
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
menos de 1 ano ou de 0-4 anos, devido a baixa natalidade. O vértice é convexo e largo,
devido ao grande número de pessoas em idades avançadas;
Tomamos como exemplo a pirâmide da população da Espanha.

3. Pirâmide regressiva: a fecundidade começa a cair e a sua estrutura começa a envelhecer,


ou seja a população começa a envelhecer. É uma pirâmide de transição entre a pirâmide
jovem e a pirâmide velha. Tem o vértice pontiagudo, a sua base estreita.

4. Pirâmide em rejuvenescimento: pirâmide que já tinha atingido a estrutura de uma


população envelhecida, mas com o aumento dos níveis de fecundidade, ela começa a
rejuvenescer.

62
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
2.3.1. Cálculo e interpretação dos Índices ou Razões.

Para resumir a estrutura por idade e sexo de uma população, são derivados diversos índices
resumo.
Por exemplo, para indicar o tamanho relativo de cada sexo, utiliza-se o percentual de homens ou
mulheres, ou seja a razão de sexo (RS), também chamada Relação de Masculinidade (RM) ou
Índice de Masculinidade (IM).
O índice de masculinidade (IM), exprime o número de homens presentes em cada 100 mulheres e
pode ser referido tanto a toda população, como a uma determinada faixa etária.
1- Índice de Masculinidade:
Pm
IM  * 100
Pf
O índice de masculinidade (IM), pode ser alternativamente calculado pelo índice de feminilidade
(IF)((Pf/Pm) x 100). O mais usual e recomendado pelas Nações Unidas, é calcular a razão de
sexo (RS) pelo índice de masculinidade, que informa o número de homens para cada 100
mulheres.
Assim, a interpretação para IM é:

IM> 100 indica excesso de homens

IM=100 indica equilíbrio entre homens e mulheres.

Para além do Índice (IM), também são calculados outros índices resumo, sendo de destacar os
seguintes:
2- Percentagens de Jovens:
P (0  14)
Pj  * 100
Pt
Definição: Divide-se a população com menos de 14 anos pela população total e obtém-se um
indicador que mede a importância da juventude na população. É também um indicador de medida
do envelhecimento demográfico, no topo da pirâmide das idades;
3 - Percentagem, da população Potencialmente Activa
P (15  64)
PPPA  * 100
Pt
Definição: Divide-se a população "Potencialmente Activa", ou seja, a que se situa entre o fim da
escolaridade obrigatória e o inicio da "reforma" pela população total e obtém-se um indicador do
potencial demográfico de activos;
63
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
4 - Percentagem de Idosos
P (65e  )
Pi  * 100
Pt
Definição: Divide-se a população "idosa com mais de 65 anos pela população total e obtém-se
um indicador da importância dos idosos na sociedade. É também um indicador de medida do
envelhecimento na base da pirâmide das idades;
5 - Índice de juventude
P(0  14)
Ij  * 100
P(65e)
Definição: Compara a população jovem com a população idosa. Por cada 100 idosos existe x
jovens. É também um indicador utilizado na medida do envelhecimento demográfico;
6 - Índice de Envelhecimento ou Índice de Vitalidade
P(65e)
Ie  * 100
P(0  14)
Definição: Tendo a lógica inversa do índice anterior, ou seja, compara directamente a população
idosa com a população jovem. Por cada 100 jovens existe x idosos. É também um indicador
utilizado na medida do envelhecimento demográfico; .
7 - Índice de Longevidade
P(75e)
Il  * 100
P(15  64)
Definição: Compara o peso dos idosos mais jovens com o peso dos idosos menos jovens. É·
também um indicador utilizado para a medição do envelhecimento demográfico;
8 - Índice de Dependência dos jovens
P(0  14)
IDj  * 100
P(15  64)
Definição: Compara o peso dos jovens com o peso da população potencialmente activa. Por
cada 100 potencialmente activos existe x jovens;
9 - Índice de Dependência dos idosos
P(65e)
IDi  * 100
P(15  64)
Definição: Compara o peso dos idosos com o peso da população potencialmente activa. Por
cada 100 potencialmente activos existe x idosos;
10 - Índice de Dependência Total

64
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
P(0  14)  P(65e)
IDt  * 100
P(15  64)
Definição: Mede o peso conjunto dos jovens e dos idosos na população potencialmente activa.
Por cada 100 potencialmente activos existem x jovens e idosos. É a soma dos dois índices
anteriores (índice de dependência dos jovens e índice de dependência dos idosos).
11 – Índice de Juventude da População Activa
P(15  39)
IjPPA  * 100
P(40  64)
Definição: Mede o grau de envelhecimento da população potencialmente activa. Relaciona a
metade mais jovem da população potencialmente activa com a metade mais velha.
12 - Índice de Renovação da População Potencialmente Activa
P(20  29)
IrPPA  * 100
P(55  64)
Definição: Relaciona o volume potencial da população que esta a entrar em actividade com o
volume potencial da população que esta a sair da actividade.
13 - Índice de Maternidade
P(0  4)
IMat  *100
Pf (15  49)
Definição: E um indicador que relaciona a população com menos de 5 anos de idade com a
população feminina em período fértil. Funciona como indicador da evolução da fecundidade
quando não dispomos de informações sobre os nascimentos.
14 - Índice de Tendência da Natalidade
P(0  4)
ITN  * 100
P(5  9)
Definição: E um indicador de tendência da dinâmica demográfica de uma população. Quando
apresenta valores inferiores a 100 significa que esta em curso um processo de declínio da
natalidade e de envelhecimento.
15 - índice de Potencialidade
Pf (20  34)
IP  * 100
Pf (35  49)
Definição: E um indicador que relaciona as duas metades da População feminina no período fértil
onde, em principio, ocorrem mais nascimentos.

65
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Os indicadores Demográficos medem a evolução de uma população em termos de nível de vida,
crescimento económico, crescimento populacional. Os mesmos podem ser interpretados numa
pirâmide etária.
Antes de passar para qualquer cálculo de algumas medidas demográficas, convém ressaltar que,
na análise dos fenómenos demográficos, é necessário utilizar diferentes tipos de medidas, dentre
as quais se destacam: Razão: relação entre valores que pertencem a populações diferentes. Por
exemplo, considere a relação entre o total de homens e o total de mulheres de uma população,
geralmente chamada de razão de sexos.
Proporção: relação entre grandezas que provêm de uma mesma população, ou seja, em que o
numerador é parte do denominador. Por exemplo, considere a proporção de homens em uma
população, que corresponde ao quociente entre o número de homens e a população total.
Taxa: de modo geral, a taxa é usada para representar a magnitude de um evento demográfico em
uma determinada população ou parte dela, em um certo período de tempo, como no caso da taxa
de mortalidade. As taxas podem representar ainda outras operações, de diferentes graus de
complexidade, como a taxa de crescimento populacional.

2.4. CARACTERÍSTICAS ECONÓMICAS DA POPULAÇÃO: O CONCEITO DE MÃO-DE-OBRA,


POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ACTIVA E INACTIVA.

As características económicas da população obtêm-se a partir dos registos administrativos do


Ministério da Administração Pública Trabalho e Segurança Social e da Segurança Social, Censos
e inquéritos especiais (por amostragem).

Para o estudo destas características é necessário estabelecer-se os conceitos de, População


Economicamente Activa, Mão-de-obra e População Não Economicamente Activa.

O Conceito de População Economicamente Activa: É a parte da população que está


disponível para a produção de bens e serviços. Esta disponibilidade pode ser reflectida na
realização efectiva de algum trabalho económico ou na procura de tal trabalho.

Nas sociedades primitivas onde predomina uma economia de subsistência, a mão-de-obra não se
diferencia facilmente da própria população, devido ao baixo nível da tecnologia que requer a
participação de quase toda população acima de uma determinada idade, na produção de bens e
serviços necessários para a sua subsistência.

66
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Na economia de mercado os trabalhadores geralmente obtêm os seus rendimentos monetários
em troca dos seus serviços. Neste processo, os trabalhadores têm a liberdade de escolher um
ofício ou profissão, e para aceitar um emprego ou desempenhar uma actividade lucrativa
independente. Deste modo, a População Economicamente Activa (PEA) pode ser definida como
sendo o “conjunto de pessoas que constituem a oferta de trabalho no mercado”.

A partir de 1986 as Nações Unidas definiram a PEA como “ o conjunto de pessoas de ambos os
sexos que fornecem força de trabalho para produzir bens e serviços económicos definidos
segundo Contas nacionais e Balanças das Nações Unidas, durante um período de referência
especificado.

Estas definições censitárias da PEA, são inspiradas no mercado e, por isso, excluem as donas de
casa e outras pessoas que só realizam trabalhos no lar, estudantes, aposentados e pensionistas,
bem como aqueles que vivem de rendas ou completamente dependentes de outros.

Para a captação das características económicas da população, utilizam-se, em geral, dois


conceitos: o de trabalhador remunerado e de Força de trabalho.

O conceito de trabalhador remunerado dá ênfase à situação ocupacional e à experiência


profissional e procura medir o nº de pessoas classificadas pela experiência profissional, que
normalmente desenvolvem tais actividades para obter rendimentos monetários para a sua
manutenção e a de outros. Este procedimento pressupõe implicitamente que:

 Uma pessoa se dedica “habitualmente” e “actualmente” a um certo tipo de


actividade, que é socialmente aceite como uma ocupação; e

 Dela obtém o suficiente para manter a sua pessoa e outros.


O conceito de Força de trabalho, estabelece o tipo de actividade que cada pessoa exerceu
durante um período de tempo dado, geralmente curto, mesmo que essa actividade não seja um
“profissão”ou uma actividade habitual”. Mas por outro lado podemos acrescentar que a força de
trabalho é a capacidade intelectual ou física de uma pessoa com quem a economia pode contar.

Como os conceitos são até certo ponto, complementares, recomenda-se que os censos levantem
estatísticas sobre a PEA com base em dois critérios: a população habitualmente activa, media em
relação a um período de referência longo, tal como um ano, e a população actualmente activa ou
força de trabalho, medida em relação a um período de referência curto, tal como um dia ou uma
semana.
67
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
O conceito de mão-de-obra distingue três grandes grupos:

 Grupo nuclear – Homens de 20-60 anos;


 Reserva doméstica de mão-de-obra – que consiste de três grupos especiais: menores de
20 anos, mulheres e pessoas com mais de 60 anos (estes grupos são especiais porque a
sua actividade varia muito de sociedade em sociedade, pela influência de factores
culturais, sociais e económicos);
 Mão-de-obra estrangeira – Que consiste de trabalhadores migrantes. Há países onde o
contingente de estrangeiros é maior do que os nacionais (Costa do Marfim e nos países
produtores de petróleo).
A população Não Economicamente Activa (PNEA), compreende “as pessoas que se ocupam
do lar, os estudantes, as pessoas que vivem em instituições, as pessoas que vivem de
rendimentos não proveniente do trabalho e todas as demais não incluídas na PEA.

Fazem parte da PNEA, os trabalhadores desalentados - as pessoas disponíveis para o trabalho,


mas que desistiram de procurá-lo activamente por acreditarem que não há emprego disponível.

Utilização e subutilização da mão-de-obra

A XIII Conferência Internacional de Estatísticas laborais define Pessoas Ocupadas “a parcela da


PEA que durante um breve período de referência, como uma semana ou um dia, esteve numa
das seguintes situações:

a) “Com emprego assalariado”:


a.1 – “Trabalhando”- trabalharam no mínimo uma hora por um salário em dinheiro ou em espécie;

a.2 – “Com emprego mas sem trabalhar”- pessoas que tendo trabalhado no seu emprego actual,
não estavam a trabalhar temporariamente durante o período de referência e mantinham um
vínculo forma com o seu emprego.

b) Com “Emprego Independente”


b.1 – “trabalhando” – pessoas que durante o período de referência trabalharam no mínimo uma
hora para obter benefícios ou ganhos familiares em dinheiro ou em espécie;

b.2 – “Com uma Empresa mas sem trabalhar” – pessoas que tendo uma empresa estavam
temporariamente ausentes do trabalho durante o período de referência por qualquer razão
específica.

68
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
A XIII conferência define pessoas desocupadas ou desempregadas, aquelas pessoas que não
estavam empregadas durante o período de referência e que estavam em busca de emprego ou
trabalho, i.é, que tomaram medidas concretas para encontrar um emprego assalariado ou
independente durante o período de referência.

Pelas considerações feitas até aqui, podemos dividir a força de trabalho em dois contingentes: um
contingente ocupado e outro desocupado. Esta classificação indica o grau de ocupação ou de
subutilização da PEA.

Também existe o conceito de subemprego. Este conceito descreve uma situação na qual o
emprego que uma pessoa possui é inadequado em relação a normas específicas ou emprego
alternativo, tendo em conta as suas qualificações profissionais.

Distingue-se duas formas principais de subemprego:

 Subemprego visível – reflecte uma insuficiência no volume de emprego e ocorre quando


uma pessoa tem um emprego de duração inferior à norma e procura ou aceitaria trabalho
adicional. O emprego insuficiente é característica da agricultura tecnicamente primitiva e,
nas cidades, da indústria doméstica e de certas formas de serviços pessoais, que
absorvem trabalhadores não qualificados.
 Subemprego invisível – reflecte uma má alocação de recursos laborais ou um
desequilíbrio fundamental, entre a mão-de-obra e outros e outros recursos de produção. Os
sintomas fundamentais do subemprego invisível são a subutilização das aptidões, a baixa
remuneração e a baixa produtividade. A subutilização das aptidões e a má remuneração
dos trabalhadores denota um Desemprego disfarçado. A baixa produtividade denota e
indicia um Desemprego potencial.
A mão-de-obra ou força de trabalho, divide-se entre as seguintes categorias funcionais:

1- Adequadamente utilizada (ocupada);


2- Inadequadamente utilizada (desocupada)
2.1. Por desemprego (desemprego);
2.2. Por tempo de trabalho (subemprego visível);
2.3. Por nível de rendimento (subemprego invisível)
2.4. Por desajuste de qualificação (subemprego invisível).

Mercado de trabalho Informal

69
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Definição: Prevalecem as regras de mercado com um mínimo de interferência governamental.
Pode ser medido pela percentagem de trabalhadores sem contrato assinado.

Os estudos atinentes ao mercado informal datam desde os anos 70. O conceito de mercado
informal foi introduzido na literatura económica em 1972 no relatório da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) sobre o emprego no Quénia. O mercado informal assume actualmente, uma
proporção significativa na economia mundial, no que se refere ao emprego da esmagadora
maioria da população, uma vez que, segundo um relatório Women,s World Banking Fórum
(WWBF) de 1995, mais de 500 milhões de pessoas da população activa do mundo desenvolvem
a sua actividade em pequenas e microempresas. Esta importância é ainda reforçada por
Chickering e Salahdine (1991) ao afirmarem que as microempresas “chegam a empregar entre
35% e 65% da força de trabalho dos Países em vias de Desenvolvimento (PVD), e produzem
entre 20% a 40% do seu Produto Interno Bruto”.

No que se refere a definição do seu conceito, foi de facto o relatório da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), acima referido, que definiu a Economia Informal (mercado informal) como uma
forma de fazer as coisas, na base das sete características que abaixo se discriminam:

1. Facilidade de entrada;
2. Utilização de recursos locais;
3. Propriedade familiar dos recursos;
4. Actividades de pequena escala;
5. Tecnologias adoptadas à forte intensidade de mão-de-obra;
6. Formação profissional adquirida fora do sistema escolar oficial;
7. Mercado de concorrência sem regulamentação.
Em 1976, foram acrescentadas pelo investigador Sethuraman, novas características tais como:

1- Emprego de no máximo 10 pessoas por empresa;


2- Não aplicação de regras legais ou administrativas;
3- Uso de trabalhadores familiares;
4- Ausência de horários ou dias fixos de trabalho;
5- Ausência de créditos institucionais;
6- Escolaridade dos trabalhadores inferiores a seis anos;
7- Produção directamente destinada ao consumo final e, em certos casos a venda,
8- Ausência de energia mecânica ou eléctrica;

70
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
9- Características ambulantes ou semi-permanentes da actividade.
Ao longo dos tempos outras definições e mesmo expressões foram sendo utilizadas para se
referir a este fenómeno. “Deste modo, Rafffael de Grazia (1984), definiu os termos “economia
secundária, informal, oculta, negra, subterrânea ou penumbrosa” como sendo aquele sector da
Economia cuja existência, por razões que podem ser voluntárias ou involuntárias não está
registada nas contas nacionais, do Produto Nacional Bruto ou nas contas oficiais sobre a riqueza
nacional”.

2.5. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO: O CONCEITO DE POPULAÇÃO RURAL E


URBANA, CLASSIFICAÇÃO.

2.5.1 - Urbanização

A urbanização é o crescimento das cidades, tanto em população quanto em extensão territorial.


É o processo em que o espaço rural transforma-se em espaço urbano, com a consequente
migração populacional do tipo campo - cidade que, quando ocorre de forma intensa e acelerada, é
chamada de êxodo rural.

A urbanização é o processo de formação ou de ampliação das áreas urbanas, em contraposição


às áreas rurais.

A urbanização é o processo de afastamento das características rurais de um lugar ou região, e


da consequente implantação das características urbanas neste lugar. Geralmente, está
associado ao desenvolvimento da civilização e da tecnologia.
Demograficamente, o termo “urbanização” significa a redistribuição das populações das zonas
rurais para assentamentos urbanos, mas também pode designar a acção de dotar uma área com
infra-estrutura e equipamentos urbanos. Deste modo, a urbanização é o conjunto dos trabalhos
necessários para dotar uma área de infra-estrutura, como água, esgoto, gás, electricidade e/ou
serviços urbanos como transporte, educação, saúde e etc.

A urbanização é estudada por várias ciências, como a sociologia, a geografia e a antropologia, e


as disciplinas que procuram entender, regular, desenhar e planear os processos de urbanização
são o urbanismo, o planeamento urbano, o planeamento da paisagem, o desenho urbano, a
geografia, entre outras.

71
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
A industrialização do século XIX provocou um rápido crescimento das cidades, com o resultado
de grandes aglomerações de habitações em péssimas condições, problemas de abastecimento,
zonas insalubres e dificuldade de trânsito. O aumento do tráfego e a instalação de indústrias
provocam assim uma contaminação crescente do meio.

O processo de urbanização deu lugar à origem de grandes cidades, que perderam os limites
precisos entre elas. Por exemplo, na região do Ruhr, na Alemanha, onde as cidades se
encontram contíguas sem espaços de separação. Deste modo se esbateram as fronteiras entre a
cidade e o campo.

Urbanização pode ser também o aumento proporcional da população urbana em relação à


população rural, e só ocorre urbanização quando o crescimento da população urbana é superior
ao crescimento da população rural.

2.5.1.1 - Urbanização mundial

O conceito de urbanização existe em todos os países, e ganhou força sobretudo depois da I


Guerra Mundial. Num contexto mundial, a urbanização tinha como objectivo fazer com que as
zonas habitacionais fossem dotadas de espaços verdes, de centros culturais e desportivos, etc.

2.5.1.2 - População Rural e Urbana


No processo de urbanização, ocorre a construção de casas, prédios, redes de esgoto, ruas,
avenidas, escolas, hospitais, rede eléctrica, shoppings, etc.
Este desenvolvimento urbano é acompanhado de crescimento populacional, pois muitas pessoas
passam a buscar a infra-estrutura das cidades.
A urbanização planificada apresenta significativos benefícios para os habitantes. Porém, quando
não há planeamento urbano, os problemas sociais se multiplicam nas cidades como, por exemplo,
criminalidade, desemprego, poluição, destruição do meio ambiente e desenvolvimento de sub-
habitações.
A urbanização é uma das responsáveis pelo êxodo rural (saída das pessoas do meio rural para as
grandes cidades).
Durante os censos os indivíduos são classificados de acordo com a sua zona, situação ou área de
residência que se refere as características urbanas ou rurais destes lugares de residência.

Em termos de área territorial, no mundo actual, o espaço rural é bem mais amplo do que o espaço
urbano. Isso ocorre porque o primeiro exige um maior espaço para as práticas nele
72
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
desenvolvidas, como a agropecuária (espaço agrário), o extractivismo mineral e vegetal, além da
delimitação de áreas de preservação ambiental e florestas em geral.

No entanto, em termos populacionais e em actividades produtivas no contexto económico e


capitalista, a cidade, actualmente, vem se sobrepondo ao campo. Observe o gráfico abaixo:

Podemos perceber, com a leitura do gráfico acima, que, pela primeira vez na história, a
humanidade está se tornando maioritariamente urbana. Os dados após 2010 são apenas
estimativas (embora existam muitas desconfianças em termos políticos sobre as projecções
realizadas pela ONU), mas revelam que a tendência desse processo é se intensificar nas décadas
subsequentes. Note também, observando o gráfico, que a velocidade com que a urbanização
acontece é cada vez maior, deixando a curva que representa a população urbana cada vez mais
acentuada.

O processo de formação das cidades ocorre desde os tempos do período neolítico. No entanto,
sob o ponto de vista estrutural, elas sempre estiveram vinculadas ao campo, pois dependiam
deste para sobreviver. O que muda no actual processo de urbanização capitalista, que se
intensificou a partir do século XVIII, é que agora é o campo quem passa a ser dependente da
cidade, pois é nela que as lógicas económico-sociais que estruturam o meio rural são definidas.

O processo de urbanização no contexto do período industrial estrutura-se a partir de dois tipos de


causas diferentes: os factores atractivos e os factores repulsivos. Os factores atractivos, como o
próprio nome sugere, são aqueles em que a urbanização ocorre devido às condições estruturais
oferecidas pelo espaço das cidades, o maior deles é a industrialização.

Esse processo é característico dos países desenvolvidos, onde o processo de urbanização


ocorreu primeiramente. Cidades como Londres e Nova York tornaram-se predominantemente

73
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
urbanas a partir da década de 1900, início do século XX, em razão da quantidade de empregos e
condições de moradias oferecidas (embora em um primeiro momento, a maior parte dessas
moradias fosse precária em comparação aos padrões de desenvolvimento actual dessas
cidades).

Os factores repulsivos são aqueles em que a urbanização ocorre não em função das vantagens
produtivas das cidades, mas graças à “expulsão” da população do campo para os centros
urbanos. Esse processo ocorre, em geral, pela modernização do campo que propiciou a
substituição do homem pela máquina e pelo processo de concentração fundiária, que deixou a
maior parte das quantidades de terras nas mãos de poucos latifundiários.

Esse fenómeno é característico dos países subdesenvolvidos e é marcado pela elevada


velocidade em que o êxodo rural aconteceu, bem como pela concentração da população nas
metrópoles (metropolização). Tais cidades não conseguem absorver esse quantitativo
populacional, propiciando a formação de favelas e habitações irregulares, geralmente
impregnadas de uma acentuada precariedade e sem infra-estrutura.

Resumidamente, o processo de urbanização ocorre em quatro principais etapas, sofrendo


algumas poucas variações nos diferentes pontos do planeta:

Esquema simplificado sobre o processo de urbanização na era capitalista

Em geral, o que se observa, portanto, é a industrialização funcionando como um motor para a


urbanização das sociedades (1ª ponto do esquema acima). Em seguida, ampliam-se as divisões
74
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
económicas e produtivas, com o campo produzindo matérias-primas, e as cidades produzindo
mercadorias industrializadas e realizando actividades características do sector terciário (2º ponto).
Esse processo é acompanhado por um elevado êxodo rural, com a formação de grandes
metrópoles e, em alguns casos, até de megacidades ou cidades globais, com populações que
superam os 10 milhões de habitantes (3º ponto). Por fim, estrutura-se a chamada hierarquia
urbana, que vai desde as pequenas e médias cidades às grandes metrópoles.

Vale lembrar que o esquema acima é apenas ilustrativo, pois a sequência desses acontecimentos
não é linear, muitas vezes os fenómenos citados acontecem ao mesmo tempo.

Outra ressalva importante é a de que tal sequência não acontece de forma igualitária em todo o
mundo. Nos países pioneiros no processo de urbanização, ela ocorre de forma mais lenta e
gradativa, enquanto nos países de industrialização tardia, tal processo manifesta-se de forma
mais acelerada, o que gera maiores problemas estruturais.

2.5.2 - Classificação da população em urbana e rural.


Existem vários critérios de classificação da população em população urbana e em população
rural, podendo-se destacar os seguintes: critério demográfico, critério administrativo, critério de
existência de indicadores físicos e critério económico.

1. Critério Demográfico.

Do ponto de vista deste critério, se considerada urbana a localidade que possui: 1000, 2000,
2,500 ate 100.000 habitantes de acordo a legislação de cada país. Nalguns países desenvolvidos
por exemplo:
Na Dinamarca por exemplo, as localidades - a partir de 200 habitantes são consideradas urbanas;
No Japão é considerada urbana a localidade que possua 30.000 habitantes. Porem os limites
mais comuns são de 2000 – 5000 habitantes.

2. Critério Administrativo.
A partir deste critério, são urbanas as sedes de administração local: municípios e comunas. No
Brasil por exemplo todas as sedes municipais e distritais são urbanas independentemente do seu
tamanho ou infra-estruturas urbanas. (pode-se considerar os dois critérios).

3. Critério de existência de indicadores físicos.

75
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
É urbana a localidade que possui as seguintes infra-estruturas:
- Ruas pavimentadas;
- Água canalizada nas residências;
- Sistema de esgotos;
- Iluminação pública;
- Serviços sociais públicos; (educação, saúde, polícia, repartição de finanças, administrações e
câmaras municipais)
Pode-se combinar este critério com o primeiro).

4. Critério Económico.

A luz deste critério, a diferença entre a população rural e urbana radica no tipo de actividade
produtiva. Assim, uma localidade é urbana quando nela predominam as actividades industriais e
serviços e é rural quando predomina a actividade agro-silvo-pastoril (combinável com o primeiro
critério).
O grau de urbanização é a percentagem da população de um país que vive em zonas
(localidades) urbanas.
- Urbanização: Processo de concentração da população em localidades urbanas;
- Taxa ou ritmo de urbanização: É a taxa anual de aumento da proporção urbana.
Qual o significado de um alto grau de urbanização?
 Não indica necessariamente um elevado índice de industrialização;
 Não indica necessariamente um crescimento económico acentuado;
 Em muitos países não é senão o reflexo de uma elevada taxa decrescimento da população
combinada com a mecanização agrícola ou estagnação geral da economia rural, factores
que actuam como repulsores da população das zonas rurais.

2.6 - A Densidade Demográfica.

É a razão entre o tamanho da população (P) e a superfície por ela habitada (S ou Área Total)).
Também se chama densidade populacional. É uma medida abstracta.
A cidade com densidade (D) mais alta em 1995: Hong-Kong com 250.000 h/km
Pt
Dp 
Superfície
O significado da densidade populacional é muito abstracto, por isso deve ser analisado no
contexto da topografia, da ecologia e principalmente da economia do pais.

76
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
- Países com densidades mais altas: Bangladesh, Egipto, Índia
- Países com densidades mais baixas: Mongólia, Austrália, Suriname.
É preciso saber que não é correcto pensar-se que países com densidade demográfica tão baixa
não devem se preocupar com o seu futuro demográfico.
Exemplo: Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000 o
município de Goiânia possuía uma área de 739 km 2, uma população total de 1.093.007
habitantes, sendo 1.085.806 residentes na área urbana e 7.201 residentes na área rural. Com
base nesses dados, a densidade demográfica do município de Goiânia correspondia em 2000.
Logo a densidade populacional será:
1.093.007hab
Dp  2
 1.479hab / Km 2
739 Km
Para se minimizar as limitações latentes na densidade demográfica, foram propostos os seguintes
indicadores:
1-Densidade urbana, (Durb) => é a relação entre o contingente populacional urbana e a área
geográfica classificada como tal.
P.urbana
DPurb 
Superfície
2 -Densidade rural, (Dr)=> que é a relação entre o volume da população (Pr) e a área
geográfica classificada como tal (Ar).
P.rural
D Pr 
Superfície
3 -Densidade agrícola, (DA)=> que é o quociente entre número de trabalhadores agrícolas
(Trab. agric.) e a extensão da terra cultivada (Terra cultivada ou Área cultivada) ou seja, o
número de trabalhadores por unidade de terra cultivada, exprime o potencial produtivo agrícola.
Trab. Agri
DA 
Superf .Cultivável
4 - Densidade económica (De) => É o indicador que mede subemprego agrícola, devido a falta
de terra ou de recursos adequados para a sua exploração.
PK
De 
SK "
Onde P => População
S => Superfície
K=> Necessidades per capita
K'=>Produção por Km2
77
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Hipóteses: se De > 1<=> PK > SK'=> Escassez de alimentos.

UNIDADE III: DINÂMICA POPULACIONAL

3.1 - NATALIDADE: CONCEITOS E TAXAS ASSOCIADAS.


3.1.1 - Taxa bruta de natalidade (TBN):

Os conceitos de número de nascimento, nascimento e fertilidade não têm o mesmo significado.

O número de nascimento refere-se aos valores absolutos, enquanto a taxa de nascimento


caracteriza a intensidade do processo. Com respeito à fertilidade, a natalidade pode ser
considerada a implementação efectiva das condições sociais existentes, políticas e outras (Félix,
2015 p.111).

As principais tarefas da natalidade no campo demográfico são:

1. Descrição dos nascimentos na população em geral e grupos específicos;


2. Estudo da dinâmica da natalidade;
3. Análise da relação entre natalidade, estrutura demográfica da população e factores
socioeconómicos;
4. Descrição das atitudes produtivas da população;
5. Construção de tabelas de natalidade

Corresponde à relação entre o número de crianças nascidas vivas durante


um ano e a população média. Convém sublinhar que setrata da população média e não da
população no início do ano, ou seja:

Nj
TBN  *1000
Pj

Onde:

Nj = total de nascimentos durante o ano j e

Pj= população no meio do ano j.

78
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Assim, suponhamos que a população de uma aldeia X é, no dia 1 de Janeiro de 1993 de 300
pessoas e no dia 1 de Janeiro de 1994 de 280 pessoas. Durante o ano de 1993 registaram-se 5
nascimentos. A taxa bruta de natalidade seria:

P1993 = 300

P1994 = 280

População média = (P0 + P1) / 2 = 290

TBN = (5 x 1000) / 290 = 17,2 por mil

Nasceram 17,2 crianças por cada mil habitantes.

Deve notar-se que, embora sendo um indicador muito utilizado, constitui todavia um elemento
grosseiro, pois nessa população média estão incluídos todos aqueles, jovens e velhos, que não
se encontram em idade de procriar.

A taxa de natalidade depende em grande parte da estrutura da pirâmide etária e, em especial, do


número de mulheres em idade fecunda. Fortes variações da taxa de natalidade tanto podem ser
resultantes da estrutura por idade como do comportamento da fecundidade propriamente dita.

A TBN não é um bom indicador para comparar diferenciais de fecundidade entre populações, pois
além de depender da intensidade com que as mulheres têm filhos a cada idade, ou grupo etário,
depende da estrutura etária das mulheres no período reprodutivo.

3.1.2- Taxa de fecundidade geral (TGF):

Corresponde à relação entre o número de nascidos vivos e a população feminina em idade


reprodutiva em determinado ano j. Considerando como estando em idade reprodutiva a população
feminina entre 15 e 49 anos, tem-se que:

Nj
TGF  *1000
49 P15, fem, j

onde:
Nj = total de nascimentos durante o ano j e

49P15,fem,j= número de mulheres de 15 a 49 anos.

Exemplo: Nascimentos: 150 Número de mulheres de determinada idade: 1 000


79
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Taxa de fecundidade geral: (150/1000) x 1000 = 150 nascimentos por mil mulheres
f = 150 ‰

Notar que os nascimentos aqui são dos 2 sexos.

Voltando ao assunto, as taxas de fecundidade seriam:

f15 = N15=> número de Nascimentos de mulheres de 15 anos.

F15 = P => número de mulheres de 15 anos de idade

(Utilizamos F para mulheres, reservando N para nascimentos).

Na prática, para evitar os longos cálculos inerentes ao tratamento ano por ano, utilizam-se:

a) grupos quinquenais (por exemplo: grupos de mulheres de 15 a 19 anos completos);

b) o índice sintético geral, compreendendo toda a população feminina (dos 15 aos 49 anos
completos).

Exemplo de a):

f20-24 = N20-24 => Número de Nascimentos de mulheres dos 20 aos 24 anos de idade

F20-24 => número de mulheres do grupo 20-24 anos completos

Exemplo de b):

f15-49 = N15-49=> Número de nascimentos de mulheres do grupo 15-49 anos

F15-49=> Número de mulheres do grupo 15-49 anos de idade completos.

3.2. Mortalidade: Conceitos, Cálculo e interpretação.

3.2.1 - Taxa bruta de mortalidade (TBM):

A taxa bruta de mortalidade corresponde à relação entre o total de óbitos


ocorridos durante um ano calendário e a população total, As mulheres em média vivem mais que
os homens pois eles: fumam mais, bebem mais, etc.Com o passar dos tempos. Tal medida
representa o risco de uma pessoa de determinada população morrer no decorrer do ano.
Portanto, temos que:

80
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Oj
TBM  *1000
Pj

Onde:

Oj= número de óbitos em determinado ano calendário j e

Pj= população no meio do ano j(na ausência desta trabalha-se com a população média).

O nível da TBM dependerá tanto da intensidade com que se morre a cada


idade, como da distribuição etária da população.

Exemplo: o país A apresenta os seguintes dados:

Óbitos em 1969: 570 601

População em 1/1/1969: 50 105 500

População em 1/1/1970: 50 524 400

Em primeiro lugar temos que calcular a População média, correspondendo estatisticamente à


população a meio do ano (30 de Junho):

Pme = (50 105 500 + 50 524 400) /2 = 50 314 950

TBM = 11, 34 por mil.

Esta é importante mas comporta alguns inconvenientes, na medida em que pode induzir em erro
quando comparamos populações com estruturas etárias muito diferentes. Nesses casos, uma
taxa de mortalidade elevada tanto pode traduzir más condições económicas e sanitárias como
resultar de uma pirâmide etária envelhecida, apesar de a população usufruir de boas condições
de vida.

3.2.2 - Taxa de mortalidade infantil (TMI):

Corresponde ao risco de um nascido vivo vir a falecer antes de completar


1 ano de idade. Usualmente, esta taxa é calculada como a relação entre os
óbitos de menores de 1 ano ocorridos durante um ano calendário e o número de
nascimentos do mesmo ano, ou seja:

81
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
1Oo, j
TMI  *1000
Nj

Onde:
1O0,j = número de óbitos de menores de 1 ano de idade ocorridos no ano j,
independente do ano de nascimento e

Nj= número de nascidos vivos no ano j.

É importante ressaltar que o numerador da TMI pode estar sujeito a subregisto, dependendo da
qualidade do sistema de estatísticas vitais da região em questão, e que correcções podem ser
necessárias para se ter um indicador mais confiável.

Exemplo 1 : A taxa de mortalidade infantil em um país “A” foi de 700 crianças e o número de
nascidos vivos, no mesmo período, foi de 50 mil. Termos então:

700
TMI  * 1000  14‰
50000

Exemplo: Se numa região houve 11751 nascimentos em 1961, 11730 em


1962, 385 óbitos com menos de 1 ano de vida em 1962, então a t.m.i. em 1962 é:

385
TMI  *1000  32,79‰
11751  11730
2

3.2.3 - Esperança de vida ao nascer:

Tendo em vista o facto de a TBM não ser um bom indicador para comparar
duas populações com estruturas etárias diferentes, surge a necessidade de se
buscar uma medida de mortalidade que não seja sujeita ao efeito da composição
etária. Uma alternativa pode estar no uso das TEMs, mas, devido à quantidade
de comparações a serem feitas e à diversidade de estruturas de mortalidade,
considerando diversas populações, a comparação de TEMs apresenta dificuldades
operacionais. Um indicador que tem a característica de ser uma medida resumo,
além de não estar sujeito à influência da composição etária, é a esperança de
vida em determinada idade x, denotada por x. A esperança de vida em
determinada idade pode ser interpretada como o número médio de anos que um

82
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
indivíduo viverá, a partir daquela idade, considerando o nível e a estrutura da
mortalidade por idade observados naquela população.

Esperança de vida na idade: o número médio de anos que resta para viver
às pessoas que atingiram a idade x.

Quando x = 0, é a esperança de vida à nascença (é o número total de anos vividos


desde o nascimento dividido pelo efectivo inicial).

To
e0 
So

Exemplo: Uma geração S0 = 10 000. Aos 90 anos há 260 sobreviventes (S90 = 260). A soma
total das pessoas com mais de 90 anos até ao desaparecimento total dessa geração (admitamos
aos 99 28 anos) é de 520 pessoas. Qual é a esperança de vida aos 90 anos (e90)?

ₑ90 =

Quer dizer, as pessoas com 90 anos podem esperar viver em média dois anos e meio. É claro
que uma viverão menos e outras mais...

3.2.4 - Factores de mortalidade ou motivos de morte.

No processo de reprodução humana ou, por outras palavras, no processo de mudança de


geração, a mortalidade, juntamente com a fertilidade, desempenha um papel importante. A norte
de cada pessoa, por si só, constitui um fenómeno biológico, apesar de ter sido socialmente
determinada.

Mortalidade é o processo que ocorre em diferentes idades e que determina a extinção real ou
hipotética da geração . o indicador de mortalidade e a esperança de vida são os principais
critérios que caracterizam o nível de saúde pública e, portanto, o nível e qualidade de vida.

O processo de extinção da geração depende de um grande número de factores biológicos e


sociais como causas de mortalidade (genéticas, natureza e clima, económicas, culturais, políticas,
nacionais, etc.). na análise demográfica de mortalidade, o mais importante é a divisão em dois
grandes grupos:

- Endógeno (resultante de desenvolvimento interno no corpo humano);

83
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
- Exógeno (relacionado com a influência do meio ambiente externo).

A morte sempre resultado da interacção de factores de ambos estes grupos, mas o papel de cada
um deles pode ser fundamentalmente diferente.

Factores endógenos: incluem os componentes biológicos do ser humano, sexo e idade. Por si
só, pertencem a ambos os sexos e determinam o nível de vitalidade do corpo. Sabemos que é
mais elevado em mulheres do que em homens. A idade também reflecte o grau de resistência do
organismo, ou seja, a sua capacidade de resistência ao desgaste. Todos esses indicadores
possuem uma natureza biológica. No entanto, a influência decisiva sobre os componentes
biológicos depende também de certas condições sociais, o que acaba por determinar o nível e
idade da morte. Mas este nível deve ser dividido em dois períodos:

Primeiro: idade em que ocorre uma diminuição contínua no risco de morte (por exemplo entre os
12 e os 14 anos);

Segundo: quando ocorre um aumento contínuo do risco de morte.

Entre os componentes biológicos encontra-se a natureza da hereditariedade, ou seja, o código


genético humano. Se o corpo foi influenciado por um conjunto de circunstâncias favoráveis, isso
significa que, do ponto de vista genético, tem os pré-requisitos necessários para uma vida longa.
No entanto, as condições sociais ou outras não favoráveis reduzem a vitalidade natural do corpo
e, consequentemente, o seu grau de resistência a influências nocivas.

A acção dos factores endógenos causa, principalmente, o envelhecimento do organismo.


Portanto, os processos endógenos são ordenados num certo sentido e o seu efeito distribuído ao
longo da vida de cada indivíduo de forma não aleatória nem uniforme e concentrada nos grupos
etários mais velhos.

Algumas mortes são causadas por doenças degenerativas hereditárias, malformações


congénitas, etc., ocorrem em jovens e muitas vezes na primeira infância.

A velocidade do envelhecimento natural está relacionada com as características evolutivas das


espécies, que não são absolutamente iguais em todas as pessoas pois cada uma tem
particularidades individuais. A idade vai enfraquecendo a vitalidade até a morte estar iminente,
que varia dentro de um determinado intervalo em torno de um valor biológico (tipo) e que
perspectiva a esperança de vida.

84
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Assim, se considerarmos que a degeneração hipotética em função idade determina a mortalidade
de qualquer população, então, qualquer elemento do acaso tem menor influência, sendo a
probabilidade de morte por idade muito maior.

O impacto dos factores exógenos nos desenvolvimento da mortalidade do organismo individual


apresenta-se geralmente de forma desordenada e aleatória. Uma vez sujeito a tais influências,
menos dependente da idade, a probabilidade de a sua força exceder a capacidade protectora do
corpo pode levar à morte. Naturalmente, em qualquer caso, a probabilidade de morte revela-se
maior na idade em que existe um fluxo relativamente constante de influências externas aleatórias
confrontadas com organismos mais vulneráveis (como criança e idosos). Ao mesmo tempo, o
efeito de alguns factores exógenos sobre a mortalidade pouco depende da idade (por exemplo,
desastres naturais, epidemias), e até faz aumentar a mortalidade nas idades mais viáveis
(guerras, acidentes domésticos e de trabalho, etc.). Por isso, quando o valor da mortalidade
exógena é em geral elevado, a probabilidade de morte acidental pode acontecer a qualquer um,
incluindo na idade madura. O aumento do papel dos factores endógenos sobre a mortalidade
equivale a limitar o papel do acaso no processo de extinção de gerações e o aumento da
esperança de vida.

Falando de factores endógenos e exógenos, deve salientar-se o vínculo entre o organismo, o


desenvolvimento das suas funções internas e as influências externas, a partir do ambiente
humano. Neste contexto, é possível repartir «as vantagens endógenas» e «as vantagens
exógenas», pois os factores não são absolutizados no componente externo ou interno da
patogénese de cada um deles. É óbvio que, por exemplo, as infecções ou lesões têm uma
natureza exógena, e que, dependendo da sua gravidade, um jovem saudável tem menor
probabilidade de morrer do que um velho doente. Neste caso, os factores endógenos medem a
probabilidade de morte por causas exógenas e, no inverso, o forte efeito adverso da esfera
externa acelera a morte por factores endógenos.

As mudanças radicais do ambiente humano criaram novos factores exógenos com impactos
cumulativos (por exemplo, devido à poluição). A sobrecarga emocional dos dias de hoje tornou-se
um atributo da vida urbana, causando um aumento de doenças psicossomáticas.

O homem, durante a vida, está constantemente exposto a vários factores externos, que melhoram
o desenvolvimento endógeno do processo de envelhecimento mas reduzem a viabilidade do

85
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
organismo. Gradualmente, vai acumulando factores endógenos que têm resultados letais, em
geral nos grupos etários mais velhos.

Assim, entre as causas endógenas mais gravosas encontram-se as doenças cardiovasculares, os


tumores, as úlceras do estômago e do duodeno, a cirrose hepática, a diabetes, nitrite, etc. As
principais causas de morte exógenas são as doenças infecciosas e parasitárias, respiratórias,
digestivas, acidentes, intoxicações e lesões.

3.3 - Migrações: Conceitos e taxas associadas.

Historicamente, a migração tem tido uma posição secundária nos estudos


demográficos. Segundo Welti (1998), isso pode ser explicado por diversos motivos:
(a) factores de ordem conceitual, referindo à dificuldade de incluí-la dentro de
relações analíticas e teóricas similares àquelas geradas para outros componentes
demográficos; (b) dificuldades metodológicas para definir, medir, projectar e obter
informações confiáveis sobre os processos migratórios; e (c) a despreocupação
de certas escolas da Demografia com os movimentos populacionais.

Entretanto, a migração ainda é um componente que pode influir na estrutura, dinâmica e


tamanho da população em níveis não desprezíveis, embora a suposição de
população fechada seja capaz de simplificar os cálculos demográficos. Os fluxos
migratórios são capazes de alterar significativamente o padrão e o nível da
fecundidade e da mortalidade de uma região. Ressalta-se, ainda, que a migração
é um fenómeno essencialmente social, e que é determinado pela estrutura cultural,
social e económica da região em que ocorre (Welti, 1998).

3.3.1 - Tipos e factores de migração

O estudo da migração (migração da população) está ligado à circulação de pessos


(individualmente ou em família) para além das fronteiras de entidades territoriais (nacionais e
estrangeiras), estando geralmente associada a uma mudança de residência. Constitui um dos
maiores desafios prementes das estatísticas demográficas. Actualmente, observa-se no mundo
um processo de migração global que desestabiliza o funcionamento normal da maioria das
economias dos países. Os processos de migração afectam a situação demográfica, mercado de
trabalho, meio ambiente, nível de criminalidade, etc. Como resultado, esse tipo de tendências
tende a alastrar-se em vários pontos do nosso planeta em países como Inglaterra, Alemanha, etc.

86
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
A migração, dependendo da região ou do país, tem sua própria especificidade. Além disso, o seu
carácter ao longo do tempo pode alterar-se significativamente.

3.3.2 - Motivos que provocam as migrações e critérios de classificação dos fenómenos


migrações

A migração ocorre por diversos motivos e pode ser classificada de acordo com vários critérios tal
como se indica a seguir:

A migração tem lugar quando se atravessa uma fronteira pelas seguintes razões: mudança
do local de residência, procura de trabalho, estudo e também mudança da família, devido a
condições adversas naturais e ambientais, étnicas, religiosas, etc.;

Por motivos territoriais: nestes casos, o migrantes dividem-se em imigrantes, pessoas que
entram no país, e emigrantes, pessoas que deixam o país.

Dentro do território do país há que diferenciar a migração que é feita das áreas rurais para as
áreas urbanas e vice-versa; a duração da mudança de residência; o grau de movimento
«voluntário» dos que deixam (por grau de voluntariedade podem distinguir-se a migração
voluntária, a forçada e compulsiva, separada por grupo de refugiados, pessoas deportadas, etc.);
o número dos que partem (pode distinguir-se por número de indivíduos e migração familiar), etc.

Prognóstico demográfico: o pressuposto sobre o estado e o futuro da situação demográfica do


país pode ser classificada de acordo com os diferentes critérios:

- Por previsões realistas, analíticas, regulamentares;

- Por escala, dependendo do objecto a prognosticar (globo, nação, região, cidade, etc.).

O coeficiente de crescimento migratório (K) calcula-se através da comparação dos indicadores


absolutos de migração (chegadas, partidas e migração bruta ou líquida) por um determinado
MjMi
período com a população média do território. Expressa-se pela seguinte fórmula: K  *c
S

Onde:

S – População do território

Mj – Chegados

87
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Mi – Número dos que partiram, ou seja, a relação entre a migração líquida para o número da
população do território

c – Constante igual a 100%

O coeficiente de crescimento migratório: indicador que mede a intensidade de migração. Os


mais comuns são os coeficientes de migração por chegada e por partida, sendo calculado como
razão entre o número que se mudou para um determinado território e ao número de desalojados
num determinado período de tempo (geralmente um ano) para o número médio anual da
população residente neste território.

Assim, segundo a tradição, os tipos de migração são determinados pela estada dos migrantes no
local de entrada e respectiva natureza específica. Os principais tipos de migração incluem:

 Episódica;
 Pendular (diária);
 Temporária;
 Irreversível (sem regresso);
 Forçada;
 Ilegal.
Existe a migração ocasional (migração episódica relacionada com os negócios ou turística), que
não possui carácter regular. Há ainda a considerar a migração pendular como o deslocamento
diário para outra cidade para o trabalho ou estudo (com viagem de ida e volta), no qual não ocorre
mudança de residência.

Migração episódica: está relacionada com negócios, turismo, lazer, etc., não tendo carácter
temporário regular. A sua importância na transição para uma economia de mercado tem
aumentado significativamente. Pela natureza da sua escala, esse tipo de migração supera todas
as outras, apesar de seu interesse, especialmente demográfico, ser significativamente inferior. No
presente momento, o seu estudo, com excepção das viagens turísticas no estrangeiro, é
relativamente fraco.

Migração pendular: relaciona-se com viagens regulares, diárias ou semanais de uma povoação
para outro local, por exemplo da residência para os locais de trabalho ou escolares e respectivo
regresso. A suas principais direcções são: da vila para a cidade, da pequena para a grande
cidade, entre outras.

88
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
A migração pendular ocorre sobretudo em áreas suburbanas das grandes cidades, bem como na
área de cidades médias e pequenas ou no interior de áreas urbanizadas. Em geral, essas zonas
suburbanas formam uma área pendular sustentável, directamente relacionada com o
desenvolvimento dos transportes. Este tipo de migração representa uma importante fonte de mão-
de-obra nas áreas urbanas (cerca de 20% das necessidades das grandes cidades em termos de
força de trabalho está coberta por pendulares); melhora a eficiência da utilização dos recursos
dos trabalhadores altamente qualificados, podendo envolver requalificação de mão-de-obra;
estende a influência directa das grandes cidades sobre a população – centros de formação, de
cultura e espirituais, por exemplo -, principalmente às zonas agrárias, tendo em vista o emprego e
estilo de vida urbanos, bem como a mobilidade social; possibilita uma escolha mais ampla da
profissão e emprego, contribuindo para o desenvolvimento de novas formas de assentamentos
que combinem elementos urbanos e rurais.

Principal contra: a diminuição do tempo livre e a duração das viagens de ida e volta («fadiga do
transporte»), podem levar a uma diminuição da produtividade.

Migração temporária: está relacionada com o movimento da população economicamente activa,


sobretudo para lugares temporários de trabalho e de residência por um período de vários meses,
com a possibilidade de regressar ao seu local de residência habitual permanentemente. Por um
lado, a migração temporária possibilita a obtenção de melhores rendimentos fora dos locais de
origem, e por outro lado a satisfação das necessidades do défice da produção no mercado de
trabalho. Essa migração relaciona-se com a economia de certas regiões específicas e suas
indústrias, onde a procura de trabalho não é uniforme no tempo. Neste tipo de migração incluem-
se principalmente as actividades agrícolas, para as quais a demanda é maior na época de plantio
e colheita e as indústrias relacionadas com o processamento de matérias-primas agrícolas,
florestais (de liga), piscatórias (pesca costeira) ou as metalúrgicas (por exemplo, o trabalho
mineiro), entre outras. A população chinesa em Angola constitui um paradigma. A maioria dele
que aqui vivem faz parte do contingente de migrantes temporários.

Migração irreversível: este tipo de migração é entendido no sentido restrito (como deslocação),
ao contrário do conceito de migração como qualquer deslocamento espacial da população.
Depende de duas condições básicas:

1. As pessoas deslocam-se do local onde estão estabelecidas para outro;

89
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
2. O movimento é acompanhado por uma mudança de residência permanente e, nos
últimos anos, até de cidadania.

O volume e a intensidade das migrações irreversíveis dependem de muitos factores, incluindo os


económicos, sociais, políticos, etc.

Migração forçada: forma de migração moderna devido à deslocação em massa de pessoas


associadas à mudança temporária ou permanente de residência por razões alheias à sua vontade
(por exemplo, devido a desastres naturais, crises económicas e problemas tecnológico; ao
aumento da intolerância que pode estar ligado a conflitos civis e guerras regionais; às mudanças
da situação política, levando ao conforto de certos grupos sociais com autoridade, entre outras. A
título de exemplo, em pleno século XXI o mundo tem estado a acompanhar o fluxo migratório em
massa que está ocorrer).

As principais causas da migração forçada são, assim, os vários tipos de conflitos armados; a
violação dos direitos humanos e das liberdades; a desagregação governamental.

Os migrante forçados incluem refugiados, pessoas deslocadas internamente e requerentes de


asilo. Ao contrário de migração voluntária, os reassentados forçados têm uma conotação política
pronunciada e uma natureza coerciva.

Migração ilegal: este tipo relaciona-se com especificidade da migração externa. Os migrantes
ilegais são pessoas que vão em busca de trabalho noutro país de forma ilícita (por exemplo, do
México para os EUA atravessam ilegalmente a fronteira mais de um milhão de pessoas por ano)
ou legal (por convite pessoal, como turistas, etc.) mas que ingressam no mercado de trabalho
ilegalmente.

Na teoria dos processos migratórios, os factores de migração aparecem como um conjunto de


condições sociais em que esse processo ocorre e que influenciam o seu alcance, a intensidade, a
direcção e outros parâmetros.

A classificação mais comum, delimitação de factores, depende da capacidade de regular o seu


impacto sobre o processo de migração.

Os factores e as causas da migração são divididos em: negativo (expulsar) e positivo (atrair). É
difícil identificar quais os que determinam o acto da migração. Na primeira fase, juntamente com
os factores que são formulados para as bases do reassentamento (expulsor), actuam também os

90
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
factores que determinam exactamente onde, em que país ou região a pessoa será acolhida
(atraído).

UNIDADE IV: CRESCIMENTO POPULACIONAL

4.1 - Crescimento Natural e Crescimento Total da população.

Há dois mil anos, estima-se que o número de habitantes na Terra não fosse superior a 250
milhões de pessoas. Em 1650, o número alcançou 500 milhões. Em 1850, o planeta atingiu,
finalmente, a casa de 1 bilhão de pessoas; em 1950, 2,5 bilhões; em 1987, 5 bilhões e, em
2010, quase 7 bilhões de pessoas.

Fazendo uma rápida leitura desses dados é possível perceber que a população mundial levou
mais de 1600 anos para dobrar o seu tamanho e, depois, mais 200 anos para dobrar
novamente. Posteriormente, o planeta continuou um crescimento elevado da sua população,
principalmente quando saltou de 2,5 bilhões para 5 bilhões em apenas 37 anos. Por esse
crescimento populacional extremamente rápido e elevado, foi criada, nos anos 1980, a
expressão “explosão demográfica”.

Com isso, observou-se certo alarmismo por parte de alguns governos, dos analistas e da
população. A principal preocupação se referia à disponibilidade de espaços e recursos para
abrigar toda essa massa de pessoas, bem como os impactos ambientais causados pelo
“excesso de gente” no mundo. Entretanto, esse alarmismo demonstrou-se desnecessário.

O que se percebe, actualmente, é uma redução no aumento do número de habitantes no


planeta. Por isso, muitos autores não utilizam mais o termo “explosão demográfica” para
definir o alto crescimento da população ao longo do século XX, mas o termo “transição
demográfica”, pois esse foi um período em que a queda nas taxas de mortalidade não foi
acompanhada pela queda nas taxas de natalidade, o que só está ocorrendo agora.

Esse alto índice de crescimento da população nos últimos dois séculos deveu-se
principalmente aos processos de Revoluções Industriais. Com isso, a maior parte da
população passou a morar nas cidades, o que colaborou para esse crescimento do número de
pessoas.

91
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Contudo, em um primeiro momento, a maior parte das populações das cidades em países
desenvolvidos vivia em condições precárias, o que contribuía para os elevados índices de
taxas de mortalidade. Como a redução dessa mortalidade só veio a ocorrer no século XX,
observou-se então um aumento sem precedentes da população, o que pode ser considerado
como algo momentâneo. Vale lembrar que esse mesmo processo está em ocorrência nos
países subdesenvolvidos, de forma tardia.

Estimativas da ONU (Organização das Nações Unidas) apontam que, em 2050, a população
mundial atingirá 9,2 bilhões de pessoas, um crescimento pouco maior que 30% em relação a
2010. Ou seja, considerando que a população dobrou (cresceu 100%) em 37 anos durante o
século 20, percebe-se que a tendência agora não é mais a mesma.

Mesmo com o crescimento menor da população nos próximos anos, ainda existe certo
alarmismo no que diz respeito à disponibilidade de recursos e condições para a manutenção
desse contingente de pessoas. Entretanto, é preciso observar que os avanços tecnológicos
continuam acontecendo e, principalmente, que o grande problema dos casos de fome e falta
de recursos no mundo não está na quantidade de riqueas disponíveis, e sim na sua má
distribuição.

4.1.1 - A Equação básica da Demografia

Na análise demográfica a equação de base toma como unidade de tempo o ano. A população no
dia 1 de Janeiro é notada P1, a qual é igual a P0 (população do dia 1 de Janeiro do ano
precedente), aumentada no número de nascimentos (N) e imigrantes (I) e diminuída do número
de óbitos (O) e emigrantes (E) entre os dois 1 de Janeiro sucessivos.

P1 = P0 + N - O + I - E com:

N: número de nascimentos

O: número de óbitos

I: número de imigrantes

E: número de emigrantes

92
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
O termo N - O (nascimentos menos óbitos) representa o chamado saldo natural ou
balança natural de uma população; o termo I - E (imigrantes menos emigrantes) representa o
saldo migratório, ou ainda imigração líquida.

Chama-se movimento natural da população ao que resulta somente dos nascimentos e dos
óbitos e movimento real o movimento natural acrescido do efeito das migrações. Evidentemente
que numa população fechada, quer dizer sem migrações externas, o movimento natural coíncide
com o movimento real.

Se raciocinarmos em termos de taxas (fazendo abstracção das migrações) falamos de


taxa de crescimento natural que é a diferença entre a taxa bruta de natalidade e a taxa bruta de
mortalidade. O cálculo da taxa de natalidade será apresentado no ponto seguinte, mas podemos
dar desde já um exemplo simples. Suponhamos que a população média (a meio do ano) de um
país Y foi calculada em 42 950 000 de pessoas.

Durante esse ano nasceram 807 000 crianças e registaram-se 514 400 óbitos. A taxa de
natalidade seria de 18,8 por mil e a taxa de mortalidade de 12 por mil. Taxa de crescimento
natural: 18,8 - 12 = 6,8 por mil.

A economia aborda frequentemente aspectos da vida das populações, como é o caso do


crescimento natural, da estrutura e evolução da população activa, da taxa de desemprego, etc.
Um dos conceitos mais simples é o da taxa de crescimento anual médio da população. Dois
exemplos farão compreender claramente o seu sentido.

Num país A a população é de 13 743 milhares de habitantes em 1970 e de 21 718 milhares em


1985. Qual foi a taxa de crescimento anual médio da população entre 1970 e 1985?

Se não dispusermos das taxas brutas de natalidade e de mortalidade, uma maneira rápida de
obter o resultado é aplicar a fórmula:

Pn = P0 (1 + a)n

Onde:

P0 = População em 1970

Pn = População em 1985

93
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
a = taxa de crescimento

n = tempo (número de anos)

Assim:

21 718 = 13 743 (1+a)15

Utilizando logaritmos fica mais simplificado o nosso cálculo:

log (1+a) = 0,013253

1 + a =100,013253

1+a = 1,031

a = 3,1 %

Outra maneira de obter a taxa de crescimento natural é fazer a diferença entre a taxa bruta de
natalidade (TBN) e a taxa bruta de mortalidade (TBM).

Por exemplo, o conjunto dos países do chamado "Terceiro Mundo" registou as seguintes TBN e
TBM, em média anual no período 1975-1980:

TBN = 33 por mil

TBM = 12,1 por mil

Assim, a taxa de crescimento médio anual (an) foi de:

TBN - TBM = an 33 por mil - 12,1 por mil = 20,9 por mil ou 2,09 %.

Repare-se que, enquanto as TBN e as TBM são expressas em "por mil", as taxas de crescimento
costumam ser indicadas "em percentagem".

4.2 - Cálculo da taxa anual de crescimento da população.

Quando temos, ao longo do tempo, informação variada sobre o volume de uma população
queremos numa primeira análise calcular o ritmo de crescimento. O valor do ritmo de
crescimento deve corresponder a um resultado anual médio para ser possível fazer comparações
em períodos de amplitudes diferentes.
94
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Considere uma população em determinado instante de tempo n. Suponha
ainda que, a partir de uma população inicial no passado, não tenha havido
movimentos migratórios na área. A trajectória entre a população inicial e a actual
pode ser explicada pelos nascimentos e mortes havidos no período em questão.O rítmo de
crescimento de uma população pode ser:

i) Contínuo:

Pn= P0ean(1)

Com:

onde:
e = 2,718282 (exponencial)

Pn = população num momento n

P0 = população num momento 0

a = taxa de crescimento.

Aplicando logaritmos neperianos (ln) a (1) temos:

ln Pn  ln Po  ln e an

ln Pn  ln Po  an

Pn
ln  an e
Po

Pn
ln
a Po
n

Onde:

a é a taxa de crescimento contínuo.

ii) Aritmético:

Pn= P0 (1 + an)

ou seja
95
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Pn = P0 + P0an

Pn– P0 = P0an

Pn  Po
e a
Pon

onde:

a é a taxa de crescimento aritmético.

iii) Geométrico:

Pn = P0 (1 + a)n

ou seja

Pn
= (1 + a)n
Po

e aplicando logaritmo na base 10 temos:

Pn
log  n log(1  a )
Po

Pn
log
Po  log(1  a )
n

Pn
log
Po
10 n
 1 a

Pn
log
Po
a  10 n
1

Onde:

a é a taxa de crescimento Geométrico.

Exemplo 1. Se em 1821 a população de uma região era de 3276203 habitantes, e se


a taxa de crescimento, a, é de 0.25%, qual a população ao fim de 5, 25 e 100 anos?

a) Calcula com base aos três ritmos de crescimento.


96
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
b) Se a taxa de crescimento geométrico for a = 0.0021 (0.21%), ao fim de quantos anos
duplicará a população? (Crescimento geométrico).
 Se for crescimento contínuo

Pn = P0ean

e = 2,718282

P5 = 3276203e0.0025 × 5 = 3317412

P25 = 3276203e0.0025 × 25 = 3487500

P100 = 3276203e0.0025 × 100 = 4206728

 Se for crescimento aritmético

P5 = 3276203 (1 + 0.0025 × 5) = 3317156

P25 = 3276203 (1 + 0.0025 × 25) = 3480966

P100 = 3276203 (1 + 0.0025 × 100) = 4095254

 Se for crescimento geométrico

P5 = 3276203 (1 + 0.0025) 5 = 3317361

P25 = 3276203 (1 + 0.0025) 25 = 3487228

P100 = 3276203 (1 + 0.0025) 100 = 4205416

A taxa de crescimento geométrico duplicará em:

Pn = P0 (1 + a) n

2P0 = P0 (1 + a) n

2P0
= (1 + a) n
P0

2 = (1 + a) n

Aplicando logaritmos,

log2 = n log (1 + a)
97
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
0,30103 = n log (1,0021)
0,30103  0,00091n
0,30103
n
0,00091
n  330,80220
n  331

R: ao fim de aproximadamente 331 anos.

Exemplo 2. Se um país em a taxa de crescimento populacional for de 10% no início a população


é de 25.748.250 habitantes, num período de 5 anos a população deverá ser igual à?

4.2 - A Explosão Demográfica: Conceitos, causas e consequências.

A explosão demográfica é o aumento elevado e repentino da população de seres humanos. É


frequentemente associada a avanços tecnológicos, tendo a maior delas ocorrido no século XX
da era cristã.

O aumento brusco da população leva a um aumento também brusco do território ocupado, e tem
alguns efeitos ambientais e económico-sociais catastróficos, daí a comparação com uma
explosão.

As explosões demográficas são observadas em duas situações:

 A introdução de novas tecnologias que reduzam a mortalidade (aumento na produção de


alimentos ou cura de doenças importantes);
 Em períodos de guerra ou grandes calamidades, em que a sobrevivência da sociedade está
ameaçada, regista-se importantes aumentos das taxas de natalidade. Neste caso, a
"explosão" também é chamada de baby boom.

Entende-se por explosão demográfica o crescimento elevado da população do mundo ou de um


determinado território ou região. Pode ser causada por diferentes motivos, variando conforme o
período histórico e as diferentes localidades.

4.3 - O Envelhecimento Demográfico: Conceito, causas e consequências.

O envelhecimento da população é constituído pelos seguintes factores:

- Redução da natalidade;

98
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
- Crescimento da mortalidade infantil;

- Reduzir a mortalidade dos idosos, aumento da esperança média de vida;

- Saída dos jovens no processo de migração;

- Perda irrecuperável de população em idade activa nas guerras.

Para caracterizar o processo de envelhecimento, utilizam-se os seguintes ondicadores:

P 60 
Kc  * 100
P

- Coeficiente de idade ou a população com 60 anos ou mais relativamente à população em geral.

P60+ - Número de pessoas com 60 anos ou mais;

P – População total.

O demógrafo polaco Edward Rosset propôs a seguinte escala para avaliar o processo de
envelhecimento demográfico: Classificação de envelhecimento demográfico de População (Tab.
1).

Tab 1. Classificação de envelhecimento demográfico de População

Grupo Proporção de idosos (60 Características


anos, ou mais),%
I Menos de 8 Demografia juvenil
II 8-10 Entrada para velhice
III 10-12 Envelhecimento normal
IV 12 e mais Envelhecimento
demogáfico
Fonte: Manual prático de Demografia.

Exemplo: Na tabela do II capítulo podemos calcular o coeficiente demográfico da seguinte forma:

P60 + = 818. 109 habitantes

P total = 6.663.138 habitantes

818. 109 habitantes


Kc  * 100
6.663.138 habitantes

Kc  12,27%
99
Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
4.4 - Políticas Demográficas.

Para Aristóteles, o ser humano é um animal social (zoon politikon). A política surge
nos Estados organizados (polis) que admitem ser um agregado de muitos membros, e
não uma simples família, tribo, religião, interesse ou tradição. A política surge da
aceitação do facto da existência simultânea de diferentes grupos e, consequentemente,
de diferentes interesses e tradições, dentro de uma unidade territorial que necessita ser
regida por uma lei comum. O bem supremo da política é buscar “a maior unidade
possível de toda a polis” (Crick, 1981).

A política nacional é a actividade por meio da qual os interesses divergentes são conciliados,
dentro de um determinado território, com vistas à obtenção da maior satisfação da colectividade.

Denomina-se comummente política populacional o conjunto de medidas destinadas


a modificar o estado de uma população de acordo com interesses sociais determinados.
Tal modificação se refere tanto às mudanças no volume e no ritmo de aumento (ou
decréscimo) da população, quanto à distribuição e densidade desta dentro de um
território dado, assim como também à sua composição qualitativa e quantitativa em
relação a actividades específicas. Quanto aos interesses sociais, consistem em fazer cada
vez mais extensiva a participação dos grupos sociais maioritários nos benefícios do
desenvolvimento económico e social”.

Segundo o Dicionário de Economia (1985) a política populacional é:“Conjunto de procedimentos


que objectivam alterar elementos da dinâmica populacional, ou seja, as taxas de natalidade,
mortalidade e migração. Esses procedimentos visam basicamente ao tamanho da população e a
sua distribuição etária e geográfica, procurando integrá-los às metas de desenvolvimento do país.
Na maioria dos casos, entretanto, a política populacional está ligada quase exclusivamente ao
controle da natalidade. O interesse pela questão é devido ao crescimento demográfico acelerado
constatado em determinadas regiões, especialmente as subdesenvolvidas.

Na realidade, somente ocorre política populacional quando sectores hegemónicos da sociedade


definem como desfavoráveis e inconvenientes tendências demográficas observadas e
determinadas, sem intervenções voluntárias e explícitas, por factores biológicos, económicos,
sociais e culturais. Visam, portanto, as políticas populacionais alterar o comportamento dos
factores dinâmicos – no caso em estudo, a fecundidade – de modo a conseguir um ritmo de
crescimento da população considerado desejável face ao desenvolvimento das forças produtivas,
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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
das necessidades de mão-de-obra e dos óbices económicos das chamadas despesas
demográficas”.

Numa primeira aproximação, podemos definir as políticas populacionais como


sendo aquelas acções (proactivas ou reactivas) realizadas por instituições (públicas ou
privadas) que afectam ou tentam afectar a dinâmica da mortalidade, da natalidade e das
migrações nacionais (e/ou internacionais), acções essas que buscam influenciar as taxas
de crescimento demográfico (positivo ou negativo) e a distribuição espacial da
população. As políticas populacionais podem ser intencionais ou não-intencionais,
explícitas ou implícitas, democráticas ou autoritárias e podem ser definidas ao nível
macro-institucional ou micro (indivíduos e famílias). Elas sintetizam poder, conflitos e
finalidades.

O quadro 1 apresenta um esboço da abrangência, do carácter, dos meios e dos


níveis das políticas populacionais. Evidentemente, nem sempre estas questões estão
colocadas de maneira clara na legislação. Além disto, existem países que não possuem
uma política populacional explícita e intencional. Mas, mesmo que haja neutralidade em
relação às metas demográficas a serem alcançadas, dificilmente as políticas sociais de
um país deixam de ter, em um sentido ou noutro, algum efeito sobre a dinâmica
demográfica.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
4.4.1 - Políticas que afectam os três componentes da dinâmica demográfica e a
nupcialidade:

Quanto à mortalidade: as políticas públicas voltadas para a redução da mortalidade


e para a elevação da esperança de vida da população contam com o apoio e a simpatia
geral das pessoas e das instituições de todos os países do mundo. Combater a morte,
defender a vida e aumentar e melhorar as condições de sobrevivência dos povos é um
objectivo que vem sendo almejado ao longo da história da humanidade, mas que só
começou a apresentar ganhos significativos, nos países desenvolvidos, nos últimos 200
anos e, nos países subdesenvolvidos, nos últimos 60 ou 70 anos. Para obter vitórias
sobre a mortalidade (infantil, materna, adultos, etc.) evitando ou reduzindo as doenças,
as epidemias, as más condições ambientais, a fome, a desnutrição, etc. Os indivíduos, as

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
famílias, as instituições da sociedade civil e os governos desenvolveram uma série de
políticas públicas nas áreas de saúde, educação, habitação, saneamento, assistência
social, etc. Estas políticas visam avançar com a cidadania, os direitos humanos e o bem-estar da
população.

Elas, geralmente, não são classificadas como políticas populacionais explícitas e intencionais,
mas possuem evidentes resultados demográficos não antecipados. Tomada de forma isolada,
poder-se-ia pensar que as políticas visando a redução da mortalidade seriam uma forma de
propiciar a expansão da população.

Contudo, a norma é não tratar estas políticas como parte de objectivos políticos demográficos,
mas sim como objectivos de direito à vida.

Quanto à migração: muitas migrações acontecem a partir de decisões de


indivíduos, casais, famílias ou redes de parentesco ou amizade. Mas também existem
migrações que são estimuladas por políticas populacionais explícitas dos governos e das
nações. Depois das descobertas de Colombo (1492) e Cabral (1500), Portugal e
Espanha, para citar dois casos, tiveram uma política de ocupação populacional de
emigração para a colonização de suas colónias.

Por outro lado, os países latino americanos, após suas independências, tiveram uma política
populacional de imigração.

Quanto à natalidade: na luta pela sobrevivência da espécie, as sociedades humanas se


organizaram para garantir taxas de natalidade maiores que as taxas de mortalidade. No longo
prazo, aquelas que conseguiram este feito sobreviveram e as que não conseguiram
desapareceram. Existem muitas evidências de sociedades que desapareceram, como aquela
existente na ilha de Páscoa, no sul do oceano Pacífico. Como na maior parte da história humana
as taxas de mortalidade sempre foram muito altas, a maioria das sociedades também mantinham
altas taxas de natalidade. Além, disto as populações humanas eram muito pequenas e existiam
continentes inteiros quase desabitados.

Assim, não é de se estranhar que a ocupação dos territórios e a expansão populacional eram
objectivos estabelecidos pelos povos das mais diferentes sociedades. Políticas (explícitas ou
implícitas) de apoio à natalidade sempre fizeram parte da história humana. Políticas (explícitas ou
implícitas) de redução da natalidade são acções recentes na história (especialmente nos últimos

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
200 anos) e só começaram a ser implantadas após a redução das taxas de mortalidade. Este
ponto será abordado em um item separado deste texto, dado à complexidade das questões
envolvidas nas políticas de controlo ou expansão da natalidade.

Quanto à nupcialidade: o casamento heterossexual indissolúvel é uma instituição que vem de


tempos imemoráveis. Devido às necessidades de se obter uma alta fecundidade, no tempo em
que as taxas de mortalidade eram muito elevadas, as sociedades se organizavam incentivando o
casamento precoce e desestimulando as rupturas matrimoniais. As igrejas sempre estiveram na
linha de frente da defesa do
casamento indissolúvel e monogâmico. Algumas permitiam ou toleravam a poliandria,
mas proibiam e perseguiam a poligamia.

Com a separação entre Estado e Igreja, passou a existir o casamento civil, mas eram comuns as
proibições ao desquite e ao divórcio.

4.4.2 - Políticas que influênciam o ritmo do crescimento demográfico:

Política populacional expansionista e natalista: as políticas populacionais expansionistas


predominaram na maior parte da história da humanidade, como vimos no item anterior. As Igrejas
e o Estado foram as principais instituições promotoras da expansão populacional. Obviamente, o
expansionismo populacional e a colonização de povos e regiões favoreciam determinadas elites
económicas e políticas em cada local e
momento da história. Na América Latina, isto é, na América pós-colombiana, houve o
extermínio de muitas populações indígenas e uma reposição de uma nova população,
vinda basicamente da Europa, África e, em menor proporção, da Ásia.

Em seu conjunto, a América Latina sempre foi subpovoada. Assim, muitos governos adoptaram
políticas expansionistas quer sejam por meio de incentivos à imigração, quer sejam incentivos e
normas para a obtenção de altas taxas de natalidade e nupcialidade.

Política populacional reducionista e contraccionista: as políticas populacionais de


redução do ritmo de crescimento populacional e de controlo da natalidade são recentes
na história da humanidade. Elas começaram a ser implantadas após a queda generalizada das
taxas de mortalidade que nos países desenvolvidos tiveram início no final do século XVIII e
prosseguiram de forma lenta mais constante nos séculos seguintes.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Política populacional neutra (laissez-faire): pelo exposto anteriormente fica
evidente que uma política populacional neutra ou não existe, ou é coisa muito rara.
Políticas populacionais explícitas ou implícitas sempre existiram nas áreas de
mortalidade, migração, natalidade e nupcialidade.

4.4.3 - Níveis de aplicação das políticas populacionais

Ao nível institucional: existem políticas populacionais que são formuladas


para disciplinar as instituições públicas ou privadas. Por exemplo, regulamentar o sistema de
ensino, os programas de saúde pública, o controle da acção das entidades privadas, o controlo
das fronteiras, etc. A política de saneamento básico (água, esgoto, colecta de lixo, higiene
pública) é tipicamente uma acção que atinge a comunidade como um todo e que é definida ao
nível macro, apesar de ter muitos efeitos ao nível micro.

Ao nível familiar: existem políticas populacionais que são formuladas


visando afectar o tamanho da família e as suas normas de funcionamento. Existem
políticas que adoptam o lema “a família pequena vive melhor” e existem estudos
mostrando que a mobilidade espacial e social da família pequena é maior e que, portanto factores
microeconómicos e demográficos podem ajudar na melhoria das condições devida.

Ao nível individual: existem políticas populacionais que são formuladas não


só ao nível institucional e familiar, quanto também ao nível individual. Por exemplo,
incentivando as pessoas permanecerem solteiras, regulando a idade ao casar, número de filhos
que cada pessoa pode ter, etc.

4.4.4 - Carácter público ou privado das políticas populacionais:

Quanto ao carácter público: existem políticas populacionais que concentram todas


as suas acções no sector público, mas permitem a actuação de entidades privadas e outras que
proíbem a acção dessas entidades.

Quanto ao carácter privado: existem países que o sector público não tem actuação,
ou apenas uma actuação muito pequena, enquanto são as entidade privadas que actuam
no âmbito da política populacional. Porém, quando a população mais pobre,
especialmente nos países do Terceiro Mundo, fica a mercê da lógica do mercado (lucro)
o acesso aos métodos contraceptivos se torna mais difícil e pode ter um efeito perverso,
já que os mais necessitados não teriam como verem atendidas as suas demandas.
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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
4.4.5 - Políticas populacionais explícitas e implícitas:

Políticas explícitas: as políticas explícitas acontecem quando a sociedade resolve


tomar uma posição sobre as questões referentes à dinâmica populacional. As políticas
populacionais explícitas são fáceis de serem identificadas, pois as acções e normas
quanto à mortalidade, natalidade, nupcialidade e migração estão definidas pela legislação
nacional. O problema é que nem sempre os objectivos, as acções e as normas estão colocadas
de forma clara e transparente.

Políticas implícitas: identificar as políticas populacionais implícitas é mais


problemático, pois determinadas acções e normas podem não ser formuladas com
objectivos demográficos. Por exemplo, políticas restringindo o trabalho feminino,
especialmente das mulheres grávidas, são políticas com objectivos de elevação da
fecundidade, são medidas de carácter patriarcal ou os dois? A proibição do aborto é uma
política de elevação da fecundidade ou é uma norma moral de defesa da vida desde a
contracepção? Nota-se, assim, que não é fácil dizer quando uma política tem carácter
populacional ou não.

4.4.6 - Políticas populacionais intencionais e não intencionais:

Políticas intencionais (antecipadas): é fácil identificar as políticas populacionais que


têm carácter intencional e são antecipadas, isto é, aquelas que estabelecem resultados
quantitativos ou qualitativos. Contudo, nem sempre os objectivos explícitos são aqueles
alcançados. Além disto, é difícil saber quais são os efeitos demográficos das políticas
populacionais stricto sensu e quais são aqueles resultados das políticas lato sensu.
Geralmente, as políticas intencionais requerem um processo de monitoramento para avaliar os
objectivos alcançados.

Políticas não intencionais (não antecipadas): é difícil, entretanto, estabelecer os


objectivos populacionais de políticas públicas que afectam a dinâmica demográfica, mas deforma
não intencional e não antecipada. Por exemplo, a queda da fecundidade no Brasil, segundo
Vilmar Faria (1989), foi influenciada por 4 políticas públicas que não tinham objectivos
demográficos explícitos e nem implícitos, mas que tiveram efeitos não antecipados sobre a
redução da demanda de filhos. As 4 políticas são: a) crédito directo ao consumidor; b)
telecomunicações e mídia; c) política de atenção à saúde e processo de medicalização; d)
expansão da previdência social.
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(Simão Muhepe, MSc)
4.4.7 - Políticas populacionais proactivas ou reactivas:

Políticas pró-activas: as políticas populacionais pró-activas ou preventivas são mais comuns na


área da redução da mortalidade, como as campanhas de vacinação e prevenção de doenças. As
medidas de combate o vírus do SIDA se encaixam nesta categoria. Outras medidas que visam
alterar a dinâmica demográfica precisam ser tomadas com certa antecedência, pois os fenómenos
populacionais envolvem a relação entre gerações e são afectados pela inércia demográfica.

Políticas reactivas: as políticas populacionais reactivas são feitas para remediar problemas que
se avolumaram ao longo do tempo. São aquelas que buscam remediar ao invés de prevenir. No
caso da epidemia do SIDA, por exemplo, o custo de combate à doença é muito maior do que o
custo de prevenção. Da mesma maneira, o custo para recuperar áreas ambientais degradadas é
muito maior do que o custo de prevenir danos no meio ambiente e a preservação da fauna, da
flora, da água potável, etc.

4.4.8 - O “modelo sueco” versus o “modelo chinês”:

4.4.8. 1 - O “modelo sueco”: existem políticas demográficas que são elaboradas em um


contexto político democrático e são implementadas através de medidas participativas, como no
caso do modelo adoptado na Suécia já nos anos de 1930. Ao contrário das políticas de estímulo à
natalidade e à barbaridade das medidas eugénicas adoptadas pelo fascismo italiano e o nazismo
alemão, a política populacional da Suécia foram
antecessoras imediatas das políticas para a família, base modelar do Estado do bem-estar social
sueco. Segundo Faria (1997) as taxas de fecundidade na Suécia haviam caído muito no período
compreendido entre as duas Guerras Mundiais apesar de toda a estrutura do welfare state, com
sua vasta gama de serviços públicos e mecanismos de transferências de recursos do “berço ao
túmulo”. Em meados da década de 30, já sob a égide social-democrata, foram adoptadas
abrangentes medidas de seguro social sob a
forma de “políticas populacionais” ou “políticas para a família”, atendendo o relativo
consenso quanto à necessidade de se conter o drástico declínio das taxas de natalidade.
O papel do casal Alva e Gunnar Myrdal como cientistas sociais, activistas sociais-democratas e
policy makers é considerado crucial no processo que levou à elaboração de uma agenda de
reformas sociais partindo do que antes era apenas uma preocupação conservadora quanto ao
“futuro da nação” caso as taxas de fecundidade continuassem caindo.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Existem dúvidas quanto à intencionalidade das políticas social-democratas adoptadas na Suécia,
mas o facto é que o consenso nacional obtido apoiou as reformas sociais, querem seja elas
entendida como políticas populacionais natalistas ou simplesmente como políticas de bem-estar.
A política populacional sueca tinha preocupações de harmonizar os aspectos quantitativos (elevar
as taxas de natalidade) e qualitativos (melhorar as condições de vida dos cidadãos), por esta
razão as reformas adoptadas de forma democrática tenham sido denominadas de “pró-natalismo
de esquerda”, em contraposição ao pró-natalismo autoritário da direita nazi-fascista1.

4.4.8. 2 - O “modelo chinês”: a China já era o país mais populoso do mundo quando o Partido
Comunista tomou o poder em 1949. As medidas sociais e de saúde pública adoptadas logo após
a revolução permitiram uma acentuada queda da mortalidade. Com a permanência de altas taxas
de natalidade (o aborto e a esterilização eram proibidos) houve uma aceleração do crescimento
populacional. Em 1958, o governo lança uma
política desenvolvimentista conhecida como “O Grande Salto para a Frente”, mas que resultou em
grande fracasso. Segundo Mundigo (1987), a grave crise económica do início dos anos 60 faz o
governo chinês apoiar o controlo da natalidade legalizando o aborto e a esterilização e permitindo
o funcionamento de clínicas de planeamento familiar. Contudo, com o início da Revolução Cultural
em 1966, houve uma reviravolta natalista e os casais foram incentivados a terem mais filhos,
resultando em um baby
boom temporário.

O rápido crescimento da maior população do mundo fez o governo mudar novamente a


orientação, lançando, em meados dos anos 70, a política “mais tarde, mais longe”, significando
que o matrimónio deveria ocorrer mais tarde e o intervalo de nascimento entre os filhos deveria
ser maior. Após a morte de Mao Tse
Tung, o novo governo chinês lança a política populacional “um casal, um filho”,
implementando o controlo da natalidade mais draconiano que se tem notícia. Segundo Li(1995), o
governo passou a exigir o certificado do filho-único, dando incentivos para os casais que
utilizassem contraceptivos, esterilização ou aborto e criando punição para aqueles que violassem
as determinações estatais. O governo passou a estabelecer metas demográficas anuais e se
tornou o único país do mundo a penalizar directamente os indivíduos por violar a regra do filho-

1
Apesar de considerar que as reformas sociais implantadas na Suécia respeitaram as liberdades sexuais ereprodutivas, Faria (1997)
faz várias ressalvas como o facto das políticas de família, da metade do séculoXX, realçarem o casamento heterossexual com
finalidade generativa e que o país não ficou totalmenteisento da ideologia eugênica.
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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
único. Por tudo isso, a política populacional
autoritária e coercitiva adoptada na China passou a caracterizar o modelo chinês.

4.5 - A Transição Demográfica: Conceitos e etapas.

No longo prazo a situação demográfica tem sofrido em todo o mundo grandes transformações.
Até ao século XIX existia um equilíbrio entre uma forte mortalidade e uma intensa fecundidade. A
partir sobretudo do século XX esse equilíbrio foi rompido devido essencialmente à melhoria das
condições de vida e de higiene, que provocaram uma diminuição da mortalidade.

A fecundidade começou, por seu turno, a diminuir, encontrando-se hoje a maioria dos países
numa situação de novo equilíbrio mas, desta vez, com baixa mortalidade e baixa fecundidade. A
essa transformação deu-se o nome de transição demográfica.

Resumindo:

1ª etapa - forte taxa de crescimento natural, enquanto a taxa bruta de natalidade se manteve
elevada e a taxa bruta de mortalidade diminuiu fortemente.

2ª etapa - no início a taxa de crescimento natural atingiu o seu máximo quanto a taxa bruta de
mortalidade diminuiu fortemente e a taxa bruta de natalidade só lentamente começou a baixar.

Mas em seguida a taxa bruta de natalidade acentuou também a sua queda. Observou-se então
um fenómeno novo que é o envelhecimento da população, o qual acompanha a forte baixa da
mortalidade e da natalidade. Este fenómeno é particularmente evidente na Europa, onde a queda
da natalidade se manifestou mais cedo e de maneira mais pronunciada do que no resto do
mundo.

É importante notar que o envelhecimento das populações é menos devido ao "excesso" de idosos
do que à insuficiência de nascimentos.

Por outras palavras, não há, proporcionalmente, "demasiados idosos" mas sim um número
insuficiente de jovens. Por essas razão muitos países, como a França desde a 2ª Guerra
Mundial, têm lutado para combater a baixa natalidade aplicando diversas medidas sociais de
incentivo às famílias. No entanto o problema é complexo e os resultados variáveis. Os
movimentos migratórios têm surgido como uma forma de combater as lacunas demográficas, mas
essa solução comporta perigos políticos que se irão acentuar nos próximos anos.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
O calendário da transição demográfica é diferente segundo as regiões. A África entrou muito mais
tardiamente neste processo. Porém, apesar das ainda muito elevadas taxas de crescimento, os
demógrafos descortinam sinais de a África ter iniciado já a 2ª etapa da transição, embora ainda de
maneira relativamente pouco pronunciada.

Em conclusão, o conceito de transição demográfica designa a passagem de um regime tradicional


de equilíbrio populacional de natalidade e mortalidade elevadas, a um regime moderno de
equilíbrio com natalidade e mortalidade fracas.

4.5.1. Origem da teoria da transição Demográfica

A teoria da transição demográfica, tem a sua origem nos estudos iniciados pelo
demógrafo Estado-unidense WarrenThompson no ano 1929 e é hoje mais vigente que nunca.
Thompson observou as mudanças (ou transição) que tinham experimentado nos últimos duzentos
anos as sociedades industrializadas do seu tempo com respeito às taxas de natalidade e de
mortalidade. De acordo com estas observações expôs a teoria da transição demográfica segundo
a qual uma sociedade pré-industrial passa, demograficamente falando, por 4 fases ou estágios
antes de derivar numa sociedade plenamente pós-industrial.

Gráfico 1. Os 5 estágios em que se divide a transição demográfica.

TN = Taxa de natalidade; TM = Taxa de mortalidade; CP = Crescimento da população.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
Pirâmides etárias de acordo com os 4 estágios de transição demográfica.

Fase 1

Era uma fase que tinha o índice de natalidade e mortalidade elevados.

Fase 2

Os índices de mortalidade iniciam uma importante descida motivada por diferentes razões: a
melhoria nas condições sanitárias, a evolução da medicina, e a urbanização, aumentando a
expectativa de vida, mas os índices de natalidade não acompanham essa tendência, causando
um rápido crescimento populacional. Em muitos países, essa fase teve início com a revolução
industrial. Hoje em dia, muitos países subdesenvolvidos vivem essa fase

Fase 3

Ocorre um declínio na taxa de natalidade devido ao acesso a métodos anticoncepcionais, e à


educação (fazendo com que o planeamento familiar fique mais difundido). O resultado é um
crescimento vegetativo reduzido em relação à fase 2.

Fase 4

Os índices de natalidade e mortalidade voltam a se estabilizar criando um crescimento


populacional novamente pequeno. Há uma estabilização.

Para uma fase 5?

Enquanto o modelo original de Transição Demográfica descrito por WarrenThompson apresenta


só quatro fases, actualmente se aceita uma quinta fase, onde a mortalidade superará a
natalidade, devido ao alto custo de se criar filhos (principalmente em países desenvolvidos),
famílias optam por ter um número muito reduzido (entre 1 e nenhum) de filhos para manter o
padrão de vida.

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(Simão Muhepe, MSc)
Esse efeito é muito temido por analistas, e já está iniciado em países como a Alemanha ou Itália,
pois com crescimento populacional negativo, a população terá num futuro próximo mais idosos do
que jovens, o que pode acarretar num rombo para a previdência dos países na quinta fase.

4.6. Teorias Demográficas.

1. Teoria Malthusiana

Elaborada pelo inglês Thomas Malthus (1776-1834). Segundo Malthus, a população mundial
cresceria em um ritmo rápido, comparado por ele a uma progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16...),
e a produção de alimentos cresceria em um ritmo lento, comparado a uma progressão aritmética
(1, 2, 3, 4, 5, 6...). Sendo assim, em um determinado momento, não existiriam alimentos para
todos os habitantes da Terra. As maiores contestações a essa teoria são que, na realidade,
ocorre grande concentração de alimentos nos países ricos e, consequentemente, má distribuição
nos países pobres. Essa teoria previu um crescimento semelhante ao do gráfico abaixo, porém,
em nenhum momento, a população cresceu conforme a previsão de Malthus.

II - Teoria Neomalthusiana

Elaborada após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), argumentava que, se o crescimento


demográfico não fosse contido, os recursos naturais da Terra se esgotariam em pouco tempo. Foi
sugerida uma rigorosa política de controle da natalidade aos países subdesenvolvidos. A
contestação a essa teoria é que se deve melhorar a distribuição da renda.

III - Teoria Ecomalthusiana

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Sistematizados por:
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Os defensores dessa teoria alertam para os riscos ambientais decorrentes do crescimento
exagerado da população a qual exercerá cada vez mais pressão sobre os recursos naturais,
particularmente nos ecossistemas equatoriais e tropicais. Uma das formas de colocar em prática a
ideia de desenvolvimento sustentável visando a atender às necessidades actuais da humanidade
e preservar o meio ambiente para as gerações futuras seria através do controle da natalidade.
Como ficou comprovado durante a realização da Rio-92, quem mais degrada o meio ambiente e
consome os seus recursos, na actualidade, são os países ricos em virtude de seus padrões de
produção e consumo, cujas populações já pararam de crescer e não as populações dos países
subdesenvolvidos que continuam aumentando constantemente. Os países ricos possuem
pequena população, mas utilizam a maior parte dos recursos naturais disponíveis e são também
os maiores responsáveis pela poluição do planeta.

IV - Teoria Reformista

Diverge das teorias malthusianas, os reformistas atribuem aos países ricos ou


desenvolvidos a responsabilidade pela intensa exploração imposta aos países pobres ou
subdesenvolvidos, que resultou em um excessivo crescimento demográfico e pobreza
generalizada. Defendem a adopção de reformas socioeconómicas para superar os graves
problemas. A redução do crescimento demográfico seria consequência dessas reformas.
Segundo a Teoria Reformista, a fome e o crescimento populacional são consequências do
subdesenvolvimento.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)
BIBLIOGRAFIA

Bibliografia de Base
 Bandeira, M. L. (2004). Demografia, Objecto e Métodos. Lisboa: Escolar.
 Nazareth, J. M. (2004). Demografia, a Ciência da População (3ª ed).
Lisboa:Presença.
 Nazareth, J. M. (1996). Introdução à Demografia. Lisboa: Presença.
 Instituto Nacional de Estatística. (2016). Recenseamento Geral da População e
Habitação: Resultados definitivos. Luanda: INE.

Bibliografia Complementar
 Carmo, H. (2001).Problemas sociais contemporâneos.Lisboa.Universidade Aberta.
 Hakkert, R. (1996 Capítulo I). Fontes de dados demográficos. Belo Horizonte.
 Rodriguez, J. (1997). Demografia: Volume I. México: PROLAP – ILSUMAN.

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Sistematizados por:
(Simão Muhepe, MSc)

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