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TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Objetivos
1. Conhecer o pensamento dos primeiros demógrafos;
Introdução
Nesta unidade, tentaremos explicar como foi evoluindo a Demografia relativamente aos
seus aspetos quantitativos da dinâmica populacional. Para além disso tentaremos perceber
como se foi constituindo lentamente a Demografia como ciência. Durante os séculos XVII
e XVIII a Demografia emerge como ciência.
Iremos ver também quem foram e o que disseram os homens que transformaram em
ciência a Demografia, qual é realmente o objeto de estudo da Demografia, quais são as
grandes teorias e os grandes problemas da Demografia contemporânea e porque é que a
Demografia é simultaneamente una e diversa e quais as grandes divisões da Demografia
atual.
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Uma população caracteriza-se pelo seu tamanho (número de indivíduos) e a sua composição
e está em perpetua evolução, pelo facto das entradas (nascimentos e imigrações) e das
saídas (mortes, emigrações). É fácil perceber então que uma parte essencial do trabalho
dos demógrafos será tentar explicar o que motiva a evolução dos comportamentos
demográficos. Na base, fecundidade, mortalidade e migrações dependem de processos que
têm na origem uma mesma lógica: partindo de pré-condições biológicas características da
espécie humana, as propensões em procriar, migrar, morrer, são largamente influenciadas
por um conjunto extremamente complexo de determinantes, próximos ou longínquos,
de ordem ecológica, geográfica, económica, sociológica, política, cultural, filosófica e que
variam no tempo e consoante as sociedades.
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A população relativa, por outro lado, corresponde ao número de habitantes por área.
Este tipo de população também é conhecido por densidade demográfica ou densidade
populacional. Para obter a população relativa é necessário dividir a população absoluta
de determinado local pela área, normalmente em km2.
O ano 2020 foi marcado pela pandemia do Covid -19. Considera-se, contudo, que essa
não terá um impacto demográfico significativo. Observa-se que as pessoas falecidas são
maioritariamente idosas, população que já não teria tido filhos, não interferindo neste
caso com o número de nascimentos nos próximos anos (Institut Montaigne, 2021).
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Aristóteles (384-322 a.C.) é mais realista do que o seu mestre Platão, ao pensar sobretudo
num número estável de habitantes. Esta procura de estabilidade não implica um número
fixo de habitantes. Pelo contrário, ao aperceber-se que a natalidade e a mortalidade fazem
variar o volume populacional, propõe uma “justa dimensão” da população.
Na idade Média, Santo Agostinho (345-430) e São Gregório (540-604) defendem que o
casamento une marido e mulher para gerar filhos. Esta linha de pensamento é dominada
pelo pensamento cristão, numa perspetiva teológica e moral, enquanto que as duas
anteriores formas (pertencentes à Antiguidade) foram analisadas numa perspetiva política
e social.
Com o início dos tempos modernos, as ideias respeitantes à população separam-se das
questões morais e passam progressivamente a depender de preocupações políticas e
económicas. É nesta linha de ideias e de acontecimentos que se deve interpretar o culto
pelo ideal mercantilista da riqueza, associado à valorização do Estado. Neste contexto, as
doutrinas mercantilistas são consideradas, no seu conjunto, explicitamente populacionistas.
Este populacionismo permitiu acelerar o processo que irá conduzir ao aparecimento da
Demografia como ciência.
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Na primeira corrente encontramos autores que procuram refletir sobre o melhor equilíbrio
entre a população e os recursos. Thomas More (1478-1535) ao estudar as causas da
miséria do seu país, pensa que esta deve-se a três fatores: o luxo da nobreza, a existência
de muitos domésticos improdutivos e a extensão da criação de carneiros. Se existem
autores preocupados com esta questão do equilíbrio população-recursos, no século XVII,
em Inglaterra, a Demografia dá os seus primeiros passos como ciência e pensadores
como William Petty, John Graunt, Edmund Halley começam a considerar que os problemas
populacionais devem ser analisados e medidos independentemente das relações que
possam ter com quaisquer outros problemas económicos, políticos e sociais.
A morte durante muito tempo foi estudada na Antiguidade e Idade média na perspetiva
da longevidade, isto é, da idade mais elevada que o homem podia esperar atingir. O
termo mortalidade designava até ao século XVII as destruições causadas pelas guerras e
epidemias. Com Petty e John Graunt que em 1661 publicam o primeiro livro de Demografia,
Natural and Political Observations Mentioned in a Following Index, and Made Upon the
Bills of Mortality na cidade de Londres, aparece a ideia moderna da mortalidade, a de uma
evolução regular dos riscos de morte com a idade. Os dois homens imaginam as primeiras
tábuas de mortalidade que indicam o número de mortes observados a cada idade num
grupo de pessoas seguidas desde o seu nascimento. O número de sobreviventes numa
determinada idade deduz-se por simples substração das mortes ocorridas entre essa idade
e a anterior (Enciclopédia Universalis, 2021).
A invenção das primeiras tábuas de mortalidade pelo inglês John Graunt constitui o
certificado de nascimento dessa nova ciência. Os conceitos estatísticos das tábuas de
mortalidade são ainda hoje elementos fundamentais dos métodos demográficos. Com
as tábuas de mortalidade de Graunt, a Demografia define-se como ciência que, a partir
da observação de dados, mede o risco dos fenómenos demográficos e que, a partir dos
resultados dessas medidas, aspira a conhecer não apenas o presente e o passado, mas
também a aventurar-se na prospeção do futuro. É esta ambição prospetiva que vai acionar
a formulação de teorias universais da população, de que são principais expressões: o
malthusianismo e a teoria da transição demográfica (Leston Bandeira, 1996c).
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Mas o desenvolvimento da Demografia, como ciência, fez com que nas últimas décadas
se multiplicasse o número de investigadores e de obras publicadas. Mas o que é afinal
a Demografia? É o estudo das populações humanas, claramente delimitadas no tempo
e no espaço.
Malthus
“O século XVIII foi fértil em ideias e ideais (...) debates apaixonados, e nem
sempre muito bem fundamentados, relativos às questões da população, e
sobre o sub ou sobre povoamento do Mundo, da Europa ou de alguns países”,
Deve-se também, segundo ela, ao aparecimento de várias teorias e ideologias pelo facto
de não haver verdadeiros recenseamentos.
É neste contexto que surge “uma obra que marcará quer o pensamento demográfico,
quer a demografia, quer ainda as políticas de população até aos dias de hoje”. Trata-se da
obra de Thomas Robert Malthus, An essay on the principle of on population as it affects
the future improvement of society with remarks on the speculations of Mr. Godwin, Mr.
Condorcet and other writers – 1.ª edição 1798. Esta obra foi seguida, ainda em vida de
Malthus, por mais cinco edições até 1826, até mais tarde comentada, discutida, contestada
ou apoiada, em várias línguas, transformando o malthusianismo em uma doutrina.
Thomas Malthus, padre inglês que viveu no século XVIII (1766-1834), professor de
História Moderna e Economia Política em Inglaterra, grande observador de fenómenos
populacionais, estabeleceu o célebre paralelo entre a multiplicação do homem e a sua
subsistência.
Em 1798, Malthus publica o Ensaio sobre o Princípio da População. O livro faz escândalo
devido a uma das suas teses:
“a assistência aos pobres é inútil porque não serve senão para os multiplicar
sem os consolar”. (conforme citado em Nazareth, 2004, p. 26)
“um homem que nasce num mundo ocupado, se não lhe é possível obter dos
seus pais os meios de subsistência… e se a sociedade não tem necessidade
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A sua teoria baseia-se no facto de uma população ter um aumento constante e esse
aumento ser mais rápido do que os meios de subsistência, sendo o equilíbrio entre o
tamanho da população e o nível de subsistência mantido através do controle do crescimento
da população.
De acordo com Malthus, as populações tendem a crescer mais rapidamente do que os meios
de subsistência; isto é, as populações tendem a crescer numa progressão geométrica (1,
2, 4, 8, 16 etc.). Por outro lado, não existe essa tendência para os meios de subsistência se
expandirem por progressão geométrica; em vez disso, eles se expandem por progressão
aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6, etc.).
A população é mantida dentro dos limites dos meios de subsistência principalmente por
meio de controles positivos, aqueles operando através das taxas de mortalidade. Quando
os meios de subsistência não são adequados para cuidar de uma população de um
determinado tamanho, a taxa de mortalidade aumentará até que a população encolha a
um nível suportável.
Da mesma forma, sempre que surgir um excedente nos meios de subsistência, isso tenderá
a diminuir temporariamente a taxa de mortalidade (e aumentar a taxa de crescimento
natural) até que a população tenha crescido até os limites dos novos meios de subsistência.
Este é o “dilema malthusiano”.
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mais tarde), abstinência antes do casamento (limitações morais), casamentos tardios dos
pobres ou até apelo ao celibato “A miséria deriva do crescimento excessivamente rápido
da população” (conforme citado em Nazareth, 2004, p.33). Quanto ao terceiro eixo – os
remédios, Malthus não hesita em afirmar que o único obstáculo que não prejudica nem
a felicidade moral, nem a felicidade material é a obrigação moral.
“Restrição moral”, conforme defendida por Malthus, consiste em não se casar até
que se possa sustentar os filhos resultantes e em permanecer sexualmente casto fora
desse casamento. Além disso, se o casamento e a companhia sexual precisam de ser
conquistados, as pessoas trabalharão mais arduamente para ganhar esse prêmio,
aumentando assim os meios de subsistência agregados.
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a Sauvy a elaboração da teoria do “ótimo da população”, ou seja, qual deve ser o número
de habitantes de um dado território para que o nível de vida de cada um seja o mais
elevado possível?
Nas últimas décadas, uma perspetiva neomalthusiana usou parte da teoria de Malthus como
uma justificativa para programas de planeamento familiar em todo o mundo. As perspetivas
neomarxistas e a teoria do desenvolvimento económico, entretanto, promoveram políticas
de desenvolvimento como tecnologia agrícola aprimorada, oportunidades e acesso ao
crédito para grupos sociais marginalizados e sistemas de distribuição social eficientes
dentro das regiões menos desenvolvidas. Não surpreendentemente, essas duas perspetivas
são complementares, refletindo o numerador (ou seja, o tamanho da população) e o
denominador (ou seja, meios de subsistência) para a densidade populacional. Ambos têm
claramente um papel nas preocupações com o crescimento populacional. A contribuição
de Malthus foi chamar a atenção para a importância do crescimento populacional nesta
equação.
Por outros lado, assiste-se a políticas de planeamento familiar que os países implementaram
para tratar das preocupações com o crescimento populacional. Essas políticas são exemplos
de neomalthusianismo, que defende abertamente o uso de controles preventivos para
escapar do dilema malthusiano. Isso inclui, principalmente, o controle da natalidade
(que Malthus chamou de “vício”), um produto da era vitoriana. Malthus, em vez disso,
defendeu “restrição moral” por meio da abstinência e do adiamento do casamento. Apesar
dessa diferença, os neomalthusianos e o movimento de planeamento familiar moderno
descendem diretamente de Malthus e contam com uma noção geral de seu “princípio de
população” como apontando para a necessidade de programas de planeamento familiar
(Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p.70).
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Assim, se desde o fim dos anos 1950, os especialistas das Nações Unidas puderam prever
que o Planeta estaria povoado por 6 bilhões de homens no ano 2000, logo a teoria da
transição demográfica fornecia um corpo de hipóteses particularmente exato sobre a
evolução da dinâmica das populações de países em desenvolvimento, principal foco para
o futuro da população mundial da época (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).
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Neste artigo publicado em 1929, Thompson classifica os países do mundo em três grandes
grupos segundo o seu crescimento demográfico:
– o grupo A: baixas taxas de mortalidade, taxas de natalidade em diminuição
rápida, declínio das taxas de crescimento natural; declínio do crescimento da
população; aproximação rápido do estado estacionário;
Numa obra publicada em 1934, La Révolution Démographique. Paris, Librairie Sirey, Landry
distingue também três regimes de população para dar conta da situação demográfica
presente e passada de certos países da Europa (Piché e Poirier, 1990):
– o regime primitivo no qual a fecundidade não sofre nenhuma restrição de ordem
económica. A população tende para um máximo que será alcançado quando a
mortalidade terá atingido o nível da natalidade;
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Assim, a transição demográfica, a passagem de uma sociedade agrícola com uma alta
fecundidade para uma sociedade industrial com uma diminuição da fecundidade, efetua-
se pela passagem forçada para a industrialização.
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A teoria de transição demográfica foi descrita pela primeira vez nos anos 40. Desde então
tem sido modificada, acrescentada e escrita de novo. A definição clássica desta teoria foi
descrita por Notestein (1945), Blacker (1947) e outros autores e define-se do seguinte
modo: existem uma série de estádios durante os quais a população se move de uma
situação onde tanto a mortalidade como a natalidade são altas, para uma posição onde
tanto a mortalidade como a natalidade são baixas. O crescimento de ambos os indicadores
antes e depois da transição demográfica é muito baixo. Durante a transição, o crescimento
da população é muito rápido devido essencialmente ao declínio da mortalidade ocorrer
antes do declínio da fecundidade.
Easterlin e Crimmins (1985) expandem esse pensamento para incluir os custos psicológicos
ou sociais de limitar a fecundidade. A teoria ideativa (Cleland e Wilson, 1987) atribui o
declínio da fecundidade à difusão de informações anticoncecionais e à mudança das
normas sobre procriação.
Mason (1997, conforme citado em Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p. 59), resume o
que os demógrafos estabeleceram sobre a transição demográfica:
1. O declínio da mortalidade é geralmente uma condição necessária, mas não
suficiente, para o declínio da fecundidade.
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Maria Luís Rocha Pinto (2010, p. 55) resume as quatro fases em que todos os países já
passaram, estão a passar ou passarão:
a) uma fase do “quase equilíbrio” antigo, (ou de pré-transição) entre uma
mortalidade elevada e uma fecundidade igualmente elevada o que implica
um crescimento natural da população reduzido – característica de sociedades
agrícolas e rurais. À esta primeira fase, dá-se o nome de fase de pré-transição
ou pré-industrialização, caracterizada por um equilíbrio de baixo nível. Durou
milhares de anos quando o mundo era caracterizado por altas taxas de natalidade
e mortalidade e crescimento populacional estável. Na maioria dos países do
mundo, esta época está terminada. A fase pré-transicional foi seguida pela fase
de transição (Fase 2), caracterizada por uma taxa de fecundidade elevada e o
declínio da taxa de mortalidade.
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Quase todos os países do mundo já passaram pela segunda fase (declínio da mortalidade) e
quase todos já chegaram à terceira fase (declínio da fecundidade). A transição demográfica
começou nos países mais avançados da Europa no século XVIII quando a mortalidade
começou a declinar numa forma consistente e continuada. Chegando ao século XX, o
declínio da mortalidade expande-se a todos os países europeus e aos outros continentes.
O aumento da população acelera. A tendência pesada da evolução da população mundial
aponta, atualmente para uma situação em que, a partir de meados deste século, se admite
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Acrescenta, por fim, a transição migratória, caracterizada pelo fim do êxodo rural e a
importância crescente da migração internacional no crescimento demográfico.
Além de observar estas diversas transições, o importante, segundo Piché (2013) é mostrar
que estas transições estão todas ligadas, produzindo assim uma teoria global da mudança
social.
Maria Luís Rocha Pinto (2010) nota que para Landry existem apenas três fases ou “regimes
demográficos” que se sucedem no tempo:
a) “regime primitivo” em que a pressão das subsistências, isto é a economia,
apenas afeta a mortalidade, e em que o homem deixa à natureza a regulação
dos excedentes; esta espécie de regulação “natural” faz com que a população
tenda sempre para o máximo possível pelas subsistências disponíveis; este
efetivo da população tem a longo prazo um crescimento muito lento, alterado
regularmente por crises de sobre mortalidade (epidemias, guerras, fomes);
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Atividade formativa
1. Descreva a Teoria da Transição Demográfica e as suas fases.
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