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2.

TEORIAS DEMOGRÁFICAS

Objetivos
1. Conhecer o pensamento dos primeiros demógrafos;

2. Conhecer as principais características do pensamento malthusiano;

3. Identificar as principais fases e a importância da teoria da transição demográfica.

Introdução

As teorias demográficas ou teorias da população são correntes de opinião que tentam


explicar ou prever a evolução dos fenómenos demográficos, as interações entre estes e
os fenómenos económicos, sociais, psicológicos, do ambiente e outros, tentando prever
as consequências que possam levar à elaboração de uma política demográfica.

Nesta unidade, tentaremos explicar como foi evoluindo a Demografia relativamente aos
seus aspetos quantitativos da dinâmica populacional. Para além disso tentaremos perceber
como se foi constituindo lentamente a Demografia como ciência. Durante os séculos XVII
e XVIII a Demografia emerge como ciência.

Iremos ver também quem foram e o que disseram os homens que transformaram em
ciência a Demografia, qual é realmente o objeto de estudo da Demografia, quais são as
grandes teorias e os grandes problemas da Demografia contemporânea e porque é que a
Demografia é simultaneamente una e diversa e quais as grandes divisões da Demografia
atual.

2.1 O QUE É UMA POPULAÇÃO?


Define-se uma população

“como um conjunto humano situado no seio de um espaço geográfico delimitado


(…) Este conjunto humano corresponde geralmente aos habitantes de um
país ou de um conjunto de um país com determinados traços comuns de um
ponto de vista político ou socioeconómico. (…). Pode também corresponder à
população de uma parte do território de um país dotado de particularidades
política, sociológica ou económica (províncias, bairros, zonas rurais, regiões
linguísticas, regiões geográficas, etc.) “(Gérard & Wunsch, 1973).

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O próprio termo população refere-se ao número de pessoas residentes em alguma


área geográfica específica, seja uma sala de aula ou uma nação. Da mesma forma, a
demografia descreve características de populações, não de membros individuais dessas
populações (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p.3).

Numa definição mais geral, a população é o conjunto de todos os habitantes de um


determinado local, definida em termos espaciais e temporais. Pode não ser necessariamente
um grupo. A análise da população humana é intrinsecamente dinâmica porque a atenção
é focada nas mudanças e alterações da mesmo no tempo.

Alguns dos principais sinónimos de população são: residentes; indivíduos; moradores;


habitantes; cidadãos; público; povo; massa; multidão e amostra. O termo demografia
é aliás por vezes utilizado como sinónimo de população, no sentido de um conjunto de
indivíduos que coexistem num dado momento e delimitado segundo critérios variados de
pertença. Etimologicamente, a palavra população originou-se a partir do latim medieval
popŭlus, que significa literalmente povo.

Uma população caracteriza-se pelo seu tamanho (número de indivíduos) e a sua composição
e está em perpetua evolução, pelo facto das entradas (nascimentos e imigrações) e das
saídas (mortes, emigrações). É fácil perceber então que uma parte essencial do trabalho
dos demógrafos será tentar explicar o que motiva a evolução dos comportamentos
demográficos. Na base, fecundidade, mortalidade e migrações dependem de processos que
têm na origem uma mesma lógica: partindo de pré-condições biológicas características da
espécie humana, as propensões em procriar, migrar, morrer, são largamente influenciadas
por um conjunto extremamente complexo de determinantes, próximos ou longínquos,
de ordem ecológica, geográfica, económica, sociológica, política, cultural, filosófica e que
variam no tempo e consoante as sociedades.

Em terminologia estatística, a palava população pode designar toda coletividade de


unidades distintas: é então sinónimo de universo. É comum usar a palavra população
para designar o conjunto de habitantes de um certo território, por vezes, uma fração
apenas desse conjunto: população de idade escolar, mas nesse caso, trata-se de uma
subpopulação. Repare-se que até ao XVIII século, a palavra população tinha também um
sentido ativo que foi perdendo, entretanto. Designava a ação de povoar, e foi substituído
pela palavra povoamento. Muitas vezes se entende por população, não a coletividade
em si, mas em termos de efetivos, isto é, o número dos seus habitantes.

A Demografia é o ramo de estudo que analisa as populações humanas, as suas


transformações. Neste contexto, a população costuma ser classificada em duas categorias:
população absoluta e relativa.

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A população absoluta consiste no número total de habitantes de um lugar (país, estado,


região, etc). Atualmente a população absoluta mundial está na média de 7,8 bilhões de
pessoas. Prevê-se que chegue a 8 bilhões de pessoas no início de 2023 e 10 bilhões em
2050.

A população relativa, por outro lado, corresponde ao número de habitantes por área.
Este tipo de população também é conhecido por densidade demográfica ou densidade
populacional. Para obter a população relativa é necessário dividir a população absoluta
de determinado local pela área, normalmente em km2.

O ano 2020 foi marcado pela pandemia do Covid -19. Considera-se, contudo, que essa
não terá um impacto demográfico significativo. Observa-se que as pessoas falecidas são
maioritariamente idosas, população que já não teria tido filhos, não interferindo neste
caso com o número de nascimentos nos próximos anos (Institut Montaigne, 2021).

2.2 PRIMEIROS ESCRITOS SOBRE A POPULAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO


DA CIÊNCIA DEMOGRÁFICA
Quando se procura as origens longínquas das doutrinas de população, a maioria das obras
de história do pensamento demográfico e manuais, depois da referência à Bíblia: “Mas vós
frutificai, e multiplicai-vos; povoai abundantemente a terra” (https://bible.knowing-jesus.
com/Portuguese/G%C3%AAnesis/9/7), dedicam à China antiga (Confucius, Lao-Tseu) e
aos pensadores da Antiguidade grega algumas linhas ou páginas.

No caso de Platão (428-348 a.C.), foram as considerações sobre a demografia da cidade


ideal que legitimaram essa procura das origens. No fim dos seus diálogos, as Leis, Platão
idealiza uma população estacionária onde o número de fogos, por razões políticas e sociais,
seria de 5040. Platão acredita que é possível intervir no sentido de manter constante o
volume da população da sua cidade ideal, através da fixação de uma idade mínima para
o casamento (30 anos para os homens e 18 para as mulheres) e da limitação da idade
da procriação (apenas os 10 ou 14 anos de casamento); o risco de a população diminuir
resolver-se-ia através de uma punição para os que não queriam ter filhos, os celibatários
e os casais estéreis.

Estamos, pois, perante um percursor do pensamento demográfico. Por um lado, é


efetivamente de uma população de uma unidade territorial bem definida de que se trata:
a população é uma variável claramente identificada, cujas relações com o ambiente não
são ignoradas. Por outro lado, de maneira aparentemente bastante moderna, Platão
calcula com muita precisão algumas variáveis demográficas chaves, tais como a idade no
casamento ou a duração da vida fecunda. Enfim, ele parece introduzir uma verdadeira

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política demográfica: medidas de incentivo ou de travão da fecundidade, recurso à


emigração ou imigração, com o objetivo de controlar o número global da população
(Charbit, 2002).

Aristóteles (384-322 a.C.) é mais realista do que o seu mestre Platão, ao pensar sobretudo
num número estável de habitantes. Esta procura de estabilidade não implica um número
fixo de habitantes. Pelo contrário, ao aperceber-se que a natalidade e a mortalidade fazem
variar o volume populacional, propõe uma “justa dimensão” da população.

Na idade Média, Santo Agostinho (345-430) e São Gregório (540-604) defendem que o
casamento une marido e mulher para gerar filhos. Esta linha de pensamento é dominada
pelo pensamento cristão, numa perspetiva teológica e moral, enquanto que as duas
anteriores formas (pertencentes à Antiguidade) foram analisadas numa perspetiva política
e social.

Com o início dos tempos modernos, as ideias respeitantes à população separam-se das
questões morais e passam progressivamente a depender de preocupações políticas e
económicas. É nesta linha de ideias e de acontecimentos que se deve interpretar o culto
pelo ideal mercantilista da riqueza, associado à valorização do Estado. Neste contexto, as
doutrinas mercantilistas são consideradas, no seu conjunto, explicitamente populacionistas.
Este populacionismo permitiu acelerar o processo que irá conduzir ao aparecimento da
Demografia como ciência.

No mercantilismo italiano dois pensadores merecem referência especial: Maquiavel


(1467-1527) e Botero (1540-1617). Maquiavel não defende todas as ideias mercantilistas,
nomeadamente no que diz respeito ao princípio que o Estado só é forte quando favorece
o enriquecimento dos cidadãos, mas, ao defender que uma população numerosa reforça
o poder do Príncipe, adota uma atitude populacionista. Para Botero, uma população
numerosa deve ser a primeira preocupação do Estado.

No mercantilismo francês existem duas correntes diferenciadas: a que defende um


populacionismo intransigente (Bodin e Montchrestien) e a que defende um populacionismo
mais racional (Vauban). Jean Bodin (1530-1596) afirma que uma população numerosa
permite a valorização de um país. Ficou conhecido com a frase “Não existe maior riqueza
nem maior força do que os homens”. Montchrestien (1575-1621) também defende o ponto
de vista de que a grande riqueza da França é a inesgotável abundância dos seus homens.

Vauban (1633-1707) é populacionista ao defender que a falta de população é a maior


desgraça que pode acontecer ao reino. Ficou conhecido na história do pensamento
demográfico pelas estimativas que faz e por chamar a atenção para a utilidade dos
recenseamentos da população.

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Em Inglaterra, o mercantilismo é menos homogéneo do que em Itália e em França e


evolui ao longo do tempo. Consequentemente, a atitude face à problemática da população
também evolui.

Nesta evolução aparecem duas correntes de pensamento distintas: no princípio, a


população é considerada uma variável entre tantas outras do sistema social; depois, a
população aparece como interessante em si própria; são os primórdios da Demografia
científica.

Na primeira corrente encontramos autores que procuram refletir sobre o melhor equilíbrio
entre a população e os recursos. Thomas More (1478-1535) ao estudar as causas da
miséria do seu país, pensa que esta deve-se a três fatores: o luxo da nobreza, a existência
de muitos domésticos improdutivos e a extensão da criação de carneiros. Se existem
autores preocupados com esta questão do equilíbrio população-recursos, no século XVII,
em Inglaterra, a Demografia dá os seus primeiros passos como ciência e pensadores
como William Petty, John Graunt, Edmund Halley começam a considerar que os problemas
populacionais devem ser analisados e medidos independentemente das relações que
possam ter com quaisquer outros problemas económicos, políticos e sociais.

A morte durante muito tempo foi estudada na Antiguidade e Idade média na perspetiva
da longevidade, isto é, da idade mais elevada que o homem podia esperar atingir. O
termo mortalidade designava até ao século XVII as destruições causadas pelas guerras e
epidemias. Com Petty e John Graunt que em 1661 publicam o primeiro livro de Demografia,
Natural and Political Observations Mentioned in a Following Index, and Made Upon the
Bills of Mortality na cidade de Londres, aparece a ideia moderna da mortalidade, a de uma
evolução regular dos riscos de morte com a idade. Os dois homens imaginam as primeiras
tábuas de mortalidade que indicam o número de mortes observados a cada idade num
grupo de pessoas seguidas desde o seu nascimento. O número de sobreviventes numa
determinada idade deduz-se por simples substração das mortes ocorridas entre essa idade
e a anterior (Enciclopédia Universalis, 2021).

A invenção das primeiras tábuas de mortalidade pelo inglês John Graunt constitui o
certificado de nascimento dessa nova ciência. Os conceitos estatísticos das tábuas de
mortalidade são ainda hoje elementos fundamentais dos métodos demográficos. Com
as tábuas de mortalidade de Graunt, a Demografia define-se como ciência que, a partir
da observação de dados, mede o risco dos fenómenos demográficos e que, a partir dos
resultados dessas medidas, aspira a conhecer não apenas o presente e o passado, mas
também a aventurar-se na prospeção do futuro. É esta ambição prospetiva que vai acionar
a formulação de teorias universais da população, de que são principais expressões: o
malthusianismo e a teoria da transição demográfica (Leston Bandeira, 1996c).

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No entanto, a palavra demografia só foi inventada em 1855 pelo francês Guillard.

As teorias demográficas ou teorias da população são correntes de opinião que tentam


explicar ou prever a evolução dos fenómenos demográficos, as interações entre estes e
os fenómenos económicos, sociais, psicológicos, do ambiente e outros, tentando prever
as consequências que possam levar à elaboração de uma política demográfica.

Dupâquier em História da demografia de Jacques e Michel Dupâquier (1985) assinalam o


livro de Graunt em 1661 como sendo a obra que comporta pela primeira vez no mundo
três elementos singulares, o primeiro quadro estatístico por ano e por causa de morte
observados em Londres, o primeiro enunciado de uma lei demográfica, isto é, a proporção
constante de homens e mulheres na população e a primeira tabela de mortalidade
mostrando quantas pessoas sobrevivem a cada idade a partir de 100 conceções (e não
100 nascimentos) iniciais. Os Dupâquier lembram que Graunt é considerado como o “pai”
da demografia por muitos historiadores da disciplina (Dupâquier, 1985; Le Bras, 2013).

A partir do século XVII a Demografia elege o homem e a sociedade como objeto do


conhecimento científico. Os progressos da nova ciência influenciarão o debate entre
populacionistas e anti populacionistas que se intensificará durante o século XVII.

A questão do crescimento demográfico aparecerá sempre, entre os anti populacionistas,


associada ao problema das subsistências e, por arrastamento, das desordens sociais e da
miséria decorrentes do excesso de população. Entre os anti populacionistas predominava
uma visão pessimista. Ao contrário dos seus adversários, defendiam que a pobreza e a
desordem social não eram devidas à má organização social, mas antes ao desequilíbrio
entre o crescimento dos homens e o crescimento das subsistências. O que implicava
a necessidade imperiosa de restrições e de controle da reprodução humana (Leston
Bandeira, 1996a). A publicação, em 1798, da 1.ª edição do Ensaio de Malthus virá ampliar
a repercussão social e científica deste debate.

2.3 OS PRIMEIROS DEMÓGRAFOS


Segundo Landry (1945) o termo demografia foi utilzado pela primiera vez por Achille
Guillard, em 1855 (in Guillard, A. Éléments de statistique humaine ou demographie
comparée, 1855) inventando o nome de Demografia Comparada, dando destaque ao
seu aspeto quantitativo (estatístico).

Este autor dá a seguinte definição de Demografia

“Em sentido amplo, abrange a história natural e social da espécie humana;


em sentido restrito, abrange o conhecimento matemático das populações, dos
seus movimentos gerais, do seu estado físico, intelectual e moral” (Guillard,
1855, conforme citado em Nazareth, 2004, p. 43).

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Do grego: DÊMOS = POPULAÇÃO GRÁPHEIN = ESCREVER / DESCREVER / ESTUDAR,


o objetivo da Demografia é analisar populações humanas e suas características gerais.

Mas o desenvolvimento da Demografia, como ciência, fez com que nas últimas décadas
se multiplicasse o número de investigadores e de obras publicadas. Mas o que é afinal
a Demografia? É o estudo das populações humanas, claramente delimitadas no tempo
e no espaço.

A opinião pública parece limitar a Demografia a uma análise estritamente quantitativa,


uma “contabilidade de homens” (Sauvy, 1976, p. 16). Ora a Demografia envolve não só
elementos estatísticos, mas também tem em conta as realidades económicas, sociológicas.

Malthus

“O século XVIII foi fértil em ideias e ideais (...) debates apaixonados, e nem
sempre muito bem fundamentados, relativos às questões da população, e
sobre o sub ou sobre povoamento do Mundo, da Europa ou de alguns países”,

escreve Maria Luís Rocha Pinto (2010, p. 48).

Deve-se também, segundo ela, ao aparecimento de várias teorias e ideologias pelo facto
de não haver verdadeiros recenseamentos.

É neste contexto que surge “uma obra que marcará quer o pensamento demográfico,
quer a demografia, quer ainda as políticas de população até aos dias de hoje”. Trata-se da
obra de Thomas Robert Malthus, An essay on the principle of on population as it affects
the future improvement of society with remarks on the speculations of Mr. Godwin, Mr.
Condorcet and other writers – 1.ª edição 1798. Esta obra foi seguida, ainda em vida de
Malthus, por mais cinco edições até 1826, até mais tarde comentada, discutida, contestada
ou apoiada, em várias línguas, transformando o malthusianismo em uma doutrina.

Thomas Malthus, padre inglês que viveu no século XVIII (1766-1834), professor de
História Moderna e Economia Política em Inglaterra, grande observador de fenómenos
populacionais, estabeleceu o célebre paralelo entre a multiplicação do homem e a sua
subsistência.

Em 1798, Malthus publica o Ensaio sobre o Princípio da População. O livro faz escândalo
devido a uma das suas teses:

“a assistência aos pobres é inútil porque não serve senão para os multiplicar
sem os consolar”. (conforme citado em Nazareth, 2004, p. 26)

Também faz escândalo devido a um parágrafo:

“um homem que nasce num mundo ocupado, se não lhe é possível obter dos
seus pais os meios de subsistência… e se a sociedade não tem necessidade

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do seu trabalho, não tem direito a reclamar a mínima parte da alimentação e


está a mais…”. (conforme citado em Nazareth, 2004, p. 26)

A sua teoria baseia-se no facto de uma população ter um aumento constante e esse
aumento ser mais rápido do que os meios de subsistência, sendo o equilíbrio entre o
tamanho da população e o nível de subsistência mantido através do controle do crescimento
da população.

Princípio de População de Thomas Malthus

O pensamento demográfico de Malthus pode ser sistematizado em torno de três temas


fundamentais: População e subsistências, obstáculos e remédios. Quanto ao primeiro tema
população e subsistências – o autor distingue duas leis antagónicas: a lei da população
que cresce em progressão geométrica e a das subsistências, que cresce em progressão
aritmética. Para Malthus, quando uma população não é controlada, duplica todos os 25
anos.

De acordo com Malthus, as populações tendem a crescer mais rapidamente do que os meios
de subsistência; isto é, as populações tendem a crescer numa progressão geométrica (1,
2, 4, 8, 16 etc.). Por outro lado, não existe essa tendência para os meios de subsistência se
expandirem por progressão geométrica; em vez disso, eles se expandem por progressão
aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6, etc.).

A população é mantida dentro dos limites dos meios de subsistência principalmente por
meio de controles positivos, aqueles operando através das taxas de mortalidade. Quando
os meios de subsistência não são adequados para cuidar de uma população de um
determinado tamanho, a taxa de mortalidade aumentará até que a população encolha a
um nível suportável.

Da mesma forma, sempre que surgir um excedente nos meios de subsistência, isso tenderá
a diminuir temporariamente a taxa de mortalidade (e aumentar a taxa de crescimento
natural) até que a população tenha crescido até os limites dos novos meios de subsistência.
Este é o “dilema malthusiano”.

Hipoteticamente, a saída do dilema é a aplicação de “controles preventivos” ao crescimento


populacional, operando por meio da taxa de natalidade. Estes enquadram-se em duas
categorias: “restrição moral” e “vício”.

Chegamos ao segundo tema: os obstáculos ao crescimento da população. Para Malthus,


existem dois tipos de obstáculos: os positivos (ou Regressivos), que serão todos os
obstáculos que podem de algum modo diminuir a vida humana (Ex: pobreza, epidemias,
fomes, etc...) e os preventivos, que serão os acontecimentos que levam à diminuição da
fecundidade, isto é, casamentos adiados (criando condições para que os cônjuges casem

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mais tarde), abstinência antes do casamento (limitações morais), casamentos tardios dos
pobres ou até apelo ao celibato “A miséria deriva do crescimento excessivamente rápido
da população” (conforme citado em Nazareth, 2004, p.33). Quanto ao terceiro eixo – os
remédios, Malthus não hesita em afirmar que o único obstáculo que não prejudica nem
a felicidade moral, nem a felicidade material é a obrigação moral.

“Restrição moral”, conforme defendida por Malthus, consiste em não se casar até
que se possa sustentar os filhos resultantes e em permanecer sexualmente casto fora
desse casamento. Além disso, se o casamento e a companhia sexual precisam de ser
conquistados, as pessoas trabalharão mais arduamente para ganhar esse prêmio,
aumentando assim os meios de subsistência agregados.

“Vício”, de acordo com Malthus, inclui promiscuidade, homossexualidade, adultério e


controle de natalidade (incluindo o aborto). A sua objeção declarada foi em bases morais.
Envolver-se em qualquer um desses vícios representava uma indulgência nos apetites
sexuais sem a aceitação da responsabilidade pelas consequências de tal indulgência.
Foi uma rejeição da responsabilidade individual, e Malthus viu a aceitação dessa
responsabilidade como – no longo prazo – a única esperança da humanidade para sair
do dilema (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).

Duas correntes alternativas surgem em paralelo – o neomalthusianismo e anti


malthusianismo.

O malthusianismo dá rapidamente lugar aos movimentos neomalthusianos, iniciados


no Reino Unido, logo em 1822 por Francis Place, que, ao contrário de Malthus, vão
preconizar o controle dos nascimentos no seio do casamento, vai defender abertamente
a contraceção. Ser malthusiano, anti malthusiano ou neomalthusiano, vai depender muito
mais das práticas do que das teorias económicas e políticas. São movimentos que vão
percorrer o resto do século XIX e o século XX (Rocha Pinto, 2010).

A primeira corrente aposta na limitação dos nascimentos, enquanto a segunda relaciona


o número de habitantes com os “meios de existência” (produtos alimentares, vestuário,
habitação, entre outros). O pensamento liberal de tendência antimalthusiana é
representada fundamentalmente por A. Dumont (1849-1902) e Durkheim (1858-1902).
Dumont constata a existência de uma oposição entre o crescimento demográfico e o
desenvolvimento do indivíduo. Para Durkheim, um dos pilares da sociologia, a expansão
demográfica é acompanhada de uma mudança qualitativa da sociedade.

O pensamento demográfico do século XX é particularmente enriquecido com as


contribuições de A. Sauvy. Também é considerado um antimalthusiano e um natalista,
mas a riqueza do seu pensamento merece alguma atenção. Em primeiro lugar, devemos

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a Sauvy a elaboração da teoria do “ótimo da população”, ou seja, qual deve ser o número
de habitantes de um dado território para que o nível de vida de cada um seja o mais
elevado possível?

Se, para os neomalthusianos o único problema é o excesso da população, Sauvy considera


que, se existem países que têm “gente a mais”, outros têm gente a menos. Mas, o nome
deste autor está sobretudo ligado à explicação do dilema com que todos os países do
mundo são confrontados – crescer ou envelhecer?

Nas últimas décadas, uma perspetiva neomalthusiana usou parte da teoria de Malthus como
uma justificativa para programas de planeamento familiar em todo o mundo. As perspetivas
neomarxistas e a teoria do desenvolvimento económico, entretanto, promoveram políticas
de desenvolvimento como tecnologia agrícola aprimorada, oportunidades e acesso ao
crédito para grupos sociais marginalizados e sistemas de distribuição social eficientes
dentro das regiões menos desenvolvidas. Não surpreendentemente, essas duas perspetivas
são complementares, refletindo o numerador (ou seja, o tamanho da população) e o
denominador (ou seja, meios de subsistência) para a densidade populacional. Ambos têm
claramente um papel nas preocupações com o crescimento populacional. A contribuição
de Malthus foi chamar a atenção para a importância do crescimento populacional nesta
equação.

Muitos países deram importância ao crescimento populacional. A China, por exemplo,


passou a reconhecer a sua enorme população e rápido crescimento como causa do
subdesenvolvimento contínuo e tomou medidas na forma de regulação da fecundidade
para neutralizá-lo (no entanto, as evidências mostram que o declínio da fecundidade
começou na China antes da regulamentação). Embora poucos países tenham adotado uma
abordagem tão extrema e controversa quanto a da China, as autoridades em muitos países
têm respeito pelas possíveis consequências negativas de um crescimento populacional
totalmente descontrolado.

Por outros lado, assiste-se a políticas de planeamento familiar que os países implementaram
para tratar das preocupações com o crescimento populacional. Essas políticas são exemplos
de neomalthusianismo, que defende abertamente o uso de controles preventivos para
escapar do dilema malthusiano. Isso inclui, principalmente, o controle da natalidade
(que Malthus chamou de “vício”), um produto da era vitoriana. Malthus, em vez disso,
defendeu “restrição moral” por meio da abstinência e do adiamento do casamento. Apesar
dessa diferença, os neomalthusianos e o movimento de planeamento familiar moderno
descendem diretamente de Malthus e contam com uma noção geral de seu “princípio de
população” como apontando para a necessidade de programas de planeamento familiar
(Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p.70).

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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

2.4 TEORIA DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA


Toda a segunda metade do século XX é dominada pelo pensamento produzido pela
Teoria da Transição Demográfica, com aparecimento e estruturação antes da segunda
Guerra Mundial. O termo “revolução demográfica” foi primeiro introduzido em 1929 pelo
demógrafo polaco Léon Rabinowicz e adotado no mesmo ano pelo demógrafo americano
Warren Thompson; foi mais tarde utilizado pelo francês Adolphe Landry (1943), na sua
obra intitulada La révolution démographique, Études et essais sur les problèmes de la
population; Notestein, desenvolve a teoria a uma escala mundial, chamando-lhe Transição
Demográfica (Rocha Pinto, 2010, p.54).

Outros autores vão desenvolver o conceito em teoria explicativa da evolução da população


ao longo do século XX, nascendo assim um modelo com o objetivo de explicar a evolução
da população. Economicamente, os países da Europa Ocidental já tinham progredido
nas suas revoluções agrícolas antes do século XIX. Durante o período de transição
demográfica, eles estavam a passar por um complexo conjunto de mudanças chamado de
revolução industrial, com mudanças sociais associadas, como urbanização, alfabetização,
secularização e crescente consumismo.

Na segunda metade do século XX pensava-se que as teorias da transição demográfica,


estabelecidas para tentar dar conta de mudanças e transformações demográficas (Landry,
1943 ; Davis, 1945 ; Notestein, 1945) eram a chave, não só para a compreensão das
evoluções passadas ou em curso, mas também para a especulação sobre as perspetivas
futuras (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).

Assim, se desde o fim dos anos 1950, os especialistas das Nações Unidas puderam prever
que o Planeta estaria povoado por 6 bilhões de homens no ano 2000, logo a teoria da
transição demográfica fornecia um corpo de hipóteses particularmente exato sobre a
evolução da dinâmica das populações de países em desenvolvimento, principal foco para
o futuro da população mundial da época (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).

O conceito de transição ocupa um lugar central na teoria da mudança demográfica. Exprime


essencialmente a passagem de um regime de fecundidade e de mortalidade a um outro.
Este tipo de mudança encontra-se caracterizado na “teoria da transição demográfica” que
constitui para muitos demógrafos uma teoria geral da população (D. O. Cowgill, 1963,
em “Transition Theory as General Population Theory”, Social Forces, 41, pp. 270-274).
Três contributos estão na origem desta teoria, os de Warren S. Thompson, de Adolphe
Landry e de Frank W. Notestein.

O esboço da teoria da transição demográfica, formulado por W. S. Thompson em 1929


(“Population”, The American Journal of Sociology, pp. 959-975) coloca-se no centro

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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

da velha questão demográfica, isto é, a do equilíbrio entre crescimento demográfico e


subsistências. Mas Thompson limitou-se a sistematizar três grandes grupos de população,
consoante a respetiva dinâmica demográfica, estabelecendo o princípio segundo o qual
esse dinamismo é condicionado pela disponibilidade de terras.

Neste artigo publicado em 1929, Thompson classifica os países do mundo em três grandes
grupos segundo o seu crescimento demográfico:
– o grupo A: baixas taxas de mortalidade, taxas de natalidade em diminuição
rápida, declínio das taxas de crescimento natural; declínio do crescimento da
população; aproximação rápido do estado estacionário;

– o grupo B: taxas de natalidade lentamente sob controle; taxas de mortalidade


que descem mais rapidamente do que as taxas de natalidade; aumento das
taxas de crescimento natural;

– o grupo C: pouco controle voluntário das taxas de natalidade e de mortalidade;


crescimento rápido da população. (Piché e Poirier, 1990)

Em relação a Malthus, Thompson apresenta duas novidades: o reconhecimento da


existência de diferentes estados – e não estádios – de população e a utilização, como
critérios diferenciadores de três desses estados, das tendências da mortalidade e da
natalidade. Mas em Thompson não existe ainda a ideia evolucionista de transição. Esta
será apresentada pela primeira vez, em 1945, por Notestein, na sua teoria dos estádios
de desenvolvimento das populações (Leston Bandeira, 1996b).

Numa obra publicada em 1934, La Révolution Démographique. Paris, Librairie Sirey, Landry
distingue também três regimes de população para dar conta da situação demográfica
presente e passada de certos países da Europa (Piché e Poirier, 1990):
– o regime primitivo no qual a fecundidade não sofre nenhuma restrição de ordem
económica. A população tende para um máximo que será alcançado quando a
mortalidade terá atingido o nível da natalidade;

– o regime intermédio no qual as preocupações de ordem económica provocam


restrições da nupcialidade com vista a manter para os indivíduos e suas famílias
um certo grau de bem-estar. A nupcialidade torna-se então o principal regulador
da população;

– o regime contemporâneo caracterizado por um aumento da produtividade, a


diminuição da mortalidade e a limitação da procriação. O progresso técnico
intervém como fator regulador do crescimento da população.

Em 1945, Notestein volta à tipologia de Thompson no quadro de uma análise mais


dinâmica. Para ele, os três tipos de crescimento descrevem as etapas de um processo de

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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

passagem de um regime demográfico caracterizado por taxas elevadas de mortalidade


e de natalidade para um outro, em que estas taxas são fracas (Notestein, 1945, in Piché
e Poirier, 1990).

A primeira grande interpretação da transição demográfica provem diretamente da teoria


estruturo-funcionalista que monopoliza a sociologia anglo-saxónia (sobretudo americana)
nos anos 50-60. Nessa perspetiva, a transição demográfica inscreve-se num conjunto de
transformações estruturais ligadas à industrialização e à urbanização.

O essencial da teoria pode resumir-se de seguinte modo: a industrialização transforma


as estruturas económicas e sociais, as quais trazem mudanças na estrutura familiar que,
por sua vez, provocam uma diminuição da fecundidade.

Entre as transformações estruturais as mais importantes, notam-se as seguintes: a


diminuição da mortalidade, a diminuição das atividades agrícolas a favor da generalização
de uma economia de mercado urbana-industrial, a mobilidade geográfica e a urbanização,
a melhoria do estatuto da mulher e o aumento da escolarização. Perante essas
transformações, a família conhece uma série de adaptações, o antigo sistema familiar
tornando-se disfuncional. No meio destas adaptações, os demógrafos da transição
realçaram sobretudo a diminuição da importância da parentalidade e a nuclearização
estrutural da família, o aparecimento de novos papéis familiares, nomeadamente no que diz
respeito ao valor económico e social dos filhos, uma maior igualdade e comunicação entre
os cônjuges e um novo tipo de casamento essencialmente baseado na livre escolha. Os
casais desse novo tipo de família desejam menos filhos e, graças à contraceção moderna,
planeiam famílias menos numerosas (D. Heer, 1968; C. Goldscheider, 1971; B. C. Rosen
e A. B. Simmons, 1971, in Piché e Poirier, 1990).

A teoria da transição demográfica clássica enfatiza o declínio da fecundidade como


consequência do declínio da mortalidade e devido às mudanças na vida social que
acompanham a industrialização e a urbanização (Thompson, 1930; Notestein, 1945).

Assim, a transição demográfica, a passagem de uma sociedade agrícola com uma alta
fecundidade para uma sociedade industrial com uma diminuição da fecundidade, efetua-
se pela passagem forçada para a industrialização.

Mesmo se se trata essencialmente de uma teoria explicativa para a diminuição da


fecundidade, considerada aqui como variável dependente, as duas outras variáveis
demográficas – ou seja, a mortalidade e a migração, são igualmente explicitamente
incluídas no modelo, contudo como variáveis independentes, isto é, agindo na fecundidade.

Assim, a baixa da mortalidade constitui um papel central nas primeiras formulações da


teoria da transição. De facto, com uma baixa mortalidade infantil, os casais não precisam
ter tantos filhos.

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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

Quanto à migração, constitui também um papel importante pois permite a mobilidade da


zona agrícola-rural para a economia industrial-urbana.

No entanto, a hipótese central da nuclearização da família será contestada nos trabalhos


históricos de Anderson (1971) e de Hareven (1975) e, por outro lado, a industrialização
deixa de ser considerada como uma condição necessária para a diminuição da fecundidade.

A teoria de transição demográfica foi descrita pela primeira vez nos anos 40. Desde então
tem sido modificada, acrescentada e escrita de novo. A definição clássica desta teoria foi
descrita por Notestein (1945), Blacker (1947) e outros autores e define-se do seguinte
modo: existem uma série de estádios durante os quais a população se move de uma
situação onde tanto a mortalidade como a natalidade são altas, para uma posição onde
tanto a mortalidade como a natalidade são baixas. O crescimento de ambos os indicadores
antes e depois da transição demográfica é muito baixo. Durante a transição, o crescimento
da população é muito rápido devido essencialmente ao declínio da mortalidade ocorrer
antes do declínio da fecundidade.

Seguindo a revisão de Mason da teoria da transição demográfica (1997), Lundquist,


Anderton, Yaukey (2015, p.58) identificam seis teorias de transição principais.

A abordagem microeconómica neoclássica (Becker, 1981) enfatiza o custo crescente de criar


filhos e o desejo por usos alternativos dos recursos familiares (por exemplo, consumismo
crescente e bens de consumo alternativos).

Easterlin e Crimmins (1985) expandem esse pensamento para incluir os custos psicológicos
ou sociais de limitar a fecundidade. A teoria ideativa (Cleland e Wilson, 1987) atribui o
declínio da fecundidade à difusão de informações anticoncecionais e à mudança das
normas sobre procriação.

A maioria das críticas a essas teorias gerais de transição demográfica surgem ou da


simplicidade com que as transições são caracterizadas (Mason, 1997) ou de expetativas
excessivamente altas de previsão (Feeney, 1994). Feeney observa que mesmo a teoria de
transição mais satisfatória pode não prever o início do declínio da fecundidade. Embora as
teorias de transição sejam úteis para compreender as mudanças de comportamento, não
há evidência de que elas podem prever o momento preciso das mudanças demográficas
em um determinado conjunto de circunstâncias.

Mason (1997, conforme citado em Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015, p. 59), resume o
que os demógrafos estabeleceram sobre a transição demográfica:
1. O declínio da mortalidade é geralmente uma condição necessária, mas não
suficiente, para o declínio da fecundidade.

2. As transições de fecundidade ocorrem em diferentes circunstâncias, quando

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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

várias combinações de condições são suficientes para motivar ou permitir que


as populações adotem o controle da natalidade.

3. Uma transição causada por circunstâncias numa determinada população pode


influenciar ou difundir-se para outras regiões de circunstâncias diferentes.

4. Tais influências podem ocorrer em velocidades diferentes, dependendo de uma


variedade de circunstâncias.

5. O número de crianças que as famílias podem sustentar varia entre as populações


anteriores à transição.

6. Se as famílias excederem a sua capacidade de sustentar os filhos, os pais


recorrerão a alguma forma de controle de fecundidade.

7. O controle da fecundidade após a gravidez ou nascimento depende das formas


disponíveis e aceitáveis ​​de tal controle (por exemplo, aborto ou infanticídio).

8. Quando as condições limitarem esses controles após a gravidez, os controles


pré-natais, como anticoncecionais ou espaçamento entre nascimentos, serão
incentivados (especialmente se auxiliados por políticas ou programas estaduais).

Maria Luís Rocha Pinto (2010, p. 55) resume as quatro fases em que todos os países já
passaram, estão a passar ou passarão:
a) uma fase do “quase equilíbrio” antigo, (ou de pré-transição) entre uma
mortalidade elevada e uma fecundidade igualmente elevada o que implica
um crescimento natural da população reduzido – característica de sociedades
agrícolas e rurais. À esta primeira fase, dá-se o nome de fase de pré-transição
ou pré-industrialização, caracterizada por um equilíbrio de baixo nível. Durou
milhares de anos quando o mundo era caracterizado por altas taxas de natalidade
e mortalidade e crescimento populacional estável. Na maioria dos países do
mundo, esta época está terminada. A fase pré-transicional foi seguida pela fase
de transição (Fase 2), caracterizada por uma taxa de fecundidade elevada e o
declínio da taxa de mortalidade.

b) A segunda fase, fase do declínio da mortalidade e da consequente aceleração


do crescimento natural da população, diz respeito à etapa em que a mortalidade
diminui, mas com grande aceleração do crescimento da população, em que a
fecundidade se mantem elevada: é uma fase de crescimento demográfico rápido.
Vários países em desenvolvimento estarão ainda nesta fase, o que suscitou
inúmeros debates sobre os efeitos negativos do crescimento demográfico rápido
no desenvolvimento económico.

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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

A mortalidade começou a diminuir em muitos países do mundo com o início da


industrialização e modernização, e sob a ação de um aumento dos orçamentos
da saúde e medidas sanitárias.

A fecundidade permaneceu alta, no entanto a população continuou a aumentar.

Assim, a taxa de crescimento populacional foi alta.

Exemplos: Guatemala, Iraque, África Subsaariana

c) A fase do declínio da fecundidade; a mortalidade continua a declinar embora


a um ritmo mais moderado e o crescimento natural da população diminui de
intensidade. Esta terceira fase caracterizou durante muito tempo as sociedades
industriais e urbanas, quando a revolução demográfica produziu baixos níveis
de fecundidade e de mortalidade. Hoje, fala-se até de uma revolução mundial,
na medida em que os níveis de fecundidade estão baixos.

Esta fase foi caracterizada por um crescimento populacional decrescente devido


a menores taxas de natalidade, recuo da fecundidade e da mortalidade seguida
por uma contração do crescimento natural;

d) uma última fase do “quase-equilíbrio” moderno entre uma mortalidade


com baixos níveis e uma fecundidade igualmente baixa, tendendo para um
crescimento nulo, abaixo do nível de substituição da população (menos de
2,1 filhos por mulher) e anuncia uma possível diminuição da população em
números absolutos. Nesta fase (chamada declínio incipiente), a fecundidade e
a mortalidade são muito baixas. Durante esta fase, entretanto, frequentemente
ocorrem pequenas flutuações na fecundidade.

Exemplos: Brasil, Alemanha e Japão

No Japão, a queda da taxa de natalidade explica-se sobretudo pela prática do


aborto, legalizada pelo Estado, e em Perto-Rico, o declínio provem parcialmente
da esterilização.

Quase todos os países do mundo já passaram pela segunda fase (declínio da mortalidade) e
quase todos já chegaram à terceira fase (declínio da fecundidade). A transição demográfica
começou nos países mais avançados da Europa no século XVIII quando a mortalidade
começou a declinar numa forma consistente e continuada. Chegando ao século XX, o
declínio da mortalidade expande-se a todos os países europeus e aos outros continentes.
O aumento da população acelera. A tendência pesada da evolução da população mundial
aponta, atualmente para uma situação em que, a partir de meados deste século, se admite

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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

o início de um processo que conduzirá a um declínio progressivo da população mundial,


através da diminuição do número total de nascimentos.

A ideia central da teoria da transição demográfica, que é a de provar a existência dos


efeitos da modernização nos comportamentos demográficos, parece estar mais do que
demonstrada pelos factos. A revolução sanitária fez que no mundo, nos anos 90, não
existissem países com uma esperança de vida à nascença inferior a 50 anos. Os raros países
que se encontravam nessa situação pertencem todos à África subsariana. A revolução
contracetiva fez também generalizar a ideia de que um baixo nível de fecundidade é um
símbolo de modernidade, seja à escala de um país seja à microescala dos indivíduos e
dos casais.

A esta transição demográfica no sentido restrito, Piché (2013) acrescenta outras


transições fundamentais. Relacionado com a fecundidade, menciona a transição familiar:
aparecimento de novos modelos familiares e de uniões, mudanças nos papéis dos homens
e das mulheres. Para além dos níveis de mortalidade, considera de modo mais global uma
transição em saúde, isto é, mudanças nas causas de morte (a transição epidemiológica)
e dos novos fatores de risco (novos vírus, poluição, etc.). Uma das transições das mais
importantes para as suas consequências sociais e económicas é a passagem de uma
sociedade jovem para uma sociedade envelhecida (transição da estrutura por idade).

Acrescenta, por fim, a transição migratória, caracterizada pelo fim do êxodo rural e a
importância crescente da migração internacional no crescimento demográfico.

Além de observar estas diversas transições, o importante, segundo Piché (2013) é mostrar
que estas transições estão todas ligadas, produzindo assim uma teoria global da mudança
social.

Maria Luís Rocha Pinto (2010) nota que para Landry existem apenas três fases ou “regimes
demográficos” que se sucedem no tempo:
a) “regime primitivo” em que a pressão das subsistências, isto é a economia,
apenas afeta a mortalidade, e em que o homem deixa à natureza a regulação
dos excedentes; esta espécie de regulação “natural” faz com que a população
tenda sempre para o máximo possível pelas subsistências disponíveis; este
efetivo da população tem a longo prazo um crescimento muito lento, alterado
regularmente por crises de sobre mortalidade (epidemias, guerras, fomes);

b) “regime intermédio”, em que o progresso, técnico, científico, de circulação,


permite à população manter ou elevar o seu nível de vida; desenvolvimento
provocando a diminuição da natalidade, inicialmente devido ao retardamento
da idade do casamento;

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2. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

c) “regime moderno” em que a natalidade baixa fortemente e não somente em


função de considerações económicas individuais.

A teoria da transição demográfica é uma teoria descritiva. Descreve as diferentes fases


vivenciadas por uma determinada população. Limita-se à interpretação dos momentos
decisivos da evolução demográfica sem fornecer um sistema de relações lógicas e explícitas
que poderiam permitir fazer deduções, fazendo assim predições da evolução. (Genné,
1981, 559)

A transição demográfica descreve a passagem de um regime demográfico para outro


e relaciona os níveis de fecundidade e de mortalidade em diferentes sociedades em
diversas etapas da sua história. Esta teoria permite descrever a evolução demográfica
em diversas fases.

Atividade formativa
1. Descreva a Teoria da Transição Demográfica e as suas fases.

2. Explique o “Problema Malthusiano” e como os escritos de Malthus foram


interpretados e criticados.

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