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TEORIAS DEMOGRÁFICAS
Objetivos
Introdução
Neste capítulo, tentaremos explicar como foi evoluindo a Demografia relativamente aos
seus aspetos quantitativos da dinâmica populacional, como se foi constituindo e emergiu
como ciência ao longo dos séculos XVII e XVIII. Iremos ver também quem foram e o
que disseram os homens que transformaram em ciência a Demografia, quais são as
grandes teorias e os grandes problemas da Demografia contemporânea.
A população relativa, por outro lado, corresponde ao número de habitantes por área.
Este tipo de população também é conhecido por densidade demográfica ou densidade
populacional. Para obter a população relativa é necessário dividir a população absoluta
de determinado local pela área, normalmente em quilómetros quadrados (km2).
O ano 2020 foi marcado pelo inicio da pandemia do Covid -19. Considera-se que terá a
médio e longo prazo um impacto demográfico significativo. Observa-se que as pessoas
falecidas são maioritariamente idosas, população que já não teria tido filhos, não
interferindo neste caso com o número de nascimentos nos próximos anos (Institut
Montaigne, 2021). No entanto há outros efeitos que ainda não conhecemos, mas já se
notam no imediato, como é o aumento da mortalidade, a diminuição da esperança média
de vida, entre outros.
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https://bible.knowing-jesus.com/Portuguese/G%C3%AAnesis/9/7
filhos, os celibatários e os casais estéreis. Estamos, pois, perante um precursor do
pensamento demográfico.
Por um lado, é efetivamente uma população de uma unidade territorial bem definida de
que se trata. A população é uma variável claramente identificada, cujas relações com o
ambiente não são ignoradas. Por outro lado, de maneira aparentemente bastante
moderna, Platão calcula com muita precisão algumas variáveis demográficas chaves, tais
como a idade no casamento ou a duração da vida fecunda. Ele parece introduzir uma
verdadeira política demográfica, através de medidas de incentivo ou de travão da
fecundidade, recurso à emigração ou imigração, com o objetivo de controlar o número
global da população (Charbit, 2002).
Aristóteles (384-322 a.C.) é mais realista do que o seu mestre Platão, ao pensar
sobretudo num número estável de habitantes. Esta procura de estabilidade não implica
um número fixo de habitantes. Pelo contrário, ao aperceber-se que a natalidade e a
mortalidade fazem variar o volume populacional, propõe uma “justa dimensão” da
população.
Na Idade Média, Santo Agostinho (345-430) e São Gregório (540-604) defendem que o
casamento une marido e mulher para gerar filhos. Esta linha de pensamento é dominada
pelo pensamento cristão, numa perspetiva teológica e moral, enquanto que as duas
anteriores formas (pertencentes à Antiguidade) foram analisadas numa perspetiva
política e social.
Com o início dos tempos modernos, as ideias respeitantes à população separam-se das
questões morais e passam progressivamente a depender de preocupações políticas e
económicas. É nesta linha de ideias e de acontecimentos que se deve interpretar o culto
pelo ideal mercantilista da riqueza, associado à valorização do Estado. Neste contexto,
as doutrinas mercantilistas são consideradas, no seu conjunto, explicitamente
populacionistas. Este populacionismo permitiu acelerar o processo que irá conduzir ao
aparecimento da Demografia como ciência.
A morte durante muito tempo foi estudada na Antiguidade e Idade Média na perspetiva
da longevidade, isto é, da idade mais elevada que o homem podia esperar atingir. O
termo mortalidade designava até ao século XVII as destruições causadas pelas guerras
e epidemias. Com Petty e John Graunt, que em 1661 publicam o primeiro livro de
Demografia, Natural and Political Observations Mentioned in a Following Index, and
Made Upon the Bills of Mortality na cidade de Londres, aparece a ideia moderna da
mortalidade, a de uma evolução regular dos riscos de morte com a idade. Os dois
homens imaginam as primeiras tábuas de mortalidade que indicam o número de mortes
observados a cada idade num grupo de pessoas seguidas desde o seu nascimento. O
número de sobreviventes numa determinada idade deduz-se por simples subtração das
mortes ocorridas entre essa idade e a anterior (Enciclopédia Universalis, 2021).
“O século XVIII foi fértil em ideias e ideais (...) debates apaixonados, e nem sempre
muito bem fundamentados, relativos às questões da população, e sobre o sub ou sobre
povoamento do Mundo, da Europa ou de alguns países”, escreve Maria Luís Rocha
Pinto (2010, p. 48).
Deve-se também, segundo ela, ao aparecimento de várias teorias e ideologias pelo facto
de não haver verdadeiros recenseamentos.
É neste contexto que surge “uma obra que marcará quer o pensamento demográfico, quer a
demografia, quer ainda as políticas de população até aos dias de hoje”. Trata-se da obra de
Thomas Robert Malthus, An essay on the principle of on population as it affects the
future improvement of society with remarks on the speculations of Mr. Godwin, Mr.
Condorcet and other writers – 1ª edição 1798. Esta obra foi seguida, ainda em vida de
Malthus, por mais cinco edições até 1826, tendo sido comentada, discutida, contestada
por muitos e apoiada por outros, traduzida em várias línguas, transformando o
malthusianismo numa doutrina.
Thomas Malthus, padre inglês que viveu no século XVIII (1766-1834), professor de
História Moderna e Economia Política em Inglaterra, grande observador de fenómenos
populacionais, estabeleceu o célebre paralelo entre a multiplicação do homem e a sua
subsistência.
Também faz escândalo devido a um parágrafo: “um homem que nasce num mundo
ocupado, se não lhe é possível obter dos seus pais os meios de subsistência… e se a
sociedade não tem necessidade do seu trabalho, não tem direito a reclamar a mínima
parte da alimentação e está a mais…” (conforme citado em Nazareth, 2004, p. 26).
A sua teoria baseia-se no facto de uma população ter um aumento constante e esse
aumento ser mais rápido do que os meios de subsistência, sendo o equilíbrio entre o
tamanho da população e o nível de subsistência mantido através do controlo do
crescimento da população.
Princípio de População de Thomas Malthus
A população é mantida dentro dos limites dos meios de subsistência principalmente por
meio de controlos positivos, operando através das taxas de mortalidade. Quando os
meios de subsistência não são adequados para cuidar de uma população de um
determinado tamanho, a taxa de mortalidade aumentará até que a população encolha a
um nível suportável.
Da mesma forma, sempre que surgir um excedente nos meios de subsistência, isso
tenderá a diminuir temporariamente a taxa de mortalidade (e aumentar a taxa de
crescimento natural) até que a população tenha crescido até os limites dos novos meios
de subsistência. Este é o “dilema malthusiano”.
Nas últimas décadas, uma perspetiva neomalthusiana usou parte da teoria de Malthus
como justificação para programas de planeamento familiar em todo o mundo. As
perspetivas neomarxistas e a teoria do desenvolvimento económico, entretanto,
promoveram políticas de desenvolvimento como tecnologia agrícola mais evoluída,
oportunidades e acesso ao crédito para grupos sociais marginalizados e sistemas de
distribuição social eficientes dentro das regiões menos desenvolvidas. Não
surpreendentemente, essas duas perspetivas são complementares, refletindo o
numerador (ou seja, o tamanho da população) e o denominador (ou seja, meios de
subsistência) para a densidade populacional. Ambas têm claramente um papel nas
preocupações com o crescimento populacional. A contribuição de Malthus foi chamar a
atenção para a importância do crescimento populacional nesta equação.
Assim, se desde o fim dos anos 1950, os especialistas das Nações Unidas puderam prever
que o planeta estaria povoado por 6 mil milhões de homens no ano 2000, a teoria da
transição demográfica fornecia um corpo de hipóteses particularmente exato sobre a
evolução da dinâmica das populações de países em desenvolvimento, principal foco para
o futuro da população mundial da época (Lundquist, Anderton, Yaukey, 2015).
A teoria de transição demográfica foi descrita pela primeira vez nos anos 40. Desde
então tem sido modificada, acrescentada e escrita de novo. A definição clássica desta
teoria foi descrita por Davis (1945), Notestein (1945), Blacker (1947) e outros autores e
define-se do seguinte modo: existem uma série de estádios durante os quais a população
se move de uma situação onde tanto a mortalidade como a natalidade são altas, para
uma posição onde tanto a mortalidade como a natalidade são baixas. O crescimento de
ambos os indicadores antes e depois da transição demográfica é muito baixo. Durante a
transição, o crescimento da população é muito rápido devido essencialmente ao declínio
da mortalidade ocorrer antes do declínio da fecundidade.
Maria Luís Rocha Pinto (2010, p. 55) resume as quatro fases por que todos os países já
passaram, estão a passar ou vão passar:
a) uma fase do “quase equilíbrio” antigo, (ou de pré-transição) entre uma mortalidade
elevada e uma fecundidade igualmente elevada, o que implica um crescimento natural
da população reduzido – característica de sociedades agrícolas e rurais. A esta primeira
fase, dá-se o nome de fase de pré-transição ou pré-industrialização. Durante milhares
de anos o mundo era caracterizado por altas taxas de natalidade e mortalidade e
crescimento populacional estável. Na maioria dos países, esta época está terminada. A
fase pré-transicional foi seguida pela fase de transição (Fase 2), caracterizada por uma
taxa de fecundidade elevada e o declínio da taxa de mortalidade.
Esta fase foi caracterizada por um crescimento populacional negativo devido a menores
taxas de natalidade, recuo da fecundidade e da mortalidade seguida por uma contração
do crescimento natural;
d) uma última fase do “quase-equilíbrio” moderno entre uma mortalidade com baixos
níveis e uma fecundidade igualmente baixa, tendendo para um crescimento nulo, abaixo
do nível de substituição da população (menos de 2,1 filhos por mulher) e anuncia uma
possível diminuição da população em números absolutos. Nesta fase (chamada declínio
incipiente), a fecundidade e a mortalidade são muito baixas. Durante esta fase,
entretanto, frequentemente ocorrem pequenas flutuações na fecundidade.
Acrescenta, por fim, a transição migratória, caracterizada pelo fim do êxodo rural e a
importância crescente da migração internacional no crescimento demográfico.
Maria Luís Rocha Pinto (2010) nota que para Landry existem apenas três fases ou
“regimes demográficos” que se sucedem no tempo:
Desde os anos 60 que existe uma critica à teoria clássica da transição demográfica e
passou-se a considerar uma pluralidade de transições. A sua transposição aos paises em
desenvolvimento, veicula uma visão muito europeista e não tem em conta a diversidade
de contextos. A visão linear e uniforme foi refutada. Para aém dos tempos diferentes,
dos momentos diferentes, existe uma énorme variedade de situações pré e pós
transição, ritmos, duração e intensidade de evolução.
As crises de mortalidade têm duas fases: a fase da peste e a fase das epidemias sociais
que se estende até ao início da época contemporânea. A mortalidade era um fator
regulador e um fator destruidor das populações desta época. Alguns historiadores da
população têm uma visão mecanicista das sociedades humanas nesta época ao
pensarem que o verdadeiro elemento regulador é a morte. Esta visão mecanicista não
resistiu à vaga de investigações sobre o sistema demográfico do Antigo Regime que
caracteriza os nossos dias com o desenvolvimento da Demografia Histórica. Os
Dupâquier foram os grandes pioneiros no final dos anos 70 ao levantar a seguinte
questão: como é que 18 milhões de súbditos de Luís XIV mal alimentados, aumentaram
num século para 27 milhões vivendo numa relativa abundância e reagindo à oscilação
de preços? (Dupâquier, 1979).
Houve longos períodos de crescimento estacionário, até por volta da época de Cristo,
quando a população mundial era de aproximadamente 250 milhões. A população não
duplicou novamente até cerca do ano 1600. A taxa média anual de crescimento foi de
apenas 0,04 por cento nesse período. Essas condições estacionárias continuaram até
meados de 1650, quando a população mundial foi estimada em cerca de
aproximadamente 650 milhões. Durante muitos milhares de anos, a população mundial
foi mantida em tamanho pequeno pelos vários testes malthusianos. A população cresceu
de cerca de 650 milhões em 1650 para mil milhões em 1850. Levou menos de 80 anos
para duplicar novamente em 1927. Com a Revolução Industrial, as pessoas começaram
a deslocar-se do campo para as cidades para trabalhar em fábricas e moinhos, e o nível
de urbanização aumentou. Muito do crescimento deveu-se a taxas de mortalidade mais
baixas, enquanto as taxas de natalidade permaneceram altas. A melhoria do padrão de
vida resultante da industrialização ajuda a explicar o declínio das taxas de mortalidade.
Após milénios de crescimento lento, a população mundial evoluiu para uma taxa sem
precedentes, começando nos anos 1600 e atingindo o pico no final dos anos 1960. Os
padrões de consumo da população - mais do que o crescimento populacional - podem
desafiar a capacidade de suporte do planeta, embora a fecundidade tenha começado a
diminuir em todo o mundo. As preocupações com os padrões de consumo excessivo da
população incluem as emissões de carbono que levam à mudança climática, o
esgotamento dos recursos pesqueiros e de água doce e assim por diante.
O crescimento da população na segunda metade do século XVIII é um fenómeno
europeu que ultrapassa o quadro das regiões industrializadas e que não pode ser
explicado apenas pela revolução agrícola.
A grande mutação não resultou de um modelo simplista que apenas considera os efeitos
diretos e indiretos das condições de saúde (modelo simplificado), mas de um modelo
mais complexo que integra diversos componentes (Modelo de Dupâquier, conforme
citado em Nazareth, 2004, p. 90-93):
Modelo de Dupâquier
ARRANQUE INDUSTRIAL
EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA
Fonte: adaptado de Nazareth, 2004, p. 93, figura 5
ATIVIDADE FORMATIVA