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5.

A DINÂMICA POPULACIONAL POR IDADE E SEXO

Objetivos
1. Descrever a evolução dos volumes populacionais de uma população, com base no
cálculo de medidas de variação desses volumes: taxas de crescimento e tempo de
duplicação em anos;
2. Descrever a evolução da estrutura etária portuguesa;
3. Determinar a composição da população, segundo a idade e o sexo;
4. Perceber a metodologia de construção das pirâmides de idades e saber identificar
cada uma delas;
5. Saber calcular as Relações de Masculinidade e o seu contributo na análise
demográfica;
6. Saber determinar e interpretar grupos funcionais e índices resumo;
7. Saber definir e analisar o envelhecimento demográfico.

5.1. TIPOS, VOLUMES E RITMOS DE CRESCIMENTO DE UMA


POPULAÇÃO

Como já vimos anteriormente, sobre o crescimento demográfico e a distribuição da


população, ao caracterizar uma população humana, pensamos inicialmente no seu
tamanho: quantas pessoas existem numa localidade, num determinado momento?

A distribuição espacial ou geográfica pode ser avaliada pelo conhecimento da


densidade da população, isto é, a população por quilómetros quadrados (número de
habitantes por Km2):

Este valor, porém, considerado em relação ao total da área estudada, pode não
traduzir a verdadeira distribuição da população, pois esta encontra-se mais aglomerada
em certas zonas e mais dispersa noutras. Para estudar a densidade populacional é
conveniente dividir o território em zonas mais pequenas - no caso de um país, podem
adotar-se as divisões administrativas, no caso de uma cidade, podem considerar-se os
bairros, etc.

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A população pode ainda distribuir-se por aglomerados rurais e urbanos. A primeira
reside isolada no campo ou em pequenos núcleos. A segunda vive nas cidades ou em
povoações de certa importância populacional. Sob o ponto de vista estatístico é
necessário distinguir os aglomerados urbanos e rurais. Um centro urbano designa uma
localidade, qualquer que seja a categoria legal (cidade, vila, aldeia) que, a sua área
urbana seja demarcada pela respetiva Câmara Municipal e que conte com um
determinado número mínimo de habitantes1.

Na caracterização de uma população, para além do tamanho e da distribuição espacial,


importa também a composição: quantas pessoas maiores de 50 anos existem? quantas
são do sexo feminino? quantas são economicamente ativas? quantas estão casadas? E
uma outra questão importante que surge é: como é que as mudanças num ou mais
destes componentes da população podem afetar os outros componentes?

Como principais variáveis demográficas temos então, no âmbito dos aspetos estáticos,
o tamanho da população; a distribuição por idade, sexo, estado civil; a distribuição
segundo a região geográfica de residência atual, anterior e de nascimento. E no
âmbito dos aspetos dinâmicos, a natalidade ou a fecundidade, a mortalidade e as
migrações.

Em suma, como vimos anteriormente, a Demografia trata, pois, dos aspetos estáticos
de uma população num determinado momento, assim como também dos aspetos
dinâmicos, ou seja, a sua evolução no tempo e da inter-relação dinâmica entre as
várias variáveis demográficas.

5.1.1. Tipos de População

Imaginemos a população de uma determinada área geográfica, num determinado


momento. Suponhamos também que, a partir de uma população inicial, num passado

1
Em Portugal considera-se, segundo a classificação indicada pelo INE, como área mediamente
urbana, a freguesia que integra a sede da Câmara Municipal e tem uma população residente
superior a 5.000 habitantes ou a freguesia que integra total ou parcialmente um lugar com
população residente igual ou superior a 2.000 habitantes e inferior a 5 000 habitantes, sendo
que o peso da população do lugar no total da população residente na freguesia ou no total da
população residente no lugar, é igual ou superior a 50%.
(https://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes/5717) E como área predominantemente urbana
considera-se a freguesia que integra a sede da Câmara Municipal e tem uma população
residente superior a 5.000 habitantes ou a freguesia que integra total ou parcialmente um lugar
com população residente igual ou superior a 5 000 habitantes, sendo que o peso da população
do lugar no total da população residente na freguesia ou no total da população residente no
lugar, é igual ou superior a 50%. (https://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes/6170)

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longínquo, não tenha havido entrada e saída de pessoas da área. Trata-se de uma
população fechada, isto é, sem movimentos migratórios. A trajetória entre aquela
população inicial e a população atual é totalmente explicada pelas mortes e
nascimentos ocorridos no período. Estamos, assim, perante uma população fechada
quando a sua estrutura é mantida ou alterada apenas pelos nascimentos e óbitos, isto
é, não afetada por migrações externas. Neste caso existem três tipos de modificações
anuais: aumento por meio da natalidade, diminuição através da mortalidade e
envelhecimento de um ano de todos os sobreviventes (Bandeira, 2004).

Se uma população fechada à migração apresenta comportamentos constantes no


âmbito das taxas específicas por idade de fecundidade e de mortalidade, ela tende a
desenvolver uma distribuição de idade constante e a crescer a uma taxa constante,
independentemente da distribuição de idade inicial da mesma. É neste sentido que os
demógrafos às vezes afirmam que “populações estáveis esquecem o seu passado”
(Poston & Bouvier, 2017). A distribuição por idade da população estável depende de
dois itens, a saber, as taxas específicas por idade de mortalidade subjacentes e a taxa
de crescimento.

A estas modificações, acrescem, no caso de uma população aberta (quando está


sujeita a fenómenos migratórios): as entradas de indivíduos de diferentes idades e as
saídas de indivíduos de diferentes idades.

A população é assim de tipo progressivo quando apresenta um número crescente de


nascimentos, ano a ano, e de tipo regressivo quando apresenta um número
decrescente de nascimentos, ano a ano.

Finalmente, uma população estacionária define-se como uma população estável em


que a taxa de natalidade é igual à taxa de mortalidade, sem mudanças no tamanho da
população, logo com uma taxa de crescimento nulo ou igual a zero (Nazareth, 2004).

5.1.2. Medidas do crescimento

O número de pessoas que estão presentes num determinado espaço territorial define-
se como volume populacional. Ao longo do tempo o número de habitantes de um
determinado espaço modifica-se. O mesmo é dizer que uma população não tem
sempre o mesmo número de habitantes, evolui a um determinado ritmo (que pode ser
diferente consoante os períodos):

• Se o crescimento for positivo (crescimento positivo): a população está a aumentar;

• Se o crescimento for negativo (crescimento negativo): a população está a diminuir;

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•Se o crescimento for nulo (crescimento zero): a população mantém-se igual.

Como refere Bandeira (2004, 166), o “jogo de entradas e saídas na população constitui
o movimento de qualquer população e o seu crescimento.” A dinâmica da população
está dependente de três acontecimentos relevantes: nascimentos, óbitos e migrações.
O crescimento da população tem duas componentes: o crescimento natural que
envolve a diferença entre nascimentos (entradas) e óbitos (saídas) e o crescimento
migratório ou a balança migratória que envolve a diferença entre imigrantes (entradas)
e emigrantes (saídas).

A alteração do volume populacional é o resultado do efeito combinado destes dois


fatores: saldo natural2 (diferença entre nascimentos e mortes) e o saldo
migratório (diferença entre o número de pessoas que entraram – imigrantes – e
saíram do espaço territorial em análise – emigrantes –). O mesmo é dizer que a
diferença entre o tamanho total de uma população em dois momentos distintos deve
ser igual ao número de nascimentos, menos o número de óbitos, mais o número de
imigrantes e menos o número de emigrantes, ocorridos durante o período
intermediário em causa. Deste modo a evolução da população deve cumprir com
certos requisitos de consistência traduzidos pela denominada equação de
3
concordância cuja fórmula simplificada P1-P0=(N-O)+(I-E) pode ser entendida
como (Grupo Foz, 2021):

Onde e são as populações existentes no momento (inicial) e (final) e


, , e são os acontecimentos referidos, respetivamente, aos
nascimentos, aos óbitos, à imigração e à emigração ocorridos entre momento e
momento . Qualquer resultado divergente que coloque em causa esta fórmula
pode indicar uma de duas situações (Grupo Foz, 2021): uma ou mais das variáveis que
constam da fórmula podem ter sido medidas incorretamente4 ou as unidades
territoriais correspondentes às populações em e podem não ser as mesmas

2
Este também é conhecido por saldo fisiológico.
3
Recorre-se, com frequência, à equação de concordância para estimar os valores da emigração
ou da diferença entre imigração e emigração (cálculo indireto da balança migratória ou do saldo
migratório) quando todas as componentes da equação são conhecidas menos as referidas à
migração: (I E)=(P1 P0) (N O). (Bandeira, 2004; Grupo Foz 2021).
4
A aplicação da equação de concordância permite testar a qualidade dos dados, num
determinado período, fornecidos pelos diversos sistemas de informação disponíveis.
Tendencialmente, não existe concordância exata entre os termos da equação o que remete
para a má qualidade dos dados. Esta, no âmbito dos países mais desenvolvidos, prende-se
sobretudo com o mau registo dos dados relativos às migrações (Nazareth,2004).

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(por exemplo quando se trata de um município cujos limites foram alterados durante o
período em causa).

Em suma, do efeito combinado entre o crescimento natural e o crescimento migratório


deriva o crescimento de uma população que pode ser medido através de taxas de
crescimento. Através das taxas pode-se comparar o crescimento populacional entre
épocas e zonas geográficas distintas. Com efeito, só os valores do crescimento relativo
(ou seja das taxas) possibilitam perceber, por exemplo, entre as populações de um
país grande e de um país pequeno, qual delas poderá estar a crescer mais. Dado que,
à partida e em termos absolutos, o país maior apresentará valores mais elevados de
crescimento do que o país mais pequeno.

As taxas mais recorrentes são a Taxa de Crescimento Efetivo (TCE), a Taxa de


Crescimento Natural (TCN) e a Taxa de Crescimento Migratório (TCM). A TCE5 obtém-
se através da divisão entre o crescimento absoluto pela população média6 do período
considerado (população a meio do período), regra geral um ano, e exprime-se
tendencialmente em percentagem:

A TCN obtém-se através da divisão entre o crescimento natural (saldo natural) pela
população média do período considerado e exprime-se em percentagem7:

Exemplo: taxa de crescimento efetivo e taxa de crescimento natural de 1991 a 2001,


Portugal.

População residente 1991:9867147

População residente 2001: 10356117

5
A fórmula apresentada pelo INE é a seguinte:
(https://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes/3129).
Tal como observámos no capítulo 4, a população média é a calculada para o meio do período
6

em análise.
A fórmula apresentada pelo INE é a seguinte:
7

(https://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes/3130).

110
De 1991 a 2001, Portugal teve um crescimento efetivo positivo de 4,84% (aumentou
4,84 indivíduos por cada 100).

Ao assumir-se a população residente no momento inicial e no momento final do


período como correspondendo às populações no dia 1 de janeiro dos respetivos anos
em causa, é necessário considerar, para o apuramento do saldo natural, os
acontecimentos (nados-vivos e óbitos) que decorreram entre o início de 1991 e o final
de 2000:

Nados-vivos 1991-2000=1134963

Óbitos 1991-2000=1048537

De 1991 a 2001, Portugal apresentou um saldo natural positivo de 0,855%.

Fonte: Bandeira & Pintassilgo, 2018.

A TCM obtém-se através da divisão entre o crescimento migratório (saldo migratório)


pela população média do período considerado e exprime-se em percentagem8:

A fórmula apresentada pelo INE é a seguinte:


8

(https://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes/1712).

111
Se atendermos à equação de concordância, referida anteriormente, pode afirmar-se
que a taxa de crescimento efetivo é igual à soma das taxas de crescimento natural e
migratório:

Os valores destas taxas de crescimento (assim como dos correspondentes


crescimentos absolutos) podem apresentarem-se negativos. É o caso da situação de
Portugal que, desde o início deste milénio, regista tendencialmente taxas de
crescimento efetivo anuais negativas, em certas partes do seu território, remetendo
para evidentes perdas de população, resultantes das igualmente negativas taxas de
crescimento natural e migratório (Gomes e Moreira, 2014).

As denominadas taxas de crescimento intercensitário permitem avaliar o


crescimento de uma população sem recurso à informação (em termos naturais, nados-
vivos e óbitos, ou em termos migratórios, imigrações e emigrações) que contribui para
a sua mudança de tamanho ou volume (Bandeira & Pintassilgo, 2018). Estas medidas
são de cálculo indireto, considerando a população observada em dois momentos
censitários ( e e expressam-se em percentagem.

A Balança Migratória é uma medida que, de forma indireta e com recurso a dados
sobre população em dois momentos censitários sucessivos e sobre o movimento
natural (nados-vivos e óbitos) ocorrido no período entre dois censos, permite estimar o
saldo do movimento migratório aí ocorrido e ultrapassar a limitação de informação
habitualmente existente sobre as migrações.

A balança migratória como medida de cálculo indireto só pode ser calculada para
períodos intercensitários através da diferença entre o crescimento absoluto da
população e o seu crescimento natural, expressa pela denominada equação de
concordância já referida anteriormente (P1 P0)=(N O) ( ):

O seu resultado permite o cálculo da denominada Taxa da Balança Migratória que


reporta o valor apurado à população do meio do período analisada. Esta taxa expressa-
se em percentagem:

112
Exemplo: balança migratória e taxa da balança migratória de 1991 a 2001, Portugal.

População residente 1991:9867147 (assume-se a 1 de janeiro)

População residente 2001: 10356117 (assume-se a 1 de janeiro)

É necessário considerar, para o apuramento do saldo natural, os acontecimentos


(nados-vivos e óbitos) que decorreram entre o início de 1991 e o final de 2000:

Nados-vivos 1991-2000=1134963

Óbitos 1991-2000=1048537

De 1991 a 2001, em Portugal a balança migratória apresentou um saldo migratório


positivo de 402544 de imigrantes ou de entradas de indivíduos.

Ao longo do período intercensitário, houve um crescimento migratório positivo de 3,98


indivíduos por cada 100.

Fonte: Bandeira & Pintassilgo, 2018.

A taxa da balança migratória equivale à taxa de crescimento migratório o que permite


calcular a TCE tendo por referência a fórmula anteriormente referida:
.

Exemplo: taxa de crescimento efetivo com recurso ao saldo migratório estimado


(balança migratória) e, por aí, da taxa da balança migratória, de 1991 a 2001,
Portugal.

113
o mesmo valor da

O saldo migratório estimado (balança migratória) permite-nos calcular a TCM


(equivalente à e, por aí, a TCE segundo a fórmula seguinte:

Tal como já se havia observado acima, de 1991 a 2001, Portugal conheceu um


crescimento efetivo positivo de 4,84 indivíduos em cada 100. Este crescimento é
fortemente tributário de um crescimento migratório positivo.

Dispor de dados acerca do volume de uma população, ao longo de um período de


tempo, permite calcular o ritmo do seu crescimento. Um ritmo de crescimento que
assume um resultado anual médio, por forma a possibilitar comparar períodos de
diferente amplitude (Nazareth, 2004).

Considerando uma população P cujos efetivos são conhecidos através de dois


recenseamentos efetuados nas datas e , a taxa de crescimento total9 entre
e obtém-se através da seguinte fórmula (Bandeira, 2004):

A taxa de crescimento total permite avaliar o crescimento ao longo de todo o período


(o crescimento total do período) intercensitário e expressa-se em percentagem
(Bandeira, 2004).

Esta taxa é também conhecida por taxa de variação anual10: / .


11
Nesta fórmula, frequentemente utilizada pelo INE o representa a população no
inicio e o representa a população no fim do período em análise.

A taxa de crescimento total também surge designada por (Bandeira & Pintassilgo, 2018).
9

114
Exemplo: taxa de crescimento total ou taxa de variação anual de 1991 a 2001,
Portugal.

População residente 1991:9867147

População residente 2001: 10356117

Ao longo de todo o período intercensitário de 1991 a 2001, houve um crescimento de


4,955 indivíduos por cada 100, ou seja, em 10 anos a população portuguesa cresceu
4,955% (a dividir por 10 é de 0,4955) (Nazareth,2004).

Fonte: Bandeira & Pintassilgo, 2018.

A taxa de crescimento médio anual12 permite medir o ritmo médio anual de


crescimento de uma população (ao longo de cada ano do período intercensitário) e
expressa-se em percentagem (Bandeira, 2004):

Sendo que é a população inicial do período, é a população final do período e é


13
o número de anos do período intercensitário .

Assume o pressuposto do crescimento aritmético de que uma população tem sempre a


10

mesma variação absoluta anual, sendo que também pode ser denominada de taxa de
crescimento aritmético (Nazareth, 2004).
O INE calcula taxas de variação de população residente. A taxa de variação de população
11

residente (2011-2021), de Portugal foi de -2,07%.


A taxa de crescimento médio anual também surge designada por ) (Bandeira &
12

Pintassilgo, 2018).
A fórmula de cálculo desta taxa também pode surgir assim: .
13

115
Exemplo: taxa de crescimento médio anual de 1991 a 2001, Portugal14.

População residente 1991:9867147

População residente 2001: 10356117

Número de anos do período intercensitário:

Data do recenseamento de 1991:15 de abril

Data do recenseamento de 2001:12 de março

Dias de 12 de março a 15 de abril : 34 dias

Anos de 1991 a 2001: 10 anos

= 10 (34/365)

= 9,907 anos

Ao longo de cada ano do período intercensitário de 1991 a 2001, houve um


crescimento de 0,489 indivíduos por cada 100.

Fonte: Bandeira & Pintassilgo, 2018.

No sentido de ter uma visualização das implicações de uma determinada taxa de


crescimento a mais longo prazo, pode-se calcular o chamado tempo de duplicação
em anos, ou seja, o tempo necessário para que uma população que cresce segunda
certa taxa alcance o dobro do seu tamanho inicial. Como existem efeitos de
acumulação (crescimento após crescimento), o tempo que uma população que cresce
a 2% por ano leva para duplicar é só 35 anos e não 50 anos e uma população que
cresce a 4% por ano duplica em apenas 17,7 anos (Grupo Foz, 2021).

Relativamente ao cálculo da raiz: com recurso a uma calculadora científica que tenha a função
14

da raiz enésima ( , aciona-se (premindo a tecla em causa) e preenchem-se os parâmetros


em causa.

116
Se a taxa é uma taxa de crescimento constante, ao fim de quantos anos duplicará
a população? A taxa de crescimento médio anual permite o cálculo do tempo de
duplicação em anos através da aplicação da seguinte fórmula, onde o logaritmo (log)
pode ter qualquer base mas normalmente é 1015 (Grupo Foz, 2021) :

Exemplo: tendo por referência a taxa de crescimento médio anual de 1991 a 2001
quando anos levaria a população portuguesa a duplicar?

anos

Tendo por referência a taxa de crescimento médio anual de 1991 a 2001 a população
portuguesa duplicaria a cada 142 anos.

5.2. ANÁLISE DAS ESTRUTURAS DEMOGRÁFICAS: A DISTRIBUIÇÃO


POR IDADE E SEXO

A idade e o sexo são as características mais importantes e relevantes das populações


para os demógrafos. Em primeiro lugar, os processos demográficos de fecundidade,
mortalidade e migração produzem a estrutura etária e sexual da população, que por
sua vez influencia os processos demográficos. Em segundo lugar, a divisão do trabalho
nas sociedades tradicionais baseia-se quase inteiramente na idade e no sexo. Em
terceiro, ao nível individual, idade e sexo são as duas primeiras características que
reconhecemos numa pessoa. Em quarto, no estudo do curso de vida e do
desenvolvimento humano, a idade e o sexo permitem-nos comparar o momento dos

Com recurso a uma calculadora científica que apresente a função log. Esta uma vez acionada
15

(ou premida a tecla) apresentará os parâmetros x (base) e y (expoente), no primeiro preenche-


se com o valor em causa e no segundo com o valor de base (neste caso o x será 10 e o y será
2).

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eventos com as nossas expectativas ou cronogramas sociais. Em quinto, ao nível
social, as mudanças na distribuição da população por idade e sexo têm implicações
importantes para o desenvolvimento socioeconómico e demográfico, bem como para a
participação na força de trabalho e nas relações de género.

A Demografia lida, deste modo, não apenas com o tamanho e crescimento da


população, mas também com a composição da população. As dimensões mais
importantes da composição, indiscutivelmente, são a idade e o sexo. A idade, em
particular, está a passar por um grande fluxo, à medida que as populações do mundo
envelhecem. Com efeito, o envelhecimento da população será o principal foco
demográfico do século XXI.

As sociedades constroem papéis e atribuem status com base na idade e sexo mais do
que em quaisquer outras características. Consequentemente, as nações incluem
questões sobre a idade e sexo nos questionários dos Censos dos quais deriva a
informação de base sobre a composição da estrutura populacional por idade e
sexo.

Os processos demográficos também fornecem informações, igualmente importantes,


sobre a produção da estrutura populacional. Em relação à natalidade, sabe-se, tal
como já foi referido anteriormente, que nascem mais homens que mulheres (cerca de
105 homens para 100 mulheres). A fertilidade, que é a possibilidade de gerar essas
crianças, é possível nas mulheres geralmente entre os 15 e os 49 anos e nos homens
entre os 15 e os 79 anos.

Em relação à mortalidade, isto é, a frequência com que ocorre a morte numa


população, as mulheres têm taxas mais baixas de mortalidade do que os homens em
qualquer idade. Além disso, a mortalidade por causas específicas está geralmente
também relacionada com a idade. Justamente, no que concerne à relação entre a
idade e o risco de morte, a idade pode ser considerada a variável demográfica mais
importante na análise de mortalidade.

A migração também difere por idade e sexo. Tradicionalmente, os homens e as


mulheres não migram para os mesmos lugares e ambientes da mesma forma e em
igual número. A migração de longa distância tende a ser maior entre os homens
enquanto a de curta distância é predominante no caso das mulheres. No entanto, com
a maior equidade de género, a migração feminina tende a aproximar-se da masculina.
De facto, quase metade dos migrantes internacionais agora são mulheres. A migração
interna também é seletiva, com o maior número de migrantes encontrados entre os
jovens adultos.

118
Contudo, a idade e o sexo não são as únicas variáveis importantes na Demografia,
existem outras variáveis também intimamente relacionadas com o processo
demográfico. O estado civil é importante quando se estuda a fecundidade. A educação
é uma variável especialmente importante a considerar. Regra geral, quanto maior a
educação, menor é a fecundidade e menor é a mortalidade. De facto, todas estas
variáveis são tanto a causa quanto o efeito da mudança populacional.

A definição de idade é direta. É uma característica atribuída, embora mutável. Nos


censos da população, geralmente é definida em termos da idade de uma pessoa no
seu último aniversário. As Nações Unidas definem idade como “o intervalo de tempo
estimado ou calculado entre a data de nascimento e a data do censo, expresso em
anos solares completos”.

Na maioria dos Censos, pede-se ao entrevistado que forneça a sua idade atual, bem
como a data em que nasceu, permitindo assim que se corrija qualquer discrepância na
idade relatada do entrevistado. Este método ajuda a minimizar o efeito acumulado de
idade.

A estrutura por idade e sexo de uma população ajuda a compreender a história


demográfica de uma população. Pessoas da mesma idade constituem um grupo ou
“coorte” de pessoas que nasceram durante o mesmo período e, portanto, foram
expostas a fatos e condições históricas semelhantes. Experiências essas que também
variam de acordo com o sexo.

Resumindo, uma população é composta por um conjunto de pessoas, as quais não se


distribuem de forma idêntica pelas várias características. Isto significa que o número
de homens não é igual ao número de mulheres, que o número de pessoas cujo estado
civil é casado, solteiro, viúvo ou divorciado é diferente, que o número de pessoas nas
idades jovens, ativas ou idosas não é semelhante.

Em termos demográficos, existe um traço particularmente importante desse perfil, que


é a composição da população, segundo a idade e o sexo, ou a denominada estrutura
etária e sexual.

Os efetivos de uma população são o número de indivíduos que compõem essa


população e esses efetivos são identificados nos recenseamentos. Os recenseamentos
dão a conhecer o estado de uma população, num determinado momento do tempo.
Conhecer o estado da população remete para a sua caracterização, segundo diferentes
critérios, como sejam o estado civil, a atividade económica, o grau de instrução, o
lugar de residência. A delimitação de qualquer um desses critérios conduz à definição
de diferentes subpopulações da população: população casada, população ativa,

119
população analfabeta, população urbana, etc. Mas as categorias primordiais de
qualquer população são, como vimos, rigorosamente duas: a idade e o sexo.

Quanto ao sexo, este está na base da bipolarização entre população masculina e


feminina remetendo para as diferenças essenciais do ponto de vista demográfico que
derivam das clivagens estruturais não apenas biológicas – sobretudo no que se refere
à procriação – mas também sociais e culturais, sendo que aqui se deve falar antes de
diferenças de género (Bandeira, 2004).

Relativamente à importância da idade, ela decorre essencialmente de dois aspetos:

1) A ação permanente do tempo provoca mudanças das características dos indivíduos


e da população, que condicionam as suas aptidões e capacidades (efeito de idade).

2) Os comportamentos e o significado sociodemográfico de cada classe etária variam


consoante as épocas (efeito de geração) (Bandeira, 2004).

5.2.1. Pirâmide de idades

A pirâmide de idades (pirâmide etária ou populacional) é uma representação gráfica


que permite ter uma visão de conjunto da repartição da população por idades e sexos,
sintetizando o estado da população num dado momento (Bandeira, 2004). Integra dois
histogramas comuns (gráficos de barras), representando as populações masculina e
feminina, geralmente agrupados em categorias etárias de amplitude anual ou
quinquenal, posicionados lado a lado. Trata-se, assim, de um duplo histograma,
formado por uma ordenada comum (vertical) - que representa as idades (aniversários)
– e duas abcissas, que representam os efetivos, respetivamente do sexo masculino (à
esquerda) e do sexo feminino (à direita) (Bandeira, 2004). Paralelamente ao eixo das
idades podem-se ainda inscrever os anos de nascimento, permitindo assim observar as
gerações.

Os efetivos (absolutos ou relativos) de cada idade ou grupo de idades são


representados por retângulos cuja superfície (em comprimento) é proporcional ao
volume considerado e a largura é constante (Nazareth, 2004). Ou seja, no eixo das
ordenadas surgem registadas as idades com uma amplitude fixa; no eixo das abcissas,
surgem registados os efetivos observados através de uma escala cuja opção vai
determinar a escala das ordenadas. Esta interdependência de escalas deriva do facto
de se querer manter a forma piramidal ou triangular, não a deixando alongar ou
achatar em demasia. Para tal, é recomendada uma altura de 2/3 em relação à largura
total da base pirâmide (Nazareth, 2004).

120
Tal não significa que seja sempre esta forma triangular que se encontra nas diferentes
estruturas populacionais dos diferentes países do mundo. Todas as formas são
possíveis de encontrar, sobretudo quando se trabalha a uma escala muito reduzida.

Contudo, em relação à forma, existem três grandes tipos de pirâmides de idades


que são atualmente utilizados como referência:

1. Em Acento Circunflexo (ou expansiva) – característica das populações jovens;

Figura 20 - Pirâmide em acento circunflexo

Esta pirâmide tem uma base muito larga (traduzindo elevadas proporções de jovens),
que diminui rapidamente conforme se evolui para as idades mais avançadas, pelo que
apresenta um topo com efetivos reduzidos (traduzindo diminutas proporções de
pessoas idosas). Trata-se de uma pirâmide característica de países com elevados níveis
de natalidade e mortalidade. A pirâmide em acento circunflexo é típica de populações
de países em vias de desenvolvimento e de populações do Antigo Regime ou das
sociedades tradicionais.

121
2. Em Urna (ou constritiva) – característica das populações envelhecidas

Figura 21 - Pirâmide em urna

A pirâmide em Urna remete para populações com fecundidade e mortalidade baixas.


Neste tipo de pirâmide, a base destaca-se como a parte mais reduzida do gráfico
(traduzindo baixas proporções de jovens) e apresenta um topo mais cheio (traduzindo
uma crescente proporção de idosos) ilustrando uma situação de duplo envelhecimento
(envelhecimento tanto na base como no topo).Trata-se de uma pirâmide típica dos
países desenvolvidos que se encontram na última fase da transição demográfica.

122
3. Em Ás de Espadas – característica de populações com acentuado envelhecimento;

Figura 22 - Pirâmide em Ás de Espadas

Este gráfico assume a forma de um ás de espadas ou maçã, pois a parte mais larga da
pirâmide corresponde às idades intermédias. Face à diminuição da fecundidade, a
natalidade acaba por cair para valores muito baixos e a base da pirâmide surge
visivelmente mais reduzida do que o topo – a representatividade dos idosos na
população torna-se superior à dos jovens. Nestes casos, o nível de natalidade já está
muito baixo e, por isso, a base da pirâmide é alimentada com menos efetivos, o que
provoca o seu estreitamento a partir da base.

Por outro lado, a mortalidade também é baixa, o que provoca, paralelamente a uma
elevada esperança de vida, o aumento das classes correspondentes aos idosos,

123
traduzindo um acentuado envelhecimento no topo da pirâmide. Esta configuração da
estrutura populacional é típica de sociedades muito envelhecidas (por exemplo o
Japão).

Construção da pirâmide de idades (estruturas relativas e grupos de idade


quinquenais)

Apesar de atualmente se construírem as pirâmides etárias, com recurso a programas


informáticos específicos, de forma rápida e fácil, isso não invalida que existam algumas
regras básicas que deverão ser consideradas como referência.

A distribuição da população por idade e sexo é registada na altura dos recenseamentos


da população. Os efetivos da população masculina e feminina são dados, por cada ano
de idade, constituindo uma informação exaustiva de base. Como não é prático
trabalhar a informação assim apresentada, convencionou-se agrupar as idades em
classes ou grupos etários, para facilitar a leitura e a análise dos dados16.

1.º – Calcula-se a estrutura etária relativa – sexos separados.

Divide-se a população (sexos separados) de cada grupo de idades pelo total da


população (sexos reunidos) e multiplica-se cada resultado por 100 (cálculo das
proporções etárias por sexos separados):

Grupos de Homens Mulheres


Homens Mulheres
Idades (%) (%)
0–4 30 25 2,0 1,7
5–9 25 22 1,7 1,5
(…) (…) (…) (…) (…)
(…) (…) (…) (…) (…)
75 – 79 10 14 0,7 0,9
80 + 15 25 1,0 1,7

Total 1500 100 100

Fonte: Nazareth, 2004.

Para não se deformar a pirâmide de idades no topo e no caso do último grupo de


idades (aberto), os valores forem superiores aos do grupo fechado anterior, aplica-se o
princípio da proporcionalidade (Nazareth, 2004). Este consiste em repartir

16
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda os seguintes agrupamentos para fins
gerais: menos de 1 ano; ano a ano até aos 4 anos inclusive; classes quinquenais, desde os 5
aos 84 anos; 85 e mais anos.

124
proporcionalmente os efetivos até ao momento em que é significativa a sua
representação (dividem-se por exemplo esses valores por 2 até se obterem valores
dificilmente representáveis):

Grupos de Homens Mulheres


Idades (%) (%)
80 - 84 0,5 0,9
85 - 89 0,3 0,4
90+ 0,2 0,4

2.º - Conta-se o número de classes etárias que se vão considerar.

No caso em exemplo, da classe etária de 0 a 4 anos à classe etária de 90 e mais anos,


existem 19 classes etárias.

3.º - Verifica-se qual a percentagem (%) máxima obtida no âmbito das proporções
etárias (por hipótese 6%).

4.º - O eixo das abcissas (horizontal) é constituído por dois sub-eixos: à esquerda
(sexo masculino), à direita (sexo feminino) - (cada sub-eixo vai variar de 0% a 6%) - e
fixa-se uma medida a atribuir a cada variação de 1% (por exemplo 1 cm).

5.º - Traça-se a base, deixando um espaço para o corredor central (onde se poderão
colocar os grupos de idades) ou não (os grupos de idades tendem atualmente a surgir
do lado esquerdo da pirâmide).

6.º - A altura da pirâmide deve ser encontrada após a aplicação do seguinte princípio:
altura = 2/3 da base.

No caso em exemplo tem-se: a altura = 2/3 *12 cm, ou seja igual, a 8 cm.

7.º - Determina-se a escala a atribuir a cada grupo de idades dividindo-se a altura total
pelo número de grupos de idades (GI) considerados: 8 cm/19 GI = 0,4 cm.

Mesmo que se considere 0,5 cm para cada grupo de idades, a altura total da pirâmide
(9,5 cm) continuará menor que a largura da base.

8.º - Por fim, traça-se o eixo vertical e representa-se, para cada grupo de idades
(sexos separados), as percentagens ou proporções correspondentes, sendo o
comprimento de cada retângulo proporcional a essas percentagens.

Os Gráficos seguintes mostram as pirâmides de Portugal de 2011 e de 2021.

125
Figura 23 - Pirâmides de Portugal de 2011 e 2021

Fonte: https://www.populationpyramid.net/portugal/2021/

Como se pode observar através da largura da base e do topo das pirâmides, Portugal
apresenta, tanto em 2011 como em 2021, uma população visivelmente envelhecida,
aproximando-se da configuração em ás de espadas. Ambas as representações gráficas
traduzem a existência de um duplo envelhecimento (o estreitar base e a dilatação do
topo), que já era visível em 2011 e que se acentua claramente na passagem para
2021.

Com efeito, a diminuição das taxas de natalidade é evidente no afunilamento de ambas


as pirâmides, em 2011 e em 2021, nas classes dos 0 aos 15 anos, efeito que já é
extensível às classes etárias intermédias seguintes.

Todavia, na contemporaneidade, a população portuguesa tem evoluído de forma


tendencial e gradual sem grandes sobressaltos ou discrepâncias estruturais como as
que se traduzem na emergência de evidentes classes ocas17 (existência de grupos
etários cujo número de efetivos é inferior ao dos grupos anterior e posterior).

Os ganhos em esperança de vida são visíveis nos acréscimos de população no topo


traduzindo a condição de uma sociedade desenvolvida que detém meios para a adiar a
morte para idades cada vez mais avançadas.

A existência de classes ocas numa pirâmide etária de uma população remete tendencialmente
17

para a ocorrência de um elevado número de mortes, de uma queda abrupta na fecundidade e


de vagas emigratórias.

126
5.2.2. Relações de masculinidade

Deve-se sempre complementar a observação de uma pirâmide de idades com o cálculo


das relações de masculinidade por grupos de idade.

De facto, as pirâmides de idades não são simétricas. Em primeiro lugar, nascem mais
rapazes que raparigas o que faz com que a base de uma pirâmide seja sempre maior
do lado masculino do que do lado feminino.

Em segundo lugar, a mortalidade, fator decisivo na redução dos efetivos, é sempre


mais precoce no sexo masculino (uma precocidade fortemente tributária de uma maior
tendência para comportamentos de risco por parte dos homens desde as idades mais
jovens). Assim, conforme avançamos na idade, a superioridade dos efetivos masculinos
vai diminuindo, geralmente entre os 20-30 anos de idade a importância dos sexos é
igual, e nos últimos grupos de idades o sexo feminino apresenta sempre maior volume
populacional do que o sexo masculino.

“ ste modelo natural, que é formado apenas pela evolução e pelos níveis de
mortalidade e de natalidade, pode, no entanto, ser perturbado por outros fatores, tais
como: as migrações, por serem movimentos que normalmente incidem mais em
determinados grupos etários” (Nazareth, 2004, p. 113). E de forma diferenciada
segundo o sexo.

Em cada população ou em cada classe etária, torna-se, por estes motivos, necessário
analisar a representação quantitativa dos efetivos masculinos e dos efetivos femininos.
Esta representação é medida relacionando os efetivos masculinos com os efetivos
femininos e designa-se, como já anteriormente foi referido18, por relação de
masculinidade.

A relação de masculinidade exprime-se pelo seguinte quociente:

A relação de masculinidade também pode ser medida nas diferentes classes etárias.
Por exemplo dos 20-24 anos:

Ver capítulo 3.
18

127
Anteriormente19, foi referida a relação de masculinidade dos nascimentos que permite
a comparação entre efetivos masculinos e femininos no momento do nascimento.
Neste caso, a relação de masculinidade é medida a partir de dados do movimento da
população, os nascimentos: .

Como é conhecido, em qualquer população, a relação de masculinidade no nascimento


varia entre 105 e 107 nascimentos masculinos para 100 nascimentos femininos. Esta
assimetria altera-se, contudo, com o efeito da idade.

Exemplo: relação de masculinidade da população, da classe etária dos 10-15 anos e


relação de masculinidade dos nascimentos, ano de 1991, Portugal.

Segundo o recenseamento de 1991, residiam em Portugal 9 862 540 pessoas, das


quais 4 754 632 do sexo masculino e 5 107 908 do sexo feminino. Na classe etária dos
10 aos 15 anos tínhamos 398 442 rapazes e 383 142 raparigas. Nesse ano nasceram
116 383 crianças, dos quais 59 953 eram do sexo masculino e 56 430, do sexo
feminino.

Significa que no conjunto da população portuguesa, em 1991, por cada 100 indivíduos
do sexo feminino havia 93,08 do sexo masculino e que por cada 100 raparigas, dos 10
aos 15 anos, havia 104 rapazes. E nesse ano, observou-se ainda 106,24 nascimentos
masculinos por cada 100 nascimentos femininos.

Fonte: Bandeira, 2004.

5.2.3. Grupos Funcionais

Em análise demográfica, quando se quer ter uma visão rápida da evolução ou da


diversidade das estruturas, opta-se por compactar a informação segundo determinados
critérios. O mais importante é o da idade, ou seja, concentra-se num reduzido número
de grupos a totalidade da informação, tornando mais funcional a análise: são os
denominados grupos funcionais. Estes expressam essencialmente o peso relativo

19
Ver capítulo 3.

128
dos três grandes grupos sociodemográficos (jovens, ativos e idosos) presentes em
qualquer população por referência à idade20, como se observou anteriormente. A
população total surge assim dividida em três grandes grupos de idades:

Quadro 6 – Grupos funcionais mais utilizados

Grupos Idades Idades


Jovens 0-19 anos 0-14 anos
Ativos 20-59 anos 15-64 anos
Idosos 60 e + anos 65 e + anos
Fonte: Nazareth, 2004.

Geralmente, parte-se do princípio de que, no grupo de menos de 15 anos, existe um


escasso potencial produtivo e grande consumo de bens. No grupo dos 15 aos 64 anos,
existe um elevado potencial ativo e geralmente a produção excede o consumo. No
grupo dos 65 e mais anos, existe uma produtividade reduzida com um menor índice de
consumo, comparado com o grupo de população com menos de 15 anos (Nazareth,
2004). Aliás a importância relativa dos grupos dos 65 e mais anos e dos de menos de
15 anos mede o grau de envelhecimento de uma população.

Em termos analíticos, é mais vulgar trabalhar os grupos funcionais com os sexos


reunidos do que com eles separados e também, por vezes, subdivide-se um ou outro
grupo funcional no sentido de aprofundar a análise em causa.

Uma vez decomposta a população por grupos funcionais, torna-se necessário proceder
à sua manipulação no sentido de os transformar em indicadores que resumam a
informação existente numa repartição por sexos e idades, dando lugar à construção
dos denominados índices-resumo (Nazareth, 2004). Nesta construção é
aconselhável, segundo Nazareth (2004), utilizar como critério de repartição etária o
que integra os grupos dos 0-14, 15-64 e 65 e +, dado que é o mais recorrente, no
âmbito dos grandes sistemas de informação demográfica a nível internacional.

5.2.4. Índices-resumo

20
Todavia, as definições destes grupos variam e não são consensuais. As Nações Unidas
definem as crianças como pessoas até aos 14 anos completos, os jovens como pessoas dos 15
aos 24 anos e os idosos como pessoas maiores de 60 anos (em países em desenvolvimento) ou
de 65 anos (em países menos desenvolvidos). Entretanto, já existem propostas para elevar a
idade oficial que marca a entrada na idade “idosa” para os 75 anos. Quanto ao grupo de
pessoas em idade ativa é comumente definido como dos 15 aos 64 anos, mas alguns autores
usam 20 anos como limite inferior (Grupo Foz, 2021).

129
Na análise da estrutura etária das populações também se aplicam os conceitos de
proporção e de relação, dando lugar ao cálculo de proporções e de relações etárias
conhecidas como índices-resumo. Estes não só permitem observar a evolução das
alterações que vão ocorrendo ao longo dos anos, mas também para avaliar certas
implicações socioeconómicas.

Através de uma proporção etária pode-se medir o peso de um determino grupo etário
no conjunto da população de referência, num determinado momento do tempo
(Bandeira, 2004): .

No âmbito da análise da estrutura etária de uma população, os exemplos mais


recorrentes são (Nazareth, 2004):

• Proporção de jovens

Este indicador mede a importância da juventude na população, medindo de igual modo


o envelhecimento demográfico na base da pirâmide de idades.

• Proporção de potencialmente ativos

Este indicador mede o potencial demográfico dos ativos (população que se situa entre
o fim da escolaridade obrigatória e o início da “reforma”).

• Proporção de idosos

Este indicador mede a importância dos idosos na sociedade, medindo igualmente o


envelhecimento demográfico no topo da pirâmide de idades.

O conjunto destes indicadores permite fazer a seguinte leitura: por cada 100 pessoas
temos um determinado número de jovens, de potencialmente ativos e de idosos.

Relativamente às relações, as mais utilizadas são (Nazareth, 2004):

• Índice de Juventude

Este indicador mede também o envelhecimento demográfico e permite comparar


diretamente a população jovem com a população idosa.

• Índice de Envelhecimento

130
Este indicador tem a lógica inversa do anterior, mede também o envelhecimento, mas
através da relação da população idosa com a população jovem.

• Índice de Longevidade

Este indicador de envelhecimento é cada vez mais recorrente, permitindo perceber o


peso dos idosos mais velhos no grupo dos idosos mais jovens.

O conjunto destes indicadores permite fazer as seguintes leituras: por cada 100 idosos
existe um determinado número de jovens (índice de juventude), por cada 100 jovens
existe um determinado número de idosos (índice de envelhecimento) e por cada 100
idosos mais jovens existe um determinado número de idosos mais velhos.

As designadas relações de dependência traduzem o encargo que os grupos inativos


representam para os grupos ativos (Bandeira, 2004), sendo as mais referenciadas:

• Relação de Dependência dos Jovens

Este indicador compara o peso da população jovem com o peso da população


potencialmente ativa. Por cada 100 potencialmente ativos existe um determinado
número de jovens.

• Relação de Dependência dos Idosos

Este indicador compara o peso da população idosa com o peso da população


potencialmente ativa. Por cada 100 potencialmente ativos existe um determinado
número de idosos.

• Relação de Dependência Total

Este indicador compara o peso do conjunto dos potencialmente inativos (jovens e


idosos) com o peso dos potencialmente ativos. Por cada 100 potencialmente ativos
existe um determinado número de potencialmente inativos.

5.2.5. Envelhecimento da População

Em demografia existem dois tipos de envelhecimento, o envelhecimento de base,


quando o número de jovens começa a diminuir, e o envelhecimento de topo quando o

131
peso das pessoas de idade mais avançada aumenta. Este último é sobretudo tributário
da melhoria das condições gerais de saúde que se traduz no aumento da esperança de
vida e, por aí, do alongamento da vida humana, determinando acréscimos de
população em idades cada vez mais avançadas.

“Na história das populações europeias, o envelhecimento demográfico é um facto


inteiramente novo que significa que, numa dada população, a proporção de idosos
deixa de ser estável (à volta de 5 a 6%) e começa a aumentar progressivamente,
ultrapassando, num dado momento, a fasquia dos 10%.” (Bandeira, 2004, p. 183).

Pensou-se durante muito tempo que o envelhecimento demográfico teve a sua origem
na baixa da natalidade e da mortalidade. Atualmente, pensa-se ainda que o aumento
da esperança de vida e a baixa da mortalidade determinaram o envelhecimento
demográfico. Não obstante, verificou-se que, nas populações onde esse fenómeno
predomina, foi provocado essencialmente pela quebra da natalidade e não pela baixa
da mortalidade. Constata-se, assim, que o envelhecimento ocorre nas populações onde
tendencialmente a natalidade se mantêm baixa (Bandeira, 2004). Uma população ou
cresce ou envelhece.

Com efeito, as causas do envelhecimento demográfico remetem sobretudo para a


queda da fecundidade ou para o impacto dos movimentos migratórios, que podem
atuar como travão ou aceleração do processo global de envelhecimento demográfico.
Nesta última situação, pode incluir-se o caso da população portuguesa cuja evolução
das estruturas demográficas remete para os efeitos das migrações (externas e
internas) (Bandeira Coord., 2014).

O fenómeno do envelhecimento demográfico está a estender-se para lá das sociedades


da Europa ocidental. De facto, a população mundial está a envelhecer e todos os
países do mundo estão a assistir a um crescimento no número e na proporção de
pessoas idosas da sua população. Estima-se que o número de idosos, com 60 anos ou
mais, duplique até 2050 e, mais do que triplique, até 2100.

Em 2050, pela primeira vez na história da humanidade, haverá mais idosos do que
crianças no mundo. Isso deve-se principalmente às reduções de fecundidade, mas
também reflete o fato de que a expectativa de vida aumentou.

Em todo o mundo, a população com idades acima dos 60 anos está a crescer (a uma
taxa de cerca de 3% por ano) de forma mais acelerada do que todos os grupos etários
mais jovens. Em 2017, estimava-se que, em todo o mundo, 962 milhões de pessoas
tinham 60 anos ou mais – representando 13% da população global. Atualmente, a
Europa tem a maior percentagem da população com 60 anos ou mais (25%). O

132
envelhecimento rápido também ocorrerá noutras partes do mundo e até 2050 todas as
regiões do mundo, exceto África, terão quase um quarto ou mais das respetivas
populações com idades acima dos 60 anos.

Globalmente, o número de pessoas com 80 anos ou mais deverá triplicar até 2050
passando de 137 milhões, em 2017, para 425 milhões em 2050. As pessoas mais
velhas tendem a ser, atualmente, consideradas como contribuintes para o
desenvolvimento, cujas competências devem estar interligadas com políticas e
programas transversais. No entanto, nas próximas décadas, muitos países irão
enfrentar pressões fiscais e políticas na esfera dos sistemas públicos de saúde e
proteção social para a população com a faixa etária mais avançada (Organização das
Nações Unidas, 2021).

O envelhecimento populacional está prestes a tornar-se numa das transformações


sociais mais significativas do século XXI, com implicações transversais a todos os
setores da sociedade – no mercado laboral e financeiro; na procura de bens e serviços
como a habitação, nos transportes e na proteção social; e nas estruturas familiares e
laços intergeracionais.

Viver vidas mais longas é talvez o maior de sucesso da história moderna da


humanidade, graças às inovações na saúde pública, medicina e desenvolvimento
económico. Ao mesmo tempo, o envelhecimento da população pode trazer sérios
desafios para a sociedade. A dependência da velhice pode levar a uma produtividade
económica reduzida e sobrecarregar os sistemas de saúde e previdência. Mas se esses
desafios forem antecipados, podem ser compensados com as políticas sociais e
económicas. Não esquecendo que, a transição do envelhecimento precoce de uma
população dependente de jovens, para uma população em idade ativa, traz grandes
oportunidades, fenómeno conhecido como “dividendo demográfico” (Poston &
Bouvier, 2017).

No contexto português vários são os autores e autoras que aprofundaram o tema do


envelhecimento demográfico, nas duas últimas décadas. No estudo coordenado por
Bandeira (2014), é referido que o envelhecimento da população portuguesa começou
na década de 1960 – época em que a natalidade se mantinha ainda relativamente
elevada – sob o efeito de dois tipos de emigração: movimentos externos para países
europeus e movimentos internos para o litoral urbano.

A emigração portuguesa, das décadas de 1960 e de 1970, foi a principal causa do


início do processo de envelhecimento da população, não apenas porque provocou um
forte défice de população adulta ativa, mas também por que influenciou decisivamente

133
o início da revolução contracetiva e da queda da natalidade, que serão os fatores
decisivos da progressão do envelhecimento. No recenseamento de 2011, foi no grupo
dos idosos, dos maiores de 65 anos, que o acréscimo populacional foi mais intenso,
rondando os 241 %. Quanto aos mais idosos, indivíduos com idade superior aos 75
anos, o aumento foi de quase 40 %. Assim, de 1950 para 2011, a proporção de jovens
na população portuguesa diminui progressivamente dos quase 30 % para os 15 %
(Bandeira, Coord., 2014). Houve um duplo processo de envelhecimento, que resultou
num aumento significativo do índice de envelhecimento, que passa dos cerca de 24
idosos por cada 100 jovens, em 1950, para 128 em 2011. Progressivamente, o índice
de longevidade foi também apresentando ligeiros acréscimos, espelhando o aumento
das gerações mais idosas, isto é, o aumento crescente da população com mais de 75
anos relativamente aos maiores de 65 anos (Bandeira Coord., 2014).

Ana Alexandre Fernandes foi das autoras que mais se debruçou sobre esta temática do
envelhecimento demográfico. Analisou os problemas decorrentes do envelhecimento e
das soluções encartadas para lhe fazer face, as transformações respeitantes à velhice
integradas nas alterações observadas na sociedade portuguesa, especialmente, as
alterações na estrutura familiar bem como as transformações da política social do
Estado dirigida aos problemas da velhice. Segundo Fernandes (2001), o
envelhecimento demográfico das populações é um fenómeno irreversível das nossas
sociedades modernas. Os impactos que se têm vindo a fazer sentir, entre os quais
sobressai a sustentabilidade financeira dos sistemas de reformas, interferem nos
equilíbrios individuais e coletivos, relativos às idades da vida e ao ciclo de vida ternário.
« Velhos » e reformados » são agora duas categorias sociais, dois conceitos que
tendem a demarcar-se. A velhice surge então associada às dificuldades decorrentes da
aquisição gradual de incapacidades. A família, as solidariedades intergeracionais e as
políticas sociais debatem-se com este desafio, procurando encontrar as melhores
soluções e as respostas mais adequadas à diversidade dos problemas (Fernandes,
2001; 2007).

Maria João Valente Rosa publicou inúmeros estudos na área do envelhecimento. No


ensaio sobre o envelhecimento da Sociedade Portuguesa (Valente Rosa, 2012) começa
por falar das razões que conduziram à situação demográfica em que nos encontramos.
Argumenta que a aflição com o envelhecimento da população é muito explicada por
um outro envelhecimento mais profundo: a incapacidade de a sociedade adaptar as
suas estruturas sociais e mentais à evolução dos factos. Propõe um rumo alternativo
de organização social sintonizado com as realidades sociodemográficas em curso.
Todos envelhecemos, por isso o envelhecimento individual (de cada um de nós) faz

134
parte do nosso quotidiano. Porém, começámos recentemente a ser confrontados com
um outro envelhecimento, de tipo coletivo: o envelhecimento da população em geral. A
população envelhece porque a Humanidade cresceu em conhecimento técnico-
científico e as condições de vida das populações melhoraram. Mas, apesar de o
envelhecimento populacional poder ser percebido como uma história de sucesso, é
frequentemente entendido como uma verdadeira ameaça ao futuro da sociedade em
que vivemos (Valente Rosa, 2012). Pode-se, contudo, falar em longevidade em vez de
envelhecimento.

Em suma, associado ao problema do declínio da fecundidade e, em menor medida, à


redução da mortalidade e consequente aumento da esperança de vida, há o desafio do
envelhecimento populacional. Tem havido propostas no sentido de combater o
envelhecimento da população pelo aumento da imigração. No entanto, o número de
imigrantes que seria necessário para afetar significativamente o grau de
envelhecimento das sociedades, na maioria dos casos, ultrapassaria o número que
realisticamente poderia ser absorvido (Grupo de Foz, 2021).

Conforme citado no livro coordenado pelo Grupo de Foz (2021), Valente Rosa (2001)
fez os cálculos para Portugal e concluiu que, para evitar o envelhecimento da
população, o número anual de imigrantes, entre 1995 e 2020, teria de ser 9 a 15 vezes
maior do que o observado nos melhores anos da década de 1990. Além dos grandes
volumes que seriam necessários, as projeções demográficas sugerem que, a menos
que a entrada de migrantes se torne um processo permanente, só pode adiar o
envelhecimento, mas não o impedir a longo prazo pois os migrantes também acabam
por envelhecer (Oliveira e Peixoto, 2012, conforme citado em Grupo de Foz, 2021).

135
ATIVIDADE FORMATIVA

1. Com base nos dados apresentados no quadro seguinte:

População residente à data dos Censos [2021], Sexo, Grupo etário

Grupo etário HM H M
0 - 4 anos 407594 208689 198905
5 - 9 anos 432694 221992 210702
10 - 14 anos 490900 251563 239337
15 - 19 anos 528190 270711 257479
20 - 24 anos 559897 285462 274435
25 - 29 anos 541861 273438 268423
30 - 34 anos 561085 278300 282785
35 - 39 anos 645232 313475 331757
40 - 44 anos 757622 364509 393113
45 - 49 anos 797793 382137 415656
50 - 54 anos 748929 356341 392588
55 - 59 anos 743288 348875 394413
60 - 64 anos 704342 327940 376402
65 - 69 anos 654094 302342 351752
70 - 74 anos 589932 267952 321980
75 - 79 anos 466636 202153 264483
80 - 84 anos 359991 146239 213752
85 - 89 anos 230690 83375 147315
90 ou m ais anos 122296 34727 87569
Total 10343066 4920220 5422846
Fonte: INE, Recenseamento da população - Censos 2021

a) Analise o peso relativo das estruturas populacionais de Portugal, em 2021, definidas


em função da idade e do sexo através do cálculo das proporções dos três grandes
grupos etários (sexos reunidos) e das relações de masculinidade;

b) Calcule o índice de envelhecimento, a relação de dependência dos jovens, a


relação de dependência dos idosos e a relação de dependência total. Interprete cada
um dos resultados obtidos;

c) Suponha que tinha que construir a pirâmide de idades de Portugal, ano de 2021.
Descreva como procederia, tendo por referência as regras fundamentais a ter em
conta na construção de uma pirâmide etária.

136
2. Observe o seguinte quadro:

Índices-resumo, Portugal, 2011/2021

ÍNDICES 2011 2021

Proporção de Jovens (%) 14,89 12,87

Proporção de população potencialmente Ativa (%)

Proporção de Idosos (%) 19,03 23,43

Índice de Envelhecimento- IE (%) 127,8 182,07

Relação de Dependência dos Jovens – RDJ (%) 22,5 20,2

Relação de Dependência dos Idosos – RDI (%) 28,8 36,79

Relação de Dependência Total – RDT (%) 51,3 56,99

Fonte: INE, Censos da população,2011,2021.

a) Complete o quadro com as proporções da população potencialmente ativa para


ambos os anos em análise. Justifique os valores encontrados.

b) Comente a evolução dos índices apresentados de 2011 para 2021.

137

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