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REPÚBLICA DE ANGOLA

UNIVERSIDADE KATYAVALA BWYLA


INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCACÃO DE BENGUELA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA
REPARTIÇÃO DE GEOGRAFIA

APONTAMENTOS DE DEMOGRAFIA (TEMAS I e II)

OPÇÃO FORMATIVA: Ensino da Geografia.


ANO ACADÉMICO: 3º
ANO LECTIVO: 2022/23
DOCENTE: Amável Fradique Menezes Chihonho, MSc.

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TEMA I - A DEMOGRAFIA COMO CIÊNCIA DA POPULAÇÃO

1.1 Breve resenha histórica da Demografia

É ao cientista francês Achille Guillard (1799-1876) que se deve a invenção do


termo Demografia, que utilizou no seu livro Elementos de Estatística Humana
ou Demografia Comparada, publicado em 1855. Mas a história da demografia
começa muito antes, mais precisamente em 25 de Janeiro de 1662, data em
que o comerciante e estatístico inglês John Graunt, (1620-1674) publicou a
sua obra Observações Naturais e Políticas da Mortalidade.
Trabalhando, a partir dos boletins de registo de óbitos que as paróquias de
Londres publicavam semanalmente desde o século XVI, ele procurou conhecer
as leis que presidem ao estado e à evolução de uma população e apresentou
neste livro a primeira Tábua da Mortalidade.
Até à publicação das Observações de Graunt, a população era objecto de
meras reflexões especulativas. Com Graunt, no domínio dos estudos dos
fenómenos demográficos “a era das suputações extravagantes chega ao fim e
começa a da abordagem numérica dos factos da vida humana (nascimento,
doença, morte …)
Para Graunt, estes factos, não são entidades submetidas a “ uma vontade
sobrenatural insondável”. Existem “ regularidades” , uma “ ordem” na maneira
como eles se produzem, que é possível medir e analisar a partir de dados de
observação.
O famoso cientista Inglês e autodidacta John Graunt, foi o primeiro a fazer o
tratamento estatístico de dados demográficos e a tentar aplicar a teoria a
problemas reais. Estudou a mortalidade da cidade de Londres e as incidências
das causas naturais, sociais e políticas nesse fenómeno. Através das Tábuas
de Mortalidade realizadas na altura da peste na cidade de Londres, Graunt fez
uma análise exaustiva do número de pessoas que morriam de várias doenças
e estimou o número de nascimentos de homens e mulheres.
Foi o primeiro estatístico a fazer observações entre sexos e mostrou que
nasciam mais homens que mulheres e que por cada 100 pessoas nascidas, 36
morriam aos 6 anos e 7 sobreviviam até aos 70 anos.

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Por vezes referida como disciplina auxiliar, porventura de alguma utilidade, até
à segunda metade do século XX, a Demografia foi praticamente ignorada. A
diminuta importância atribuída à Demografia, poderá explicar o facto de
repetidamente se manifestar a tendência de - sobretudo em sociólogos,
economistas e geógrafos – para anexar as questões de população. Dos
trabalhos produzidos na segunda metade século XX, só Jean Piaget considera
a Demografia em plano de igualdade com outras ciências do homem.
Os próprios demógrafos assumiram durante muito tempo este estatuto menor.
O próprio Landry (2) chegou a escrever que “ a Demografia é apenas um ramo
da Sociologia”
Nos sistemas universitários, decisivos para o reconhecimento, a divulgação e a
aprendizagem dos saberes, a Demografia foi sendo sistematicamente excluída
ou, na melhor das hipóteses, remetida para um plano secundário.
Devido aos enormes progressos e extraordinários contributos da Demografia
nos últimos cinquenta anos do século XX e também à acuidade de muitos dos
novos problemas demográficos com que se defronta o mundo actual, foi-se
manifestando o reconhecimento do estatuto científico pleno a que tem direito a
Demografia.
O reconhecimento oficial do termo e da Demografia enquanto ciência
aconteceu após o Congresso Internacional de Higiene e Demografia, realizado
em 1882 em Genebra, no seguimento do Livro de Achille Guillard o qual tratava
precisamente de questões sobre Demografia como ciência e sobre estrutura e
tipologia da população.
.

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1.2 As diferentes definições de Demografia.

A Demografia é uma ciência social de raiz biológica pois que os dois grandes
fenómenos demográficos – a natalidade e a mortalidade - são antes de mais
manifestações de fenómenos biológicos. É no estudo destes fenómenos que
sendo biológicos na sua origem, sofrem profundas modificações quando
inseridos no ambiente cultural, social e económico, que assenta uma das
maiores originalidades da Demografia.
São várias as definições propostas para a Demografia. As referidas
definições, vão desde as que se apresentam em linhas gerais, às que
concebem esta ciência como um estudo estatístico dos fenómenos
populacionais e as de enfoque integral (estudo quantitativo e qualitativo) dos
fenómenos populacionais.
Entre as diferentes definições, citam-se as seguintes:
a) «A Demografia é a ciência que tem por objecto o estudo das populações
humanas».
b) «A demografia é a ciência que tem por objecto o estudo do volume,
estrutura e evolução das populações humanas desde um ponto de vista
principalmente quantitativo».
c) «A Demografia limita-se na descrição estatística das populações
humanas, no que diz respeito à:
- Ao seu estado (cifra da população, distribuição por sexo, idade, estado
civil estatísticas da família, etc.), numa data determinada e
- Aos eventos/factos demográficos (nascimentos, mortes, celebração ou
dissolução de uniões) que se produzem nestas populações».

d) «A Demografia, é o estudo do tamanho, distribuição geográfica e


composição da população, suas variações e as causas das referidas
variações que se podem identificar como fecundidade, mortalidade e
movimentos territoriais – migrações.»

Obs: Dado o seu enfoque integral, deve-se optar pelas definições assinaladas
com as alíneas b) e d).

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1.3 Unidade e diversidade da Demografia.
Atendendo à natureza do seu objecto, certos aspectos da Demografia
passaram a ter denominações específicas. Tal facto, resultou do
desenvolvimento moderno da Demografia caracterizado por uma maior
especialização dos cientistas. Gradualmente a Demografia foi-se
transformando num sistema de ciências. Segundo (Nazareth, 2009), a
Demografia apresenta os seguintes ramos:

1- Demografia Formal, ou Análise Demográfica, é a que se apresenta num


primeiro plano onde se analisam apenas as variáveis demográficas
dependentes (volume, estrutura e distribuição espacial) e as variáveis
demográficas independentes (natalidade, mortalidade e migrações).
Atendendo, porém, à crescente complexidade dos métodos e das técnicas
empregues pela Análise Demográfica, várias disciplinas foram ganhando
autonomia dentro deste ramo, nomeadamente:
 Colheita dos Dados Demográficos.
 Projecções Demográficas.
 Análise das Migrações.
 Análise da Fecundidade.
 Análise da Mortalidade.
 Análise da Nupcialidade.

2- Estudos de População ou Demografia Social.


Quando se consideram as relações entre as variáveis demográficas e outras
variáveis económicas, sociais, culturais biológicas e ambientais num
determinado momento do tempo, surgem os estudos da população ou
demografia social.

Também, o seu desenvolvimento começou a fazer aparecer disciplinas como a


Sociologia dos Comportamentos Demográficos, a Economia da População, a
Antropologia da população, a psicologia da população, e a Ecologia Humana
as quais ganharam uma certa autonomia.

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3- Demografia Histórica – trata-se de outro ramo que depressa ganhou
autonomia, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. Tem como objectivo
fundamental aplicar os métodos e técnicas da Análise Demográfica ao estudo
das populações do passado.

4- Políticas Demográficas, que procuram orientar a evolução dos


comportamentos demográficos.

Nota: A Análise Demográfica constitui o núcleo básico de todos os outros


ramos da Demografia, ocupando uma posição transversal.

1.4 Importância da Demografia

A importância e o significado do problema da população mundial nos dias de


hoje são reconhecidos por todos os estados; Eis alguns exemplos concretos
que traduzem a importância da Demografia:

 Nos últimos tempos os processos demográficos têm uma influência cada


vez maior nas relações e políticas internacionais.

 Perceber o perigo do rápido crescimento populacional, especialmente


nos países em desenvolvimento, com uma economia atrasada e com
serviços sociais insuficientes…

 Os grandes temas globais tais como a superação do atraso dos países


em desenvolvimento, o problema da alimentação, da energia e a
poluição ambiental etc. não podem ser debatidos sem a contribuição do
conhecimento demográfico.

 A relação entre o crescimento populacional e a natureza que é mais


frágil do que se pensava.

 Caracterizar e perspectivar o ordenamento espacial da população.

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 A alteração das estruturas familiares.

 As consequências do envelhecimento demográfico na segurança social.

 As necessidades em infra-estruturas sociais e a sua localização.

 As causas e as consequências dos novos fluxos imigratórios (os quais


são o reflexo de um mundo em que se acentuam as desigualdades entre
os países ricos e os países pobres) são alguns dos inúmeros aspectos
em que se pede à Demografia uma resposta ou, no mínimo, uma ajuda.

 O planeamento dos recursos humanos (em que as projecções


demográficas são a base fundamental), da planificação (a escala
nacional, regional e local).

 As necessidades em infra-estruturas sociais.

 A questão ambiental (impossível de compreender sem o conhecimento


da dinâmica das populações).

 A saúde pública, na qual uma rigorosa medição da mortalidade é


essencial.

 A prospectiva, (em que a componente demográfica é um elemento


fundamental na construção de cenários).

Considerando as proximidades criadas pelo fenómeno globalização, os


factores demográficos, revelam-se cada vez mais determinantes das
transformações das sociedades. Assim, num contexto mundial, pleno de
interrogações e incertezas, cabe à Demografia uma parte importante no
esforço de se compreender e moldar o futuro.

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1.5 Relação da Demografia com outras ciências

Não é possível traçar com precisão as fronteiras existentes entre as diversas


ciências sociais, porque todas têm o homem como objecto de estudo, estando
necessariamente interligadas. A explicação dos fenómenos sociais, requer a
contribuição de todas as ciências sociais pois que nenhuma ciência pode faze-
lo por si só.

O conhecimento demográfico, é de grande importância para sociólogos e


economistas etc. Por outro lado, a sociologia e a economia, bem como as
demais ciências sociais são imprescindíveis para a compreensão de
fenómenos demográficos pelo facto de a natureza da dinâmica populacional
ser basicamente social.

Para o economista, a informação sobre a estrutura e dinâmica da população, é


fundamental pois a população é a que procura os bens que se produzem no
sistema económico e esta demanda é altamente diferenciada entre outras
coisas, pelo sexo, idades e localização geográfica. Na mesma linha são as
pessoas economicamente activas as produtoras dos bens que se intercambiam
no mercado, pelo que é de relevância quantificar a magnitude desta população
e projectar a sua evolução futura.

Em contrapartida, o demógrafo está muito interessado no impacto que certas


variáveis económicas e socioculturais têm no comportamento da natalidade,
mortalidade e migrações que são os três componentes da dinâmica
demográfica.

O economista pode constatar que o rendimento das famílias influi nas decisões
de ter filhos, enquanto o sociólogo pode concluir que as mensagens que se
transmitem nos meios de comunicação influem sobre as decisões de as
pessoas migrarem. O antropólogo, está em condições de investigar as
repercussões que os padrões culturais predominantes têm em relação ao
número de filhos que as mulheres desejam ter.

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Em conclusão trata-se de uma relação de reciprocidade e complementaridade,
já que a Demografia é de grande utilidade para qualquer cientista social e por
sua vez o demógrafo necessita dos conhecimentos das restantes ciências
sociais.
Além da relação que a demografia tem com outras ciências sociais, também se
relaciona, com a estatística, a biologia, a medicina e a geografia.

1.6 As Fontes de Informação da Demografia.

1.6.1 O Censo ou Recenseamento da População

História dos Censos

Devido à multiplicidade de critérios envolvidos na definição de um Censo, não é


fácil afirmar com certeza quando se realizou o primeiro. Certamente, muito
antes da era cristã, os impérios do Egipto, da Babilonia, China , Palestina e
Roma, já faziam contagens periódicas das suas populações, para estabelecer
as bases fiscais, de trabalhadores ou de soldados. Confúcio, menciona um
censo na China durante o reinado do rei Yao, 2238 a. C. Entretanto apenas aos
indivíduos relevantes destes pontos de vista, eram enumerados: proprietários,
chefes de família ou homens sujeitos ao alistamento militar.. O censo romano
por exemplo, era realizado de cinco em cinco anos, durante quase 8 seculos e
limitava-se a enumeração de cidadãos para fins fiscais e militares.
A maioria dos estudiosos, aponta o Censo Sueco de 1749, como o primeiro
que satisfaz quase todos os critérios essenciais para um recenseamento
moderno. Outros censos daquela época, foram os da Noruega, em 1760, e da
Dinamarca em 1769, Os EUA, foram os primeiros a estabelecer uma rotina
legal para a organização decenal dos censos da população. Tal rotina,
baseava-se na própria constituição, segundo a qual, o levantamento periódico
da população nacional era necessário para reclassificar as unidades de
representação política para as eleições estaduais e de Câmara Federal. O
primeiro Censo da república, foi realizado em 1790. Inglaterra e França
seguiram em 1801.

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Em Angola, tal como nas demais ex-colónias portuguesas, foram realizados
Censos em 1940, 1950, 1960 e 1970 além de Censos parciais realizados antes
de 1940. O principal mérito destes Censos é o de constituir a série ininterrupta
mais longa de censos em África, apesar de serem precários.

Definição de Censo

Tal como está definido pelas Nações Unidas, o censo da população, é um


conjunto de operações que consistem em reunir, analisar, e publicar, dados
demográficos, económicos e sociais, correspondentes a todos os habitantes de
um país ou território, num dado momento.

O Censo, constitui uma actividade estatística de grande importância para


qualquer país, já que é a fonte primária de dados básicos necessários para o
adequado desenvolvimento da gestão socioeconómica. O Censo da população
é fonte mais importante de informação da Demografia, pelas seguintes razões:

- É a base fundamental para a análise demográfica.


- Em muitas ocasiões é a única fonte de informação sobre alguns aspectos
fundamentais da população.
- Serve de referência para as estatísticas contínuas.
- Serve de marco para a determinação das amostras.
- Permite analisar os câmbios na estrutura da população.

Finalidades do Censo

No seu sentido moderno, o Censo tem duas finalidades principais: Em primeiro


lugar, serve como uma fotografia instantânea de uma Comunidade válida para
um dado momento espelhando assim o aspecto estático do Censo.
Em segundo lugar, cada Censo pode considerar-se como um elemento numa
série consecutiva espelhando o aspecto dinâmico comparável a uma película
cinematográfica da população. Apenas mediante uma série consecutiva de
Censos da população, é possível apreciar a magnitude e direcção das diversas
tendências demográficas.

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Características dos censos

As Nações Unidas, especificam que um levantamento da população deve


satisfazer no mínimo os seguintes critérios para ser considerado Censo no
sentido pleno da palavra:

1. Direcção Oficial - Com a especificação dos fins, do orçamento, da


administração, da obrigatoriedade de fornecimento da informação pela
população, inclusive das penalidades de não cumprimento desta
obrigação, das garantias legais quanto ao sigilo da informação, e das
demais obrigações da entidade executora. Da mesma forma também
deve ser legalizada a utilização de certos funcionários e inclusive de não
funcionários na colheita da informação, além dos funcionários
censitários.

2. Periodicidade definida - A Divisão para a População das Nações Unidas,


estabelece uma periodicidade decenal.

3. Simultaneidade de todo o levantamento - Estabelece que a divulgação


dos dados recolhidos deve referir-se à uma só data ou à um período
bem definido. Normalmente o ponto de referência é a meia-noite de uma
data para outra. Embora a contagem em si possa demorar várias
semanas ou até meses, toda a enumeração deve referir-se à situação
existente no momento.

4. Uma referência territorial pré-fixada - Normalmente, esta referência


abrange todo o território nacional. Um levantamento cartográfico prévio é
uma condição indispensável para que este critério possa ser
efectivamente implementado ( Roger, 1983; Blakemore & Dewdney,
1989). Nas palavras de um demógrafo francês ( Clarin, 1981), “ Sem
uma cartografia adequada a colheita, de dados demográficos faz-se no
nevoeiro”

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5. Universalidade da enumeração dentro deste território - Estabelece que
todos os indivíduos devem ser recenseados, sem omissões nem
repetições.

6. Disponibilidade dos resultados dentro dos prazos compatíveis com as


aplicações previstas. Os dados devem ser elaborados e publicados
dentro de um certo espaço de tempo para evitar que perca a sua
actualidade.

Etapas na realização de um Censo

A primeira etapa do Censo, é a da Planificação da operação. Envolve


decisões essencialmente políticas: Que dados? Porquê? Como? Com quê?
Esta é uma tarefa difícil, na qual devem ser ponderadas as necessidades reais
de informação contra o risco de pretensões exageradas, com a resultante
imprecisão da informação ou excesso de custos. Não tem sentido pretender
aquilo que não se pode recolher, recolher aquilo que não se pode elaborar, ou
elaborar aquilo não será usado.
O objectivo principal é conhecer o total de habitantes de cada área geográfica,
o que constitui um censo mínimo. De acordo com as possibilidades, podem ser
acrescentadas perguntas para qualificar estas populações: Sexo, idade,
profissão, etnia, instrução etc. O poder político, deverá previamente consultar
cada sector de actividade (educação, saúde, economia, agricultura etc.) para
avaliar as suas necessidades.
Neste processo, podem surgir conflitos, tanto quantitativos, como qualitativos.
Os conflitos quantitativos decorrem da impossibilidade de formular um
questionário que atenda todas as necessidades de todos os sectores, já que
este seria excessivamente demorado para responder. Os conflitos qualitativos
podem ocorrer quando a inclusão de certos temas sensíveis prejudica a
qualidade das demais informações. Por exemplo, nos países onde existem
conflitos de terra, a qualidade da informação demográfica pode ser prejudicada
se o questionário junta as perguntas rotineiras demográficas, com quesitos
sobre o número de trabalhadores rurais, a posse da terra, recursos agrícolas,
etc.

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A segunda etapa, é a da Execução do Trabalho de Campo. Para cada
domicílio deve ser preenchido um formulário censitário, com a informação
sobre todos os seus membros. Os entrevistadores, previamente treinados,
cobrem zonas claramente delimitadas com a colaboração dos supervisores de
campo. A responsabilidade directa pelo preenchimento dos dados de cada
pessoa, cabe ao recenseador, mediante entrevistas individuais, ou informantes
qualificados, ou chefe de domicílio, que devolve o questionário preenchido ao
recenseador. O primeiro método é aplicado principalmente nos países do
terceiro mundo enquanto o segundo é aplicado nos países do primeiro mundo,
onde os questionários podem ser distribuídos inclusive pelo correio. Em muitos
países europeus o chefe de domicílio pode optar pela remessa do questionário
pelo correio ou por uma entrevista. Os questionários, uma vez preenchidos,
são recebidos e controlados de acordo com o sistema estabelecido (por zonas,
por entrevistador, etc.).

Na terceira etapa, a informação é Processada e a Analisada. Primeiro é


necessário avaliar a qualidade da informação obtida, no que se refere à
comparabilidade e cobertura. Comprova-se a qualidade e faz-se a crítica da
informação, para encontrar perguntas sem respostas ou mal interpretadas,
respostas inconsistentes e outros problemas. Depois de fazer a limpeza da
informação, esta é codificada, passada para os meios magnéticos, classificada,
contada e tabulada. Actualmente, o uso intensivo de micro-computadores,
facilita a execução do processo, com ganho concomitante de tempo. Depois
pode iniciar-se a análise , para construir índices e estabelecer relações entre
as variáveis. Um recurso usado em muitos países é o conjunto de programas
conhecido como IMPS ( Integrated Micro-Computer Processing System),
desenvolvido pelo US Bureau of the Census, que abrange todas as etapas de
definição, entrada, edição, crítica e análise de dados.

A quarta etapa, consiste em Publicar os resultados obtidos. Deste modo os


interessados podem elaborar, reestruturar, criticar, as conclusões e os dados
apresentados. Apenas uma parte relativamente pequena de toda a informação
levantada é oficialmente publicada na forma de tabelas. A definição deste plano

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tabular, é uma actividade delicada que precisa de conciliar o interesses de
profissionais e de instituições das mais diversas áreas,

Erros dos Censos


Os erros ou falhas mais comuns que se produzem nos censos podem agrupar-
se em duas categorias: erros de Cobertura e erros de Conteúdo.

Os erros de Cobertura estão dados por:

a) Omissão de pessoas – parte do universo da população que não é


recenseada. Pode ser diferenciada por idades e sexos, mas geralmente
ocorre mais com as pessoas das primeiras idades.
b) Duplicidade/repetição na enumeração – Pessoas enumeradas mais de
uma vez.

Erros de conteúdo

Os erros de conteúdo, ocorrem quando o declarante fornece dados


equivocados em relação à questão indagada, ou por exemplo quando o
recenseador a nota incorrectamente a informação.
Dentro desta categoria o erro mais comum, constitui a declaração incorrecta da
idade. Este erro geralmente produz-se com pessoas de idade avançada e vai
unido à preferência por determinados dígitos que produzem o arredondamento
das cifras para que estas terminem em 0 ou 5

Classificação dos Censos

Censo de Jure ou de Direito – Quando as pessoas são


recenseados/enumerados de acordo com lugar de residência habitual
independentemente de estar presente ou não no dia do Censo.
A vantagem do Censo de Jure ou de Direito, é de que oferece uma visão mais
real do conjunto de população residente numa determinada área ou zona
específica de um país, ao mesmo tempo que proporciona elementos mais reais

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sobre os lares e famílias das referidas áreas sobre a população rural ou
urbana, etc.
Como desvantagem, aponta-se a possibilidade de omissão de alguma pessoa
que fique muito tempo fora do seu domicílio ou porque famílias completas, se
encontrem ausentes durante o período do Censo.
A tendência actual é de se optar pelo Censo de Jure ou de Direito, pelas
possibilidades de estudo dos lares, famílias etc.

Censo de facto – Quando as pessoas são enumeradas, segundo o lugar da


sua presença no dia do Censo, independentemente, de que residam
habitualmente ou não no referido lugar.
A vantagem desta variante reside em oferecer menos possibilidade de omissão
de pessoas. No entanto, em países, onde pela magnitude da sua população a
operação censitária leve muitos dias e até semanas, este método torna-se
difícil de aplicar por causa da mobilidade das pessoas. As desvantagens do
Censo de facto são:

a) Dificuldades de obter informações sobre as pessoas em trânsito


b) Obtém-se uma informação incorrecta da população residente nas
diferentes áreas
c) Os resultados estatísticos dos eventos vitais aparecerão deformados, ao
não existir correspondência entre a população real da área e a
população relacionada com o evento vital em análise.

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Limitações dos Censos

 O seu elevado custo financeiro, já que significa a enumeração de todas


as pessoas

 Envolve muito pessoal, facto que afecta a qualidade da formação e


consequentemente da informação obtida.

 Problemas de supervisão, por envolver muito pessoal.

 A multiplicidade de objectivos de recolha de dados (planificação da mão-


de-obra, educação, saúde, etc.) faz com que cada sector tenha de
impor-se grandes restrições na informação levantada. Um censo
normalmente levanta apenas as informações principais e não consegue
aprofundar nada. Para maiores detalhes, é preciso realizar pesquisas
específicas de mortalidade, fecundidade, migração, habitação, mão-de-
obra etc.

 Em virtude desta multiplicidade de propósitos, e do volume da


população, a tabulação pode ser demorada. Significa dizer que o tempo
que vai entre a recolha dos dados até à sua publicação, é demasiado.

 Como consequência do anterior, o intervalo entre os censos é longo, o


que significa que os dados recolhidos não são muito adequados para
análise de tendências em períodos curtos, nem para a avaliação de
programas relativos à mudança da população, quando existe grande
mobilidade.

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1.6.2 O Sistema de Estatísticas vitais (Registo Civil)

Os principais factos ocorridos com uma população, ou com um segmento dela,


a medida que se produzem no tempo e no espaço, são controlados, através
dos chamados Registos. Estes, constituem uma fonte valiosíssima, para a
demografia. Entre os registos mais comuns podem-se citar: Os registos civis
(nascimentos, defunções, matrimónios, divórcios, etc.), os escolares, os de
população, os de segurança social etc.
As estatísticas vitais, constituem uma visão dinâmica da população que
complementa a visão estática do censo. Enquanto o censo levanta dados sobre
todo os indivíduos em momentos específicos, O Registo Civil acompanha as
ocorrências dos eventos que modificam o tamanho ou a composição da
população ao longo do tempo. A unidade de enumeração do Censo, portanto, é
o individuo, enquanto a unidade de enumeração do Registo civil é o Evento
Demográfico. Juntas as duas fontes permitem a elaboração de taxas e índices
demográficos.
Além das suas finalidades estatísticas, o registo civil tem uma função legal pois
os eventos por ele registados modificam a situação das pessoas perante leis
que variam de país para país. Esta utilização, constitui de facto a razão original
da criação do Registo Civil: dispor de um “ armazém” de dados confiáveis no
que se refere a existência, filiação das pessoas, domicílio e outras referencias
de natureza biológica, social ou jurídica, necessárias para testemunhar “
oficialmente” e por escrito os acontecimentos referidos. Esta função jurídica do
Registo civil está profundamente enraizada nas modalidades e estruturas
legais do estado. Só muito recentemente, praticamente no século XX, o
Registo Civil incorporou uma função estatística. Devido a função legal do
sistema, exige-se muitas vezes uma comprovação dos factos registados.
Nalguns países da América Latina, exige-se a apresentação de um nascido
vivo perante o oficial do Registo. Diversos países, inclusive muitos dos
africanos, exigem a confirmação do facto por uma testemunha.

Segundo as definições da Nações Unidas, um sistema de estatísticas vitais ou


Registo Civil, deve compreender:

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1. O registo oficial dos eventos vitais: óbitos, nascimentos, casamentos,
divórcios e eventualmente, adopções, legitimações e mudanças de
ocupação e residência.
2. A contabilização desses registos em informes estatísticos
3. A sua sistematização e consolidação.
4. A elaboração e publicação periódicas de relatórios estatísticos sobre os
eventos registados.

Erros e deficiências do Registo Civil

A confiabilidade quantitativa e qualitativa da informação está em certa medida


associada ao grau de desenvolvimento do país ou região: boa em áreas
desenvolvidas e deficiente em áreas subdesenvolvidas, rurais, de baixo nível
escolar etc.

Os erros mais comuns, são a omissão de eventos, o atraso (registo tardio), e a


duplicação e a distorção do registo. A omissão do registo, implica que o evento
real não tenha existência legal. É frequente em óbitos, particularmente em
crianças que morrem antes do registo do seu nascimento. A lei do Registo
Civil, geralmente determina que em tais casos se deve fazer o registo de
nascimento e da morte, mas frequentemente inscreve-se apenas o óbito.
Noutros casos, nem o nascimento, nem óbito, chegam a ser registados. No
caso dos nascimentos, a população se sentirá mais incentivada para cumprir
as exigências legais, se o registo for um requisito indispensável para receber
assistência médica, subsídio familiar, para matricula na escola ou creche, ou
para obtenção de documentação pessoal etc. Se o registo é difícil e
geograficamente pouco acessível, implica um custo monetário, é demorado
pela burocracia, se não há benefícios sociais ligados à inscrição e se a
população é pouco instruída, a omissão só pode ser elevada.

O atraso no registo ocorre quando o acontecimento não é inscrito dentro do


prazo legal. É um erro particularmente frequente nos nascimentos. Muitas
vezes o nascimento é registado depois de muito tempo, por exemplo quando

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se apresenta uma necessidade concreta de obter uma certidão de nascimento
para entrar na escola, obter emprego, etc.
A duplicação do registo ocorre geralmente devido a necessidade de obter
documentação pessoal por perda dos documentos originais, aliada a
impossibilidade prática de obter as segundas vias dos registos originais, por
ineficiência burocrática, o individuo deve “nascer de novo” para obter a
comprovação necessária.

1.6.3 O Inquérito

Um Inquérito, é o “ Conjunto de operações encaminhadas para obter uma


informação sobre uma técnica especial, seja mediante entrevista directa com
os interessados, ou por correspondência” . Os inquéritos são utilizados com
fins diversos, cumprindo com um amplo campo da investigação científica:
sociologia, economia, administração pública, psicologia, estudos de mercado
etc. Cada vez mais estão a ser utilizadas também na demografia e saúde
pública, perante a ausência de informações demográficas ou a deficiente
qualidade da informação disponível.

O inquérito, aplica-se apenas à uma fracção da população, a amostra. A teoria


de amostragem é um ramo da estatística aplicada que estuda as maneiras para
seleccionar uma amostra, de tal modo que os custos do inquérito possam ser
minimizados e a confiabilidade e representatividade maximizada. Uma vez
seleccionada a amostra, pesquisam-se seus elementos (indivíduos, domicílios,
empresas, instituições etc.), utilizando o instrumento escolhido: formulário,
entrevista verbal, gravação, etc.

Algumas das fontes tradicionais de informação demográfica, foram substituídas


ou complementadas pelo Inquérito. Esta situação, deve-se à falta de
periodicidade na realização dos censos, os intervalos longos entre eles e o
elevado custo do recenseamento, os limites impostos à extensão de um
questionário do censo e às dificuldades de análise e publicação do grande
volume de informação recolhida. O Inquérito por amostragem, parece estar a
ganhar terreno como a forma mais rápida e eficiente para obter os dados

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necessários. Na demografia, inquéritos amostrais podem ser usados por
exemplo para:

- Medir as relações recíprocas entre as variáveis demográficas e


socioecónomicas.

- Obter informação suplementar, em relação aos censos e estatísticas vitais.

- Avaliar a cobertura do Censo mediante um Inquérito pós-censitário.

- Aumentar a rapidez da divulgação de dados censitários, mediante a


publicação de tabulações avançadas com base numa amostra dos formulários
censitários recolhidos.

- Investigar aspectos técnicos e metodológicos aplicáveis às estatísticas


demográficas (avaliação das causas de certos erros comuns – omissão de
pessoas, erros na declaração de idades, omissão de crianças pequenas,
omissão nas declarações de nascidos e mortes)

- Conhecer em profundidade os comportamentos sobre as migrações internas


e suas determinantes, planificação familiar e padrões de fecundidade.

Limitações do Inquérito.

A principal limitação do Inquérito, prende-se com o erro das amostras. As


amostras, se referem a uma fracção da população; por isso coloca-se sempre a
questão de até qual ponto, as conclusões obtidas pela amostra podem ser
generalizadas para o total da população. O próprio processo de amostragem
pode ser difícil de se executar em circunstâncias onde não existe uma base de
dados mais ou menos actualizada, para a determinação das amostras, pois
para ser confiável, esta determinação exige um conhecimento prévio de pelo
menos alguns aspectos da população a ser investigada como por exemplo, o
seu tamanho, sua distribuição geográfica ou estratificação em termos de
algumas características sociais. Por isso a representatividade de Inquérito por

20
amostragem pode ser problemática se a amostra não se baseia num Censo ou
nalgum registo.

Vantagens do Inquérito

A utilização do inquérito apresenta as seguintes vantagens:

- É menos oneroso
- Envolve menos pessoal, o que permite uma melhor preparação em relação às
tarefas a realizar, facto que se traduz numa melhor qualidade da informação
obtida.
- O tempo entre a recolha da informação e a sua publicação é menor,
comparado com o censo.

21
TEMA 2- ESTADO DA POPULAÇÃO.

2.1 Características sociais e culturais

2.1.1 Características físicas e socioculturais

O conceito biológico de raça é conflituoso, de definição discutível, tendo


frequentes conotações culturais e políticas. Em antropologia física, a palavra
“raça”, indica uma categoria de indivíduos que apresentam características
somáticas comuns, presumidas hereditárias. O problema complica-se quando
há mistura racial. No caso dos mestiços, a tipificação somática, perde o seu
significado, perante a tipificação socioeconómica e cultural. A definição torna-
se mais complicada ainda, quando a definição censitária é a “Auto-qualificação”
feita pelo entrevistado, como por exemplo nos EUA.
O termo Grupo Étnico ou Etnia, indica um agrupamento natural apresentando
certas afinidades somáticas, linguísticas ou culturais. O termo Povo, indica
geralmente um conjunto de indivíduos unidos por um passado comum, falando
geralmente a mesma língua. O termo tribo, pode ter um alcance mais restrito,
indicando dentro de uma etnia, um grupo organizativo mínimo, ou uma
comunidade ou aldeia com um chefe local.
Os censos coloniais faziam uma diferenciação rigorosa entre os diferentes
grupos raciais, étnicos e linguísticos ilustrados com os dados do Quadro 1. De
acordo com o recenseamento de 1970, a situação em Angola teria sido a
seguinte: Negros – 93,4% ; mestiços – 1,6%; brancos e outros – 5,0%.
Observavam-se diferenças significativas entre as áreas rurais e urbanas,
concentrando-se a população branca nas cidades. Em Luanda, os brancos
compunham 26% da população, no Lubango e Lobito 24%, em Benguela 25%
e em Moçâmedes (Actual Namibe) 41%. Os censos províncias de 1983/87, não
incluíram este quesito, de modo que não é possível inferir de que forma a
composição racial da população angolana modificou-se após a independência.
Apenas pode-se dizer que a nível nacional:
1- Aumentou a percentagem da população negra em consequência da
menor fecundidade dos brancos e da emigração.

22
2- A diminuição da percentagem de brancos foi reforçada pela migração
interna dos negros, das áreas rurais para as áreas urbanas.

Embora seja um critério imperfeito para descrever toda a diversidade étnica e


cultural de uma sociedade, uma das suas expressões é a variedade de línguas.
As diferenças linguísticas que existem em muitos países (praticamente todos
os países africanos, EUA, Índia, diversos países latino-americanos e mesmo
alguns países europeus como a Bélgica, Suíça e Espanha), constitui um
obstáculo para a luta contra o analfabetismo e para a integração nacional.
Diversos censos, entre os quais o censo parcial angolano de 1983/87, incluem
um quesito sobre a língua ou línguas que o individuo fala ou usa comumente.
Entretanto, como estes últimos não tiveram cobertura nacional, os resultados
não são comparáveis com os do Quadro 1 e nalgumas estimativas (por
exemplo, Grimes, 1992), dá para afirmar o seguinte:

QUADRO 1- Composição étnico – linguística da população angolana em


1940, 1950 e 1960
Grupos Étnicos- 1940 1950 1960
linguísticos.

Kicongo 421.207 479.818 621.787

Kimbundo 895.711 1.083.321 1.053.999

Lunda-kioko 337.952 357.693 396.264

Umbundo 1.331.087 1.441.742 1.746.109

Ganguela 349.830 328.277 329.259

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Nhaneca 79.884 108.000 138.191

Humbe 83.941 83.061 114.832

Ambo 66.528 62.141 115.442

Vindonga 7.764 4.505 13.664

Herero 33.900 25.184 18.719

Khoisan 5.882 7.049 7.807

Vátua 5.292 5.895 1.500

Kimbares 4.337 10.539 3.598

Mestiços 23.244 26.338 79.450

Brancos 44.083 78.826 172.529

Embora a identificação e a classificação de línguas seja sempre discutível,


Grimes distingue um total de 41 línguas nacionais em Angola. Com excepção
de um pequeno número (não mais de 0,5%) de falantes de idiomas Khoisan no
Sul do país, todas pertencem à família Bantu.
Um outro factor de diversidade cultural, é constituído pela religião. Em diversos
países (Índia, Líbano, Irlanda do Norte), esta diversidade é fonte de conflitos
sociais. Noutros países mesmo onde a convivência entre as religiões é
pacífica, existem diferenças notáveis entre o comportamento dos grupos
religiosos. As minorias católicas em alguns países, caracterizam-se por uma
fecundidade acima da média. O sociólogo Durkheim já mostrou que o suicídio
na Alemanha era mais frequente entre os protestantes que entre os católicos.
Em países onde existe uma certa diversidade religiosa, costuma-se incluir este
quesito nos censos. No caso de Angola, onde os censos colonias abordavam
esta questão, a divisão em 1960 era a seguinte: Católicos – 48,7%;
Protestantes – 17,4%; Outras religiões 17,9% e sem religião 16%.

2.1.2 Domicílio e família


24
O termo demográfico domicílio, refere-se não à estrutura física de uma
moradia, mas à um conjunto de pessoas, consanguíneas ou não, que formam
uma unidade de consumo. Usa-se também o termo “ Grupo familiar”, mas este
é menos correcto, pois sugere que os membros do domicílio tenham laços de
parentesco. Uma mesma moradia pode albergar mais do que um domicílio. Por
outro lado, especialmente em África, há situações em que um domicílio ocupa
mais do que uma moradia física, por exemplo, no caso de uniões polígamas
com um chefe comum. Nem toda a população mora em domicílios. As pessoas
que vivem em instituições (casernas, prisões, internatos, etc.) não fazem parte
de nenhum domicílio.
As pessoas que vivem dentro de um domicílio, normalmente são classificadas
conforme a sua relação com o indivíduo considerado chefe do domicílio: O
próprio chefe (que pode também ser mulher), cônjuge, filho, pai ou mãe, outro
parente, não parente. Em alguns países, a proporção de domicílios com
mulheres chefes é elevada, por exemplo na África Austral e nas Caraíbas. No
Botswana, onde muitos dos homens trabalham nas minas África do Sul, a
proporção chegava à 45% no ano de 1987. Na cidade de Luanda, segundo o
inquérito Sociodemográfico e Emprego (INE, 1993), o fenómeno atingia os
19,5%. Nos últimos anos nota-se um certo questionamento de chefia. Por
exemplo, no Terceiro Mundo entre 10 à 50% dos domicílios são chefiados por
mulheres, mas a quantificação deste fenómeno é dificultada pela tendência
cultural de se atribuir este título sempre à um homem, mesmo que
objectivamente contribua pouco para o sustento da casa. Desta forma é difícil
avaliar com precisão a importância da mulher como administradora do
domicílio.
O conceito de família é ambíguo. Alguns censos distinguem o número de
unidades familiares que compõem cada domicílio. Neste caso, unidade familiar
é sinónimo de família nuclear, ou seja, um grupo constituído pelo chefe de
família, esposa e seus filhos naturais ou adoptivos. Noutros casos, o termo
família é usado no sentido mais amplo de família extensa (família nuclear, mais
um ou mais parentes) e família composta (idem, mais um ou mais não –
parentes). No limite o conceito de família pode confundir-se com o próprio
conceito de domicílio.

25
De modo geral, o tamanho e a complexidade dos domicílios tende a diminuir
como consequência do desenvolvimento socioeconómico. Por exemplo, a
proporção de domicílios com 8 ou mais membros, encontrada no censo de
1984 no Congo era de 23,6%. No censo do Chile em 1982, era de 9,7% e na
Suíça apenas de 0,4%.

2.1.3 Instrução
Os antropólogos e peritos em educação, assinalam que a maior parte dos
conhecimentos, para alguns 90% ou mais – não são adquiridos por meio da
educação formal (escolas, cursos, etc.), mas pela experiencia prática de todos
os dias em contacto com o ambiente que nos rodeia, pelos mais velhos no
meio rural, pelos meios de comunicação, como rádio a televisão, a publicidade,
a internet etc. No entanto, nas sociedades modernas, e especificamente nas
definições censitárias, o nível de instrução refere-se à instrução formal
proporcionada e/ou controlada pelo Estado e medida em anos lectivos
completos. Fala-se habitualmente em três (as vezes quatro ou cinco) ciclos de
educação formal: primário, básico ou elementar, secundário ou médio e
terciário ou superior as vezes dividido em graduação e pós-graduação. A este
pode-se juntar o nível pré-escolar e/ou ciclo preparatório.
Existe um certo consenso quanto ao “mínimo dos mínimos” de instrução que se
deve garantir a qualquer cidadão: saber ler o jornal ou uma revista popular,
fazer as quatro operações fundamentais de aritmética, escrever um texto
elementar, por exemplo uma carta familiar. Esta pessoa pode ser chamada de
alfabetizada.
Tecnicamente, o analfabetismo é definido como a incapacidade de uma pessoa
maior de 10 ou 15 anos de ler, compreendendo o que lê, e de escrever um
texto simples no seu idioma. Portanto não inclui as crianças menores de 10 ou
15 anos; também não abrange os estrangeiros que só sabem compreender e
expressar-se na sua língua de origem. Entretanto é analfabeto o individuo que
só sabe desenhar a sua assinatura ou escrever uma frase “de memória” , sem
compreender o que está a escrever. Convém mencionar aqui os “analfabetos
funcionais”, que são os indivíduos que foram minimamente alfabetizados que,
por falta de novos contactos e de elementos de leitura, sem prática de escrita,
perderam progressivamente os conhecimentos adquiridos. Mesmo nos países

26
desenvolvidos, onde o analfabetismo foi convencionalmente erradicado,
existem hoje em dia muitos “analfabetos funcionais”.

Indicadores Educacionais
Os indicadores educacionais são divididos em duas categorias: Indicadores do
Desempenho do Sistema Educacional, que quantificam o número de pessoas
que num determinado momento recebem instrução nos diferentes níveis e
Indicadores do Nível Educacional atingido como resultados seus estudos.
Dentro da primeira categoria, os indicadores são os seguintes:
→ A Taxa Bruta de Matrícula (ou Escolarização) por Ciclo, é a razão entre o
número de alunos matriculados nas escolas de um determinado nível e a
população total do país.
→ A Taxa geral de Matrícula (ou Escolarização) por Ciclo é a razão entre o
número de alunos matriculados nas escolas de um determinado nível e a
população na faixa etária correspondente a este ciclo. Por exemplo, no
Botswana em 1985 havia 223.608 alunos matriculados no ensino primário. Este
número, dividido pela população estimada de 6-12 anos e multiplicado por 100,
dá uma taxa de 104%. Como acontece não raras vezes nos países
subdesenvolvidos, a taxa neste caso é maior que 100%. Isto acontece porque
nem todos os alunos matriculados no ensino primário necessariamente
pertencem à faixa de 6-12 anos: muitos podem estar atrasados em relação ao
currículo padrão e ter idades maiores. Por isso, uma Taxa Bruta de Matricula
elevada, não é necessariamente um bom indicador, pois que pode ter como
causa altas proporções de repetentes ou um afluxo muito grande às escolas de
alunos mais velhos.
→ A Taxa Específica (ou Líquida) de Matrícula (ou Escolarização) por Ciclo, é
a proporção da população na faixa etária correspondente à um determinado
ciclo escolar que efetivamente está matriculada numa escola deste nível. Esta
taxa portanto, é igual a anterior, mas exclui do numerador os alunos
matriculados que não pertencem à faixa etária “normal” para o ciclo que
frequentam.

27
→ A Taxa de Repetência é a percentagem de alunos repetentes, para cada
ano ou nível de ensino. Em 2003, a Taxa de Repetência em Angola era de
26%.

→ A Taxa de Evasão (ou desistência/abandono), é a percentagem de alunos


que num determinado ano desiste dos estudos. Em 2003 em Angola esta taxa
era de 13,9% em 2003, tendo como meta a sua redução para 6,9 em 2015.

→ A percentagem de Analfabetismo. Em 2000 a taxa de Analfabetismo em


África, era de 40,3%.

2.2 ESTRUTURA DA POPULAÇÃO POR IDADES E SEXOS


Por composição da população, entende-se o estudo da forma em que se
distribui a população em relação à presença ou ausência nos seus
componentes de alguma característica identificável.
Isto é possível, porque os indivíduos que compõem uma população, possuem
características biológicas, económicas, e culturais diferentes, que podem ser
agrupadas em categorias mais ou menos homogéneas.
Assim, a população pode ser classificada atendendo ao sexo, idade, estado
civil, grau de instrução, nível educacional, situação ocupacional, área de
residência, etc. Por tanto, o objectivo do estudo da composição da população,
é descrever a situação dos habitantes de um determinado território, em um
dado momento e a partir de determinados atributos ou características. Para
este estudo, as fontes de informação estão basicamente constituídas pelo
Censo da População e pelos Inquéritos por amostragem
Das múltiplas categorias em que possível estudar a população, a Idade e o
Sexo constituem as características demográficas mais importantes.
A Idade é um atributo de grande significado, porque limita e influi na
participação da população em factos tais como a reprodução, a actividade
económica, as migrações, e em geral em todas actividades sociais. Acresce-se
ainda o facto de a idade influir na mortalidade.
Quando se estuda a população em relação ao atributo Idade, está-se frente à
estrutura ou distribuição por idades da população. Esta distribuição por idades
pode realizar-se por idades simples, ou por grupos de idades. No que diz

28
respeito à variante “grupos de idades”, convencionalmente estabeleceu-se que
os referidos grupos devem ser quinquenais, o que não impede que pelas
características da informação ou pelas conveniências do trabalho, não se
empreguem outros tipos de agrupações como por exemplo os decenais, etc. As
agrupações por idades, formam os chamados intervalos de idade.
O Sexo, constitui igualmente uma importante característica demográfica. O
Sexo tem a sua incidência nos nascimentos, nas defunções (mortes) e imprime
um comportamento diferencial nas migrações, distribuição ocupacional e em
quase todas as características em que se pode estudar a população.
O estudo da população tendo em conta o sexo, raramente se faz de forma
isolada, mas sim de forma combinada com a idade. Assim é factível estudar a
estrutura por Idade e Sexo da população.

2.2.1 PIRÂMIDES ETÁRIAS


O estudo da estrutura da população por Idade e Sexo e a forma como as
variáveis actuam ou intervêm sobre ela, alcança o seu maior significado
mediante a construção de uma Pirâmide Etária.
A Pirâmide etária foi inventada em 1870 nos Estados Unidos da América, pelo
coronel Francis A.Walker, superintendente do Censo desse mesmo ano.
Walker apresentou as pirâmides por grupos de 10 anos, para a população de
cada Estado nos recenseamentos de 1850, 1860, e 1870. “ O sistema de
representação era ainda bastante primitivo (…) mas o alemão H. Schwabe não
tardou em fixar a imagem clássica que é conhecida hoje.
A Pirâmide Etária, Pirâmide de Idades, Pirâmide da População ou Árvore
da Vida, como também se chama, é um histograma duplo (de barra), que
recolhe a distribuição relativa da população total segundo idades e sexos.
Trata-se de uma representação gráfica, na qual se inscrevem as idades sobre
o eixo vertical e as proporções dos efectivos humanos nas diversas idades
sobre o eixo horizontal, reservando o lado direito para a população feminina e o
esquerdo para a masculina.
A representação do rectângulo (barra), pertencente a cada idade ou grupo de
idades, não é igual para todas as populações. A sua maior ou menor longitude
depende do comportamento das três variáveis demográficas que determinam
os câmbios da população: Mortalidade, Natalidade e Migrações.

29
UTILIDADE DA PIRÂMIDE ETÁRIA
A sua utilidade reside em:
 Comparar as estruturas demográficas no tempo e no espaço.

 Oferecer uma visão de conjunto muito sintética de toda a população.

 Permitir identificar rapidamente os tipos de estrutura de população.

 Permitir identificar rapidamente os tipos de população.

 Detectar a manifestação de certos factos históricos que tenham influído


sobre a população

TIPOS DE PIRÂMIDES
Existem dois tipos principais de Pirâmides Etárias que correspondem à dois
grandes grupos extremos de populações:

a) Pirâmide Jovem - Populações cuja Pirâmide apresenta uma base


relativamente larga e vértice relativamente estreito caracterizam-se por
alta natalidade, alta mortalidade, baixa esperança de vida, bem como
uma elevada proporção da população economicamente activa. A
população que apresenta estas características denomina-se de
população Jovem, com cerca de 45% do total de habitantes em idades
menores de 20 anos e é típica de países subdesenvolvidos.

Obs: Observar a Pirâmide “B”

b) Pirâmide Velha - Populações com Pirâmides de base relativamente


estreita e vértice relativamente largo, revelam baixa natalidade, baixa
mortalidade, alta esperança de vida, bem como uma baixa proporção da
população economicamente activa. A população que apresenta estas
características é denominada de população velha, concentrando
aproximadamente 25% dos seus efectivos em idades menores de 20
anos e é típica de países desenvolvidos.

30
Obs: Observar a Pirâmide “A”

31
2.3 Relação de Masculinidade
A Relação de Masculinidade, também chamada de índice de Masculinidade é a
razão entre os efectivos masculinos e os femininos de uma população, na
óptica de quantos homens estão disponíveis em relação ao número de
mulheres existentes.
O estudo da Relação de masculinidade permite compreender como se
apresenta o mercado matrimonial, além de permitir uma percepção em relação
às estruturas familiares.
As pirâmides etárias nunca são simétricas. Em primeiro lugar nascem mais
rapazes do que raparigas (por cada 100 raparigas nascem em geral, 105
rapazes) fazendo com que geralmente a base de uma pirâmide seja maior do
lado masculino do que do lado feminino. Em segundo lugar, a mortalidade, que
é o factor fundamental na explicação da redução do efectivos, é sempre mais
precoce nos homens do que nas mulheres (é o fenómeno da sobremortalidade
masculina); consequentemente, a medida em que avançamos na idade, a
superioridade numérica dos efectivos masculinos começa a diminuir. Nos
últimos grupos etários, o sexo feminino tem sempre um maior volume
populacional em relação ao masculino. Finalmente existem outros factores tais
como as migrações e as guerras que podem modificar o perfil de uma pirâmide
de idades.
Em função do exposto, facilmente chegamos à conclusão de que se torna
necessário completar a informação obtida através das pirâmides etárias com
um instrumento de análise: as Relações de Masculinidade por idades e por
grupos de idades. O gráfico das Relações de Masculinidade mostra como é
que os efectivos existentes num determinado grupo de idades são partilhados
entre o sexo masculino e o feminino. O Cálculo da Relação de Masculinidade é
bastante simples: basta dividir (em cada idade ou grupos de idades) os
efectivos masculinos pelos efectivos femininos, multiplicar por 100 e
representá-los graficamente.

32
Como de forma geral existem mais efectivos femininos do que masculinos, as
consequências prendem-se com a dificuldade na constituição das famílias, bem
como o atropelo das normas de conduta cívico-moral.

Cálculo da Relação de Masculinidade

Rm= Relação de masculinidade


Pm= População masculina
Pf= População feminina
Obs: Quanto a interpretação, ver no caderno exemplo dado pelo professor.
2.4 Características Económicas da População
Toda formação social, requer por parte dos membros que a integram a
realização de determinadas actividades - trabalho – encaminhadas a obtenção
dos recursos necessários: alimentos, vestuário, habitação, serviços etc. para a
sobrevivência do homem.
População Economicamente Activa.
A população Economicamente Activa, (PEA) está constituída pelas pessoas de
ambos sexos que fornecem a mão-de-obra disponível para a produção de bens
materiais e de serviços. A PEA, considera tanto as pessoas empregadas, como
as desempregadas. O volume da oferta da mão-de-obra num país, depende
das condições demográficas, económicas e sociais que o caracterizam numa
determinada época.
Até à década de 1950, a população economicamente activa era pesquisada
nos censos da população através do conceito “ trabalhador remunerado”, que
baseava-se na ideia de que cada pessoa tem uma função mais ou menos
estável. Esta concepção deixava oculta a franja dos desocupados,
trabalhadores eventuais/ocasionais etc.
A Idade da PEA
Em princípio, os limites etários da PEA, compreendem o intervalo dos 15 aos
64 anos de idades. Entretanto, muitos outros preferem em relação ao extremo
inferior considerar o intervalo 10 - 15 anos para não ocultar o trabalho infantil.

33
O extremo superior, também não é rígido, pois que varia em dependência da lei
sobre segurança social vigente em cada país.
A Razão de Dependência
É definida como a que se estabelece entre a parte da população que pelas
idades se apresenta como consumidora e a outra que pelas idades se
apresenta como produtora.
A Razão de Dependência, é um indicador que expressa o peso da inactividade
económica implícito na estrutura etária de uma população.
Cálculo e Interpretação da Razão de Dependência

x 100

Onde,
RD= Razão de Dependência
(p<15)= População com idades inferiores à 15 anos.
(p>64)= População com idades superiores a 64 anos.
(p 15 a 64)= População com idades compreendidas entre os 15 a 64 anos.
A Razão de Dependência, oferece-nos um duplo significado: O económico e o
demográfico. O Significado económico, está associado à co-relação entre o
volume da população produtora e a consumidora enquanto o significado
demográfico decifra-se deduzindo a estrutura e o tipo de população.
N.B. Ver no caderno exemplo dado pelo professor.

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