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nte _ B e r t j j a K . B e c k e r
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v e s Lacoste e
^an A Análise Geográfica Geografia do Subdesenvolvimento
de c O Espaço Geográfico Os Países Subdesenvolvidos C laudio A. G. Egler
iais PlERRE MOMBEIG R.J. JOHNSTON
v'isti O Brasil Geografia e Geógrafos
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dial, N e il Sm i t h J. O . A y o d e
Desen volvime nto D esigual Introd ução d Climato logia dos Tr ópicos
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Yi-Fu TuAN
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Espaço e Lugar - P erspectiva
erspectiva da
David Clark
Introd ução à G eografia Urbana Brasil
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Experiência
M i c h e l B e c u e ry
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K.J. G r e g o r y
A Natu reza da Geografia Física Uma Nova Potência Regional
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A Exploração dos Oceanos
Josê A. F. Diniz
Claude Mangazol
Lógica do Espaço Indu strial na Economia-Mundo
ïg o Geografia da Agricultura A. C h r i s t o f o l e t t i e o u t r o s
Perspectiva da Geografia
iific
P i er
er r e G e o r g e
lo I Geografia Agrícola do Mundo J a c q u e s V e r r i ê re
re
est: A Geografi a Ativ a As Políticas da População 39 EDIÇÃO
irog Geografia da População
o. j; Geografia Econômica D a v i d D r e w
1998
Impresso no Brasil
Printed in B raz il
Sumário
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional d os Editores de Livros, RJ.
RJ.
Becker, Bertha K.
B35 6b Brasil:
Brasil: um a nova potência regional na economia-mu ndo / Bertha
3a ed. K. Becker, Claudio A. G. Egler. —3a ed. - Rio de Janeiro: L i st
st a d e F i g u r a s 7
Bertrand Brasil, 1998.
272p. —(Coleção
—(Coleção Geografia)
L is t a d e T a b e l a s 11
Inclui bibliografia
ISBN 85-286-0172-2 Pr e f á c i o 13
1. Geopolítica —Brasil.
—Brasil. 2. Planejamento regional —Brasil.
—Brasil. 3. I A Ambivalência
Ambivalência de uma Potên cia Re gional 17
Brasil —Condições econômicas. I . Egler, Claudio A. G. II. Título.
III. Série. Um continen te desconhecido 18
CDD-320.120981
94-1537 CDU-32:918.1 Capitalismo histórico, economia-mundo e
semiperiferia 24
Uma via autoritária para a modernidade 29
Este livro 36
Todos os direitos reservados pela:
BCD U NIÃO DE EDITORAS S.A. XI A In c o r p o r a ção do B r a s il
il n a E c o n o m i a -M u n d o :
Av. Rio Branco, 99 —20° andar —Centro da Colô n ia
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200 40- 004 —Rio de Janeiro —RJ
—RJ
Tel.: (021) 263-2082 Fax: (021) 263-6112 O período colonial 40
5 _______________
O L e g a d o d a M o d e r n i z a ç ã o C o n s e r v a d o r a e a
Reestruturação do Território
168 169
cumpriu no Brasil um papel único no mundo, en quanto instru trapôs-se uma sociedade sub terrânea, “paralela”, “não oficial”,
mento de política social e formação de opinião durante o pe que criou suas próprias regras e suas formas específicas de
ríodo autoritário e mesmo depois dele. resistência.
A mode rnidad e funde-se com a pobreza em um tecido com
plexo. Com o explicar a ha bilida de de m ilhare s de m ecân icos
existentes ao longo de um a vasta rede rodoviária, capazes de
manter uma frota diversificada de veículos, sem que jamais A explosão demográfica que não houve
tenham freqüentado uma escola e, em grande número, sequer
saibam ler e escrever? Não se trata do “arcaico”e do “mode rno”
separa dos po r uma nítida linh a divisória, dos “dois brasis”, ou O declínio da natalid ade constitui-se talvez na transforma
da Belíndia, uma Bélgica com uma índia. É mais do que isto, ção mais importante para o país neste fim de século e tem
é uma estrutura híbrida, ambivalente, instável, porém muito implicações ainda não conhecidas. O desconhecimento d a nova
dinâmica. Este é o legado da mod ernização conservado ra, que realidade decorre do caráter inédito das tendências recentes,
será analisado neste capítulo ao nível social, econômico e es do fechamento d as informações em círculo restrito de especi
pacial. L-0 Lpc ^ o alistas e da campanha internaciona l contra a ameaça da “explo
são demográfica” (Martine, 1989).
A transição demográfica no Brasil —passagem de altos para
bai xos níveis de natalida de e mortalida de —se distingue da tran
A modernidade da pobreza sição clássica dos países europeus por duas características
básicas. A pri me ira é a velocid ade da transiçã o brasileir a qua n
do comp arada aos padrõ es tradicionais. O Brasil, como outros
A modernização conservadora gerou uma pobreza específi países periféricos, está comp letand o, em alg umas déc ada s,
ca, associada à modernid ade. A problemática social da semipe- transformações que demoraram de um a dois séculos para se
riferia se manifesta em um grande descompasso entre expan concretizarem na Europa. E tal velocidade está associada à
são das red es de serviços e de equipamento s coletivos e o pre redução violenta e surpreendente nos níveis de fecundidade,
cário estado social da nação. O regime autoritário te ntou fazer com conseqüência para o crescimento vegetativo da popula
uma massificação das políticas sociais, degradando com isso ção. O nível mais elevado do crescimento vegetativo brasileiro
a qualidade dos serviços. O problema gerencial, operacional e ocorreu nas décadas de 1950 e 1960 (2,9% ao ano) devido à
administrativo das políticas sociais “foi o espaço esquecido do qued a do nível de mortali dade associa da à industriali zação. Mas
aparelho estatal” (Lessa, 1990). desde o final dos anos 60, a natalidad e começou a declinar, e
No ent ant o, a malha “pr ograma da” gero u efeito s impre vis o censo de 1980 revelou que a fecundidade caíra de forma
tos —externalidades do modelo —significando profun das mu drástica e generalizada em todo o país, tanto nas cidades como
danças estr uturais, como foi o caso da “revolução demográfi nas áreas ru rais (Fig. 5.1). Essa tendência se confirmou na déca da
ca” e da fragmentação social. Além disso, a dinâmica social de 80; entre 1980 e 1984, o número médio de filhos de uma
escapa à regulação estatal; à estrutura oficialmente regulad a con bra sileira teri a de 4,35 par a 3,53 , um declínio de 19%. Este
170 171
declínio foi ainda mais espetacular no Nordeste. Em conse Particularm ente, as políticas de telecomunicaçõe s, saúde, trans
qüência, o ritmo de crescimento demográfico caiu para 2,5% por tes e edu caçã o acelera ram a difusão de valores, do c onhe
na década de 70, estimando-se que atualmente esteja em torno cimento e de novas práticas e atitudes c ulturais que estimula
de 1,8% (Martine, 1989). ram o controle da natalidade e, ao mesmo tempo, os métodos
de controle tom aram-se mais acessíveis. Em pesquisa recente,
observou-se que 73% das mulh eres casa das na faixa de 15 a 44
anos já haviam utilizado a pílula anticoncepcional, sendo que
93% destas haviam comprado o produto diretame nte nas far
mácias, sem nenhum preparo prévio ou acompanhamento
médico (Martine, 1989). Em suma, a população brasileira e ntrou
na era da pílula sem sair da era da miséria.
A disjunção entre indica dores econômicos e sociais sugere
que o c omportamento demográfico e social não está mais rigi
damente ligado às oscilações da economia, não tendendo a se
reverter por que das tem porárias de renda. Significa que, até o
final do século, o Brasil apresentará padrões de fecundidade e
de crescimento populacional próximos aos dos países desen
volvidos nos dias atuais.
/
1840
-
1860
'
1880
/ 1900
/ /
1920
/
1940
/
1960
/
1980
/ 2000
/ 2020
172 173
5.1 Tabela T a b e l a 5.2
Taxas médias de aljabetismo no Brasil por região e sexo - Distribu içã o da ren da no Brasil - 1970-89
I . , 1970-1988 (% ),
c[ \ v M % 1970 1980 1986 1989
Total
1970 5 4 .3 3 9 ,2 7 1 ,6 7 0,1 5 7 ,0 6 0 ,3
1 98 0 61 ,1 4 7 ,7 7 9 ,2 8 0 ,1 6 7 ,9 6 8 ,8 no Sudeste. Um terço dos brasileiros que trabalham recebe até
1 98 8 8 0 ,2 5 6 ,7 8 3 ,6 8 3 ,8 7 7 ,5 7 5 ,4 um salário mínimo (Tabelas 5 . 3 a e 5.3b).
1 Dados de 1988, exclusive população rural.
2 Dados de 1988, exclusive população rural da região Norte.
Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970 e 1980.
IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), 19Ç8.
T a b e l a 5. 3 a
Desigualdad es de renda p or sexo - 19 81 -198 91
(renda média mensal em dólares)
174 175
Tabela 5.3b T a b e l a 5 .4
Desigualdades regiona is de renda - 1989 Abastecim ento de águ a e esgoto po r regiões (%) -
(renda média m ensal em dólares) 1970-1986
Centro-
Brasil1 Norte2 Nordeste Sudeste Sul Oeste Abastecimento de água Esgoto
Total 209,27 217,02 107,10 265,28 212,44 235,34 Região 1970 1980 1986 1970 1980 1986
Homens 327,64 335,74 169,46 413,25 333,27 368,86 Brasil 32,8 54,9 69,9 26,6 43,2 51,1
95,12 106,39 Norte .19,2^ 39,2 '81,9 -, 8,8 20,4 51,8
Mulheres 97,94 108,86 48,97 126,83
Nordeste 1 2 , 4 ^ 31.6 47,4 8,0 1-8,2 28,2
1 Exclusive população rural da região Norte.
2 Exclusive população rural. Sudeste 51,6 72.6 84,íb 43,9 63,5 71,3
Fonte: IBGE, 1990b. Sul 25,3 52,0 65,4 20,1 40,3 55,1
Centro- 19,9
Oeste 41,7 58,8 15,0 21,8 29,6
1 Exclusive população rural da região Norte.
Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970 e 1980.
IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), 1986.
Além disso, os trabalhadores carecem de amparo legal.
Embora legalmente se exija dos empregadores que assinem a
carteira de trabalho de seus empregados, somente um pouco
mais da metade dos trabalhadores tem carteira de trabalho
assinada, carteira que garante o acesso ao seguro-desemprego, O campo bra sileiro não é comparável às áreas rurai s da África,
tribunais do trabalho e benefícios públicos. Esta maciça evasão Ásia, nem mesmo com grande parte da América Latina. A
do registro legal é uma das mais impressionantes violações da pobr eza rela cio nad a ao c amp o bras ilei ro está fo rtem ente liga
lei no país. Em todos esses aspectos, a pior situação ocorre no da aos centros urbanos . A maior parte da população de mise
Nord este e entre as mulhere s. Precárias condiçõ es de vida das ráveis ocorre em áreas “urbana s”, isto é, núcleos urbanos com
famílias e mortalidade infantil são corolários dessas situações. menos de 20.000 habitantes, onde a população d epende tanto
O acesso desigual e inadequado aos serviços públicos reduz a de empregos sazonais e temporários_na agricultura como de
renda real. Um dos piores problemas que afetam a saúde é a empregos nas cidades?-® j •
: ausência de rede de esgotos, situação que é particularmente grave Informações sobre salários, renda, acesso às amenidades,
no Nordeste (Tabela 5.4). Na década de 80, com a crise fiscal prot eçã o trabalhista e alfabetismo. evidenciam que a pobrez a
do Estado, os serviços sociais se deterioraram ao extremo, assi m está concentrada no campo, no Nordeste e entre as mulheres.
como a escola pública. A violência se intensificou nas rua s, bair Em contrapartid a, as estatísticas sobre as condições sociais pou
ros e domicílios, e o sistema de transporte coletivo, irregular e co dizem sobre as estratégias de sobrevivência criadas pela
apinhado, tri tura a existência cotidiana do trabalhador, que gasta popul ação pa ra comp leme nta r a renda familia r e resis tir à
grande parte dos seus dias em longas viagens da residência para pob reza a bsolu ta. Indícios dessa estratégia pa rece m ser o de
I o trabalho. clínio da fecundidade e a crescente mobilidade do trabalho.
í } Áf •
17ê 177
A mo bil idade do trabalho
!
trabalho é melhor organizado, como São Paulo, assalariados O novo significado da urbanização
rurais permanentes foram transformados em trabalhad ores tem
porários que vivem nas cidades e vão traba lha r diariam ent e no
campo, “osbóias-frias”. Em áreas menos capitaliz adas, o c am Uma urbanização com ritmo acelerado, cujas taxas são das
pesina to tradicional se adaptou, transformando-se em semipro- mais elevadas no mundo, constitui a maior força por trás da
letários e semicamponeses, vendendo o seu trabalho alternati modernização autoritária, atuando como um instrume nto e um
vamente para o mercado urbano ou rural depende ndo da esta prod uto das pol ític as gove rnam entais, dos seus efeitos não
ção, e residindo em áreas urbanas. Esse processo significou prev isto s e dos ajustes espontâne os d a soci edade. Isto porqu e
maior instabilidade e exploração do trabalho, pois permite a urbanização é o nexo da articulação do Brasil à economia-
manter baixos os salários, induz à ampliação da jornada de mundo como semiperiferia. Os núcleos urbanos são a sede das
trabalho e “libera” os patrões das obrigações trabalhistas. novas instituições e da circulação de bens, capital e informa
Um segundo tipo de proletariado corresponde aos emprega ções e são também o lugar onde a força de trabalho, expulsa
dos no se tor urbano formal e informal das grandes cidades e pela mo dernizaçã o agrícola, reside, circula e é ressoc ializada ,
que respond e em grande p arte por seu crescimento. Ressalta, ingressando na modernidade da pobreza.
de um lado, a formação de um operariado de melhor qualifi As transformações estrutu rais da economia e da sociedade
cação associado à expansão da indústria metal-mecânica em que caracterizam a semiperiferia assumem forma concreta e
São Paulo. De outro lado, uma fantástica massa de em pregadores expressão máxima na formação de uma cidade mundial, São
e empregados co nstituindo um a “economia paralela” que foge Paulo, que se toma um dos centros de controle e acumulação de
da regulação oficial. Ainda pouco estudada, essa massa inclui capital em escala planetária. SãoPaulo passaa terpo dern ão apenas
atividades muito diversificadas, que vão desde o pequeno ven como mais importante núcleo produtivo do país, mas sobretudo
dedor am bulante até as pequenas indústrias. como veículo de articulação financeira, de informação, de P & D,
A expansão e diversificação da classe média associada ao de indústrias de ponta com a economia-mundo. Preenche, as
Crescimento dos setores secundário e terciário e do aparelho sim, duplo papel: estabelece o nexo com a economia-mundo e
do Estado constituem um dos fatos mais marcantes da trans exerce o comando da integração econômico-financeira-tecnológi-
formação da sociedade brasileira nos anos 60 e 70. Sua situa ca do território nacional como cabeça de sua rede urbana.
ção é instável, na medida em que tem uma propens ão consu-
mista superior aos meios de que dispõe para satisfazê-la e é
sobre quem recai o pesado fardo dos impostos da “economia
oficial”. Urbanização acelerada
T a b e l a 5 .5
Taxa de urbanização no Brasil - 1950-1989
População População Urbana %
Ano Total Absoluta
1950 51.944.397 18.782.891 36,2
1960 70.197.370 31.533.681 44,9
1970 93.139.037 52.084.984 55,9
1980 119.002.706* 80.436.409 67,6
1989 144.293.110 107.239.796 74,3
* Não está incluída a população rural da região Norte.
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1950, 1960,1970 e 1980.
IBGE, 1990b.
186 187
Em 1962, a metalurgia e os produtos químicos respondiam
po r 20,5% do tota l da pr odução industria l, en quanto têxteis e
produtos alimentares atingia m 34,3%. Em 1980, a situação havia
se invertido, com os dois primeiros ramos dinâmicos respon
dendo p or 33,8% e estes últimos por 21,1% do valor da pro
dução manufatureira. A situação se manteve essencialmente a
mesma pa ra os demais ramos, exceto a indúst ria mecânica, cuja
participaç ão cresceu regu larm ente de 2,9% em 1962 para 7,8%
em 1976, declinando ligeiramente para 6,4% em 1980.
Os efeitos desta dinâmica, aliados ao próprio movimento
interno da economia, vão se refletir de modo contraditório sobre
a distribuição territorial da indústria no Brasil. De um lado,
reforçam-se as tendências concentradoras do padrão espacial
fundado na concorrência oligopólica. De outro, observa-se a
disper são do investim ento em localizações privilegiadas, como
por tos, distrit os ind ust riais ince ntivados e a Zona Franca de
Manaus. (Fig. 5.4)
É importante ressaltar que este movimento tem pouco a ver PRODUÇÃO INDUSTRIAL
com a emergência d 2 uma indú stria regional que se configuras
se como uma estrutura produtiva relativamente autônoma. Pelo
contrário, o deslocamento espacial do investimento industrial,
que se acentua nos a nos 70, foi um processo complementar e
articulado à acumulação no núcleo industrial consolidado. O
desenho da nova divisão territorial do trabalho no Brasil assu
me os contornos ditados pela própria estrutura industrial, com
CRESCIMENTO
a conformação de complexos fortemente integrados, como é o 1 9 7 0 / 80
exemplo do químico e do metal-mecânico. ES3 1 -
A divisão em complexos industriais é a mais adequada para T i l s - io •/•
analisar a nova divisão territorial do trabalho resultante da £23 io •/•
inserção do Brasil como semiperiferia na economia-mundo
(Tabela 5.7). Primeiro, porque rompe com a segmentação entre
indústria, agricultura e serviços de apoio à produção, perm itin Figura 5A Produção industrial e força de trabalho por
do compreender, por exemplo, o Complexo Agroindustrial mesorregião -197 0-19 80. (Fonte: Egler, 1989)
(CAI), como a forma contemporânea de expansão do capitalis
mo no cam po brasileiro. Segundo, porque a e strutura em com-
188 189
plexo ind ust ria l pe rmite verifica r a separa ção territoria l entre e diversificou vigorosam ente através de investime ntos maciços,
as atividades de gestão e P & D das atividades produtivas ro princi pal me nte de empres as estatais. Atuando na montagem
tineiras. Assim, enquanto se centralizavam os escritórios de das indústrias básicas do complexo, principalmente na petroquí
gerência e os centros de pesquisa e desenvolvimento, verifica- mica, o Estado comandou o processo de descentralização do
va-se a dispersão de fábricas por diversos pontos do território, setor com a implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari,
depende ndo da qualificação necessária da força de trabalho. na Bahia, e posterior men te o de Triunfo, no Rio Grande do Sul.
No entanto, a dist ribu ição espa cial do comple xo mo stra que
as indústrias de química fina, intensivas em tecnologia, conti
nuam concentradas nas vizinhanças da cidade mundial, onde
T a b e l a 5.7 dispõem de m ão-de-obra treinada e quadros técnicos qualifica
Perfil de eficiência dos complexos industriais -1984 dos indispensáveis para a produção de substâncias químicas
(evolução dos índices de produtividade) de rigorosa especificação. Do mesmo modo, os ce ntros de gestão
do complexo químico, sejam de empresas estatais ou privadas,
Setores Tamanho estão c entraliz ados no eixo Rio—São Paulo, mesmo aquelas cri
Complexos Ascendente Descendente Indefinido Relativo adas para operar no Pólo de Camaçari, como é o caso da Nor
Químico 5,1 31,7 63,2 75,9 deste Químic a S.A. (NORQUISA), cujo escri tório c entral se si
Metal-mecânico 69,9 22,8 7,3 32,1 tua no centro financeiro do Rio de Janeiro.
Agroindustrial 44,8 39,0 16,2 22,0 De modo semelhante, o complexo metal-mecânico expan
Têxtil e calçado 91,5 8,5 — 11,2 diu sua área de atuação não apenas no entorno da cidade
Papel e impressão 43,3 34,4 22,1 4,5 mundial, mas, também, através da ação do Estado, em novas
Construção — 60,6 39,4 4,3 localizações. O eixo automobilístico do complexo continuou
TOTAIS 45,8 29,2 25,0 100,0
basicamente concen trado em São Paulo, exceto pela impla nta
Nota: Set or asce nde nte : pro du tiv ida de cres cen te de 1975 a 1984 . ção da FIAT nas vizinhanças de Belo Horizonte. Entretanto, novas
Setor descendente: produtividade decrescente de 1975 a 1984.
Setor indefinido: produtividade decrescente só depois da crise de 1982. plantas industriais, tanto mo ntadora s de veículos, como de auto
Fonte: Araújo, J. T. et a l , 1989. peça s, inici ara m sua o pera ção nas borda s da cida de m undial,
princi pal me nte no Vale do Par aíba Paul ista e no Sul de Minas
Gerais, onde havia mão-de-obra treinada e com baixo nível de
sindicalização.
A configuração espacial do complexo químico no Brasil é Especial destaque deve ser dado ao eixo eletroeletrônico, pois
ilustrativa deste processo. Originalmente concentrado no eixo sua configuração espacial foi bastan te influenciada pela implan
entre São Paulo e Rio, onde estão estabelecidas as grandes cor tação da Zona Franca de Manaus em 1967 que, devido às faci
pora çõe s mul tinaci onais, algu mas delas basta nte anti gas no lidades de importação de peças e componentes, reorientou a
mercado brasileiro - como é o caso da Bayer ou da Rhodia es montagem de aparelhos eletrônicos de consumo, como televi
tabelecidas no primeiro quartel deste século —ele se expandiu sões, rádios e aparelhos de som para o interior da Amazônia.
A Zona Franca não deve ser confundida com um a Zona de Pro-
190 191
cessamento de Exportações, pois a maior parcela de sua pro reinventadas sob o co ntrole do capital agroindustrial, como é
dução destina-se ao mercado interno. No entanto, apesar de o caso do colonato, típico das regiões cafeeiras do início do
todas as vantagens fiscais oferecidas, o preço interno dos pro século, que assumem novas dimensões justamente onde os
dutos oriundos de Manaus é quatro vezes maior do que os tratos cultura is são intensivos em mão-de-obra, como na cultu
praticad os no m ercado in ter nac ion al (A rau joJ .T. et al , 1989), ra da vinha ou na criação de pequenos animais, assim como na
e os incentivos, que deveriam con tribuir para o avanço no generalização do trabalho temporário e sazonal, caso dosbóias-
desenvolvimento do setor, são integralmente transferidos para frias que habitam a periferia de pequenas e médias cidades.
o exterior através da importação de componentes eletrônicos
efetuados por filiais de grandes corporações multinacionais.
A desarticulação entre as montadoras de pro dutos eletrôni
cos e a indústria de componentes, principalmente de semi T a b e l a 5 .8
condutores de larga integração, têm sido um entrave para o Empréstimos do sistema bancário nacional à agricultura
desenvolvimento da microeletrônica no Brasil. Isto afeta tanto -1973-1980 (em bilhões de cruzeiros)
a indús tria de informática, como a bélica, que são consid era
dos setores estratégicos pelas Forças Armadas. A eletrônica Banco do Brasil Bancos Privados
embarcada, que inclui desde equipamentos computadorizad os Período Total Valor % Valor %
pa ra auto móv eis até aviõ es, co nstitu i um, do s seg men tos m ais 1973 36,6 22,9 62,4 13,7 37,6
1975 105,0 71,2 67,8 33,8 32,2
atrasados do complexo, justamente devido à dificuldade de
1977 212,0 154,5 72,9 57,4 27,1
estabelecer os laços entre a indústria mecânica nacional e a 103,3 22,4
1979 461,3 357,9 77,6
microeletrônica estabelecida no exterior. 491,5 78,4 135,3 21,6
1980* 626,8
O terceiro complexo em importância no Brasil é o agroin * Janeiro/julho.
dustrial; sua conformação representa diretamente os resulta Fonte: Banco Central do Brasil - Departam ento Econômico.
dos da política agrícola da modernização conservadora. O de
senvolvimento do sistemad ecrédito xural, os subsídios diretos
à tecnificação e os incentivos à exportação foram os instru men
tos básicos para promover a expansão da grande empresa no Avia autoritária brasileira de tratar a questão agrária foi capaz
campo brasileiro (Tabela 5.8). Este processo converteu a agri de garantir a mod ernização da agricultura, através de sua cres
cultura em condição necessária da acumulação na indústria, cente tecnificação, mantendo intocável a grande prop riedade.
articuland o diretamente o complexo agroindustrial em forma As conseqüências deste processo foram inevitáveis, com a libe
ção, ao químico e ao metal-mecânico. ração maciça de grandes contingentes populacionais que se
As mud anças estrutu rais não se resumem aos aspectos eco dirigiram para as pequenas e grandes cidades, funcionando
nômico s e tecnológicos, mas abarcam tamb ém a estrutur a social. como reserva de mão-de-obra, acentuand o a histórica concen
Novas relações se estabelecera m entre trabalha dor es rurais, com tração da posse d a terra (Tabelas 5 . 9 a e 5.9b). Na década de 70,
ou sem terra, e com as corporações que ampliam sua área de como efeito de medidas anteriores ligadas às áreas fiscal e fi
atuação (Muller, 1982). Formas anteriores de produção foram nanceira e de melhoria das condições de acessibilidade —atra
192 193
vés de grandes eixos viários que articulam as áreas de maior que os agricultores do S udeste ou Sul. A questão é q ue isto foi
desenvolvimento econômico do país com espaços pouco inte conseguido através de tratamento privilegiado por parte do
grados à produ ção —a agricultura apresentou um a ampliação aparelho do Estado, que garantiu não apenas linhas de crédito
extrao rdiná ria da superfície cultivada. Registrou-se um aum ento especiais, como mercados cativos para a produção regional.
absoluto de 70 .708.955 hectares na área dos estabelecimentos,
o mais elevado desde 1940, como resp osta aos fortes incenti
vos governamentais à ocupação da mata amazônica e do cer
rado, consubstanciados em programas especiais, criados em T a b e l a 5.9b
1975, para o desenvolvimento do Brasil Norte e Central (Mes Posse da terra no Brasil - 1985
quita , O. e Silva, S.T. 1 988). (em percentagem de estabelecimentos rurais)
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escala das plantas de beneficiamento. A soja é um produto da truídas novas formas adequadas ao processo de produção e
nova fase da agricultura brasileira, onde o complexo agroin gestão da empresa capitalista em sua fase avançada. Neste
dustrial assume papel preponderan te na moldagem do espaço sentido, as redes m anifestam a territorialidade dos complexos
rural. industriais. (Fig. 5.6)
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2 1000
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1000
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A rede de circulação de mercadorias, expressa na malha rápida de informações a longa distância. A construção desta
rodoviária nacional, delimita, grosso modo, a área de mercado rede, iniciada durante os anos sessenta e intensificada durante
integrada. Não se trata propriamente de uma estrutu ra monta a década de setenta, mostra os efeitos da centralização dos
da a partir do setor m anufatureiro, pois que reflete as heranças processos decisórios na cidade mund ial e atende, princip alm en
do passado agrário-mercantil, quando assumia a forma de te, às demandãsTiõ^sêtõrfmànceiro, que de pende de ligações
“bacias de drenagem ” destinadas a integrar as áreas produtivas rápidas e confiáveis a longa distância para operar competitiva-
aos portos litorâneos, tal como a rede ferroviária. Sobre estas mente.
“bacias” superimpõe-se o traçado dos grandes eixos nacionais, A principal observação que deve ser feita quanto à rede de
que convergem para o centro manufatureiro no Centro-Sul do telecomunicações é que, desde o momento de sua concepção,
país, como, por exemplo, a BR-116, antiga Rio—Bahia, qu e se já nec essariamente é um a re de nacional. Em pou cas pa lavras,
constitui no primeiro grande eixo de interligação entre o Nor é a materialidade espacial da forma mais avançada de operação
deste e o núcleo industrial do Sudeste. capitalista, a em presa financeira multilocacional. É neste sen
A rede de energia superimpõe-se à área industrial central, tido que é possível compreender o rápido desenvolvimento do
mostrando a capacidade da atividade manufatureira de cons sistema nacional de comunicações a longa distância que, em
trui r sua base técnica territorial, que, no caso específico da rede duas décadas, interligou todo o território nacional, sem que a
de distribuição de energia elétrica, foi montada nos últimos tri nta grande maioria da população te nha acesso sequer a um apare
anos com maciço investimento estatal. É corrente conside rar as lho telefônico.
fontes de energia como um fator-chave de localização industri
al. Entretanto, dado o caráter tardio da industrialização brasi
leira, que já nasceu buscando atingir economias de escala, e
considerando a mobilidade da energia elétrica, a constituição O espaço transfigurado
do parque industrial ocorreu concomitantem ente com a cons
trução da rede de distribuição de energia, o que resultou na
extraordinária concordância entre a localização de plantas O caráter híbrido da semiperiferia se manifesta também ao
industria is e os circuitos da rede de energia elétrica. nível da estrutura espacial. A cidade mundial e a m alha progra
O resultado espacial deste processo, pode ser percebido mada tendem a sup erar as dimensões das regiões históricas, a
quando se compara o sistema de geração e distribuição de das regiões de política oficial, bem como a e strutura centro-
energia elétrica no Sudeste com seu congênere nordestino. periferia. Mas a fluidez do espaço é incomple ta, pelo me nos por
Enquanto na área industrial central observa-se o adensamento três razões.
dos circuitos, formando uma rede complexa, o sistema nordes Primeiro, a proposta de modernização conservadora é em si
tino se apresenta com eixos isolados que atendem os principais limitada, privilegiando grupos sociais, setores de atividades e
núcleos urba nos da região. lugares selecionados. Segundo, é forte a inércia espacial exer
Finalmente, a rede nacional de telecomunicações, expressa cida pelo padrão histórico conce ntrado do antigo arquipélago
no sistema de microondas, mostra que os maiores aglomera econômico, escala em que os domínios exercem expressão
dos urbanos estão interligados no que diz respeito à circulação máxima e diferenciada. Terceiro, a dimensão continental do
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país que perm ite expand ir a mobilizaçã o de rec ursos e o povo pelo contrá rio, como a quelas q ue têm na heterogenei dade seu
amento, m as favorece também a desigualdade. traço constituinte fundamental.
Apolitização da estrutura espacial neste contexto foi levada A questão que fica a descoberto, entretanto, é a de como
ao extremo, com o espaço tornando-se instrumento e condição compree nder o movimento de uma sociedade heterogênea. Ou
da mode rnização conservadora. A gestão estatal do território seja, já q ue ela não “evolui”na direção da hom ogeneid ade, qua l
foi eminentemente estratégica, envolvendo não apenas sua será o seu comportam ento dinâmico? É nesse ponto que o
administração em termos econômicos, mas também as relações conceito de semiperiferia de Wallerstein assume importância.
de poder. Entre 1955 e 1970, a política regional procuro u se Enquanto síntese contraditória, ela combina, em um mesmo
identificar com a construção da nação. A macrorregião foi a território e em um mesmo mom ento, espaços e tempos díspa
escala ótima de operação do tripé, tanto para promove r a uni res cujo ajuste é conseguido a partir de instrum entos políticos,
ficação do mercado nacional, como para a centralização do poder onde o Estado assum e papel central.
governamental. Na década de 70, os grandes projetos geridos O Estado participou da introdução das rápidas mudanças
pel as em presas estatais, em joint-ventures ou isoladamente, do mundo contemporâneo, sincronizando-as com a permanên
substituem a política regional através de novos ajustes com as cia de estrutu ras diacrônicas, cuj o tempo é definido por rotinas
frações hegemônicas regionais. solidamente enraizadas que tendem a “atrasar” o relógio da
modernidade. Sao ritmos e cadências completamente distin
tos, com diferentes velocidades que convivem em um mesmo
período tem pora l, obrigand o a uma complex a gestão dos rit
A espacialidade da semiperiferia mos de mudança.
O espaço dos fluxos, conectado aos circuitos internacionais
de capitais, mercadorias e informações, tende a “descolar-se”
Os modelos de análise disponíveis para apreender um a re do espaço dos lugares, fundado na perm anência de territoria-
alidade complexa como a brasileira podem ser grupados em lidades historicamente adquiridas, que constituem imensa
duas vertentes básicas. O primeiro deles se fundamenta nas resistência a transformações. A semiperiferia é o locus de fortes
estruturais duais, na c oncepção do tradicional que se opõe ao tensões que tendem a levar à fragmentação espacial, em várias
moderno como um freio que dificulta o desenvolvimento eco escalas, de mosaicos de modernidade em uma superfície irre
nômico e a difusão do progresso técnico. A superação da con gular de miséria.
cepção dual ista foi feita através do conceito de “hetero geneida O Brasil é ím par para exemplificar esta situação, contribu
de estrutura l”propost o originariamente por Anibal Pinto (1965), indo inclusive para melhor precisar o próprio conceito de
que refutava a aplicação mecânica de modelos fundados na semiperiferia. O status de potência regional foi alcançado atra
‘homogeneidade ’ das estrut uras econômicas e sociais, típicos vés de uma modernização conservadora, que produziu trans
das economias centrais, na América Latina. O m érito da con formações significativas, sem rom per com ordem social hierar
cepção de Pinto estava em romper o ‘nó górdio’ imposto pelo quicamente organizada. A gestão autoritária do território foi
dualismo, permitindo compreende r as sociedades latino-ame- um instrum ento essencial para produzir fronteiras, enquanto
ricanas, não como estruturas imperfeitas ou disformes, mas, indutoras de rupturas; garantir domínios, enquanto suportes
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do establishment e consolidar uma cidade mundial, enquanto ÿoa Vist£* /j
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Ree strutu raç ão territo rial
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Figura 5.9 Expansão da área metropolitana de São Paulo
—1930-1980. (Fonte: Retrato do Brasil, 1984)
Figura 5.10 Expansã o indu stri al no Estado de São Paulo —1975-
1986. (Fonte: Azzoni, 1989)
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