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RESUMO
Em tempos festivos, visando à comemoração da Cuiabá 300 anos, muito se fala,
remete e glorifica a cultura da terra, o linguajar, as comidas, danças típicas e
principalmente, o Centro Antigo, nosso objeto de estudo. Mas, a quantas anda a
efetiva valorização desse patrimônio cultural material? A fim de elucidar parte desse
questionamento, pretendemos resgatar algumas das Políticas Públicas (ocorridas a
partir da segunda metade da década de 1990 até os dias atuais), divulgadas como
de valorização do Patrimônio Cultural Material de Cuiabá/MT. Será com base no
reconhecimento dos fundamentos da estrutura de uma Unidade de Paisagem - Centro
Antigo, que reconhecemos para além dos limites do conjunto tombado, e na
aproximação de critérios de avaliação a serem aplicados nos momentos de
concepção, operação, operacionalização e resultados das políticas públicas, que
tentaremos analisar Leis de Uso e Ocupação do Solo, Planos, Programas ou Projetos
Urbanísticos que foram elaborados e implantados, de forma parcial ou em sua
totalidade no Centro Antigo, pelas três esferas governamentais.
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
O conjunto paisagístico, urbanístico e arquitetônico da área central de Cuiabá foi
tombado no início dos anos de 1990, mas se verifica que, mesmo após esta primeira
grande ação, transformações ao longo das últimas décadas impactaram em muito as
características dessa Unidade de Paisagem – o Centro Antigo de Cuiabá.
Para nós, o Centro Antigo de Cuiabá abarca o Centro Tombado e os Setores do
Entorno, como definidos por lei federal, mas vai além. Somamos a essas partes, porções
adjuntas que se consolidaram até a década de 1970/80, evidenciando crescimento
ou adensamento da cidade, sem (grande) ruptura com os principais fundamentos
urbanísticos do núcleo inicial, que reconhecidamente são os da “cidade tradicional”,
estruturando uma unidade.
Apoiados em De Luca & Santiago (2009), entendemos “Unidade de Paisagem” (UP)
como parte de um território caracterizado por uma combinação específica de
componentes paisagísticos e por dinâmicas reconhecíveis. Fica evidente que o Centro
Antigo é uma dessas unidades, parte do Território de Cuiabá.
Na atualidade, ao observarmos a descaracterização da UP-Centro Antigo, seja de seus
elementos isolados ou em conjunto, respondendo a dinâmicas urbanas incentivadas, e
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fronteiras do patrimônio: preservação como fortalecimento das identidades e da democracia
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Tombado de Cuiabá, que expressa, por meio das configurações físicas consolidadas, o
princípio da regularidade, fortemente aplicadas pela política urbanizadora portuguesa
no período colonial, e reconhecer estar presente UP-Centro Antigo de Cuiabá.
1.2. O Principio da Regularidade no Centro Antigo de Cuiabá
Reis Filho (1999) disserta que na política urbanizadora, as diretrizes urbanísticas
pautavam-se no princípio da regularidade1, arranjos compositivos entre os elementos
estruturadores do espaço. Assim, passa-se a evidenciar a importância dos edifícios
públicos isolados, como também das construções comuns desde que em conjunto.
Constituíam uma verdadeira tipologia urbanística e arquitetônica nos núcleos urbanos
coloniais. Nas Vilas e Cidades das colônias portuguesas, havia a exigência e
fiscalização da aplicação de normas urbanísticas que evidenciavam a intenção de
um projeto de conjunto coletivamente aceito. O mesmo ocorreu em Cuiabá, após ser
elevada à categoria de Vila por Portugal. As características, e caracterização desse
conjunto urbanístico e arquitetônico mantiveram-se preservadas em Cuiabá até
meados da década de 1950 (Figura 1 b e c), quando, na Capital começa a se discutir
a “ideia de modernidade”2 na qual foi baseada as intervenções a partir de 1950.
Em um segundo momento – o Ciclo da Administração Pública (1820-1940) -, a
estruturação urbana de Cuiabá sofre intensas transformações: da consolidação da
mancha urbana à implantação de serviços, como bonde por tração animal, rede
telefônica e, entre 1930-40, as obras oficiais no período do Governo Getúlio Vargas. É o
momento em que a mancha urbana ganha contornos mais nítidos e o repertório
arquitetônico se enriquece e diversifica com a construção de edifícios públicos no
largo do Palácio, no largo da Matriz e no caminho do Porto Geral, edificações
públicas, de maior porte e maior apuro no acabamento (FREIRE, 1997:2-54).
Será a partir dos anos de 1960, que a nova paisagem urbana, consequência das
aspirações de modernidade que imperavam, (...) Cuiabá passou (...) por mudanças
muito significativas e essas intervenções (...) descaracterizavam a cidade (...)
(ROMANCINI, 2005) e marcam o Ciclo de Modernização (1940-1968), que rompe com
a regularidade da Cidade Tradicional. É o momento em que o Governo do Estado
executou as obras de canalização do córrego da Prainha e, sobre ele e suas margens,
a criação da Avenida Ten. Cel. Duarte (1962). Esse se tornaria um dos grandes eixos
viário de estruturação do espaço urbano, intensificando a fragmentação de porções
do Centro Antigo. Embora formalmente Av. Ten. Cel. Duarte, os cuiabanos a
novos bairros a partir do vetor de expansão criado na década de 1940 - a Av. Getúlio Vargas,
principalmente; mais tarde, a alteração da fisionomia da cidade, construção de edificios
novos, preferencialmente verticais, sobre a área consolidada do centro antigo.
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Fonte: Delson, 1997 (a); Acervos: Arquivo Público de Mato Grosso- APMT (b); Museu da Imagem
e do Som – MISC/Cuiabá (c).
Mesmo que no Ciclo anterior (o da Sedimentação Administrativa) também imprimiu
transformações no espaço urbano, estas foram pautadas, em sua maioria, na inserção
de novas intervenções contíguas ao existente; o „novo‟ era acrescido ao „antigo‟; e
não destruindo o antigo, era um crescimento sem ruptura, tanto a nível espacial como
simbólico (BRANDÃO, 1997:2-79), ao contrário do que ocorreu naquele presente (no
Ciclo da Modernização), que clamava que o “tradicional” fosse desfeito pela
“modernidade”, rompendo com a regularidade que caracterizava Cuiabá.
Amadurece, então, o discurso da Preservação do Patrimônio (Edificado) como
manifestação da resistência e valorização da Cultura Cuiabana, movimento que se
inicia fortemente em final de 1970.
Ao longo dos anos de 1980 muitos se indignavam com as condições do Centro Antigo,
em um forte processo de descaracterização. Mas o estado de perplexidade sobre as
mudanças na Cuiabá Antiga que conheciam ganha densidade com as
manifestações, preocupações encabeçadas por grupos de arquitetos, entre outros
profissionais, reunidos nas mais diferentes associações e instituições; instigaram a
criação de “Comissão Técnica Municipal de Tombamento”, vereadores a propor
projetos de leis instituindo “normas para demolição de edifícios e mudanças
urbanísticas” no Centro Antigo e ainda, o tombamento provisório (BRANDÃO, 1997:3-
139). Anos depois, o tombamento definitivo do Centro Histórico de Cuiabá, que para
Claudio Conte:
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Para embasar esta análise, foi consultada a Instrução normativa do conjunto arquitetônico,
urbanístico e paisagístico da cidade de Cuiabá, de 1994, elaborada, na época, por técnicos
da PMC e Iphan/MT.
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Fonte: Guedes, 2017 (figuras “a”, “b” e “c” atuais); Figura “b” antiga, acervo MISC, s/d; s/a.
Freire, 1997 (figura “c” antiga).
A descaracterização da área já tomou intensas proporções, impactando assim, a
integração visual dos edifícios quanto sua tipologia, descaracterizou algumas quadras,
imprimindo vazios com a perda de unidades edilícias (sem quaisquer menções a sua
existência anterior), transformados em espaços livres públicos ou de acesso público,
que não integravam o conjunto urbanístico até antes do tombamento. Evidencia-se a
necessidade de (re)discussão da normativa, e das estruturas institucionais responsáveis
pela orientação, acompanhamento e fiscalização na sua aplicação, a fim de revisar
fragilidades, mas também valorização de seus pontos fortes.
2.3. Ações municipais e a preservação da Zona de Interesse Histórico - ZIH
Mas, se nos anos 1990 Cuiabá foi marcada pela criação e estruturação do sistema de
planejamento e gestão municipal – IPDU, SMADES, CMDU (Conselho Municipal de
Desenvolvimento Urbano), a Lei de Uso e Ocupação do Solo – 044/1997 e sua
complementar 103/2003, a segunda metade da década de 2000 é marcada pelo
desmantelamento dessa estrutura institucional e, consequentemente, por políticas
públicas desarticuladas e descontínuas. Dentre as questões urbanas emergentes,
outras recorrentes permanecem, entre elas, a premente necessidade de valorização
do Patrimônio Cultural Material, com destaque ao Conjunto Arquitetônico, Urbanístico
e Paisagístico de Cuiabá.
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Grupo de Pesquisa e Extensão - Estudos de Planejamento Urbano e Regional (ÉPURA/UFMT),
Iphan - Superintendência Mato Grosso; IAB/MT e o Sindicado dos Arquitetos (Sindarq-MT).
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Para essa avaliação foram consultadas as seguintes Leis Municipais: 044/1997 (Lei
Complementar de Uso e Ocupação do Solo - LUOS); Lei nº 103/2003 (regulamenta art. 48 da lei
complementar nº 044/97 de uso e ocupação do solo urbano no município de Cuiabá); Lei
Complementar 150/2007 (Plano Diretor Estratégico); Lei Complementar 231/2011 (LUOS) e Lei
Complementar 389/ 2015 (LUOS).
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de edifícios, em sua maioria, públicos, mas propostas para recuperar a maioria dos
edifícios em estado precário (ver Figura 5b) nem ao menos reduzirá a
descaracterização do conjunto urbanístico e paisagístico. Perde-se na valorização do
conjunto e fica claro que, posteriormente, na avaliação do critério eficiência no
momento “Resultado”, será pífia a relação entre recursos empregados e resultados
obtidos.
Figura 5 – Centro Antigo. À esquerda, “Mapa de estado de conservação: mascara laranja –
nosso recorte da UP-Centro Antigo; em tons de azul, estado de conservação dos edifícios: azul
claro – bom; azul médio - médio e; azul escuro – ruim; 5b – direita -, Mapa de Intervenções PAC-
CH Cuiabá.
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REFERÊNCIASA BIBLIOGRÁFICAS
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