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O DESENVOLVIMENTO E OS DIREITOS HUMANOS

4.1 DIREITOS HUMANOS - NOÇÃO, CARACTERÍSTICAS GERAIS E EVOLUÇÃO

Desde sempre que a Humanidade se depara com situações que violam os


direitos humanos quer sejam de alguém individual ou de um grupo de
pessoas ou comunidade. Alguns exemplos de situações onde se observa
claramente, uma violação dos direitos humanos são o colonialismo, a
escravatura, a guerra, a fome e todas as situações em que há desigualdades,
seja de género, salarial, racial, entre outras.

Após a queda do Antigo Regime, novos valores permitiram a implementação


de novos direitos. Existiram 2 documentos de primordial relevância para a
implementação destes direitos civis e políticos, nomeadamente: a Declaração
de Independência dos EUA que proclamou: Direito de Associação; Liberdade
Religiosa; Liberdade de Expressão do pensamento; Liberdade de Imprensa;
Não sujeição a castigos cruéis e a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão que refletiu influências da Declaração de Independência dos EUA.

Como consequência destes documentos foram criados os Direitos Humanos


de 1ºGeração, que são um conjunto de direitos, liberdades e garantias
individuais saídos dos documentos já referidos. Estes direitos são de índole
individual, civil e política, nomeadamente: o direito à vida, à liberdade de
expressão, religiosa e de imprensa, o direito à segurança, à propriedade, à
resistência, à opressão, o direito a processos justos de acordo com a lei, o
direito a não ser sujeito a castigos cruéis e o direito de associação, entre
outros. Contudo, as mulheres não puderam beneficiar destes direitos, apesar
do mesmo esforço ter sido empreendido, na luta pelos mesmos, que os
homens.

Foram exemplos de mulheres que lutaram pelos seus direitos, Olympe de


Gouges que publicou a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, Mary
Wollstonecraft que publicou o livro “Uma Reivindicação dos Direitos da
Mulher” e Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher a votar em Portugal.
Com o desenvolvimento do capitalismo e o crescimento da indústria, grandes
movimentos populacionais foram observados, ao longo do século 19,
formando um massivo contingente de trabalhadores que se deslocou para as
cidades em busca de emprego nas indústrias, vivendo, contudo, em
condições deploráveis, amontoados em bairros. Neste sentido, várias lutas e
movimentos sociais foram criados com vista à manifestação do
descontentamento pelas duras condições de vida e trabalho, tendo-se
alcançado de facto vários direitos políticos, económicos e sociais, dos quais
se destacam uma jornada de trabalho de 8 horas, a implementação do
princípio “Trabalho igual salário igual” e o direito à contratação coletiva, à
segurança social, a férias remuneradas e a condições de trabalho dignas.

Foi do continente Africano que saíram os primeiros direitos de 3º geração,


mais precisamente, devido à aprovação da Carta Africana dos Direitos
Humanos que contempla direitos de índole coletiva. Foi então aprovado o
direito dos povos ao desenvolvimento e a um ambiente equilibrado, o que
levou a ONU também à implementação dos direitos coletivos em 1986. São
eles o direito à paz e ao desenvolvimento e o direito ao usufruto de um
ambiente equilibrado e do património da Humanidade.

Mas e o que são afinal os Direitos Humanos?

Segundo a ONU os Direitos Humanos são e passo a citar “direitos inerentes a


todos os seres humanos, independentemente da sua raça, sexo,
nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. Os direitos
humanos incluem o direito à vida e à liberdade, liberdade de opinião e
expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre outros. Todos têm
direito a estes direitos, sem discriminação.” Esta declaração integra as 3
gerações de direitos humanos, num conjunto de 30 artigos que se
caracterizam pela sua universalidade, indivisibilidade, interdependência e
inalienabilidade.

Nacionalmente, isto espelhou-se apenas com o 25 de abril de 1974, que veio


trazer a extensão destes direitos políticos, económicos, sociais, coletivos e
civis a toda a população.
Nos países ocidentais, a 1º geração de direitos surgiu da luta contra o Estado,
enquanto que a 2º e 3º gerações surgiram do facto das sociedades passarem
a considerar o Estado como fonte e garante desses direitos económicos,
sociais e políticos, concretizando-se esta passagem da 1º para a 2º e 3º
gerações numa crescente intervenção do Estado na esfera económica e social.

Contudo, a partir da década de 80 do século 20, os países do Sul e de outras


regiões do mundo começaram a questionar os países do Norte acerca dos
fundamentos dos Direitos Humanos, considerando estes os responsáveis pela
pobreza, exclusão e atentados contra o ambiente a nível global, ou seja,
acusando os países do Norte de violarem esses mesmos direitos. Neste
sentido, devido à grande diversidade cultural das sociedades, têm-se
originado debates sobre as políticas de Direitos Humanos que passaram a ser
analisadas como culturais e globais, pelo que surgiu a necessidade de
reconceptualização dos Direitos Humanos como direitos intermulticulturais
devido à sua dimensão cultural.

4.2 ECONOMIA E JUSTIÇA SOCIAL - O DIREITO AO DESENVOLVIMENTO

Apesar do aparente desenvolvimento atual e das vantagens que adviram do


processo de globalização, ainda persistem grandes desigualdades de
rendimento, riqueza, saúde e educação, o que impossibilita grandes grupos
de pessoas de fazerem escolhas, recuperarem de choques económicos e de
desastres ecológicos e de viverem uma vida plena. Atualmente, as
sociedades com maior desenvolvimento são as que apresentam menores
assimetrias sociais.

Por exemplo, a Suíça que, de acordo com o IDH 2021, apresenta o primeiro
maior nível de desenvolvimento humano, é uma das que menores
desigualdades sociais apresentam. Ao analisar os valores revelados pela ONU
sobre o desenvolvimento humano, podemos verificar que em pleno século 21
ainda existem grandes desigualdades em termos de rendimento, riqueza,
saúde e educação especialmente no continente africano, e na américa do sul.
Portugal encontra-se no 38º lugar do IDH 2021 (uma curiosidade, é que a
posição mais alta que o nosso país já ocupou neste ranking, foi o 33º lugar,
em 1998).

A justiça social encontra-se, deste modo, comprometida, uma vez que vastas
camadas da população mundial não têm acesso aos bens essenciais, à
satisfação das necessidades básicas e não desfrutam de igualdade de
oportunidades.

DIREITO AO DESENVOLVIMENTO

O direito ao desenvolvimento ultrapassa o âmbito individual, sendo, por isso,


um direito coletivo inserido nos Direitos Humanos de 3ª Geração. Assim,
implica que todos tenham acesso à satisfação das necessidades básicas e que
haja igualdade generalizada de oportunidades. Deste modo, o
desenvolvimento económico deve ter em conta uma repartição equilibrada
da riqueza e um respeito pelo equilíbrio ambiental.

Se olharmos para o Mundo como um puzzle, é fácil compreender que nem


todas as suas peças, ou seja, os seus países são iguais. Daí sugere-se que nem
todos têm o mesmo grau de desenvolvimento, colocando em causa o direito
ao desenvolvimento que, teoricamente, é igual para todos os países, mas que,
na prática, não se verifica.

AJUDA AO DESENVOLVIMENTO

Como tal, foi criada uma ajuda ao desenvolvimento após a 2ª Guerra Mundial,
direcionada para os países mais afetados por este conflito, designadamente a
Europa Ocidental e o Japão. Contudo, a partir de 1955, esta ajuda foi
expandida para as comunidades europeias da Ásia e de África, que iniciaram
o seu processo de independência nacional, e também para os países da
América Latina, já independentes desde o século XIX.

Esta ajuda teve o seu início através da criação, no âmbito das Nações Unidas,
da UNICEF (United Nations Children´s Fund), da FAO (Food And Agriculture
Organization), da WHO (World Health Organization) e, ainda, do Programa
Alargado para o Desenvolvimento Económico dos Países Subdesenvolvidos
(que, em 1965, se transformou no PNUD). Este programa pretende fazer face
aos graves problemas dos países em desenvolvimento que herdaram
estruturas económicas deficientes, em consequência da exploração colonial.
Estes países encontravam-se em situações de subdesenvolvimento, o que,
num contexto de Guerra Fria, acentuou ainda mais as necessidades sentidas
pelas populações.

Esta ajuda destina-se a diferentes fins e setores:

• ajuda humanitária - destinada a populações estruturalmente muito pobres

• ajuda de emergência - destinada a vítimas de desastres ambientais ou


guerras e conflitos

• cooperação técnica - destinada à transferência de conhecimentos e de


tecnologia e à formação de quadros técnicos nos países em desenvolvimento

• alívio e reestruturação da dívida externa - destinada a reduzir a dívida


externa de países em desenvolvimento. Esta dívida não se deveu aos países
que efetivamente estavam endividados, mas fundamentalmente devido às
medidas dos países do Norte, ou seja, aos países credores, que aumentaram
os juros dos empréstimos contraídos pelos países em desenvolvimento e
reduziram as importações de matérias-primas e produtos agrícolas destes
países, a par da valorização do dólar.

Para além destas ajudas, existe ainda a Ajuda Pública ao Desenvolvimento


(APD), fornecida por um Estado ou por um organismo público internacional.
Pode ser prestada sob a forma de doação ou empréstimo com juros
inferiores aos do mercado. Segundo o CAD (Comité de Ajuda ao
Desenvolvimento da OCDE), a APD distingue-se de outros fluxos financeiros
por ser direcionada exclusivamente ao desenvolvimento. A APD pode ser de
dois tipos:

• ajuda bilateral - entre dois Estados, o doador e o recetor;

• ajuda multilateral - entre uma organização e um Estado, por exemplo, a


ajuda que envolve o país recetor e as agências da ONU ou da União Europeia.
OBSTÁCULOS INTERNOS E EXTERNOS À EFICÁCIA DA AJUDA AO
DESENVOLVIMENTO

Apesar de todos os esforços empenhados com vista ao desenvolvimento dos


mais diversos países, existem obstáculos à eficácia da ajuda, que são da
responsabilidade não só dos países destinatários (obstáculos internos), como
também dos países doadores (obstáculos externos).

obstáculos internos

De entre os obstáculos internos destacam-se:

•A ajuda canalizada para projetos grandiosos, que não melhoram a situação


da população

•Parte da ajuda é apropriada por elites corruptas

• A ajuda pode levar a uma maior dependência externa, paralisando


reformas estruturais necessárias e pode provocar ainda tensões inflacionistas
devido ao aumento da procura, da massa monetária em circulação e das
taxas de câmbio.

obstáculos externos

Nos obstáculos externos salientam-se:

•A insuficiente ajuda, apenas simbólica e canalizada para projetos de


interesse dos países doadores, não correspondendo às necessidades dos
países recetores

•Os países recetores nem sempre são os mais carenciados, mas aqueles que
se encontram na esfera de influência do país doador e que são aliados
geopolíticos

•Estas ajudas perpetuam as relações de dependência externa entre os países


a diferentes níveis como, por exemplo, tecnológico e financeiro

DIÁLOGO NORTE-SUL
De forma a colmatar as desigualdades existentes entre os países
desenvolvidos (países do Norte) e os países em desenvolvimento (países do
Sul), em 1964, a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o
Desenvolvimento estabeleceu o Diálogo Norte - Sul, com a finalidade de
promover estas duas áreas nos países em desenvolvimento. A solução será,
então, um comércio justo e seguro, e não as ajudas internacionais.

objetivos do milénio

Os 8 objetivos do milénio, aqui espelhados, foram definidos pela ONU em


2000 e deveriam ser alcançados até 2015. Contudo, tal não aconteceu por
serem vagos e demasiado abrangentes.

objetivos de desenvolvimento sustentável

Por isso, estabeleceram-se os objetivos de desenvolvimento sustentável. São


17 os objetivos definidos pela ONU em 2015 para promover o
desenvolvimento global até 2030. Baseiam-se nos Objetivos do Milénio,
procurando concretizá-los e responder a novos desafios e realidades.
Constituem um grupo integrado e indivisível de prioridades a nível mundial
para o desenvolvimento sustentável. Assim, cabe a cada um de nós operar no
sentido da sustentabilidade para o bem das gerações vindouras.

JUSTIÇA SOCIAL À ESCALA REGIONAL/LOCAL

Existem 2 tipos de pobreza: a pobreza absoluta e a pobreza relativa. A


pobreza absoluta ocorre quando um determinado indivíduo ou grupo se
encontra num nível abaixo do rendimento mínimo, o que não lhes permite
comprar bens essenciais. Por sua vez, a pobreza relativa ocorre quando um
indivíduo ou uma família tem o mínimo necessário para subsistirem, mas não
possuem os meios necessários para viver de acordo com a área onde estão
inseridos, nem com pessoas de status social comparável.

Um dos principais fatores que origina a produção e a reprodução da pobreza


é o funcionamento do mercado de trabalho ao gerar o desemprego. O
desemprego (para as pessoas que têm menos qualificações) passa a ser um
desemprego de longa duração, uma vez que estes não têm a capacidade de
empregabilidade ,ou seja, de se adaptarem a novos empregos qualificados,
ou seja isto vai originar e reproduzir mais pobreza. A existência de pobreza
põe em causa o direito ao desenvolvimento e à justiça social, porque os
grupos sociais pobres não conseguem satisfazer as necessidades humanas
básicas.

EXCLUSÃO SOCIAL

Estes dados sobre a desigualdade social demonstram os efeitos da


globalização financeira e neoliberal, acentuam o individual relativamente ao
social, criando sociedades de fraturas sociais e de grandes desigualdades. O
desenvolvimento de uma economia solidária permite que as desigualdades a
nível social sejam reduzidas. Por isso em algumas sociedades existe um
equilíbrio entre o estado intervencionista, o mercado e as atividades não
produtivas, assim existe a implementação de uma economia solidária e uma
redistribuição do rendimento. As atividades não produtivas servem para que
muitas pessoas se sintam úteis e desenvolvam laços que levem a uma
integração social.

A OCDE (organização para a cooperação e desenvolvimento) pensa que com a


adoção de novas políticas a nível económico e social a situação pode ser
alterada a constante intensificação das desigualdades sociais. A OCDE
também defende que, além das transferências sociais e de uma política fiscal
justa(estas duas que são fundamentais na diminuição das desigualdades
sociais) o estado ainda deve oferecer serviços públicos de qualidade.

POLÍTICAS DE COMBATE À POBREZA EM PORTUGAL

Para combater a pobreza e a exclusão social são necessárias políticas que vão
ao encontro das diferentes necessidades que decorrem da diversidade de
situações. Além de um modelo económico que rompa com o atraso
estrutural da economia portuguesa, responsável por produzir e reproduzir
formas de pobreza, é necessário que medidas sejam tomadas como por
exemplo o rendimento social de inserção (RSI); a regulação e a correção das
imperfeições do mercado de trabalho; a fixação de um salário mínimo digno
e a educação e a formação profissional.
4.3 ECONOMIA E CIDADANIA - O DIREITO À NÃO DISCRIMINAÇÃO E A UM
COMPLETO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Falemos agora de discriminações. Primeiramente, discriminar não é nada


mais do que prejudicar ou favorecer alguém pelo facto de serem diferentes
da maioria da população e não permitir que exerça os seus direitos enquanto
ser humano.

Mesmo sendo uma violação ao artigo 7° da Declaração Universal dos Direitos


Humanos, continuam a existir inúmeras situações de discriminação.

DISCRIMINAÇÃO NEGATIVA

Tratar o desigual como igual, além de não alterar a situação em que se


encontram os indivíduos que sofrem a discriminação, acentua essa
desigualdade.

DISCRIMINAÇÃO DE GÉNERO

Discriminação de género consiste em restringir o acesso das mulheres aos


recursos e aos direitos humanos. Segundo a ONU Mulheres, a discriminação
de género tem como consequência os empregos precários e com baixos
salários, explicação para o facto de as mulheres constituírem também a
maioria das pessoas pobres, só se podendo erradicar a pobreza e a violência
contra estas através de medidas que façam com que todas possam usufruir
dos seus direitos.

A atual campanha da ONU Mulheres, Pequim+20 (no âmbito da plataforma


de ação de Pequim), tem como lema : «Empoderar as mulheres. Empoderar a
humanidade. Imagine!» Vários estudos, segundo a ONU mulheres, têm
demonstrado que por cada ano a mais de educação para as mulheres, a
mortalidade infantil diminui em 9,5%.

A igualdade de oportunidades para as mulheres, em todas as áreas,


nomeadamente, o direito à educação, a informação sobre saúde reprodutiva
e o direito a salário igualará trabalho igual, possibilitará um melhor nível de
vida. Com isto, o cumprimento dos Objetivos do Milénio e dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável serão mais fáceis de alcançar.
DISCRIMINAÇÕES DE GÉNERO EM PORTUGAL E NA UNIÃO EUROPEIA

O sucesso das raparigas/mulheres é premiado pelo sistema educativo, mas


não o é pelo mercado de trabalho (tendo em conta as taxas de feminização
do desemprego, da precariedade, da pobreza e a discriminação no acesso ao
emprego e a funções de chefia).

Existem dois tipos de segregação:

- Segregação horizontal do mercado de trabalho - concentração de mulheres


ou homens em diferentes tipos de atividade, ficando as mulheres confinadas
a um leque mais restrito de setores ou profissões;

- Segregação vertical do mercado de trabalho - concentração de mulheres ou


homens nos níveis mais baixos da hierarquia profissional.

Simultaneamente, continuam a ser elas quem asseguram maioritariamente


as tarefas domésticas. A crescente participação das mulheres no mercado de
trabalho não foi acompanhada por igual participação dos homens na esfera
privada. É neste contexto de relações sociais de género assimétricas que se
baseiam as diferenças salariais entre homens e mulheres.

DESIGUALDADES SALARIAIS

Segundo a comissão europeia, “na UE, em média, as mulheres ganham, por


hora, cerca de 16% menos do que os homens”.

Em Portugal, atualmente, a diferença salarial entre as mulheres e os homens


(em termos de remunerações médias mensais de base) é de 18%. Essa
diferença é tanto maior quanto mais elevado o nível educacional, atingindo
27,4% nas categorias mais qualificadas.

Existem, também, mais mulheres a receber o salário mínimo do que homens


e, no que respeita às pensões de velhice, a desigualdade atinge 58,9%.

DISCRIMINAÇÃO ECONÓMICA

A pobreza constitui uma discriminação económica e é uma violação dos


direitos económicos e sociais, porque priva os seres humanos da satisfação
de necessidades básicas, como as de alimentação, saúde, educação e
habitação; priva os indivíduos do acesso ao trabalho e à segurança social e a
uma parte dos efeitos do progresso social.

Apesar de nos últimos anos ter acontecido um crescimento económico em


alguns países, por exemplo os BRICS, a diferença entre estes países e os
países desenvolvidos ainda está bem presente.

À escala regional e local, também subsistem desigualdades económicas e


sociais. A crise financeira mundial conduziu a Europa à estagnação económica,
e alguns países já se encontram numa fase de recessão (o PIB não cresce
durante dois trimestres consecutivos). A economia real - produtora de bens e
serviços - encontra-se contraída e o desemprego não para de subir.

DISCRIMINAÇÃO ÉTNICA

Nas atuais sociedades industriais coexistem diferentes culturas, associadas


em grande parte aos fluxos migratórios que se têm vindo a dirigir para as
regiões mais prósperas. Deste modo, a Europa Ocidental e do Sul apresentam
uma grande heterogeneidade étnica, pois recebem imigrantes de várias
regiões do mundo. Em Portugal também convivem atualmente diversas
comunidades, muitas delas provenientes dos PALOP. Estas comunidades
migrantes passaram a ser denominadas por minorias étnicas, ou seja,
pessoas migrantes que pertencem a uma categoria que vive numa situação
de desigualdade social em relação às outras.

Apesar da imigração se prolongar com o tempo, devido ao reagrupamento


familiar, esta permanência no país de acolhimento não se traduziu por uma
maior integração social. Estas minorias são muitas vezes alvo de preconceito
e de discriminação, habitando muitas vezes em locais mais pobres na
periferia das cidades, possuindo rendimentos completamente diferentes do
resto da população. Os imigrantes de segunda geração, já nascidos no país de
acolhimento e, muitas vezes, com a nacionalidade desse país, continuam a
sofrer discriminações, reproduzindo, em geral, as condições de vida dos seus
pais e mães - maior desemprego, precariedade, e salários mais reduzidos.
A discriminação baseia-se muitas vezes no etnocentrismo, que consiste no
receio aos que vêm de fora, o que leva os locais a julgar as outras cultura com
base na sua. Ao etnocentrismo está muitas vezes associado o racismo e a
xenofobia.

Nos nossos dias, continua a existir uma forte relação entre assimetrias sociais
e diferenças culturais nos países de destino, o que provocou uma série de
movimentos sociais e ações coletivas que exigem medidas de integração
social.

DISCRIMINAÇÃO DE ORIENTAÇÃO SEXUAL

As práticas e os comportamentos associados ao sexo não são universais nem


imutáveis, pois dependem de múltiplos fatores. As influências do meio social
são determinantes no comportamento sexual, conduzindo a uma grande
diversidade na sexualidade humana. desde sempre que têm coexistido várias
orientações sexuais: a heterossexualidade, a homossexualidade feminina e
masculidade e a bissexualidade.

Atualmente, os preconceitos em relação a outras orientações sexuais, para


além da heterossexualidade, estão a perder peso. Os movimentos de gays e
de lésbicas, de pessoas transexuais e transgénero e intersexo têm vindo a
denunciar as discriminações a que estas pessoas se encontram submetidas,
desenvolvendo ações pela igualdade de direitos contra as discriminações.
Estes movimentos tiveram origem nas décadas de 1960 e 1970, nos EUA.

DISCRIMINAÇÃO POSITIVA

Enquanto discriminação negativa prejudica e impede que um individuo ou


grupo tenha possibilidade de exercer os seus direitos, a discriminação
positiva, para repor a igualdade de oportunidades, favorece o individuo ou
grupo diferente, desenvolvendo ações de formação.

A discriminação positiva defende medidas diferentes para as mesmas


situações, para romper com a reprodução social das discriminações negativas.
Trata o diferente, no sentido de ajudar a alterar a situação de desigualdade
em que se encontra - é, no fundo, uma forma de compensação pelas
discriminações negativas múltiplas a que muitos seres humanos se
encontraram sujeitos no passado, mas também uma forma de prevenção de
futuras situações de desigualdade.

Contudo estas medidas são bastante controversas, pois desta forma está-se a
prejudicar pessoas que não têm culpa das discriminações passadas. Outros
críticos destas medidas afirmam que pode fomentar o racismo, a xenofobia e
o sexismo, pois as pessoas beneficiadas podem não ser competentes.

Já os defensores destas medidas afirmam que as mesmas são temporárias, e


que a falta de competência referida também existe nos grupos dominantes, e
que nos grupos discriminados ela existe devido à falta de competência.

Em Portugal, a lei da paridade constitui uma medida de discriminação


positiva, ao garantir uma representação miníma de 33% a ambos os sexos,
nas listas para as eleições ao Parlamento Europeu, à Assembleia da República
e às autarquias locais.

CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

A fim de se combaterem as múltiplas discriminações a que muitos seres


humanos se encontram sujeitos, é necessária, não só, a implementação de
políticas ativas de promoção da igualdade de oportunidades, como também
a adoção de ações que desenvolvam a própria consciência subjetiva dos
direitos de que todos são portadores. Todos os indivíduos que integram a
sociedade devem poder exercer os seus direitos de cidadania, em plena
igualdade.

É através do desenvolvimento humano, que situa as pessoas no centro das


decisões políticas, que se poderá promover uma cidadania ativa, reforçar a
democracia e a sustentabilidade.
4.4 ECONOMIA E ECOLOGIA - O DIREITO A UM AMBIENTE SAUDÁVEL E A UM
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Para que haja desenvolvimento numa sociedade é necessário ter meios de


subsistência suficientes, serviços de saúde e de educação qualificados, acesso
a uma informação fiável, usufruindo de projetos culturais e vivendo com
dignidade e conforto, fatores que contribuirão para o desenvolvimento dessa
sociedade. No entanto, o desenvolvimento é um direito que homens e
mulheres podem exigir tanto para si como para futuras gerações.

Relativamente a esta forma de desenvolvimento, deve ser feita de modo a


que não prejudique as gerações vindouras assim como não deve prejudicar o
nosso planeta, uma vez que, a Economia e a Ecologia devem estar unidas de
modo a proteger tudo o que nos rodeia. Deste modo, têm sido discutidos
vários tipos de desenvolvimento de modo a que se respeitem estas duas
áreas.

No entanto, definiu-se o desenvolvimento sustentável como um modelo de


desenvolvimento que se baseia na satisfação das necessidades atuais sem
colocar em risco a sobrevivência das gerações futuras. Este modelo ficou
definido no Relatório da Comissão Mundial sobre o Ambiente e
Desenvolvimento das Nações Unidas, cujo objetivo é encontrar um modelo
de desenvolvimento para o futuro. Assim todos os países juntaram-se de
modo a desenvolver um relatório que ficou conhecido por Relatório
Brundtland.

O Protocolo de Quioto previa uma redução, até 2012, de pelo menos 5,2%
das emissões de gases efeitos de estufa, do que em 1990. Contudo, este
protocolo foi já revisto, estabelecendo novas metas.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Ter um desenvolvimento sustentável é de extrema importância. Este procura


equilibrar as necessidades económicas, sociais e ambientais, para que
possamos ter um mundo mais justo e equitativo, onde todos tenham acessos
a recursos básicos como água, alimentos e energia, e onde possamos
proteger e conservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais.
Além disso, o desenvolvimento sustentável pode trazer benefícios
económicos, como criação de empregos verdes, promoção da inovação,
aumento da produtividade, eficiência energética e pode ajudar a reduzir a
pobreza e a desigualdade social.

Nesta conceção de desenvolvimento estão implícitos 2 conceitos básicos:

- Conceito de necessidades, em especial nos países menos desenvolvidos,


onde deverão ser satisfeitas, primordialmente, as necessidades básicas;

- Conceito de limites ao crescimento, que tem em conta a necessidade de


sustentar o próprio processo de desenvolvimento do país, dentro de
parâmetros que não prejudiquem o ambiente.

Com o objetivo de impedir que o planeta se esgote para as pessoas mais


novas e para as gerações vindouras, foram definidos doze princípios do
desenvolvimento sustentável, pela Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992.

Alguns deles são:

- Prevenção - devem procurar-se ações que identifiquem e atuem sobre os


impactos negativos na qualidade de vida da população, e não somente atuar
sobre a poluição na fase final do processo produtivo;

- Poluidor-Pagador- princípio segundo o qual a entidade poluidora deverá


suportar os encargos da recuperação do ambiente, suspendendo, também a
atividade poluente;

- Envolvimento da comunidade: cabe às pessoas mais diretamente envolvidas


contribuírem para a procura de soluções

A RESPONSABILIDADE DE PAÍSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO


RELATIVAMENTE ÀS QUESTÕES ECOLÓGICAS

Tanto os países desenvolvidos como os países em desenvolvimento têm


responsabilidades em relação às questões ecológicas. Os países
desenvolvidos têm sido os maiores emissores de gases de efeito de estufa e
têm uma responsabilidade maior em reduzir as suas emissões e apoiar a
transição dos países em desenvolvimento para economias de baixo carbono.

No entanto, muitos países em desenvolvimento estão em processo de


industrialização e urbanização, o que pode levar a um aumento nas emissões
de gases de efeito de estufa e na degradação ambiental. Portanto, é
importante que todos os países trabalhem juntos para abordar as questões
ecológicas, compartilhando tecnologias, conhecimentos e recursos para
garantir um futuro sustentável para todos.

Apesar de Governos e várias organizações terem apresentado propostas e


assinarem protocolos, a maior parte dos países responsáveis pela situação
atual, como é o caso da China, dos países emergentes e dos países mais
desenvolvidos, não cumpriram os objetivos de redução da emissão de CO2,
enunciados na Conferência de Copenhaga de 2009.

Esta conferência comprometeu-se a atingir um total de emissões mundiais de


52 giga toneladas. No entanto, este limite seria insuficiente para conter o
máximo de aquecimento do planeta em 2ºC, de acordo com o PNUMA
(Programa das Nações Unidas para o Ambiente), que estabeleceu como
limite máximo até 2020 uma redução de emissões de CO2 para um total de
44 gigatoneladas.

MEDIDAS ECONÓMICAS E ECOLÓGICAS PARA UM DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

Existem muitas medidas econômicas e ecológicas que podem ser tomadas


para promover um desenvolvimento sustentável. Algumas medidas incluem
a promoção de tecnologias limpas e renováveis, como a energia solar e eólica,
a implementação de políticas públicas que incentivem a conservação
ambiental, como a criação de áreas protegidas ou a implementação de
impostos sobre a poluição, e a promoção de práticas sustentáveis, como a
redução do consumo de energia e a reciclagem de materiais.

Assim destacam-se medidas como as energias alternativas; as boas práticas


relativas à reciclagem e a agricultura biológica
Além disso, é importante que as empresas sejam incentivadas a adotar
práticas sustentáveis, como a redução do uso de materiais não renováveis e a
implementação de processos de produção mais eficientes.

Por isso, é essencial que haja uma conscientização geral sobre a importância
da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente, para que as pessoas
possam tomar medidas individuais para reduzir a sua pegada ecológica.

ENERGIAS ALTERNATIVAS

A utilização de energias renováveis ou energias alternativas, constitui uma


alternativa às tradicionais fontes de energia, baseadas em energias não
renováveis. Os recursos utilizados pelas energias alternativas são quase
inesgotáveis e têm poucos efeitos negativos para o ambiente e para a
população, por oposição às energias não renováveis que além de serem
produzidas e repostas pelo planeta a uma velocidade muito inferior à de
consumo são também altamente poluentes

VANTAGENS E DESVANTAGENS DE DIFERENTES TIPOS DE ENERGIA

(falar de alguns exemplos de energias)

RECICLAR, REDUZIR E REUTILIZAR

Esta técnica dos 3R é conhecida por reutilizar os produtos já utilizados, com


vista à poupança e à sua reorientação para outro tipo de utilizações; a prática
da redução, tem a finalidade de poupar, e a reciclagem, permite a redução de
lixos, a poupança de recursos e a preservação do meio ambiente. Conclui-se
que tal medida tem fundamental importância numa era de consumos
excessivos em que a quantidade de resíduos produzidos é incalculável

INDÚSTRIAS VERDES

As indústrias verdes procuram reduzir o impacto ambiental das suas


atividades, adotando práticas mais sustentáveis e responsáveis. Essas
indústrias pretendem diminuir o consumo de recursos naturais, minimizar a
geração de resíduos e emissões poluentes e adotar tecnologias limpas e
renováveis.
A adoção de práticas mais sustentáveis pelas indústrias é importante para
garantir um futuro mais limpo e saudável para todos.

AGRICULTURA BIOLÓGICA

A agricultura biológica é um sistema de produção que promove e melhora a


saúde do ecossistema agrícola, os ciclos biológicos e as atividades biológicas,
produzindo produtos de melhor qualidade e permitindo a regeneração
adequada dos solos, impedindo a sua degradação.

Os alimentos produzidos pela agricultura biológica são considerados mais


saudáveis e nutritivos, pois não contêm resíduos de agrotóxicos ou outros
produtos químicos. Além disso, a agricultura biológica contribui para a
preservação do meio ambiente e para a promoção da sustentabilidade.

DIREITOS AMBIENTAIS

Os direitos ambientais são mais uma categoria de direitos a que todos os


homens e mulheres aspiram, com vista a uma vida com mais qualidade. Na
alimentação, vestuário ou no local de residência, as populações têm, de facto,
o direito a viver sem produtos que lhes deterioram a saúde ou retirem bem-
estar ambiental.

Os direitos ambientais são um exemplo dos direitos de 3ª Geração – os


direitos que promovem a fraternidade entre os povos do mundo. Para tal,
todas as pessoas, incluindo os governos dos países desenvolvidos e em
desenvolvimento, deverão cooperar a fim de promoverem um
desenvolvimento sustentável.
4.5 ECONOMIA, DESENVOLVIMENTO E DIREITOS HUMANOS

DESENVOLVIMENTO HUMANO SUSTENTÁVEL

O desenvolvimento, a democracia e a liberdade são interdependentes. Deste


modo, a promoção de um desenvolvimento sustentável e solidário implica o
respeito pelos direitos humanos, assim como o reconhecimento de deveres e
responsabilidades dos indivíduos e grupos sociais.

O desenvolvimento humano, sustentável e solidário permite a eliminação da


pobreza, privação social, incompetência dos serviços públicos. Inclui
crescimento do PIB por habitante, redução das desigualdades, igualdade de
oportunidades. Implica respeito pelas três gerações dos Direitos Humanos e
sua interdependência

DESENVOLVIMENTO COMO LIBERDADE

Sem existir respeito pelos direitos humanos e pela liberdade não pode existir
desenvolvimento, mesmo havendo crescimento econômico e melhor
distribuição do rendimento.

O crescimento sem limites compromete os Direitos Humanos das três


gerações, acentua as desigualdades sociais e as múltiplas discriminações que
alimentam os conflitos sociais e compromete o direito ao desenvolvimento.

Deste modo é necessário problematizar o conceito de riqueza, o que implica


que este conceito seja relacionado com: o equilíbrio ambiental; a redução da
jornada de trabalho e o alargamento da produção de bens e serviços
públicos de qualidade;, entre outros aspetos.

Amartya Sen, considera que a liberdade individual é fundamental para o


desenvolvimento humano, pois permite dar voz a todos os seres humanos.
Deste modo Amartya defende que o desenvolvimento corresponde a um
processo de alargamento das liberdades reais, o que inclui a eliminação do
conceito de pobreza, de falta de oportunidades, etc... Este desenvolvimento,
como liberdade, inclui o aumento do PIB por habitante e do rendimento
disponível, dando assim alguma dignidade e qualidade de vida a todos os
seres humanos.
São cinco as liberdades fundamentais de Amartya Sen:

- Liberdades políticas - Correspondem às liberdades e garantias dos cidadãos.


(1ºGeração de Direitos) Ex: liberdade de expressão de pensamento;

- Liberdades Económicas - Correspondem à forma que os indivíduos dispõem


dos recursos de modo a satisfazer as suas necessidades básicas. Ex: Direito ao
trabalho e repartição justa de rendimentos;

- Oportunidades Sociais - Disponibilização de bens públicos como a educação,


a saúde, etc, possibilitando uma melhor qualidade de vida para as pessoas;

- Garantias de Transparência - permitem a luta contra a corrupção, devido à


adoção de práticas democráticas e transparentes pelas organizações.

- Previdência Social - Possibilita a implementação de políticas de proteção


social que tragam aos indivíduos que se encontram desempregados, ou numa
situação de doença ou invalidez, rendimentos que satisfaçam a suas
necessidades básicas. Ex: Rendimento social de inserção, subsídio de
desemprego, etc.

Conclui-se então que as liberdades de Amartya Sen incluem as capacidades


de ultrapassar a fome, a subnutrição, a mortalidade infantil e precoce,
analfabetismo, o baixo nível educacional e a liberdade de participar nas
decisões da comunidade.

Chegados ao final da nossa apresentação, iremos mostrar um vídeo que


encapsula de uma perspetiva mais intimista, a temática central desta
unidade, que nos instrui e adverte para o respeito pelos direitos humanos e
pela igualdade.

FIM

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