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NEOLIBERALISMO, DIREITOS HUMANOS E MIGRAÇÕES

Thiago Giovani Romero1


Catharina Libório Ribeiro Simões2
Wellington daSilva Oliveira3

RESUMO:O presente trabalho propõe tratar de uma modalidade sui generis de


migrantes: os migrantes por sobrevivência. Para tanto, se pretende traçar paralelo entre a
aplicação das teorias neoliberais nos países em desenvolvimento, violações em Direitos
Humanos, especialmente aqueles resguardados pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos da ONU e consequente migração de grupos de pessoas em busca de países
que garantam condições mínimas de sobrevivência a essas pessoas. Por fim, o golpe de
Honduras de 2009 e a consequente marcha dos desesperados serão utilizados no sentido
de exemplificar os temas aqui tratados.

Palavras-chave: Neoliberalismo; Direitos Humanos; Refugiados; Migrantes por


sobrevivência; Marcha dos desesperados.

1. INTRODUÇÃO

Desde o final da Segunda Guerra as migrações não representavam um problema


tão latente e com tantas implicações transnacionais como na atualidade; entretanto, os
contornos que caracterizam a migração nos últimos 20 anos são significativamente
diferentes do que acontecia no passado. Os migrantes do século XXI fogem não só das
guerras, como também da fome e pobreza extrema, consequências de políticas
econômicas específicas que privilegiam fatores ditos de “macroeconomia”, com
potencial de geração de maiores desigualdades socioeconômicas e perniciosos efeitos
nos direitos econômicos das populações, concomitante com o potencial de geração de
maior concentração de renda.
E é sobre os migrantes por sobrevivência ou refugiados econômicos, aqueles que
se veem obrigados a sair de seus lares em busca de condições básicas de subsistência
após a adoção de medidas neoliberais pelos seus países de origem, que esse artigo
buscará lançar um olhar perscrutador. Reconhecer as motivações econômica e social da
atual crise migratória é jogar luz sobre as consequências para os direitos humanos das
políticas neoliberais adotadas pelos Estados e como preceitos de organismos

1
Mestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Franca,
Brasil. Email: thiago.romero@live.com.
2
Mestranda no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI/USP), São Paulo,
Brasil. Email: catharinaliborio@usp.br.
3
Especializando em Direito Processual Civil na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP),
São Paulo, Brasil. Email: w_o@outlook.com.br.
internacionais; atuam no sentido de fomentar o aumento da desigualdade. E que isso
possui consequências verificáveis pelos fenômenos das migrações hodiernas, em escala
mundial.
Propõe-se, assim, novo olhar, alinhado com garantias constitucionais, com a
efetiva proteção aos direitos humanos da parcela mais vulnerável da humanidade, com
um razoamento sobre a necessidade de perceber que ações locais interferem nesse
fenômeno transnacional, com o fito de gerar uma racionalidade a respeito da proteção
integral à vida como uma obrigação comum à humanidade.
Em 2002, na Casa Branca, ocorreu cerimônia em honra à vida e carreira de
Milton Friedman, naquela ocasião diversas autoridades fizeram discursos louvando o
pesquisador. Contudo, uma das frases de maior impacto foi a proferida durante o
discurso do ex-Secretário de Defesa, Donald Rumsfeld. Disse ele na ocasião que:
Milton is the embodiment of the truth that "ideas have consequences"... So, yes, he has
changed the course of history .4Esse ganhador do prêmio Nobel de Economia de 1976
foi um dos mais importantes teóricos do liberalismo, em um de seus livros mais
populares “Capitalism and Freedom” defende a ideia que o faria famoso: a liberdade
econômica é uma condição essencial para a liberdade das sociedades e dos indivíduos
mais ainda: defendia, também, que as condições ideais para o crescimento econômico
provinham de cortes rápidos e severos nos gastos públicos, controle da inflação e países,
mercados nacionais ou legislações nacionais mais abertas ao comércio internacional;
pontificava, enfim, que essas medidas levariam ao desenvolvimento do Estado e das
liberdades individuais, com o consequente alívio das dificuldades que afligissem classes
mais desfavorecidas5.
O neoliberalismo surge tendo por base esses princípios, a promessa de combate
ao empobrecimento da sociedade e às crises econômicas. Algumas medidas deveriam
ser impostas para que os Estados se desenvolvessem dentro desse paradigma: disciplina
fiscal; redução do tamanho do Estado por meio da diminuição dos gastos públicos;
reforma tributária diminuição da carga tributária de empresas e cidadãos; diminuição
das taxas de juros; câmbio de mercado; abertura comercial irrestrita; eliminação dos
empecilhos ao investimento estrangeiro; privatização de estatais; desregulamentação da

4
HASSAN, Oz. Constructing America's freedom agenda for the Middle East: democracy or
domination. Routledge, 2012.
5
FRIEDMAN, Milton. Capitalism and freedom. University of Chicago press, 2009.
economia e arrefecimento das leis de proteção ao trabalho; e ampla e efetiva proteção à
propriedade intelectual.
Este paradigma econômico tem sido responsabilizado por grandes perturbações
políticas, sociais e econômicas resultantes da implantação em diversos países centrais e
periféricos dos ensinamentos da panóplia de “Chicago boys” dispersos mundo fora.A
realidade neoliberal tem-se mostrado bastante diferente das idealizações propostas pela
doutrina referida; com a aplicação dos ditames acima descritos, percebem-se os efeitos
prejudiciais do neoliberalismo e do que se convenciona chamar globalização em
aspectos essenciais da vida humana: aumento da pobreza e desigualdade, esgarçamento
do tecido social, precarização do trabalho e dos direitos humanos de terceira geração,
como direito à saúde, educação e segurança6.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos7 se propõem como base para a
construção de sociedades democráticas onde a conciliação entre os direitos do indivíduo
e os direitos sociais é o ideal a ser alcançado. O Brasil, como país identificado com o
“ocidente” político, por exemplo, abraça esses princípios filosóficos e os tem plasmado
em seu ordenamento jurídico. Sabe-se ainda que os mais basilares direitos do indivíduo
são aqueles inerentes à manutenção da vida humana8,e são definidos como conjunto de
direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais. O respeito à dignidade humana
deve ser base da atuação estatal e assegurar condições mínimas de vida e
desenvolvimento humano são fatores necessários para a definição de qualquer política
econômica, cabendo aos Estados e aos organismos do sistema internacional dignificar e
reconhecer essas obrigações.
Como se percebe, a adoção das medidas neoliberais acaba por aumentar as
desigualdades sociais, as camadas mais carentes da população enfrentam o desmonte do
estado de bem-estar social e o acesso aos bens imprescindíveis à vida se torna mais
restrito9, prejudicando os direitos humanos de terceira geração, justamente aqueles que
garantem a dignidade da pessoa, a cidadania do cidadão. É nessa conjuntura de crise
política, social e econômica advinda da aplicação indiscriminada do liberalismo que se
constata a formação de uma massa de migrantes, aqueles que, em face da perda de

6
NAVARRO, Vicente et al. (Ed.). Neoliberalism, globalization, and inequalities: Consequences for
health and quality of life. Baywood Pub., 2007
7
HUMANOS, DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS. Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Acesso em, v. 30 de julho de, 2019.
8
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.
9
CHANG,Há-joon. Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica.
São Paulo: Unesp, 2004.
condições mínimas de sobrevivência se veem obrigados a buscar, em outros países, as
garantias asseguradas pela DUDH, com a preconização do acesso à manutenção
econômica, e à educação, saúde e segurança públicas.
Com o confrontar dessa cruel realidade, parte da doutrina já começa a
reconhecer a existência dos chamados migrantes por sobrevivência, grupo sui generis
proveniente de países que adotam política do Estado mínimo e da liberdade irrestrita
dos mercados e das trocas internacionais, impossibilitando a manutenção de condições
básicas de sobrevivência das gentes10.
Para melhor ilustrar os temas aqui abordados, se discorrerá brevemente sobre a
“marcha dos desesperados”, a título de contundente exemplo. Essa marcha é o resultado
do golpe de Estado que ocorreu em Honduras no ano de 2009. Com a destituição do
presidente constitucional eleito Manuel Zelaya, o governo que assaltou o poder
implementou uma política neoliberal de privilégios ao grande capital estrangeiro, o que
levou a diversas violações dos direitos humanos e a precarização das condições
econômicas da população e ao agravamento da desigualdade.
O coeficiente GINI é instrumento utilizado para medir o grau de concentração de
renda de determinados grupos o valor zero representa a situação de igualdade, ou seja,
todos têm a mesma renda e o valor cem serve para afirmar que só uma pessoa possui
toda a riqueza daquela região. Quando usado este coeficiente como ilustrativo da
situação hondurenha, pode-se perceber que:
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009, 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Golpe

54.10 58.80 58.70 58.40 59.50 57.40 56.20 55.70 51.60 53.40 57.40 57.40 53.70 51.00 50.10

(GINI INDEX, WORLD BANK ESTIMATE)


O golpe em Honduras acontece no momento em que a desigualdade começava a
diminuir, e os projetos de lei aprovados no período, como a “Zona de empleo y
desarrollo”, atuam para reverter essa situação. Cumpre salientar que os números da
desigualdade voltam a cair após a eleição de Juan Orlando Hernández Alvarado, filiado
ao Partido Nacional de Honduras. Partido esse que se define como organização política
de agenda ideológica vinculada aos setores sociais.
Esse conjunto de fatores levou a que um grupo de pessoas se juntasse em uma
caravana famélica a fim de tentar a sorte nos Estados Unidos, país que julgam ser capaz
de assegurar seus direitos humanos básicos e de terceira geração, para ter comida,

10
BETTS, Alexander. Survival Migration; Failed Governance and the crisis of displacement.
London: Cornell University Press, 2013
educação, saúde, segurança e oportunidade econômica pela ocupação de espaços de
trabalho rejeitados pelos nacionais ou residentes legais dos EUA. Ou seja, poder-se-á
perceber a relação entre a adoção local das medidas neoliberais e suas consequências
ultra fronteiras e transnacionais, visto que a geografia coberta pela marcha apresenta
desafios sérios aos países vizinhos de Honduras e, sobretudo, ao México, última parada
antes do desafio de vida ou morte de cruzar a fronteira para os EUA.
A metodologia a ser aplicada nesse artigo é de pesquisa descritiva de cunho
exploratório e se baseia em estudo bibliográfico teórico que conduziu a observações e
inferências válidas de cunho descritivo e\ou explicativo, objetivando unir coerentemente
as observações dos fatos e suas implicações para a teoria política e jurídica.

2.NEOLIBERALISMO, REALMENTE UM BOM NEGÓCIO?

Existe consenso ao definir como obrigação do Estado garantir o


desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária, por meio da diminuição das
desigualdades sociais, proporcionando respeito aos direitos humanos e equiparação de
oportunidades11.
Contudo, os países têm tido diferentes interpretações sobre a melhor maneira de
alcançar o desenvolvimento. No Livro “Por que as Nações Fracassam”, os autores12
partem de duas definições essenciais sobre instituições políticas. As instituições
inclusivas são aquelas centralizadas e pluralistas, capazes de realizar a proteção social e
o incentivo à economia, de maneira a promover efetivamente a dignidade humana.
Já as instituições políticas extrativistas, segundo a mesma fonte, são definidas
como parte de um Estado incapaz de cumprir seu papel social básico. O poder estaria,
então, concentrado nas mãos de uma pequena elite que estrutura o Estado de modo a
extorquir os recursos econômicos disponíveis em detrimento da sociedade como um
todo, o que, no longo ou até médio prazo apenas pode resultar em caos social. E a
manutenção dessa política voltada à exploração vantajosa para alguns da riqueza
nacional tende, ainda, a criar um círculo vicioso que desguarnece o Estado de suas
defesas contra a usurpação e desvirtuamento das finalidades do poder estatal de
promoção social, civil e econômica.

11
PIKETTY, Thomas. A economia da Desigualdade. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.
12
ACEMOGLU, Daron e ROBINSON, James. Porque as nações fracassam. As origens do poder, da
prosperidade e da pobreza. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
O neoliberalismo que surgiu como promessa de combate às crises econômicas e
ao empobrecimento da sociedade acaba, na verdade, atuando para a concentração de
poder e a diminuição do papel de equacionalizador social do Estado. Em 1989 o
economista John Williamson13, com o apoio dos grandes centros capitalistas, condensa
uma série de diretrizes a serem adotadas pelos países em desenvolvimento. Essas
medidas passaram a ser reconhecidas como consenso de Washington, e pregavam, em
linhas gerais, a abertura irrestrita dos mercados de consumo, valores e do sistema
produtivo e de serviços.Os países desenvolvidos, principalmente os anglo-saxões,
fazendo uso de seu poder político e influência cultural, passam a impor, aos países
subdesenvolvidos, a adoção de medidas neoliberais, que em linhas gerais, podem ser
consideradas extrativistas, segundo a conceituação referida, uma vez que privilegiam o
aumento do lucro da parcela dominante da sociedade, diminuem o poder do Estado e
desidratam os recursos empregados em políticas sociais e que acabam, no longo e
médio prazo, por aumentar a desigualdade social e prejudicar o desenvolvimento
econômico nacional, não raro, com crises agudas de dívidas externas.
Atualmente, os países em desenvolvimento estão sofrendo uma enorme
pressão, por parte das nações desenvolvidas e das políticas internacionais de
desenvolvimento controladas pelo establishment, para adotar uma série de
“boas políticas” e “boas instituições” destinadas a promover o
desenvolvimento econômico. Segundo essa agenda, “boas” são as políticas
prescritas pelo consenso de Washington em geral (...) o que este livro pergunta
é: como os países ricos enriqueceram de fato? A resposta mais sucinta é que
eles não seriam o que são hoje se tivessem adotado as políticas e as instituições
que hoje recomendam às nações em desenvolvimento14.

Percebe-se que a aplicação dessa teoria econômica tem tido efeito contrário ao
prometido, ela propicia a corrosão nas bases que possibilitariam o crescimento
sustentável das economias nacionais15. A adoção dessas medidas, que eram efetivadas
com o incentivo e auxílio do FMI vêm impondo verdadeiro gravame à subsistência da
maior parcela das populações submetidas ao liberalismo, com crescente número de
desempregados. O aumento constante da pobreza e da fome se tornaram fatos
corriqueiros nas sociedades que fazem a escolha pela implementação de tal paradigma,
num mundo cada vez mais globalizado16.

13
WILLIAMSON, John. What Washington means by policy reform. Latin American adjustment: How
much has happened, v. 1, p. 90-120, 1990.
14
CHANG,Há-joon. Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica.
São Paulo: Unesp, 2004.p. 11-13
15
KLEIN, Naomi. A doutrina do choque, a ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2008.
16
SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio
de Janeiro, Saraiva 2011. p.13
Como se pode perceber, as consequências diretas da filiação quase irrestrita ao
modelo neoliberal são: enfraquecimento da indústria por falta de política estatal
específica (Estado mínimo), aumento do desemprego, déficit na balança de pagamentos
(abertura aimportações e desindustrialização), intensa perturbação social pelo
empobrecimento persistente, aumento da desigualdade social, recrudescimento, enfim,
do subdesenvolvimento. Fica claro o existente abismo entre a teoria e a prática
neoliberal, a promessa da aceleração da economia não se sustenta, e, mesmo assim, ela
continua a ser incentivada e imposta aos países em
desenvolvimento\subdesenvolvidos1718.
É com base nessas contradições que se produz uma importante tentativa de
desmistificação da ideia do “imperialismo sedutor”19 para que os ditames do consenso
de Washington possam ser enxergados em suas verdadeiras cores e pelas suas
verificáveis consequências. Até mesmo o Fundo Monetário Internacional começa a
questionar os benefícios atribuídos a essa teoria, dificilmente os países que se filiaram
às medidas propostas conseguiram galgar qualquer tipo de enriquecimento ou
desenvolvimento: “instead of delivering growth, some neoliberal policies have
increased inequality, in turn jeopardizing durable expansion.”2021
O fato patente é que as reformas políticas neoliberais se mostraram incapazes
de cumprir sua grande promessa: o crescimento econômico. Quando da sua
implementação, garantiram-nos que, embora essas “reformas” talvez
aumentassem a desigualdade a curto e, possivelmente, também a longo prazo,
elas gerariam um crescimento mais rápido e, enfim, alçariam a todos mais
efetivamente do que as políticas intervencionistas do imediato pós-guerra. Os
dados das últimas duas décadas mostram que só a parte negativa dessa
previsão se confirmou. A desigualdade da renda aumentou, tal como se
previu, mas a prometida aceleração do crescimento não se verificou.22

Nas sociedades que adotam esse modelo político, social e econômico o lucro da
grande empresa e do capital transnacional acaba se sobrepondo à obrigação do Estado
em resguardar os direitos mínimos que assegurem a possibilidade de uma vida digna

17
CHANG,Há-joon. Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica.
São Paulo: Unesp, 2004
18
SANTOS, Theotônio. Do terror à esperança: Auge e declínio do neoliberalismo. Aparecida, SP:
Ideias e Letras, 2004.
19
TOTA, Antônio Pedro. O imperialismo sedutor: a americanização do Brasil na época da Segunda
Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
20
OSTRY, Jonathan D., LOUNGANI, Prakash and FURCERI, Davide. Neoliberalism: oversold?.
Finance & development, June 2016, vol. 53, no. 2. Disponível
em:http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2016/06/ostry.htm. Acesso em: 20/07/2019
21
“em vez de gerar crescimento, algumas políticas neoliberais aumentaram a desigualdade, colocando em
risco a expansão duradoura” (tradução nossa).
22
CHANG,Há-joon. Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica.
São Paulo: Unesp, 2004.p.212
para a camada mais vulnerável da população23. A imposição da agenda neoliberal
representa, de fato, imenso golpe na proteção aos direitos consagrados na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e nos estatutos posteriores dos direitos de terceira
geração [CEPAL, etc.].

3. DIREITOS HUMANOS: OBRIGAÇÃO DA PROTEÇÃO INTEGRAL

Falar em direitos humanos é reconhecer a existência de direitos fundamentais


imprescindíveis à existência e ao desenvolvimento da pessoa. É dever dos Estados
assegurar condições mínimas de subsistência e proteção a todas pessoas
indiscriminadamente24. Tal definição não é estanque, ela se modifica a partir da
percepção das necessidades e de novos aspectos importantes à digna evolução humana.
Essa disciplina é comumente ligada ao direito internacional e tem sua evolução
como resultada do choque decorrente dos horrores da Segunda Guerra Mundial25. Os
Aliados foram então confrontados com a necessidade de se buscar uma proteção formal
e geral aos aspectos e necessidades basilares da vida humana, esses direitos se tornam
assim “naturais” e não mais adquiridos26.
A concepção que domina o direito internacional é de que o dever de resguardar
os direitos humanos ultrapassa as fronteiras das nações, existindo obrigação conjunta de
que o sistema de normas internacionais de proteção à pessoa seja implementado
globalmente.27Diversos países são signatários da Declaração Universal dos Direitos
Humanos e, portanto, se obrigaram voluntariamente à implementação e resguardo
desses direitos. A ideia da cooperação para a preservação da vida já vem sendo
reconhecida pelos mais diversos atores filiados ao ordenamento internacional. Todos os
Estados deveriam, moralmente, assumir o papel de garantidores dos direitos humanos e
da proteção às pessoas vulneráveis. 
Percebe-se também que, mesmo com todas as mudanças enfrentadas pela
sociedade as necessidades básicas para possibilitar a dignidade da vida humana

23
LAZZARATO, Maurizio. Neoliberalism in action: Inequality, insecurity and the reconstitution of the
social. Theory, culture & society, v. 26, n. 6, p. 109-133, 2009.
24
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. P.07
25
PIOVESAN, Flavia. A Constituição brasileira de 1988 e os tratados internacionais de proteção dos
direitos humanos. Temas de direitos humanos, v. 2, p. 44-56, 2008.
26
ARENDT, Hanna. Origens do totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, totalitarismo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012. P.405
27
BILDER, Richard. An overview of international human rights law. GUIDE TO INTERNATIONAL
HUMAN RIGHTS PRACTICE, 4th Ed., Hurst Hannum, ed, p. 3-18, 2010.
continuam as mesmas, quais sejam: saúde, alimentação, educação, segurança, cabendo
ao Estado prover condições mínimas e imprescindíveis à subsistência daqueles que
residem em seu território28. Por isso, a proteção dessas condições imprescindíveis
deveria ser mais aguerridamente defendida pelas sociedades e pelos organismos
internacionais que atuam para assegurar a estabilidade e a pacificação do mundo.
Muitos outros atentados contra a vida humana estão ocorrendo todos os dias,
quase sempre pela ambição sem limites de alguns homens, que provocam a
morte de outros com o objetivo de ganhar dinheiro (...) a situação de pobreza
em que são obrigadas a viver milhões de pessoas é um atentado contra a vida.
A morte não ocorre de um momento para o outro, mas essas pessoas estão
morrendo rapidamente, um pouco por dia, por falta de alimentos, de
assistência médica e de condições mínimas para a conservação da vida(...).O
respeito à vida de uma pessoa não significa apenas não matar essa pessoa
com violência, mas também dar a ela a garantia de que todas as suas
necessidades fundamentais serão atendidas29.

A proteção aos direitos humanos não consiste em apenas evitar guerras ou


massacres, a proteção, para ser efetiva, deve ser integral, ou seja, devem-se proteger
especialmente os aspectos básicos necessários á vida digna. Esses que são
particularmente postos em perigo quando da adoção de medidas neoliberais.É
importante que a governos e organismos internacionais lancem esse outro olhar sobre
um neoliberalismo que não funciona somente como agente do desmonte dos Estados,
com transferência de renda para as classes mais abastadas. Ele serve, também, como
uma espécie de agente genocida que ameaça os mais pobres de perecem frente à falta de
condições mínimas de subsistência pela falta de oportunidades econômicas, educação e
ao trabalho. “Os anos de capitalismo criminoso mataram cerca de 10% da população(...)
três décadas antes, André Gunder Frank, o economista dissidente de Chicago, escrevera
uma carta para Milton Friedman, acusando-o de ‘genocídio econômico’.”30 
Pode-se perceber que a adoção das medidas neoliberais, apesar de toda a
idealização propagada, tem impacto negativo nas condições básicas de sobrevivência. A
precarização dos direitos trabalhistas, o desmonte das ações de cunho social, o corte nos
programas de educação, as privatizações – que aumentam o preço dos serviços público,
representam claro risco às condições necessárias para um digno desenvolvimento
humano. Pensar direitos humanos é defender uma proteção integral, não apenas face às
guerras ou grandes desastres; a negação dos mais básicos direitos vitais são tragédias

28
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.
29
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p.23-24
30
KLEIN, Naomi. A doutrina do choque, a ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2008.p.208
humanas e transfronteiriças, e assim sendo, cabe aos Estados e organismos
internacionais o papel de garantes dos direitos humanos básicos. 
E é nesse contexto que se desenha a realidade desse novo grupo de migrantes, os
migrantes por sobrevivência, que vem ocupando um triste lugar de destaque em meio a
tantas tragédias internacionais de cunho natural ou bélico – a imigração forçada pela
sobrevivência já se apresenta como a mais grave das tragédias e o mais perene dos
desafios ao direito internacional hodierno.

4. MIGRAÇÕES POR SOBREVIVÊNCIA: A NECESSIDADE DE


RECONHECIMENTO

Falar em migrações é falar sobre Direitos humanos, política internacional e


solidariedade internacional. As modernas teorias acerca desse instituto estão,
inexoravelmente, ligadas à evolução da compreensão do que seriam os direitos inerentes
ao ser humano. As migrações sempre tiveram papel essencial, a história da humanidade
foi basicamente definida pela mobilidade das populações, os fluxos de pessoas se
confundem com fluxos de bens, finanças, culturas. É desses choques e adaptações entre
os modos de vidas dos migrantes que as identidades nacionais foram sendo formadas.31
“Pátria é acaso de migraçõe se do pão-nosso onde Deus der”32.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, as migrações internacionais vêm
assumindo papel de importância crescente nos debates acerca da responsabilidade
coletiva pela proteção daqueles que se encontram em específicas situações de
vulnerabilidade. A interdependência entre os Estados e a realidade de um mundo cada
vez mais globalizado acaba por exigir mudanças no pensamento nacional xenofóbico, é
preciso ter um olhar mais benevolente em relação às grandes transformações
proporcionadas por essa integração populacional nas políticas econômicas, sociais,
demográficas e culturais.
Entre as diversas classificações de migrantes, uma em especial requer olhar mais
caridoso por parte dos países e organismos internacionais: os refugiados, enquanto
comunidade específica passa a ser reconhecidos a partir da convenção de 1951,
Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados,que regulamentou os
diversos tipos de migrantes.  Tradicionalmente, se define como elegível para solicitar

31
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.
32
DE ANDRADE, Mario. O POETA COME AMENDOIM. Litoral, n. 195/196, p. 177-178, 1992.
refúgio em país estrangeiro aquela pessoa que possui fundado temor de perseguição
devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social e que
não pode retornar a seu país de origem devido a grave e generalizada violação de
direitos humanos33.
O grande problema é que, ainda hoje, é feita análise extremamente restrita do
que seria essa grave e generalizada violação aos direitos humanos, para alguns Estados,
só se pode falar em grave violação em situações de guerras, perseguições e desastres
naturais. Contudo, o consenso internacional define Direitos humanos como aqueles sem
os quais a pessoa não consegue existir ou plenamente se desenvolver34.No atual cenário
da globalização, o contexto de luta pela proteção aos direitos humanos e aos
compromissos internacionais assumidos com esse fim necessitam de esforço conjunto
que venha a possibilitar sua implementação. Da mesma forma, a definição dos grupos
que podem ser contemplados pelas políticas oficiais de proteção precisa ser atualizada
de forma a abarcar essas novas classes de pessoas que sofrem grave ataque aos direitos
humanos básicos, mesmo na ausência de guerras clássicas ou de desastres naturais de
grande envergadura. 
In terms of the exact changes that are appropriate, a convention based on the
concept of need would focus on the conditions are necessary for human
subsistence. At the core there is little scope for debate here- it is a matter of
science, not sociology. Humans need food, water and shelter and clothing to
survive. All other interests are contingent on the availability of these basic
goods. Displaced persons who lack any of these goods to a point where it
threatens their survival should be accorded refugee status.3536  

A atual crise dos refugiados é em essência uma crise humanitária no seu sentido
mais concreto. As pessoas não fogem apenas de guerras e desastres naturais. As pessoas
passam a fugir da fome provocada, deliberadamente, pela efetivação das determinações

33
GONZAGA, Álvaro de Azevedo; KNIPPEL, Edson Luz e AESCHLIMANN, Maria Carolina
Nogueira. Dignidade humana e os instrumentos de proteção aos refugiados. In: PINTO, Eduardo
Vera-Cruz; PERAZZOLO, José Rodolpho; BARROSO, Luís Roberto; SILVA, Marco Antônio Marques
da; CICCO, Maria Cristina de (coords.). Refugiados, imigrantes e igualdade dos povos- São Paulo:
Quartier Latin, 2017. p.147
34
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.
35
DIMOPOULOS, Penny. Membership of a particular group: an appropriate basis for refugee
status?. 7 Deakin law review, 2002, p.380.
36
“Em termos das mudanças exatas que são apropriadas, uma convenção baseada no conceito de
necessidade se concentraria nas condições necessárias para a subsistência humana. No núcleo, há pouca
margem para debate aqui - é uma questão de ciência, não de sociologia. Os seres humanos precisam de
comida, água, abrigo e roupas para sobreviver. Todos os outros interesses dependem da disponibilidade
desses bens básicos. As pessoas deslocadas que não possuem nenhum desses produtos a um ponto em que
ameacem sua sobrevivência devem receber o status de refugiado.” (traduação nossa).
do consenso de Washington. Diante da situação de pauperização da população resultante
da adoção de medidas neoliberais, para muitos emigrar deixa de ser uma escolha, as
pessoas se veem obrigadas a buscar, em outros países, condições básicas de
sobrevivência para si e suas famílias. Não se está diante de uma opção, mas de uma
imposição em face da situação econômica imposta e academicamente justificada como
discurso inconteste.
Most importantly, the interpretation of PSG (particular social group) should
provide protection to the people who need it most. This draws us to a
fundamental problem concerning the Convention. The fact that the definition
of refugee was largely influenced by the cold war concerns imposes limitation
on its effectiveness in protection the people most in need of refugee status.
This was so at the time of drafting, and remains so today.Membership of a
PSG is simply an inappropriate foundation upon which refugee status should
be based. Thus, no matter how broadly it is interpreted, it fails to provide
protection to the people who need most.3738 

States are primarily responsible for ensuring the human rights of their own
citizens. Sometimes, thought, the assumed relationship between state and
citizen breaks down and states are unable or unwilling to provide the rights
of their citizens. Through malevolence, incompetence, or lack of capacity,
many governments cease to ensure that their citizens have access to the
fundamental fundamental conditions for human dignity. That people who
cannot access basic human rights in their own country are entitled to run for
their lives is widely recognized and accepted as an important part of what
makes the international society of states both legitimate and civilized. 3940

A realidade dessa categoria de migrantes é mais sensível face às dificuldades


para que tenham reconhecido seu estatuto de refugiados. Esses migrantes por
sobrevivência não podem ser confundidos commigrantes econômicos porque seu
deslocamento não é voluntário. As pessoas inseridas nessa classificação de migrantes se

37
DIMOPOULOS, Penny. Membership of a particular group: an appropriate basis for refugee
status?. 7 Deakin law review, 2002, p.379.
38
“Mais importante ainda, a interpretação do PSG (grupo social específico) deve fornecer proteção às
pessoas que mais precisam. Isso nos leva a um problema fundamental referente à Convenção. O fato de a
definição de refugiado ter sido amplamente influenciada pelas preocupações da Guerra Fria impõe
limitações à sua eficácia na proteção das pessoas que mais precisam do status de refugiado. Isso
aconteceu no momento da redação e continua sendo hoje. A associação de um PSG é simplesmente uma
base inadequada sobre a qual o status de refugiado deve se basear. Portanto, não importa quão
amplamente seja interpretado, ele falha em fornecer proteção às pessoas que mais precisam.” (tradução
nossa).
39
BETTS, Alexander. Survival Migration; Failed Governance and the crisis of displacement.
London: Cornell University Press, 2013 p.02
40
“Os Estados são os principais responsáveis ​por garantir os direitos humanos de seus próprios cidadãos.
Às vezes, pensou-se, a suposta relação entre estado e cidadão se desintegra e os estados são incapazes ou
não desejam oferecer os direitos de seus cidadãos. Por meio de malevolência, incompetência ou falta de
capacidade, muitos governos deixam de garantir que seus cidadãos tenham acesso às condições
fundamentais fundamentais da dignidade humana. Que as pessoas que não podem acessar os direitos
humanos básicos em seu próprio país têm o direito de concorrer por suas vidas é amplamente reconhecida
e aceita como uma parte importante do que torna a sociedade internacional dos estados legítima e
civilizada.” (traduação nossa).
encontram numa fenda conceitual entre aqueles definidos como migrantes econômicos e
refugiados, merecendo o tipo de proteção cabível às pessoas inseridas no segundo
grupo41. Esses migrantes por sobrevivência não fogem de perseguições, mas sim da
escolha do Estado em não mais prover condições básicas de sobrevivência. É
imprescindível o reconhecimento formal desse tipo sui generis de migração para
garantir a proteção efetiva às pessoas que, desprovidas de quaisquer oportunidades em
seu local de origem, se veem forçadas a buscar alhures meios para garantir a
subsistência. Portanto, não é aceitável que Estados, organismos internacionais e o
Direito ignorem a situação de número tão expressivo da população mundial e negar a
toda essa parcela de seres humanos a possibilidade de reconhecimento de sua situação
de refugiados, sob risco de reforçar as graves violações de que são vítimas.
To highlight the situation of people fleeing basic rights
deprivations rather than just persecution, I develop the concept
of survival migration. It refers to people who are outside their
country of origin because of an existential threat for which they
have no access to a domestic remedy or resolution (...) it is
based on the recognition that what matters is not privileging
particular causes of movement but rather clearly identifying a
threshold of fundamental rights which, when unavailable in a
country of origin, requires that the international community
allow people to cross an international border and receive
access to temporary or permanent sanctuary. Refugees are one
type of survival migrant, but many people who are not
recognized as refugees also fall within the category.4243

Percebe-se que a discussão de como o capitalismo e a globalização tem afetado


as comunidades mais pobres não pode mais ser relegado a um segundo plano; com a
crescente onda de nacionalismos exacerbados, os valores cultivados após a Segunda
Guerra mundial se tornam cada vez mais relativos, e, em nome do lucro a proteção aos
direitos humanos básicos perde parte de sua aplicação prática.
A fome, o estado de necessidade, a falta de condições básicas de saneamento e
de educação são reconhecidos como grave violação aos Direitos Humanos, bem como a

41
BETTS, Alexander. Survival Migration; Failed Governance and the crisis of displacement.
London: Cornell University Press, 2013
42
BETTS, Alexander. Survival Migration; Failed Governance and the crisis of displacement.
London: Cornell University Press, 2013 p.13
43
“Para destacar a situação das pessoas que fogem das privações de direitos básicos, em vez de apenas
perseguição, desenvolvo o conceito de migração para sobrevivência. Refere-se a pessoas que estão fora
de seu país de origem devido a uma ameaça existencial para a qual não têm acesso a um remédio ou
resolução doméstica (...) baseia-se no reconhecimento de que o que importa não está privilegiando causas
particulares de movimento, mas identificar com bastante clareza um limiar de direitos fundamentais que,
quando indisponível em um país de origem, exige que a comunidade internacional permita que as pessoas
atravessem uma fronteira internacional e tenham acesso a um santuário temporário ou permanente. Os
refugiados são um tipo de migrante de sobrevivência, mas muitas pessoas que não são reconhecidas como
refugiadas também se enquadram na categoria.” (tradução nossa).
falta de acesso à água e a saúde; portanto, não são apenas as pessoas que se encontram
em Estados beligerantes ou que sofram grave perseguição moral\ religiosa\ política que
são dignas de receber um olhar mais caridoso e garantista dos instrumentos interestatais
de definição de normas e valores comuns44.
Como se pode perceber, a correlação entre a aplicação irrestrita de medidas
neoliberais e o desrespeito às determinações básicas dos direitos humanos leva à criação
de toda uma nova categoria de migrantes internacionais, os migrantes por
sobrevivência. Apesar desse tipo de migração não ter a sua importância irrestritamente
reconhecida, as necessidades dos migrantes assim definidos na prática são reais. A vida
de milhões de pessoas está posta em risco apenas para garantir vultosos ganhos
monetários para a parcela cada vez mais rica da população, e essa é realidade que
precisa ser enfrentada e combatida a partir de uma reavaliação objetiva das
consequências do credo do liberalismo.

5. A MARCHA DOS DESESPERADOS

Em 28 de junho de 2009 o exército hondurenho aprisiona e envia para o exílio o


então presidente Manuel Zelaya. A tentativa de agendar consulta, não vinculativa, sobre
a realização de um referendo para a convocação de uma assembleia constituinte foi o
estopim para o golpe de Estado. A Suprema Corte de Honduras emite então mandado
secreto para a sua prisão, que foi cumprido por soldados hondurenhos ao invadiram a
casa do presidente no meio da noite e o enviarem, em avião militar operado a partir de
uma base dos Estados Unidos em território de Honduras, para a Costa Rica. O governo
de fato instalado foi amplamente denunciado por países e em organismo internacionais,
vozes que condenaram a remoção forçada de Zelaya, com a definição do episódio como
golpe de Estado.
O que interessa para os propósitos deste artigo, contudo, não são as causas, mas
sim as consequências do golpe hondurenho de 2009 e os reflexos na população, o que
leva, em 2018, uma multidão a sair em marcha de 3.500 (três mil e quinhentos)
quilômetros, desde a capital, Tegucigalpa, até a fronteira do México com os Estados
Unidos.

44
BETTS, Alexander. Survival Migration; Failed Governance and the crisis of displacement.
London: Cornell University Press, 2013
Essa multidão, que engrossou suas fileiras com adesões nas cidades que cruzou,
busca condições dignas de subsistência. Sua marcha é conhecida como “Marcha dos
Desesperados”, uma vez que concentra pessoas famintas, sem nenhuma dignidade ou
possibilidade de subsistência em seus países de origem. A esperança, que é a aquela que
por último morre, em busca de um lugar com garantias de cidadania, oportunidades
econômicas e onde encontram já as teias familiares ou de compatriotas antes emigrados
pelas as mesmas razões talvez.
Após a deposição do presidente eleito, ascende ao poder governo mais alinhado
com a política neoliberal, o capital financeiro e industrial transnacional; quase
imediatamente, as violações dos direitos humanos recrudescem e se conjuminam com
um descenso nos indicadores sociais de Honduras. O governo se utiliza assim da
doutrina do choque: quando os governos se utilizam do período subsequente a um
grande choque (desastres naturais, guerras, golpes de Estado) para impor as ideias
radicais do livre-mercado, os eventos catastróficos são então benéficos para as
corporações.45.Nesse momento do choque do golpe, a população não consegue prover
reação suficiente para barras as mudanças que são implementadas em benefício do
grande capital46. As elites empresariais passam a enxergar, nessa situação, condições
favoráveis para implementação das medidas de liberalização econômica propostas pela
Escola de Chicago.
Nuevos Intereses económicos y empresariales vinculados al
nuevo orden global han permeado a los partidos políticos, al
punto de ceder incluso, la titularidad de una parte del
territorio nacional a estos capitales transnacionales, como es
el caso con las empresas maquilladoras, la industria
extractiva y la más reciente creación de las “ciudades
modelo” o Regiones Especiales de Desarrollo.4748

O governo hondurenho passou então à aprovação de uma série de medidas


exigidas pelo setor empresarial. Entre os diversos projetos aprovados, alguns merecem
destaque face a sua evidente filiação aos ditames neoliberais: O projeto de criação de
Zonas Especiais de Desarrollo (ZEDE) propõe a criação de territórios com privilégios
45
KLEIN, Naomi. A doutrina do choque, a ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2008.
46
KLEIN, Naomi. A doutrina do choque, a ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2008.
47
YODER, Elsie Monge et al. Informe de la Comisión de Verdad: la voz más autorizada es la voz de las
víctimas. Tegucigalpa, 2012.
48
“Novos interesses econômicos e empresariais vinculados ao novo pedido global, permitindo partidos
políticos, a partir de serem incluídos, a titularidade de uma parte do território nacional e a estas capitales
transnacionais, como é o caso das empresas ‘maquiladoras’, da indústria extrativa e da empresa mais
criação de modelos de cidades ou regiões especiais de desenvolvimento.” (traduação nossa).
aduanieros. Nele existiria sistema judicial, cobrança de impostos e força policial
próprias, tudo isso com a intenção de facilitar a atuação de empresas estrangeiras49,
verdadeira “dessoberanização” do território.A tramitação desse projeto serve como um
excelente exemplo de como o grande capital busca o lucro a qualquer custo. A lei foi
aprovada pelo Congresso em 2012, mas foi considerada inconstitucional pela Corte
Suprema de Justícia, nesse mesmo ano, onde os quatro juízes que votaram contra o
projeto foram sumariamente afastados enquanto o mesmo projeto voltava para votação e
aprovação, pelo congresso nacional, em 2013 com o nome “Zona de Empleo y
Desarrollo Económico”.
Algumas outras leis, sempre em conformidade aos ditames neoliberais e em
benefício do capital privado, também aprovadas à época: O “Programa Nacional de
Empleo por Hora” estimula a contratação de trabalhadores de meio período em
substituição aos empregados em tempo integral; “Ley para la Protección y Promoción
de Inversiones”, que tem por escopo facilitar o investimento estrangeiro no país50.
Lo importante es que todos estos “avances” en la economía
hondureña, que cuenta con un 60% de su población sobreviviendo por
debajo de la línea de la pobreza, genera las condiciones adecuadas
para que el nuevo presidente negocie un préstamo con el FMI que
tendrá como eje el replanteo de la “situación fiscal del gobierno
central” (Central America Link, 16 de diciembre de 2013), es decir, el
FMI impondrá una vez más el modo “correcto” de hacer las cosas, en
una línea ya conocida en América Latina destinada a distanciarse lo
más posible de la redistribución justa de recursos y riqueza.5152

A Comissão da Verdade identifica ainda constantes violações aos direitos


humanos no período, contudo o viés que nos interessa é aquele que trata das violações
da institucionalidade impostas pelo governo de fato no período pós-golpe.53
Essa Comissão chama de “disfuncionalidade das instituições” quando os
órgãos públicos tem sua função subvertida para favorecer os interesses particulares. A
49
ROUX, Hélène; GEGLIA, Beth. ¿ Excepción o continuismo? Nuevos enclav es: poder e
infraestructura en Honduras. Iztapalapa: Revista de Ciencias Sociales y Humanidades, n. 87, p. 17-43,
2019.
50
CARDOSO, Sílvia Alvarez. Golpe de Estado no século XXI: o caso de Honduras (2009) e a
recomposição hegemônica neoliberal. Brasília,2016.
51
ROMANO, Silvina. “Democracia para la seguridad de quiénes?” In: DE GORI, Esteban (ed.).
Honduras 2013 - Golpe de Estado, elecciones y tensiones del orden político. Buenos Aires, Serie
Academica, 2013, pp. 112.
52
“Todos os itens importantes "avança" na economia hondurenha, que custam 60% do lucro sobrevivente
da linha de pobreza, gêneros de condições adecuadas para o novo presidente negociam um contrato inicial
com o FMI que vendem como substituir a “situação fiscal do governo central” (Central America Link, 16
de dezembro de 2013), decir, o FMI importou uma vez mais o modo “correto” de fazer as coisas, em uma
linha e conhecida na América Latina, que se destina a distanciar das mais variáveis de redistribução justa
de recursos e riqueza.” (traduação nossa).
53
YODER, Elsie Monge et al. Informe de la Comisión de Verdad: la voz más autorizada es la voz de las
víctimas. Tegucigalpa, 2012.
busca pela execução do chamado “estado mínimo” leva com que o governo de fato
respalde uma série de violações aos direitos humanos básicos de sua população54. Como
se pode perceber com leis acima citadas, a proteção do governo passa a se dirigir às
empresas, beneficiários do novo poder.
Percebe-se que, de uma forma geral, o neoliberalismo surge como resposta
conservadora às crises econômicas sistêmicas; contudo, a desconstrução do Estado de
bem estar social aumenta o sofrimento da população ao mesmo tempo em que fornece
lucros cada vez maiores ao empresariado. O conceito de liberdade só é aplicado aos
detentores dos meios de produção e o Estado se torna o suporte para as violações
sistemáticas dos Direitos Humanos55.
O estado neoliberal típico tende a ficar do lado do clima de negócios
favorável em detrimento seja dos direitos (e da qualidade de vida)
coletivos do trabalho, seja da capacidade de auto-regeneração do
ambiente. O segundo campo de vícios vem do fato de que, em caso de
conflito, os estados neoliberais tipicamente favorecem a integridade
do sistema financeiro e a solvência das instituições financeiras e não o
bem-estar da população56.

Como se pode perceber, após o golpe de 2009 o governo que ascendeu ao


poder fez a escolha de implementação do paradigma neoliberal à custa dos Direitos
Humanos da maior parte da população, e essa escolha, como se pode perceber, faz com
que seja gerada verdadeira catástrofe social e migratória. O Estado que teria a obrigação
de atuar no sentido de proteger aqueles que são considerados hipossuficientes passa à
desrespeitar sistematicamente os direitos mais básicos, sob intenso aplauso dos grandes
beneficiários do neoliberalismo.
E é nesse contexto pós-golpe, por conta da pauperização das camadas mais
carentes da população, que a marcha dos desesperados se forma. São pessoas que nada
possuem, para quem permanecer nas condições em que se encontram é o mesmo que
aceitar o trágico destino que se delineia. Nessa perspectiva, ninguém pode ser
considerado culpado por apenas buscar um meio de garantir a própria sobrevivência, e
se a alternativa de sobrevivência implica numa onda migratória, urge reconhecer a esse
tipo de migrantes a condição de refugiado.
Historically, however, international protection has rarely been
provided to people fleeing across borders for reasons

54
YODER, Elsie Monge et al. Informe de la Comisión de Verdad: la voz más autorizada es la voz de las
víctimas. Tegucigalpa, 2012.
55
BORON, Atilio. “Hegemonia e imperialismo en el sistema internacional.” In: BORGIANNI, Elisabete e
et al (org). Coyuntura actual, latinoamericana y mundial: tendencias y movimientos. São Paulo: Cortez,
2009.
56
HARVEY, David. O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Loyola, 2008.p.80
predominantly relating to food insecurity or the absence of
livelihood opportunities. Refugee protection has been based
mainly on protecting people’s civil and political rights rather
than their economic and social rights (Price 2009). Yet from a
human rights law perspective, one can argue that this is an
arbitrary distinction because, beyond a certain threshold, those
fleeing food insecurity will be equally in need of international
protection (Foster 2009). Similarly, from an ethical
perspective, those fleeing the absence of basic liberty or basic
security cannot be privileged over those fleeing the absence of
basic subsistence, since all represent “rights without which it is
impossible to enjoy any other rights” (Shue 1980; Shacknove
1985) (...) The current delineation of refugees\ migrant is based
partly on a political\ economic distinction in underlying
motives, but there are many situations in which large-scale
deprivations of economic and social rights can be understood
as economic consequences of an underlying political
situation.57 58

A fome, o estado de necessidade, a falta de condições básicas de saneamento e


de educação devem ser entendidos, objetivamente, como grave violação aos Direitos
Humanos, não são apenas as pessoas que se encontram em Estados beligerantes ou que
sofram grave perseguição moral, religiosa e política, aquelas dignas de receber um
estatuto de refúgio inscrito no Direito e nas práticas da política internacional. 

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS

A adoção de medidas neoliberais enquanto fomento de desenvolvimento não se


sustenta, visto os resultados catalogados pelo FMI. A ideia de que as nações deveriam
deixar que o mercado se autorregule apenas proporcionou um aumento na desigualdade
e um crescente desrespeito aos direitos humanos. A justificativa para que governos
insistam na aplicação dessa doutrina é a existência de instituições políticas extrativistas

57
BETTS, Alexander. Survival Migration; Failed Governance and the crisis of displacement.
London: Cornell University Press, 2013. p.31-32
58
“Historicamente, no entanto, a proteção internacional raramente é oferecida a pessoas que fogem das
fronteiras por razões predominantemente relacionadas à insegurança alimentar ou à ausência de
oportunidades de subsistência. A proteção dos refugiados se baseia principalmente na proteção dos
direitos civis e políticos das pessoas, e não nos seus direitos econômicos e sociais (Price 2009). No
entanto, do ponto de vista da lei de direitos humanos, pode-se argumentar que essa é uma distinção
arbitrária porque, além de um certo limiar, aqueles que fogem da insegurança alimentar também precisam
de proteção internacional (Foster 2009). Da mesma forma, de uma perspectiva ética, aqueles que fogem
da ausência de liberdade ou segurança básica não podem ser privilegiados sobre aqueles que fogem da
ausência de subsistência básica, pois todos representam "direitos sem os quais é impossível gozar de
outros direitos" (Shue 1980; Shacknove 1985) (...) A atual delimitação de refugiados \ migrantes
baseia-se em parte em uma distinção política \ econômica em motivos subjacentes, mas há muitas
situações em que privações em larga escala de direitos econômicos e sociais podem ser entendidas como
conseqüências econômicas. uma situação política subjacente.” (traduação nossa).
sabotadoras da capacidade do Estado em atuar para alcançar um desenvolvimento social
efetivo e permanente.
A concentração de poder nas mãos de uma elite cada vez mais predatória se
mostra prejudicial não apenas aos mais vulneráveis, como também ao próprio Estado,
que acaba se fragilizando e fomentando situações que podem desembocar em
verdadeiro desastre social, com consequências para outros Estados e para sua população
migrante.
A proteção aos Direitos Humanos protege à própria democracia, não se pode
conceber a existência de uma sociedade democrática que sequer assegure os direitos
mais básicos aos seus cidadãos; a existência de insegurança alimentar é como um
certificado de que o Estado falhou em face a sua população, e, mais ainda, quando o
número de pessoas famélicas cresce de forma correlata à implementação de medidas
neoliberais, percebe-se a crueldade de governantes e acadêmicos que passam a
privilegiar lucro em razão da vida.
Como a situação da marcha dos desesperados pode demonstrar, a aplicação dos
ditames neoliberais não alcança outro fim, que não o caos social e o prejuízo à um
crescimento sustentável59.
Os migrantes por sobrevivência se diferem então de migrantes econômicos face
a sua necessidade de mudança em busca de condições mínimas de sobrevivência, e essa
condição precisa ser reconhecida para que os Estados comecem a prestar auxílio a esse
tipo singular de refugiado o reajuste nos credos economicistas que não se justificam na
realidade urgem governos a rever esses conceitos ao mesmo tempo que contemplam
uma solução do direito internacional para o caso das migrações por sobrevivência e
proteção dos direitos humanos por meio de ação comum baseada na interdependência e
cooperação, deveria ser considerada a bússola orientadora dos Estados e organismos
internacionais.

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