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ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM DIREITO


ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

“Desenvolvimento sustentável”:

qual desenvolvimento e qual sustentabilidade?


TEXTOS DE BASE:

● Desenvolvimento, direitos humanos e cidadania - SACHS, Ignacy

● Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento. - OLIVEIRA, G. B

● O Big Push Ambiental no Brasil: Investimentos coordenados para um estilo de desenvolvimento

sustentável. - GRAMKOW, Camila.

Texto Complementar

● Desenvolvimento e conflitos ambientais - ZHOURI, Andréa e LASCHEFSKI, Klemens


Desenvolvimento, direitos humanos e cidadania
Ignacy Sachs (Economista - Ecossocioeconomista)

Texto publicado no cinquentenário da Declaração Universal dos Direitos do Homem abordando os temas
Direitos Humanos e Desenvolvimento.

Retomada da abordagem histórica do Sec. XX - período de guerras, genocídio e massacres.


Desenvolvimento, direitos humanos e cidadania

Direitos Humanos como Fundamento das Nações Unidas (internacionalização): Carta das Nações
Unidas/Declaração Universal dos Direitos do Homem/Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e
Políticos/Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

Pressão e luta dos movimentos sociais e da opinião pública:

● Consolidação dos Estados de Direito;


● Fortalecimento das Garantias das liberdades negativas;
● Ampliação das liberdades positivas.
Desenvolvimento, direitos humanos e cidadania

● Primeira Geração de Direitos – políticos, civis e cívicos – se consolida;


● Segunda Geração de Direitos – sociais, econômicos e culturais – ação positiva do estado;
● Terceira Geração de Direitos – coletivos: à infância, ao meio ambiente, à cidade, ao
desenvolvimento dos povos (Conferência de Viena – 1993);
● Quarta Geração de Direitos – acesso ao uso adequado do patrimônio público – histórico,
ambiental e econômico.

Ascensão dos Direitos é fruto de lutas - processo histórico – caminho árduo a percorrer.
Desenvolvimento, direitos humanos e cidadania

Século XX - Crescimento da economia mundial – bens materiais – má distribuição - desemprego em


massa, subemprego e exclusão social.
Desenvolvimento, direitos humanos e cidadania

Segunda Metade do Sec. XX: Idade do Desenvolvimento - abandono da ideia simplista de crescimento
econômico - acréscimo de dimensões ao conceito de desenvolvimento - pluridimensional: econômico,
social, cultural, político, sustentável e humano - plena realização do homem em vez de multiplicação
de bens.

Segundo o autor Ignacy Sachs: Desenvolvimento balizado pela independência dos países coloniais,
pela emancipação das mulheres, pela emergência da sociedade civil organizada (sistema auto
instituído de poder, ao lado do poder político e econômico).

Desenvolvimento e Democratização – aprofundamento do exercício da cidadania – expansão,


universalização e apropriação efetiva dos direitos de segunda e terceira geração.
Desenvolvimento, direitos humanos e cidadania

Fim do Sec. XX – o social e o ecológico emergem como preocupação – lógica do mercado sobre a
lógica das necessidades.

Em que condições o crescimento é acompanhado de autêntico desenvolvimento?

Universalidade dos Direitos do Homem – norma última de qualquer política – diferença cultural não
pode mascarar ataques contra o Estado de Direito.

Direitos Humanos – Universais/Indivisíveis/Interdependentes – são direitos em movimento.

Direitos de Primeira Geração – constituem valor absoluto.


Desenvolvimento, direitos humanos e cidadania

A Declaração e o Programa de Ação de Viena propõem implantação de um sistema de


indicadores para avaliar os progressos alcançados na realização dos direitos anunciados no
Pacto Internacional.

O autor defende relatórios sobre a condição humana ao invés de indicadores quantitativos.


Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento

No texto, “Uma Discussão Sobre o Conceito de Desenvolvimento”, Gilson Batista Oliveira


discorre sobre as várias possibilidades de interpretação, atribuídas ao conceito de
desenvolvimento. A saber:

Progresso

Crescimento econômico,

Desenvolvimento

(Sob a perspectiva econômica). Industrialização,

Aumento nos níveis de renda,

Incremento da produção/circulação/consumo de bens,

Modernização.
O Sentido de desenvolvimento

A noção de crescimento econômico é intrínseca ao conceito de desenvolvimento;


ainda que este (o desenvolvimento) esteja muito além da mera compreensão daquele (o
crescimento econômico), já que o desenvolver (em uma acepção humanizada do termo)
envolveria o alcance generalizado da qualidade de vida, a qual pressupõe a eliminação das
desigualdades (políticas, econômicas, sociais, culturais), da miséria, do desemprego, da
discriminação, dentre outros.

A finalidade última do desenvolvimento seria alcançada, quando se atingisse o estado


de bem-estar humano, que se obtém pela eliminação da pobreza, do desemprego, das
desigualdades, da obtenção de saúde, alimentação, educação, moradia.
O debate sobre desenvolvimento econômico ampliou-se entre as nações
envolvidas, após a 2ª guerra; visando afastar as mazelas ressaltadas pelo conflito. Os
anseios por melhores condições globais estão manifestos na 1ª Declaração
Inter-aliada (1941), na Carta do Atlântico, na Carta das Nações Unidas (1945),
também na própria criação da ONU e de seus programas/organismos especiais.
Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento

Industrialização e Desenvolvimento: a industrialização amplia o crescimento


econômico por meio de encadeamento de atividades; mas nem sempre o
desenvolvimento econômico resultará em eliminação das desigualdades entre países
e regiões.

Desenvolvimento humano: aumento do nível de bem estar da população,


propiciado pelo processo de crescimento econômico (incremento da produção,
da produtividade, da circulação, do consumo de bens e produtos).
Uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento

Desenvolvimento sustentável (desenvolvimento e meio ambiente): resume-se na promoção do


desenvolvimento econômico, sem comprometimento da manutenção do ambiente natural. Segundo
Sachs (1993), ao se planejar o desenvolvimento, há que se observar 5 facetas da sustentabilidade:

1) Sustentabilidade social: melhoria na distribuição de renda;

2) Sustentabilidade econômica: maior eficiência na alocação/gestão de recursos;

3) sustentabilidade ecológica: preservação ambiental s/ comprometer a oferta de recursos


naturais;

4) sustentabilidade espacial: equilíbrio para ocupação econômica e humana dos espaços;

5) sustentabilidade cultural: alteração das ações e no pensamento social, visando o despertar


da consciência ambiental.
O BIG PUSH AMBIENTAL NO BRASIL
Investimentos coordenados para um estilo de desenvolvimento sustentável
Doutora em Economia da Mudança Climática pela Universidade de
East Anglia, no Reino Unido. Em sua tese, explorou políticas e
cenários para promoção, investimentos e inovação de baixo
CAMILA GRAMKOW carbono e seus impactos sociais, econômicos e ambientais no
Brasil. Tem mestrado em economia pelo Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Antes disso, ela se formou
como Economista pela Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP). Tem mais de
10 anos de experiência profissional na área de desenvolvimento
sustentável, tendo atuado na academia, no terceiro setor, em
consultorias e em cooperação internacional. Atuou em mais de 20
projetos de cooperação técnica, principalmente sobre economia de
baixo carbono, instrumentos econômicos para mitigação de
mudanças climáticas e política fiscal verde, em parceria com
diversos ministérios e órgãos governamentais brasileiros,
organismos internacionais e entidades da sociedade civil.
Atualmente, é Oficial de Assuntos Econômicos no Escritório do
Brasil da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(CEPAL) das Nações Unidas, onde tem trabalhado com o Grande
Impulso (Big Push) para a Sustentabilidade.
Comissão Econômica para a América Latina - CEPAL:

● Foi estabelecida pela resolução 106 (VI) do Conselho Econômico e Social, de 25/02/1948;
● É uma das cinco comissões regionais das Nações Unidas com sede em Santiago do Chile;
● Foi fundada para contribuir com o desenvolvimento econômico da América Latina, coordenar
as ações encaminhadas à sua promoção e reforçar as relações econômicas dos países entre
si e com as outras nações do mundo;
● Posteriormente, seu trabalho foi ampliado aos países do Caribe e se incorporou o objetivo de
promover o desenvolvimento social.
O artigo buscou promover um resgate da discussão sobre:

● ESTILOS DE DESENVOLVIMENTO
● SUSTENTABILIDADE
● TEMAS SOCIOECONÔMICOS ESTRUTURANTES

O QUE É UM ESTILO DE DESENVOLVIMENTO?

Segundo Aníbal Pinto, estilos de desenvolvimento são: “a maneira pela qual, dentro de um
determinado sistema, se organizam e se alocam os recursos humanos e materiais com o
objetivo de resolver as interrogações sobre o que, para quem e como produzir bens e
serviços” (Pinto, 1976).
O QUE É O BIG PUSH AMBIENTAL?
Conjunto de investimentos que produzam um ciclo virtuoso de:
● crescimento econômico;
● geração de empregos;
● desenvolvimento de cadeias produtivas;
● diminuição da pegada ambiental e dos impactos ambientais;
● recuperação da capacidade produtiva do capital natural.
(tudo isso junto e ao mesmo tempo e dentro do arcabouço do pensamento cepalino)
O BIG PUSH AMBIENTAL Representa uma articulação e coordenação de várias políticas:

● Públicas / Privadas;
● Nacionais / Subnacionais;
● Setoriais / Tributárias;
● Regulatórias / Fiscais;
● De financiamento / De planejamento;
● Etc.

OBJETIVO: Alavancar investimentos nacionais e estrangeiros para:

● Produzir um ciclo de crescimento econômico;


● Gerar emprego e renda;
● Reduzir desigualdades e brechas estruturais;
● promover sustentabilidade.
HETEROGENEIDADE ESTRUTURAL
Os elevados níveis de heterogeneidade estrutural dos sistemas produtivos são
caracterizados por desníveis profundos de produtividade dentro e entre os setores
econômicos dos países latino-americanos. Esses desníveis formam o núcleo duro a
partir do qual desigualdades se irradiam e se reproduzem na sociedade (CEPAL 2010,
2012, 2014).

No nível doméstico No nível internacional

● A heterogeneidade estrutural está ● A heterogeneidade estrutural


associada, por exemplo, à relaciona-se a um padrão comercial
concentração de grande parte da especializado em produtos de baixa
força de trabalho em setores de complexidade tecnológica, devido a
baixa produtividade, remuneração e entraves para a incorporação de
formalidade, além de reduzidas progresso técnico e à capacidade de
perspectivas de mobilidade social; inserção em mercados dinâmicos de
maior valor agregado, que agravam a
vulnerabilidade externa do país.
RESULTADOS ESPERADOS COM O MOVIMENTO DO BIG PUSH AMBIENTAL

Ao ampliar as capacidades tecnológicas, espera-se com o Big Push Ambiental:

● contribuir para soluções resilientes e de baixo carbono;


● inserção externa mais diversificada e competitiva;
● construção de bases para mais e melhores políticas sociais.

Alívio
Redução
Maior e restrição
Redução desigual-
BIG PUSH melhor externa /
emissão dades e
AMBIENTAL crescim. crescim.
dos GEE brechas
econômico longo
estruturais
prazo

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O ATUAL ESTILO DE DESENVOLVIMENTO É INSUSTENTÁVEL!!!

A crise da sustentabilidade atual pode ser entendida como padrões de produção e consumo
incompatíveis com as capacidades da biosfera de continuar oferecendo condições biofísicas
mínimas para sustentar o bem-estar humano das presentes e futuras gerações. Tal crise introduz
novos desafios e oportunidades para o desenvolvimento. Entre os desafios, no Brasil, temos:

● O aquecimento global desenfreado tornará o semiárido brasileiro maior e mais seco,


acentuando as desigualdades sociais e regionais;

● O aumento do aquecimento global causará maior vulnerabilidade externa das exportações


agrícolas brasileiras, uma vez que resultará em perdas em culturas-chave, tais como soja,
café e algodão.
Anomalia da temperatura superficial anual no mundo em relação à média
1985-2005 (1900-2100) -Em graus Célsius
05 35T1L05 4TU415 D3 D353NV0lV1M3NT0...

Do ponto de vista ambiental, os estilos atuais de desenvolvimento dos países têm levado a
uma crescente degradação dos recursos naturais e a um aumento da poluição, o que é
insustentável no longo prazo (CEPAL, 2016a).

Na ausência de esforços de mitigação de emissões de GEE adicionais àqueles em curso hoje,


a humanidade estará no caminho para chegar até o final do presente século com um
aquecimento global médio entre 3,7°C e 4,8°C e sob riscos muito elevados de impactos globais
severos, difundidos e irreversíveis (IPCC, 2014).

Dentre esses impactos, incluem-se a extinção de espécies, insegurança alimentar regional e


global e consequentes restrições às atividades humanas comuns (ibid.)
https://www.wearefuterra.com/
INAÇÃO

O agravamento das brechas estruturais do atual


estilo de desenvolvimento brasileiro, incluindo
pobreza, desigualdades territoriais e sociais,
https://www.nature.com/articles/s41893-021-00751-1 19/07/2021
baixa diversificação produtiva, heterogeneidade
estrutural, vulnerabilidade externa etc. ENFRENTAMENTO DA CRISE
Por outro lado, a escolha pelo enfrentamento da
crise ambiental traz oportunidades para realizar
mudança estrutural progressiva, articulada e
orientada por um Big Push Ambiental
transformador da estrutura produtiva e de
consumo. Ao ampliar as capacidades
tecnológicas, o Big Push Ambiental contribuirá
para soluções resilientes e de baixo carbono e
para uma inserção externa mais diversificada e
competitiva, construindo as bases para mais e
https://csb.org.br/noticias/brasil-ja-tem-mais-de-5-milhoes-de-criancas-na-
extrema-pobreza (7 de dezembro de 2018) melhores políticas sociais.
O Big Push Ambiental é inspirado na ideia de Paul Rosenstein-Rodan de que é necessário um
conjunto substancial de investimentos complementares – que dê um grande impulso (big push) -
para permitir um salto definitivo de desenvolvimento.

Essa analogia do processo de mudança de estilo de desenvolvimento à decolagem de um avião


remete a dois pontos centrais:
1) escala mínima 2) coordenação de investimentos
Ao notar que a profunda transição para sistemas de Além de uma escala mínima, a analogia com
energia, produtivo, de infraestrutura etc., de baixa os bits (partes), que só são viáveis
emissão de carbono exigirá um conjunto substancial individualmente se forem articulados de
de investimentos coordenados mundialmente, da modo simultâneo, enfatiza que cada
ordem de 900 bilhões de dólares por ano em média investimento deve ser coordenado com
(IPCC, 2018), pode se fazer uma analogia entre a investimentos paralelos em outros setores
grande escala de investimentos de baixo carbono a para que cada um deles seja rentável e viável.
serem mobilizados como algo próximo do quantum
mínimo que o desenvolvimento exige, ou seja,
como um motor de um big push ambiental.
“Há um nível mínimo de recursos que devem ser dedicados a um programa de desenvolvimento
para ter alguma chance de sucesso. Lançar um país em crescimento autossustentado é um pouco
como tirar um avião do chão. Há uma velocidade crítica que deve ser ultrapassada antes que a
aeronave possa ser transportada pelo ar. ... Prosseguindo ‘bit by bit’ não irá adicionar em seus
efeitos a soma total dos bits individuais. Um quantum mínimo de investimento é uma condição
necessária, embora não suficiente, de sucesso. Isso, em poucas palavras, é argumentação da
teoria do big push. ” (Rosenstein-Rodan, 1957)
CAMINHOS PROPOSTOS

Políticas de estímulos verdes poderiam ser uma forma de acelerar a


recuperação econômica e iniciar a transição para uma economia resiliente e de
baixo carbono. Para além da recuperação verde, o Brasil tem à sua frente uma
oportunidade de dar um salto definitivo de desenvolvimento com base em um
Big Push Ambiental, como proposto pela CEPAL.
Aproveitando o momento de baixa cíclica da economia brasileira, estímulos
verdes poderiam ser utilizados com papel tanto anticíclico, quanto
transformador socioeconômico e ambiental estrutural, dando o pontapé inicial
para o Big Push Ambiental no país. É preciso aproveitar as janelas de
oportunidade que se apresentam para engendrar um processo de mudança
estrutural progressiva rumo a um estilo de desenvolvimento sustentável.
DESENVOLVIMENTO E CONFLITOS AMBIENTAIS:
um novo campo de investigação
Modelo de Desenvolvimento começa

Estratégias para
Entre dácadas de 70 a 80:

modernização dos países


a ser questionado

chamados de 3o mundo
Investimentos
em:
infraestrutura de transporte,
Apoio dos governos e de energia e de indústrias de base
instituições financeiras como pólos de desenvolvimento para
internacionais aceleração do desenvolvimento
econômico.

Expectativa -> Fase inicial Take off : efeito automático de inclusão


social pela geração de emprego e renda com consequente
instalação de estado de bem estar social, o processo Trickle Down
“Dizia-se que a Amazônia era um inferno. Um inferno verde.
Mata fechada, solidão e silêncio. Um inferno onde todos estavam
longe de tudo. Longe até mesmo do progresso. O Banco do Brasil
nunca levou isso a sério. Tanto que sua segunda agência foi instalada
justamente em Manaus. Há 63 anos.
Vá conferir. Vá ver gente barulhenta trabalhando sem parar nas
novas indústrias. É o Banco do Brasil emprestando dinheiro.
A Zona Franca e os incentivos fiscais estimulando o desenvolvimento.
É o Banco do Brasil emprestando dinheiro.
A Transamazônica quebrando aquela solidão e aquêle silêncio.
É o Banco do Brasil emprestando dinheiro.
Para o Banco do Brasil, o inferno nunca existiu neste país.”

Anúncio do Banco do Brasil publicado na revista Realidade de 1972 em edição


especial sobre a Amazônia.
Propaganda da companhia de navegação marítima Netumar

“É isso mesmo. A Amazônia do folclore, da selva


impenetrável, da falta de recursos, de nenhuma comunicação,
da imensa pobreza… Já era. Hoje como cresce! Dia a dia o seu
desenvolvimento, as suas grandes obras, as indústrias que lá se
implantam, espantam o mundo. E como isso nos orgulha. A
todos nós, é claro”
Propaganda da construtora Andrade Gutierrez Propaganda da Sudam publicada na publicada Capa da edição especial da Revista Manchete
publicada na Edição Especial Amazônia da na Edição Especial Amazônia da Revista de fevereiro de 1973
Revista Realidade de 1972 Realidade de 1972.
CONSEQUÊNCIAS DE UM MODELO INSUSTENTÁVEL

ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO IMPLEMENTADAS NÃO LOGRARAM ÊXITO ANUNCIADO:

Consequências:

● Desigualdade social, desemprego, conflitos fundiários,


devastação ambiental e exclusão de grupos
marginalizados.

● Perda de grandes áreas de cobertura vegetal nativa que


foram vistas como sub utilizadas e transformadas em
empreendimentos agroexportadores e complexos
industriais.

Cândido Portinari
"Os despejados" - 1934
E como as mudanças e quebras de paradigma não se fazem sem ação:

Em 1980 - Consolidação da noção de Uso sustentável da Natureza

POVOS DA FLORESTA: protagonistas na história de superação da dicotomia sociedade-natureza e da


promoção do “desenvolvimento sustentável” - Concepção socioambientalista

Francisco Alves Mendes Filho (Chico Mendes) nasceu em 1944 em Xapuri,


uma região de seringal no interior do Acre. Aprendeu a ler só por volta dos 19
anos de idade. Morreu assassinado, aos 44. Apesar da vida curta, tornou-se
conhecido internacionalmente. Foi capaz de, com todas as limitações que o
cercavam, fazer conhecida sua voz, arriscando a vida pela defesa dos
trabalhadores extrativistas e da preservação da floresta amazônica.

Texto adaptado de Agência Senado


Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2013/12/16/chico-mendes-legado-de-coragem-em-defesa-da-floresta
Movimento Global

Conferência das Conferência das


Conferência das
Nações Unidas Nações Unidas sobre Cúpula Mundial Cúpula das Nações
Nações Unidas sobre
sobre o Meio Meio Ambiente e sobre Unidas Sustentável
Desenvolvimento
Ambiente Humano Desenvolvimento Desenvolvimento Nova York 2015
Sustentável
Estocolmo 1972 Rio de Janeiro 1992 Sustentável
Rio de Janeiro 2012
Joanesburgo 2002

● Agenda 21
● Convenção da ONU sobre a Diversidade Biológica (1992)
● Convenção da ONU de Combate à Desertificação(1994)
● Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas(IPCC) -Protocolo de Kyoto
● Acordo de Paris
● Agenda 2030 - ODS
Ecologia

Novo modelo de desenvolvimento:

Economia Equidade Social


Desenvolvimento Sustentável: um conceito apropriado

Conceito apropriado e proposta de conciliar interesses econômicos, ambientais e sociais

Esquema conciliador
Adequação ambiental e social

Problemas ambientais: prevenção de Problemas Sociais: Políticas de


impactos, mitigação e compensação de necessidades básicas para combater a
danos ambientais pobreza -> iniciativas de capacitação e
autoajuda e políticas assistencialistas

Perda de espaço das propostas de modernidade alternativa


Estratégia Atual para o Desenvolvimento Sustentável

Criação de Sistemas Regulatórios e Institucionais


a
i ê nci
★ Fóruns fi c
de e ca de
★ Esquemas de avaliação ambiental das instituições financeiras a s éti m os
s
o g ram nerg c ani cado
★ Mecanismos de Licenciamento Ambiental Pr e e
M Mer
★ Reforço da Legislação Ambiental
s
uto ente a das
★ Ênfase na Educação Ambiental o d r i e
Pr icam lho sd
★ Novas tecnologias ditas ambientais log retos Me diçõe o
h
c o
e cor con rabal
★ Programas de responsabilidade socioambiental t

Pedagogia de Planos de Gestão


Elaboração de
Pacificação esverdeamento / Manejo
Políticas Sociais
do empresariado Ambiental

Ou t
r
apen ata-se
as “d
Seria o casamento feliz entre a Economia e a Ecologia? anei os
s”?
Desenvolvimento Sustentável: qual desenvolvimento?
qual sustentabilidade?

2003: Esperança de mudança estrutural quando Lula assume o poder e Marina Silva é
designada para o MMA
Proposta de alinhamento e coerência entre as políticas econômicas, sociais e
ambientais

Esperanças desfeitas:
● Marina Silva perde a luta para os transgênicos
● Enfraquecimento das políticas para a Amazônia e ecossistemas ameaçados
● PAC retoma grandes projetos de infraestrutura

● Ressurgimento dos conflitos entre visões “desenvolvimentistas” e “ambientalistas”


E continua a busca
● Até mesmo os avanços ambientais começam a ser considerados como entraves ao por uma sociedade
desenvolvimento mais justa,
igualitária e
ambientalmente
● Retoma-se a discussão sobre a insustentabilidade estrutural do modelo urbano
industrial capitalista, ainda quando ambientalmente adequado. Adequado a quem? viável.
Conflitos Ambientais
Surgem pelo embate entre distintas práticas de apropriação técnica, social e material do mundo natural

Práticas de reprodução Atividades econômicas


material e simbólicas de voltadas à acumulação de
diferentes populações. capital

Presença do Estado carregada de dualidade

Implementador de Mediador em defesa


políticas das populações
conservacionistas atingidas
autocráticas
Tipos de Conflitos Ambientais

Conflitos Ambientais Conflitos Ambientais Conflitos Ambientais


Distributivos: Espaciais: Territoriais:

Distribuição desigual dos Efeitos ou impactos ambientais relacionados à apropriação


recursos naturais; que ultrapassam os limites entre capitalista da base territorial
desigualdades sociais no os territórios de diversos de grupos sociais
acesso e na utilização dos agentes ou grupos sociais;
recursos naturais;

Apesar dos limites reais de toda classificação, uma tipologia dos conflitos permite, para fins analíticos,
visualização quanto à forma e à profundidade do enfrentamento entre os grupos envolvidos e as
possibilidades reais da sua conciliação ou solução.

É necessário mencionar, pois, a existência de uma dinâmica dialética entre os conflitos ambientais
territoriais, espaciais e distributivos, que, na prática, podem ocorrer em simultaneidade.
Conflitos Ambientais em Minas Gerais

Mapa dos Conflitos Ambientais - Gesta UFMG


https://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/observatorio-de-conflitos-ambientais/mapa-dos-conflitos-ambientais/
Caminhos para solucionar os Conflitos Ambientais?

● Conflitos mais tipicamente espaciais: podem muitas vezes ser solucionados através de meios
técnicos, dentro da lógica da modernização ecológica (substituição de produtos cancerígenos,
instalações de filtros ou técnicas de tratamento de água/esgoto etc.).
● Conflitos mais tipicamente distributivos: podem ser solucionados por abordagens que envolvem
pensar o papel do Estado e do mercado como instituições reguladoras da sociedade moderna e
que podem se traduzir, em última instância, em estratégias clássicas de transformação da sociedade
capitalista.
● Conflitos mais tipicamente territoriais: difícil estabelecimento de compromissos ou consensos,
uma vez que colocam em jogo distintas racionalidades (modos de ser, fazer, pensar) relacionadas
com o próprio conceito de desenvolvimento, assim como expressam a luta pela autonomia de
grupos que resistem ao modelo de sociedade urbano-industrial e as instituições reguladoras do
Estado moderno.
“Não raro, são os cientistas,
empresários, técnicos e dirigentes
de órgãos públicos que dominam as
dinâmicas dos processos
decisórios. Já as "vozes" dos povos
atingidos, política e
economicamente fragilizados,
encontram enormes obstáculos
para serem ouvidas nos debates,
decisões e documentos.”

Criança Morta, 1944 Candido Portinari

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