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Escola Nacional de

Administração Pública

MDDULDS
01-02-03

DESENUOLUIMENTO
HUMANO NO SÉCULO HHI

Enap
mm
mm
Conteudistas, 2021

Gabriela Nicolau dos Santos


Lidia Goncalves Botelho
Giane Boselli

Arte final

Clóvis Cézar Pedrini Júnior

Diretoria de Desenvolvimento Profissional


Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Curso produzido em Brasília 2021.


Desenvolvimento do curso realizado por meio de parceria entre Enap e PNUD.

Enap, 2021. PNUD Brasil, 2021.

Enap - Escola Nacional de Administração Programa das Nações Unidas para o


Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissio­ Desenvolvimento - Brasília, DF
nal SAIS - Área 2-A - 70610-900 - Brasília, DF
SUMARIO

Desenvolvimento humano no século XXI

Módulo 1: O desenvolvimento Humano na Contemporaneidade

Unidade 1: Histórico e conceito do Desenvolvimento Humano


Unidade 2: Desafios para o desenvolvimento humano na contemporaneidade

Módulo 2: Ferramentas para o desenvolvimento humano

Unidade 1: A importância dos dados desagregados para o desenvolvimento

Módulo 3: Indicadores relacionados ao desenvolvimento humano

Unidade 1: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)


Unidade 2: Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado às Pressões sobre o Planeta (IDHP)
O desenvolvimento Humano na Contemporaneidade

Ferramentas para o desenvolvimento humano

Indicadores relacionados ao desenvolvimento humano


mm
mm Enap

MÓDULol

O DESENUOLUIMENTO
HUMANO NA
CONTEMPORANEIDADE
DESENUOLUIMENTO
HUMANO NO SÉCULO HHI
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI


MÓDULO 01

UNIDADE 1: HISTÓRICO E CONCEITO DO


DESENUOLUIMENTO HUMANO
1.1. O DESENUOLUIMENTO HUMANO E A AGENDA 2030

UNIDADE 2: DESAFIOS PARA O DESENUOLUIMENTO


HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE
2.1. DESENUOLUIMENTO HUMANO E OS RISCOS DO ANTROPOCENO

UNIDADE 1: HISTÓRICO E CONCEITO DO DESENUOLUIMENTO HUMANO

Objetivo de Aprendizagem:

Conhecer o histórico, o conceito e os desafios para o Desenvolvimento Humano na


contemporaneidade.

1.1. O DESENUOLUIMENTO HUMANO E A AGENDA 2030

HISTÓRICO E CONCEITO

Há diferentes formas de pensar o Desenvolvimento Humano. Uma delas


entende esse conceito associado ao desempenho da economia, muitas vezes refle­
tido no Produto Interno Bruto (PIB) - medida de desenvolvimento cujo conceito foi
desenvolvido na década de 1940 pelo economista britânico Richard Stone - ou nas
taxas de desemprego de determinado país. Associada a essa forma de pensar,
existe a ideia de que o Desenvolvimento Humano é encontrado em grandes núcle­
os populacionais, onde, acredita-se, as oportunidades de acesso a educação, cultu­
ra, saúde e emprego são maiores.

Diferentemente da perspectiva que sugere que o desenvolvimento esteja


ancorado primordialmente nos aspectos econômicos de uma região, a abordagem
de Desenvolvimento Humano coloca as pessoas no centro da análise do bem-es-

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

tar, redefinindo a maneira como pensamos e lidamos com o desenvolvimento em


diferentes escalas territoriais (Atlas Brasil).

Nesse sentido, no conceito de Desenvolvimento Humano, a vivência do


indivíduo na sociedade deve ser o centro de análise, considerando nesse conceito a
ampliação das oportunidades de escolhas, para que pessoas tenham a capacidade
e a possibilidade de serem aquilo que desejam ser. Portanto, deve-se compreender
o Desenvolvimento Humano como "o processo de ampliação das liberdades das
pessoas com relação às suas capacidades e oportunidades" (Atlas Brasil).

Em 1990, o primeiro Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) do Pro­


grama das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) introduziu uma nova
abordagem para promover o bem-estar humano. Nesse momento, a abordagem
do Desenvolvimento Humano se firmou como a expansão da riqueza da vida
humana e não simplesmente a riqueza da economia em que os seres humanos
vivem. O RDH passou então a analisar os países anualmente com essa abordagem
focada nas pessoas e em suas oportunidades e escolhas.

Veja como o PNUD explica as três dimensões-chave do Desenvolvimento


Humano:

• Pessoas: o conceito de Desenvolvimento Humano tem seu foco na me­


lhora da vida das pessoas, tendo em vista que o crescimento econômico nem
sempre conduz a um bem-estar maior para todos. Assim, o crescimento da renda é
visto como um meio para o desenvolvimento, ao invés de um fim em si mesmo.
• Oportunidades: Desenvolvimento Humano consiste em dar às pessoas
mais liberdade para viver a vida que valorizam, desenvolver habilidades e chance
para usá-las. Por exemplo, a educação de meninas é muito importante para
aumentar suas habilidades, mas elas também precisam de acesso aos empregos e
de habilidades técnicas específicas para o mercado de trabalho local. Logo, três
bases para o Desenvolvimento Humano são viver uma vida longa, saudável e criati­
va, ter conhecimento e acesso a recursos necessários para um padrão de vida
decente.

• Escolha: é preciso dar oportunidades a todas as pessoas. Criar um am-

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

biente para que se desenvolvam em todo o seu potencial e tenham chances de con­
seguir levar uma vida produtiva e criativa.

DESENVOLVIMENTO HUMANO E AGENDA 2030

Na medida em que os países tentam implementar e monitorar a Agenda


2030, a abordagem de Desenvolvimento Humano continua útil para articular os
objetivos de desenvolvimento e melhorar o bem-estar das pessoas, garantindo um
planeta equitativo, sustentável e estável.

Frente aos desafios globais para o alcance desse nível de desenvolvimento,


os países buscam soluções para a organização e o efetivo enfrentamento dessas
dificuldades, o que foi materializado pela construção de duas importantes agendas
globais para o desenvolvimento, quais sejam: os Objetivos do Desenvolvimento do
Milênio, em vigor até 2015, e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
em vigor até 2030.
Os 193 países-membros que adotaram a agenda global "Transformando o
nosso Mundo: a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030" aceitaram o
desafio de adotar medidas para erradicar a pobreza e promover o desenvolvimento
ambiental, social e econômico, respeitando e adequando as medidas necessárias a
cada realidade nacional e local.

Dessa forma, os ODS compreendem a incorporação do conceito de Desen­


volvimento Humano em sua versão mais ampla, internalizando o seu aspecto
humano, buscando ampliar o processo de escolhas das pessoas nas mais diversas
áreas de desenvolvimento, para que elas tenham capacidades e oportunidades de
serem aquilo que desejam ser no mundo. Eles abrangem áreas diversas e interliga­
das como: o combate à desigualdade; o acesso equitativo a alimentação, saúde e
bem-estar e serviços de saúde de qualidade; a educação e a criação de emprego
digno; a sustentabilidade energética e ambiental; a conservação e a gestão dos
oceanos; a promoção de instituições eficazes e de sociedades estáveis.

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

Figura 1: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS

OBJ

SUSIENTÂVB.

Fonte: PNUD Brasil C https://brasil.un.org/pt-br/sdgs . Acesso em: 17 de dezembro de 2021.)

UIDEO 01

Mensurando o Processo de Desenvolvimento

SAIBA MAIS

A Agenda 2030 tem como principal lema a ideia de "não deixar nin­
guém para trás", ainda que se saiba que o desafio para alcançar a

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

inclusão e a igualdade é grande, complexo e dependente de interação


entre diferentes fatores e atores sociais.
Trata-se de atuar global e localmente para garantir que as políticas
para o desenvolvimento alcancem todas as pessoas, independente­
mente de gênero, raça, cor, etnia, nacionalidade, religião ou qualquer
outra condição.

Em termos ambientais, há o desafio da institucionalização de padrões


de produção e consumo que não afetem a sustentabilidade do plane­
ta e não destruam ecossistemas inteiros.

No âmbito econômico, estamos vivendo um momento crítico. De


acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano 2020, pode-se
afirmar que a pandemia de covid-19 teria lançado cerca de 100
milhões de pessoas para uma situação de pobreza extrema, o pior
retrocesso em uma geração, segundo o Banco Mundial.

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- DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 2020. A próxima fronteira: O desenvolvi­


mento humano e o Antropoceno. PNUD: 2020. Disponível em: http://hdr.undp.org/sites/­
default/files/hdr2020_pt.pdf . Acesso em 17 de novembro de 2021.
NAÇÕES UNIDAS. Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável. Nova York: 2015. Disponível em: https://www.undp.org/content/dam/brazil/­
docs/agenda2030/undp-br-Agenda2030-completo-pt-br-2016.pdf . Acesso em 17 de
novembro de 2021.
PNUD, FJP, IPEA. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o Atlas do Desen­
volvimento Humano no Brasil. PNUD, FJP, IPEA: 2020. Disponível em: http://
www.atlasbrasil.org.br/acervo/biblioteca . Acesso em: 17 de dezembro de 2021.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

UNDP. Regional Human Development Report 2021 1 Trapped: High Inequality and Low
Growth in Latin America and the Caribbean. New York: 2021. Disponível em:
https://www.latinamerica.undp.org/content/rblac/en/home/li­
brary/human_development/regional-human-development-report-2021.html . Acesso em
17 de novembro de 2021.

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

UNIDADE 2: DESAFIOS PARA O DESENUOLUIMENTO HUMANO


NA CONTEMPORANEIDADE

Objetivo de Aprendizagem:

Entender a correlação entre os conceitos de Antropoceno, Sistemas Socioecológicos


e Ecologia Política e sua relevância para o Desenvolvimento Humano contemporâneo.

2.1. DESENUOLUIMENTO HUMANO E OS RISCOS DO ANTROPOCENO

Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2020, intitulado "A


próxima fronteira: O desenvolvimento humano e o Antropoceno" (PNUD, 2020),
o momento que a humanidade atravessa é único em toda a história de sua existên­
cia, assim como da existência do próprio planeta Terra.
O documento fortalece a crença de que o empoderamento das pessoas
pode trazer o caminho mais importante para alcançarmos o equilíbrio do planeta
em um mundo mais justo. Dito isso, estamos passando por um momento sem pre­
cedentes na história, no qual a atividade humana se tornou uma força dominante
na formação do planeta, gerando impactos que interagem com as desigualdades
existentes, ameaçando reversões significativas no desenvolvimento. Nesse senti­
do, precisamos de uma grande transformação em como vivemos, trabalhamos e
cooperamos, para mudar o rumo da história da humanidade. (Figura 2)
Além disso, estamos passando por uma crise climática, um colapso da bio­
diversidade pela acidificação do oceano e muito mais. Muitos cientistas acreditam
que, pela primeira vez, ao invés de o planeta moldar os humanos, os humanos
estão conscientemente moldando o planeta. Esse é o Antropoceno - a Era dos Hu­
manos - uma nova época geológica.

Embora a humanidade tenha alcançado enormes progressos, também

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

Figura 2: Estrutura do Relatório de Desenuoluimento Humano de 2020

Fonte: http://hdr.undp.org/en/2020-report/download . Acesso em: 17 de dezembro de 2021.

está desestabilizando os sistemas que dependemos para sobreviver. A covid-19,


que certamente surgiu dos animais, mostra nosso futuro e a tensão em nosso pla­
neta. Assim, essa doença rapidamente expôs as desigualdades, as fraquezas nos
sistemas sociais, econômicos e políticos e as ameaças de reversão no Desenvolvi­
mento Humano. Existem também outras crises, como as mudanças climáticas, que
continuam a causar danos. Dito isso, os desequilíbrios planetários e sociais intera­
gem em um círculo vicioso, cada um tornando o outro pior.
De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano 2020 (RDH 2020):

Há muito que os cientistas advertem para o surgimento, com mais frequência, de orga­
nismos patogênicos desconhecidos, devido às interações entre os seres humanos, o
gado e a vida selvagem, as quais têm aumentado a um ritmo constante, quer em termos
de escala quer de intensidade, pressionando, em última análise, os ecossistemas locais

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

de tal forma que levaram ao alastramento de vírus mortíferos a uma escala sem prece­
dentes. O novo coronavírus poderá ser o mais recente e - a menos que a humanidade
seja capaz de construir fronteiras e estabelecer limites ao sistema econômico - não será
o último (Síntese RDH 2020, pág. 3).

Esses sinais alarmantes da relação insustentável entre o modelo de Desen­


volvimento Humano e a capacidade de regeneração do sistema de vida na Terra
começaram a ser sistematicamente divulgados a partir de 1972 por parte das
Nações Unidas, tendo como marco inicial a Conferência Mundial das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente Humano, que aconteceu em Estocolmo (Suécia).
O RDH 2020 ilustra, ainda, desastres ambientais que têm sido verificados,
nos últimos meses, em todo o mundo, a exemplo de incêndios na Austrália, no Pan­
tanal brasileiro, no leste da Sibéria, na Federação Russa e na Costa Ocidental dos
Estados Unidos. Dessa forma, a diminuição da biodiversidade do planeta já repre­
senta a extinção de um quarto das espécies e os especialistas acreditam que esta­
mos à beira da extinção de espécies em massa, a sexta na história do planeta, mas
a primeira causada por um único organismo: nós.

A teia de vida que conecta todas as espécies não pode ser desfeita sem que
os efeitos negativos sejam sentidos por todas as espécies vivas do planeta. Em
termos sociais, os desequilíbrios são também intensificados com as alterações glo­
bais perigosas à vida na Terra.
A solução para os problemas que a humanidade enfrenta, conforme anun­
cia o RDH 2020, depende da capacidade de todas as pessoas, individual e coletiva­
mente, de refletir acerca de suas próprias escolhas, conscientizando-se de que elas
são moldadas pelos valores e pelas instituições, e que estas últimas deram origem
aos desequilíbrios sociais e planetários com os quais nos deparamos. Em outras
palavras, o desafio a ser vencido pela humanidade tem a ver com o entendimento
da rigidez dos valores e das instituições, e de como essa rigidez mantém as pessoas
presas às escolhas do passado.

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

Figura 3: Capa da Relatório da Desenualuimenta Humana 2020

Fonte: http://hdr.undp.org/en/2020-report/download . Acesso em: 17 de dezembro de 2021.

O RDH 2020 afirma que a humanidade tende a adentrar em uma nova era
geológica: o Antropoceno ou a Era dos Seres Humanos. Assim, pela primeira vez na
história, os riscos mais graves e imediatos, até mesmo existenciais, são de origem
humana e ocorrem em escala planetária, provocando desde as alterações climáti­
cas, até novas pandemias, passando pelo aumento das desigualdades.

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

Segundo o RDH 2020, o Desenvolvimento Humano sustentado na


natureza contribui para três dos principais desafios do Antropoce­
no:

1. A atenuação das alterações climáticas e adaptação a elas;


2. A proteção da biodiversidade;

3. A garantia do bem-estar de todos os seres humanos.

Nas palavras de Enrique Leff (1988), para alcançarmos um mundo susten­


tável, será necessário que os seres humanos direcionem a potência das novas tec­
nologias para a construção de uma vida saudável e que não leve à morte entrópica
do planeta que habitamos.

Segundo Leff, a principal causa da crise ambiental, da degradação ecológi­


ca e do aquecimento global é o processo econômico, que atua como motor gerador
da entropia (degradação da matéria e da energia), que acelera a morte do plane­
ta. Ou seja, o crescimento sem limites (hiperconsumo, imperativo da lucratividade,
exploração do trabalho, alta produção, esgotamento da natureza, poluição etc.) faz
soar os alarmes ecológico e humano, gerando a perda da fertilidade da terra e a
desorganização dos ecossistemas.

Nesse sentido, dois conceitos são necessários, o de Sistemas Socioecoló­


gicos e o de Ecologia Política.

Por Sistemas Socioecológicos, entende-se a inter-relação complexa exis­


tente entre a natureza e os seres humanos, considerando as interações econômi­
cas, políticas, sociais e culturais entre diferentes atores, bem como suas necessida-

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

des e seus interesses. Dessa forma, a desvinculação entre a natureza e as pessoas


se torna cada vez mais sem sentido.

O conceito de Sistemas Socioecológicos reconhece que o uso que as pesso­


as fazem da natureza está embutido no sistema socioeconômico, nos seus valores,
nas relações sociais e políticas, no direito de uso, nas leis, na governança, no merca­
do, nas relações econômicas etc. (Buschbacher, 2014).

Embora o termo "soluções sustentadas na natureza" padeça da associa­


ção a uma linguagem orientada para as soluções, não é dessa índole.
Pelo contrário, as soluções (ou abordagens) sustentadas na natureza
têm, com frequência, raízes em perspectivas assentes num sistema
socioecológico, que reconhecem a multiplicidade dos benefícios e valo­
res inerentes a um ecossistema saudável, tanto para as pessoas
como para o planeta. (...) o problema não reside nas soluções sustenta­
das na natureza, mas sim na inadequação das métricas e dos modelos
de governança prevalecentes, bem como em não se reconhecer a auto­
nomia das pessoas no âmbito da sua implementação. Para o sucesso
dos países e das pessoas no Antropoceno, é imprescindível que a conju­
gação do pensamento e da formulação de políticas se torne norma (Sín­
tese RDH 2020, pág. 11).

Devemos analisar, com espírito crítico, essa prova de fogo das instituições
e dos valores humanos - mais especificamente, o modo de distribuição e o exercí­
cio do poder - para acelerar a implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvi­
mento Sustentável, pelas pessoas e pelo planeta.

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

Ecologia Política

A Ecologia Política busca entender as relações de poder existentes


entre a sociedade e a natureza embutidas nos interesses, nas institui­
ções, no conhecimento e nos imaginários sociais que tecem os mun­
dos-da-vida das pessoas. Por meio da desconstrução da racionalidade
insustentável da modernidade e fundada no pensamento emancipa­
tório e na ética política, a ecologia política busca mobilizar ações
sociais, no mundo globalizado, para a construção de um futuro sus­
tentável.

Dentre os princípios da Ecologia Política, destacam-se o reconheci­


mento da diversidade cultural, do conhecimento tradicional e dos
direitos dos povos indígenas (Leff, 2015).

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- DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÔDULO 01 1 O DESENUOLUIMENTO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 2020. A próxima fronteira: O desenvolvi­


mento humano e o Antropoceno. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), 2020. Disponível em: http://hdr.undp.org/sites/default/files/hdr2020_pt.pdf .
Acesso em 17 de novembro de 2021.
Buschbacher, Robert. A Teoria da Resiliência e os Sistemas Socioecológicos: Como se
preparar para um futuro imprevisível? Ipea Boletim Regional, Urbano e Ambiental, 2014.
Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/5561?1ocale=pt_BR . Acesso
em 17 de novembro de 2021.
Leff, Enrique. Ecologia Política: uma perspectiva latino-americana. Revista Desenvolvimen­
to e Meio Ambiente, v. 35, p. 29-64, dez. 2015. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/ma­
de/article/view/44381/27086 . Acesso em 17 de novembro de 2021.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 2019. Além do rendimento, além das


médias, além do presente: Desigualdades no desenvolvimento humano no século XXI.
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. 2019. Disponível em: https://
www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/library/relatorio-do-desenvolvimento-
humano-2019.html . Acesso em: 17 de dezembro de 2021.

GLOSSÁRIO
ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
PIB - Produto Interno Bruto
RDH - Relatório de Desenvolvimento Humano
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

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mm
mm Enap

MÓDULD2

FERRAMENTAS PARA O
DESENUOLUIMENTO HUMANO
DESENUOLUIMENTO
HUMANO NO SÉCULO HHI
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 02 1 A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS PARA O DESENUOLUIMENTO

MÓDULO 02 DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI

UNIDADE 1: A IMPORTÂNCIA DOS DADOS


DESAGREGADOS PARA O DESENUOLUIMENTO
1.1. DESENUOLUIMENTO HUMANO PARA ALÉM DAS MÉDIAS
1.2. PRODUÇÃO DE DADOS DESAGREGADOS

UNIDADE 1: A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS


PARA O DESENUOLUIMENTO

Objetivo de Aprendizagem:

Entender como a produção e a análise de dados desagregados podem auxiliar a


superar os desafios para o Desenvolvimento Humano.

1.1. DESENUOLUIMENTO HUMANO PARA ALÉM DAS MÉDIAS

O Relatório do Desenvolvimento Humano 2019 - "Além do rendimento,


além das médias, além do presente: As desigualdades no desenvolvimento
humano no século XXI" (PNUD, 2019) explora as desigualdades no Desenvolvimen­
to Humano, indo além da renda, além das médias e além de hoje. Ele questiona
quais formas de desigualdade são importantes e o que as motiva, reconhecendo
que as piores desigualdades geralmente são vistas como um sintoma de um pro­
blema maior presente em determinada sociedade e em sua economia. Também
questiona quais políticas podem, simultaneamente, ajudar as nações a fazerem
suas economias crescerem, melhorarem o Desenvolvimento Humano e reduzirem
a desigualdade.

Dito isso, é difícil obter uma imagem clara das desigualdades no Desenvol­
vimento Humano e de como elas estão mudando. Uma parte do desafio atual con­
siste em compreender as diversas formas de desigualdade que existem. Veja
alguns destes desafios a seguir:

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 02 1 A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS PARA O DESENUOLUIMENTO

• Existem desigualdades entre grupos (desigualdades horizontais) e entre


indivíduos (desigualdades verticais).
• Existem desigualdades entre países e no seu interior, com diversas dinâ­
micas distintas.
• Existem desigualdades dentro do mesmo domicílio.

No RDH 2019, o PNUD considera que é necessário produzir uma nova gera­
ção de métricas e dados para medir essas diversas desigualdades e ir sistematica­
mente além das médias. No entanto, muitos países ainda não possuem as estatísti­
cas mais básicas, carecendo de sistemas essenciais de registro de dados.
Até 2019, houve um progresso notável no que se refere ao rendimento e às
desigualdades de riqueza. Contudo, os dados permanecem escassos em muitos
países em vias de desenvolvimento, devido, em parte, à falta de transparência e de
sistemas de coleta de informações.

No caso do Brasil, onde já temos as mais diversas estatísticas, de acordo


com o documento "Desenvolvimento Humano para Além das Médias" (PNUD,
2017), de 2016 a 2018, a desigualdade voltou a aumentar. Em 2019, o índice de Gini
do rendimento domiciliar per capita do Brasil foi de 0,543, um pouco menor que em
2018, mas ainda está maior que os patamares de 2012 a 2015. Em 2015, o índice
estava em 0,523, mas com a recessão econômica de 2015 e 2016, a distribuição de
renda piorou novamente.

Nesse sentido, quanto maior for o índice, maior é a concentração de renda


em uma pequena parcela da população e maior será o distanciamento da Meta
10.1 (ODS 10), que visa ao aumento da renda da população mais pobre. Mas, como
vimos, o índice de Gini é uma média que também esconde as mais diversas desi­
gualdades dentro dos estados, dos municípios, dos grupos sociais e dos domicílios.

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 02 1 A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS PARA O DESENUOLUIMENTO

ANÁLISE DE INTERSECCIONALIDADES PARA IR ALÉM DAS MÉDIAS

Atualmente, está se fortalecendo o conceito de interseccionalidade na aná­


lise de dados. Trata-se de um conceito sociológico voltado para a análise das intera­
ções e dos marcadores sociais nas vidas das minorias. A ideia é procurar enxergar
os vários sistemas de opressão - de gênero, raça ou etnia, classe social, capacidade
física, localização geográfica, entre outras - e buscar entender como se relacionam
entre si e como se sobrepõem uns aos outros. Afinal, o racismo, o sexismo e as
estruturas patriarcais são inseparáveis e tendem a discriminar e excluir indivíduos
ou grupos de diferentes formas (Hirata, 2014).

Pode-se aplicar o conceito de interseccionalidade, por exemplo, para anali­


sar a situação dos negros e das negras na política representativa. Tanto mulheres
negras, quanto homens negros enfrentam mais dificuldades para se tornarem can­
didatos a cargos representativos, quando comparados às pessoas brancas em
geral. As mulheres brancas e negras encontram ainda mais barreiras por serem
mulheres, pois enfrentam também a discriminação de gênero.

Quando analisamos o preenchimento das posições para deputados e sena­


dores no Congresso Nacional, tendo em vista a interseccionalidade das discrimina­
ções de gênero e de raça, verificamos que os homens brancos ocupam a grande
maioria dos cargos, seguidos pelos homens negros, depois pelas mulheres brancas
e, por fim, pelas mulheres negras, que historicamente estão presentes em núme­
ros muito pequenos nos cargos de poder e decisão. A perspectiva da intersecciona­
lidade, nesse caso, torna possível analisar os múltiplos fatores que levam determi­
nados grupos específicos a sofrerem mais ou menos com as desigualdades que
impedem o Desenvolvimento Humano para todos.

Veja a seguir o vídeo "A importância dos dados desagregados", que traz
informações interessantes sobre como é possível trazer elementos relevantes para
irmos além das médias trazidas pelos indicadores nacionais.

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 02 1 A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS PARA O DESENUOLUIMENTO

UIDED 01

A importância dos dados desagregados

1.1. PRODUÇÃO DE DADOS DESAGREGADOS

As desigualdades no Desenvolvimento Humano são profundas e diversas,


não se tratando apenas de discrepâncias no rendimento e na riqueza. Desse modo,
não é possível compreendê-las com a mera utilização de indicadores de desigualda­
de focados em uma única dimensão. Assim, a exploração das desigualdades no
Desenvolvimento Humano deve ir além do rendimento, além das médias e além do
presente (Relatório de Desenvolvimento Humano 2019, PNUD).

Para avaliarmos as desigualdades e entendermos os diferentes níveis de


Desenvolvimento Humano dentro de um mesmo país ou dentro de uma cidade, é
necessária uma revolução nas métricas. Boas políticas públicas começam por
uma boa medição da realidade local. No entanto, temos uma nova geração de
desigualdades, que precisa também de uma nova geração de indicadores. Nesse
sentido, são necessários conceitos mais claros ligados aos desafios da atualidade,
às combinações mais amplas de fontes de dados e às ferramentas analíticas mais
incisivas.

Muitas são as desigualdades dentro de uma sociedade, tais como: desi­


gualdade de renda, de poder, de acesso à educação de qualidade, de acesso à

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 02 1 A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS PARA O DESENUOLUIMENTO

saúde, de acesso às novas tecnologias, de acesso à justiça, entre outras. Dentro de


cada um desses tipos de desigualdade, perpassam também as desigualdades gera­
cionais, de classe, de raça/etnia e de gênero.

Dessa forma, a importância da produção e análise de dados desagregados


reside no reconhecimento de que os problemas que precisam ser enfrentados
não estão distribuídos igualmente, nem afetam da mesma forma os diferen­
tes subgrupos populacionais. Por isso, é necessário o acesso a dados de alta qua­
lidade, acessíveis e seguros, para facilitar a tomada de decisões em tempo real.

Garantir que os dados coletados estejam suficientemente desagregados


pelas dimensões adequadas permite intervenções mais efetivas e contri­
bui para a consolidação de políticas e estratégias que garantem que nin­
guém seja deixado para trás (PAHO)'.

Segundo a publicação "Desenvolvimento Humano para Além das Médias"


(PNUD, 2017), o Brasil é um dos dez países mais desiguais do mundo. Isso faz com
que a importância de investir na produção e análise de dados desagregados seja
ainda maior e mais urgente.

Veja um exemplo muito simples sobre a importância de desagregar dados:


quando olhamos para a taxa nacional de mortalidade infantil, conclui-se que o
Brasil já alcançou a Meta 3.2 do ODS 3 (reduzir a mortalidade de crianças menores
de 5 anos para até 25 a cada 1 mil nascidos vivos até 2030), pois a sua taxa foi de
11,56 óbitos a cada 1 mil nascidos vivos em 2020.

No entanto, olhando no âmbito estadual, a situação é um pouco diferente,


tendo em vista que alguns estados ainda não alcançaram essa meta e possuem um
índice de mortalidade infantil mais alto. Aprofundando mais, para o nível municipal,
vamos ver que centenas de municípios ainda estão longe de alcançar essa meta e
possuem as mais variadas taxas. Enquanto o Brasil possui municípios com taxa de
mortalidade infantil de 80/mil nascidos vivos, possui também outros com taxas de

1. Pan American Health Organization. Site: factsheetdisaggregation_por.pdf (bvsalud.org).

25
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 02 1 A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS PARA O DESENUOLUIMENTO

10/1 mil. E, para ir além da média do município e conhecer mais detalhadamente o


problema localmente, ainda é preciso desagregar essa taxa por raça, por sexo, por
região geográfica do município e por idade da mãe. São essas desagregações que
permitirão o desenho de políticas específicas para o Desenvolvimento
Humano, direcionadas para as diferentes realidades e desigualdades (Guia de Ter­
ritorialização e Integração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, PNUD,
2021).

O mesmo acontece com o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal


(IDH-M). Enquanto o IDH do Brasil é alto, ainda existem centenas de municípios
com IDH considerado muito baixo. Essas discrepâncias e distorções podem ser
vistas até mesmo dentro de uma mesma cidade, que pode ter bairros com alto IDH,
ao lado de bairros periféricos com IDH muito baixo.

Diante desses exemplos, foi possível entender que o termo "dados desa­
gregados" refere-se à coleta de indicadores locais e à sua separação em unidades
menores - como idade, sexo, área geográfica, escolaridade, raça ou etnia - de
modo que os dados levantados possam ser analisados de forma estratégica, a fim
de que permita a visualização das diferentes desigualdades existentes dentro de
cada indicador.

ANÁLISE DE INTERSECCIONALIDADES PARA IR ALÉM DAS MÉDIAS

Os Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais, aprovados pela


Assembleia Geral das Nações Unidas na Resolução 68/261, os quais são adotados
pelo governo brasileiro e pelo seu Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), são:

1. Relevância, imparcialidade e igualdade de acesso

2. Padrões profissionais e ética

3. Responsabilidade e transparência

4. Prevenção do mau uso dos dados

26
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 02 1 A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS PARA O DESENUOLUIMENTO

5. Eficiência
6. Confidencialidade
7. Legislação
8. Coordenação nacional
9. Uso de padrões internacionais
1 O. Cooperação internacional
No que tange à sua desagregação, é importante mencionar que há
também outros princípios a serem considerados, como:
1. todas as populações devem ser incluídas e analisadas separadamente
segundo áreas geográficas;
2. deve-se sempre buscar desagregar os dados por raça, sexo, idade, esco-
laridade, entre outras variáveis, para maior precisão de informações;
3. todas as fontes oficiais disponíveis devem ser pesquisadas;
4. as pessoas que coletam os dados primários devem prestar contas;
5. a equipe responsável pela coleta e análise dos dados primários e secun­
dários deve ser continuamente capacitada, para a melhoria.

BENEFÍCIOS DA DESAGREGAÇÃO DE DADOS

Como vimos anteriormente, para trabalhar os Desenvolvimentos Humano


e Sustentável, é preciso primeiro analisar dados e indicadores de forma localizada
e desagregada, de forma a conhecer todos os fatores e todas as variáveis que inter­
ferem nos níveis de desigualdade. Assim, quanto mais desagregadas forem as
informações e os indicadores, mais fácil será a identificação de locais, áreas e
grupos sociais que mais precisam de apoio e soluções.
Desagregar dados ajuda a identificar necessidades prioritárias e grupos
mais marginalizados, conhecimento que deverá ser usado na hora de formular

27
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 02 1 A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS PARA O DESENUOLUIMENTO

ações, projetos e políticas públicas para o desenvolvimento, seja por parte de


governos, organizações da sociedade civil ou outros setores.

Dentre os benefícios da produção de dados desagregados para a ação


mais estratégica, destacam-se:

• a análise pormenorizada por área (saúde, educação, pobreza, fome, habi­


tação, emprego, saneamento, entre outras) e por subgrupos (raça/etnia, sexo,
idade etc.) permite que os grupos mais excluídos sejam mais cobertos pelos servi­
ços públicos;

• melhor entendimento das características específicas de uma população;

• identificação de padrões, problemas e necessidades prioritárias;

• melhor monitoramento de programas e políticas com padrões de equidade;

• melhor direcionamento dos recursos financeiros para os Desenvolvimentos


Humano e Sustentável sem deixar ninguém para trás;

• contribuição para a avaliação periódica dos avanços sociais, econômicos


e ambientais e para a análise de tendências, o que permite a reformulação de políti­
cas e programas que não estejam dando bons resultados.

O vídeo a seguir trata sobre os ganhos da desagregação de dados e dá o


exemplo do Projeto Oeste 2030, desenvolvido pelo PNUD em parceria com a Itaipu
Binacional no Estado do Paraná.
UIDED 01

Indicadores Subnacionais - O caso do Paraná

2B
- DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 02 1 A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS PARA O DESENUOLUIMENTO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PNUD, IPEA, FJP. Desenvolvimento Humano para Além das Médias. Brasília: PNUD: IPEA: FJP, 2017.
Disponível em: https://www.undp.org/content/dam/brazil/docs/IDH/desenvolvi­
mento-alem-das-medias.pdf . Acesso em 17 de novembro de 2021.
PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 2019. Além do rendimento, além das médias, além do
presente: Desigualdades no desenvolvimento humano no século XXI. UNDP: 2019. Disponível em: https://
www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/library/relatorio-do-desenvolvimento-humano-2019.html . Acesso
em: 17 de dezembro de 2021
PNUD. Guia de Territorialização e Integração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Brasília: 2021.
Disponível em: https://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/presscenter/articles/2020/pnud-e-
petrobras-lancam-coletanea-de-territorializacao-dos-objet.html . Acesso em: 17 de dezembro de 2021.
Sobrinho, Afonso Soares. Pobreza, Democracia e Desenvolvimento Humano no Século XXI: A ética dialógica
do direito no acesso à justiça. Revista de Direito da Cidade, vol. 1O, nº 2, 2018, pp. 1275-1300. Disponível em:
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rdc/article/view/32086. Acesso em 17 de novembro de 2021.

Kyrillos, Gabriela M. Uma Análise Crítica sobre os Antecedentes da Interseccionalidade. Revista Estudos
Feministas - 28 (1), 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/zbRMRDkHJtkTsRzPzWTH4Zj/abstract/?
lang=pt . Acesso em: 17 de dezembro de 2021
OPAS. Por que a desagregação de dados é essencial durante pandemias? Disponível em:
https://www3.paho.org/ish/images/docs/Data-Disaggregation-Factsheet-Portuguese.pdf?ua=1 . Acesso em
17 de novembro de 2021.

UNITED NATIONS STATISTIC DIVISION. Official Statistics: Principies and Practices, Organization and
Management. Disponível em: http://unstats.un.org/unsd/methods/statorg/default.htm . Acesso em 17 de
novembro de 2021.
Hirata, Helena. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Dossiê
- Trabalho e Gênero: Controvérsias - Tempo Social, 26 (1), Jun 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/
ts/a/LhNLNH6YJB5HVJ6vnGpLgHz/abstract/?lang=pt . Acesso em 17 de novembro de 2021.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

Moreno-Cely, Adriana et. ai. Breaking monologues in collaborative research: bridging knowledge systems
through a listening-based dialogue of wisdom approach. May 2021 Sustainability Science 16(3):1-13.
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/350191500_Breaking_­
monologues_in_collaborative_research_bridging_knowledge_systems_through_a_listening-based_
dialogue_of_wisdom_approach . Acesso em 17 de novembro de 2021.
Brah, Avtar and Phoenix, Ann (2004). Ain't I a Woman? Revisiting Intersectionality. Journal of International
Women's Studies, 5(3), 75-86. Disponível em: http://vc.bridgew.edu/jiws/vol5/iss3/8. Acesso em 17 de
novembro de 2021.
MORAES, E. Lea de.; SILVA, Lucia Isabel C. da. Feminismo Negro e a Interseccionalidade de Gênero, Raça e
Classe. Cadernos de Estudos Sociais e Políticos. Rio de Janeiro, vol. 7, nº 13, 2017. Disponível em: https://
www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/CESP/article/view/32989 . Acesso em: 17 de dezembro de
2021

GLOSSÁRIO
IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

29
mm
mm Enap

MÓDUL03

INDICADORES RELACIONADOS
AD DESENUDLUIMENTD HUMANO
DESENUOLUIMENTO
HUMANO NO SÉCULO HHI
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

MÓDULO 03 DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI

UNIDADE 1: ÍNDICE DE DESENUOLUIMENTO


HUMANO MUNICIPAL CIDH-M)
1.1. CONCEITO
1.2. COMPONENTES
1.3. APLICAÇÕES

UNIDADE 2: ÍNDICE DE DESENUOLUIMENTO HUMANO


AJUSTADO ÀS PRESSÕES SOBRE O PLANETA CIDHP)
2.1. CONCEITO
2.2. COMPONENTES
2.3. APLICAÇÕES

UNIDADE 1: A IMPORTÂNCIA DOS DADOS DESAGREGADOS


PARA O DESENUOLUIMENTO

Objetiva de Aprendizagem:

Entender como a produção e a análise de dados desagregados podem auxiliar a


superar os desafios para o Desenvolvimento Humano.

1. 1. CONCEITO

IDH GLOBAL

A redefinição do conceito de Desenvolvimento Humano ganha popularida­


de a partir de 1990, com a criação e a adoção do Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) como medida do grau de Desenvolvimento Humano de um país, em
alternativa ao PIB utilizado até então.

Sabe-se, hoje, que o crescimento econômico de um território não se refle­


te, necessariamente, na qualidade de vida de sua população, o que pode, inclusive,

31
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

reforçar padrões de desigualdade. Nesse sentido, é preciso que o crescimento de


um país, estado ou município seja entendido também como um processo de expan­
são das liberdades e de garantia de qualidade de vida para as pessoas.

O Índice de Desenvolvimento Humano foi criado pelo Programa das


Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 1990, a partir do
trabalho de dois economistas, o paquistanês Mahbub UI Haq e o india­
no Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998. O
novo índice cria uma medida geral e sintética do Desenvolvimento
Humano, incluindo indicadores de saúde, educação e renda.

Ao reconhecer que a dimensão econômica não é suficiente para medir o


bem-estar de uma sociedade, o IDH se propõe a analisar, conjuntamente, outros
indicadores, como Renda ou Produto, Educação e Saúde. Dessa forma, o IDH con­
juga a análise da dimensão social - desdobrada nos aspectos de saúde e educação
- ao estudo da seara econômica.

Em 201 O, o Relatório de Desenvolvimento Humano completou 20 anos.


Desde então, novas metodologias foram adotadas para calcular o IDH dos países.
Após novas incorporações, os três pilares que constituem o IDH (saúde, educação e
renda) são mensurados da seguinte forma:

• SAÚDE: uma vida longa e saudável é medida pela expectativa de vida.

• EDUCAÇÃO: o acesso ao conhecimento é medido por:

• média de anos de educação de adultos, que é o número médio de anos


de educação recebidos, durante a vida, por pessoas a partir de 25 anos;

• expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a

32
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDUr!liJDl3!prGnIJ:ElIIme!E9!11i18LQIHBNHlll!Ehllllll'llEISSl1ll!IDIIBNEo:HRIQNlllll!IAIIIEI

vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade que uma criança na
idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões prevalecentes de
taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os mesmos durante a
vida da criança.

• RENDA: o padrão de vida da população é medido pela Renda Nacional


Bruta (RNB) per capita, expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante,
em dólar, tendo 2005 como ano de referência.

O IDH dos países é calculado anualmente desde 1990. Ele acabou se tor­
nando uma referência mundial para comparar o Desenvolvimento Humano entre
os países. Também é um índice-chave para os Objetivos de Desenvolvimento Sus­
tentável. No Brasil, como veremos à frente, o IDH passou a ser calculado também
para os municípios sempre que é realizado o Censo Demográfico do IBGE e tem
sido muito utilizado pelos governos e pelas instituições de pesquisa.

Em 2020, o PNUD lançou o IDH 2019 de 189 países. Naquele ano, o IDH
mais alto do mundo foi o da Noruega, com um índice de 0,957. Em seguida, vieram
a Irlanda e a Suíça, com um índice de 0,955. O Brasil ficou na 84ª posição dentre os
189 países analisados.
Entre 1991 e 201 O, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil
cresceu 47,5%, subindo da categoria de Muito Baixo para Alto Desenvolvimento
Humano. No entanto, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano
(2020), de 2018 para 2019, o IDH do Brasil cresceu muito pouco, passando de 0,762
para 0,765. Além disso, caiu cinco posições no ranking, em relação a 2018.

Nos mapas a seguir, é possível visualizar o grande progresso que o Brasil


realizou no período de 1991 a 201 O.

33
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

Figura 4: Mapa do Desenvolvimento Humano (1991-2010)

Desenvolvimento Humano
e Muito alto
e Alto
Médio
e Baixo
e Muito baixo
Fonte: PNUD Brasil.

Índice de Desenvolvimento Humano:


https://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/idh0.html#:~:text=O
%20%C3%8Dndice%20de%20Desenvolvimento%20Humano,%3A%
20renda%2C%20educa%C3%A7%C3%A3o%20e%20sa%C3%BAde .
Acesso em: dezembro de 2021.

Vídeo sobre o Atlas do Desenvolvimento Humano:

O vídeo sobre o "Atlas do Desenvolvimento Humano", uma


plataforma desenvolvida pelo PNUD, traz uma ampla desagregação
de dados do Brasil, dos estados e dos municípios, principalmente
com base no IDH-M: https://www.youtube.com/watch?
v=ieVREnl8GX8

34
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

IDH GLOBAL

A adaptação do IDH para níveis subnacionais tem sido praticada em diver­


sos países, com vistas a adaptar a metodologia do IDH Global aos contextos nacio­
nais. Dessa forma, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento encora­
ja os países a desenharem IDHs nacionais que utilizem indicadores mais adequa­
dos às suas necessidades. Os países são convidados a inovar, substituir ou adicio­
nar novas dimensões aos componentes apresentados no IDH global para IDHs sub­
nacionais.
Já foram alterados indicadores específicos do IDH ou criadas novas dimen­
sões para o IDH, tais como liberdade política, meio ambiente, segurança e trabalho,
entre outras. Gâmbia, Argentina, China, Índia, África do Sul e Letônia estão entre os
países que adaptaram o IDH.

O IDH Municipal (IDHM) do Brasil pode ser entendido como uma adapta­
ção da metodologia do IDH Global, com o objetivo de promover uma comparação
entre os municípios brasileiros ao longo do tempo, apoiando formuladores de polí­
ticas públicas municipais. Em outras palavras, o IDHM adequa a metodologia global
ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais.

A adaptação teve início em 2012 e teve como executores responsáveis o


PNUD Brasil, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Fundação João
Pinheiro (FJP). Para o cálculo do novo indicador em nível municipal, foram utilizadas
informações dos Censos Demográficos do IBGE referentes aos anos de 1991, 2000
e 201O. (Figura 05)
O IDHM brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH Global - longe­
vidade, educação e renda, mas vai além: adequa a metodologia global ao contexto
brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais. Embora meçam os mesmos
fenômenos, os indicadores levados em conta no IDHM são mais adequados para
avaliar o desenvolvimento dos municípios brasileiros. Assim, o IDHM - incluindo
seus três componentes, IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM Renda - conta
um pouco da história dos municípios em três importantes dimensões do Desenvol­
vimento Humano durante duas décadas da história brasileira.

35
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

Figura 5: Pontos importantes do IDH Municipal


1Cairtrapan1D, aai PIB 1Ca:rn;paraçãa, e tre (stím l,a a me1 aria
O IDH M populariza municípfos O ing d□ 1D MI
o conceito de A-o simtetiz.ar uma estimula fomiuloooras
dBssn�'O,�'ÍmEillitO real"dade aompfaxa e implement.ado.res de
csnlrado mm ps::;;soas. em um üniao múrnar:□. politicas públ" cas no nl110I
e não a 'i'isão de que o IDHM e seus três munic· 1 a priormrn a
dBssn'ffli'1'imMt□ se oo� tes viabilimm ms !Tia da Yid'a das
limita a cmscirnento a comparação entrn os p!!ISSoa:s 9liT1 suas .açoos
oconõmico. muni:ipios bra:si eiros ao e dscisões.
l□nga do tempo.

Fonte: O índice de desenvolvimento humano brasileiro CPNUD, 2013, pág. 27).

O IDHM é um índice composto, que agrega 3 das mais importantes dimen­


sões do Desenvolvimento Humano:

Figura 6: Dimensões do Índice de Desenvolvimento Humano

As três dimensões do IDHM

r;�

LONGEVIDADE EDUCAÇÃO RENDA

Vida lo11ga e saudável Acesso ao co11hecime11to Padrão de vida


Ter uma 1ida longa e saudável e O acesso ao oonhêcimen.to é LJm e
A renda esseooal para acessarmos
fundame tal para a, vida plena A cletermiflilnte critica para o bem-estai-. necessidades t>ásrca,, oomo águ-a. comida
promoção do desenvoMmento humano essencial para o exercicio das liberdades e aorigo. miiS também para podermo,
requer a garantia de um ambiente iool'!liduais e da autonomia A educação é transcender essas nece,sidades rumo a
à
saudai• com acesso saude de [LI1damental para expandir as ha bi dades uma ooa de escolhas genLIÍlais e exercício
quaJidade. para qll)1" a, pessoas poss ·m das pessoas para qu e ela,, po,sam decidir de li�erdades.
atingir o padrao maio; elevado possii.el d e sobíe seu futuro. Educação constrói
·saúde fisica e mental coofia,iça. confere dignidade e am ia os
llorizootes e as perspectiva,, de Yida.

Fonte: http://www.atlasbrasil.org.br/ac:ervo/atlas .

36
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

1.2. COMPONENTES

O IDHM foi inspirado no IDH Global, mas teve que passar por ajustes para
melhor se adequar à realidade brasileira, às bases de dados do Censo e às caracte­
rísticas inatas aos municípios. Devido a essas adaptações, não é possível realizar
qualquer tipo de comparação entre o IDHM de um município e o IDH de um país,
por exemplo. Veja a seguir todos os componentes do IDH Municipal:

Figura 7: Componentes do Índice de Desenuoluimento Humano Municipal


Vida biga Jla!wJ aJ 1�
e :!iiDlil'i!!I lllfm. nlo ll;;\ida

bJH!aliva Pallla
d�ma da(ll� pe,i;a,niln
jowm

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Mf.JNAGEDMíllID'i
R.ID.CílllrJi IM.MllllR� llOS
!llllS D:NEDS 112

rn le
l□I wrn., IIHII
�� renda

X X
Mf.JNA CEO Mí.llID'i
R.!llGOID 111, M R� DOS 31JIIMS

IDHM
Fonte: O índice de desenuoluimento humano brasileiro CPNUD, 2013, pág. 29).

37
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

Cada dimensão é formada por um conjunto de indicadores municipais


detalhados a seguir.

Vida longa e saudável: é medida pela expectativa de vida ao nascer,


calculada por método indireto, a partir dos dados dos Censos Demo­
gráficos do IBGE. Esse indicador mostra o número médio de anos que
uma pessoa nascida em determinado município viveria a partir do
nascimento, mantidos os mesmos padrões de mortalidade.
Acesso a conhecimento: é medido por meio de dois indicadores: a
escolaridade da população adulta e o fluxo escolar da população
jovem. O primeiro é medido pelo percentual de pessoas de 18 anos ou
mais de idade com ensino fundamental completo e tem peso 1. O
segundo é medido pela média aritmética do percentual de crianças
de 5 a 6 anos frequentando a escola, do percentual de jovens de 11 a
13 anos frequentando os anos finais do ensino fundamental, do per­
centual de jovens de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo
e do percentual de jovens de 18 a 20 anos com ensino médio comple­
to; e tem peso 2. A medida acompanha a população em idade escolar
em quatro momentos importantes da sua formação. Isso facilitará aos
gestores identificar se crianças e jovens estão nas séries adequadas
nas idades certas. A média geométrica desses dois componentes
resulta no IDHM Educação. Os dados são dos Censos Demográficos
do IBGE.
Padrão de vida: é medido pela renda municipal per capita, ou seja, a
renda média dos residentes de determinado município. É a soma da
renda de todos os residentes, dividida pelo número de pessoas que
moram no município - inclusive crianças e pessoas sem registro de
renda. Os dados são dos Censos Demográficos do IBGE.

3B
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

COMO LER O IDHM

O IDHM é um número que varia entre 0,000 e 1,000. Quanto mais próximo
de 1,000, maior o Desenvolvimento Humano de uma unidade federativa, um muni­
cípio, uma região metropolitana ou uma UDH.

Figura 8: Escala do Índice de Desenuoluimento Humano Municipal

0,000 Cl,499 0,500 Cl,599 0.,600 !


0,699 O, 7CO O, 799 0,800

Muito Bruxo Bruxo Médio Alto Muito Alto

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano C http://www.atlasbrasil.org.br )

1.3. APLICAÇÕES

Ao lançar o Atlas Brasil, o PNUD consolidou uma das maiores ferramentas


de divulgação de informações sobre o Desenvolvimento Humano no país. Essa pla­
taforma surgiu com o objetivo de viabilizar, de maneira descomplicada, o acesso
amplo às diversas informações estatísticas que evidenciam características e desi­
gualdades sociais no território brasileiro.

O Atlas Brasil tem como objetivo instrumentalizar a sociedade e democrati­


zar o acesso à informação nos âmbitos municipal, metropolitano e nacional, contri­
buindo para o fortalecimento das capacidades locais, da gestão pública municipal e
para o empoderamento dos cidadãos brasileiros por meio da ampliação do conhe­
cimento sobre a sua realidade.

39
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

Figura 9: Página inicial do Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil

� AtlasBR PERFIL CONSULTA RANKING ACERVO

Perfil ( Q. Buscar territorialidade pelo nome

Se preferir. utilize o mapa abaixo para buscar uma territorialidade.

a� Tipo de localidade Regiões Metropolitanas v Camada Região Metropolitana v

AMAZON4S MARANH� 1,;t;Al'WI.


PARÁ

P.IAUÍ
P BA
Brasil
I
ACRE
� A ;OA.S
Peru __,./ RONDÔNIA TOCANTINS
GIPE
Uma
BAHIA l!J
MATO GROSSO

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INAS GERAIS
ESPIRITO
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(#)ºº
""':'- SAO PA� FIRO
Paraguai 1
As§_unção lPARANÁm\, . ,
�unt1 a
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Chile SANT�
_,.... - CATARl,'7

Fonte: http://www.atlasbrasil.org.br/

Concebido com a finalidade de apresentar o Índice de Desenvolvimento


Humano Municipal (IDHM), o Atlas hoje disponibiliza, além do índice, mais de 330
indicadores em temas como saúde, educação, renda e trabalho, habitação, vulnera­
bilidade social, meio ambiente e participação política, para os 5.570 municípios,
cinco macrorregiões, 27 Unidades da Federação, 21 regiões metropolitanas (RMs),
três regiões integradas de desenvolvimento (RIDEs) e aproximadamente 17 mil uni­
dades de desenvolvimento humano (UDHs) ou bairros, sendo estes últimos as me­
nores territorialidades brasileiras que dialogam diretamente com a realidade do
cidadão. Os indicadores podem ser encontrados de forma desagregada por grupos
sociais - mulheres, homens, negros, brancos, populações rurais e urbanas.
O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil disponibiliza ainda, além do
IDHM, mais de 330 indicadores socioeconômicos que permitem qualificar e ampliar
a análise do desenvolvimento humano nos municípios e nas regiões metropolita­
nas do país.

40
DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

Figura 10: Importância da Atlas para gestores públicas

Gestores públicos
Os gestores das políticas federais, estaduais e municipais
encontram no Atlas uma forma concisa de identificar as
territorialidades que precisam da intervenção de programas,
políticas setoriais e territoriais e ações específicas.

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano Chttp://www.atlasbrasil.org.br/l

Por fim, o Atlas fornece informações embasadas sobre desenvolvimento a


partir do Índice de Desenvolvimento Humano. Trata-se de um instrumento de estí­
mulo ao uso de dados socioeconômicos para a análise da nossa sociedade.

Assista agora ao vídeo "Além das Médias estatísticas", que apresenta como
os dados desagregados podem revelar informações importantes em uma socieda­
de, indo além das médias estatísticas, apresentando informações mais apuradas
sobre desigualdades regionais/locais, bem como o papel do IDH-M nesse processo:

UIDED 04

Além das Médias estatísticas

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PN UD, Ipea, FJP. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Brasileiro. Brasília: PNUD,
Ipea, FJP, 2013. Disponível em: https://onedrive.live.com/?authkey=%21AGvg%
2D0FawRuMMj4&cid=124653557C0404EC&id=124653557C0404EC%
2123008&partd=124653557C0404EC%2122848&o=OneUp . Acesso em 17 de novembro
de 2021.
PNUD. O novo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Brasília: 2020. Disponível em:
http://www.atlasbrasil.org.br/acervo/biblioteca . Acesso em: 17 de dezembro de 2021.
Acesso em 17 de novembro de 2021.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ATLAS BR. Acervo do Atlas do Desenvolvimento Humano.


Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/acervo/biblioteca . Acesso em 17 de novem­
bro de 2021.

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
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UNIDADE 2: ÍNDICE DE DESENUOLUIMENTO HUMANO


AJUSTADO ÀS PRESSÕES SOBRE O PLANETA CIDHP)

Objetivo de Aprendizagem:

Entender o conceito de IDH Ajustado às Pressões sobre o Planeta CIDHP) e sua


importância para o Desenvolvimento Humano.

2.1. CONCEITO

Ao longo dos anos, o Índice de Desenvolvimento Humano foi sendo expan­


dido e foram gerados o IDH Ajustado à Desigualdade, o Índice de Desenvolvimento
Humano por Gênero, o Índice de Desigualdade de Gênero e o Índice de Pobreza
Multidimensional.

No Relatório de Desenvolvimento Humano de 2020, o PNUD decidiu ir


além e refletir que esses índices, principalmente o componente do Rendimento
Nacional Bruto (RNB), que faz parte do IDH Global, não representam as pressões
sobre o planeta. Optou-se, então, por efetuar ajustes no componente de rendimen­
to do IDH, subtraindo os custos sociais do carbono ao RNB e discutindo opções no
sentido de levar em conta variações da riqueza total que incluam o capital natural.

A ideia é usar indicadores relativos às emissões de gases com efeito de


estufa e à pegada material. O ajuste é realizado por meio da multiplicação do IDH
por um fator de correção que representa as pressões sobre o planeta. Esse fator de
correção é calculado como a média aritmética dos índices que medem as emissões
de dióxido de carbono per capita - relacionando-se com o desafio de descontinuar
a utilização de combustíveis fósseis para a produção de energia - e a pegada mate­
rial per capita - que diz respeito ao desafio do encerramento dos ciclos de mate­
riais.

Esse IDH Ajustado às Pressões sobre o Planeta (IDHP) permite visualizar as


possibilidades de consecução de valores elevados de IDH com um nível inferior de

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DESENUOLUIMENTO HUMANO NO SÉCULO HHI
MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

emissões e de utilização de recursos.


De forma mais simples, esse índice tem como objetivo central medir a pres­
são que o desenvolvimento dos países exerce sobre o meio ambiente, incluindo,
nos resultados de desempenho, o impacto ambiental da marcha para o progresso,
considerando fatores como emissões de carbono e pegada ecológica. Ou seja, o
Índice de Desenvolvimento Humano é ajustado, de modo a considerar as emissões
de dióxido de carbono por pessoa e a pegada material per capita, para compensar
a pressão humana sobre o planeta.

2.2 COMPONENTES

O IDH Ajustado às Pressões sobre o Planeta (IDHP) sugere um novo


painel referente ao Desenvolvimento Humano e ao Antropoceno, com indicadores
capazes de registrar as complexas interações entre as pessoas e os ecossistemas,
bem como de monitorar o progresso de cada país rumo ao alívio das pressões
sobre o planeta e dos desequilíbrios sociais.

Esses dados dividem-se em quatro dimensões:

1. O estado do Desenvolvimento Humano

2. Os sistemas energéticos
3. Os ciclos de materiais

4. A transformação do nosso futuro

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MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

Figura 11: Dimensões do IDHP

Estado do desenvolvimento humano


Pessoas/Planeta

Sistemas energéticos Ciclos de materiais


Pressão/Resposta Pressão/Resposta

Transformar o nosso futuro


Equidade/lnovação/Conservacionismo

Fonte: Gabinete do Relatório do Desenuoluimento Humano

2.3. APLICAÇÕES

Pode-se afirmar que as principais aplicações do IDHP estão voltadas a cor­


rigir as distorções entre os conceitos e as práticas relacionadas ao desenvolvimen­
to, tal qual anunciado no início deste curso. Em outras palavras, esse índice
demonstra a fragilidade e a incoerência em utilizar, como critérios para o Desenvol­
vimento Humano, apenas os dados econômicos e sociais, sem considerar as pres­
sões sobre o planeta oriundas do progresso do Desenvolvimento Humano.

De forma mais prática, entende-se que o IDH Ajustado às Pressões sobre o


Planeta corresponde à multiplicação do IDH por um fator de correção. Caso um
país não exerça qualquer pressão sobre o planeta, os respectivos IDHP e IDH serão
equivalentes, ou seja, terão o mesmo valor.

Já os países que exercem sérios danos ao meio ambiente ficarão com um


IDHP menor que o IDH. Lembre-se de que, quanto menor o índice, mais atrasado
está o país.

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Se um país tiver altos índices de emissão de dióxido de carbono per


capita, estiver usando grande quantidade de combustíveis fósseis e
tiver alta pegada material per capita, então o seu IDHP será baixo.

A pegada material se refere à quantidade de materiais extraídos (biomas­


sa, combustíveis fósseis, minérios metálicos e não metálicos) para satisfazer as
necessidades de consumo da sua população. Trata-se de uma medida baseada no
consumo, que leva em conta o comércio internacional. Indica, igualmente, as pres­
sões exercidas pelas atividades socioeconômicas sobre a biosfera.

Figura 12: Composição do Índice de Desenuoluimento Humano Ajustado às Pressões sobre o Planeta

O IDHP é calculado através dai


multiplicação do IDH por um fator
de correção

Índice de
emissões de C01 Índice de
per capita pegada material
(baseadas na per capita
produção)
Médía arítmética:

Índice de Fator de
Desenvolvi­ correção relativo
mento às pressões sobre
Humano o planeta (A)
(IDH)

Produto do
IDH por A

IDH Ajustado
às Pressões
sobre o
Planeta (IDHP)

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano 2020 CPNUD, 2020, pág. 236)

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MÓDULO 03 1 INDICADORES RELACIONADOS AD DESENUOLUIMENTD HUMANO

Para concluir, é muito importante entendermos que essa proposta de


índice ajustado às pressões sobre o planeta busca incentivar a mudança, pois
mostrará uma nova realidade dos países em forma de índice, para que avaliem o
seu próprio progresso ao longo do tempo. Esse índice mostrará quais países estão
avançando no sentido correto, fazendo com que os demais aprendam com seu
exemplo!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 2020. A próxima fronteira: O desenvolvi­


mento humano e o Antropoceno. Nova York, PNUD: 2020. Disponível em: http://
hdr.un­dp.org/sites/default/files/hdr2020_pt.pdf . Acesso em 17 de novembro de 2021.

GLOSSÁRIO
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IDHP - Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado às Pressões sobre o Planeta
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
UDH - Unidades de Desenvolvimento Humano
RIDE - Regiões Integradas de Desenvolvimento
RNB - Rendimento Nacional Bruto

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Enap
Escola Nacional de
Administraçõo Pública

2021

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