Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO


CURSO DE PSICOLOGIA

RENATA FREITAS

“A ADOLESCÊNCIA”, CONTARDO CALLIGARIS

Porto Alegre
2022
RENATA FREITAS

“A ADOLESCÊNCIA”, CONTARDO CALLIGARIS

Trabalho apresentado, resenha do livro,


para a disciplina Psicologia do
Adolescente, pelo Curso de Psicologia da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos –
UNISINOS, ministrada pela professora
Fernanda Hampe Picon.

Porto Alegre
2022
2

Contardo Calligaris apresenta sua obra, A adolescência, já introduzindo suas marcas


constantes de reflexão sobre a existência humana na contemporaneidade e se
posiciona

“A adolescência é o prisma pelo qual os adultos olham os adolescentes e


pelo qual os próprios adolescentes se contemplam. Ela é uma das
formações culturais mais poderosas de nossa época”.

E segue escrevendo na introdução do livro

“Objeto de inveja e de medo, ela dá forma aos sonhos de liberdade ou de


evasão dos adultos e, ao mesmo tempo, a seus pesadelos de violência e
desordem.
Objeto de admiração e ojeriza, ela é um poderoso argumento de marketing
e, ao mesmo tempo, uma fonte de desconfiança e repressão preventiva”.

Contardo Calligaris mostra neste livro a adolescência como uma das formações
culturais mais poderosas de nossa época, com todas as suas nuances, enigmas e
superações. Para grande parte dos adultos, a adolescência é vista como uma fase
difícil que vai passar, e a própria literatura disponível para acesso ao pais e
educadores confirma essa naturalização da adolescência, conforme estudo e artigo
proposto por Bock, 2007. No contraponto, a autora Ana Mercês Bahia Bock, pontua
que "A adolescência é vista como construção social com repercussões na
subjetividade e no desenvolvimento do homem moderno e não como um período
natural do desenvolvimento. É um momento significado, interpretado e construído
pelos homens." (2007, p.6)

Pensar dessa maneira, focando exclusivamente em olhar a adolescência de forma


natural, biológica e passageira, é desconsiderar a realidade que a constitui como um
momento singular, com as suas especificidades e como uma realidade que salta aos
olhos e se exibe, querendo ser vista. Cada vez mais a adolescência se afasta da
ideia de uma fase passageira e se alonga indeterminadamente, se tornando um
estar quase permanente na sociedade contemporânea.
3

No que diz respeito à duração da adolescência, Calligaris (2013, p.19) afirma que o
seu início está relacionado à puberdade e o seu fim seria tido como incerto.
Ampliando, neste momento o conceito de moratória onde expõe o seu olhar para a
existência de um tempo de suspensão entre a chegada à maturação dos corpos e a
autorização de realizar os ditos valores. Para ele, essa autorização é postergada e o
tempo de suspensão é a adolescência (CALLIGARIS, 2013, p.5).

Reconhece que as transformações trazidas pela puberdade têm efeitos


consideráveis sobre o sujeito, “mas essas mudanças só acabam constituindo um
problema chamado adolescência na medida em que o olhar dos adultos não
reconhece nelas os sinais da passagem para a idade adulta” (CALLIGARIS, 2013,
p.20).

Para Calligaris (2013), a finalidade da adolescência para o jovem é poder se tornar


adulto; ela é o caminho. Com as mudanças no corpo a partir da puberdade, a
imagem do adolescente se transforma e ele acredita ter perdido, junto com a sua
infância, o amor dos mais velhos. Na falta de um ritual bem demarcado de entrada
na vida adulta, ao menos na cultura ocidental, o adolescente busca no olhar dos
adultos a resposta para a sua condição. Não sendo reconhecido como criança nem
como um igual, passa a se perguntar o que os adultos querem e esperam dele
(CALLIGARIS, 2013). Dessa forma, o adolescente busca essa entrada no mundo
adulto, tentando interpretar o desejo dos adultos e atuar de acordo com esse desejo.
No entanto, dessa tentativa deriva um embaraço que causa tantos conflitos entre as
duas gerações: Quanto mais a interpretação do desejo dos adultos for certeira, mais
esse projeto fracassará. Nesse caso, a transgressão adolescente presenteia os
adultos com uma imagem que justamente eles querem reprimir. O erro dos
adolescentes (erro em relação à sua própria estratégia) é pensar que para os
adultos possa ser agradável encontrar uma encenação de seu próprio recalque.
(CALLIGARIS, 2013, p.41)

A partir do exposto, percebe-se que o lugar que o adolescente ocupa, exibe algo que
o adulto quer esquecer, pois precisou reprimir esse desejo para tornar-se adulto.
Nas palavras de Maria Rita Kehl (2008, p.7), “nós outros, adultos ou velhos, nos
vemos neles como num espelho distorcido que reflete o que já deixamos de ser, o
4

que seríamos se ainda nos sentíssemos capazes, e o que recusamos


terminantemente a ser”. Incomodados, os adultos acabam por negar o
reconhecimento desse desejo como algo deles próprios e, por consequência,
tendem a reprimi-lo no adolescente.

Conforme apresentado anteriormente, para Calligaris (2013), as atitudes dos jovens


visam realizar algum sonho reprimido dos adultos. Partindo desse preceito, o autor
irá questionar se a adolescência não surgiu justamente porque os adultos modernos
precisaram dela como ideal. Será que a adolescência não foi provocada, impondo a
moratória e suscitando a rebeldia, justamente para que encenasse o sonho de
idiossincrasia, de unicidade, de liberdade individual e de desobediência que é
própria de nossa cultura? (Calligaris, 2013, p.59)
5

REFERÊNCIAS

CALLIGARIS, Contardo. “A adolescência”. Ed: Publifolha, 2001.

EIZIRIK, C.; BASSOLS, A.M. O ciclo da vida humana: Uma perspectiva


psicodinâmica. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

BOCK, Ana Mercês. A adolescência como construção social. Rev. Ass. Bras. Psic.
Escolar, 2007.

Você também pode gostar