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RESENHA DO LIVRO DE CONTARDO CALLIGARIS, “A ADOLESCÊNCIA”

CURSO DE PSICOLOGIA - BACHARELADO


PSICOLOGIA DO ADOLESCENTE
DIENNIFER COUTO BITTENCOURT

“A adolescência é o prisma pelo qual os adultos olham os


adolescentes e pelo qual os próprios adolescentes se contemplam.
Ela é uma das formações culturais mais poderosas de nossa época.”
CALLIGARIS, 2001.

O livro de Contardo Calligaris “A adolescência”, em suas sucintas


páginas, aborda visões psicológicas, históricas e culturais sobre a
adolescência, permitindo, ao leitor, uma reflexão interpretativa e abrangente
sobre como o adolescente sente-se perante a transição da juventude para a
vida adulta. É uma obra rica e coerente em suas abordagens e hipóteses
propostas, ofertando profundos questionamentos sobre o fenômeno da
adolescência.
Calligaris aborda que, este período transitório, classificado como
adolescência, foi uma criação da sociedade, que surgiu de acordo com a
necessidade de decifrar todas as coisas que envolvem este fenômeno. Esse
período de maturação, que é imposto ao adolescente, chamado de moratória, o
mantém dependente, mas ao mesmo tempo, deseja que ele seja independente
e autônomo, e durante esta fase, o mesmo sente-se isolado e não pertencente
ao mundo dos adultos. Durante este período de moratória, o adolescente
sente-se eximido para agir da maneira que julga melhor, porém é retido pelas
regras pré-estabelecidas; sente-se instruído e preparado para ingressar na
competição, porém não é reconhecido como um adulto.
Deste isolamento do mundo adulto sofrido pelos adolescentes, emergem
grupos específicos e de interesses mútuos, com o intuito de, dessa forma,
fazerem-se pertencentes à sociedade. Seus comportamentos projetam na
sociedade e em si, a idealização do mundo dos adultos, que tanto admiram e
almejam; porém, ao mesmo tempo, perante o qual se amedrontam, visto a
possibilidade de efetivar seus desejos mediante seus atos. Portanto,
deparamo-nos com o fato de que, durante a adolescência, há uma visível
modificação de comportamento, visto esta fase de expansão do conhecimento,
e do anseio de ser o transformador do mundo.
Calligaris, durante a obra, propõe ao leitor cinco tipos distintos de
adolescentes:
 GREGÁRIOS: são os jovens que estão reunidos em certos grupos ou
comunidades, e que exigem algo “em comum”, além de serem
reconhecidos todos como iguais.
 DELINQUENTES: são jovens que, quando não reconhecidos no mundo
adulto, optam pelo uso da violência e da ignorância para tentar serem
levados a sério pela sociedade. Calligaris também trata da delinqüência
com conseqüências sexuais, pois o jovem não sendo aceito
sexualmente como adulto, resolve impor-se.
 TOXICÔMANOS: são os adolescentes que se tornam dependentes das
drogas, que herdaram resquícios de uma geração “paz e amor” e vêem
nisso uma maneira de rebelar-se, além de aproximarem-se do modo de
vida dos adultos.
 OS QUE SE ENFEIAM: são os jovens com modelos estéticos
inventados pelos mesmos, com o intuito de desafiar a sociedade,
colocando-se fora dos padrões pré-estabelecidos. Isto também pode ser
visto como medo de ser uma pessoa “feia por natureza”, portanto já
transfiguram sua imagem.
 BARULHENTOS: são os adolescentes da “geração MTV”, que
transmitem sua rebeldia através da música e sentem-se como os astros
da sociedade.
Se, mesmo para o adulto, a construção de um lugar próprio em uma
sociedade que não nos proporciona garantias é difícil, imaginemos para um
adolescente vivendo em toda a sua subjetividade. A busca pela construção de
um lugar social no mundo dos adultos pode fomentar em dilemas, sobre como
ser considerado um adulto de verdade, e sobre quais as atitudes que são
requeridas para este papel, gerando respostas, por vezes, contraditórias e
confusas ao jovem.
A adolescência é usualmente apresentada como o período de transição
entre a infância e a idade adulta, sendo uma fase que poderá comportar um
grau de conflito maior, dependendo da sociedade a qual o jovem faz parte. Os
adolescentes são instruídos para lidar com fatos concretos e lógicos do mundo
e do dia a dia, porém, quando têm de lidar com situações frustrantes e, ao fim,
falham, não têm a capacidade psíquica de lidar com seus fracassos, pois o
adulto e a sociedade não o preparam para tal.
Há, também, a possibilidade de deduzirmos que, boa parte das atitudes
e confusões psicológicas que refletem do comportamento dos adolescentes,
são os adultos que inserem em seu ambiente. Seus princípios são afirmados
através de suas conquistas e de sua inclusão na sociedade dos adultos, por
meio de regras e valores pré-estabelecidos. O adolescente, a todo o momento,
esforça-se para ultrapassar o adulto e “espantá-lo” com sua forma visionária de
ver o mundo ao seu redor.
Em suma, o adolescente tenta se inserir na sociedade dos adultos por
meios públicos e sociais, aos quais ele se identifica no decorrer da sua história,
e em detrimento ao meio no qual está inserido. Esperamos que a sociedade
consiga adaptar-se ao adolescente com o passar do tempo, realocando-o de
reformador para realizador.

REFERÊNCIAS

CALLIGARIS, Contardo. “A adolescência”. Ed: Publifolha, 2001.

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