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Atividade de I. Formativo: Processo de Aculturação e Assimilação.

Imigrantes e países de acolhida:


integração não é assimilação
Se integrar como imigrante numa nova sociedade não é anular a sua identidade.
Por Manuela Marques Tchoe

A tarefa de se integrar no país que nos acolhe não é tarefa fácil. Imigrar
significa começar de novo – nova língua, novas regras, novos comportamentos
sociais, novo clima. Novo tudo. Na Alemanha, assim como países que
enfrentam uma onda de imigração, a integração é um assunto necessário – e
um tanto espinhoso. Não é só pela dificuldade de integrar tantas pessoas, mas
em definir o que é integração. No meu caso, eu sempre me pergunto: estou
mesmo integrada à sociedade alemã? Pode parecer que, após quinze anos de
Alemanha, a resposta seja sim. Mas não é assim tão simples. Como definir
quando o imigrante está integrado ou não?

Integração

Várias pessoas que conheço – brasileiras e de outras nacionalidades – não


falam bem o alemão. Convivem o mínimo possível com os alemães, preferem a
companhia de pessoas que vêm do mesmo país. Não são necessariamente
guetos, mas é comum que pessoas da mesma nacionalidade fiquem nesses
grupos. Meus sogros, que são coreanos, são um exemplo. Em cinquenta anos
de Alemanha, falam alemão e trabalharam a vida inteira aqui, mas convivem
apenas com a comunidade coreana, só comem comida coreana, etc. Pode-se
considerar essas pessoas integradas? Integração não é necessariamente
deixar a sua cultura para trás em favor de uma nova cultura. Quem é imigrante
sabe que é preciso se adaptar a certos comportamentos sociais que são
esperados, como a pontualidade no caso da Alemanha. Se no começo a
maioria dos brasileiros são impontuais, logo as pessoas entram na onda da
pontualidade, porque precisam se adaptar para sobreviver por aqui. Muitas
outras coisas e comportamentos são absorvidos pelos imigrantes como forma
de sobrevivência. Aqui na Alemanha, isso significaria se acostumar com
planejamento de antecedência, ter certa organização, com o seguir de regras,
com o respeito à mulher (ninguém vai ficar assobiando para mulher bonita na
rua, por exemplo. Quem o faz é muito malvisto). Então por mais que certos
comportamentos sejam considerados normais no país de origem, eles se
transformam e podem até ser eliminados completamente com o tempo,
principalmente quando interagimos com pessoas no âmbito público. Mas isso
não quer dizer que, ao modificar certos hábitos, que a cultura de origem seja
anulada. Muito pelo contrário. Enquanto fora de casa muitos imigrantes se
esforçam para se encaixar nos comportamentos esperados da sociedade,
dentro de casa a história é bem diferente. Entre quatro paredes, muitos
imigrantes retornam à sua terra natal através da língua nativa, das comidas
tradicionais e dos relacionamentos com pessoas da mesma cultura. Encontra-
se conforto em estar com gente que tem os mesmos valores, gosta dos
mesmos sabores e conhece a mesma música. Ainda assim, é necessário para
a grande maioria dos imigrantes tornarem suas crenças e hábitos mais visíveis
para a sociedade. Muitas muçulmanas usam o véu, muita gente de origem
indiana usa as vestimentas tradicionais, muitos templos, mesquitas, etc., são
erguidos para auxiliar pessoas de diferentes crenças a ter um lugar onde
possam orar.

Integração: um esforço de todos

Integração não é só um esforço dos imigrantes, mas também do país que os


recebe. Não se pode considerar pessoas bem integradas se elas não se
sentem à vontade no país, com vergonha de serem quem são em público.
Integração é um esforço de todas as partes envolvidas: o país e a população
que recebe precisa dar as condições necessárias para que imigrantes se
adaptem; imigrantes precisam se esforçar para aprender a língua, trabalhar e
pagar seus impostos, ter relacionamentos (nem que superficiais) com os
nativos. Não dá para grupos imigrantes ficarem à parte de uma sociedade.
Como considerar quem está integrado e quem não? Acredito ser algo subjetivo
demais para dar um parecer. Existem pessoas que trabalharão a vida inteira
num país, falarão a língua perfeitamente, e ainda assim se sentirão insatisfeitas
e mal integradas.

Tem gente que mal chegou e já tem amigos nativos, aprendeu novos hábitos e
está encaminhado para um curso na universidade ou emprego. É complicado
definir quem está integrado e quem não está. A língua, no entanto, permanece
essencial. Tudo começa com o idioma. Sem ela, não dá para se integrar numa
sociedade. E aí está a chave para a integração da maioria das pessoas,
mesmo que seja um aprendizado que será cheio de percalços. Além do idioma,
existem outras coisas que podem ser feitas, desde discussão sobre
comportamentos sociais esperados até o papel da mulher na sociedade. Os
imigrantes que chegam na Alemanha – ou em qualquer outro lugar – se
alemanizam um pouco e também deixam sua marca na sociedade.

Integração não é assimilação; integração é uma troca.

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