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Discriminação da Terceira Idade – Sibila Marques – 2011 - Resumo de partes fundamentais

Editora: Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS)

Idadismo – Termo ageism em inglês, surgiu em 1969 pelo psicólogo Robert Butler quando o
mesmo procurava dar resposta às reações negativas que surgiram por parte de uma
comunidade à construção de um empreendimento imobiliário para pessoas idosas. Butler
conclui-o que o fator principal que levava a este comportamento dizia respeito às idades
avançadas dos futuros inquilinos daquela comunidade, entendendo que tal empreendimento
poderia desvalorizar o valor e prestígio da vizinhança. PAG 17 E 18.

Em termos gerais, o Idadismo refere-se às atitudes e práticas negativas generalizadas


em relação aos indivíduos baseadas somente numa característica, a sua idade. Enquanto em
Inglaterra, acredita-se que o Idadismo é direcionado sobretudo para as pessoas mais jovens,
em Portugal, o Idadismo atinge maioritariamente os idosos. A este tipo especial de Idadismo,
contra os idosos, alguns especialistas intitularam o mesmo com o termo - gerontismo. PAG 18.

As atitudes idadistas em relação a pessoas mais velhas assumem três componentes


essenciais:

 Idadismo associado às crenças ou estereótipos que temos relativamente às pessoas


idosas, como por exemplo, a incapacidade e doença.

 As atitudes idadistas estão relacionadas com o preconceito e sentimentos que temos


para com esta faixa etária (idosos). Podem muitas vezes assumir formas disfarçadas de
o demonstrar, como por exemplo, através da piedade ou o paternalismo.

 Componente mais comportamental e que está relacionada com os atos efetivos de


discriminação em relação às pessoas idosas. Sendo que alguns exemplos podem
mesmo ser os maus-tratos e abusos às pessoas desta faixa etária. PAG 18 E 19.

Além disso, é importante perceber que o Idadismo não pode ser definido apenas de modo
individual, mas essencialmente, ao nível institucional e cultural.

O Idadismo não se trata somente de um comportamento negativo dirigido às pessoas idosas,


pois espelha também os nossos valores culturais mais profundos e as práticas institucionais da
nossa sociedade.

Infelizmente, estudos comprovam que em Portugal, o Idadismo é um problema grave


enraizado na sociedade portuguesa. Os resultados do Eurobarómetro Especial de 2009 relativo
à “Discrimination in EU in 2009” mostram que 53% dos portugueses consideram a
discriminação pela idade muito frequente na nossa sociedade e 57% das pessoas concordam
que é cada vez mais frequente. PAG 19.

Além das formas mais flagrantes de abuso e de maus-tratos, existem outros modos de
Idadismo mais subtis, sobre as quais não pensamos normalmente. Muitas vezes,
comportamentos de ajuda excessiva e de sobre proteção das pessoas mais velhas, embora
bem-intencionadas, podem ser idadistas e prejudiciais porque tendem a promover a
incapacidade e a dependência. PAG 20.

É fundamental compreender o Idadismo porque este tipo de atitude atenta contra direitos
humanos fundamentais. O artigo 21º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia
reconhece a discriminação com base na idade como uma violação de direitos fundamentais:

“É proibida a discriminação em razão, designadamente, do sexo, raça, cor ou origem étnica ou


social, características genéticas, língua, religião ou convicções, opiniões políticas ou outras,
pertença a uma minoria nacional, nascimento, deficiência, idade ou orientação social.”

Da mesma forma, a Constituição Portuguesa proíbe qualquer tipo de discriminação, incluindo


aquela com base na idade (artigos 13º e 59º). Por sua vez, o artigo 21º do Novo Código do
Trabalho proíbe explicitamente a discriminação com base na idade no contexto do trabalho e
das relações laborais. PAG 21

A origem do Idadismo

Todos os autores que estudam esta temática concordam que o Idadismo em relação às pessoas
mais velhas tem uma origem multifacetada. Este tipo de atitudes depende de um conjunto de
fatores que parecem interagir e que determinam o modo como encaramos o envelhecimento e
as pessoas idosas. PAG 36.

Em termos gerais, podemos pensar no Idadismo como sendo influenciado por três aspetos
essenciais: o processo de categorização por idades; a inatividade das pessoas idosas e a
perceção de ameaça dos gastos com o envelhecimento; e o predomínio da cultura da
juventude. PAG 36.

O processo de categorização por idades – Processo afetado pela sociedade, exemplo da


autora: “Se na sociedade onde vivo existe uma representação partilhada e socialmente aceite
de que as pessoas idosas são “incompetentes” e “doentes” então, muito provavelmente,
também irei partilhar uma conceção semelhante a ativarei este tipo de conceitos quando
interajo com uma pessoa que classifiquei como “idosa”. Por outro lado, em sociedades onde as
pessoas idosas são predominantemente representadas de um modo mais positivo, como
“sábias” ou “experientes”, provavelmente serão estas as representações que se vão tornar mais
salientes”. De facto, a sociedade onde estamos inseridos possui um papel crucial neste
processo de categorização, sendo importante referir que, efetivamente, os limites que
atribuímos aos diferentes grupos etários variam não só em função do nosso país de origem,
mas também dos grupos a que pertencemos. PAG 37 E 42.

A inatividade das pessoas idosas e a perceção de ameaça dos gastos com o envelhecimento –
É importante que comecemos por estabelecer que o Idadismo não é algo exclusivo das nossas
sociedades contemporâneas. Já desde o tempo de Grécia Antiga, os textos de Cícero
demonstram que o estatuto social das pessoas idosas estava muito dependente da sua
condição socioeconómica. Apesar de existirem alguns anciãos que eram reverenciados como
sábios, a velhice era vista geralmente como um período de declínio e perda. “Cícero aponta
quatro razões possíveis para detestarmos a velhice, a saber: 1) o afastamento da vida ativa; 2)
o enfraquecimento do corpo; 3) a privação dos melhores prazeres e 4) a aproximação da
morte.” Durante muito tempo, a velhice foi sinónimo de indigência. Apenas a partir do século
19 a velhice passa a ser um tópico de interesse e a promover a criação de instituições
específicas, atribuição de reformas, criação do Sistema de Segurança Social permitiu garantir a
atribuição de um rendimento às pessoas idosas, mesmo em situações em que não tenha
ocorrido qualquer contribuição. PAG 43

No entanto, apesar da situação material das pessoas idosas ter melhorado ao longo dos
tempos, pouco tem sido feito para melhorar a sua imagem enquanto grupo social. De certo
modo, as diversas políticas que têm sido postas em prática parecem mesmo contribuir para
promover, mais uma vez, uma ideia negativa das pessoas idosas que são frequentemente
descritas como “inúteis”, “doentes” e “incapazes”. Associa-se muitas vezes a ideia da reforma à
ideia de inatividade e inutilidade. A própria expressão utilizada para designar a reforma –
subsídio por velhice não ajuda muito na promoção da ideia de atividade. PAG 44.

Por outro lado, é interessante notar que os resultados do módulo “Idadismo” do European
Social Survey de 2009 indicam que 53% dos portugueses consideram que as pessoas com mais
do que 70 anos têm uma reduzida contribuição para a economia e 39% consideram que
constituem um peso para os serviços de saúde. Estes resultados indicam que uma
percentagem considerável dos portugueses vê os gastos com as pessoas idosas como uma
ameaça para o desenvolvimento económico do país. Esta perceção de ameaça pode estar na
base dos sentimentos idadistas contra as pessoas idosas na nossa sociedade e deve ser
considerada como um fator importante em quaisquer políticas que pretendam promover uma
imagem mais positiva do envelhecimento. PAG 45.

O predomínio da cultura da juventude - A

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