Você está na página 1de 196

-~ \

' )
t \
í __.
_,.

)
)
)
)
INTRODUÇAO
)

)
)
)
Significado_ e objecto daJ Geografia Huxnana
)
I - Exame crítico da concepção
)
de Geografia Humana
I)
;J

.\~ô-_. ·~;1_ h~~-;;;-;;;--d~ ~ G~~~~~\i<t -br()~<lra~_ rec_ e~~~~~-~~_;_· ~l~u· ns ~-


' )'
) LV ~a~()S; um . desses fo1 ~ Geog~afta :humana. Quanto a~~ esta, · .
I .J _! . se não passasse ;I~ mats. um ti tu ! ~, nada sena. ·r,pe_ij_g§;;__º.Q.Yco.
pots ~-~l~m~nt.Q.hYI11<tp.o :e ess~n._Çial em toda _a Gc;:Qgi:afta, De facto, o
) ·-::.b:tl_mem interessa-se pnnctpalmentepelo seu semelhante, e, desde que se
)
. abriu ·a. . era das peregrinações e das viagens, o espectáculo . das
· diferenças de organização social, associado à diversidade dos lugares,
) . nunca deixo11 de despertar a atenção. O que Ulisses 'reteve das suas
viagens ·foi o o conhecimento das cidades e dos costumes de muitos
homens~; e para a maioria dos autores antigo?, aos quais a Geografia
) deve os primeiros pergaminhos, a ideia de região é insepar~ve! da
ideia _dos seus habitantes ; o exotismo tanto se traduz pelos meios
) de mitr-iÇ-ão e ·aspecto físico dos indígenas, como pelos montes,
desertos ou rios que formam o cenário. · ·
) .....- A Geografia humana não se opõe, portanto, a uma Geografia ......
J que não se preocupe com o elemento humano; aliás, tal ideia só pode
ter germinado no espírito de alguns especialistas intolerantes.. Mas
) · ..:. tr?-Z um_a · nova ~oncepção das reL~9.~---m:tr.e ..a:T.e~r.a ,~~--~-fl_or:r:_e_r_r?-;
concepçao sugenda pQr um cqphectm~nt.Q.__mms . smte!l~ das lels ·
' ) ·físicas que regem a nossa esferá e da~ relações entre os seres vivos
) que a povoam.
)
E' a· expressão de um desenvolvimento de ideias e não. o resul~
tado directo, e por assim dizer material, da extensão dos descobri~
) mentos e dos conhecimentos geográficos. _
- - '· . -

)
_) .. -. .~ ... ,.:: : ••• • • ~f. -.. • - ••
. . .
:-~ : ....-..:. : .:...:::,;.:.~: ....... ,d ''• ... -~· ··'

)
• .__ :.'.< •• •.

MARCHA DA HUMANIDADE PRINCÍPIOS DE GEOGRAFIA HUMANA 25


24
.Não seri~ surpreendente que a grande lu_z projectad~ no séc;.t1Jo. ríamos, aliás, compreender que, nessas escolas filosóficas nascidas
XVI__ sobre a terra,desse lug~r a uma v~r~adetra Geograf1a human~~ nas ~osta~ d~ Jónia, o espectáculo, variado e grandioso do mundo
E, tôdavia, nã 9 aconteceu- asstm. Sem duvt?a, os cost~me~ dos ;1ab1 exterwr nao tivesse ~espertado um eco consequente dUma justa visão
)
tantes mereceram especial relevo nas narrattvas e comp tl aço;s lebad~s da marcha d~s sociedades ~mmanas. Ne~sa~ escolas havia . pensa-
pelos quinhentistas; porém, quando não é o mar a vllhoso_, e o an~~~­ 5J?~~s que, ta1 com? Herachto ~ verdade tro precursor de ·Bácon - ,
t ico que nelas predomina- e por iss?, e apesar dos dtversos ttp_o~ · julgaram ser prefen~e.l que o nomem, em vez de buscar a verdade
de sociedades que nos apresentam, !1-étO se vtslumqra qualquer pnn mi contemp lação qo seu microcosmo~, d~veria alargar os seus hori-
<::ípio de class ificação geográfi_<:a. E ós que, senhores de~tes dados, zontes . e pro~urar luzes no mundo mawr de que faz parte (1).
t entam traçar de novo quadro_s ou espelhos d_o mun;Jo, nao se m~s­ ~ fFlJJlCl!"o, tent~ram encon tr ar no méio físico . a exp licação do > I
tram de modo nenhum · supenores a Estra~ao. D~t, Bernardo \ ~­ 9-ue m~ts os ImpressiOnava _!!?_temperamento dos habitantes.. Depois, )
re}\ius, quando em 1650 escreve. a Geogra_jza geral(!), a obra mats a medt?a que as observaçoes sobre a marcha dos acontecimentos e
notável que apareceu antes de Rltter, (2) uttltzar com uma c<?ndescen- das SOCiedades se acumularam r:o tempo _e no e: paço,. compreenJeu-se
dência quase desdenhosa os \actos hu_mar:os que devem f1 g~r ar na melhor __ qual _a parte q~e. dev1a atnbUtr-,s~ as c~u sas geográficas. )
descrição das .regiões. Quer dtzer : d01_s s~culos de descobnmer;.tos As con::>tderaçoes de Tuc1d1des sobre a Grecta arca1ca as de Es trabão
. acumularam noções sobre OS poVOS maiS dtve_r~os, sem que surgtsse a~erca da l?~sição da Itália, são consequência das :Uesmas ex i aên- )

nada de satisfatório e preciso para um espmto preocupado com a ctas ?e. e~ptnto q':le. ~itar~m certos capítulos do Esprit des Lois (2) ou j
da 1-fzstor:za da Czvzlz'{aç:ao em Inglaterra, de Thomas Buckle.
classificacão científica! . . Rttter inspira-se também nestas ideias no seu E rdkuncl mas )
f.- Não obstante, havia muito ten;po Já qu~ o ,r~nsamento ct~n-
tífico se preocupava com as influêncws d~to_fis~o . e respecttva fá-~o J:?ais como_ geógrafo. Se, por uns res_tos de prevenção his tÓrica,
atr~bm uma acçao espec ta! a cada grande mdividualidade continental ) \
acção sobre as sóciedades humanas 0 Na ~rd~de, sena meno~pr~zar
toda uma linhagem d~ _pensado~es, -·que _va,t desde os pnmetros a _tnterpretação da natureza continua a sér para Ritter o · tem~
pnmordial. Pelo contrário, à maioria dos historiadores e dos soció- '
filósofos gregos a Tuctdtdes, Anstoteles, H1pocrates e Eratostenes- .)
não ter em conta os pontos de vista engenhosos, e algumas vezes
5
profundos, que estão disseminados nas suas obras ( ). Nem pode-
logos a Geografia não interessa senão a título consultivo!' Parte-se do
· l;lomem para chegar ao homem; representa-se a Terra como «a cen'a
em· que se desenrola a actividade · do hom emJ> sem reflectir aue a
) I
pról?ria cena tem vida. O probl ema consiste em dosear as influê;icias
(l)Gr~ças ~ justamente~1~i~erado
esta c.0ra, Varenius é como o sofndas pelo homem, em aceitar que um certo género d~ determinismo
actuou no decurso dos acontecimentos da História. Assuntos sem
)
fundador da Geografta mo.derna. (N. T) . .. ·
(2) Karl Ritter (1779-1859) escreveu a obra D_ie Erdkunde zr;x Ve1·ha 1tnzs dúvida séri9s e int~ressa_?tes, mas qt~e P~ara serem resolvidos exigem )
"'Ur Natur und Geschichte-des Menschen oder allf'{emezl!e wzc(. vergl~1chende Erd- um conhectmento stmultaneamente geral e profundo do -mundo ter- ·
lamde als sichere Gnmdlage c(.es S!udi~ms und Unternchts m physzkalrs,chen zm~ )
historichen Wissensc!zaften, CUJO pnme1ro volume apareceu em 1817. E1 um . tr% restre, conhecimento que não foi possível obter senão recentemente.
balho extenso (19 tomos) no qual-:- embora sem abandonar os pro~ emas a ·
Geograli a física antes <pelo contráno- o autor mostra c_onmdo ma1s pendJ'r,
natur.a l consequ'ência da sua formação histórica e filosóhc ~, para o es tudo as II- O princípio, da unidade terrestre J I
~elaçóes entre a Terra e o Homem e da actuação das sociedades ~u;n?-naE no e a noção de meio
espaco e pÓ tempo ist'o é neste ou naquele lugar e no curso da H1stona .. m- )
bora' tenh~ exagera'do, forÇando conc_lusóes, e haja ir:sinuado O determmiSlO
geográfico, nem por isso dev.emos d~1xar Ó:e. sau~ar Rnt:r1 com? u~ daque ~~
que, no dizer de Brunhes, aJ udaram a defimr metodo da mvesugaçao geogra . A ideia que domina todo o progresso da Geografia é a da
.f1ca. (N. T.) • · ·. · · b d um?ade terrestre. A concepção da Terra como um todo, cujas partes
(3) Hipócrates no tratado Dos Ares, Ag~as e Luga_r.es a or_ o~ o pro-
blema das conexões entre o clima e as caracter~sncas sománcas e pSHJUICa~ do.s ~stao. coor..d~nadas e no qual os fenómenos se encadeiam e obedecem
i ndígenas. E também Aris tó teles, na PolíticC!., livros IV e VII- como Já o fizera as. lets gerats de que ·derivam os casos particulares desde a anti-
P lnão no livro V das Leis-'- a lude às relaçoe~ entre a _Terra e Homem, mel~or . gmdade que entrara na ciência, por intermédio da As'tronomia. Con- :) I
a'~ nda, «às influênci!ls do mei_o físi~? so~bre,a vida políuca dos hom~r:s» (LuGI~~
Febvre) - e tanto, tmporta dizer, )a n ao e propnam~nte do dommw da e
rafia, pois es ta é, e só, «a ciência do_s l~gares e nao dos homens» (V. de ~~ ( 1) Bacon, De augmentis scientiarum, t. I, § 43.
~!ache). Contudo e isso devemos sublmha-lo, o problema estava, realmenLe, ( 2) ~ . obra famosa de . _Mon!esguieu - n~ qual um determin.ismo rigo-
posto pelos Greg~s: apenas o ponto de v ista não era exactamente o geográ- oso é soluçao do problema das mfluencias do me10 fís1co. (N. T.) · )
fico. (N.:TJ
...-·· .· ::.
)
.?.f.: . . .
., 7 -
)
26 MARCHA DA . ifUMANIDADE"
) · -; ...
.· v.;; I
) forme a expressão de Ptolemeú, ·a Geografia é «a ciência sublime que . I
.. ··• .. .~ I
) lê no céu a imagem da Terra». Todavia, a concepÇão da unidade
terrestre ficou por longo tempo confinada no domínio da Matemática,
_) e só nos nossos dias ganharia importância nos outros capítulos da
Geografia, graças, sobretudo, ao conhecimento da cÍI:culação atmos-
) férica que rege as leis do clima. Cada vez mais se reforçou a noção
) de factos gerais ligados ao organismo terrestre e, com justificada
razão, F. Ratzel insiste nesta concepção, que lhe serviu de pedra
) angular na sua Antropogeografia (1). Os factos de Geografia hl]mana
ligam-se a um conjunto terrestre e apenas por este são ..explicáveis;
relacionam-se com o meio que, em cada lugar da Terra, re·sulta da
) combinação das condições físicas. .
Foi sobretudo a Geografia botânica que contribuiu para que a
,I noção ·de meio fosse posta em foco, e esta luz projectou-se sobre toda
) a Geografia dos seres viv_os. Alexa ndre de Humboldt (2) assinalarà, com
a sua perspicácia habitual, a importância da · fisionomia da vegetação
' ) nas caracterísjcas de uma paisagem; e quando ~ em 1836, H. Berghaus,
.) inspirado por aquele, publicou a primeira edição do seu Atlas Fisico (3),
o clima e a vegetação lá apareciam nitidamente relacionados. Esta
'j visão fe cunda .J·2sbravava o caminho a uma nova série de inve·s tiga-
) ções . Com efeito, não se tratava de uma classificação segundo as
espécies, mas da vista de conjunto de todo o povoamento vegetal de
) uma região, de maneira a vincar as características pelas quais se
exprime a influência das condições ambientes: solo, temperatura,
' ) humidade. ·
) A fisionomia da vegetação é tanto a marca mais expressiva
de uma . região, como a sua ausência é um dos factós que mais nos
) ·-ímpres_siona . Quando tentamos evocar uma paisagem, já esfumada nas
) nossas recordações, não é a imagem de uma planta em particular, de
uma palmeira ou de uma oliveira, que se nos apresenta na m.emória;
) é antes o conjunto dos diversos vegetais que revestem o solo, .que lhe
sublinham as ondulações e os contornós~ imprimindo-lhe pelo desenho
) das formas, cores, esp açamentos ou massas, um carácter comum de
)- individualidade:- A estepe, a savana, a selva, a paisagem de parque,
a floresta-clareira, a floresta-galeria- são expressões colectivas que
) resumem para nós . este conjunto. Não se tré.l.ta de uma simples
j impressão pitoresca, mas de uma fisionomia determinada pelas pró-
prias funções das plantas e pelas necessidades fisiológi cas da sua
) existência.
··=~ ........... .
·

J ..
·c
.o
:-: · ·_:-, -;;;
) .. . (1) Frie?rich Ratzel, Antropogéographie, 2.• parte, Introdução, Die Holo-
gaLsche Erdans1cht Stuttgart, 1891. · • 1.
.,g.
2
)
..."'
.• ( ) Alexandre de Humbo ldt (1769-1859), famoso naturalista e viajante !!
a lemf _;; autor do Cosmos e um dos fundadores, a par com Ritter, da Geografi~
moderna. (N. T .) 1' ·
·. ' .,
) I
o
~
(3) 3. a edição, .corrigida e modificada, erO 1892.. · ,. ' . I I
)
) !
.. ~ '~
/ /
' )
)

28 MARCHA DA HUMANIDADE PRINCÍPIOS DE GEOGRAFIA HUMANA 29


)
Isso é o que as observações e ~n.saios experimentais ~da G~o­ vitais como entre vegetais diferentes se formam associações tais que
grafia botânica demonstraram pela analise e pela compara7ao, n:.?r-. cada ' um deles tira proveito dos outros. Quaisquer que sejam as
mente desde que essas investigações pud~ram estender-se aAs r~g10es variedades de espécies que coabitem, quaisquer que sejam mesmo )
tropicais e tempe;ad_as e a todas as altttudes. A concorrencwJdas as diferenças exteriores dos processos de adaptação de que se servem,
plantas entre s1 e tao activa que só as melhores adaptadas ao meio há toda via em toda esta população vegetal um· distintivo comum que
não engana um olhar exercitado. ·
t Tal é a lição da ecologia, que devemos às investigações da
Geografia botânica : Ecologia, quer dizéi:, segundo as próprias pala-

)
)
)
)'
j

)
., ·.·.·•
)
~\~::11 )
234567B [:::::J HV71D.l'a'el5on•
0JIDJ>e2S•S0 ;, #"f;·
~b".SOd!QO ..
~Jkl0aa211d•
./
~ Har• dQ 200 '' t:to'j .

Fig. 3- As condições do meio . III- Pluviosidade anual. )


(Segundo S. Gunther.) )
Notar como as regiões fito-geográficas (Fig . .r) se adaptam às
diferentes condições da pluviosidade. ) I
.... )
vras do autor deste nome"(I), a ctencia que estuda «as relações )
mútuas de todos os organismos que vivem num único e mesmo lugar,
e a sua adaptação ao meio que os rodeia».JOra, é evidente que estas
relações não abrangem somente as plantas. Sem dúvida~ os animais )
dotados de locomoção e o homem com a sua inteligência estão melhor
\
apetrechados para ·reagir contra os meios am bientes. Mas se reflec-: j
ambiente conseguem · manter~se- e, ai_nda assim, s? em equilíbrio timos em tudo aquilo que implica esta palavra meio ou environment,
instável. A adaptação exprime-se de .d_lv~_rsas manetr~s: pelo ~orte, segundo a expressão inglesa, se cogitamos nos fios ignorados de que )
pelas dimensões e posição d_as folh~s, pel_o reve~ttrn~~to ptloso?
fibras dos tecidos e deserivolvtmento d~s r~tzes,_ etc. Nao so c~da . (I) Hreckel, Histoire de la création dés _êtres organisés, tradução francesa,
planta provê, pelos seus próprios me10s, a sattsfaçao das suas funçoes Pans, Remwalc\, 1884, pág. 551. . · )
. ~ \
)
...,
)
30 MARCHA DA HUMANIDAD~ PRINCÍPIOS DE GEOGRAFIA HUMANA 31
)
' ) é tecida a teia que nos envolve, qual o organis~o vtvo capaz: de suas indústrias, não podemos considerar -de somenos as modificações
subtrair-se-lhe? que, por via del as, s?fre_u a fisi_onomia da ~~rra. Q u_er o caçador
) -L...".• - "~ Errl suma, o que ressalta nitidamente destas investigações é paleolítico, quer, os pnm~m~s culttv adores neohtt~os ~bnram brechas
) uma ideia essencialmente geográfica: a de um meio compósito, dotado e criaram tambem assoetaçoes no mundo dos ammaiS e das plantas.
de uma potência ta~ qu_e pode agrup~r e m~nter juntamente s_ere$ hete~ A ctuava m em pontos diversos, independentemente uns dos outros,
) rogé neos em co~bttaçao e correlaçao_ rectproca. E?ta tnoçao par~~e como o provam os diferentes pro-
) ser a própria let que rege a Geografia dos ·ser es vtvos. Cada regtao cessos ainda em uso na produção . . .. . .
representa um domínio, onde se reuniram artificialqíente ~eres dís-
~ ~ ~
..
' ; ··
do fogo (!)J'Em suma, mais remota :/
· - -- 1

) pares, que aí se adaptaram a uma vida em comum. Se constderamos e universalmente do que se supu-
os elementos zoológicos que entram na composição de uma fauna nha, o homem teve influência so-
) reaional, verifica-se que ela é das mais heterogéneas; compõe-se de bre o mundcl--vivo.
) r epresentantes das mais di versas espécies, que circunstâncias, sempre Dado que desde tão cedo
difíceis de precisar, mas ligadas à concorrência vita l, trouxeram para a espécie humana se .expandiu
') essa reaião. Todavia, acomodaram-se aí; e se as relações que mantêm pelas regiõ es mais diversas, teve
) entre sf são mais ou menos hostis, são também tais qu,e as suas existên- necessàriamente de submeter-se a
cias no entanto, parecem solidárias .. As próprias ilhas, desde que casos de adaptações múltiplas ..
) tenham certa extensão, não fazem excepção àquela diversidade. Nó_s Cada grupo encontrou, no meio
)
colhemos nos naturalistas zoo-geógrafos expressões tais como «comum- especia l onde deveria assegurar
dade de vida>>, ou ainda «a~:sociação faunístic~ll, fórmulas significativas, a sua vida, tanto auxiliares como
) pois mostram que, tant5> óo povoame~to anmlal somo no pov?~mento obstáculos: os processos a que·
vegetal, toda a extensao de superfícH~-, em analogas . condiçoes de recorreu por via desses repre-
) relevQ, de posiç~~ e de clima, é · um r_neio con:p~si_to, concAentrando sentam out:·as tantas soluções
) associações formadas por elementos diversos, md1genas, transfugas, locais do problema da existência.
invasores, sobreviventes de períodos anteriores, mas unidos pelos Ora - até ao momento em que,
) laços duma adaptação comum. · devassado o interior dos conti-
Qual a utilidade destes dados para a. Geografia humana? Fig. 4- Caçador paleolitico
) nentes, foi possível às explorações
Pintura rupestre do barranco de Valltorta
h isso que. vamos ver. científicas observar sistemàtica- (Espanha), reduzida a r/to do tamanho natural
) mente as populações- , uma (Segundo Obermaier e Wernert).
III - O Homem e o mew .es pessa cortina ocultava-nos os
)
desenvolvimentos variados da
) humanidade . . As influências do meio unicamente se nos denunciavam
Antes de ir mais longe,- surge uma pergunta a que ~ preciso através de um amontoado de contingências históricas que as velava.
) res ponder com brevidade. A Geografia _botânica apoia-se já s?b_re um ,~A visão directa de modos de existência estreitamente relacio-
grande número de observações e pes u~s,as~ a GeograJia Z.OC?_Iogica, se nados com o meio, eis a novidade que devemos à observação sistem á-
} bc-n qu nmi·to eno:>adianTada, conta la frutuosa s exploraçoes no seu tica das famílias mais isoladas, mais atrasadas da espécie humana.
) activo: mas, quais são eis dados de que dispõe ·a Geografia hum ana? Os serviços _que há pouco assinalámos terein sido prestados à Geografia
E donde lhe vêm eles ? Serão assim tão numerosos para autorizar as botâniça pela análise de floras extra-europeias, são ·precisamente os
) conclusões que já d eixámos entrever ? mesmos que a Geografia humana deve ao conhecimento de povos que
) - No estudo das relações da Terra e do homem a perspectiva
mudou; rasgaram-se mais largos horizontes.
) Antes não se atentava senão no período histórico, isto é, no
último acto do drama humano, lapso de tempo muito curto em (1) Por mais primitivo que seja, não há povo no mundo que n ão saiba
) re lação à presença e à acção do homem sobre a Terra. A investigação
produzir o fogo. Os proc essos mais em uso são: a) o atrito de dois pedaços de
madeira de dureza diferente (h á diversas maneiras de proceder); b) a percussão
pré-histórica veio mostrar-nos o homem espalhado, desde tempos de duas pedras de pirite, ou de uma de .pirite com urna lasca de silex; c)_ a com-
imemoriais, nas mais diversas pa:çtes . do mundo, munido do fogo e pressão de ar. Ver: Deniker, Les Peuples et les Races de la Terre, Pans, 1926, "'-
) pág. 173 e segts. e Haberlandt, Etnografia - Estudio general de las raras,
fazendo instrumentos; e por mais rudimentares que nos pareçam· as Colecção Labor, 23/24, pág. 102 e segts. ( N. T.) · ·
)
' ) .,.., -
' .·.
\ ~-· .
....,;:~ .-. ·-- -~ -~ -. z......,a

)
.;.

:,_; .
~

)
PRINCÍPIOS DE GEOGRAFIA HU ~' ANA 33 _.
32 MARCHA DA HUMANIDADE
)
Ora, a - pópulaç~o .humana é um fer;óD?eno em marcha; es,se é o
ficaram próximos da natureza, os Naturvolker. Ainda que se ,observ~m facto que fica . mt~rramente em evtdencr_a logo que, pa_ra alem d~ s )
mudanças, é impossível não_ recon?ecer neles um caracter vm- statísticas particulares dos Estados, consideramos o conJunto da dis-
cado de autonomia, de endennsmo. So por este poden:os cqmpree_n~er ~~ibuição no globo.iJ Há regiões que a população ocupa poderosam_er:t_e
como certos homens, e;olocados em certas e d~termmadas condiço~s e ·onde parece ter utilizado, mesmo com excesso, todas as possrbllt- )
de meio e agmdo conforme a pro- dades de espaço. E outras há onde. é dii?Jin~t.a e disseminada, s~m
pria inspiração, procederam para ue aliás razões de solo ou de clima JUStifiquem tal anomalta .
organizar a sua existência. E, afinal,
não foi sobre. estas bases que se
jCo~o explicar estas desigu~ldade,s se?ã~ por cor_rentes de in;igração , )
Qoriginadas em ~empos antenores a Hrstona e. CUJOS rastos so a Geo-
ergueram as civilizações, que não 1\grafia pode aJudar-nos a encontrar? E hoje, naturalmente, essas
)
passam de acumulações de ~xpe­ \regiões abandonad~s transformai?J-Se em centros de ~tracção para os
riências ? Crescendo, e comp!Ic~n­ movimentos que agrtam a hun:amdade ~ctual; .
· Fig. 5-Lavrador do bronze antigo
do-se por isso mesmo, nem assim . . Uma das relações mars sugesttvas e a que exrste entre o )
Gravura rupestre de BohusHi.u, ~u~cia .
puderam desligar-se co:mpletámente nú~ero de habitantes e uma certa porção de superfície, ou seja, a )
Segundo A. Montellius. Junta de b01s JUll-
g ida ao arado primitivo
dessas origens. . . densidade de ·população. Se pusermos a par e~tatísticas pormenori-
Algumas destas formas pnml- zadas da população com cartas igualmente pormenorizadas, como as )
tivas de existência são perecíveis; possuem hoje quase todos os principais países do mundo, é possível,
vanas extinguiram-se já ou estão prestes a acab~r, ~ecoriheçamo-lo. . por um t:abalho de análise, disc_e:_nir ~c::rrespondências _ en~re as
Mas deixam-nos como testemunhos ou como rellqmas, os produtos ;;{· aglomeraçoes humana~ . e as condtçoes fisicas:. Tocamos asstm um .)
da sua indústria' local- armas, instrumentOs, vestuário, etc., to9o.s · · · do~ pro.blemas essencrats que levanta a ocupaçao _da terra ; porque .!1
esses objectos nos quais se materializa, por_.. a:-s_sim dizer, a sua afllll- )
existência de um denso agrupamento de populaçao, de uma coabi-
dade com o meio ambiente. Razão teve, pois, quem os recolh~~, . ·. ~- .
tação numerosa de seres humanos num mínimo de espaço, garantindo J
)
quem formou os . museus especiais onde estão agrupados _e geogra~t: à colectividade meios seguros para viver, é, se bem reflectirmos , umà
ca'mente coordenados..'<- Um objecto isolado .rouco . nos ~I~; ma~ Ja conquista que só pôde ser realizada graças a raras e preciosas .)
colecções da mesma pro.véniência nos permitem dtscermr uma s1gla circunstâncias."~ )
comum, e.;dão, vi v a e ·directa, a sensação do meio. · Do mesmo. modo, Hoje, as facilidades do comérCio mascaram-nos as dificuldades
os museus etnográfico~, como aquele que foi fundád? e_m Berlim pela que encontraram os homens de antanho para estabelecer grupos )
infatiaável actividade de Bastian, ou como o de Leipzig e os . doutras compactos. Entretanto, a maior parte dos agrupamentos actuais são
cid~d~s,J; são verdadeiros ~rquivos onde o homem pode estudar-se a formaÇões que remontam longe no passado;. o seu estudo analítico
·. si próprio, não in abstracto, mas sobre realidad~s-' . . . permite . compreender-lhes a génese. Na realidade, a pop,nlação de )
Outro progresso : nós estamos melhor mformados sobre _a um país decompõe-se, como muito bem o mostrou _Leva~seur (t), num
.. distribuição da nossa espécie, sabemos melhor em qu~ pr~porça~ - certó--númefõ-'de ' núdeos, cercados de auréolas de mtenstdade decres- )
numérica o homem ocupa as diversas partes da. Terra. Nao afir,maret cente. Ela . agrupa-se segundo pontos ou linhas de atracção; que os
que tenhamo~ ~m inventário exacto da, humamdade ,e que o m~mero )
homens não alastraram à maneira de uma nódoa de azeiTe, mas
de 1.700 mtlhoes representa exactamente o dos nossos ::.eme- reuniràm-se · primitivam~nte à maneira dos corais . Uma espécie.:.de )
lhantes (1) ;' todavia, nem por isso deixa de ser certo, que., gr;:tças a · cristalização aglomerou, em certos pontos,. ban_co__s ?e populaçoes
sondagep~ . feitas um_ pouco por toda a ,ra:te J?-0 mar hum~no, a )
humanas; aí, estas aumentaram, pela sua mtehgencu~, qs recursos
recenseamentos repetidos, a calcul~s. plaustvets, dtspomos <=!_e numeras naturais e o valor dos lugares, de tal sorte que outras VIeram para, a )
já bastànte· pre~i.sos para nos p_erm,tttrmos _estabelec~r _relaç:oes. . . · , bem ou a mal, participar nos benefícios deste p~t:irnónio, e camadas
· Na mobilidade que preside as relaçoes ~e tocos os se:_es v_tvo~, j
- sucessivas se acumularam nestes terrenos de eleiçao.
o estado numérico e territorial de cada espécte é uma noçao. cienti- Possuímos hoje dados antr?pol6gic.<:s sobre algumas destas
fica de alto valor. Ela projecta luz sobre a evolução do fenómeno . .· ·. regióes ónde se sobrepuseram asstm aluvioes humanas . . A Europa
J
(1) Antes da última guerra, calc_ulava-se ~m 2.041 milh<?es o to.tal d_a po- _ )
pulação do globo. Tal cifra estava assm) ~eparnda pelos contmemes. ~fr~ca- .· . (1) E. Levasse~r- La répartition de la racé humaine (Bul(etin intern. de ·
144 milhões; América- 259 milhões; J\sia ( compr~en~ienqo a . Insulmd1a)-:- statistiqile, XYill, 2e liv., pág. 56). .
1.113 milhões; Europa- 4515 milhões; Oceania- 10 m!lhoes. ( N. 1 _-) · - . : -
GQo. H um. - Foi. 3 )
;.... ·... . · )
c'j.
)
34 MARCHA DA HUMANIDADE PRINCÍPIOS DE GEOGRAFIA HUMANA 35
)
I) Central, a bacia mediterrânica, a Índia Inglesa (1) apresentam-nos, a particular: uns, caçadores; outros, agricultores; e ainda outros, pas-
títulos diversos, exemplares segundo os quais é possível certific~rmo­ tores: _Yemo-los, neste. caso, cooper~r, unidos uns aos outros, pela
lj -nos da composição dos povoam~ntos humanos. A c?mplext?ade .solidanedade de necesstdades. A. mator parte das vezes - excepção
) destes povoamentos é, duma manetra geral, o que nos ImpressiOna. feita a algumas moléculas obstmadamente refractárias . tais como
Q uando tentamos distinguir, segundo os índices antropológicos repu- boémios e ciganos, etc.- a influência soberana do meio' nas socie-
) tados como os mais persistentes, os elementos que entram na popu- dades _d~ Euro_pa, tudo ligou a ocupa7ões e costumes análog~s; e marcas
) lação não só duma grande_ região, mas até na duma circuns_crição rnatenars assmalam essas _analogras. Tal é a força moldadora
regional menos extensa, venficamos que, com poucas excepç?es,. a -que prevaleceu sobre as d1ferenças originais e as combina numa
) falta de_ homog_eneida?e é a regra. Em França, a antrot;ol?gt,a. dts- .adaptaçã~ C_?mum;llf\s. associaçõ_es ~umanas, do mesmo m9do que
tingue t tpos mmto anttgos, qu e re:nontam aos tempos pre-htstoncos, .as assocwçoes vegetars e an;mats, compõem-se de elementos
) . ao lado de elementos vmdos ultenormente, tantas vezes quer de uma diversos sqbmetidos à influência do meio : não se sabe que :v~ntos
) região o~ de um ?epartamento mesmo. Nesta. ~iversidade __há graus os trouxeram, nem __donde, nem em gue época; mas coex 1stem
que explicam sufictentement_,e a natureza e a postçao das reg10es; ma_s; numa e ~esm~ regrao. que, pouco a pouco, os marcàu com seu
/ no estado actual da evol uçao do povoamento humano, bem raras sao cunho. Ha ~oc1edades ~ncorporadas no ·nieio desde recuados tem- .
1) as partes que parecem ter escapado inteiramente à~ vagas das ir;vasões .pos, mas . ha o_utras amda em formação, aumentando e modifi-
que rolaram à superfície da Terra: algun? arqmpélagos I-ong_r.?quos, cando-se dra a dra. Sobre estas, apesar de tudo, as condicões ambien-
) alguns recantos montanhosos, quando mmto. Mesmo ~a regtao das tes exe reei? pressão e, por isso, na Austrália, no Cabo ou'na América,
) selvas africanas, os Pretos de grande estatura e os P tgmeus de cor vem?- 1as tmpregnar em;se dos lugares onde se de senrolam os seus
mais dara coexistem, mantendo relaÇões recíprocas. Podem,os, desde destmos. Não serão os Bóers exemplo de um dos mats notáveis tipos
j já, considêrar como adquirida a distinção fundamental entre povo de adaptação ? (!)
e raça, · contràriamente aos hábitos da linguagem corrente que os
) confunde sem cessar (2). Sob as analogias de língua, de religião e de IV - O homem, factor geográfico
) riacionalidade persistem,. e não deixam de actuar as diferenças espe-
cíficas implantadas em nós por um longo atayismo. ·· . Acima do localismo em que se inspiravam as concepções
' ) Entretanto, estes grupos heterogéneos combinan:-se numa at~ter_w;es, esclarecem-se as relações entre a terra e o homem. A dis-
) organização social que fàz da população d_e um país, constderada no tnbmçao dos homens foi guiada na sua marcha pela aproximação e
seu conjunto, um corpo. Acontece, por vezes, que cada um d~s ele-
) . mentos que entra nesta composição adoptou- um modo de vrda ~5)
{ ) . L~ ?lache; es_cre vendo qu e _os ~óers são exemp lo de uma notável ·
1
.
.adaptaçao,_ expnme.a real!dade com ma10r v1gor do que os autores que falam
· · (l) Le peuple de l'Inde d'apres ld série des recensements (A1males d e .de regressao. '
) Géographie, XV, 1906, p_ágs. ~53-375 e 419-442~. , _ _ Na verdade, e_m 1651, o governador van Riebeck iniciou a colonização
(2) La Blache nao de1xa explícita a dtstmçao fundat:nental <:nt.re povo e .agncola ~o Cabo; muitos Holandeses de ambos os sexos- c ircun stância a assi-
) raça. Mas, tendo sido abordado o ass umo, parece-me convem ente detxa-lo escla- nalar- vteram es.tabelecer-se no terr itório, recebendo cada colono · um lote de
recido tanto quanto é pos~ivel numa curta . nota. Raça é _um grupo _de homefols terra, sementes, Instrume ntos ag~íco_ la s e gad~. O caudal dos que cheg.a vam
(no ca~O particular que focamos ) COm idênticas. cara'ctéríStiCaS son;átt_caS e CUJa aumentou guando::-e em co~sequenc1a do fanatismo dos calvinistas que assolava
I evoluç ão está sujeita às l eis da biologia; E2.!:'P_>é um conjunto de md1vídu?s, ;:te .as Provmc,tas Un1das- mu1tos lutera_nos _procuraram refúgio na nova· colónia.
)" urpa ou mais .r.aças, falando a mesma língua, ocupando um mesm~ ~;rntóno, Onur:dos d~ um pa1s de mannhetros e mercadores, os colonos não 0
tendo os mesmos usos e costumes e, frequentemente, a .mesma rehgwo .. ~~de for~m, mas s1m agnc~l~ores e pastores._ Logo, 1·egressão. Mas, tal não será con-
) uma destas características falhar: 0~s.. <::.ig_a_I?,_c.>.~.. andam espalhadqs pelos ternton~s c!mr um t a nto prectpHadam ente? Po1s não tinham as Províncias Unidas nesse
de outros povos e não ·têm um .qu e seJa se u · nem sempre o mesmo credo reh- · -secu lo XVII uma larga tra~içiio past.oril e agrícol~? Disso são os polders um
j gioso . é . seguido pela totalidade dos indivíduos. Entretanto, aqueles caracteres, e loq~e~te testem~nh_o! Ate ao comercio me~ropolttano conviria que na colónia
no todo ou em parte, podem servir de base a um determinado .Povo, ~as 1 ~orno .a act1v1?ade economtca fosse de mol_de a serv1-lo- e os que foram e lá se dedi-
r ) diz Haberlandt, só a própria consciência diss? converte num povo c:s mdtvtduos .cara~ a agnc ultura ou à pastorícia estavam à a ltura da tarefa: «no Cabo da
de um grupo humano. Acrescente-se que as lets que regem a evoluçao dos povos -~_o a Esperança demonstraram_ os f:Iolandes es dotes completos d e colonizadores>;
) não são biológicas mas sociais. (N . T.). . . · I.z Gonzalo de !3ep~raz (E[tstorza_ de la Coloniracion, Vol. I, Colecção Labor:
(3) U autor diz exactamente- «genres de vie». Dema_ngeon, ·po'rém, pag. 407). ~haver! a stdo ass_1m se u:'essem feito _regressão 'l '
') escreve- «modes ~e vie» (Problemes ~e Géographie Humair~e, _Pan s, ~ 942). A tra- . . Nao :nantlveram a llngua, aifo!da que ennquecida por termos dos povos
dução modos de vtda pareceu-m e ma1s conforme çom o gemo da Imgua e, p0r .V Zt~hos? N~o gu~rdaram_ os prec~nos do seu_ creào r eli gioso, instituições e
1

') isso optei por ela. Não perguntamos a alguém : -Que género de vida é o seu? .hábitos morats? Nao_ manuver~m ate os seus preJuízos d e raça?
...., ~as sim:- Qual o seu modo de yida '? (N. T.) E se acaso tivesse haVIdo regressão, não seria o meio que poderi"a expli-
_)
(
)
L •._ -.:~·- ·c.. -~· •. ;.:,_
) \ ·' . •• '
,.,;"">"" - ·: . - -- --

36 MARCHA DA HUMANIDADE )
PRINCÍPIO S DE GEOGRAFIA HUM AN A 37
convergência das unidades continentais; a solidão das bacias · oceâ-
-nicas separou ecúmenas longo tempo ignorantes umas das outras. Urn eminente geógrafo russo, M. vVoenwf fez notar que os
Os grupos que, na vastidão dos continentes, se fixaram aqui e ali, ~bjectos submetidos ~ f<;>rça do h?rr:em são .sobretudo os que e!~ ape-
depararam entre si com obstáculos físicos que não ultrapassaram ltdou · de «corpos ,rnoyelS>> ( 1) . H a, com e_fe1to, na parte da superfície
senão com o decorrer dos séculos: montanhas, florest as, pântanos ,. terrestre que esta directamente submetida à acção mecânica das )
regiões sem água, etc. A civilização resume-se na luta contra estes-· á~uas corren.tes,_ dos gelos, dos ventos, das raí~es das plantas e
obstáculos. Os povos que dela saíram vencedores puderam aproveitar a:nda dos amm~1s- estes, pelo tr~nsporte de mole~ulas e pelo espe- )
em comu~ os resultados duma experiência colectiva, adquirida em di- -s:nhar- um res_Iduo de desa g r eg ~ çao renovado contmuamente, dispo-
mvel e . suscep~tv~l de se mod1flcar e de adoptar formas diversas. )
yersos meiOs. Outras comunidades, como consequência de prolongado
1s~la~ento, perderam a faculdade de iniciativa à qual deviam os seus- Nas zonas mats mgratas do Sáara, as dunas são o último reduto da )
prrmeiros progressos ; incapazes de , pelas próprias forças, irem além vegetação e da vida. E' mais fácil ao homem exercer a sua activid ade
de um certo estádio, lembram-nos aquelas . sociedades animais que·
par_ecem ter esgotado a soma de progresso de que eram susceptíveis. )
HoJe , t<?da:> as partes da terra estão em comunicação; o isolamento é urna
)
ano,~a!J a que lembra ;:t_m -~~safio, e não ~ só entre as reg!ões contíguas-
e vtzmhas, mas tambem entre as long_mquas, que extste contacto. )
·-.... As causas físicas, cujo valor os geógrafos se tinham anterior-
~ne nte e·sTórÇado por encontrar, não devem por isso ser despre~adas ;. _)
Importa. sempre marcar a influência dó relevo, do clima,· da posiçãO> )
continental ou insular sobre as sociedades huma:nas ; mas devemos.
encarar os seus efeitos no hom,em e no conjunto dos seres vivos, simul- ) I
tâneamente . )
E' assim que melhor poderemos apreciar a parte que convém
atribuir ao homem como factor geográfico. Ele é, ao mesmo tempo~ ~I
f', activo e p assivo (1)- pois, segundo a sentençá bem conhecida, «na--
)
t ura non vincitur nisi parendo».
car totalrp~nte o facto, antes h averiam de buscar-se as causas essenciais n<;> tipo
de_c om~r~to imp?sto, log? _no inicio da col onização, pela Companhia das Indias- Fig. 6- O home m, fact or geográfico: o dominio das dunàs e· das · aluviões. )
Onentais ~, na atitude pQlltlca (?) adoptada !?ela Metrópole. Essas causas huma-'-· A Zelândia no ftm do séclllo XIV (A) e n a actualidade ( B) sea0
undo e lementos
nas contnbuira n: mais do que as influências do meio físico para o lent9 pro- recolhidos em Blink. ' )
g ress o da comumdade bóer. (C arto grama do tradutor.)
. . Pa~ticularist~s- «O Bóer não gosta de ver o fum.o do seu vizinho>? - ; )
-e Deus Ít'!Z os mares, o Holand ês (nest e c_ a so, o Zelandê s ) fez as cos tas ,. diz o provérbio Por
tradiciOnalistas, agncultores e pastores, os Bóers mantiveram noutro me10 as- ze~esd? mar a bce brec ha, ten.de a subm ergir as terras - há _e xemplos h'i s tóricos di sso. ~as o
características peculiares do Hqlandês, esse ta mbém ·parti culari s t a, tradiciona-· de an e~ .- Lu_cto~· t;t cmer!JP, di z a sua Q. i v i sa- opõe-lhe tenaz m ente o dique; perde uns 'palmos
lista· e, a par de marinheiro e comercianre, ag ricultor e pastor (a lgumas pági- e te rr a aqut, vat ga~har un.s . metros m ais além: rep ar e -se nas duas con figurações de Zv id
nas de Ramalho Ortigão, n'A Holanda, dizem-no exuberantemente). ,, B evelan d (6); ou conqmsta delibera dam e nte : veja-se o caso de G oedereede- Overflakkee (I) ilha
~-.. ' qu e pertence já à I-IolaD:d~ meridionaL , )
Quando uma potência (a Inglaterra) se lh es opôs, esses ag6cultores e-
pastores- robustos, va lentes e labonosos- agiram da . forma valorosa que e> j
século XIX testemunhou- lembrando ainda as tradições da pátria-mãe. Amante- !l~s ~egiões cmde os matena1s móveis estão distribuídos com abun-
?a liberdade, o Holandês bate-se des esperadamente, rebenta o dique, alaga na. )
mpndação armas e bagagens inimigas; os Bóers lutaram valorosamente.....,... impo-· :cianc,t~. _d o que naqueles onde uma carapaça calcárea ou uma crosta
te ntes, não obstante, recusaram render-se: iniciaram o treek, o êxodo em massa-c latenhca, po! exe~plo, endurecera m e esterilizaram a superfície. _)
__:. e foram fundar as Repúblicas de Orange e do Transval. Após vicissitudes. ~as e preciso ac;escentar 9ue ~ prórría Terra, segundo a
várias, for a m incorporados na União Sul-Africana, mas não perderam nada das- expre?sao ~e Berthelot, e algo de VIVO. Sob a mfluência da luz e de
su as caracterís ticas, nem desataram os laços com a pátria de origem. . ·
·. . . Regressão ou exemplo notável de adapta·ção? A resposta parece-m e . er:ergtas CUJO mecanismo nos escapa , as plantas absorvem e decom- }
meqU!voca. (N. T.) · .· · ~- poem os corpos químicos; as bactérias fixam, em certos vegetais, o
)
(1) Assim é, na realidade. Veja o que se diz n as . considerações que
s ervem. de prefácio. ( N. T.) De l ' injlue~~e . _de !' lzornme
1
( ) sur "la tcrre, ( A.!_males de Géograplzie, )
x, 1908, pág. 98). . .
)
~ ,-
/ )
·' "j ·' :I> ·- ·

)
PRINCÍ PIOS DE GEOGRAFIA HUMANA
)8 MARCHA DA HUMANIDADE li9JQ
e se estas variações não acarretam grandes perturbações nas regiL
. -L ote da ~tmosfera . A vida, transformada na passagem de organismo que têm chuvas abundantes, outro tanto não acontece naquelas qut.
) m oraanísmo, circula através de uma multidão de seres : uns elaboram só recebem o _mínimo neces_sário.l> Compreende-se bem o alcance
8. substância de que se alimentam os outros; alguns transportam germes desta observaça?,_ po_r que a mtervenção dp homem pode consolidar
d e doenças que podem destruir outras espécies. Não é exclusivamente o mo_m eoto postttvo, fir,mar sobre um estado temporário um estado
,_.gr aças ao auxílio dos agentes inorgânicos que se verifica_ a acção fixo, 1sto pelo menos ate nova ordem.
transformadora do homem; este não se contenta em ttrar pro- Por exemplo : do Norte de África ao Centro da Ásia os obser-
' Jveito, com o arado, dos materiais em decomposição do sub-solo, em vadores sentem-s e impre~sí_onados com os espectáculos de des;laçâo qu e
_;ltilizar as quedas de água, devidas à força da gravidade em função contrast~m com os_ vesttgws de cultura e as ruínas, testemunhos d e
uma an~tga prospendade (1) .
J A Esta ass~ntava sobre o frágil a_licerce de trabalhos de irrigação,
merc~ _dos quais .o hom~m _consegma estender aos períodos secos o
) benefiCI? dos penados. humrdos. Mas . . : que se interrompa a função
) be?-~~ZeJc:_ durante_ algum te~po, e logo todos · os inimigos, que
a if1 tgaçao comba!1a , le\;antarao a cabeça . E soqretudo, o que é mais
j grave, a_ adaptaçao tera tornado outro rumo. Outros hábitos terão
prevalectdo no~ ~1orn e ns ; a sua existência Jiaar-se-á a outros meios a
outros s~res_, ~x1smdo outras disponibilidades de espaço. A floresta dão
0

) t~m mawr_ mti?t_go do que _o pastor; os diques e os canais têm encar- ·


D!Ç~O advcrs_ano no Bedurn'?, a quem rert_urbam na? peregrió~yões .
) ·- A_ ~cçao do homem _ttra o seu pnnc1pal podeno dos auxiliares
) que.. mobthza no mundo ViVO: plantas de cultura e ·animais domés-
ticos, porque dá ~,ssim i~1pulso a forças el? potência que, graças a ..J
) ele, e~cor~tram o cdmpo hvre e agem. A mawr parte das associações
) vegetats formadas pelo. cultura çompõem-se de elementos primitiva-
-- - -~-- - --- ,~ - _ _ .,,_.... .

)
o F.~.• _ (1) Ellsworth ~Iuntington foi um desses observadores e no livro The Pulse
) oj Asw- A Journey m Central As ia illustrating the Geographic Basis oj His-
to:-y, PJoston-New-Yo~k, 1907, defendeu a tese da relacionação das oscilações
/ Fig. 7 - Luta com o mar: fases da conquista da ilha de Goedereede-Overflakkeeo- climáticas com as migrações his~óri_cas dos po~os da Ásia Centrai, explicando
( Segundo Blink, modificado.) ~tas por_ aquelas . . Er-r: :1.914, o pnncrpe Kropotkm, no artigo The Dissecation oj
) x - A ntes de ro65 (fase marcada com x· no_ cartão A d a fig. 6); 2-terrenos conquistados :zraszc:_, m Geog1:aph:_c,1l Journal, XX~II, buscando ·as causas geográficas dessas
d urante O século XV) 3-acréscimo llO SéCulo X VIj 4-llO Século :X:V I I j s - n o século XVIII j m~graçoes, conclut , nao pelas osct!aeoes clrmáticas mas por uma procrressiva
) · 6-uo século :x: xx; 7- indeterminado . a~1dez. Jean Brunhes e Camille Vallaux (La· Géoo-raplie de.l'Histoire Paris 1991
kag. 22~_e se~s.) põem em dú_v ida a legitimidad~b das hipóteses de Hu~tingtdn e ~d~
I r_opo~km, _ n,Jo _quanto a ma10r ou mer:or hurmdade que no decorrer dos tempos
das desigualdades do relevo . E le colabora com todas estas energias h_da nd_o a !'s1a Çentral, mas a respeito das consequências históricas- as refe-
) a grupadas e associadas segundo as condições do meio. O homem nh as mrgras:oes: «Enquanto os n_::odos de vida podem ser os mesmos, não há ne-
n uma _r a z_?o r;arural para o exodo çm massa. E parece certo que, a esar ,j
_) entra no jogo da_ natu~eza: . . - . . ' . das oscd~çoe~ o e m_ed~ioc:re ampl_ímde, a As ia Central permaneceu no de cursE dos ,,
'i
. E a part1da nao e isenta de penpecws! E preCISO notar que tempos ~1stóncos, 1dentrca a si. própria: não deixou de ser un~a imensa este e -\1
) em muitas partes da Terra, senão na sua total idade, as .condições d_o de grammeas, atr~vessada por grandes !ormaÇóes de areias com alguns oás~s n
: ) meio determinadas pelo clima não têm a rigidez que costumam atr_i- a:-Judt e além, e CUJOS avanços ou r e cuos se explicam sufic'ienremente por pe_:
no os de paz ou de guerra, (p~p;- 228).
. buir-lhes as 1néçlias registadas pelas nossas cart as. O clima é mms _ Quant? . <>o Norte de Afríca, as estações paleolíticas do - Sáara bem
) u ma resultante oscilando à volta de uma média , do que esta mesma . asstm as neolttrc~s e até o tacto de «muitas ruínas das florescentes c~lónias
, O s dados que possuímos, embora demasiado imperfeitos ainda, romdas. da Argélia se encontrarem actualmente já dentro da zona sub-desértica»
_) fi zeram contüdo notar que essas oscilações parecem ter um carácter d tu o Iss.o parec~ te~ter:nunhar, senão_ o~cilações climáticas, ao menos variação
p eriódico; por outras palavras , persistem durante 'vários _anos, ora e um clima m::u~ hurrudo para cond1çoes_ progressivamente mais áridas. Claro
que. estou a refenr-me aos tempos históncos .· e pré-históricos, porque rela ti-
, _) n um sentido, ora noutro. S éries pluviosas alternam com sénes secas· ;

j .. :.;.
!
.. .. (
. ·~;:. ;_~~ ~·- v-:."""· . ·-~~ --. ~:--..,·' . '\:--·
~-- '
: ,-
---.....:.:

38 MARCHA DA HUMANIDADE

.ente dispersos . Eram


d plantas ' anichadas nas encostas expostas ao
a?' l ·
, so ou nas margens os nos, relegadas para certos pontos pela ~rações . e, talvez, ate ~ experimen-
taçã~Estudando a acç_ao do ~ornem
concorrência de espécies agrupadas em grandes massas e constituídas
em maiores batalhões. Do alojamento propício onde se tinham entrin- sobre a terra e ~s. estigmas Impres-
cheirado, estas plantas, que a gratidão dos homens devia um dia sos na sua superflCle por urna OCUpa-
abençoar, espreitavam o momento em que circunstâncias novas lhes ção tantas vezes secular, a Ge_ogra-
facultariam mais espaço. O homem, adoptando-as na sua clientela, fia humana tem um duplo obJecto:~
. prestou-lhes este serviço: libertou-as. Ao mesmo tempo, franqueou o não lhe pertence apenas fazer o ba-
caminho a todo um cortejo de vegetais ou de animais não desejados; lanço das ?~struições que, se m ~u
substituiu por associações novas as que, antes dele, se tinham asse- .com a part1c1paçao ?o homem,- tao
nhoreado do espaço. · singularrne!1-te, ~eduztram,_ desde .os
tempos plwceme:os, o numero das
Sem o homem, nunca as plantas de cultura, que cobrem hoje
uma parte da terra, teriam conquistado às associações ri vai~ . o grandes espécies. an.imais; encon~ra
espaço que ocupam. Mas, porque assim é, pode julgar-se que, se o também, no connec1rnento ma1s m-
homem deixasse de intervir, as associações por elas espoliadas reto- timo das relações que unem o_ con-
mariam· os seus direitos? Nada menos certo. Uma nova economia junto deis seres vi'los, o mew de
j
natural pode já ter tido tempo de substituir a antiga. A floresta: perscrutar as transformaç?es acp-~al­
tropical, desaparecendo, deu lugar à savana('); e esta troca, modifi- mente erri curso e que e permtttdo )
ca:ndo as condições de luz, eliminou em parte os seres que essa fio- prever. A este respeito, a acção pre-
·s ente e futura do homem , senhor das )
resta abrigava, nomeadamente · as terríveis glossinas que afastavam
outras espécies. Algures foi o sub-bosque, sob a forma de maquis .distâncias, armado de tudo o que a )
ou de garrigue (2), que sucedeu à floresta; e outros encadeamentos se .ciência põe ao seu serviço, ultrapa~sa
muito a acção que os nossos longm~ )
verificaram, transformando tanto o meio ambiente, quanto as condições
\~,quos antepassados l?odiam exercer .·
económicas (3). Um campo novo, quase ilimitado, abre-se às obser- )
. Felicitemo-nos por 1sso, porque a
vame.nte aos tempos geológicos é verdade incontrovenida que se verificaram
empresa da colonização~ ~ . qual . a _)
oscilações do cli~a. nossa época ligou a sua gl<;)fta, sena
um engano se a natureza Impusesse )
Hoje, a :Africa do Norte, excl uído pela força das circunstâncias o Sáara,
é, no ponto de VISta agrícola, o pais das vacas gordas e das vacas magras. «Como quadros rígidos~ em vez de dar mar- )
está ·na zona limite das chuvas sufici entes para a agricultura, a lguns centímetros gem às obras de transformação ou
a n:ais ou a menos na _quantidade de chuva podem ter consequências económicas )
muno graves; urna séne de anos secos conduz geralmente à fome>>. de restauração q!IC estão no poder
(Ver: H. Obermaier e A. Garcia y Belido, El Hombre Prehistóricoy las .do homem . · )
Orígenes dé la Humanidad, Madrid, 1941, págs. 111-120 e 205-20f>; Augustin
Bernard, Afrique · Seftentrionale e Occidentale, in Géographie Universelle, )
tomo XI, cap. II, especialmente o § IV- Les changements de climat). . .
Ainda sobre o assunto, quando encarado duma maneira geral (sem que )
pretend~ dizer com isto que a obra trate d e generalidades), é útil a leitura de
outro livro de Huntington, Civili::çation and Climate. New-Heven, 1915, de cuja j
2.• edição há tradução espanhola: Civili::çación y Clyma, Madrid, 1942. (N. · T.)
_j
· (1) La Blache diz textual rnen te "brouss e », ou seja o nome dado à savana
na região do Senegal. (N. T.) · )
. (2) Maquis é a floresta degradada dos solos siliciosos, cujas árvores carac- Fig. 8 - A variação da a ltura anual
terísttcas foram substituídas por espéc ies arbustivas, formando brenhas por vezes das chuvas em Argel, de 1838 a 1932.
Íf!lpenetráveis. Gárrigue é urna associação vegetal constituída por mato rasteiro,
dtsperso em.peql!enos tufos e também por manchas h~:bác eas,.poo~e _revestim ento (Seg undo Petitjeàn .)
dos terrenos ándos, de sub-solo calcáreo, na regtao meonerramca. (N. T.) A altura médi.a (í28 mm.) está marcada pela·liuha
(3) Sobre o assumo é conveniente a leitura do cap. V -Action de l'homme -tracejada. Há -desvios positivos e negativos bem
sur la végétation et associations végétales dues a son intervention, no torno III do .acentuados, e CC"mo a Argélia c: está na zona.:. limite
Traité de Géographie Physique, de E. de Martonne, 5.• edição, Paris, 1932. t J,'- . .das ch uvas suficientes para a agricultura •, · os
üitimos - podem determinar épocas crítit;:as·.
~ ~ I I r
)
-·::;··
)
;-- ":·' ~: ·
·'··· '
j

Você também pode gostar