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GEOGRAFIAS PÁTRIAS

Cristina Pessanha Mary

GEOGRAFIAS PÁTRIAS
BRASIL E PORTUGAL – 1875-1889

Niterói, 2010
Copyright © 2010 by Cristina Pessanha Mary
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Editora.

Normalização: Danúzia Rocha


Edição de texto: Maria das Graças C. L. L. de Carvalho
Revisão: Icléia Freixinho
Ilustração da capa: Sessão solene da SGL para Conferência de Capello e Evens.
Revista O Occidente, n. 243, 1885.
Capa e projeto gráfico: José Luiz Stalleiken Martins e Fernanda Schwarc Mary
Editoração eletrônica e supervisão gráfica: Káthia M. P. Macedo

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação - CIP


M393 Mary, Cristina Pessanha
Geografias pátrias: Brasil e Portugal - 1875-1889/ Cristina Pessanha Mary
– Niterói : Editora da UFF, 2010.
192 p.: il.; 23 cm. — (Coleção Biblioteca EdUFF, 2004)
Bibliografia: p. 149
ISBN 978-85-228-0533-4
1. Geografia. 2. Portugal e Brasil. I. Título. II. Série.
CDD 914

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

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(GLWRUDILOLDGDj Marco Antonio Sloboda Cortez
Renato de Souza Bravo
Silvia Maria Baeta Cavalcanti
Tania de Vasconcellos
LISTA DE SIGLAS E FIGURAS

ABL ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS


AFRJ ACADEMIA DE FILOSOFIA DO RIO DE JANEIRO
AIM ACADEMIA IMPERIAL DE MEDICINA
ARCL ACADEMIA REAL DE CIÊNCIAS DE LISBOA
GPL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA
IAB INSTITUTO DOS ADVOGADOS DO BRASIL
IHGB INSTITUTO HISTÓRICO GEOGRÁFICO BRASILEIRO
IIFA IMPERIAL INSTITUTO FLUMINENSE DE AGRICULTURA
LAO LICEU DE ARTES E OFÍCIOS
LLP LICEU LITERÁRIO PORTUGUÊS
MN MUSEU NACIONAL
OAB ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
ON OBSERVATÓRIO NACIONAL
RGPL REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA
RCMM REPARTIÇÃO CENTRAL DE METEOROLOGIA DA MARINHA
RH REPARTIÇÃO HIDROGRÁFICA
SAIN SOCIEDADE AUXILIADORA DA INDÚSTRIA NACIONAL
SEP SOCIEDADE DE ENGENHARIA DE PARIS
SGL SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA
SGP SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE PARIS
SGRJ SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DO RIO DE JANEIRO
SPBA SOCIEDADE PROPAGADORA DE BELAS ARTES

FIGURAS

FIGURA 1 FACHADA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA, EM PARIS ........ 30


FIGURA 2 O CONGO DEPOIS DA CONFERÊNCIA DE BERLIM ............. 34
FIGURA 3 VIAGENS DE EXPLORAÇÃO DOS PORTUGUESES
NA ÁFRICA NO SÉCULO XV ......................................... 35
FIGURA 4 TRAVESSIA REALIZADA PELOS POMBEIROS
E VIAGEM DE L ACERDA E ALMEIDA ................................ 37
FIGURA 5 O TRAÇADO DA COSTA OCIDENTAL DA ÁFRICA,
EM FINS DO SÉCULO XV ............................................. 55
FIGURA 6 SALA DOS PADRÕES DA SOCIEDADE
DE GEOGRAFIA DE LISBOA .......................................... 57
FIGURA 7 A REGIÃO DO IELALA ................................................. 58
FIGURA 8 EXPEDIÇÃO PORTUGUESA À ÁFRICA AUSTRAL DE 1877.... 60
FIGURA 9 RECEPÇÃO DOS EXPLORADORES CAPELO E IVENS.
ILUMINAÇÃO DA CASA DA SGL ......................................61
FIGURA 10 DIPLOMA DA SEÇÃO DA SGL CONFERIDO
A BENJAMIN CONSTANT ...............................................75
FIGURA 11 RETRATO DO BARÃO DE TEFFÉ ...................................134

APÊNDICES
QUADRO I DIRETORIAS DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA ...169
QUADRO II PERFIL SOCIAL DOS DIRETORES DA SGL ......................170
QUADRO III DIRETORIAS DA SEÇÃO ..............................................171
QUADRO IV EQUIPES DE REDAÇÃO E CHEFIA DE REDAÇÃO ..............172
QUADRO V SÓCIOS DA SEÇÃO DA SGL NO BRASIL – 1881 ............173
QUADRO VI SUBSEÇÕES DA SEÇÃO ..............................................180
QUADRO VII AUTORES E ARTIGOS DA REVISTA DA SEÇÃO
DA SGL NO BRASIL ..................................................181
SUMÁRIO
PREFÁCIO ....................................................................... 11
INTRODUÇÃO ................................................................... 15
1. CRÔNICA DO MOVIMENTO GEOGRÁFICO ........................... 25
1.1. O MOVIMENTO GEOGRÁFICO EUROPEU ............................. 27

2. A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA: REFAZENDO


A “NAÇÃO ABATIDA” ....................................................... 45
2.1. PORTUGAL, A NAÇÃO ABATIDA ................................. 45
2.2. A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA E O
REATAMENTO DA TRADIÇÃO NACIONAL ............................... 47
2.3. A POLÍTICA DE CRIAÇÃO DE FILIAIS ........................... 63
3. SEÇÃO E SECESSÃO ..................................................... 73
3.1. A CRIAÇÃO DA SEÇÃO DA SOCIEDADE
DE GEOGRAFIA DE LISBOA NO BRASIL ....................... 74
3.2. OS FILIADOS DA SEÇÃO ......................................... 77
3.3. A SECESSÃO ....................................................... 83
3.4. AS GEOGRAFIAS DA SEÇÃO .................................... 86
3.5. PRIMEIRA FASE: ENTRE O SERTÃO DO BRASIL E OS
CONFINS AFRICANOS .............................................. 89
3.6. SEGUNDA FASE: A GEOGRAFIA COMO IRMÃ DA
ANTROPOLOGIA ..................................................... 94
3.7. TERCEIRA FASE: POR UMA GEOGRAFIA
AUTENTICAMENTE PORTUGUESA NO BRASIL ................ 96

4. O BARÃO DE TEFFÉ E UMA OUTRA GEOGRAFIA ..................117


4.1. O ALMIRANTE TEFFÉ E A CIÊNCIA NACIONAL ..............117
4.2. A GEOGRAFIA DO BARÃO NA SOCIEDADE DE
GEOGRAFIA DO RIO DE JANEIRO .............................119
CONCLUSÃO: A QUESTÃO NACIONAL COMO UM DIVISOR
DE ÁGUAS DAS GEOGRAFIAS DO IMPÉRIO ...........141

REFERÊNCIAS ..................................................................149
APÊNDICES .....................................................................169
AGRADECIMENTOS

Para realizar esta investigação contei com preciosa ajuda: devo o


roteiro desta pesquisa a Manoel Luiz Salgado Guimarães, pois foi a partir
das questões formuladas por ele, em relação à história, que tracei as minhas
próprias. Sou grata a José Murilo de Carvalho pelos conhecimentos trans-
mitidos acerca da história do Brasil e, sobretudo, pela consciência acerca
da necessidade do diálogo permanente com a historiografia e as fontes de
pesquisa, permitindo-me dimensionar a importância de buscar conhecer a
fundo a Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Agradeço ainda o apoio, conversas, livros e ideias, a Antônio Carlos
Robert de Moraes, Carlos Walter Porto Gonçalves, Luciene Carris Cardoso,
Luis Carlos Soares, Marieta Moraes Ferreira, Norma Côrtes, Mônica Sampaio
Machado e Sérgio Nunes Pereira. Meu apreço ao auxílio de Diógenes Santos,
por ter-se encarregado da cartografia desta pesquisa.
Quanto às instituições onde pesquisei, cabe mencionar toda a equipe
do Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ, o atendimento
eficaz de Helena Grego, da Sociedade de Geografia de Lisboa, e o de Cris-
tina Matias, responsável pela biblioteca daquela instituição, bem como o
do presidente da Sociedade, colocando-me em contato com Maria Manuela
Cantinho Pereira, autora de obra recente sobre a Sociedade, a quem também
sou grata. Agradeço também o atendimento dos funcionários dos setores
de periódicos e de obras raras da Biblioteca Nacional, o atendimento da
Biblioteca do Museu Nacional, do pessoal do IHGB, do Gabinete Português
de Leitura, da Repartição Hidrográfica e dos funcionários da Biblioteca do
Clube Naval.
PREFÁCIO

ROMPENDO FRONTEIRAS:
HISTÓRIA E GEOGRAFIA NO IMPÉRIO BRASILEIRO

Manoel Luiz Salgado Guimarães (UERJ/UFRJ)

Ao pensarmos as relações entre história e geografia, a obra de


Fernand Braudel é certamente referência incontornável. Desde sua obra
magna O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo à época de Felipe II o lugar e
a centralidade da geografia para a reflexão do historiador pareciam definiti-
vamente assegurados. Na verdade, a obra de Braudel ecoava aquilo que os
pais fundadores da revista dos Annales, desde 1929, quando de sua criação,
defendiam como um dos pontos centrais de um novo projeto historiográfico:
a necessidade do diálogo da história com disciplinas afins como forma de
assegurar definitivamente, para o trabalho do historiador, seu lugar entre
as demais ciências sociais. Este lugar só poderia estar assegurado uma vez
que o diálogo entre os diferentes campos das ciências humanas estivessem
contemplados como parte das preocupações da pesquisa histórica. E dentre
eles a geografia ocupava um lugar eminente numa tradição que remontava
a Vidal de la Blache. Para Braudel, no entanto, se a geografia continuava
importante fonte de inspiração para seu próprio trabalho, certamente o
era numa perspectiva diferente daquela imaginada pelos pais fundadores,
teorizada por ele mesmo em importante texto de 1958 acerca da longa
duração e como resultado de um instigante debate com a antropologia de
Claude Lévi-Strauss. Em prefácio de 1946 à primeira edição de sua obra-
monumento, Braudel faz referência explícita aos ensinamentos dos geógrafos
da Sorbonne e seu papel para a definição da concepção de sua obra acerca
do Mediterrâneo. Os laços entre o espaço e o tempo articulavam de maneira
definitiva as preocupações do historiador e do geógrafo e encontram na
obra de Braudel uma arquitetura que distribui em três volumes os temas e
problemas envolvidos de uma história cuja moldura é o Mediterrâneo. Com
ritmos diferenciados a presença desta constante geográfica parece confor-
mar formas de vida coletivas e civilizacionais assim como escandir a ação
humana apreendida a partir dos eventos de superfície tratados pelo autor
no terceiro volume da obra.
Mais recentemente e a partir de outros referenciais teóricos, Simon
Schamma, em seu livro Paisagem e Memória, retoma as relações entre es-
paço e tempo para questionar-se acerca das maneiras de percepção
do espaço e de sua decodificação. Estas, segundo as indicações do
autor, estão associadas a uma relação com o tempo, no caso com as
memórias e lembranças que configuram uma possibilidade de ver o
espaço. Segundo Schamma, uma geografia imaginativa é fundamental
para nossa capacidade de captar o espaço e transformá-lo em paisa-
gem, o que significa interpretá-lo segundo um sistema cultural.
Se estas referências apontam para os laços necessários entre
história e geografia, por outro lado a força dos sistemas disciplinares,
com suas práticas acadêmicas que são também formas de exercício de
poder, parece ainda reafirmar as fronteiras rígidas e aparentemente
fundadas a partir de objetos naturalizados cuja existência pareceria
justificar o conjunto de saberes e o leque das ciências modernas. Desta
maneira, e com trajetórias específicas, história e geografia trilharam
caminhos diversos e autônomos formalizados com a separação da
formação do historiador e do geógrafo, a partir de 1955, ano em que
a formação destes dois profissionais passou a ser concebida separa-
damente em nosso país. Mesmo a possibilidade de um convívio, sob
a forma institucional em um centro de ciências humanas e sociais,
passou a ser secundarizada pelo interesse de aproximação entre a
geografia e as ciências da natureza. O divórcio se fez realidade como
sintoma das profundas mutações no campo das ciências humanas
e sociais e a história e a geografia antes percebidas como próximas
pelos pais fundadores dos Annales pareciam agora estranhas nesse
novo sistema de saber acadêmico e especializado.
O livro de Cristina Pessanha Mary, inicialmente sua tese de
doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em História
Social da UFRJ, aponta em direção contrária a este divórcio em dois
sentidos importantes e que me parecem dignos de ressaltar. Por um
lado, ao procurar um diálogo com a história, retoma antigas preocu-
pações que fundamentaram o trabalho do historiador, mas igualmente
expressa novas tendências nos trabalhos acadêmicos, resultado de
uma abertura tanto pelo lado da disciplina histórica quanto por parte
das outras ciências humanas e sociais, indicando o que alguns autores
chegaram mesmo a denominar de historical turn em uma clara alusão
ao linguistic turn dos anos 70/80 do século XX. Desta abertura ambas
as partes parecem ganhar na medida em que interrogam seus próprios
campos de atuação e produção do conhecimento vendo-os a partir
da historicidade própria que os constituiu ao longo do tempo. Nesse
sentido, os objetos, métodos e práticas de cada um desses campos
de saber podem ser vistos a partir de uma história que os explica em
sua formulação e constituição e não como um dado autoevidente que
pela sua existência asseguraria um campo de reflexão que tomasse
esses objetos como condição de produção de um determinado saber.
Mais complexa é a constituição desses lugares e dessas fronteiras,
sejam elas territoriais sejam elas imaginárias e culturais. A pesquisa
de Cristina Pessanha enfrenta este desafio e já por esta razão merece
atenção e leitura dos que se dedicam a um desses campos de produ-
ção do conhecimento. Esse mesmo diálogo enfrentado pela autora
permitiu um olhar diferenciado para seu próprio campo de atuação
profissional como geógrafa e professora do Departamento de Geo-
grafia da Universidade Federal Fluminense, uma vez que lhe permitiu
questionar alguns dos marcos tradicionais que balizaram a história
da própria geografia como campo de conhecimento não apenas no
âmbito da tradição brasileira como também no plano internacional.
Por este caminho seu trabalho apresenta inovação importante já que
reinterpreta a memória disciplinar de seu campo e desta forma confere
historicidade à produção do saber acerca do espaço nas sociedades
modernas a partir da segunda metade do século XIX.
A partir deste eixo analítico a autora procura compreender
os esforços de criação de uma Sociedade de Geografia em Portugal
como parte de um movimento mais geral em que novas demandas
oriundas do colonialismo moderno impõem um novo saber acerca
dos espaços a serem controlados e dominados. Uma dominação que
deve considerar não apenas os aspectos militares, mas, também e
de forma cada vez mais necessária, a produção de um saber especí-
fico e especializado acerca das áreas extraeuropeias. Saber e poder
reconfiguram-se neste novo cenário de fins do século XIX e o contro-
le do espaço exige um saber cada vez mais preciso como forma de
assegurar sua eficácia. Assim, não apenas a realidade das práticas
imperialistas do século XIX é considerada pela autora em seu estudo
como também o sentido destas mesmas práticas para a redefinição
dos projetos nacionais das nações europeias, particularmente no
seu caso para Portugal naquela conjuntura. Outra contribuição im-
portante do presente livro está justamente na articulação proposta
pela autora entre o projeto português de criação de uma Sociedade
de Geografia com uma filial na cidade do Rio de Janeiro. Desta forma,
Cristina Pessanha Mary assinala a importância das relações entre o
mundo letrado português e brasileiro da segunda metade do século
XIX ampliando um cenário habituado a não mais tratar da presença
portuguesa nos meios brasileiros a partir de determinado momento
do Oitocentos. O forte peso de uma historiografia de raiz nacionalista
tanto no Brasil quanto em Portugal impediu-nos por muito tempo de
perceber os traços de ligação, as heranças ressignificadas que teima-
vam em transpor os limites das fronteiras nacionais. Especialmente
seu terceiro capítulo permite visualizar os laços que uniam letrados de
ambos os lados do Atlântico dedicados aos temas identificados com
a história e a geografia. Paradoxalmente, contudo, foram os mesmos
interesses nacionais e a força das políticas informadas por este tipo
de interesse que impediram a continuidade dos trabalhos em comum
selando desta forma o destino do projeto português de uma filial da
Sociedade de Geografia no Rio de Janeiro.
Apoiado em vasta pesquisa de fontes, o livro de Cristina Pes-
sanha Mary nos permite acompanhar as formulações e concepções
do saber acerca do espaço articulando esta reflexão a atores sociais
e lugares de produção. No horizonte de sua argumentação o tema da
Nação ocupa um lugar de relevo, uma vez que articula a produção
de diferentes saberes organizando práticas específicas. Ainda que
guardando procedimentos próprios, história e geografia podem ser
vistas a partir desse novo olhar, que define igualmente um novo lu-
gar, característico da cultura política do Oitocentos: a Nação como
invenção moderna.
Ao sacralizar objetos e lugares, a memória tende a ser refratária
às exigências da história, comprometida com a crítica e a interrogação
permanente do que parece definitivamente assentado. O livro de Cris-
tina Pessanha desafia essas certezas, interroga a memória e apresenta-
nos novas possibilidades de conceber o estudo do espaço em seus
entrelaçamentos com o problema do tempo. Ousa romper fronteiras
já estabelecidas e reificadas e com isso apresentar o conhecimento
como a possibilidade do novo ousando, por este caminho, desafiar o
que parece certeza.
INTRODUÇÃO

Bem sei que dizem que esse arquipélago é pouco interessante,


selvagem, malsão; mas tudo tem seu interesse para o geógrafo.
Ver é uma ciência.1

Este trabalho se constitui, nas suas linhas gerais, em contribuição à


história da geografia no Brasil, nos últimos anos do Império, buscando levan-
tar e compreender as concepções de geografia predominantes no período
em questão. Para tal fim, optamos pelo estudo da Seção da Sociedade de
Geografia de Lisboa no Brasil, desde sua criação, em 1878, até 1889, quando
ela se desarticula encerrando suas atividades.
Embora de vida efêmera, esta filial enfrentou profunda cisão no seu
interior, quando, em 1881, um grupo abandonou a associação, inconforma-
do com o veto da matriz à tentativa de transformação da própria Seção em
outro grêmio, de cunho nacional. Este episódio nos levou a considerar a
Seção como um ponto de convergência, a partir do qual os caminhos da
geografia realizada na corte brasileira se bifurcaram. Assim, o embate no
interior da sucursal lusa no Brasil foi considerado como representativo das
divisões ocorridas no seio da geografia que se realizava no país, ponto de
partida, portanto, na análise de um quadro mais consistente do significado
da geografia do Império.
Ao contrário do que se possa pensar, o gosto pela geografia naquele
período não era incomum. No último quartel do século XIX, inúmeros grê-
mios animavam as capitais europeias, ganhando força também na América
Latina. A cidade do Rio de Janeiro abrigava o Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro – IHGB –, criado em 1838, filial da Sociedade de Geografia de Lisboa
no Brasil, doravante denominada Seção e, por fim, a Sociedade de Geografia
do Rio de Janeiro – SGRJ – criada em 1883.2
Todavia, apesar desse quadro, quando consultamos grande parte das
obras sobre a história da geografia europeia e mesmo brasileira nos Oitocen-
tos, o que se observa é a controvérsia a respeito de seu significado.
Tradicionalmente, a recuperação do passado deste conhecimento –
tanto a reconstrução proveniente da história das ciências quanto as aborda-
gens realizadas pelos geógrafos – relacionou o termo a um leque variado de
concepções. Enquanto a primeira estabelecia cronologias largas, associando
a geografia à cosmografia (no período referente à cultura clássica), à arte de
navegar, à história natural e aos descobrimentos no período da Renascença, a
segunda tendeu para cronologias curtas, considerando, em geral, os meados
do século XIX como marco inicial da geografia, encarada como ciência. Nesta
16
Introdução

linha, predominante nos fins dos Oitocentos e no início do século


XX, as reconstruções historiográficas estiveram marcadas por um
sentido pedagógico e pela finalidade de se estabelecer uma tradição
intelectual no âmbito científico. Estiveram também perpassadas pela
questão da afirmação perante especialidades concorrentes, o que
frequentemente desembocava em uma verdadeira guerra entre as
ciências, tal como descrita pelo historiador Lucien Febvre em 1922:

[...] A jovem geografia humana tem rivais. E críticos... [...] As


ciências jovens que tomam consciência da sua autonomia e
reivindicam o direito a uma existência livre e independente
nunca crescem num solo livre e limpo de obstáculos. [...] a voz
das ciências mais antigas é severa e altiva: quem não ouviu
qualquer eco desses protestos resmungões dos geólogos...
[...] Ao lado disto, críticas e tentativas de anexação das ciên-
cias rivais. 3

Contudo, em meio a tantos desencontros, algumas definições


predominaram durante todo o século XIX e parte do seguinte. Frequen-
temente vinculou-se a ideia de geografia à narração dos progressos
das técnicas cartográficas, mesmo porque, cabe lembrar, até fins
dos Setecentos, o termo “geógrafo” se referia aos geógrafos do rei,
incluindo-se neste rol os engenheiros geógrafos, encarregados de
levantamentos topográficos, especialistas na confecção de globos e
cartas, cabendo aos mesmos desenhar, traçar e comentar mapas. 4
Uma outra associação muito comum, verdadeiro arquétipo da
ideia de geografia, tomava aquele conhecimento como descrição da
Terra: 5 neste formato, o geógrafo era aquele que “sabia ver” e, portan-
to, “descrever o mundo”, exatamente como na declaração transcrita
no início deste texto. Uma declaração proferida por um geógrafo,
“Doutor Paganel”, personagem criado por Júlio Verne, 6 protagonista
da aventura “Os Filhos do Capitão Grant”, publicada entre 1867-68.
Somente a partir de meados do século XX, a reconstrução do
passado da geografia tomou outros rumos, importando salientar
os trabalhos do geógrafo espanhol, Horacio Capel, desenvolvidos
na década de 1980 e calcados em exemplos específicos, como os da
Espanha, Alemanha, Inglaterra. Este autor se destacou por assinalar
o papel da nascente comunidade científica de geógrafos em fins dos
Oitocentos na luta em prol do reconhecimento da geografia como
disciplina científica, bem como da profissionalização do geógrafo.
No bojo desta linha de investigação, tanto Horacio Capel como
outros autores europeus sublinharam a relevância desses institutos
17

Cristina Pessanha Mary


como entidades capazes de reunir os interessados no desenvolvi-
mento e divulgação da então ciência moderna, na medida em que
se conectavam com outras instituições científicas, editando boletins
e organizando congressos científicos. Terminaram nestas análises
apontando para a funcionalidade das sociedades de geografia na
formação de um corpo de conhecimentos úteis à expansão colonial.7
Embora esta recuperação historiográfica tivesse se distanciado
em alguns pontos em relação às precedentes, não rompeu totalmente
com a ideia da existência de uma grave crise enfrentada pela geogra-
fia no seu processo de afirmação institucional, uma geografia que se
caracterizaria na passagem do século XIX para o XX pela fragilidade
diante da afirmação de outras especialidades.8
No entanto, cabe indagar se havia uma crise da geografia em fins
dos Oitocentos: como explicar o vertiginoso crescimento do número
de sociedades de geografia naquele período, tanto na Europa quanto
na América Latina? 9 Vale lembrar ainda a proliferação de grêmios que
coexistiram na Corte do Império brasileiro nos fins do século XIX, como
o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a Sociedade de Geogra-
fia do Rio de Janeiro, bem como a Seção portuguesa implantada no
Brasil. Mesmo se considerássemos a perda de pontos na corrida da
modernização científica10 e os problemas de afirmação institucional,
como força política e ideológica, a geografia de fins dos Dezenove, nas
suas variadas formas, foi surpreendentemente forte, verificando-se a
sua eficácia na promoção de campanhas de exaltação da pátria e de
incentivo às políticas colonialistas.
Nesse sentido, seria impossível não reconhecer as sociedades
de geografia dos Oitocentos como local privilegiado para compreender
o sentido da geografia daquele período: de um lado, elas figuravam
como centros propulsores de políticas ligadas a projetos nacionais.
De outro, porque aglutinavam em seu interior várias vertentes da
geografia, como a tradição cosmográfica, dedicada às investigações
da estrutura física da Terra; a cartográfica, preocupada com as repre-
sentações gráficas (ambas com forte componente matemático e ligadas
à astronomia); e o veio corográfico – relativo à descrição dos luga-
res –, muito próximo à história, à memória e à literatura.
A política expansionista dos centros europeus, entretanto, não
explica a existência desses estabelecimentos nas áreas coloniais.
Tomá-los apenas como agentes do imperialismo seria desconhecer
seu papel na formação de identidades nacionais de ex-colônias, como
o Brasil, por exemplo. Pesquisas orientadas para os institutos de
geografia da América Latina salientaram o peso desses institutos nas
políticas de cunho nacional. Assim, Leôncio Lopes-Ocón, ao comparar
18
Introdução

os institutos do gênero no Peru, Bolívia, México, Costa Rica e Argenti-


na, mostrou sua importância como instrumentos de organização dos
espaços dos Estados nacionais em questão. Para o autor, as sociedades
de geografia exerceram forte influência cultural, contribuindo para
reforçar identidades nacionais. 11
No Brasil, durante um largo período, o entendimento relativo
à geografia do século XIX limitou-se em grande parte a transplantar
algumas análises da historiografia europeia. Grosso modo, podemos
detectar duas tendências predominantes quanto à percepção do senti-
do da geografia. Em uma ponta, encontramos os estudos que tomaram
a geografia como sinônimo de descrição da Terra,12 considerando sua
existência desde as primeiras incursões portuguesas, incluindo os
trabalhos topográficos, ordenados pela metrópole, e as descrições dos
viajantes no século XIX, a exemplo do príncipe de Wied-Neuwied,13
Augusto de Saint Hilaire,14 Ferdinand Denis,15 sem esquecer a Coro-
grafia Brasílica do padre Manoel Aires de Casal.16
Na outra ponta, concentram-se as pesquisas marcadas pela
convicção de que a geografia só se realizou de fato na década de 1930.
Convicção informada a partir de uma nova conjuntura política, em que
grandes transformações ocorridas na sociedade brasileira, como um
todo, terminaram por acelerar o processo de institucionalização da
geografia como disciplina científica, um processo que se distinguiu
“não apenas pela implementação dos primeiros cursos universitários
no Rio de Janeiro e São Paulo, mas também pela criação do Conselho
Nacional de Geografia, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
da Associação dos Geógrafos Brasileiros”.17
As análises relativas a esse período estiveram assim moldadas
segundo os novos parâmetros da ciência: tomando a parte como o
todo, terminaram por desconsiderar as tradições do conhecimento que
não estivessem afinadas com os novos cânones. Nessa perspectiva,
a geografia realizada no Brasil em fins do Império foi percebida como
diletante e pré-científica.
Usualmente, a desqualificação da geografia realizada no período
anterior a 1930 ligava-se à ideia, largamente aceita entre os estudiosos,
de que a ciência praticada no Brasil não tinha autonomia em relação aos
centros estrangeiros. Com relação a este ponto, contudo, estudos mais
recentes relativos à implantação de uma rede de institutos e comissões
voltados para o desenvolvimento da pesquisa e do trabalho científico,
como a Escola de Minas, criada em 1876,18 e a Comissão Geológica do
Brasil, fundada no ano anterior,19 terminaram demonstrando a existência
de bolsões científicos nacionais durante a vigência do Império, isto é,
desenvolvidos por instituições e pesquisadores nacionais.20
19

Cristina Pessanha Mary


Com relação à história da geografia no Brasil dos Oitocentos,
cabe mencionar outros veios importantes de pesquisas que repre-
sentaram um ponto de inflexão em relação ao que antes se realizava:
o primeiro deles estruturou-se a partir da noção de “pensamento
geográfico”, considerando a geografia como discurso sobre o espaço
e um elemento estratégico nas políticas de modernização do Estado
nacional.21 Uma outra vertente, levando em conta as especificidades do
conhecimento geográfico realizado no Brasil do século XIX, procurou
captar o significado da geografia a partir de sua articulação com o
processo maior de construção da nacionalidade durante o Império.22
Este vínculo foi destacado por grande parte dos estudiosos que se
debruçaram sobre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,23bem
como por parte dos estudiosos da Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro.24
Neste trabalho, comungando com esta última linha historio-
gráfica mencionada, esperamos compreender melhor a relação entre
a geografia nos últimos anos do Império e a questão nacional. Gosta-
ríamos, ainda, de permanecer fiéis à nossa crença de que a condição
para o entendimento do sentido da geografia que se quer estudar será
sempre tomá-la nas suas relações com a sociedade que a enseja.25
Dessa forma, para compreendermos a razão de ser das socie-
dades de geografia e de sua geografia, procuramos, sobretudo, um
diálogo com os protagonistas desta história, a saber, os integrantes
desses grêmios em Portugal e no Brasil, desvendando suas concep-
ções de geografia através da análise dos artigos encontrados em suas
publicações.
Contudo, nesta busca pelo enredo coerente desta história, foi,
muitas vezes, necessário ultrapassar “o texto específico”, relativo
ao conhecimento geográfico, para encontrar o sentido da geografia
nos fios das memórias, biografias e outras fontes, como os romances
escritos por alguns filiados desses grêmios.
Espera-se, ainda, estender este diálogo com as pesquisa rela-
tivas ao levantamento da história das instituições de cunho cultural
e científico que têm lançado luz acerca da consolidação da ciência e
alguns dos seus ramos no Império.26
Entendendo-se a geografia como uma forma de representação
social e levando-se em conta o período estudado, pretende-se, ainda,
aquilatar sua importância, tanto para o Império luso como para o bra-
sileiro, também na dimensão do imaginário: a geografia, ora a louvar
os encantos do território pátrio, ora a operar técnicas científicas de
medição e representação dos seus elementos naturais, contribuiu de
forma decisiva com inúmeros “desenhos da nação”.
20
Introdução

Finalmente, esta pesquisa deverá se constituir também em


colaboração ao conhecimento do estreito vínculo entre a geografia
brasileira e a lusa. A historiografia pôde perceber a influência desempe-
nhada por academias francesas27 sobre os nossos institutos de história
e geografia, mas, acredita-se, muito resta a fazer quanto à contribuição
portuguesa. Somente com a criação da Sociedade de Geografia do Rio
de Janeiro em 1883, houve uma explicitação mais forte do desejo de se
criar uma geografia de brasileiros e para brasileiros. Até então, grande
parte da geografia realizada nestas paragens articulava-se a um ideal
maior de afirmação cultural da comunidade portuguesa radicada no
Brasil, inserida em uma teia de instituições lusas como o Gabinete
Português de Leitura, o Liceu Literário Português e outras.
No primeiro capítulo, focalizamos, de forma geral, a atuação
das sociedades de geografia europeias diante da expansão colonialista
desse continente durante o século XIX, principalmente a partir da dé-
cada de 1870. No segundo, analisamos a participação lusa no quadro
das disputas encetadas entre as potências europeias pelos espaços
africanos, com ênfase na contribuição da Sociedade de Geografia de
Lisboa nesse processo. Essa instituição, criada em 1875, esteve no
centro do movimento que procurou recolocar a nação portuguesa
na corrida colonialista, não medindo esforços para tal, dentre eles a
criação de sucursais no exterior, como a Seção brasileira.
O terceiro capítulo estruturou-se a partir da reconstrução da
dinâmica e funcionamento da Seção instalada no Brasil, desde sua
criação em 1878, até o seu esfacelamento em 1889. Incluiu-se neste
panorama o perfil dos associados, procurando identificar-lhes sua
posição social, postura ideológica, atividade predominante, tendo-
se em vista perceber possíveis alianças no plano da política, do
convívio profissional ou das relações pessoais. O levantamento de
afinidades desta ordem facilitou a visualização dos diferentes nichos
de sociabilidade no interior daquela filial, relevantes na elucidação das
concepções de geografia dos associados. Voltamo-nos ainda para o
exame da frustrada tentativa de transformação da filial da Sociedade
de Geografia de Lisboa no Brasil em uma sociedade nacional, um
episódio que terminou por dividir, irremediavelmente, os associados
daquele grêmio de geografia, explicitando o desejo de alguns associa-
dos de construir uma geografia brasileira. Por fim, procedemos a uma
análise pormenorizada da coleção de revistas da Seção da Sociedade
de Geografia de Lisboa no Brasil, buscando levantar as concepções
de geografia avaliando seu sentido.
No quarto e último capítulo, acompanhamos uma geografia em
particular, aquela empreendida pelo Barão de Teffé, único membro
21

Cristina Pessanha Mary


da diretoria da Seção a abandoná-la quando do imbróglio separatista.
Examinamos sua trajetória profissional, seus escritos na tentativa de
entender melhor a razão de seu ato, provavelmente a mesma que levou
a geografia do Império a se dividir.

NOTAS
1 VERNE, Júlio. Os Filhos do Capitão Grant. Lisboa: Publicações Europa-América,
1987. v. 1, p 58.
2 A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro foi criada em 1883 por um vasto grupo,
cujo núcleo contou com algumas figuras, como o senador Francisco Correia (CAR-
DOSO, Luciene Pereira Carris. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: iden-
tidade e espaço nacional (1883-1909). 2003. Dissertação (Mestrado em História)
– Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003; PEREIRA, Sergio
Nunes. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, obsessões e conflitos
(1883-1944). 2002. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2002.
3 FÉVBRE, Lucien. A Terra e a evolução humana. In: GODINHO, Vitorino M. (Ed.).
Panorama da Geografia. Lisboa: Cosmos, 1954. v. 2, livro 3, p. 41-733.
4 URTEAGA, Luis. Descobrimientos, exploraciones e historia de la geografia. Geocríti-
ca: cuadernos críticos de geografia humana, Barcelona, n. 71, 1987.
5 Como consequência deste arquétipo, a ideia da geografia como conhecimento cu-
mulativo e, por fim, a associação dos progressos relativos ao conhecimento da
Terra e à sua nova imagem como uma geografia científica capaz de explicar novos
fenômenos. Idem 1987.
6 Júlio Verne nasceu na França em 1828, tendo frequentado o círculo literário de
Alexandre Dumas (o pai) e terminando, como se sabe, internacionalmente consa-
grado como autor de uma vasta obra do gênero ficção científica. De sua biografia,
cabe destacar a íntima relação com a ciência geográfica, relembrando que, como
o seu personagem Jacques Paganel, geógrafo e secretário geral de uma sociedade
de geografia francesa, Julio Verne também pertenceu à Sociedade de Geografia de
Paris (VERNE, Júlio. Os filhos do Capitão Grant. v. 1-3. Lisboa: Publicações Europa-
América, 1987).
7 CAPEL, Horacio. Institucionalización de la geografia y estrategias de la comunidad
científica de los geógrafos. Geocrítica: Cuadernos Críticos de Geografia Humana.
Barcelona, n. 8-9, 1977.
8 CAPEL, Horacio. Filosofia y ciencia en la geografía contemporánea: una introduc-
ción a la Geografía. Barcelona: Temas Universitarios Barcanova, 1981.
9 Ibidem.
10 Perda de pontos bem relativa, a considerar os estudos de Soubeyran, O. Este au-
tor, ao analisar os cursos de geografia colonial empreendidos por sociedades de
geografia, desmontou os argumentos segundo os quais os conhecimentos desses
institutos estavam fora dos produzidos no universo científico. (SOUBEYRAN, O.
Imperialism and colonialism versus diciplinarity in french geography. In: SMITH,
Neil; GODLESWSKA, Anne (Org.). Geography and empire. Londres: Institute of Brit-
ish Geographers, 1994; SOUBEYRAN, Olivier. Imaginaire, science et discipline. Pa-
ris: L’Harmattan, 1997).
11 LÓPES-Ocón, Leoncio. Les sociétés de géographie: un instrument de difusión
scientifique en Amérique Latine au debut du Xe siècle (1900-1914). In: PETITJEAN,
P. (Dir.). Les sciences hors d’occident au XXe siècle. v. 2: les sciences coloniales:
figures et institutions. Paris: ORSTOM, 1996.
22

12 PEREIRA, José Veríssimo da Costa. A geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando


Introdução

de (Org.). As ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1994.


13 Maximilian von Wied-Neuwied (1782-1867), nobre prussiano, abandonou a carreira
militar para desenvolver atividades como naturalista. Provavelmente inspirado
em Alexander von Humbolt, a quem conheceu, fez inúmeras viagens, uma delas ao
Brasil, a partir de 1815, terminando por publicar dois livros com os resultados de
suas investigações: “Viagem ao Brasil” e “Brasil, suplementos, retificações e adita-
mentos à descrição de minha viagem no leste brasileiro” (VAINFAS, Ronaldo (Org.).
Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002; PEREIRA,
José Veríssimo da Costa. A geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de (Org.).
As ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1994.
14 Auguste François César Provençal de Saint-Hilaire, nobre francês educado na Ale-
manha, teve seu interesse científico despertado por um dos colaboradores de A.
Humboldt. Integrou a missão francesa que chegou ao Brasil em 1816, percorrendo
diversas regiões do país. Sua contribuição resultou em publicações como “Via-
gens pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais” (VAINFAS, Ronaldo (Org.).
Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002; PEREIRA,
José Veríssimo da Costa. A geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de (Org.).
As ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1994).
15 O francês Jean Ferdinand Denis esteve no Brasil entre os anos de 1816 a 1820.
De volta à Europa, dedicou algumas obras à história e à cultura luso-brasileira,
dentre elas a mais importante, Brésil, publicada em 1837 (VAINFAS, Ronaldo (Org.).
Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002; PEREIRA,
José Veríssimo da Costa. A geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de (Org.).
As ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1994).
16 O padre Manuel Aires de Casal publicou em 1817 a Corografia Brasílica, destinada
à descrição dos espaços sob domínio português.
17 MACHADO, Mônica Sampaio. A geografia universitária carioca e o campo científico-
disciplinar da geografia brasileira. 2002. Tese (Doutorado em Geografia) – Universi-
dade de São Paulo, São Paulo, 2002. p. 13.
18 CARVALHO, José Murilo. A Escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória. Belo
Horizonte: Ed. da UFMG, 2002.
19 FIGUEIRÔA, Silvia F. de M. As ciências no Brasil: uma história social e institucional,
1875-1934. São Paulo: Hucitec, 1995.
20 Em 1883, o geólogo americano Orville Derby, estando no Brasil, escreveu sobre o
despertar da ciência nos últimos anos do Império. Ainda sobre o desenvolvimento
cientifico brasileiro nesse período, Roque Spencer Maciel de Barros assinalava a
admiração dos homens no Brasil, na década de 1870, pela ciência (ORVILLE, A.
Derby. O estado da ciência no Brasil. Ciência Hoje, São Paulo, n. 59, nov. 1989; BAR-
ROS, Roque Spencer Maciel de. A ilustração brasileira e a idéia de universidade. São
Paulo: Convívio: Edusp, 1986).
21 Cabe aqui assinalar os programas de pesquisa e os trabalhos de MORAES, Antônio
Carlos Robert. Geografia Moderna. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1989; ______. No-
tas sobre identidade nacional e institucionalização da geografia no Brasil. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, n. 8, v. 4. 1991; ______. História Social da Geografia no
Brasil: elementos para uma agenda de pesquisa. In: ENCONTRO DE HISTÓRIA DO
PENSAMENTO GEOGRÁFICO, 1, 1999, Rio Claro. Anais... Rio Claro: UNESP: IGGE,
1999; ______. Geografia, História e História da Geografia. Revista Terra Brasilis, Rio
de Janeiro, n. 2, jul.2000; ______. Território e história do Brasil. São Paulo: Hucitec:
Annablume, 2002. Ver também MACHADO, Lia Osório. Origens do pensamento
geográfico no Brasil; meio tropical, espaços vazios e a idéia de ordem (1870-1930).
In: CASTRO I. et al. (Org.) Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1995; MACHADO, Lia Osório. História do pensamento geográfico no Brasil:
elementos para um programa de pesquisa. Terra Brasilis: Revista de História do
Pensamento Geográfico, Rio de Janeiro, ano 1, n.1, 2000.
23

22 Segundo Manoel Luiz Salgado Guimarães, no Instituto Histórico e Geográfico

Cristina Pessanha Mary


Brasileiro o pensar a geografia articulou-se à discussão em torno da questão na-
cional, sobretudo inventariando recursos, medindo, localizando e representando
nas cartas as bacias hidrográficas; em última análise, coube à geografia a feição
territorial brasileira e seu contorno físico (GUIMARÃES, Manoel Luiz Lima Salgado.
Nação e civilização nos trópicos: o IHGB e o Projeto de uma História Nacional.
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 1, n.1, p. 5-27, 1988).
23 GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Debaixo da imediata proteção de Sua Majest-
ade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). Revista
do IHGB, Rio de Janeiro, v. 156, n. 388, jul./set. 1995; SCHWARCZ, Lilia Moritz. Os
guardiões de nossa história oficial, os institutos históricos e geográficos brasileiros.
São Paulo: IDESP, 1989; GUIMARÃES, Manoel Luiz Lima Salgado. Nação e civilização
nos trópicos: o IHGB e o Projeto de uma História Nacional. Estudos Históricos, Rio
de Janeiro, v. 1, n.1, p. 5-27, 1988.
24 CARDOSO, Luciene Pereira Carris. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: iden-
tidade e espaço nacional (1883-1909). 2003. Dissertação (Mestrado em História) –
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003; PEREIRA, Sergio
Nunes. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, obsessões e conflitos
(1883-1944). 2002. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2002.
25 O pressuposto da existência de uma “geografia em si mesma” deriva diretamente
de concepções que, ao considerar o espaço como uma instância da sociedade, ter-
minaram por conceber a noção de um espaço em si, autônomo em relação à con-
sciência e às relações sociais que lhe dão sentido. (SOUSA, Marcelo José Lopes.
Espaciologia: uma objeção (Crítica aos Prestigiamentos Pseudo-Críticos do Espaço
Social). Anuário do Instituto de Geociências, Rio de Janeiro, 1987.
26 CARVALHO, José Murilo. A Escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória. Belo
Horizonte: Ed. da UFMG, 2002; FIGUEIRÔA, Silvia F. de M. As ciências no Brasil: uma
história social e institucional, 1875-1934. São Paulo: Hucitec, 1995; DANTES, Maria
Amélia (Org.). Espaços da ciência no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001; LOPES,
Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências
naturais no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997; SCHWARTZMAN, Simon. Um es-
paço para a ciência, a formação da comunidade científica no Brasil. Brasília, DF:
Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001.
27 GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. De Paris ao Rio de Janeiro: a institucionalização
da escrita da História. Acervo, Revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v. 4, n.1,
jan./ jun. 1989.
1. CRÔNICA DO MOVIMENTO GEOGRÁFICO

“[...] Até aí, que fora eu em casa da senhora D. Patrocínio? O


menino Teodorico que, apesar da sua carta de doutor e das
suas barbas de Raposão, não podia mandar selar a égua pra ir
espontar o cabelo à baixa, sem implorar licença à titi... E agora?
O nosso Dr. Teodorico, que ganhara no contacto santo com os
lugares do evangelho, uma autoridade quase pontificial! Que
fora eu no Chiado entre meus concidadãos? O Raposito, que
tinha um cavalo. E agora? O grande Raposo que peregrinara
na Terra Santa, como Chateautbriand, e que, pelas roliças
circassianas que beijocara, podia parolar com superioridade
na Sociedade de Geografia [...].”1

Na Europa do século XIX, quando se escreve o romance de Eça de


Queiroz, as viagens eram frequentes e de todo o tipo. O grand tour aristo-
crático havia dado lugar a um sem-número de excursões organizadas em
agências de turismo, embaladas por meios mais modernos de transporte.2
Expedições exploradoras, de cunho científico, também faziam parte desta
paisagem: missionários, militares, naturalistas percorriam os espaços além-
mar, dividindo suas narrativas com extenso público: sócios das inúmeras
sociedades de geografia e de academias de ciências em ruidosos debates,
como também leitores de livros e jornais, nas quais as incursões já con-
cluídas eram apresentadas em diversas doses.
Este processo de reconhecimento do mundo por parte de alguns cen-
tros europeus, como Inglaterra, França, Bélgica, seguidos de outras nações,
se dirigiu, sobretudo, para as áreas ainda com grandes extensões desco-
nhecidas ou pouco conhecidas, como o continente africano e o asiático. O
conjunto dessas ações expansionistas a levar, pretensamente, “civilização”
a localidades imaginadas como inóspitas e bárbaras foi, frequentemente,
denominada de movimento geográfico mundial.
Neste certame das nações civilizadas em prol da colonização dos
espaços periféricos, as Sociedades de Geografia, em número crescente na
última quadra dos Oitocentos, desempenharam um papel de destaque, tanto
na organização de expedições científicas, quanto como grupo de pressão
para o envio de exploradores para esquadrinhar os espaços periféricos.
Muitas delas promoveram também grandes conferências acerca dos re-
sultados das incursões realizadas nos mais recônditos pontos do planeta,
algumas transformadas em verdadeiros debates entre exploradores. Neste
26
Crônica do movimento geográfico

sentido cabe mencionar um episódio, emblemático pela notoriedade


alcançada, a saber, o “Duelo do Nilo”, travado na convenção anual da
British Association for the Advancement of Science em 1864, sob os
auspícios da Royal Geographical Society, entre Richard Francis Burton3
e John Hanning Speke,4 a respeito da localização da nascente do rio
do Egito, o grande “enigma geográfico” africano do período.
Esse embate, a exemplo do que vinha acontecendo com outras
querelas entre exploradores, ganhou dimensões sensacionalistas,
tendo em vista o empenho de jornais em ascensão, como o Herald de
Nova Iorque, em dar publicidade àquele tipo de evento.5 O envolvi-
mento das agências de notícias nesse processo contribuiu para gal-
vanizar o interesse de grandes parcelas da população pela questão.
A divulgação e a propaganda em torno das aventuras vividas pelos
expedicionários terminaram por transformar os protagonistas das
aventuras de exploração, como Burton, em verdadeiras celebridades
da época: na contenda final, entre Burton e Speke (que não chegou a
se realizar em razão do suicídio de Speke), a plateia, que aguardava
os debatedores, chegou a quase duas mil pessoas. 6
No processo expansionista desencadeado na Europa, mesmo na-
ções muito longe de figurar entre as grandes potências, como Portugal,
não ficaram para trás, participando ativamente daquela dinâmica, ao
lado da Inglaterra, da França, e da Bélgica,7 na disputa pelo continente
africano. Assim, enquanto Pierre de Brazza,8 enviado pela França, e
Henry Stanley,9 representante da Bélgica, procuravam fincar as ban-
deiras dos seus países nas terras africanas, da Sociedade de Geografia
de Lisboa, com idêntica finalidade, partiam expedicionários lusos.
A Sociedade de Geografia de Lisboa nasceu em 1875, em meio
a uma Europa convulsionada pela sanha colonialista. Originou-se na
sequência de outras tantas e, como a maioria delas, esteve intima-
mente ligada ao processo de colonização do continente africano, um
movimento que, buscando ultrapassar a fragilidade do domínio luso
naquele espaço, reivindicou também a tutela dos povos submetidos, a
propriedade das terras conquistadas e a incorporação daquelas áreas
ao Império português.10
Portanto, não foi sem razão que em todas as revistas lançadas pela
sucursal brasileira da Sociedade de Geografia de Lisboa se encontrava
uma coluna intitulada “Crônica Geográfica”. Tal denominação, vaga,
deixava de ser assim, tão logo se lia aquela seção. Ali, as notícias acerca
das sociedades de geografia e suas expedições mundo afora ocupavam
praticamente toda a pauta: as crônicas lembravam a todos os leitores
a inserção da Sociedade de Geografia de Lisboa no movimento maior,
mundial, em direção à colonização de grandes porções do globo.
27

Cristina Pessanha Mary


Assim inspirados, construímos neste primeiro capítulo nossa
própria crônica, não tão vasta, é verdade, apenas com intuito de traçar
o pano de fundo da criação da Sociedade de Geografia de Lisboa e
de sua Seção, indissociável da disputa travada entre algumas nações
europeias em torno do continente africano.

1.1. O movimento geográfico europeu

Na data de criação da Sociedade de Geografia de Lisboa, a


levar-se em conta fontes do próprio período,11 já existiam cerca de
30 sociedades do gênero, incluindo a de Paris (1821), Berlim (1828),
Londres (1830), o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838),
a American Geographical Society (1852) em Nova York, entre outras.
Somente no ano de 1875, ano da fundação da Sociedade de Geografia
de Lisboa, foram criadas a Sociedade Kedival do Cairo e a Sociedade
de Geografia Romena, em Bucareste.12
Se a expansão do número de associados e entidades do gênero,
nos primeiros 20 anos após a criação da primeira sociedade de geo-
grafia, foi lenta e gradual, o mesmo não se pode afirmar em relação ao
período de 1870-1900, que apresentou crescimento exponencial: en-
quanto em 1877 havia aproximadamente 40 institutos de geografia, em
1899 este montante superou a casa dos 80.13 O movimento de filiação
acompanhou esta inflexão, mas, mesmo assim, esses estabelecimen-
tos dificilmente ultrapassavam a casa dos mil sócios. A Sociedade de
Geografia de Londres foi uma exceção, pois em 1878, por exemplo,
contava com um número de sócios substancialmente maior do que a
maioria das congêneres na época.
Das 130 sociedades existentes, entre 1821 e 1900, 70% estavam
localizadas na Europa: 31 delas na França e 25 na Alemanha. As ou-
tras estavam distribuídas em capitais como Budapeste, Estocolmo,
Copenhagen, Lisboa e Madrid e também em outros países, como
Rússia e Itália.14 As demais se encontravam fora do espaço europeu,
em países como Estados Unidos, Japão, Índia, Austrália, Argélia, e, na
América Latina, que contava com 12 sociedades. Destas, mais de 1/3
se encontrava no Brasil.15
O frenesi das atividades de exploração, esforço colossal nas suas
infindáveis etapas,16 planejadas e fomentadas no seio de grande parte
desses institutos, aliado aos discursos que apregoavam urgência da co-
lonização em nome da ciência e da civilização, provenientes sobretudo
dos palanques montados nesses grêmios, levou os estudiosos do tema a
relacionar este verdadeiro boom de sociedades de geografia na Europa
ao processo de expansão e afirmação das nações europeias. Outro era
28
Crônica do movimento geográfico

o enredo, quando se levava em conta a história das sociedades de geo-


grafia em áreas como a América Latina, tendo em vista que, em geral,
sua criação esteve ligada aos movimentos nacionais de independência
em relação aos centros metropolitanos europeus. Fixemo-nos, por hora,
no cenário das sociedades de geografia europeias.
No que importa às sociedades de geografia europeias e aos seus
associados, cabe destacar sua funcionalidade quanto ao movimento
colonialista. Via de regra, esses estabelecimentos constituíram o corpo
de conhecimentos necessários à aventura expansionista, formaram
quadros ligados à administração das colônias, patrocinaram as expe-
dições de reconhecimento das terras distantes, ligando-se também
às atividades relacionadas à promoção de um ambiente geográfico,
potencializando o ensino da geografia.17
A estreita ligação da geografia europeia de fins do século XIX à
política de afirmação e expansão dos estados nacionais foi largamente
analisada pela historiografia, desde interpretações que apontavam a
utilização dos geógrafos como instrumentos da conquista colonial,
assinalando seu envolvimento direto nas expedições e outras ativida-
des, a exemplo da organização de escolas coloniais,18 até aquelas que
enfatizaram a força da narrativa dos conhecimentos, especializados
ou não, no processo de subordinação de determinadas regiões pelos
centros europeus, incluindo-se relatórios dos administradores colo-
niais ou mesmo os romances e a ficção científica.19
Embora a relação entre a geografia e a expansão colonialista
seja indiscutível, cabe observar que a engrenagem desse movimento
foi complexa demais para reduzir o papel das sociedades de geografia
a meros fantoches de políticas colonialistas: não raro, os institutos de
geografia constituíram-se, por si mesmos, como centros formuladores
dessas políticas, aglutinando grupos para pressionar governos, como
foi o caso português a ser descrito mais adiante. A relação entre esta-
belecimentos de geografia – a maioria oriunda da iniciativa privada – e
os governos foi sempre ambígua e instável, dizendo muito da realidade
específica de cada conjuntura.
Felix Driver, ao estudar a Royal Geographical Society, antiga
Sociedade de Geografia de Londres (1830), deixou evidente o entre-
laçamento daquele instituto com as razões do Império. A presença
maciça de elementos da Marinha e do Exército na composição social
dos seus fundadores foi, de per se, um dos indicadores dessa relação
com o Estado, ratificada anos mais tarde (1867), quando o referido
grêmio enviou um time de cientistas para acompanhar uma expedição
militar à Abissínia, organizada pelo governo britânico, o que tornou
este vínculo mais estreito e mais explícito.20
29

Cristina Pessanha Mary


O mesmo autor destacou também o caráter híbrido da Royal
Geographical Society, um instituto que procurou enraizar-se a partir
da conciliação de duas grandes ambições: tornar-se uma agremiação
científica mais especializada, e, ao mesmo tempo, se constituir como
fórum de enaltecimento e propaganda de uma nova era das explora-
ções.
Na sua prática, contudo, a Royal Geography Society terminou
por fortalecer, sobretudo, sua veia sensacionalista, não se destacando
no plano científico – ao menos nos moldes dos institutos que então
surgiam na Inglaterra, como a Sociedade de Geologia e de Zoologia,21
organizados por grupos que desconsideravam todo e qualquer conhe-
cimento que fugisse dos procedimentos estabelecidos pelos homens
da ciência, como a identificação, a classificação, ou fora das normas
técnicas e nomenclaturas padronizadas.22
Ainda assim, a Royal Geographical Society constituiu-se funda-
mentalmente como uma grande arena, ponto de convivência e troca
de informações entre várias modalidades de conhecimento sobre a
Terra, como os antiquários e os orientalistas que praticavam formas
tradicionais de conhecimento, fora dos parâmetros científicos.
Este caráter, híbrido, foi comum a todas as sociedades de geo-
grafia europeias, que, em regra, não fugiam a uma espécie de padrão
quanto ao seu formato, composição e atuação.
Na verdade, a estrutura social e o funcionamento da Sociedade de
Geografia de Paris, a primogênita das sociedades de geografia na Europa
– Figura 1 –, transformou-se em modelo para as que vieram mais tarde.
Como ela, quase todas as coirmãs incluíam nos seus quadros ministros,
oficiais da marinha, militares e engenheiros geógrafos, literatos, jornalis-
tas, que pressionavam governos em favor de uma política colonialista.
A diretoria da Sociedade de Geografia de Paris dividia-se em dois
núcleos: uma Comissão Central, tendo como figura-chave o secretário-
geral, e o Bureau, composto do presidente e de seus vices. A condução
efetiva estava de fato nas mãos da Comissão Central, enquanto o Bu-
reau desempenhava um papel honorífico, abrilhantado por políticos
e literatos do porte de René François Chateaubriand.23
Os membros da Comissão Central encarnavam melhor o viés
científico, como foi o caso do primeiro secretário-geral, Malte Brum,24
entretanto, não se pode deixar de mencionar a presença naquele es-
tabelecimento de personalidades que representam, a um só tempo, o
viés científico e o literário (como tantas naquele período), como Júlio
Verne, um membro assíduo da Sociedade de Geografia de Paris.25
Como sua congênere inglesa, o instituto parisiense abrigou múltiplos
interesses, alinhavados pelos fios das políticas coloniais.
30
Crônica do movimento geográfico

Até 1870, a opinião pública francesa nem sempre esteve conven-


cida da vantagem de se estabelecerem colônias. O apoio a essa ideia
se restringia a alguns setores do exército, constituídos por oficiais
interessados em cargos na administração das colônias. A partir de
então, com a perda da região da Alsácia-Lorena para a Alemanha, em
decorrência da guerra franco-prussiana, essa ideia ganhou força, e a
Sociedade de Geografia de Paris, adquirindo vida nova, viu-se atra-
vessada pelo debate entre dois grandes grupos, com perspectivas
diferentes.26 O primeiro almejava, sobretudo, colocar a geografia em
outro patamar e firmá-la do ponto de vista científico, buscando alinha-
mento junto a outras disciplinas emergentes entre as ciências sociais
e naturais e, principalmente, modernizar a geografia, livrando-a dos
amadores. O segundo grupo pretendia ir além: achava que a geografia
deveria atender de forma imediata as necessidades políticas da nação
e do comércio. Em linhas gerais, não se questionava mais a expansão
além-mar, mas, sim, os métodos, o modus operandis.
No período em questão, o ideal imperialista apareceu sob outras
perspectivas: o imperialismo utópico, um legado das ideias do começo
do século XIX, resplandecente durante a década de 1870, tendo como
estrelas Jules Duval,27 Henry Duveyrier28 e Ferdinand de Lesseps. Les-
seps, um diplomata, membro proeminente da Sociedade de Geografia
de Paris, esteve à frente da construção do Canal de Suez29 e de outros
projetos equivalentes, como o do Canal do Panamá.

Figura 1 – Fachada da Sociedade de Geografia, em Paris

Fonte: Arquivo pessoal, 2005.


31

Cristina Pessanha Mary


Todos esses ícones do imperialismo foram fortemente influencia-
dos pelo sansimonismo, movimento do início do século XIX e orientado
pelo pensamento de Saint Simon, cujo objetivo primeiro consistia em
resolver o problema da harmonia social.30 Esse movimento, associado
particularmente à Escola Politécnica de Paris, postulava o avanço da
tecnologia industrial e de comunicação como meio de superação das
barreiras físicas que separam religiões e culturas.
Desde sua criação, a Politécnica foi o centro de formação da elite
francesa.31 Nela, a instrução militar era acompanhada do treinamento
em matemática e física, tendo em vista a crença de que essa combina-
ção era a melhor forma de preparar mentes cartesianas, necessárias
à construção de pontes, organização de exércitos e administração da
economia. Para este grupo, a interligação entre mundos diferentes
deveria ser facilitada por esses meios, isto é, canais e ferrovias que
cruzassem, por exemplo, as possessões francesas na África.32
A outra corrente disseminada entre os geógrafos franceses,
após 1870, cultuava a ideia de missão civilizadora e assimiladora. Tal
vertente interpretava a expansão além-mar como crucial para a sobre-
vivência da civilização e da cultura “gaulesa”, vista como decadente,
preconizando seu resgate através da expansão colonial. A Aliança
Francesa, criada em 1883, com o objetivo de promover a língua e a
cultura francesa mundo afora, foi um produto direto dessa visão.
Nenhuma dessas “escolas” deixou de tomar consciência dos
grandes custos econômicos da colonização, o que desencadeou debate
acirrado entre aqueles que apregoavam os benefícios comerciais das
empreitadas colonialistas e aqueles que não viam os fatos da mesma
maneira.
Essa discordância esteve na raiz da perda da hegemonia da
Sociedade de Geografia de Paris em relação à condução da geografia
francesa. A linha divisória estabelecida entre os defensores de cada
perspectiva aprofundou-se em 1873, quando um grupo de geógrafos,
ancorados nos interesses de negociantes de Bordeaux, solicitou a
Paris permissão para estabelecer a primeira Sociedade de Geografia
Comercial em uma província. Enquanto a cúpula em Paris debatia a
oportunidade da proposta, vista com reservas, a iniciativa deslan-
chou, antecipando-se à decisão do centro, na capital. Na sequência
do sucesso de Bordeaux, várias outras cidades portuárias, em geral
apoiadas pelas câmaras de comércio municipais, inauguraram so-
ciedades de geografia, desvinculadas da matriz parisiense. Assim, a
geografia francesa fragmentou-se ante o impacto de interesses dos
comerciantes regionais, dispersando-se por vários núcleos. Enquanto
os imperialistas de Paris tendiam a falar em responsabilidade colonial,
32
Crônica do movimento geográfico

as sociedades de geografia provinciais procuravam acesso direto às


regiões que lhes interessavam em razão de interesses comerciais
localistas.33
Embora não ignoremos que o leitmotiv das sociedades de geogra-
fia na Europa, na última quadra do século XIX, tenha sido a expansão
colonial, a forma e os métodos variaram de país para país, e, no caso
francês, como ficou evidente, de província para província.
No plano do interesse científico, no entanto, todas as socieda-
des se irmanavam. Não eram poucas as trocas de informações por
intermédio da permuta de boletins, palestras e condecorações pelos
serviços prestados por exploradores estrangeiros: enquanto a Socie-
dade de Geografia de Lisboa, no ano de 1876, agraciava com medalha
de honra seu sócio-correspondente, o explorador de origem inglesa,
Lovett Cameron, expedicionários portugueses recebiam homenagens
de congêneres europeias.
Entretanto, quando se tratava do quesito “partilha colonial”, o
discurso da universalidade da ciência caía por terra, literalmente. Nos
inúmeros congressos internacionais de geografia realizados naquele
período, cada grêmio voltava-se para as propostas mais interessan-
tes, na perspectiva do seu próprio país, nem sempre coincidentes
com aquelas defendidas pelo digno representante da sociedade de
geografia ao lado.
Nesses momentos, quando fatalmente as ambições nacionais de
uns esbarravam nos projetos imperiais de outros, as medalhas davam
lugar às críticas, e as homenagens cediam espaço às reclamações,
disputas e indignação. E não foi outro, senão esse, o sentimento que
afligiu os portugueses diante do fato de o rei Leopoldo II, da Bélgica,
não ter convidado nenhum explorador luso para o encontro que pas-
sou à história com o nome de Conferência Geográfica de Bruxelas, em
1876. Portugal começava a perceber que podia perder seus domínios
coloniais na África.
A Conferência Geográfica de Bruxelas reuniu geógrafos e
expedicionários da Grã-Bretanha, França e Áustria, com o objetivo
declarado de levar civilização à África, mediante a implantação de
Estações Civilizadoras – espécie de bases de apoio aos expedicioná-
rios que viriam a ser construídas na região do Congo, mas destinadas
também a servir como centros de estudos e, pretensamente, polos de
combate à escravidão.
Toda a década de 1870 havia sido marcada pelo avanço da
França, Bélgica e Inglaterra sobre a área do Congo, parte integrante
da chamada África Central, região de contornos indecisos, ao sabor
de interesses geopolíticos, grosso modo, estendendo-se das latitudes
33

Cristina Pessanha Mary


correspondentes aos territórios compreendidos entre a zona meridio-
nal do Sudão, até a Republica da África do Sul e a faixa de terra que
liga Angola a Moçambique no sentido longitudinal.34 A partir de então,
esta área, até então pouco valorizada, de difícil acesso, em grande
parte recoberta pela floresta equatorial e com grandes obstáculos
à comunicação, e, portanto, ao controle político, foi palmilhada por
exploradores. Enquanto Pierre de Brazza35 descobria uma rota de
acesso ao curso superior do rio Congo, colocando a França na disputa
pela região, Henry Stanley, financiado por dois jornais, um americano
e outro inglês, percorria grande parte da mesma bacia hidrográfica,
demonstrando sua importância como acesso à África Central.
Stanley ainda retornou à bacia do Congo outras vezes, para mais
explorações. Em uma delas, sob os auspícios de Leopoldo II, utilizou-
se do mesmo estratagema dos franceses, passando a fechar tratados
escusos com os chefes locais.36 Além de Brazza e Stanley, lembramos
as incursões de Lovett Cameron, entre 1873-75, alertando para as
riquezas minerais da região de Catanga, que Leopoldo terminou por
incluir no seu Estado Livre do Congo, como veremos logo adiante.37
A Conferência de Bruxelas traduzia, assim, o espírito colonia-
lista, por trás de uma fachada filantrópica. Uma outra medida tomada
pela Conferência Geográfica de Bruxelas, além da decisão de implan-
tar pontos de apoio para os exploradores na região do Congo, foi a
organização de uma instituição internacional, Associação Internacio-
nal Africana (AIA), fundada ainda naquele ano, sob a presidência do
próprio rei belga e com sede em Bruxelas, a ser ampliada mediante a
criação de comitês nacionais pelos países signatários dos princípios
de Bruxelas. Na sua proposta, esse estabelecimento possuía um
recorte humanitário, destinado ao serviço de causas, como o fim da
escravidão.
Hoje se sabe que o regime de exploração implantado no Estado
Livre do Congo (área equivalente, grosso modo, à República Democrá-
tica do Congo atual) foi um regime violento, estruturado com base em
massacres sistemáticos da população nativa, refém das companhias
concessionárias, que rateavam com o rei os lucros provenientes do
marfim e da borracha da região. As atrocidades cometidas só vieram
a ser denunciadas na virada para o século XX, após árdua campanha
de jornalistas e missionários, que terminaram por mostrar à opinião
pública a face cruel do rei belga por trás da fachada estrategicamente
construída.38
A partir da reunião em Bruxelas e por um intrincado caminho,
Leopoldo II criou duas outras associações para a região: o Comitê
de Estudos do Alto Congo (CEHA) e a Associação Internacional do
34
Crônica do movimento geográfico

Congo (AIC), esta última com sigla muito semelhante à Associação


Internacional Africana. Utilizando-se da Associação Internacional
do Congo como uma espécie de biombo, por trás do qual estiveram
empresas comerciais associadas a ele, e outras estratégias escusas,
o monarca belga terminou por reivindicar a soberania das áreas de
atuação daquela associação, terminando por obter a transformação
da Associação Internacional do Congo (sempre confundida com as
primeiras, nominalmente com caráter científico e filantrópico) no
Estado Livre do Congo.39
O reconhecimento da nova nação ocorreu na Conferência de
Berlim, realizada entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885, um
outro encontro relativo a questões africanas no qual, mais uma vez,
Portugal viu escorrer seus direitos sobre a região do Congo, cabendo
ressaltar que, entre os signatários de tratados que ratificaram o Estado
Livre do Congo, figuraram França e Portugal, grandes rivais na região.
A Conferência de Berlim foi realizada em dois níveis. No plano
formal, sua agenda continha pontos de discussão, como o livre-
comércio, as obrigações humanitárias para com a população africana,
dentro do espírito de se levar civilização àquele continente, falando-
se também na discussão das novas ocupações na costa africana,
excluindo-se acertos quanto às possessões no interior. Contudo, na
informalidade, tudo se passou pelo avesso: esse é o caso da criação
do Estado Livre do Congo por Leopoldo II, cuja extensão abarcava,
sobretudo, o interior da África Central.40
Figura 2 – O Congo de Leopoldo 1885

Fonte: MCEVEDY, Colin. The Peguin Atlas of African History. Londres: Penguin UK,
1995.Organizado por Luciana Mary Neugedachter.
35

Cristina Pessanha Mary


Ora, Portugal, que não fora convidado para o “convescote
filantrópico” organizado por Leopoldo em 1876, e na Conferência de
Berlim parecia condenado a perder também seus direitos históricos na
África, não se conformou: justamente Portugal, presença pioneira na
região, desde fins do século XV, quando navegadores lusitanos fizeram
o reconhecimento de suas costas e de alguns pontos do continente.
Figura 3 – Mapa simplificado das viagens
de exploração dos portugueses na África no século XV

Fonte: Maria Emília Madeira. Viagens de exploração terrestre dos portugue-


ses em África. Lisboa: Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga. 1988.
Adaptação gráfica: Diógenes Santos.

Já em meados do século XVI, os portugueses, em suas viagens


pelo interior do continente, procuravam verificar ligações preexis-
tentes entre o litoral ocidental e a costa oriental da África Central,
percorridas pelos habitantes daquela área.
A ambição de um único domínio, costa a costa, remonta, no
entanto, ao século seguinte, quando várias iniciativas realizadas por
governadores de Angola trataram de manter acesa a chama da tra-
vessia. No entanto, esses esforços se perdiam na sua intermitência,
desinteresse e dificuldades de toda ordem.
36
Crônica do movimento geográfico

Nos Setecentos, com os ventos do movimento ilustrado luso


percorrendo a Península Ibérica, derrubados alguns princípios es-
colásticos, a ciência ganhou novo vigor. Nesse quadro do iluminismo
português,41 reformou-se a Universidade de Coimbra em 1772, ocasião
em que se instalou a Faculdade de Filosofia, destinada ao ensino das
ciências naturais e físico-químicas,42 iniciativa que terminou por gerar
um grupo de cientistas, entre os quais muitos brasileiros, formados
em filosofia natural, medicina e matemática, com espírito mais prag-
mático do que os bacharéis que até então predominaram naquele
centro de ensino.
A nova orientação voltava-se para estudos aplicáveis ao desen-
volvimento do país, úteis, sobretudo, a atividades como a agricultura.
Esse mesmo espírito, que vinha animando empreendimentos como a
organização de jardins botânicos, museus de história natural43 etc. deu
origem à Academia Real de Ciências, em 1779, que visou, principalmen-
te, ao levantamento das condições naturais e econômicas do reino e
do ultramar.44 Essa foi a época das viagens filosóficas empreendidas
por naturalistas, da recolha de espécies dos três reinos (animal, ve-
getal e mineral) e que tinham, inicialmente, como destino o Brasil. O
corpo de naturalistas era orientado através de instruções elaboradas
na Academia Real de Ciências, prevendo detalhadamente os objetivos
e procedimentos das incursões aos sertões, desde a discriminação
do que deveria ser recolhido, até o modo de registrar as coleções por
meio de diários.45
Nesse mesmo impulso, as incursões ao ultramar africano passa-
ram a incorporar nos seus objetivos um viés científico, preocupando-
se com a coleta de dados na linha de estudos da história natural,
pois, até então, grande parte dos empreendimentos lusos na África se
atinham à defesa da costa ou ao desenvolvimento do comércio entre
Lisboa e seus domínios na Ásia, mediante uma rota alternativa, que
ligasse Angola e Moçambique, por terra.
Em 1797, organizou-se uma das mais importantes explorações
portuguesas na África, ano em que Lisboa enviou para o front africano
Francisco Lacerda e Almeida. Esse empreendimento se destinou a
“descobrir a possibilidade de comunicação das duas costas oriental e
ocidental da África”,46 e a estabelecer uma linha de fortificações lusas
entre Moçambique e Angola – interrompendo a marcha dos ingleses,
que, partindo do Cabo da Boa Esperança, avançavam naquela direção.47
Tal expedição contava com Lacerda e Almeida, um cientista nascido no
Brasil,48 formado em matemática por Coimbra e com larga experiência
de levantamentos cartográficos nas fronteiras do Brasil.49
37

Cristina Pessanha Mary


Nesse ínterim, cabe registrar, foi criada a Sociedade Real Marí-
tima Militar e Geográfica (1798-1807), incumbida dos levantamentos
estatísticos e da elaboração de cartas hidrográficas e militares. Um
dos objetivos principais da Sociedade Marítima Militar foi o de pro-
mover o conhecimento exato dos domínios portugueses, promovendo
as comunicações interiores e o estado de cultura dessas regiões.50
Embora os esforços encetados naquele momento tenham sido
dignos de nota, a travessia da África Central, de ponta a ponta, veio a
ser efetivada somente no início do século XX, por intermédio de uma
ação que mesclou a ciência e a prática de sertanejos pombeiros,51 há
muito integrados ao circuito comercial intra-africano.
Figura 4 – Travessia realizada pelos pombeiros
e viagem de Lacerda e Almeida

Fonte: SANTOS, Maria Emília Madeira. Viagens de exploração terrestre dos portugueses
em África. Lisboa: Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1988. Adaptação
Gráfica: Diógenes Santos.

A tradição sertanista, embora tenha mudado de sentido ao longo


dos anos, compreende um conjunto de atividades e conhecimentos que
remontam aos primórdios da exploração portuguesa na África, desde
o século XVI. Essas atividades incluem o reconhecimento do terreno
percorrido, sua avaliação estratégica, a descrição das populações e
as trocas e contatos comerciais com os nativos da região, mesmo pre-
parando uma guerra de conquista. O conhecimento dos portugueses
que viviam no sertão africano era eminentemente prático, contudo,
constituíram-se como contribuição de peso para as expedições cien-
38
Crônica do movimento geográfico

tíficas, na medida em que facilitavam a transposição do continente,


apontando caminhos.
A travessia ponta a ponta, no entanto, foi ofuscada pelos fatos
decorrentes das invasões napoleônicas, que desviaram, literalmente,
Portugal de suas rotas, levando a família real portuguesa para o Brasil
em 1807.
No hiato de tempo, entre a partida da família real e a Independên-
cia brasileira, contudo, estabeleceu-se uma nova realidade. Realidade
esta que, se não tornava completamente obsoletas as relações entre a
metrópole portuguesa e a sua periferia, alterava-lhe o sentido.
A colonização, nas suas linhas gerais, envolve a apropriação de
novos espaços, seguida pela subordinação das populações nativas e
a inserção do território colonial em algum tipo de circuito mercantil
que torne viável o empreendimento para a metrópole. Os territórios
coloniais, isto é, os “acréscimos dispersos e descontíguos do espaço
metropolitano, que respondem a esse comando externo e se consoli-
dam na própria internalização dos agentes exteriores”, formavam-se a
partir de núcleos de assentamentos originais, interligados como uma
espécie de malha, em torno da qual se estabelece um povoamento
contínuo. Essa rede termina por se expandir, dilatando o território
colonial. 52
Muitas regiões coloniais constituíam-se como manchas, cerca-
das por zonas pouco conhecidas e genericamente assinaladas pela
cartografia do período. Essas áreas, que muitas vezes ultrapassavam
em tamanho os territórios coloniais, submetidas apenas formalmente
pelos centros metropolitanos, se constituíam como “Fundos Territo-
riais”, figurando, na ótica do colonizador, como estoques de espaços
a serem apropriados futuramente. 53
Desde meados do século XVI, até o primeiro quartel dos Oito-
centos, o centro de gravidade do Império português encontrava-se
no Atlântico, nas relações entre Portugal e Brasil, pois, de forma ge-
ral, nas regiões que hoje conhecemos como Angola, Congo, Guiné e
Moçambique, Lisboa mantinha apenas um domínio indireto, calcado
no envolvimento mercantil que se realizava em feitorias instaladas
nos terminais das zonas de comércio, notadamente o comércio de
homens.54 Aquele quinhão do mundo, portanto, não passava de uma
periferia de outra periferia, no jargão da economia política, com a
função precípua de fornecer escravos para o Brasil.55
Na década de 20 dos Oitocentos, a região colonial portuguesa
na África Central formava um conjunto de vários pontos espalhados
na fachada atlântica e do Índico, constituindo, no total, três governos
gerais (Cabo Verde e Guiné, Angola e Moçambique) e um governo par-
39

Cristina Pessanha Mary


ticular (São Tomé e Príncipe e São João Batista de Ajudá), constando,
ainda, na parte ocidental, áreas como Cabinda, Bissau, algumas ilhas
e, na zona oriental, Sofala, Quelimane e outros portos.56
Em Angola, a grande fornecedora de escravos, os portugueses
haviam se assenhoreado das cidades costeiras de Luanda e Bengue-
la, bem como de alguns pontos entre Ambriz – uma cidade ao norte
de Luanda, espécie de ponta de lança para o avanço português em
direção ao interior africano – e o rio Cabo Negro.
Na primeira metade do século XIX, Angola deu alguns sinais
de reconversão de sua economia, diversificando as exportações de
produtos da colheita e da caça, enquanto o tráfico de escravos, para
fugir à vigilância inglesa, reimplantou-se em outros lugares da região,
encabeçado por comerciantes luso-brasileiros.57
Em Moçambique, o implante português foi mais frágil, embora
os portos da sua costa tenham tido importância, principalmente como
escala nas rotas comerciais com a Índia, tendo os colonos daqueles
domínios se africanizado, absorvidos pela sociedade nativa.58
De qualquer forma, é preciso compreender que, em meados
do século XIX, o domínio português na África se constituía, princi-
palmente, como uma imensa carteira de fundos territoriais, como se
depreende da descrição feita pelo governador de Angola, entre 1876
e 1878, acerca do interior daquela província:

[...] a extensão da província para o interior é um mal sem provei-


to, pois os principais estabelecimentos parecem ilhas perdidas
num oceano indígena sem limites. É preciso, portanto, confessar
tristemente que o nosso império no interior é imaginário [...].

A decadência e a falta de perspectiva marcavam profundamen-


te o panorama das regiões coloniais portuguesas na África, naquela
conjuntura de meados dos Oitocentos. Portugal, ameaçado pela con-
corrência estrangeira, que de todas as maneiras buscava abocanhar
os sertões africanos, via-se na iminência de perder tudo que tinha e
também o que não tinha de fato, mas julgava lhe pertencer: os imensos
fundos territoriais entre Angola e Moçambique.
Foi nesse contexto que, em meados do século XIX, tomou corpo
em Portugal o projeto de se construir um novo Brasil na África, tor-
nando efetiva a tarefa, até ali impossível, de transformar os domínios
africanos em Império de fato.
Finalmente a política colonial lusa passou a priorizar a reabilita-
ção das terras africanas. Combinando expansionismo e protecionismo,
buscou-se controlar o estuário do Congo, abrindo-se efetivamente
40
Crônica do movimento geográfico

o caminho entre Angola e Moçambique, para, a seguir, processar o


incremento das plantações, a exploração de minas, a instauração da
mão de obra livre, desviando o fluxo de emigração português para
aquelas áreas.59
Assim, na última quadra do século XIX, floresceu o movimento
geográfico luso, inflamado pela crescente disputa acerca dos fundos
territoriais africanos, numa clara resposta às ameaças impingidas
pela Bélgica, França e Inglaterra ao além-mar. Portugal dava mostras
de que a combalida nação, desprezada em todos os fóruns interna-
cionais, reagia.

NOTAS
1 QUEIROZ, Eça. A relíquia. Porto: Lello e Irmão, 1984. Esta obra foi publicada, pela
primeira vez, em livro, no ano de 1887, em Portugal. p. 295.
2 SALGUEIRO, Valéria Grand Tour: uma contribuição à história do viajar por prazer
e por amor. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 22, n. 44, p. 289-310, 2002.
3 Richard Francis Burton, ainda muito jovem, se alistou no Regimento de Infantaria
de Bombaim, onde aprendeu várias línguas orientais; posteriormente escreveu
sobre a Índia, o que lhe granjeou fama como orientalista. Burton pertenceu, em
seguida, ao serviço diplomático inglês, e, como cônsul no Brasil, percorreu mui-
tas regiões do país sobre as quais também escreveu (VAINFAS, Ronaldo (0rg.). Di-
cionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002).
4 John Hanning Speke era oriundo da nobreza inglesa, tendo se dedicado à carreira
militar como oficial do exército, antes de se destacar como explorador (DUGARD,
Martin. No coração da África. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 34).
5 Ibidem.
6 Ibidem.
7 Apesar de sua pequena dimensão, a Bélgica de meados do século XIX era um país
mais voltado para a indústria do que para o comércio, contando, em 1865, quando
Leopoldo II subiu ao trono, com cinco milhões de habitantes, muitas ferrovias,
minas e altos fornos (WESSELING, H. L. Dividir para dominar: a partilha da África,
1880-1914. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ: Revan, 1998. p. 87).
8 Pierre de Savorgnan de Brazza nasceu em Roma. Naturalizado francês, fez uma
série de incursões a territórios africanos, reivindicando-os para a França (WESSEL-
ING, H. L. Dividir para dominar: a partilha da África, 1880-1914. Rio de Janeiro: Ed.
da UFRJ: Revan, 1998. p. 87).
9 Henry Morton Stanley, natural do País de Gales, foi adotado por uma família ameri-
cana, tendo vivido parte de sua juventude nos Estados Unidos. Correspondente
itinerante do jornal Herald de Nova Iorque, Stanley notabilizou-se ao chefiar a
operação de busca do explorador Livinsgstone, desaparecido na África. Stanley foi
uma espécie de mercenário, trabalhando para várias nações (DUGARD, Martin. No
coração da África. Rio de Janeiro: Record, 2004).
10 Estamos estabelecendo uma diferença entre “dominium” e “Impérium”, pois en-
quanto o primeiro não desemboca necessariamente na subordinação do colonato
e dos negociantes à metrópole, esses fatores seriam condição de existência do
Império (ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes: formação do Brasil no
Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000).
41

11 REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de

Cristina Pessanha Mary


Janeiro, 1. série, n.1, t. 1, 1881.
12 Este número se eleva para 39 se levarmos em conta dados da historiografia mais
recente (ESTEBAN, José Antonio Rodríguez. Geografía y colonialismo: la Sociedad
Geográfica de Madrid (1876-1936). Madrid: UAM Ediciones, 1996).
13 CAPEL, Horacio. Filosofía y ciencia en la geografía contemporánea: una introduc-
ción a la Geografia. Barcelona: Barcanova: Temas Universitarios, 1981.
14 ESTEBAN, José Antonio Rodríguez. Geografía y colonialismo: la Sociedad Geográ-
fica de Madrid (1876-1936). Madrid: UAM Ediciones, 1996.
15 No último quartel do século XIX, além da Seção portuguesa, os estabelecimen-
tos de geografia existentes nesse período eram o Instituto Histórico Geográfico
Brasileiro, a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, a Sociedade de Geografia
Econômica de Minas Gerais e o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. ESTE-
BAN, José Antônio Rodríguez. Idem.
16 Essas etapas se estendiam desde a decisão política, discussão e elaboração das
instruções de viagem, convencimento de governos e da opinião pública, busca por
financiamento, até o processamento dos conhecimentos adquiridos.
17 CAPEL, Horacio. Filosofía y ciencia en la geografía contemporánea: una introdúc-
cion a la Geografia. Barcelona: Barcanova: Temas Universitarios, 1981.
18 GONÇALVES, Carlos Walter Porto et al. A Geografia do Imperialismo. Boletim Pau-
lista de Geografia, São Paulo, n. 59, out. 1984; VESENTINI, José William. A capital
da geopolítica. São Paulo: Ática, 1986; SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da
crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo: HUCITEC, 1980. p. 14.
19 SAID, Edward. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
p. 13.
20 DRIVER, Felix. Geography militant: cultures of exploration and empire. Oxford:
Blackwell Publishers, 2001.
21 Ibidem.
22 KURY, Lorelai. A Comissão Científica de Exploração (1859-1861). A ciência imperial
e musa cabocla. In: HEIZER, Alda; VIEIRA PASSOS, Antônio Augusto (Org.). Ciência
e civilização nos trópicos. Rio de Janeiro: Acess, 2001.
23 O escritor romântico, Chateaubriand, teve uma movimentada carreira na política,
incluindo altos cargos na burocracia do Estado. Movimento, no sentido literal,
também não faltou a sua vida, pontuada de grandes viagens. No campo literário,
recorremos ao julgamento de José Veríssimo, quando este afirma que a ação do
escritor garantiu à França a supremacia da sua literatura, supremacia que tanto
Napoleão arriscou nos campos de batalha (VERÍSSIMO, José. Homens e coisas
estrangeiras 1899-1908. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras: Topbooks,
2003).
24 Malte-Conrad Brun (1775-1829) era dinamarquês de nascimento, mas foi na Fran-
ça, onde veio a se instalar, que desempenhou papel de relevo para a geografia.
Amante da poesia, da literatura, jornalista e conhecedor de várias línguas, realizou
inúmeras crônicas sobre a política europeia, desenvolvendo vários estudos sobre
a Alemanha, Áustria, Polônia etc. Brun foi o responsável pela apresentação ao pú-
blico francês das viagens de Alexandre de Humboldt (BROC, Numa. Regards sur la
géographie française de la reinaissance à nos jours. t. 2. [S.l.]: Presses Universitaire
de Perpignan, 1995).
25 LEJEUNE, Dominique. Les Sociétés de Géographie en France et l’expansion coloniale
au XIXe siècle. Paris: Albin Michel, 1993.
26 HEFFERNAN, Michael J. The forms of French Imperialism. In: GODLEWSKA, Anne;
SMITH, Neil (Org.). Geography and empire. Londres: Institute of British Geogra-
phers, 1994.
42

27 Jules Duval morre no ano de 1870.


Crônica do movimento geográfico

28 Henry Duveyrier, filho de um dos líderes do sansimonismo.


29 Ferdinand de Lesseps (1805-1894), driblando as contradições entre o sultão do
império otomano e o quediva do Egito, bem como as rivalidades anglo-francesas,
em relação ao controle do Egito, obteve permissão para a construção do Canal de
Suez (WESSELING, H.L. Dividir para reinar: a partilha da África, 1880-1914. Rio de
Janeiro: Ed. da UFRJ: Revan, 1998).
30 Saint Simon, Robert Owen, Etienne Cabet, Charles Forier são lembrados como so-
cialistas utópicos (BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. Rio de
Janeiro: J. Zahar, 1983).
31 Uma característica da tradição francesa era acreditar que a sociedade podia ser
bem planejada e administrada por engenheiros (SCHAWARTZMAN, Simon. Um es-
paço para a ciência: a formação da comunidade científica no Brasil. Brasília, DF:
Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001).
32 Esta forma de pensar a expansão francesa raramente foi aceita pelos oficiais mais
graduados do Exército, pois estes tinham maior consciência das dificuldades co-
tidianas para manter o controle imperialista.
33 Como exemplo dessa tendência localista, temos a Sociedade de Geografia de Lion,
que manteve relações diretas com Hanói, no Vietnam, em razão da qualidade e
dos preços da seda (HEFFERNAN, Michael J. The forms of French Imperialism. In:
GODLEWSKA, Anne; SMITH, Neil (Org.). Geography and empire. Londres: Institute
of British Geographers, 1994).
34 Cabe lembrar que a maioria dos autores recorta, deste conjunto inicial, os ter-
ritórios a leste dos grandes lagos, considerando-os como pertencentes à região da
África Oriental (WESSELING, H. L. Dividir para dominar: a partilha da África, 1880-
1914. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ: Revan, 1998).
35 Estamos nos referindo às áreas onde hoje encontramos Franceville, no Gabão.
36 Os tratados denominados “Brazza-Makoko”, entre Brazza e os chefes locais da
região onde hoje se encontra o Gabão, não foram reconhecidos prontamente pelo
governo francês. O próprio Brazza nunca foi muito bem aceito por seus pares na
Marinha. Nesse processo de ratificação das conquistas de Brazza, a Sociedade de
Geografia de Paris teve papel fundamental (WESSELING, H. L. Dividir para dominar:
a partilha da África, 1880-1914. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ: Revan, 1998).
37 GUIMARÃES, Ângela. Uma corrente do colonialismo português: a sociedade de
Geografia de Lisboa, 1875-1895. Porto: Livros Horizonte, 1984.
38 HOCHSCHILD, Adam. O fantasma do Rei Leopoldo: uma história de cobiça, terror e
heroísmo na África Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
39 WESSELING, H.L. Dividir para reinar: a partilha da África, 1880-1914. Rio de Janeiro:
Ed. da UFRJ: Revan, 1998.
40 Ibidem.
41 Sobre as especificidades do iluminismo português, ver: FALCON, Francisco José
Calazans. A época pombalina: política econômica e Monarquia ilustrada. São Pau-
lo: Ática, 1993; PAIM, Antônio. História das ideias filosóficas no Brasil. São Paulo:
Grijaldo: Edusp, 1974.
42 CARVALHO, Rômulo. A história natural em Portugal no século XVIII. Lisboa: Instituto
de Cultura e Língua Portuguesa, Ministério da Educação, 1987.
43 Ibidem.
44 NEVES, Guilherme P. C. Pereira das. O Seminário de Olinda: educação, cultura e
política nos tempos modernos. 1984. Dissertação (Mestrado em História)–Univer-
sidade Federal Fluminense, Niterói, 1984.
43

45 PEREIRA, Maria Manuela Cantinho. A Seção do Rio de Janeiro. In: ______. O Museu

Cristina Pessanha Mary


Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa: modernidade, colonização e al-
teridade. Lisboa: Fundação C. Gulbenkian. Fundação C. Tecnologia, 2005. p. 45.
46 ALMEIDA, Francisco José de Lacerda. Diários de viagens. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1944.
47 HOLANDA, Sérgio Buarque. Prefácio. In: ALMEIDA, Francisco José de Lacerda.
Diários de viagens. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944.
48 DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Aspectos da ilustração no Brasil. In: ______. A
interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda, 2005.
49 SANTOS, Maria Madeira. Viagens de exploração terrestre dos portugueses em África.
Lisboa: Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1988. p. 184.
50 Para Maria Emília Santos, este instituto assemelhou-se à sua congênere inglesa, a
African Association, criada em 1788, e, de acordo com a mesma autora, considera-
da como precursora do movimento geográfico (SANTOS, Maria Madeira. Viagens
de exploração terrestre dos portugueses em África. Lisboa: Centro de Estudos de
História e Cartografia Antiga, 1988).
51 Segundo o dicionário, a expressão “pombeiro” designa o emissário que atraves-
sava os sertões comerciando com indígenas (FERREIRA, Aurélio Buarque de Hol-
anda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1999).
52 MORAES, Antônio Carlos Robert. Território e história do Brasil. São Paulo: Hucitec,
2002. p. 56.
53 Ibidem, p. 7.
54 ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico
Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
55 Devido à inserção econômica dessa região no âmbito de uma divisão internacio-
nal do trabalho entre os centros europeus e suas colônias como fornecedoras de
escravos e matéria-prima para regiões periféricas do mundo, a África subsaariana,
durante o período que se estendeu do século XV ao século XIX, foi classificada
como uma “periferia da periferia” (AMIN, Samir O desenvolvimento desigual: en-
saios sobre as formações sociais do capitalismo periférico. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 1976).
56 LUCAS, Maria Manuela. Organização do Império. In: MATTOSO, José et al. História
de Portugal: o liberalismo (1807-1890). Lisboa: Estampa, 1998. v. 5, p. 245-266.
p. 251.
57 Esses grandes mercadores brasileiros, bem como os negociantes portugueses,
mantinham tão bom trânsito com os potentados da região que se chegou a pensar
que, de fato, Angola parecia uma colônia do Brasil (ALENCASTRO, Luiz Felipe. O
trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000).
58 ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico
Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
59 LUCAS, Maria Manuela. Organização do Império. In: MATTOSO, José et al. História
de Portugal: o liberalismo (1807-1890). Lisboa: Estampa, 1998. v. 5, p. 245-266.
p. 258.
2. A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
DE LISBOA: REFAZENDO A “NAÇÃO ABATIDA”1

As viagens na África produzem sempre um romance, e algumas


vezes também um livro de ciência.

[...] A minha, se, como todas, é um verdadeiro romance, não


deixa por isso de conter trabalhos geográficos de alguma im-
portância. Formei logo o projeto, que hoje executo, de misturar
em narrativa esses trabalhos com as minhas aventuras, como
eles tinham sido misturados nos sertões africanos.2

Logo no prólogo de sua narrativa, no livro Como eu Atravessei a África,


o major de origem portuguesa, Alexandre Serpa Pinto, mencionou os aplau-
sos, por parte de alguns jornais de Lisboa, pela alteração do título de sua
obra, antes denominada A Carabina D’el Rei. Segundo a crítica, A Carabina
D’el Rei seria uma denominação mais adequada a um livro de aventura
de rapazes do que a um trabalho de um explorador sério. De Serpa Pinto
exigiam-se compromissos com uma determinada forma de agir e pensar,
balizada pelo ideal científico.
A pressão sofrida por Serpa Pinto era apenas um pálido reflexo da-
quela sentida por sua pátria: o Portugal de fins dos Oitocentos sucumbia
ante um intenso sentimento de decadência, um sentimento que fazia eco a
concepções “estrangeiras”, provenientes de pensadores de outros centros
europeus. Dentre os estigmas que fustigavam a pátria lusa, imperava aquele,
associado à ideia liberal de nação, que afirmava a inviabilidade econômica
de países de pequeno porte, para os quais não haveria possibilidade de
autodeterminação.3
Portugal, como seu herói nacional, precisava responder a seus críticos
e, tal como Serpa Pinto, reinventar-se diante das potências europeias.

2.1. Portugal, a nação abatida

Entre os anos 1861-1890, durante a vigência da Monarquia Consti-


tucional ocupada por D. Luiz, a política interna portuguesa foi de relativa
calmaria, pontuada apenas por alguns conflitos episódicos. Nesse período,
o país deixava para trás os embates ocorridos entre liberais, defensores de
uma carta constitucional, e as correntes que advogavam o absolutismo em
um primeiro momento, e, mais tarde, entre posições antagônicas no interior
do próprio movimento liberal.4
46
A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

As escaramuças haviam consumido a nação por anos a fio, desde


a reunião das cortes para convocação das cartas constitucionais em
1820, passando pela guerra civil, até 1852, quando se obteve a conci-
liação. O compromisso alcançado terminou por ancorar o país em um
sistema político que apaziguou tanto os setores mais democráticos,
quanto os grupos menos afeitos a esses valores.5
Na estrutura de poder montada, baseada na Carta Constitucio-
nal de 1826, outorgada por D. Pedro IV (Pedro I no Brasil), e quase uma
cópia da Constituição Brasileira de 1824,6 além do poder executivo,
judiciário e legislativo, havia o poder moderador, exercido pelo rei,
considerado chave de toda a organização política. O rei, assistido pe-
los conselheiros de Estado, cargos vitalícios e de sua indicação, tinha
amplos poderes sobre o legislativo, podendo nomear representantes
para a Câmara dos Pares do Reino, bem como dissolver a Câmara
dos Deputados. Esse sistema, mesmo sujeito às idas e vindas dos
atos institucionais, limitando o número de pares-do-reino ou mesmo
tornando as eleições para deputados mais democráticas, perdurou
até a implantação da República em 1910.7
Durante esse tempo, o sistema eleitoral foi se modificando,
ampliando o número de eleitores através de medidas que termina-
ram por incluir os analfabetos acima de determinada renda. Cabe
lembrar que, na vida política portuguesa, movimentada por tantos
agrupamentos, “cabralistas”, “setembristas”, “regeneradores”, os
partidos políticos modernos, estruturados com base em programas,
só vieram a surgir por volta de 1870. No início dessa década, o leque
partidário ampliou-se consideravelmente, entretanto, o que de fato
vingou na vida política portuguesa foi uma espécie de pacto político
entre os principais partidos: regeneradores e progressistas. Estes,
contornando suas diferenças maiores e deixando as disputas menores
para as assembleias, ou mesmo as comissões de eventos nacionais,
passaram a se alternar no poder.
A década de 1870 viu nascer também as forças de oposição à
Monarquia Constitucional, em grande parte concentradas no Partido Re-
publicano e no Partido Socialista. Entretanto, até 1889, quando da morte
de D. Luiz, a crise mantida no seu estado de latência já se adivinhava.
No plano econômico, durante a primeira metade do século
XIX, Portugal figurou como uma verdadeira retaguarda no quadro
das nações ocidentais. Nesse período, o país, um dos mais pobres
da Europa, teve um desempenho pífio, atrás do da Dinamarca e da
Suécia, levando-se em conta a renda per capta. Embora tenha havido
uma recuperação na segunda metade dos Oitocentos, o crescimento
obtido esteve muito aquém da expansão internacional.8
47

Cristina Pessanha Mary


A discussão acerca das causas do declínio português prolongou-
se, anos a fio, e ainda hoje é difícil o consenso, mas podemos citar
alguns fatores que nunca saíram da pauta dos especialistas, a saber:
baixas taxas de escolarização (o analfabetismo grassava entre a maior
parte da população por volta de 1850, implicando a pouca qualificação
da mão de obra), discriminação de alguns produtos competitivos,
por parte de mercados estrangeiros, pulverização do sistema ban-
cário, inviabilizando investimentos de grande porte. A emigração
que sangrou o país encarecia também a mão de obra remanescente,
comprometendo o desempenho de alguns setores.
Em fins dos Oitocentos, a consciência do declínio de Portugal no
interior da hierarquia de poderes no cenário das potências europeias
era um fato. Antero de Quental,9 em palestra durante as famosas
Conferências do Cassino,10 no ano de 1871, enumerou as causas da
decadência dos povos da Península Ibérica, responsabilizando o cato-
licismo, o absolutismo e o colonialismo. A derrota da França em Sedan
contribuiu para a generalização desse sentimento de decadência dos
povos latinos, atingindo com muita força a sociedade portuguesa.11
Naquela conjuntura, mais do que nunca, os portugueses pas-
saram a considerar a África como um trunfo, do qual não deviam
prescindir. Já haviam perdido o Brasil, não deveriam abrir mão de
mais. Sobretudo a partir da Conferência de Bruxelas, a opinião pública
lusa esteve sensível ao tema e, assim, o futuro do império ultramarino
foi discutido por monarquistas, republicanos e socialistas.12 A colo-
nização, causa do mal português, no diagnóstico da nação feito por
Antero, foi preconizada como remédio por amplos setores naquele
país e terminou por disseminar entre os lusos uma verdadeira fome
de territórios coloniais.
As novas geografias africanas, no entanto, não bastavam para
colocar Portugal lado a lado com as potências europeias. Para lhes
fazer frente, foi preciso, antes de tudo, soerguer a nação abatida “re-
fazendo a consciência da sua heroicidade”:13 aquele Portugal de fins
do XIX que viu nascer o movimento geográfico luso e, no seu bojo,
em 1875, a Sociedade de Geografia de Lisboa, foi o mesmo país que
renovou a si próprio e recontou o seu passado.

2.2. A Sociedade de Geografia de Lisboa


e o reatamento da tradição nacional

Desde os primórdios da Sociedade de Geografia de Lisboa,


geografia e história estiveram sempre lado a lado, uma endossando
a outra: se o espaço colonial figurou como promessa para o futuro
48
A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

nacional, a história não deixou de transformá-lo em monumento da


civilização lusa, como veremos à frente. Assim, o instituto de geografia
luso articulou um poderoso movimento de pressão junto ao governo
português,14 galvanizando a opinião pública a favor de uma ação mais
efetiva nos territórios africanos e mobilizando o país na direção da
empreitada colonial, sem nunca descurar da recuperação do orgulho
pátrio, através de homenagens aos heróis dos descobrimentos e de
comemorações dos seus feitos. Essa estreita parceria entre a geografia
e a história era bastante comum durante o século XIX, entretanto, em
Portugal, ela se explica em parte pela inexistência de instituto equiva-
lente, inteiramente devotado à história, naquele momento.15
O entrelaçamento da geografia com a história, marca definitiva
daquela associação, transparecia até mesmo no requerimento16 que
expôs ao governo de Portugal a necessidade da criação da Sociedade
de Geografia de Lisboa. De fato, um documento que atestava o incon-
formismo dos fundadores do grêmio, diante do descaso das grandes
potências para com a memória dos descobrimentos lusos, assim era
preciso:

[...] Avocar a luz e a justiça da Crítica moderna para o grandio-


so e infelizmente esquecido, caluniado ou mutilado trabalho
com que a Nação Portuguesa, pelos seus velhos cosmógrafos
e navegadores, há contribuído para a Civilização geral e para
a vasta e completa Ciência da Terra. 17

Os estatutos da Sociedade de Geografia de Lisboa, aprovados


em janeiro de 1876, vieram em um tom menos exaltado do que aquele
empregado na proposta original: impregnados de uma dose maior
de neutralidade científica, assinalando, como metas da instituição,
“o estudo, o ensino, as investigações, as explorações científicas de
geografia nos seus diversos ramos, aplicações, princípios, descober-
tas, destacando o conhecimento dos fatos e documentos relativos à
nação portuguesa”.18
Tempos mais tarde, em meio à reformulação estatutária de 1895,
a motivação política voltou a figurar nos registros legais da Sociedade
de Geografia de Lisboa através da menção à “reivindicação histórica
dos seus direitos (de Portugal) e da sua individualidade independente
e soberana”.19 Essa explicitação do inconformismo português decor-
ria em função do desgaste das relações entre Portugal e Inglaterra,
sobretudo com a crise do “Ultimato” declarado pelos ingleses em
1890, quando a poderosa Albion obrigou Portugal a renunciar ao tão
acalentado sonho de ligar Moçambique a Angola, impedindo a expan-
49

Cristina Pessanha Mary


são portuguesa aos territórios que hoje integram Zâmbia, o Malawi
e o Zimbábue.20
Os meios para realização desses e de outros objetivos, tais como
cooperação com o Estado, vulgarização dos documentos relativos
às colônias e outros, consistiam em sessões, conferências, cursos
livres, concursos, congressos, publicações, organização de bibliote-
cas, arquivos e museus. Para andamento dos trabalhos, a Sociedade
de Geografia de Lisboa foi dividida em seções e comissões, e, com o
passar do tempo, o exercício social foi se sofisticando e tornando-se
mais complexo. Nas assembleias gerais, realizavam-se as sessões
ordinárias e administrativas, nas reuniões livres, as conferências e
palestras, recepções e homenagens.21
Inicialmente, havia apenas duas classes permanentes de sócios,
ordinários e correspondentes, além daquela dos fundadores. As condi-
ções para sua admissão incluíam prova de conhecimentos relativos às
ciências geográficas e o endosso de três sócios ordinários. Em 1882,
foi acrescida a classe de sócios honorários, e passaram a integrar esse
seleto clube apenas os grandes exploradores, ídolos da fase heróica
das travessias dos territórios africanos, como Serpa Pinto.22
Os sócios ordinários residiam em locais próximos à sede da
sociedade, como Rafael Bordalo Pinheiro, jornalista, famoso carica-
turista, que, após retornar do Brasil, se fixou em Lisboa, enquanto os
correspondentes se encontravam em áreas distantes, até mesmo no
ultramar africano. Sob a rubrica “correspondente”, encontramos per-
sonalidades do quilate do Visconde de Rio Branco,23 de Rui Barbosa
e Benjamin Constant no Brasil, e Élisée Reclus,24 renomado geógrafo
francês, como também outras menos conhecidas nos dias atuais, como
o príncipe romeno, Alexandre Cantacuzene.25
O índice de crescimento daquele estabelecimento seguiu o
padrão de suas congêneres na Europa, de veloz aumento do número
de associados. Em 1875, 74 sócios subscreveram os estatutos. Vinte
anos mais tarde, o grêmio já atingia a casa dos mil e continuava a
crescer, dobrando seu efetivo para 2 mil associados, logo no início
do século XX.26
A Sociedade de Geografia de Lisboa não nasceu sob os auspícios
do Estado, embora muitos dos seus integrantes estivessem em postos-
chave no governo, e, desde 1878, o rei de Portugal, D. Luiz, tenha se
declarado protetor daquele estabelecimento. Até 1880, seus boletins
foram custeados com recursos próprios e doações de particulares.
Contudo, com a incorporação da Comissão Central de Geografia, ligada
ao Ministério da Marinha e Ultramar, à Sociedade de Geografia de Lis-
boa, os periódicos passaram a ser financiados pelos cofres públicos.27
50
A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

A Comissão Central de Geografia havia sido criada pelo governo por-


tuguês, por iniciativa do então ministro do ultramar, Andrade Corvo,28
no ano seguinte ao da criação da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Tal comissão previa os estudos relativos à geografia como também
à história, etnografia, arqueologia. Uma das ambições de Corvo era
a de atender a agenda construída durante o Congresso de Geografia
de Paris, realizado em 1875 e organizado pela Sociedade de Geografia
de Paris, que teve como ponto principal promover o conhecimento
geográfico, sobretudo das colônias, e a permuta internacional de
conhecimentos científicos.29 Com a saída de Andrade Corvo da sua
pasta ministerial, a Comissão de Geografia foi integrada à Sociedade
de Geografia de Lisboa. Na prática, essa atitude resultou em uma ou-
tra relação da sociedade com o governo: a partir de então, ela obteve
apoio material do Estado. Assim, a Sociedade de Geografia de Lisboa
tornou-se órgão consultivo do governo português.30
Embora muitas iniciativas da sociedade tenham atingido as
camadas populares, como foi o caso de algumas comemorações, a
instituição não esteve ancorada nesses grupos. Ao contrário, sua es-
trutura, bem como sua composição social, em muito se assemelhava
à de sua congênere parisiense. O ingresso era restrito àqueles que
podiam arcar com alguns custos pelo “direito de entrada”. Para manu-
tenção do vínculo, uma taxa anual era cobrada, o que, naturalmente,
excluía grupos menos abastados. Havia a necessidade de indicação e
aprovação dos sócios – na prática, uma fronteira intransponível para
aqueles que não tinham ligações com nomes ilustres.
Definitivamente, nesse aspecto a Sociedade de Geografia de Lis-
boa pertencia ao mundo da nobreza, dos grandes nomes do comércio,
professores e funcionários públicos. Cabe observar que as fronteiras
entre a nobreza e outros setores da elite lusitana eram elásticas, pois,
desde o século XVIII, os títulos e honras daquela nobreza foram amplia-
dos e passaram a distinguir também escritores, artistas, diplomatas,
banqueiros, políticos. 31
Os primeiros corpos gerentes, eleitos na Assembleia Geral,
tomaram posse em abril de 1876, organizados em dois núcleos: uma
diretoria (presidente, vice, tesoureiro, 1o secretário, 2o secretário e
dois vogais) que arcava com as tarefas relativas à condução efetiva
da sociedade, tendo como figura central o cargo de secretário geral
– Quadro I e II –, e um conselho central, com um presidente rodeado
por 21 vogais.
Tanto no quesito “perfil político partidário”, quanto no item
“formação”, não se pode traçar nenhuma linha divisória entre os
membros de um e de outro grupo. Grande parte das altas esferas da
51

Cristina Pessanha Mary


Sociedade de Geografia de Lisboa pertenceu ao Partido Regenerador
ou ao Progressista, que, como salientamos, revezaram-se durante
anos na condução da Monarquia Constitucional. Todos transitaram
por cargos nas áreas da cultura, da ciência e da política da Monarquia
Constitucional, e a maioria possuiu experiência na alta administração
dos territórios coloniais, a exemplo do deputado Antonio Enes, comis-
sário régio em Moçambique, ou mesmo de João Cesário de Lacerda,
secretário-geral da província de Cabo Verde, e Francisco Maria da
Cunha, par do reino e governador-geral de Moçambique e do Estado
da Índia. O serviço público em um país como Portugal, senhor de um
imenso império ultramarino, implicava a estadia do servidor em vá-
rios continentes, circulação fundamental para sacramentar o domínio
metropolitano. O topo da ascensão profissional era a diplomacia, os
ministérios ou posto de gestão nas áreas coloniais, como represen-
tante direto da Coroa.32
A maioria provinha da Escola Politécnica de Lisboa, fundada em
1837, ou do Curso Superior de Letras de Lisboa, criado em 1859, enquanto
um número menor havia realizado seus cursos em Coimbra. Em muitos
casos, formava-se em uma instituição, mas trabalhava-se em outra. Tan-
to a Politécnica quanto o Curso Superior de Letras haviam quebrado o
monopólio do ensino superior exercido pela Universidade de Coimbra,33
tida como modelo de erudição estéril desde o período pombalino.34
De início, a Politécnica habilitava seus alunos para os diferentes
cursos das Escolas de Aplicação do Exército e da Marinha, mas, pos-
teriormente, passou a contemplar também a engenharia civil e, por
intermédio do curso geral, possibilitava informação para profissões
científicas, embora, em razão das escassas oportunidades no país em
relação à profissionalização em atividades científicas, grande parte
do alunado tenha se encaminhado para a vida militar.
Cabe destacar a forte preocupação com o preparo técnico,
que pudesse reverter em benefício do desenvolvimento industrial da
nação, por parte do corpo docente da Politécnica. Essa preocupação
refletia o desejo de alguns dirigentes portugueses de implantar

uma nova consciência nacional que integrasse o homem por-


tuguês no tipo de sociedade valorizada pelo trabalho, que a
Revolução Francesa e a Revolução Industrial inglesa tinham
definido [...] e [...] fazendo sentir ao público a importância real
das atividades técnicas no progresso da Nação.35

Em 1884, Antônio Augusto de Aguiar, lente da Politécnica e,


nesse mesmo ano, presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa e
52
A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

ministro das Obras Públicas, publicou o decreto de criação das esco-


las industriais nas localidades onde já existiam centros de produção.
Aguiar tampouco descurou do ensino comercial, prevendo o curso de
comércio no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa.36
A historiografia portuguesa assinala o papel do ensino das poli-
técnicas e das escolas médico-cirúrgicas no advento do pensamento
positivista em Portugal,37 e o Curso Superior de Letras como sua
antecâmara, principalmente através da atuação de Teófilo Braga,38
encarregado da disciplina de filosofia. Teófilo Braga foi considerado
um dos grandes sistematizadores do positivismo luso, definindo-o,
nas suas linhas essenciais, como um movimento antimetafísico e
antiteológico.39
O positivismo exibia elementos de várias “regiões do pensamen-
to”, como a utopia, manifesta na ideia de evolução da humanidade, a
ciência e outros.40 Todavia, em Portugal de fins do século XIX, o que
predominou foi o alinhamento a Émile Littré, discípulo de Augusto
Comte, que não aceitava a evolução do positivismo em direção à re-
ligião da humanidade.41 Independentemente das diferenças internas,
o positivismo luso cerrava fileiras em torno do cientificismo, isto
é, da ideia de que “a ciência era a forma terminal de conhecimento
humano”.42
Para boa parte dos intelectuais lusos do último quartel dos
Oitocentos, mesmo aqueles que não comungavam das ideias posi-
tivistas, a transformação da sociedade só poderia ser alcançada
através da ciência.43 Este era um traço comum a todos os dirigentes
da Sociedade de Geografia de Lisboa que, independentemente de
sua formação, se preocupavam com a investigação científica e suas
aplicações práticas.
O primeiro presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa,
Januário Correia de Almeida,44 Visconde de São Januário, como ficou
conhecido, encarnou perfeitamente o perfil requerido pelo grêmio
de geografia, tendo ocupado várias posições de relevo na Monar-
quia Constitucional,45 dentre elas a execução de várias missões nas
áreas coloniais e de ex-colônias. O visconde nunca deixou de lado o
interesse científico, muito menos o desejo de conhecer a história das
áreas periféricas por onde andou, como se depreende das eloquen-
tes coleções de objetos de arte e artefatos, relativos ao cotidiano de
populações de diversos pontos da Ásia e da América do Sul, e por ele
mesmo recolhidos.46
A intenção do visconde com esta recolha de artefatos e ma-
teriais provenientes desses locais, principalmente objetos de arte,
era demonstrar a influência das belas-artes entre povos de culturas
53

Cristina Pessanha Mary


distintas – segundo Januário, a arte indiana teria influenciado a China,
entre outras localidades. Essa coleção de Januário se distanciava em
muito daquelas organizadas pela antiga tradição antiquária, para quem
os objetos provenientes do Oriente tinham valor em razão de suas
qualidades decorativas. O conjunto reunido por Januário inseria-se
em uma discussão maior, acerca da evolução, ou não, das artes em
regimes despóticos,47 obedecendo também a outras regras, métodos
e técnicas, afinados com uma nova percepção do mundo, embebida
de grandes doses de cientifização da história.48
O material recolhido em sua viagem à América do Sul, como
múmias peruanas, revelava preocupações arqueológicas e etnológicas.
Com essa coleção, o Visconde de São Januário buscou avançar com
hipóteses relativas à datação e às raças indígenas a que pertenciam.
Sua disposição alinhava-se com o movimento maior, em desenvolvi-
mento na Europa dos Oitocentos, especialmente nos congressos de
arqueologia e pré-história, de se estudar as antiguidades de nações
nas quais a civilização clássica não tivesse chegado.49
Naquele momento, mediante a utilização de novos métodos e
procedimentos oriundos das técnicas da geologia, botânica, paleon-
tologia e estratigrafia,50 a investigação do passado das sociedades
sem escrita tornou-se viável. O interesse de Januário e vários colecio-
nadores no interior da Sociedade de Geografia de Lisboa prendia-se
a esse novo momento da arqueologia, voltado para a evolução da
humanidade. Não foi sem razão que, nas primeiras disposições dos
objetivos da sociedade, já se falava na formação de museus.51
Como uma espécie de premier da geografia lusa, Januário anun-
ciava sua fé no papel da ciência, considerada como uma espécie de
mestra maior, capaz de guiar a todos no caminho do conhecimento
da humanidade:

[...] Já não é só a espada do conquistador que vai abrir um san-


grento traço de união entre as nações distantes, pondo um limite
de ruínas e de destruições aos conhecimentos geográficos, a
ciência moderna caminha por toda a parte, levando o seu facho
divino, sem precisar do funesto amparo das hordas de Áttila
e de Gengiskan. Para este nobre e útil empenho, têm por certo
poderosamente contribuído as sociedades geográficas.

[...] A sua verdadeira missão consiste em imprimir no espírito


da atual geração a necessidade destes trabalhos tão vastos
nos seus detalhes e tão importantes nos seus resultados; em
54
A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

aconselhar o que deve fazer-se; em que territórios as explora-


ções devem ser dirigidas, e qual a necessidade ou valor desses
cometimentos.52

Pessoas como o visconde formavam uma camada, muito próxi-


ma do monarca, fundamental para viabilizar, política e materialmente,
empreendimentos do gênero das sociedades de geografia. Cabe ressal-
tar que foi Januário que, ao assumir a pasta ministerial do ultramar,
determinou a incorporação da Comissão Central de Geografia, criada
por seu antecessor, à Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1880, e não
foi outro, senão ele próprio, quando em missão comercial na América
do Sul, o encarregado de criar junto ao Império brasileiro a Seção do
Rio de Janeiro, em 1878, da qual se tornou presidente-honorário.
Havia, no entanto, um outro agrupamento mais jovem na gerên-
cia da instituição, com carreiras ainda em consolidação, cuja ação foi
crucial para a Sociedade de Geografia de Lisboa e para o movimento
geográfico luso como um todo. Estamos nos referindo a Rodrigo
Afonso Pequito53 e, principalmente, a Luciano Cordeiro,54 envolvidos
na criação do instituto.
Este último foi o baluarte do movimento geográfico luso, um D.
Quixote português nessa luta. Dada a sua versatilidade intelectual,
sua inserção no movimento geográfico foi muito ampla. Sua atuação
não se confinou aos limites da Sociedade de Geografia de Lisboa,
estendendo-se aos jornais, às exposições55 e a diversos fóruns interna-
cionais, a exemplo da Conferência de Berlim, para a qual foi designado
como representante português. Seu parecer nesse fórum terminou
por projetá-lo na política nacional, na qual atuou como deputado pelo
Partido Regenerador.
Sua obra, muito diversificada, chegou a incluir livros de crítica
literária, trabalhos sobre os bancos portugueses, viagens e inúmeros
opúsculos sobre a questão africana. Cordeiro envolveu-se ainda em
várias frentes do movimento geográfico luso e, em um texto seu,
sobre a hidrografia africana do século XVI,56 centrou baterias na de-
monstração da primazia da cartografia lusa em relação aos territórios
africanos. Esforço muito oportuno naquele momento em que Portugal
via-se ultrapassado pelo desenvolvimento de técnicas que permitiram
aos estrangeiros maior agilidade e precisão na representação de in-
formações recolhidas, completando, muitas vezes, antes dos lusos,
os espaços em branco nos mapas das regiões africanas.
Em fins do século XV, os pilotos portugueses observavam a lon-
gitude, através da diferença horária. Em razão da falta de instrumentos
adequados, as medições eram grosseiras, acarretando representações
55

Cristina Pessanha Mary


cartográficas inexatas. Na última década desse mesmo século, já do-
brado o Cabo da Boa Esperança, as medições lusas resultavam em
representações cartográficas distorcidas em relação às distâncias
reais entre as costas ocidental e oriental da África, imagens que “afu-
nilavam” o continente.57
Figura 5 – O traçado da costa ocidental
da África, em fins do século XV

Fonte: SANTOS, Maria Madeira. Op. Cit. 1988.

Já em 1725, o rei português ocupava-se com o projeto de desco-


brir um caminho terrestre entre Angola e Moçambique, contratando
para esta empreitada Buorguignon D’Anville,58 futuro cartógrafo do
rei francês. D’Anville terminou por elaborar uma carta do percurso
entre as duas costas africanas, em bases cartográficas modernas,
precisas, fornecendo uma medida mais exata da distância entre a costa
ocidental e a costa oriental da África, enquanto Portugal, o pioneiro
das aventuras na África, não podia fazê-lo.
O trabalho de Luciano Cordeiro, abordando a primazia da car-
tografia portuguesa na África, gerou um imenso debate entre notáveis
da geografia europeia, debate este que ecoou mesmo depois de sua
56
A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

morte, em 1900. Ao lhe fazer o elogio fúnebre, o inglês Ernest George


Ravenstein,59 conhecido geógrafo da Royal Geographical Society, em
um último adeus, não deixou de contestar as teses de Luciano. Para o
inglês, os levantamentos cartográficos dos territórios africanos reali-
zados pelos lusos não eram pioneiros, mas sim o dos cartógrafos como
D’Anville, que muito antes já haviam desbancado a primazia lusa.60
Luciano Cordeiro, entretanto, incansável, “militava” em outra
frente: no cenário que viu crescer o movimento geográfico luso, o
mesmo que viu multiplicar os jubileus dos grandes nomes e aconte-
cimentos relacionados aos episódios das descobertas, tomados como
modelo para a construção de um novo ideal colonizador. Assim, o
seu legado “geográfico” foi um dos mais expressivos da Sociedade de
Geografia de Lisboa. O eterno secretário-geral61 da Sociedade de Geo-
grafia de Lisboa foi também um grande promotor de festas nacionais.
Por ocasião das comemorações do terceiro centenário de Luiz
de Camões, Cordeiro dedicou ao grande escritor um opúsculo em que
procurava enquadrar sua memória no projeto maior de soerguimento
nacional, ao qual estava atrelado.
As comemorações camonianas, realizadas em 1880, terminaram
mesmo como um evento popular e nacional. Esse caminho, entretanto,
não foi uma opção feita desde o início pela eclética comissão encarre-
gada da celebração. Em meio a propostas mais elitistas, venceu o tom
requisitado por republicanos e monarquistas, especialmente do Parti-
do Regenerador, fora do governo naquele período: um tom nacional e
popular. O Estado e o Partido Progressista terminaram por endossar
as festividades que envolveram multidões, um fulgurante sucesso.62
Como um dos representantes da Sociedade de Geografia na co-
missão encarregada dos festejos, no melhor estilo da história no século
XIX, marcada pelo culto aos grandes heróis e pelas comemorações
de suas façanhas, Luciano Cordeiro, para quem a festa da nação não
era uma recreação literária e nem mesmo um momento para fugir das
dores e desgraças por que passava a nação, mas uma indicação para
o futuro, assim se pronunciou:

[...] Trazemos aqui a memória de Luiz de Camões como um es-


tímulo e como uma repreensão – como um guia e como um juiz.

[...] Abrimos as páginas que ele nos escreveu com o bronze


ardente da sua alma viril, generosa e grande, como quem lê um
libelo ou uma sentença que escrita, há três séculos, cai, severa
e paternal, implacável e salvadora, sobre as almas apoucadas
das gerações portuguesas de hoje. [...] 63
57

Cristina Pessanha Mary


A Sociedade de Geografia de Lisboa tomou parte ativa em muitas
outras celebrações do gênero, como no centenário das Índias em 1897,
ou mesmo nas homenagens a Vasco da Gama, realizadas em 1898.
A apoteose pretendida foi alcançada somente com o nome de
Camões, pois diferentemente de outros vultos da história lusa que
dividiam a opinião dos integrantes daquele grêmio, Luiz de Camões
agregava. Assim, as comemorações ganharam as ruas das cidades
portuguesas, com seus carros alegóricos e suas procissões, verda-
deiras liturgias cívicas de espírito pedagógico, sempre a reavivar o
sentimento patriótico luso.64
Luciano Cordeiro personificava como ninguém esse espírito das
comemorações adotado pela Sociedade de Geografia, expressando
o entendimento que tinha da ciência e da história como um conhe-
cimento de utilidade pedagógica, “mestra da vida”, que apontava
caminhos, julgando os acertos e os equívocos, exercendo o papel de
um verdadeiro tribunal da sociedade.65
A relação de Luciano Cordeiro com o passado português, entre-
tanto, não se esgotou na realização de grandes festas; houve também
uma aproximação através da epigrafia. Esta atividade consagra-se à
descoberta e à leitura das inscrições gravadas sobre suportes como
pedras, metais, enfim, materiais não perecíveis.

Figura 6 – Sala dos Padrões da Sociedade


de Geografia de Lisboa

Fonte: SGL, Sociedade de Geografia de Lisboa, 1875-2000.

O especialista em epigrafia aprendia a ordenar as inscri-


ções decifradas em séries, datando-as e completando as partes
ilegíveis.66Assim, em um outro escrito seu, e que hoje consta de uma
58
A sociedade de geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

antologia da historiografia portuguesa,67 Luciano Cordeiro empenhou-


se em decifrar a “Inscrição de Ielala”,68 grafada em um antigo padrão
de pedra. Esses padrões foram utilizados como marcos da soberania
portuguesa e instalados pelo navegante luso, Diogo Cão, em deter-
minados pontos do trajeto percorrido durante suas viagens à costa
ocidental africana – expedições financiadas pelo governo português,
entre 1482 e 1485.69 Nesse caso, tratava-se do Padrão de Ielala, uma
região de grande significado para Portugal, ponto extremo alcança-
do pelos portugueses durante a transposição do delta do Congo em
direção ao interior africano, ainda no século XV, e considerado como
prova do pioneirismo da presença lusa na África Central.

Figura 7 – A região do Ielala

Fonte: SANTOS, Maria Madeira . Op. Cit. 1988. Adaptação Gráfica: Diógenes Santos.

Lançando mão de uma fotografia das inscrições e considerando


as rochas como testemunhos mais confiáveis do que a memória hu-
mana, por vezes muito ingrata, Luciano Cordeiro completou por meio
de alguns procedimentos, ditos científicos, as lacunas deixadas pelo
tempo nas inscrições e terminou por decifrar a mensagem contida nos
escritos. Para o secretário-perpétuo da Sociedade de Geografia, não
havia sombra de dúvida, nem mesmo quanto à data, conteúdo e autoria
daquela mensagem: tratava-se de um aviso da chegada naquele ponto
de um dos navios de Diogo Cão, durante as primeiras navegações na
costa africana; portanto, muito antes do que qualquer inglês ou belga.
A identificação e a interpretação das inscrições de Ielala, reali-
zadas por Luciano Cordeiro, leva-nos novamente às relações entre a
59

Cristina Pessanha Mary


história e a geografia, e destas com a afirmação nacional portuguesa.
Leva-nos da mesma forma à revitalização da epigrafia, que, a exemplo
da arqueologia, recuperava o fôlego e ganhava um novo conteúdo na
Europa.70
A utilização da epigrafia por Cordeiro, naquele Portugal de
fins do XIX, ligava-se, sobretudo, aos esforços lusos de perfilhar o
passado dos espaços africanos (sem história escrita) tendo em vista
a civilização portuguesa que então se renovava.
A atuação desse artífice da Sociedade de Geografia de Lisboa,
entretanto, não se restringiu à sua capacidade como historiador e
arqueólogo. Foi por seu intermédio que Portugal e a Sociedade de
Geografia de Lisboa foram admitidos na Associação Africana Inter-
nacional, “a criatura institucional” de Leopoldo II da Bélgica, tendo
organizado um comitê nacional da referida associação, que ficou
constituído como uma seção interna da Sociedade de Geografia de
Lisboa, a “Comissão Africana”.
Luciano Cordeiro esteve também envolvido com o projeto de
uma escola colonial para treino dos futuros administradores do além-
mar, bem como com a grande expedição ao interior africano em 1877,
quando três exploradores portugueses foram enviados ao continente
em uma operação casada entre a Sociedade de Geografia de Lisboa e
o governo de Portugal.
Como já é de nosso conhecimento, esta não foi a primeira
experiência lusa nos confins africanos, de há muito conhecidos dos
portugueses, mas foi a primeira empreitada do gênero, projetada du-
rante aquele momento de renovação do colonialismo, quando Portugal,
reunindo todas as suas forças, aferrou-se ao processo de expansão,
tal qual tábua de salvação. Naquele momento, as travessias ganharam
conotação diversa, diante da necessidade de se anunciar, perante as
nações concorrentes, que aquele Portugal renovado não renunciaria
ao seu sonho africano e seria capaz de resolver as questões africanas,
como eram denominados os conhecimentos referentes a nascentes e
cursos dos rios daquele continente.
Sendo assim, a expedição defendida pelo presidente Januário
e pelo secretário-perpétuo da entidade (Cordeiro) foi pensada nos
moldes de uma travessia espetacular, de costa a costa, recolocando
em novas bases a antiga aspiração lusitana. Esse perfil marcadamente
político teve lá seus opositores: nada mais nada menos que o então
ministro do Ultramar, Andrade Corvo, a mesma personalidade que
havia criado um instituto concorrente à Sociedade de Geografia e
que, apesar do apoio à expedição, concebia-a de forma a mantê-la nos
limites dos territórios considerados sob a soberania portuguesa. 71
60
A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

Nessa disputa acerca dos objetivos da exploração de 1877,


venceram todos, pois os três expedicionários enviados dividiram-
se: Hemenegildo Brito Capello72 e Roberto Ivens mantiveram-se
fiéis aos desígnios do ministro Andrade Corvo, limitando a área de
exploração a zonas menores, dentro de uma perspectiva de explorar
gradual, lenta e sucessivamente determinados espaços, enquanto o
lendário explorador Alexandre Serpa Pinto seguiu o sonho de seu
amigo Luciano Cordeiro e, portanto, da Sociedade de Geografia de
Lisboa, buscando atravessar a África, de ponta a ponta, dentro de
uma perspectiva científica e política.
Figura 8 – Mapa simplificado da expedição
portuguesa à África Austral de 1877

Fonte: SANTOS, Maria Madeira . Op. Cit. 1988. Adaptação Gráfica: Diógenes Santos.

As expedições portuguesas prosseguiram pela década de 1880


afora, orientadas antes para áreas específicas do que para grandes
extensões. A pressão externa sobre a região da Bacia do Congo tornou-
se muito maior, sobretudo a partir da Conferência de Berlim, em 1885,
induzindo a esse tipo de incursão, mais intensa e exata, em detrimento
das Travessias Políticas anteriormente ensaiadas. No que se refere às
explorações que se seguiram à de 1877, a participação da Sociedade
de Geografia foi menor. Tal atitude se explicou em razão do desgosto
61

Cristina Pessanha Mary


provocado pela criação de uma Comissão de Cartografia, em 1883,
ligada ao Ministério da Marinha e Ultramar, sobre a qual a Sociedade
de Geografia de Lisboa não obteve nenhum controle, e tendo tal co-
missão ficado encarregada desses empreendimentos.73
Figura 9 – Recepção dos Exploradores Capelo e Ivens.
Iluminação da casa da Sociedade de Geografia de Lisboa

Fonte: Revista O Occidente, n. 243, 1885.

Mesmo assim, o empenho da Sociedade de Geografia de Lisboa


em relação ao colonialismo não recrudesceu e, em junho de 1881,
aprovou-se, na sua Assembleia Geral, a moção intitulada “Apelo ao
Povo Português em Nome da Honra, do Direito, do Interesse e do
Futuro da Pátria”. Esse documento lançou subscrição nacional per-
manente, destinada ao Estabelecimento de Estações Civilizadoras
nos Territórios Sujeitos e Adjacentes ao Domínio Português em Áfri-
ca – as estações previstas deveriam ser instaladas, grosso modo, em
pontos ao longo da área compreendida entre Angola e Moçambique.
Procurava-se, assim, gerar recursos para fortalecer o Fundo Africano
criado pela Comissão Africana.
Durante o tempo em que Luciano Cordeiro esteve com Serpa
Pinto, lado a lado no preparo da travessia que tantas glórias trouxeram
ao expedicionário, fortaleceram-se os laços de amizade entre um e
outro: Serpa Pinto nunca esqueceu os esforços do secretário-perpétuo,
62
A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

que resultaram na confirmação de seu nome para a expedição de 1877,


e Luciano Cordeiro, por sua vez, a partir daí, contou sempre com o
auxílio do herói que o ajudou a engendrar a defesa incondicional do
movimento geográfico luso.
O curriculum vitae de Serpa Pinto atesta seu zelo administra-
tivo, tanto como governador de Cabo Verde quanto como cônsul de
Zanzibar. Entretanto, a formação no colégio militar, sua passagem
pelo Batalhão de Caçadores e, sobretudo, as expedições realizadas,
pontuadas de episódios decididos na ponta das baionetas ligaram sua
imagem, definitivamente, às campanhas em solo africano.
Do memorável relato sobre a expedição de 1877 aos confins da
África, já citado na epígrafe deste capítulo, transbordam episódios dig-
nos de um romance de aventuras, mas também anotações, gravuras,
descrições e medições, tabelas e mapas registrados na publicação.
Em meio àquela narrativa, centrada no levantamento de informações
para o traçado da carta geral da África Austral, Serpa Pinto, como um
lanceiro inclemente, não perdeu nunca a oportunidade de desferir
contundentes críticas aos trabalhos daqueles que lhe antecederam
naquelas paragens. Bem no âmago de suas críticas, a imprecisão das
representações cartográficas confeccionadas até então e a pouca con-
fiabilidade das fontes de informação consultadas por seus concorren-
tes. Nem mesmo o prestigiado missionário, de origem escocesa, David
Livingstone,74 ícone para a geografia inglesa, que tanto contribuiu para
o reconhecimento da nascente do rio Congo, foi poupado: Serpa Pinto
defendeu a necessidade de retificações das cartas confeccionadas pelo
missionário ousando afirmar que Livinsgtone esteve “longe de ser o
explorador geógrafo do futuro”.75
A partir da narrativa de Serpa Pinto, publicada pela primeira vez
em 1881, seu nome rivalizou com o da própria Sociedade de Geografia
de Lisboa. Celebrado por franceses, ingleses, e ainda cortejado por
americanos, chegou mesmo a atravessar o Atlântico, desembarcando
no Brasil no mesmo ano da publicação de seu trabalho, tendo sido
recebido com aplausos e festas no Rio de Janeiro, quando se tornou
sócio honorário do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro.76
Homenageado na Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no
Brasil, em sessão solene e presidida por D. Pedro II, o major discursou
para seleta plateia, composta de nomes da elite brasileira. Instado a
fazer narrativa de sua viagem, Serpa Pinto centrou sua exposição na
“questão africana” e, sem mais delongas, ressaltou a primazia lusa
também no movimento geográfico africano, que então se desenvolvia.
Continuou a mostrar na corte brasileira o mesmo rosto apresen-
tado no seu livro, revelando profundo inconformismo com a campanha
63

Cristina Pessanha Mary


deflagrada pelos ingleses, que não perdiam ocasião “para deprimir
Portugal, alcunhando-o de velho decrépito porque, não podendo ne-
gar os feitos de nossos avós, queria negar os feitos de nós mesmos, e
nossa força de vida atual”.77 Cônscio da necessidade de enfrentar os
inimigos que estavam sempre a desqualificar o papel desempenhado
pelos portugueses na (des)ventura africana que então se desenrolava,
o expedicionário demonstrou à plateia seu conhecimento acerca de
minúcias da hidrografia africana, pretendendo ressaltar as excelências
da cartografia lusa, como já fizera Cordeiro.
Na verdade, Serpa Pinto lutava na mesma trincheira ideológica
do seu amigo Luciano Cordeiro. As críticas do primeiro, procurando
demolir as explorações realizadas pelos ingleses na África, continham
o mesmo veneno daquelas que Luciano Cordeiro desferia contra as
representações cartográficas estrangeiras. Ambos, não podendo
negar os feitos dos concorrentes, procuravam desqualificá-los a todo
custo. Ao criticar métodos, fontes e técnicas das nações inimigas,
procuravam legitimar as realizações da nação portuguesa, uma nação
empenhada no resgate do orgulho nacional, questão-chave para os
associados da Sociedade de Geografia de Lisboa.
A cruzada para levar civilização à África foi travada assim em vá-
rios níveis, tanto pelo uso das baionetas, pelos esforços das travessias,
como também no plano dos símbolos. Foi, sobretudo nesta instância,
que as geografias do Visconde de Januário, Serpa Pinto, e de Luciano
Cordeiro, aparentemente tão distintas, adquiriram surpreendente
coerência: quando pensadas como representação do espaço africano,
inscritas na história que ora se construía naquele Portugal.
O compromisso dos ilustres dirigentes da Sociedade de Geogra-
fia de Lisboa com o colonialismo, um pilar do movimento de renovação
nacional, pode ser exemplificado à exaustão, já que este ideal, como
seiva vital, irrigava todas as artérias do instituto, desde a coleção de
boletins, repleta de artigos focalizando a África, até o emblema da So-
ciedade, onde se lia a inscrição “por mares nunca dantes navegados”,
de Luis de Camões, o guia e juiz da nação, como afirmara Cordeiro.
Compromisso que procurou enraizar-se também em outras localidades
do país e do ultramar, mediante o estabelecimento de uma política de
criação de seções externas, em Portugal e no ultramar.

2.3. A política de criação de filiais

Naquela conjuntura de aflição, em que, cada vez mais, o “pensar


Portugal” se confundiu com o “pensar o império”78, a necessidade
de conjugar esforços para enfrentar as investidas concorrentes nos
64
A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

territórios africanos ensejou a política, estabelecida pela primeira


geração de colonialistas portugueses, encastelados na Sociedade de
Geografia de Lisboa, de autorizar seções externas.79 Essas filiais deve-
riam ser criadas nas diversas localidades onde fosse possível reunir
sócios correspondentes em número suficiente,80 e dispostos a aderir
ao movimento geográfico, defendendo, propagando e representando
os interesses portugueses e da sociedade matriz em Lisboa.
Assim, em 1878 foram autorizadas filiais nas cidades de Braga,
Porto e Rio de Janeiro. Nos três anos seguintes, foram criadas de fato
as sucursais do Brasil, Porto e do Faial, nos Açores. Esta última esteve
muito calcada na participação ativa de dois sócios correspondentes
que, embora empenhados na organização daquela filial, não lograram
desenvolver seus intentos: em 1881, a filial do Faial contava apenas
com 25 associados, um número ínfimo, se compararmos com a seção
brasileira, como veremos no capítulo a seguir.81
Braga, Funchal e Coimbra respondiam por um bom número de
sócios correspondentes, e, talvez por isso, ou seja, por essa adesão
espontânea, não se sabe ao certo, a sociedade-mãe em Lisboa não
buscou implantar uma seção externa naquelas localidades. Na ver-
dade, Lisboa voltou-se para a cidade do Porto, criando naquele sítio,
em 1880, uma filial: a Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no
Porto.82
No entanto, em um processo muito similar àquele ocorrido
na França, quando a Sociedade de Geografia de Paris se viu cercada
por institutos concorrentes, a cidade do Porto foi tomada por outras
sociedades de geografia. No mesmo ano em que Lisboa tomou a
iniciativa de instalar uma sucursal no Porto, a geografia da cidade
ramificou-se, isto é, criaram-se duas outras agremiações, a saber: a
Sociedade de Geografia Comercial do Porto e a Sociedade Portuense
de Geografia.83
Nesse caso, houve um grande embate entre a Sociedade de
Geografia Comercial do Porto, presidida por Joaquim Pedro Oliveira
Martins e a sociedade pioneira, de Lisboa.
Oliveira Martins, destacado romancista, conhecido também
por suas intervenções na política, esteve ligado primeiramente ao
Partido Republicano e posteriormente ao movimento socialista. Du-
rante sua vida, manteve-se como engenheiro de caminhos de ferro, o
que lhe conferiu uma experiência prática que o distinguia de muitos
dos intelectuais de sua geração.84 Para ele, tanto a cidade do Porto
quanto Portugal possuíam uma vocação eminentemente comercial,
necessitando debruçar-se sobre questões como a dinamização da cir-
culação dos produtos, a melhoria dos caminhos de ferro ou da viação
65

Cristina Pessanha Mary


marítima, enfim, tudo que dissesse respeito à resolução imediata de
questões econômicas.
Nesta perspectiva, as pendências científicas e especulativas
viriam depois da resolução dos entraves comerciais. Na verdade, uma
postura inversa àquelas professadas pelo grupo positivista e disse-
minada na Sociedade de Geografia de Lisboa quanto à ênfase dada à
ciência.85 Em relação à colonização africana, Oliveira Martins também
professava ideias opostas aos grupos hegemônicos na Sociedade de
Geografia de Lisboa, não comungando com a ideia de que o africano
seria civilizável. Segundo seu pensamento, o papel reservado aos
portugueses no além-mar se restringiria ao de negociante ou de fazen-
deiro, atividades que forçosamente incluiriam a exploração bárbara,
com ou sem escravidão.
A incompatibilidade entre as prioridades da Sociedade de
Geografia Comercial do Porto e as dos articulistas da Sociedade de
Geografia de Lisboa não contribuíram muito para o crescimento da
geografia naquela região, isto é, na cidade do Porto, não nos moldes
requeridos por Lisboa, o que nos remete agora à sorte da Seção da
Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, criada em 1878, e que
suscitou na matriz uma enorme expectativa de sucesso, considerando
a existência de uma importante colônia lusa no Brasil.

Notas
1 A expressão “Nação Abatida” foi emprestada da obra A Ilustre Casa de Ramirez
(QUEIROZ, Eça. A ilustre Casa de Ramirez. São Paulo: Martin Claret, 1999).
2 SERPA PINTO, Alexandre. Como eu atravessei a África: carabina D’el Rei. v. 1. [S.l.]:
Publicações Europa – América, 1979 e SERPA PINTO, Alexandre. Como eu atraves-
sei a África: a família Coillard. v. 2. [S.l.]: Publicações Europa – América, 1979. Na
versão original, de 1881, editada em português, em Londres, por Sampson Low,
Marston, Searle e Rivington, constou o seguinte subtítulo: “do Atlântico ao mar
Índico, viagem de Benguela à contra-costa, através das regiões desconhecidas, deter-
minações geográficas e estudos etnográficos.”
3 HOBSBAWM, Eric. Nações e nacionalismos desde 1870. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
p. 42.
4 O que sempre esteve em jogo nos conflitos entre liberais foram os limites do poder
do monarca, a maior ou menor participação popular na condução da política, en-
fim, o grau de liberalismo e a democracia da monarquia constitucional.
5 MARQUES, A. H. Oliveira. Breve História de Portugal. Lisboa: Presença, 1995.
6 CERVO, Luiz Amado. As primeiras missões de lado a lado e o reconhecimento da
independência. In: ______. (Org.). Depois das caravelas: as relações entre Portugal
e Brasil, 1808-2000. Brasília, DF: UnB, 2000.
7 MARQUES, A. H. Oliveira. Breve História de Portugal. Lisboa: Presença, 1995.
8 REIS, Jaime. As causas históricas do atraso econômico português. In: TENGA-
RINHA, José (Org.). História de Portugal. São Paulo: Edusp: Unesp; Portugal: Insti-
tuto Camões, 2000.
66

9 Antero de Quental, poeta português, foi autor de vários opúsculos, envolvendo-se


A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

em grandes debates. Tanto no plano literário quanto no plano real, buscou a re-
novação da sociedade, à luz de um espectro de ideias marcadas por ideais socialis-
tas (SARAIVA, Antonio José. História da Literatura Portuguesa. Lisboa: Publicações
Europa-América, 1963).
10 As Conferências Democráticas aconteceram no Cassino Lisboense, no ano de 1871.
No programa dos debates, formulado por Antero de Quental, Eça de Queirós e ou-
tros, procurava-se dar voz às ideias de transformação social, moral e política dos
povos (MONICA, Maria Filomena. Eça: vida e obra de José Maria Eça de Queirós.
São Paulo: Record, 2001). Os objetivos assinalados no Programa das Conferências
incluíam a ideia de ligar Portugal ao movimento moderno, adquirindo consciência
dos fatos que aconteciam na Europa (MOTA, Maria Aparecida Rezende. Brasil e
Portugal: imagens de Nação na Geração de 70 do século XIX. Tese (Doutorado em
História) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998).
11 SÁ, Victor. Esboço histórico das ciências sociais em Portugal. Portugal: Instituto de
Cultura Portuguesa, 1978.
12 Muitas vozes não fizeram coro com esse movimento colonialista. Por exemplo,
o escritor Oliveira Martins considerava a colonização uma quimera liberal. Os
republicanos assinavam embaixo do movimento, mas discordavam dos métodos
(SANTOS, Maria Madeira. Viagens de exploração terrestre dos portugueses em Áfri-
ca. Lisboa: Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1988).
13 QUEIROZ, Eça. A relíquia. Porto: Lello e Irmão, 1984. p. 295.
14 GUIMARÃES, Ângela. Uma corrente do colonialismo português: a sociedade de
Geografia de Lisboa, 1875, 1895. Porto: Livros Horizonte, 1984.
15 No passado, existiu a Academia Real de História, criada por decreto régio em 1720
e formada essencialmente por clérigos. Todavia, esta entrou em crise antes mesmo
do findar daquele século; ainda assim, produziu títulos referentes principalmente
à genealogia da Casa Real. Somente na República, já em 1911, criou-se a Sociedade
Nacional de História, cabendo notar que a convocação para a organização do grê-
mio de história partiu de grupos instalados na própria Sociedade de Geografia de
Lisboa.
16 Requerimento em que se expôs ao governo os intuitos da Sociedade de Geogra-
fia de Lisboa, bem como se pediu a aprovação dos estatutos (SOCIEDADE DE
GEOGRAFIA DE LISBOA. Livro comemorativo dos 75 anos de atividades a serviço da
ciência e da nação, 1875-1950. Lisboa, 1950. p. 8).
17 SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. Livro comemorativo dos 75 anos de ativi-
dades a serviço da ciência e da nação, 1875-1950. Lisboa, 1950. p. 17.
18 “Estatutos da Sociedade de Geografia de Lisboa, 1875, Art. 1o Apud PEREIRA, Maria
Manuela Cantinho. O Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa: mod-
ernidade, colonização e alteridade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Funda-
ção para a Ciência e a Tecnologia, Ministério da Ciência e do Ensino Superior, 2005.
p. 149.
19 Estatutos da Sociedade de Geografia de Lisboa Apud GUIMARÃES, Ângela. Uma
corrente do colonialismo português: a sociedade de Geografia de Lisboa, 1875,1895.
Porto: Livros Horizonte, 1984.
20 O golpe final nas pretensões portuguesas de estender seus domínios na África,
costa a costa, de Angola a Moçambique, ocorreu por ocasião do ultimato. A con-
sequência política mais violenta desse ultimato inglês foi a revolta da guarnição
militar do Porto, que chegou a proclamar um governo provisório. Este episódio foi
considerado como um importante acontecimento no percurso para a proclama-
ção da República, em 1910. Foi, enfim, uma tentativa popular, mediante alteração
do regime político, de recuperar o prestígio nacional, abalado pela intervenção
inglesa (MARQUES, A. H. de Oliveira. A revolução de 31 de Janeiro de 1891. Lisboa:
Biblioteca Nacional, 1991).
67

21 SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. Livro comemorativo dos 75 anos de ativi-

Cristina Pessanha Mary


dades a serviço da ciência e da nação, 1875-1950. Lisboa, 1950.
22 PEREIRA, Maria Manuela Cantinho. O Museu Etnográfico da Sociedade de Geogra-
fia de Lisboa: modernidade, colonização e alteridade. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Ministério da Ciência e do
Ensino Superior, 2005.
23 ATA da Sessão de 12-8-1878. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa,
série 1, n. 4, 1878. p. 329.
24 Da densa obra de Reclus, seria interessante lembrar o título “Estados Unidos do
Brasil”, parte integrante da Nouvelle Geographie Universelle, publicada em 1890
pela Garnier e traduzida pelo Barão de Ramiz, membro da Seção da Sociedade
de Geografia de Lisboa no Brasil. A importância política de Reclus, no entanto,
transcendeu aos seus livros. Francês de nascimento, aluno de Karl Ritter, tendo
chegado a morar também nos Estados Unidos, Irlanda e outros lugares, ficou muito
marcado pelos seus ideais anarquistas, chegando mesmo a ser exilado durante o
reinado de Napoleão III. Contudo, como grande amigo de Henry Duveyirier, Reclus
simpatizou com a vertente colonialista defendida por ele (HEFFERNAN, Michael
J. The forms of French Imperialism. In: GODLEWSKA, Anne; SMITH, Neil (Org.).
Geography and empire. Londres: Institute of British Geographers, 1994; ANDRADE,
Manoel. Atualidade do pensamento de Élisée Reclus. In: ______. (Org.). Élisée Rec-
lus. São Paulo: Ática, 1985.
25 BOLETIM da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, série 11, n. 1, 1892.
26 SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. Livro comemorativo dos 75 anos de ativi-
dades a serviço da ciência e da nação, 1875-1950. Lisboa, 1950.
27 PEREIRA, Maria Manuela Cantinho. O Museu Etnográfico da Sociedade de Geogra-
fia de Lisboa: modernidade, colonização e alteridade. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Ministério da Ciência e do
Ensino Superior, 2005.
28 João de Andrade Corvo, figura de proa da política portuguesa, pelo partido rege-
nerador, desempenhou importantes funções no serviço público. Iniciou sua car-
reira como militar, tornou-se ministro plenipotenciário em Madri e Paris. Entre
suas atividades científicas destacam-se o fato de ter sido lente da Escola Politéc-
nica de Lisboa e sua militância na Associação dos Arqueólogos Portugueses. De
sua obra podemos destacar aquelas relativas ao tema das províncias ultramarinas
e a questão da agricultura (SILVA, Francisco Inocêncio da. Dicionário bibliográfico
Português. Lisboa: Imprensa Nacional, 1858-1914. 21 v.).
29 PEREIRA, Maria Manuela Cantinho. A Seção do Rio de Janeiro. In: ______. O Mu-
seu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa: modernidade, colonização e
alteridade. Lisboa: Fundação C. Gulbenkian, Fundação C.Tecnologia, 2005.
30 GUIMARÃES, Ângela. Uma corrente do colonialismo português: a sociedade de
Geografia de Lisboa, 1875-1895. Porto: Livros Horizonte, 1984.
31 A nobreza portuguesa possuía características específicas em relação às suas
coirmãs na Europa. Um traço marcante, que a acompanhou desde os seus primór-
dios, foi o valor conferido aos feitos militares. Os títulos eram concedidos pelas
cartas de mercês. Uma outra característica era o princípio da hereditariedade
presuntiva, o que implicava que para cada novo título dependia-se de um novo
decreto (SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca
nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000).
32 CURY, Vânia Maria. “Presença portuguesa: bases para a expansão das profissões
liberais no Brasil. In: LESSA, Carlos (org.). Os Lusíadas na aventura do Rio Moderno.
Rio de Janeiro: Record, 2002.
33 De 1555 até 1759, sob o controle dos Jesuítas, Coimbra foi o baluarte do ensino
escolástico, firmemente ancorado na retórica, ajudando a manter Portugal longe
68

dos avanços da ciência moderna (CARVALHO, José Murilo. História Intelectual no


A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

Brasil. Topói, Rio de Janeiro, n. 1, p. 123-152, 2000).


34 CARVALHO, Rômulo. História do ensino em Portugal: desde a fundação da naciona-
lidade até o fim do regime de salazar-caetano. Lisboa: Fundação Calouste Gulben-
kian, 2001. p. 569.
35 CARVALHO, Rômulo. História do ensino em Portugal: desde a fundação da naciona-
lidade até o fim do regime de salazar-caetano. Lisboa: Fundação Calouste Gulben-
kian, 2001.
36 CARVALHO, Rômulo. História do ensino em Portugal: desde a fundação da naciona-
lidade até o fim do regime de salazar-caetano. Lisboa: Fundação Calouste Gulben-
kian, 2001.
37 CATROGA, Fernando. Os caminhos polêmicos da geração nova. In: MATTOSO, José
et al. História de Portugal: o liberalismo (1807-1890). Lisboa: Estampa, 1998. v. 5, p.
483-494.
38 Joaquim Teófilo Fernandes Braga (1843-1924), doutor em direito por Coimbra, ga-
nhou celebridade como escritor. Sua obra é vastíssima. Foi professor e diretor do
Curso Superior de Letras. Positivista, foi também um dos fundadores do Partido
Republicano Português, cujo programa redigiu. Presidente do diretório do partido
em 1910, foi escolhido para chefiar o governo provisório do regime republicano
instaurado. Chegou à presidência da República em 1915. Teófilo Braga integrou
o Conselho da Sociedade de Geografia de Lisboa, mas logo desistiu do cargo
(MARQUES, A. H. de Oliveira (Org.). Antologia da historiografia portuguesa: de Her-
culano aos nossos dias. Lisboa: Publicações Europa-América, 1975; SOCIEDADE DE
GEOGRAFIA DE LISBOA. Setenta e cinco anos de atividades ao serviço da ciência e
da nação: 1875-1950. Lisboa, 1950).
39 CATROGA, Fernando. Ritualizações da história: as comemorações como liturgias
cívicas. In: TORGAL, Luiz Reis et al. História da história de Portugal: da historiogra-
fia à memória histórica. Lisboa: Temas e Debates, 1998.
40 CARVALHO, José Murilo de. A formação das Almas: o imaginário da República do
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
41 CARVALHO, José Murilo de. A formação das Almas: o imaginário da República do
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
42 CATROGA, Fernando. Ritualizações da história: as comemorações como liturgias
cívicas. In: TORGAL, Luiz Reis et al. História da história de Portugal: da historiogra-
fia à memória histórica. Lisboa: Temas e Debates, 1998.
43 CATROGA, Fernando. Os caminhos polêmicos da geração nova. In: MATTOSO, José
et al. História de Portugal: o liberalismo (1807-1890). Lisboa: Estampa, 1998. v. 5, p.
495-504.
44 Januário tornou-se barão em 1886, visconde no ano seguinte e conde em 1889 (NO-
BREZA de Portugal. Lisboa: Editorial Enciclopédia, 1961).
45 Januário esteve entre os Pares do Reino, integrou também o Conselho de Estado,
estando à frente da Pasta da Marinha e do Ultramar em 1880 e do Ministério da
Guerra em 1886. Homem de sucesso, tanto nas fileiras militares, como ajudante
de campo de D. Luiz e general de divisão, quanto na administração do reino (gov-
erno de Braga e do Funchal) e dos territórios coloniais (governo-geral de Cabo
Verde, Macau e Timor); destacou-se ainda na diplomacia como ministro plenipo-
tenciário na China, Japão e no antigo Sião, hoje Tailândia. Entre as várias missões
que lhe foram confiadas, Januário avaliou para o governo português, junto às
várias Repúblicas da América do Sul, a possibilidade de se estabelecerem relações
comerciais de exploração agrícola e mineralógica (NOBREZA de Portugal. Lisboa:
Editorial Enciclopédia, 1961).
69

46 CANTINHO, Manuela. O colecionador Visconde de São Januário: orientalismo e

Cristina Pessanha Mary


americanismo nas coleções oitocentistas. Boletim da Sociedade de Geografia de
Lisboa, Lisboa, série 120, n. 1-2, dez. 2001/ jan. 2002.
47 CANTINHO, Manuela. O colecionador Visconde de São Januário: orientalismo e
americanismo nas coleções oitocentistas. Boletim da Sociedade de Geografia de
Lisboa, Lisboa, série 120, n. 1-2, dez. 2001/ jan. 2002.
48 GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Para reescrever o passado como História: o
IHGB e a Sociedade dos Antiquários do Norte. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA, Antônio
Augusto Passos (Org.). Ciência, civilização e império nos trópicos. Rio de Janeiro:
Access, 2001.
49 CANTINHO, Manuela. O colecionador Visconde de São Januário: orientalismo e
americanismo nas coleções oitocentistas. Boletim da Sociedade de Geografia de
Lisboa, Lisboa, série 120, n. 1-2, dez. 2001/ jan. 2002.
50 GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Para reescrever o passado como História: o
IHGB e a Sociedade dos Antiquários do Norte. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA, Antônio
Augusto Passos (Org.). Ciência, civilização e império nos trópicos. Rio de Janeiro:
Access, 2001.
51 A preocupação com coleções, principalmente aquelas de viés etnográfico, já in-
tegrava o horizonte de muitos no interior da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Naquele período, Andrade Corvo, da Comissão Permanente de Geografia, inte-
grada à Sociedade de Geografia, já previa uma política de mostrar Portugal, suas
gentes e suas colônias em um espírito de troca científica com outras nações euro-
peias (PEREIRA, Maria Manuela Cantinho. A Seção do Rio de Janeiro. In: ______. O
Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa: modernidade, colonização
e alteridade. Lisboa: Fundação C. Gulbenkian, Fundação C.Tecnologia, 2005).
52 Visconde de Januário Apud GUIMARÃES, Manoel Luiz Lima Salgado. Nação e civi-
lização nos trópicos: o IHGB e o Projeto de uma História Nacional. Estudos Históri-
cos, Rio de Janeiro, v. 1, n.1, p. 5-27, 1988.
53 Pequito, lente do Instituto Industrial de Lisboa, muito atuante na política nacional,
esteve sempre ao lado de Cordeiro, desde a fundação da sociedade.
54 Luciano Baptista Cordeiro de Sousa (1844–1900) realizou seus primeiros estudos
no Funchal, assentou praça na Companhia dos guarda-marinhas em 1862 e, mais
tarde, concluiu o curso Superior de Letras e, talvez por isso, tenha tido tanta
influência do pensamento positivista. Em 1871, foi nomeado pelo Ministério da
Guerra para professor de literatura e filosofia do Colégio Militar; um ano mais
tarde, criou com seu irmão, Francisco Maria Cordeiro de Souza, diplomata de car-
reira, a Cia. dos Carris de Ferro de Lisboa. Entre outras atividades, destacou-se na
Comissão para Reforma do Ensino Artístico e Formação dos Museus Nacionais. No
jornalismo, foi proprietário do Jornal do Comércio de Lisboa, criador da Revista de
Portugal e Brasil, tendo escrito em inúmeros periódicos, a saber: Voz Acadêmica;
Revolução de Setembro; Atualidade, Comércio Português, Diário de Noticias e outros
(Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. v. 7. Lisboa: Editorial Enciclopédia,
1961; MOREIRA, Adriano. Nos 125 anos de Sociedade de Geografia e centenário da
morte de Luciano Cordeiro. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa,
série 118, n. 1-16, p 13-17, p 20-24, jan./ dez. 2000.
55 Luciano Cordeiro veio ao Brasil, em 1879, na qualidade de diretor da primeira Ex-
posição Portuguesa a ser realizada no Brasil. A exposição era uma iniciativa da
Companhia Fomentadora das Indústrias e Agriculturas de Portugal e suas Colô-
nias, de que, juntamente com seu irmão, era um fundador. PEREIRA, Maria Manu-
ela Cantinho (PEREIRA, Maria Manuela Cantinho. A Seção do Rio de Janeiro. In:
______. O Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa: modernidade,
colonização e alteridade. Lisboa: Fundação C. Gulbenkian, Fundação C.Tecnologia,
2005).
70

56 CORDEIRO, Luciano. L’hydrographie africaine au XVIe siècle d’après les premières


A Sociedade de Geografia de Lisboa: refazendo a “nação abatida”

explorations portugaises. In: ______. Questões histórico-coloniais. v. 2. Lisboa: Agên-


cia Geral das Colônias, 1936.
57 SANTOS, Maria Madeira. Viagens de exploração terrestre dos portugueses em África.
Lisboa: Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1988.
58 O cartógrafo do rei de França, Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville (1697-1782), se
destacou por realizar representações do interior de vários continentes, inclusive
do africano. D’Anville já trabalhava com uma cartografia bem mais precisa, inaugu-
rada por César-François Cassini de Thury, membro de uma importante família de
astrônomos franceses (KUPCIK, Ivan. Cartes géographiques anciennes: évolution de
la représentation cartographique du monde: de l’ Antiquitité à la fin du XIXe siècle.
Paris: Grund, 1981).
59 Ernest George Ravenstein, destacado sócio da Royal Geography Society, passou à
posteridade por seus trabalhos relativos às leis da imigração, verdadeiro clássico
dessa temática. Ravenstein escreveu também sobre etnologia, tendo pertencido à
Statistical Society de Londres.
60 LUCIANO Cordeiro no estrangeiro. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa,
Lisboa, série 18o, n.12, p. 687-692, dez. 1902.
61 Luciano Cordeiro, em razão de sua reconhecida dedicação à causa da Sociedade
de Geografia de Lisboa foi eleito secretário-perpétuo daquele estabelecimento,
desde 1882 (SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. Setenta e cinco anos de ativi-
dades ao serviço da ciência e da nação: 1875-1950. Lisboa, 1950).
62 CATROGA, Fernando. Ritualizações da história: as comemorações como liturgias
cívicas. In: TORGAL, Luiz Reis et al. História da história de Portugal: da historiogra-
fia à memória histórica. Lisboa: Temas e Debates, 1998.
63 CORDEIRO, Luciano. O centenário de Camões. Lisboa: Typographia de J. H. B Verde,
1880.
64 Para uma análise do significado das comemorações portuguesas, ver, sobretudo,
CATROGA, Fernando. Ritualizações da história: as comemorações como liturgias
cívicas. In: TORGAL, Luiz Reis et al. História da história de Portugal: da historiogra-
fia à memória histórica. Lisboa: Temas e Debates, 1998.
65 GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. História e natureza em von Martius: esquadri-
nhando o Brasil para construir a nação. História, Ciências, Saúde, Rio de Janeiro, v.
7, n. 2, p. 389-410, jul./ out. 2000.
66 ANDREAU, J. Epigrafia. In: BURGUIÈRE, André (Org.). Dicionário das ciências
históricas. Rio de Janeiro: Imago, 1993.
67 Salientando o que possa ter passado despercebido aos que nos leem, lembramos
termos extraído do texto de Luciano Cordeiro, de uma antologia de historiografia
portuguesa (CORDEIRO, Luciano. A inscrição de Ielala. In: MARQUES, Oliveira A.H.
(Org.). Antologia da historiografia portuguesa: de Herculano aos nossos dias. v. 2.
Lisboa: Publicações Europa-América,1975).
68 Ielala é a denominação geral do penedo de mesmo nome, existente na zona das
cataratas do rio Congo.
69 MORAES, Antônio Carlos Robert. Bases da formação territorial do Brasil: o ter-
ritório colonial brasileiro no “longo” século XVI. São Paulo: Hucitec, 2000.
70 GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Para reescrever o passado como História: o
IHGB e a Sociedade dos Antiquários do Norte. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA, Antônio
Augusto Passos (Org.). Ciência, civilização e império nos trópicos. Rio de Janeiro:
Access, 2001.
71 SANTOS, Maria Emília Madeira. Das travessias científicas à exploração regional em
África: uma opção da Sociedade de Geografia de Lisboa. Boletim da Sociedade de
Geografia de Lisboa, Lisboa, série 104, n. 7-12, jul./ dez.1986.
71

72 Roberto Ivens e Hermenegildo Carlos de Brito Capello foram os dois companhei-

Cristina Pessanha Mary


ros de Serpa Pinto na heroica tentativa de travessia do continente africano, em
1877. O grupo cindiu-se em plena travessia, opondo a dupla Ivens e Capello de um
lado, e Serpa Pinto, que terminou sozinho sua viagem, de outro. Todos chegaram a
retornar aos territórios africanos, tendo publicado livros sobre as incursões. Ivens
e Capello nunca desfizeram sua parceria.
73 SANTOS, Maria Emília Madeira. Das travessias científicas à exploração regional em
África: uma opção da Sociedade de Geografia de Lisboa. Boletim da Sociedade de
Geografia de Lisboa, Lisboa, série 104, n. 7-12, jul./ dez.1986. p. 78.
74 O missionário de origem escocesa, David Livingstone, formado pelo seminário So-
ciedade Missionária de Londres, iniciou sua carreira disposto a levantar, mundo
afora, locais para estabelecimento de novas missões. Ao final de sua vida, em 1873,
já havia conquistado a simpatia dos ingleses por seus feitos na África, como a
travessia de Luanda, na costa ocidental, até Quelimane, na orla oposta, as tenta-
tivas de identificação da nascente do Nilo e o reconhecimento do rio Luabala, na-
scente do rio Congo, porta de entrada para a região central da África. Livinsgstone
foi agraciado com a medalha de ouro da Royal Geographical Society, e, com apoio
do seu presidente, Roderick Murchinson, também escocês, obteve apoio finan-
ceiro do governo inglês e de potentados (DUGARD, Martin. No coração da África.
Rio de Janeiro: Record, 2004; WESSELING, H. L. Dividir para dominar: a partilha da
África 1880-1914. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, Revan, 1998).
75 PINTO, Serpa. Como eu atravessei a África: a família Coillard. v. 2. [S.l.]: Publicações
Europa–América, 1979.
76 DICIONÁRIO biobibliográfico de sócios estrangeiros (século XIX). v. 1. Rio de Ja-
neiro: IHGB, 2001.
77 REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, n. 3-5, jun./ ago. 1881.p. 63-112.
78 Sobre esta superposição entre pensar a nação e o império, ver TOMAZ, Omar Ri-
beiro. In: L’ ESTOILLE, Benoit de; NEIBURG, Frederico; SIGAUD, Lygia. Antropologia,
impérios e estados nacionais. Rio de Janeiro: Relume Dumará: FAPERJ, 2002.
79 SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. “Publicações, vol. II, n. 10, Documento IX.,
1881-1883.
80 Adesão de 12 sócios, residentes na localidade, se esta fosse portuguesa, e o dobro,
caso fosse estrangeira (SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. Publicações, Lis-
boa, v. 2, n. 10, documento 10, 1881-1883).
81 PEREIRA, Maria Manuela Cantinho. A Seção do Rio de Janeiro. In: ______. O Museu
Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa: modernidade, colonização e al-
teridade. Lisboa: Fundação C. Gulbenkian, Fundação C.Tecnologia, 2005. p. 198.
82 Ibidem.
83 MARQUES, A. H. de Oliveira (Org.). Antologia da historiografia portuguesa: de Her-
culano aos nossos dias. v. 2. Lisboa: Publicações Europa-América, 1975; SARAIVA,
Antônio José. História da Literatura Portuguesa. Lisboa: Publicações Europa-Améri-
ca, 1963.
84 PEREIRA, Maria Manuela Cantinho. A Seção do Rio de Janeiro. In: ______. O Museu
Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa: modernidade, colonização e al-
teridade. Lisboa: Fundação C. Gulbenkian, Fundação C.Tecnologia, 2005.
85 MARTINS, Oliveira, 1881 Apud PEREIRA, Maria Manuela Cantinho. A Seção do Rio
de Janeiro. In: ______. O Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa:
modernidade, colonização e alteridade. Lisboa: Fundação C. Gulbenkian, Funda-
ção C.Tecnologia, 2005. p. 209.
3. SEÇÃO E SECESSÃO

[...] A seção da Sociedade de Geografia de Lisboa do Brasil,


nesse nobre país que fala como nós a língua de Camões, e que
partilha conosco, perante a história, as glórias de tantos sábios
e de tantos heróis, pode e há de prestar eminentes serviços a
esta grande e generosa causa em que anda empenhado o mun-
do, e de que nos prezamos de ser fieis e dedicados soldados.

[...] Largo é o campo aberto a vossa inteligência, sedutores


problemas se oferecem a vossa investigação acrisolada, nobres
e honrosos trabalhos vos estão naturalmente consignados
neste belo e vastíssimo país, nas diversas províncias das
ciências geográficas. Muitos e notáveis esforços e empreen-
dimentos registra já a história científica do grande império
sul-americano, mas tão vasto, tão novo e tão imponente é
o Brasil que bem pode dizer-se que a nossa geografia física
não escreveu ainda a sua última palavra, que a nossa fauna, a
nossa flora, os aptidos [sic] variadíssimos do solo brasileiro,
a nossa hidrografia, a nossa meteorologia, a nossa etnografia,
a nossa história, têm largos capítulos a elaborar, muita luz a
oferecer à ciência, muitas revelações importantíssimas a fazer
ao trabalho. A partir disso não há de certamente esquecer-vos
o assunto que forçosamente se impõe ao patriotismo de uns
e à fraternidade de outros e ao espírito esclarecido de todos,
não há de esquecer-vos o generoso auxílio que esperamos de
vós e os esforços e os empenhos que assoberbam o mundo
europeu, e os que particularmente preocupam e agitam este
velho Portugal, o honrado patriarca das descobertas e das
explorações geográficas que primeiro abriu a civilização e a
ciência moderna às barreiras do mundo inteiro.1

No ofício enviado pela Sociedade de Geografia de Lisboa, dirigido ao


presidente da Seção Brasileira, Cândido Mendes, em 1880, e em meio às con-
gratulações pela concessão da proteção real por D. Pedro II à Seção, revela-se
o significado desta no Brasil. Tomando como próprias as terras brasileiras,
intencionalmente confundindo suas geografias, a matriz em Lisboa intima sua
filial no Brasil a cooperar, explicitando-se a ideia subjacente ao projeto luso:
das seções esperava-se o envolvimento “fraterno” nas questões enfrentadas
74
Seção e Secessão

pela “pátria portuguesa”. A política de criação de seções, na verdade,


riscava com todo zelo o plano de estender os seus “tentáculos”, atre-
lando os objetivos das seções ao colonialismo português em África,
razão de ser também da Seção no Brasil.2
Na contramão da geografia pretendida pelos portugueses,
alguns setores na filial chegaram a imaginar uma geografia que explo-
rasse os confins dos sertões brasileiros e não africanos. Para entender
esse sonho, será preciso conhecer melhor as entranhas da Seção.

3.1. A criação da Seção da Sociedade de Geografia


de Lisboa no Brasil

Wanderley Pinho, em seu livro sobre os salões do segundo


reinado, afirmou que, logo após o término da Guerra do Paraguai, em
1870, a “vida social reanimou-se com a intensidade de uma reação”,3
esta, a nosso ver, uma imagem interessante para resumir também a
vida política nos últimos anos do Império, marcada pelo inconfor-
mismo, crescente e disseminado, de diversos grupos, em relação a
vários pontos da organização da sociedade, como a escravidão, a
centralização, o regime político, a união da Igreja e do Estado. Foi nesta
conjuntura que o Visconde de São Januário reuniu na legação de Por-
tugal no Rio, então sua residência, quatorze sócios-correspondentes
da Sociedade de Lisboa, na sua maior parte brasileiros membros da
elite, para constituir uma filial da Sociedade de Geografia de Lisboa
na cidade do Rio de Janeiro.4
No discurso proferido durante a reunião de criação da Seção
da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, em 1878, o Visconde de
São Januário arrolou os motivos pelos quais a Sociedade de Geografia
de Lisboa decidira criar filiais nas localidades com mais de 20 sócios-
correspondentes. Em prol da ciência, que apagaria as diferenças
entre portugueses e brasileiros, foi realizada verdadeira campanha
acerca dos benefícios advindos da participação na política colonial
portuguesa de manutenção dos territórios africanos.5
A cooperação proposta foi de imediato aceita entre os presen-
tes, elegendo-se logo a seguir, por aclamação, o primeiro presidente
da instituição recém-criada, o senador Cândido Mendes de Almeida.6
Os demais membros da diretoria foram igualmente eleitos: Henrique
de Beaurepaire Rohan7 e o Visconde de Borges Castro no cargo da
vice-presidência, enquanto Francisco Maria Cordeiro e o Barão de
Teffé figuraram como primeiros-secretários.
De início a Seção esteve em função da sua própria organização
administrativa, envolvida com a redação e a aprovação dos estatutos,
75

Cristina Pessanha Mary


regimento interno, firmando a sua estabilidade. Os estatutos8 apro-
vados por decreto em 1879 reproduziam os objetivos do grêmio e
dispunham também sobre o modus operandi da agremiação, receita,
associados e comissões; previam ainda a organização de uma assem-
bleia geral, destinada a providências quanto às eleições dos corpos
gerentes e alterações regimentais. Ainda nesse mesmo ano, D. Pedro
II aceitou ser o presidente-honorário do grêmio.9
Dentre as obrigações dos filiados, incluíam-se alguns encargos
pecuniários, como a mensalidade e uma taxa correspondente à aqui-
sição de diploma emitido por Portugal.

Figura 10 – Diploma da Seção da SGL


conferido a Benjamin Constant

Fonte: Acervo do Museu Casa de Benjamin Constant/IBRAM-Doc. no 191 do inventário.

A admissão de novos associados estava condicionada à indi-


cação de membros da Seção e devidamente aprovada, em escrutínio
secreto, por maioria absoluta.
Vale lembrar que as condições formais para a criação de seções
externas, estipuladas pela Sociedade de Geografia de Lisboa, estavam
permeadas pela preocupação de Lisboa em fixar os limites em que se
moveriam as seções recém-criadas: todas as deliberações das seções
careciam de aprovação da matriz, ficando reservada à sede em Lis-
boa uma série de direitos, desde a aprovação dos novos associados
76
Seção e Secessão

à expedição de diplomas.10 As aquisições das filiais e seus fundos


sociais constituíam propriedade comum e, no caso de dissolução,
seus arquivos e haveres reverteriam para Lisboa.
Em julho de 1880, a assembleia geral aprovou o regimento
interno11 da Seção, esmiuçando, assim, alguns pontos dos estatutos,
como o modo de votar, as competências de cada instância do grêmio,
criando comissões.
As comissões organizadas se dividiam entre aquelas relativas à
administração da Seção (admissão de associados, contas e estatutos e
redação do periódico previsto nos estatutos) e as que diziam respeito
aos temas de interesse da própria associação, assim denominadas:
“De geografia geral com diferentes subcomissões”, “De viagens e ex-
plorações científicas”, “De ciências acessórias à geografia”, “De ensino
de geografia” e a “Do fundo africano”.
Esta última, destinada a fornecer parecer “sobre os meios de
obter fundos para o desenvolvimento das explorações intentadas pela
Sociedade, em Lisboa”,12 traduzia fielmente as intenções dos portugue-
ses, empenhados na luta para arregimentar apoio para as incursões
em solo africano, consideradas prioridade na corrida colonialista então
empreendida entre as potências europeias.13
Nos seus primórdios, os trabalhos da Seção se limitaram
às comunicações do senador Cândido Mendes de Almeida sobre o
movimento civilizador das expedições geográficas e às conferências
pronunciadas pelo Barão de Teffé acerca de seu trabalho como demar-
cador da fronteira norte do país, como veremos futuramente.14
O quarto ano, 1881, foi, todavia, marcante: se por um lado se
realizou a visita do festejado explorador português Alexandre Serpa
Pinto e o lançamento da revista da Seção, por outro, houve a divisão
entre os setores: uns sonhavam com um grêmio nacional, e outros
que permaneciam fiéis à proposta inicial de manter a Seção apenas
como filial de Lisboa.
Em 1883, e apesar do cisma, a Seção retomou o seu curso.
Sessões de honra voltaram a ser organizadas e a revista passou a
circular novamente. Esta sobrevida estendeu-se até 1886, e, desde
então, o grêmio foi, gradativamente, perdendo fôlego. Os últimos
registros sobre suas atividades datam do início de 1889, durante a
Exposição Geográfica Sul-Americana, realizada na Corte, organizada
pela Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, quando a Seção enviou
representantes para o evento.15
Anos mais tarde, já na vigência da República, em 1899, orga-
nizou-se uma nova diretoria, que incluiu nomes como o Visconde
77

Cristina Pessanha Mary


de Thayde, Henry Raffard16 e Joaquim Abílio Borges,17 buscando-se
reconstituir a Seção. Essa iniciativa, no entanto, não teve maiores
desdobramentos: foi, por assim dizer, o seu último suspiro.

3.2. Os filiados da Seção

Os signatários da ata de criação da filial compunham um grupo


bastante uniforme quanto à posição social: quase todos pertenciam à
elite fluminense, variando quanto ao título nobiliárquico, patente ou
armas, constando, entre eles, personalidades da colônia portuguesa
radicadas no Rio a exemplo do Visconde do Rio Vez,18 o Visconde de
Mattosinhos19 e Emílio Zaluar.20 O Visconde de Rio Vez, ou Boaventura
Gonçalves Roque, foi presidente do Gabinete Português de Leitura
no período de 1871-1873, assim como outros colegas seus na Seção,
atestando o grau de mobilidade da elite lusa, “dividida” entre Lisboa
e o Rio de Janeiro.
Na alta administração pública lusa, encontramos o Visconde de
São Januário, o Visconde de Borges Castro21 e Francisco Maria Cordei-
ro,22 todos integrantes do corpo diplomático português. Nesse mesmo
círculo, mas deixando Portugal e focalizando o Império do Brasil, havia
o Barão da Ponte Ribeiro, figura de proa da diplomacia do Império.
Ainda no âmbito dos fundadores e no exercício da burocracia
imperial brasileira destacaram-se o Barão de Ramiz Galvão,23 que, en-
tre outros encargos, esteve à frente da direção da Biblioteca Nacional;
o Barão de Teffé,24 primeiro presidente da Repartição Hidrográfica
do Império, desde sua criação em 1876 até 1889; e Ladislau Netto,25
dedicado diretor do Museu Nacional, entre os anos de 1874 e 1894.
Foi também no interior do grupo dos signatários da ata de
fundação que se formaram os primeiros corpos gerentes da Seção.
As diretorias (Quadro III) organizaram-se a partir de uma estrutura
composta do cargo de presidente-honorário, presidente e seu vice,
além do secretariado e da equipe de redação (Quadro IV), encabeçada
pelo chefe de redação. Até o ano seccional de 1883 (o ano seccional
se iniciava em junho), sucederam-se na condução da Seção persona-
lidades como Cândido Mendes, seu primeiro presidente, o Barão de
Teffé e Ladislau Netto.
A partir de 1884, assumiram o cargo máximo o Barão de Parima
e, por fim, o Barão de Jaceguay, enquanto D. Pedro II, ao lado de alguns
nomes portugueses, como o Visconde de Januário e Borges Castro,
permaneciam figurando como presidentes-honorários. Curiosamen-
te, nesse mesmo ano acrescentou-se à hierarquia da Seção o título
78
Seção e Secessão

de vice-presidente honorário, cargo que veio a ser preenchido pelo


Barão de Wildich que, muito embora não fosse um fundador, obteve
o cargo honorífico.26
No plano geral dos demais associados da Seção, encontramos
um largo espectro de opções ideológicas, como o abolicionismo de Ân-
gelo Agostini;27 o pensamento de Ramalho Ortigão,28 manifestamente
favorável à continuidade da escravidão; o liberalismo de Rebouças; o
catolicismo de Cândido Mendes de Almeida, filiado ao partido con-
servador; o monarquismo convicto de Carlos Maximiano Pimenta de
Laet29 e o pragmatismo do Barão de Teffé, prestando serviços tanto
ao Império quanto à República. Enquanto a maçonaria se fez presente
com nomes da estatura de um Saldanha Marinho, o positivismo foi
representado por Benjamin Constant.
Entre a elite imperial, frequentemente, o fato de ser conservador
não impedia a amizade com elementos liberais. Ao contrário, a con-
vivência harmônica parecia, por vezes, a norma, como se depreende
das biografias de André Rebouças30 e do Visconde de Taunay.
O fato de estarem, cada um, em pontas do espectro político,
Rebouças, com tendências liberais, e Taunay, filiado ao partido conser-
vador, não os impediu de agirem em torno de uma causa comum e rea-
lizarem ações conjuntas, como a organização da Sociedade Central de
Imigração,31 nem mesmo frequentarem o mesmo grêmio de geografia.
Em 1881 a Seção ampliou os seus quadros, chegando a contar
com 174 membros. Tendo em vista esta ampliação e a preocupação de
conhecer melhor a Seção procuramos traçar um perfil social e político
dos seus integrantes, mediante o levantamento sistemático de alguns
dados relativos ao elenco de 1881 (Quadro V).
Sendo assim, sempre que possível, aferimos em relação aos
filiados da Seção, sua naturalidade e formação. Esta última, através
da anotação da modalidade do curso concluído, como o direito, a
medicina e a engenharia. No caso das carreiras ligadas às armas,
indicamos as instituições nas quais o sócio integralizou seu curso em
nível superior, como a Academia da Marinha e a Escola Militar.
Um outro procedimento adotado foi o registro da ocupação dos
associados, com a discriminação da principal atividade desenvolvida
por cada um. Nos casos daquelas personalidades vinculadas à política,
independentemente da profissão específica, anotou-se a funcão política.
As figuras tradicionalmente relacionadas àquele meio, embora não exer-
cendo mandato no ano de 1881, foram classificadas da mesma forma.
Listamos ainda a titulação, quando fosse o caso, e a participação
concomitante dos associados em outros grêmios científicos e culturais.
Por fim, incluímos em nosso estudo uma coluna com observações re-
79

Cristina Pessanha Mary


lativas a informações que nos permitissem identificar agrupamentos,
desde aqueles sedimentados por laços de amizade até os que reuniram
trajetórias profissionais comuns.
Dos 174 componentes da listagem de 1881, obtivemos dados refe-
rentes a 57% no quesito origem, cerca de 46% quanto à formação e 59%
com relação à principal atividade exercida. A partir da análise desses
dados, pudemos perceber que 1/3 dos associados identificados havia
nascido no Rio de Janeiro. Do restante, os estrangeiros respondiam
por um total de 23%, portugueses na sua grande maioria, enquanto
os demais se dividiam entre as várias províncias do Império, desde o
Amazonas até o Rio Grande do Sul, passando pelo Ceará, São Paulo
e Minas Gerais.
Do universo trabalhado, verificamos que quase a totalidade
possuía formação de nível superior, a maioria em estabelecimentos
nacionais, diferentemente da geração anterior, formada em Coimbra:
37,5% desse conjunto havia cursado direito, 21% aproximadamente
havia realizado o curso de medicina, enquanto apenas 11 % tinha se
habilitado em engenharia. 32
Assim, a medicina da Seção se fez representar por nomes como
José Ribeiro de Sousa Fontes, ou Visconde de Sousa Fontes, médico da
Casa Imperial; a engenharia por Fábio Hostílio de Morais Rego, ligado
ao setor ferroviário e ao saneamento da Baixada Fluminense; 33 e, por
fim, as “gentes do direito” como Américo Brasiliense de Almeida e
Mello, que chegou ao cargo de ministro do Supremo Tribunal, e André
Augusto de Paula Fleury, integrante do Conselho de Estado.
Das armas (Exército e Marinha) provinha um contingente em
torno de 19%, a maior parte da Marinha. Levando-se em conta as
semelhanças entre os currículos dos cursos militares e dos cursos de
engenharia, assinalamos o peso deste grupo na Seção, representando
30% das atividades identificadas.
Somente alguns associados haviam se habilitado em pintura,
literatura e, ainda, filosofia e arquitetura, modalidades mais comuns
entre os associados de origem estrangeira, como Ângelo Agostini, o
Barão de Wildich e Zeferino Cândido. Os arquitetos, como Francisco
Joaquim Bittencourt da Silva, formavam-se muitas vezes fora do país.34
Cabe ainda destacar o influente grupo, em termos de sua partici-
pação nas instituições culturais da colônia lusitana instalada na Corte,
formado por comerciantes lusos, como Eduardo Lemos,35 Joaquim da
Costa Ramalho Ortigão e o Visconde de São Cristóvão.36
A alta escolaridade da maioria dos componentes da Seção, de
nível superior, nos permite caracterizá-la como uma instituição de
elite. No longo caminho de preparação da elite brasileira, entre a
80
Seção e Secessão

conclusão dos cursos superiores até a ascensão aos postos mais altos
da burocracia e da política, quase todos aqueles que aspiravam galgar
o poder cumpriam um roteiro obrigatório, incluindo-se nesse itine-
rário a passagem por várias instâncias administrativas e por várias
localidades do país. Esse percurso funcionava como um treinamento
e poderoso fator de coesão para o grupo, impedindo, no mais das
vezes, conflitos maiores.37
Na geração do período da independência, a maioria dos repre-
sentantes da elite formava-se em direito, por Coimbra, abraçando em
seguida a magistratura; entretanto, no último quartel dos Oitocentos,
este perfil já se apresentava diferente: grande parte dos estudantes
passou a frequentar as universidades brasileiras e o número de advo-
gados ultrapassou o de magistrados.38
Um outro ponto levantado em nossa análise foi o fato de que 58%
dos membros da Seção militavam na política e/ou estavam em cargos
públicos. No quadro de uma economia agroexportadora escravista,
como a do Império, em que a estrutura ocupacional era estreita, com
poucas opções e concorrência feroz, o sustento do indivíduo impli-
cava o exercício de múltiplas atividades.39 Naquela realidade, diante
da existência de verdadeiras castas no interior de alguns conjuntos,
formados por médicos palacianos ou por bacharéis de direito ocupan-
tes de cargos na alta administração do Estado e mesmo içados pela
política, restava aos advogados recém-formados, aos médicos sem
clientes de prestígio, e aos engenheiros sem perspectivas o emprego
público e a carreira política.40
Na Seção encontramos inúmeros casos deste descompasso en-
tre a formação e as carreiras empreendidas. O modelo dos médicos
é sintomático, tendo em vista que parte considerável dos médicos da
listagem de 1881 não se dedicava àquela atividade. Assim, podemos
citar o exemplo de Adolfo Bezerra de Menezes, um dos líderes do
espiritismo no Rio, que, além de envolver-se com a administração de
companhias de carris, foi vereador na Câmara Municipal da Corte, e o
de Alfredo Piragibe, vacinador de institutos públicos. Para completar
este panorama temos ainda o caso de Duarte da Ponte Ribeiro, sócio
fundador da Seção: médico por formação, Ponte Ribeiro foi ministro
plenipotenciário em vários países da América do Sul e conselheiro
do Imperador, tendo pertencido tanto ao Instituto da África em Paris
quanto à Real Academia de Lisboa.
Até o período Rio Branco, as cartas imperiais do Brasil tinham
como fonte primeira os mapas confeccionados pelo barão. Estes fun-
cionavam como documentos de provas nas negociações e arbitragens
nas disputas de fronteiras. Ponte Ribeiro tornou-se uma espécie de
81

Cristina Pessanha Mary


consultor obrigatório para assuntos sul-americanos, tendo legado
à posteridade uma série de memórias e mapas acerca das regiões
visitadas.41
A opção pelas armas constituiu um caminho escolhido pela
elite por causa desse tipo de instabilidade profissional. Grande parte
do contingente de militares que integravam a Seção pertenceu à gera-
ção que repartiu as lembranças vividas durante o marcante episódio
da Guerra do Paraguai. Tal foi o caso de Taunay, do Barão de Teffé,
Beaurepaire-Rohan, o Barão de Jaceguay, o Barão de Ladário e o
Almirante Tamandaré.
Muitos deles deixaram importantes registros daquele evento,
como Taunay e Jaceguay,42 que escreveram seus diários relativos às
agruras cotidianas do litígio: o relato de Taunay, romancista de renome,
senador de prestígio e também engenheiro, integrante da famosa coluna
obrigada a se retirar de Laguna, durante o conflito com o Paraguai, ficou
para sempre imortalizado em livro.43 Destacamos ainda os desenhos
dos perfis dos rios desbravados durante o conflito pelo Barão de Teffé,
que também enviava notícias do front para a corte, publicadas na Folha
Ilustrada, num desempenho como correspondente de guerra.44
Observando a relação dos integrantes da Seção de 1881, nota-se
entre eles um número bastante expressivo de barões e viscondes que
eram ou vieram a se titular ao longo da vigência do Império, como o
Barão de Rio Bonito, do Visconde de Sistelo, entre outros.45
A nobreza brasileira, diferentemente de suas congêneres eu-
ropeias, não dependia dos laços de sangue ou mesmo dos vínculos
com a terra, pois aqui a hereditariedade não era levada em conta: ao
imperador competia conceder títulos e honrarias em troca de servi-
ços prestados ao Estado. Assim, em épocas de crise se concedia um
número maior de títulos, compensando-se descontentamentos.46
Lúcia Paschoal Guimarães,47 ao analisar os círculos de sociabili-
dades no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), identificou
nomes ligados ao Paço, servidores e amigos. Entre estes, sublinhamos,
em função de haverem pertencido também à Seção estudada, o Barão
de Ramiz, preceptor dos filhos da princesa Isabel; Bom Retiro, que
esteve entre os grandes amigos do imperador e o Visconde de Taunay,
cujo pai atuou como um dos preceptores do imperador. Poderíamos
citar ainda Beaurepaire Rohan, cujos padrinhos foram D. Pedro I e D.
Carlota Joaquina,48 e alguns outros casos ilustrativos desta proximi-
dade com o poder.
A Seção, assim como o Instituto Histórico, era um espaço de
sociabilidades, existindo em seu interior vários subgrupos forma-
dos em função de interesses comuns. Um ponto de contato entre os
82
Seção e Secessão

integrantes da Seção era a convivência de muitos deles em outras


instituições. Cabe ressaltar que, dos sócios identificados da Seção,
32% chegaram a integrar também os quadros do Instituto de História
(IHGB), enquanto 29% fizeram parte da Sociedade de Geografia do
Rio de Janeiro (SGRJ) e 9%, da Sociedade Auxiliadora da Indústria
Nacional (SAIN).
A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, coirmã da Seção,
criada em 1883, era, no que se referia à sua composição, quase uma
réplica da filial portuguesa, abrigando em seu regaço nomes como Teffé,
Beaurepaire Rohan, Homem de Mello e outros, enquanto na Sociedade
Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN), encontramos ainda Emílio
Zaluar, André Rebouças, Rosendo Muniz Barreto, Joaquim Pizarro e Ni-
colau Joaquim Moreira. Esta “atitude”, por assim dizer, não se restringiu
aos sócios ordinários, estendendo-se aos presidentes desses grêmios;
neste sentido, tanto o Barão de Teffé quanto o Barão de Jaceguay
presidiram,49 além da Seção, a Repartição Hidrográfica,50 instituição do
Império, criada em 1876. O diretor do Museu Nacional, Ladislau Netto,
durante largo período, honrou a Seção com sua presidência em 1883.
O Observatório Nacional foi outro importante instituto científico,
ligado às atividades relativas à astronomia de posição (mecânica celeste),
por onde circularam outros integrantes da Seção, como o astrônomo de
origem belga, Luis Cruls, cientista de grande envergadura. Pelo Obser-
vatório passaram também o Barão de Parima51 e Pereira Reis.52 Sob a
administração de Cruls, os esforços para execução de projetos relativos
à astronomia foram conjugados aos da repartição hidrográfica.
A “Tribuna da Glória”53 – espaço de debates realizados em
fins de 1870, nas escolas públicas do bairro da Glória, na cidade do
Rio, tendo como figura central o senador Manoel Francisco Correia,
sócio-fundador da Seção – foi também um fórum que reuniu alguns
dos que seriam, no futuro, membros da filial lusa. Assim, além do
próprio Correia, revezavam-se na tribuna Luiz Joaquim Duque Estrada
Teixeira; Theofilo das Neves Leão; João Manoel Pereira da Silva, o
Barão de Tautphoeus; Carlos Arthur Busch Varella; Rosendo Muniz
Barreto e José Saldanha da Gama. As palestras ministradas versavam
sobre inúmeros temas, desde discussões sobre o ensino e a cultura
até questões específicas como contágio de doenças, e tinham como
“audiência” grupos da própria elite fluminense.
A Seção era, portanto, uma associação da elite imperial: no
topo, havia o imperador, sócio-honorário desde 1879, e, à sua volta,
advogados, almirantes e médicos, entre eles, nomes da ciência e da
cultura,54 como Joaquim Manuel de Macedo, o astrônomo belga Luiz
Cruls e Orville Derby, bem como influentes editores da época, como
83

Cristina Pessanha Mary


Nicolau Alves, Garnier e Henrique Laemmert e José Ferreira de Araújo,
proprietário da Gazeta de Notícias.
Em 1881, por ocasião da tentativa de transformação da Seção
em uma sociedade nacional, a coesão dos associados pertencentes
à filial da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil foi duramente
posta à prova.

3.3. A Secessão

No interior da filial da Sociedade de Geografia de Lisboa, desde


meados do ano de 1881, algumas alterações no grupo diretor vinham
se processando. Assim, em uma reunião, realizada no Gabinete Por-
tuguês de Leitura na cidade do Rio de Janeiro, durante o pleito para
eleição da diretoria do ano seccional de 1881-1882,55 os recém-eleitos
renunciaram aos seus cargos, acarretando nova eleição em substitui-
ção à primeira. A nova diretoria articulada para substituir a anterior
contou, na sua essência, com os mesmos sócios, apenas em postos
hierárquicos diferentes, como o conselheiro e senador Manoel Fran-
cisco,56 alçado à presidência; Joaquim Ramalho Ortigão, que saiu da
chefia de redação, enquanto o Cônsul-Geral do Império da Alemanha,
Hermann Haupt, e os demais mantiveram suas posições. 57 Nessa
passagem, destaca-se a figura do Barão de Teffé, o único membro da
diretoria eleita a abandonar definitivamente a Seção.58
Ainda naquele mesmo ano, em novembro, a assembleia geral da
Sociedade de Geografia de Lisboa foi notificada, através de ofício en-
viado a sua filial no Rio de Janeiro, de um delicado pedido. Cumprindo
as diretrizes dos estatutos seccionais, que condicionaram alterações à
anuência prévia da assembleia geral da matriz (para posterior sanção
das autoridades do Império), a Seção no Brasil instou Lisboa a ratifi-
car a resolução, tomada no Brasil, para sua transformação orgânica e
substituição por uma sociedade independente da matriz e intitulada
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. O documento em questão
afirmava o desejo de preservação da harmonia existente entre matriz
e filial, solicitando ainda, caso a criação da Sociedade carioca se efeti-
vasse, a manutenção dos seus filiados como sócios correspondentes
da Sociedade de Geografia de Lisboa.59
A primeira reação de Lisboa ao pedido de transformação de
sua filial em um grêmio nacional foi encaminhar proposta a favor da
solicitação dos brasileiros.60 Seu autor, o Visconde de São Januário,
congratulava-se com o que foi considerado como resultado da prospe-
ridade da Seção e ainda manifestava o desejo de ver criado, no interior
da nova Sociedade, uma seção denominada “Portugal”.
84
Seção e Secessão

A atitude de Januário precipitou o desencadear do imbróglio


que terminou por colocar os “separatistas” em uma situação difícil:
imediatamente após o aceite do Visconde de Januário, outros membros
da Sociedade de Geografia de Lisboa, notadamente Luciano Cordeiro,
se colocaram frontalmente contra o apoio dado às pretensões brasi-
leiras, tendo convencido o próprio visconde a inverter sua posição.
A versão desse tumultuado episódio está contida no noticiário
do Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa.61 Este noticiário,
em si mesmo contundente manifesto de oposição à transformação
da Seção, informava a respeito da constituição de uma comissão em
Lisboa para formular e apresentar parecer definitivo sobre a solicita-
ção brasileira, a ser discutida e votada.
A argumentação utilizada no referido parecer, rejeitando a
solicitação da Seção, escorou-se em expedientes legais: a criação de
novas sociedades de geografia deveria ser negada, tendo em vista ser
este um fim estranho aos objetivos sociais consignados nos estatutos.
Para invalidar o pedido, recorreu-se ainda ao fato de um grupo de
signatários da resolução de criação da nova Sociedade não ter titula-
ção confirmada pela matriz. A existência de sócios correspondentes
contrários à transformação da filial, em número expressivo, foi outro
argumento utilizado para demolir as pretensões autonomistas da
Seção. Na conclusão do parecer, aludiu-se a uma lista de sócios da
Seção Brasil condenando a transformação da Seção em uma sociedade
nacional.62
Tudo leva a crer que o recuo de figura proeminente como o
Visconde de Januário, que acabou endossando o veto ao pedido dos
brasileiros, muito se deva à atuação decisiva do secretário da Socie-
dade de Geografia de Lisboa, Luciano Cordeiro.
Cordeiro, a verdadeira alma da sociedade-mãe em Lisboa, fez
várias injunções junto à comissão designada para avaliar o pedido
brasileiro, que por unanimidade o vetou. A comissão que avaliou a
proposta brasileira adotou, na íntegra, a moção a respeito do caso,
de autoria do secretário-perpétuo, abaixo transcrita:

Considerando que a Sociedade faltaria à consideração que lhe


merecem os estudiosos brasileiros, e a confiança que tem no
progresso geográfico do Brasil, dignamente representado por
diversos institutos e associações doutas do império, e designa-
damente pelo instituto histórico e geográfico do Brasil [sic], se
pretendesse antepor-se à iniciativa daqueles estudiosos e afron-
tar a competência e serviços destes institutos e associações,
pela formação de uma nova sociedade brasileira de geografia;
85

Cristina Pessanha Mary


considerando que os únicos argumentos de que extra-oficial-
mente se sabe são alegados em favor da referida transformação
ou dissolução seccional, são:

1o Que o Rio de Janeiro tem direito de possuir uma Sociedade


de Geografia, própria e independente, como existem em outras
cidades;

2o Que a Seção não pode ter todo o desenvolvimento necessá-


rio porque está a grande distancia da sede social, e, segundo
os Estatutos da Sociedade, não têm fora dela representação e
ação legal as seções;

Considerando que estes argumentos são contraproducentes e


sofísticos, porquanto:

1o Exatamente por ter o Rio de Janeiro razão e direito incon-


testável a possuir uma Sociedade de Geografia, independente
e distinta como tem no seu nobre e antigo Instituto Histórico e
Geográfico do Brasil, é que a Sociedade de Geografia se limitou
e deve limitar-se a estabelecer e manter ali uma simples Seção
ou agremiação dos seus sócios correspondentes, deixando
desassombrada e livre a iniciativa dos estudiosos brasileiros
e o lugar e exercício das instituições locais [...] 63

Ao comentar iniciativas semelhantes à brasileira, acerca das


transformações das seções em sociedades nacionais, uma em Mo-
çambique e outra em Braga, a profunda aversão de Luciano Cordeiro
à tendência para formação “de pequenas sociedades localistas” volta
a revelar-se para ele, sob o duplo interesse, do país e da ciência, isto
seria uma propensão perniciosa a ser rigorosamente evitada.64
A defesa intransigente de Luciano Cordeiro, eloquente porta-
voz do centralismo da matriz, em prol da manutenção dos laços entre
a Sociedade de Geografia de Lisboa e suas seções, expressou como
ninguém a motivação subjacente à política de criação de filiais mundo
afora, fixando os limites pelos quais as seções deveriam pautar-se:
entre eles, a preservação dos laços e a fidelidade aos projetos por-
tugueses.
O desejo de criação de sociedades de geografia de colorido
nacional, definitivamente, não fez parte do repertório do grupo he-
gemônico na Sociedade de Geografia de Lisboa, que, como se viu,
apressou-se em abortar as pretensões de autonomia dos brasileiros.
86
Seção e Secessão

Se o mal-estar causado em Portugal foi capaz de provocar moções de


repúdio por parte dos lisboetas, no Brasil, o episódio em tela culminou
com o fracasso da iniciativa e um saldo de cisões entre aqueles que,
após a reação negativa de Lisboa diante do projeto, recuaram de seus
intentos, permanecendo na Seção, e os associados que a deixaram
para, dois anos mais tarde, em 1883, finalmente, aderirem ao grupo que
tornou efetiva a criação da Sociedade de Geografia do Rio Janeiro.

3.4. As geografias da Seção

Em abril de 1881, a filial da Sociedade de Geografia de Lisboa


lançou o primeiro número de sua revista, anunciada “como um ensaio
modesto que vai demonstrar o gosto no Brasil pelo estudo da Geogra-
fia”, uma ciência muito estudada pelos povos cultos. Segundo a equipe
de redação, aquela seria a primeira publicação geográfica periódica
distribuída no Brasil.65
Em 13 de agosto, no mesmo ano, a diretoria da matriz em
Lisboa, através de um ofício dirigido à Seção, mencionava a iniciativa
de sua sucursal, todavia requeria dos seus pares no Brasil mais ação,
lembrando à Seção que restava muito a fazer também em relação ao
continente africano

[...] Singular tarefa está decerto reservada a essa benemérita


seção, e com provada razão, deposita nela as melhores espe-
ranças, a Sociedade. À Revista há de naturalmente seguir-se a
exploração geográfica, a consulta prática e científica dos gover-
nos, a colaboração direta nos grandes trabalhos e esforços que
ocupam e glorificam a ciência contemporânea no devassar das
regiões ignotas. Largo campo ainda oferece a América do Sul,
do Atlântico ao Pacífico, à curiosidade e à pesquisa científica e
comercial. Cumpre, por exemplo, fazer desaparecer do mapa do
grande império do Cruzeiro as grandes soluções de continuida-
de que ele apresenta ainda relativamente a um conhecimento
geográfico seguro e direto. E quando este trabalho vastíssimo não
baste à forte iniciativa e à nobre dedicação da Seção do Brasil,
o continente negro aí está em face de vós [...].66

Embora a Seção nunca tenha correspondido às expectativas


de Lisboa, quanto à realização de atividades práticas – como as ex-
plorações –, permanecendo, neste sentido, sempre em um infindável
compasso de espera, no campo ideológico a revista buscou cumprir
o script traçado pela matriz, ao menos nos seus primeiros números,
87

Cristina Pessanha Mary


editados antes do episódio de secessão, quando os “problemas geo-
gráficos africanos” foram apreciados.
No entanto, após a cisão, ocorrida em 1881, quando um grupo no
interior da filial buscou autonomia em relação à Sociedade de Geografia
de Lisboa, a linha editorial da revista passou a oscilar muito, ora se
aproximando dos temas caros a Portugal, ora deles se afastando.
A coleção de periódicos67 intitulada “Revista Mensal da Seção
da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil”,68 lançada pela Seção
em abril de 1881, teve sua edição interrompida durante todo o ano
seguinte, por ocasião da cisão que abalou o grêmio, para ser retomada
em 1883, mantendo-se até o início de 1886, ano da última publicação
de que se tem notícia. Ao longo do período em que circulou, a estru-
tura da revista pouco mudou, ainda que as diretorias variassem a
cada ano.69
Atingindo em média dois números anuais, não fez jus à denomi-
nação mensal. Assim, em setembro de 1885, quando se inicia a segunda
série, esta palavra foi suprimida do seu título. Frequentemente, pales-
tras e artigos eram publicados em partes, de modo a render vários
números, distribuídos por diferentes fascículos. Ao final de um período
obtinha-se a série. Neste caso, tivemos duas: a primeira, composta das
revistas editadas entre 1881 e fevereiro de 1885 e, a segunda, com os
fascículos publicados de setembro de 1885 até janeiro de 1886.
Através de anúncios relativos às condições para assinaturas,
percebe-se que havia possibilidade de fazê-las por um semestre ou um
ano, existindo também a venda avulsa. Até o número editado em 1883,
utilizou-se a Tipografia de Oliveira & Cia. e, a partir daí, recorreu-se à
Tipografia e Litografia de Moreira, Maximiano & Cia. No segundo fas-
cículo da segunda série, e nos demais que lhe seguiram, a impressão
ficou a cargo da Tipografia de G. Leuzinger & Filhos.
Sobre os assinantes e leitores do periódico, pouco se apurou:
havia um público garantido, formado nas bibliotecas pertencentes
aos grêmios, como também aqueles com os quais a Seção fazia per-
muta de exemplares – enfim, os próprios filiados da Seção ou a estes
relacionados. Certamente a imperatriz Teresa Cristina foi umas das
leitoras, pois a coleção encontrada no Instituto Histórico Geográfico
Brasileiro, uma série especial, com capa de luxo, pertenceu à perso-
nalidade em questão.
Um indício acerca das dificuldades relativas à existência mate-
rial da revista foi o apelo dirigido aos sócios, instando-os a garantir a
sobrevivência do periódico através de doações. Outro dado apurado
refere-se ao fato de que a revista franqueava suas páginas a todos os
artigos que interessassem de perto à geografia, sem inquirir se os seus
88
Seção e Secessão

signatários fariam parte ou não do grêmio.70 De todas as formas, foram


poucos os nomes que não integraram a Seção e nela publicaram.71
A partir do setembro de 1885, e aparentemente acompanhando a
própria sofisticação da Seção, que passou a se organizar em subseções
(Quadro VI), houve a inclusão de resumos dos artigos, em francês,
ao fim de cada fascículo. Atribuímos a inclusão desses resumos às
pretensões de se obter um alcance maior para a revista, afinal a Seção
vivia a dar notícias de sociedades de geografia francesas, traduzindo
seus artigos, e a trocar publicações com elas.
Via de regra, cada periódico se compunha de “Notas da Reda-
ção”, apresentando, comentando, prometendo regularidade, ineditis-
mo e novos fascículos, funcionando, assim, como pronunciamento da
equipe de redação sobre a revista. Havia também sumário; artigos;
uma seção intitulada “Crônica Geográfica”, abarcando de forma aligei-
rada temas do movimento geográfico mundial, como as expedições
mundo afora e, ao final, o “Expediente”, indicando usualmente publi-
cações recebidas pela Seção ou por ela enviadas para outras institui-
ções, a incluir frequentemente um ou outro comentário bibliográfico.
Não fugindo ao ecletismo da geografia – generosa mãe, sempre
disposta a abraçar todos os temas –, as discussões e artigos apresen-
tavam um amplo leque temático, versando sobre assuntos aparente-
mente tão díspares, como a adoção de um meridiano único, a fauna e
a flora brasileiras, a glótica, o tupi, a construção do Canal do Panamá,
escavações de cidades na Babilônia e múmias no Egito.
Poucas foram as vezes em que se contou com ilustrações.
Somente em alguns raros momentos, quando da inclusão de atas de
reuniões extraordinárias tratando de posse de diretorias, homena-
gens a expositores convidados, como também em algumas crônicas,
entreveem-se os bastidores da Seção. Nas suas linhas gerais, os pro-
nunciamentos da redação eram comedidos e escassas as transcrições
de opiniões.
A rigor, considerando-se somente os títulos listados nos sumá-
rios das revistas (Quadro VII), não se detectariam alterações passíveis
de serem consideradas como fases distintas do periódico; afinal os
temas parecem estar distribuídos de forma a contemplar os objetivos
explicitados quando da criação da Seção portuguesa: engajamento no
movimento geográfico mundial, fundamentalmente a exploração do
continente africano, e dados relativos ao território brasileiro.
Entretanto, se olharmos com mais atenção esta distribuição dos
temas, tendo em vista as diretorias da Seção e da revista e a região
focalizada (Brasil, África e América Latina), demarcamos três fases
na linha editorial do periódico.
89

Cristina Pessanha Mary


3.5 Primeira fase: entre o sertão do Brasil
e os confins africanos

Nessa primeira fase, relativa ao ano seccional 1881-1882, sob a


condução do então presidente, o Barão de Teffé, e de Fernando Mendes,
na chefia de redação, mais da metade dos títulos, em um universo de
31 artigos publicados nas revistas,72 focalizou o Brasil, enquanto os
outros pontos do índice se distribuíam entre África, América Latina, e
demais partes do mundo. Nesse período, a revista foi fiel depositária
dos desígnios da “sociedade-mãe” em Portugal, oscilando entre um
repertório que se estendia do reconhecimento dos territórios, frontei-
ras, natureza e gentes do Império, até a corrida colonialista na África.
Logo nos primeiros números, encontram-se exemplos de uma
geografia “brasileira”, isto é, calcada na questão dos limites do Império.
Geografia construída a partir de artigos do presidente da Seção àquele
tempo, o Barão de Teffé, textos que procuraram defender seu próprio
“ofício” como demarcador de fronteiras do Brasil.
Nessa série de artigos, Teffé buscou esquivar-se dos ataques
desferidos, através da imprensa, por seu colega na Seção, o Barão
de Ladário,73 quando este afirmava que, a fiar-se na orientação dos
trabalhos de Teffé, o Império anexaria, indevidamente, partes dos
territórios de repúblicas vizinhas.
Os artigos de Teffé incluídos na revista da Seção articulavam
sua própria defesa: iniciando-se com a reabilitação da memória dos
primeiros demarcadores, seu discurso desfiava, fibra por fibra, a
operação de consolidação das fronteiras do Império, desde os tempos
remotos das bulas papais até o litígio em questão.
A seu favor, a apresentação da transcrição da carta do Barão
da Ponte Ribeiro74 (um dos fundadores da Seção), condenando a
ineficiência do Barão de Ladário, contendor de Teffé. Não obstante o
aludido depoimento de Ponte Ribeiro, a historiografia deu razão ao
Barão de Ladário.
Teffé, entretanto, nunca se deu por vencido, vindo a transformar
todos os espaços institucionais em que atuou em um palanque para
perpetuar os ataques a Ladário, a começar pela Seção.
Nessa primeira fase da revista, além dos discursos do Barão
de Teffé, encontramos, ainda, alguns artigos relativos ao Império do
Brasil, como a proposta de divisão política do país, formulada pelo
senador Cândido Mendes de Almeida.
O esquema organizado por Cândido Mendes preconizava a
redistribuição do poder entre as regiões do Brasil, principalmente
por meio da mudança da capital, de modo a torná-la equidistante das
90
Seção e Secessão

demais cidades, drenando, assim, o comércio e a população para o


novo centro.75
Cândido Mendes não esteve sozinho nessa sua proposta de
interiorização da capital para o Planalto Central, pois este foi um tema
caro também ao historiador Francisco A. Varnhagen.76
Anos mais tarde, pelos idos da década de 1920, o pensamento
geopolítico brasileiro recuperou sua proposta de estabelecimento
de uma divisão territorial do país “mais racional”, mediante a interio-
rização da capital, acoplando-lhe a noção de segurança nacional. 77
Por ocasião do falecimento do senador Cândido Mendes, em
março de 1881, um pouco antes do lançamento do primeiro número
da revista, optou-se por incluir no periódico uma “Seção Necrológica”,
divulgando o currículo da personalidade em questão, e a reunião que
deliberou sobre as homenagens ao ilustre senador foi realizada na
residência do Barão de Teffé. 78
Fernando Mendes, filho de Cândido Mendes, e àquela altura
chefe de redação da revista da Seção, perpetuou enquanto pôde a
memória paterna. Assim, além de anunciar as obras de seu pai nas
páginas do periódico,79 fez publicar na revista a resposta de João Ca-
pistrano de Abreu80 acerca da origem de um manuscrito encontrado
entre os pertences de Cândido Mendes, um curioso texto intitulado
“Do clima do Brasil e Terra e de algumas causas notáveis que se acham
assim na terra como no mar”.81
Capistrano terminou por identificar a autoria e precisar a data
do documento, um manuscrito de 1584, atribuído ao padre Fernão
Cardin. O texto de Fernão Cardin foi publicado, novamente, nessa
mesma fase, em outro fascículo, em 1885.82
Fernando Mendes também divulgou, através de uma resenha,
entremeada de elogios, a publicação de João Severiano da Fonseca,83
Viagem ao redor do Brasil, 1875-1878.
A resenha e a divulgação de obras foi uma constante na vida
efêmera da revista da Seção: nesse período, além de Fernando Mendes,
outros membros da equipe de redação fizeram a sinopse do livro Luiz
de Camões, de Miguel Lemos.84 Desta feita, entretanto, a obra não foi
tão bem recomendada por Ramalho Ortigão e Eduardo Lemos, am-
bos integrantes da comissão de redação. Para eles, a obra de Miguel
Lemos era um trabalho tomado pelo espírito de propagar a doutrina
positivista professada pelo autor.85
Eduardo Lemos teve uma trajetória de vida muito similar à
de Ramalho Ortigão: veio de Portugal, destacou-se no comércio,
sobressaindo-se no campo cultural através da presidência do Gabinete
Português de Leitura.86
91

Cristina Pessanha Mary


Ao longo dessa fase, ambos (Lemos e Ortigão) traduziram para
o português textos de outras sociedades de geografia, publicando
suas traduções na revista. Os trabalhos sobre o Canal do Panamá e
sobre o projeto de exploração na África Central através do Rio Ouelle
são dessa safra.87
Eduardo Lemos preocupava-se também com a incorporação de
novos adeptos para as sociedades de geografia, e publicou um artigo
onde propunha estratégias de captação de novos sócios para esses
grêmios, dos mais variados matizes, como os homens das ciências,
homens de ação e mesmo de outras “classes”, das classes que produ-
zem pelo seu labor e que necessitariam das luzes da ciência.88
Nessa fase, embora o periódico abordasse os temas concer-
nentes ao Império, como se depreende das intervenções do Barão
de Teffé, dos artigos de Cândido Mendes e de seu filho Fernando
Mendes, a revista nunca deixou de pontuar os laços com sua matriz.
Um exemplo desta conduta se encontra nas “Crônicas Geográficas”
do primeiro fascículo, inteiramente dedicado à reprodução de decla-
rações e decretos do rei de Portugal, e a toda sorte de transcrições de
discursos e documentos provenientes de Lisboa acerca da Sociedade
de Geografia de Lisboa.89
Todavia, esta inclinação pelos assuntos atinentes à matriz ficou
muito evidente por ocasião dos festejos realizados em homenagem
ao explorador luso, Serpa Pinto, por ocasião de sua vinda ao Rio de
Janeiro, a quem foram dedicados os três últimos números da revista,
reunidos em um só, no ano de 1881.90
Neste volume, quase que inteiramente centrado no expedicio-
nário luso, encontramos a reprodução dos discursos proferidos por
personalidades da elite imperial brasileira, nas inúmeras cerimônias
dedicadas a Serpa Pinto, como as palavras do senador Manoel Fran-
cisco Correia, de Ramalho Ortigão, do Barão de Teffé, e, por fim, de
Alfredo de Escragnolle Taunay ou Visconde de Taunay.91
O primeiro deles, Francisco Correia, orador da comissão de
recepção do expedicionário, logo à sua chegada em pleno porto,
congratulou o recém-chegado com um pronunciamento pontuado por
frases grandiloquentes, louvando o cometimento de Serpa Pinto para
a causa da civilização cosmopolita, da pátria e da ciência geográfica.92
Ramalho Ortigão, diante de uma seleta plateia, composta de
integrantes da Seção reunida no Cassino Fluminense, fez uma preleção
sobre o interesse das nações mais cultas em desenvolver os estudos
acerca das atividades relacionadas ao comércio e à indústria – esta
última, ponto culminante da civilização, meio pelo qual se escaparia
da decadência.
92
Seção e Secessão

Para Ortigão, a urgência desses estudos explicaria a expansão


das sociedades de geografia, indicando também o papel civilizador
da raça portuguesa, no seu entender, pioneira na criação desses insti-
tutos de geografia, desde os tempos remotos da Escola de Sagres, em
Portugal, e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro no Império.
Demonstrando estar bem a par das vicissitudes da expedição
de Serpa Pinto, de 1877, quase abortada pela notícia de que os ingleses
já teriam realizado grande parte dos projetos planejados em Portugal,
como também por desavenças graves entre Serpa Pinto e seus com-
panheiros de viagens, o ilustre representante da colônia portuguesa
prosseguiu seu discurso exaltando a empreitada lusa, considerada vital
para a resolução do grande problema geográfico africano, a saber: a
determinação da mais fácil comunicação entre o Atlântico e o Índico.
Diante da mesma plateia, seguiu-se a intervenção do Barão de
Teffé, presidente da Seção. Embora não tenha deixado de louvar o
feito luso e sua repercussão para a ciência, o barão citou outros ex-
ploradores estrangeiros, não se limitando a Serpa Pinto. Na verdade,
Teffé, profundamente envolvido com a questão da demarcação de
fronteiras, terminou por enaltecer a atividade do explorador, sempre
a exigir coragem fria daqueles que enfrentam o desconhecido. Seu
pronunciamento insinuava um discreto paralelo entre as suas próprias
aventuras nos sertões do Brasil e as de Serpa Pinto na África.
Essa postura de Teffé, equilibrando-se entre o enaltecimento
dos portugueses e o engrandecimento das realizações dos brasileiros
nos confins do Império, repetiu-se, de forma mais bem acabada, nas
palavras de Alfredo E. Taunay, representante das comissões militares
para homenagear Serpa Pinto, proferidas no Hotel dos Estrangeiros.
Ao cumprimentar o explorador luso, Taunay salientou de ime-
diato a identificação que unia ambos para além do fato do cultivo das
ciências, isto é, a de pertencerem às fileiras do exército, instituição
qualificada como alicerce da sociedade universal, representante da
força intelectual e força material.
Na esteira de Teffé, o futuro Visconde de Taunay enumerou as
qualidades requeridas para o desempenho de um verdadeiro soldado,
como a coragem e a audácia, para, em seguida, salientar tanto os fei-
tos lusos quanto o patriotismo daqueles que pereceram nas remotas
paragens de Mato Grosso, em uma alusão à guerra do Paraguai, que
tanto marcara sua vida e a de sua geração.93
Envolvente, Taunay mergulhou nas emoções vividas por Serpa
Pinto, descrevendo, como se lá estivesse estado, os lances da aventura
do português diante da África e transformando seu discurso em um
diálogo imaginário entre o português e aquele continente:
93

Cristina Pessanha Mary


[...] Eis Serpa Pinto no meio dos sertões da África!

[...] Se fala, à sua voz responde a imensidade, e esta articula


uma língua imperfeita, estranha, bárbara, incompreensível.94

[...] _ Deixai-me passar, dizia Serpa Pinto, tão somente passar!


Afinal, que importa? Nem sequer ficará vestígios de meus pés.

_ Mas, por que quereis passar? Perguntava a África inquieta


e sobressaltada. Que vindes aqui fazer no meio das nossas
tribos, trazendo-nos insólita perturbação? Quem sois? Que
pretendeis de nós?

– Nada, respondia o viajante calmo e sorrindo sereno, é um


destino que cumpro: deixai-me passar.

E lá ia ele, mas um sentimento de terror apoderava-se irresistível


de todos os seus gratuitos inimigos, cujos olhares o seguiam
raivosos e desconfiados, sem que o braço ousasse desferir
golpe fatal.

Compreendiam vagamente que atrás daquele homem caminha-


va a civilização.95

Quase ao encerrar seu discurso, Taunay voltou a focalizar nosso


país, e, de forma inaudita, faz um apelo ao expedicionário português
para recordar-se da jovem nação criada em terras americanas:

[...] desta vasta terra americana que portugueses tão ousados


e tão grandes, como ele, descobriram, conquistaram e nos en-
tregaram, a nós, homens de uma nação nova, perfeita em sua
admirável integridade, malgrado as ambições e tentativas das
mais poderosas nações do globo, legado esplêndido que temos
que zelar, solícitos para merecermos grandiosos destinos. 96

O Barão de Teffé e Fernando Mendes finalizaram este último nú-


mero da revista, de 1881, fazendo publicar a transcrição de uma carta
do Conde d’Eu, dirigida a Fernando Mendes. Na correspondência em
questão, o conde exortava a Seção a não arrefecer em seus trabalhos,
mesmo com a morte de Cândido Mendes, tendo em vista as tarefas
reservadas para a geografia, ciência pela qual nutria predileção.
94
Seção e Secessão

As palavras do Conde d’Eu pareciam divisar os percalços que


logo seriam enfrentados pela filial da Sociedade de Geografia de Lisboa,
por ocasião da secessão, interrompendo, assim, a circulação do peri-
ódico por mais de um ano, só retomada em 1883, com Ladislau Netto.

3.6. Segunda fase: a geografia como irmã da antropologia

Dois anos após o imbróglio da cisão e da própria defecção de


Teffé em 1881, novos grupos se sucederam na diretoria da filial: o pri-
meiro deles, liderado pelo presidente da Seção, Ladislau Netto e pelo
chefe de redação, Antônio de Serpa Pinto Júnior.97 Estes conduziram
a Seção e a revista durante o ano seccional de 1883-1884. Esta dupla
foi, então, sucedida pelo Barão de Parima, na qualidade de presidente
da Seção, e por Eduardo Brito Cunha,98 como chefe de redação, de
1884 até meados de 1885.
Nessas duas administrações, pudemos perceber alterações
na distribuição dos temas da revista da Seção, o que nos permitiu
discernir uma nova fase, distinta da anterior: desde a retomada do
periódico, a partir de 1883, o tema “África” foi riscado da pauta da
revista, dando lugar aos trabalhos que focalizavam o Brasil princi-
palmente. De um lote de 26 artigos produzidos nesse lapso de tempo,
17 deles abordaram o Império. Além desta prioridade dada ao Brasil,
houve uma inédita concentração temática, que girou prioritariamente
em torno dos costumes dos índios. Essa tendência “indigenista” teve
início na gestão de Ladislau Netto, se estendeu pela administração do
Barão de Parima, e só veio a ser revertida com a ascensão do grupo do
Barão de Jaceguay à Seção, como veremos mais adiante. Tal fato nos
permitiu tomar as gestões sucessivas de Ladislau Netto e do Barão
de Parima como um único bloco.
Nessa fase, como foi dito, encontramos uma série de artigos sobre
os “aborígines”, que para Ladislau se constituíam como espelho fiel da
primitiva humanidade.99 Localizamos, assim, os escritos do magistrado
do Piauí, Maximiano Mendes Pereira,100 sobre o Neengatu, língua tupi,
por ele classificada como linguagem oriunda do tronco indoeuropeu;101
a descrição do modo de vida dos índios Coroados no Paraná, assinada
por Telêmaco Morocines Borba,102 e as considerações sobre a glótica,
apresentadas por Joaquim José Marques, demonstrando os avanços da
filologia e da arqueologia na reconstrução da língua fenícia.103
Um outro trabalho, entre outros acerca da temática indígena,
tratou da lenda do Sumê, compartilhada por vários povos do conti-
nente americano, desde os tupis até “as cultas sociedades da primitiva
América”.104 Segundo seu autor, o engenheiro Noronha Torrezão, a
95

Cristina Pessanha Mary


tradição do Sumê, aliada aos estudos que tomavam o tupi como lin-
guagem aparentada do sânscrito, indicava um fio comum entre tribos
americanas e egípcias, fio este que tanto poderia ter se estabelecido
a partir da ida dos Tupis para o oriente ou vice-versa.
Por fim, cabe ressaltar o relato do próprio Ladislau Netto, presi-
dente da Seção, acerca de sua excursão à região sul da então Província
do Pará, para ele um local esplêndido para estudos etnológicos, em
razão da diversidade das tribos existentes naquele local.
Nesse trabalho, encontramos detalhada narrativa, ilustrada
com vários desenhos do autor, das observações realizadas acerca
dos costumes e crenças dos indígenas da região, como a exumação
de cadáveres dos nativos, meio pelo qual se determinava “a pureza”
de determinadas tribos.
Depois de três anos de estudos na Academia de Ciências de Pa-
ris, Ladislau Netto havia regressado ao país em 1867, retomando suas
atividades no quadro dos botânicos do Museu Nacional. Sua formação
no exterior terminou por levá-lo à direção daquele mesmo museu, a
partir de 1874, onde formou grupos de naturalistas para percorrer o
país, organizando a Exposição Antropológica Brasileira em 1881.105
Ladislau acreditava ser necessário desenvolver a antropologia e
a arqueologia no Brasil, ciências já com certa tradição no Velho Mundo,
para que pudéssemos entrar para o concerto das nações civilizadas.
Na sua concepção, o estudo das culturas indígenas americanas deve-
ria ter a mesma dimensão daqueles realizados sobre as sociedades
antigas na África e na Ásia.
Tomando o exemplo do quéchua, uma das línguas andinas, vista
por linguistas europeus como corrupção do sânscrito, Netto termina
por indagar a possibilidade inversa, ou seja: levantava a hipótese do
sânscrito ter derivado da língua dos nativos da América. Para ele, o
modus vivendi dos grupos indígenas americanos poderia muito bem
estar na origem das culturas europeias.106 Esta visão de Netto, como
se percebe, espraiou-se para além do museu e explica, sem sombra
de dúvida, a escolha dos textos na segunda fase da revista da Seção,
textos “filiados” ao seu posicionamento ideológico.
Muito embora a temática indígena tenha predominado nessa se-
gunda fase da revista, outros assuntos também foram abordados. Neste
sentido salientamos a transcrição do artigo do Jornal do Commércio, do
naturalista e geólogo Herbert Smith, acerca da formação dos pampas.
Segundo o especialista, os sedimentos formadores dessa região
tinham sua origem em território brasileiro, o que, para o pesquisador,
provaria o fato de o Império ter sido lesado em “pedaços naturais”,
pelo recorte geopolítico da região meridional do país.
96
Seção e Secessão

É voz corrente nas ciências sociais o papel da história e da


antropologia na composição de um rosto para a nação, entretanto,
a geografia não fez por menos. O exemplo acima, de associação da
formação de um determinado relevo ao desenho do país, pautava-se
nos mesmos princípios da doutrina das fronteiras naturais.107 Neste
caso, a fronteira não estaria em um rio ou acidente geográfico de
fácil visualização ou comprovação, mas, sim, ancorada em processo
evolutivo do relevo, a requerer toda uma linguagem científica para
ser entendida e aceita.
Na verdade, nessa fase, o periódico da Seção refletiu o diapa-
são ideológico de seu presidente Ladislau Netto. Nada escapou de
sua visão, impregnada de um conceito de nação de viés romântico e
calcado na valorização do indígena.
Em nossa opinião, a eleição de Ladislau Netto, após a “defecção
de Teffé”, foi um meio pelo qual se buscou ampliar o leque de simpatias
para com aquele estabelecimento, tendo em vista a própria figura de
Ladislau, naquele período em pleno apogeu, nome reconhecido interna-
cionalmente, promotor de uma visão de mundo que, colocando o Brasil
no centro da civilização, não desqualificava a herança portuguesa. À
frente de inúmeros outros projetos, nem Ladislau nem Parima puderam
soerguer a Seção. O prestígio de Ladislau não foi suficiente para evitar
críticas à sua atuação na Seção. Assim, em 1883, o secretário da filial,
Marçal Pacheco, em correspondência trocada com o secretário-geral
da Sociedade de Geografia de Lisboa, Luciano Cordeiro, queixou-se
das dificuldades e da pouca atenção que Ladislau Netto dispensava
à resolução dos problemas imediatos do estabelecimento, ocupado
como estava com a organização da Exposição Antropológica Brasilei-
ra.108 No segundo semestre de 1885, outro grupo assumiu a condução
da revista.

3.7. Terceira fase: por uma geografia


autenticamente portuguesa no Brasil

O almirante Jaceguay (presidência) e Zeferino Cândido (chefia


de redação) assumiram a direção da Seção durante o ano seccional
de 1885-1886, período em que o tema “África” retornou à cena com
muita força, rivalizando em número com os documentos relativos
ao Brasil. Metade dos escritos109 no período Jaceguay, um total de 20
artigos, foi dedicada à ação portuguesa na África.
Na verdade, nessa fase imprimiu-se um novo perfil à revista, sob
vários aspectos. A partir de então, as discussões sobre a disputa dos
territórios africanos se tornaram mais frequentes e os artigos passa-
97

Cristina Pessanha Mary


ram a apresentar características distintas das apresentadas ao longo
de toda a publicação: sob esta direção, a revista parece transpirar os
ideais colonialistas portugueses, com viés abertamente pró-lusitano.
Ao que parece, a eleição de Jaceguay, ele próprio, naquele
período, muito ligado ao monarca, representante da Marinha de tradi-
ção monarquista, em flagrante contraste com o Exército, que, em fins
dos Dezenove, transpirava sedição, foi uma última cartada no sentido
de aprumar a filial da Sociedade de Geografia de Lisboa. Tudo indica,
uma cartada articulada por setores pró-lusitanos, por assim dizer.
Os discursos realizados durante a posse de Jaceguay, realiza-
da em um dos salões do Liceu de Artes e Ofícios,110 prometiam tirar
a Seção da inércia. Todavia, na prática, aquela diretoria não logrou
realizar nenhuma atividade que pudesse colocar a filial portuguesa em
um outro patamar, diferente do que até então havia sido, um imenso
stand de propaganda portuguesa. Um desempenho que, provavel-
mente, obteve o aplauso de Lisboa e da colônia lusa no Brasil; afinal
a Seção publicou o periódico, organizou uma biblioteca, fez permuta
de revistas com outras sociedades de geografia, levando, assim, os
nomes dos representantes lusos como Serpa Pinto, Iven e Capello
mundo afora, e, com eles, o nome de Portugal.
Cabe aqui chamar a atenção para a composição desse “novo
grupo gestor” da Seção, responsável pelos novos ares do periódico,
encabeçado pelo Almirante Arthur Silveira da Mota, futuro Barão de
Jaceguay, como presidente, e Antônio Zeferino Cândido na chefia de
redação.
Jaceguay nasceu em berço de ouro. Seu pai foi um membro
importante da elite imperial, conselheiro de estado e senador pelo
Partido Liberal. Naquela época, a Marinha constituía opção preferida
das classes mais abastadas, mantendo um padrão de recrutamento
muito alto, não sendo outra a escolha de Jaceguay.111 Arthur Silveira da
Mota sentou praça para aspirante da Escola Naval em 1854, tornando-
se guarda-marinha seis anos mais tarde, quando ganhou o mundo em
“Viagens de Instrução”.112
Durante a Guerra do Paraguai, foi nomeado secretário e ajudan-
te de ordens de Joaquim Marques Lisboa, Visconde de Tamandaré,
comandante em chefe das forças navais brasileiras no rio da Prata,
e descrito por Jaceguay como um entusiasta das instituições monár-
quicas e do imperador.113
Ao final do conflito, Tamandaré, membro do Partido Liberal,
perdeu seu posto, “sacrificado” em nome da unificação do comando
militar da guerra, tendo sido substituído pelo Duque de Caxias, um
conservador.114 Tamandaré saiu de cena, agraciado com a Ordem da
98
Seção e Secessão

Rosa e com o posto de almirante, enquanto Jaceguay, por seu turno,


permaneceu no front, no comando de um navio, tendo sido indicado,
posteriormente, para ministro da Marinha, sem nunca obter nomeação.
Durante sua longa carreira, Silveira da Mota empenhou-se por
dotar a Marinha de um arsenal moderno, destacando-se na função de
adido naval (1874) nas legações brasileiras na Europa, e de ministro
plenipotenciário na China, em 1879. Não se furtando à política, Jace-
guay terminou por concorrer, em 1881, juntamente com seu amigo
Joaquim Nabuco, à malograda candidatura dos abolicionistas nas
eleições de outubro para a Assembleia Nacional.115
Em 1884, a monarquia o agraciou com o título de barão, encar-
regando-o, a seguir, para a missão de organização de uma grande es-
quadra de evolução da Marinha. Contudo, seu abolicionismo terminou
por assustar o Barão de Cotegipe, que, em 1887, cancelou a missão,
encabeçada por Jaceguay, de organização de uma nova esquadra.
Não obstante as boas relações que mantinha com a família impe-
rial, Jaceguay não conseguiu reverter a situação, pedindo, assim, a sua
reforma da Marinha. Anos mais tarde, após o advento republicano de
1889, o barão escreveu a Joaquim Nabuco, insistindo para que seu amigo
colaborasse com o novo regime e desistisse de seu afastamento da vida
política, ocorrido desde a deposição da monarquia. Num interessante
depoimento, Jaceguay procurou mostrar que, embora tenha sido um
monarquista e admirador do imperador deposto, seu monarquismo es-
teve vinculado à aproximação da família real com a causa abolicionista.
Jaceguay não compreendia como espíritos cultivados pudessem ter
preferência quanto a formas de governo, para ele uma questão abstrata.
Portanto, em 1885, ano de sua ascensão à presidência da Se-
ção, Jaceguay se encontrava em um bom momento, imerso na causa
abolicionista, encarregado de organizar o arsenal da Marinha, e, muito
provavelmente, em sintonia com os monarcas.
O redator-chefe da revista no período Jaceguay, Antonio
Zeferino Cândido da Piedade, português, bacharel e doutor em mate-
máticas por Coimbra, tornou-se mais conhecido como um homem de
letras. Veio ao Brasil em 1878 com o intuito de divulgar um método de
leitura, dedicando-se, então, ao magistério e colaborando em diversas
instituições.116 Foi também diretor do Colégio São Pedro de Alcântara
no Rio, retornando a Portugal em 1901. Em 1910, com o advento da
República em Portugal, exilou-se na Espanha.117
Zeferino foi um defensor incansável da colonização portuguesa;
assim, entre seus muitos escritos, encontra-se um livro organizado por
ocasião do quarto centenário do descobrimento do Brasil, em 1900,118
um verdadeiro libelo em prol do colonialismo português.
99

Cristina Pessanha Mary


Nessa obra, Cândido respondeu àqueles que condenavam a
utilização, por Portugal, de degredados na colonização. Para ele, em
todo processo colonizador, em todos os tempos, as classes “felizes
pela abastança da fortuna” eram sedentárias, conservadoras, “a co-
lonização é por essência o produto da dinâmica da população, cuja
força principal é a desventura”. Qual o sentido, indagava Cândido, de
se atirar “homens de qualidade” ao acaso?
Referindo-se ao Brasil como “colônia dileta” – “o Brasil foi
sempre para a metrópole a menina de seus olhos e nesse sentido a
África e a Índia teriam boa razão de se queixar ...” –, Zeferino Cândido
prosseguiu, afirmando que Portugal não tinha feito de sua colônia
um presídio, muito menos escravizado índios como lhe imputavam.
Para ele, a legislação portuguesa, repleta de providências severas
contra esse tipo de abuso, e reconhecido enquanto tal, era uma prova
neste sentido. Se havia alguma “culpa”, esta deveria recair sobre os
jesuítas.119
Enquanto Jaceguay, ilustre representante da Marinha, orna-
mentava a Seção, Zeferino Cândido dava o tom da revista, um tom,
por assim dizer, inteiramente pró-lusitano. Nessa fase, percebe-se
certa concentração de portugueses ou personalidades muito ligadas
à colônia lusa, radicados nos postos-chaves, ao redor de Jaceguay.
Assim, encontramos José Ferreira de Araújo,120 como vice-presidente
da Seção; o próprio Zeferino Cândido, que chefiou a equipe de redação
integrada por Felipe Pestana,121 Luiz Cruls e Capistrano de Abreu, sem
contar com a atuação sempre constante do já citado Ramalho Ortigão,
àquela altura presidente do Gabinete Português de Leitura.
Desse grupo, somente Capistrano de Abreu e o astrônomo belga,
Luiz Cruls, não pertenciam à colônia portuguesa, todavia, eram a ela
muito ligados: Capistrano colaborava também com a Gazeta Mercantil,
cujo diretor era português, mantendo-se próximo ao círculo cultural
luso. Luiz Cruls, figura prestigiada por seu trabalho no Observatório
Nacional, já havia cativado a admiração de D. Pedro II,122 e integrava
o rol de amizades de Joaquim Nabuco,123 também um entusiasta da
cultura lusa.
Embora as revistas dessa fase tenham enfatizado os assuntos
relativos à obra colonialista portuguesa, tão ao gosto de seu redator-
chefe, seus assessores na redação incluíram artigos acerca do Brasil,
como o manuscrito “Robério Dias e as minas de prata”, e outros,
identificados e publicados por Capistrano de Abreu,124 enquanto Luiz
Cruls fez publicar um texto, relatando as principais discussões e re-
soluções da conferência internacional para adoção de um meridiano
100
Seção e Secessão

único, realizada em Washington, da qual ele mesmo participara como


representante brasileiro.
Ressalta-se também a contribuição de Feliciano Pinheiro
Bittencourt sobre a corografia do Brasil, revelando sua preocupação
e de outros colegas com a inextrincável nomenclatura dos acidentes
geográficos no Império, confusa e repetitiva pois frequentemente uma
denominação figurava, ao mesmo tempo, em um rio, uma montanha,
uma província.125
Portanto, como era de se esperar, nessa nova administração a
revista debruçou-se sobre os problemas africanos, fazendo sua estreia
com um artigo de Zeferino Cândido intitulado “Política Colonial”.
Nesse texto, através de uma arguta análise, Zeferino Cândido
apresentou ao leitor o quadro de disputas entre as potências da Eu-
ropa, decorrentes da tendência das nações daquele continente em
dilatar seu regime colonial, verdadeira marca da época.
O depoimento de Zeferino Cândido se fixou nas implicações
para Portugal das decisões tomadas na Conferência de Berlim a res-
peito da colonização africana. Para ele, a reunião em Berlim havia se
constituído como uma brilhante cartada da Alemanha, meio através
do qual os alemães haviam usurpado dos ingleses o papel de árbitro
supremo das questões coloniais.
Por meio de alianças e acordos, a Alemanha havia, assim, afas-
tado a Inglaterra, calado a França e contentado a Bélgica, enquanto
Portugal, com seu apego à diplomacia, e, em meio a um mundo no qual
o direito era inimigo da política, “teve a vantagem de perder tudo”. 126
Enfim, para Zeferino Cândido, a Conferência de Berlim havia consa-
grado “o direito de todas as nações à ocupação e posse colonial”, para
ele o equivalente a “por em completa ruína e desprezo os direitos dos
atuais possuidores a sua posse e exploração” (leia-se Portugal).127
Ao comentar a postura inglesa, apartada da luta tradicional
entre as duas raças (latino e germânica), Zeferino Cândido procurou
demonstrar que a verdadeira política da “potentosa [sic] Albion” não
era a neutralidade, como se lhe imputavam, mas sim a política colonial.
Para o diretor da Revista, a Inglaterra soube ver como a conquista só
nobilita quando existe a possibilidade de ser transformada em uma
fonte de riqueza: “a Inglaterra nunca foi descobrir, explorou”. 128 Con-
trapondo a esperteza inglesa à tolice daqueles que se embebedavam
na pálida glória dos grandes aventureiros, nomeadamente Portugal e
Espanha,129 Zeferino Cândido demonstrou, em face de uma Europa em
luta com dificuldades para manter a sua vida material, a necessidade
da empreitada colonial e, para tal, a manutenção de uma Marinha com
o mais unido e mais móvel do que a força militar de terra.130
101

Cristina Pessanha Mary


No segundo número da revista dessa fase, Zeferino Cândido
publicou a continuação do seu artigo sobre a política colonial. Desta
vez focalizou as rusgas entre a Espanha e a Alemanha, motivadas pelas
pretensões germânicas em relação às Ilhas Carolinas, até então sob
domínio espanhol. Ao tecer considerações sobre a disputa, Zeferino
Cândido deu mostras de uma agudíssima lucidez, ao afirmar que a
paz na Europa era um mito inextrincável.131
A “tendência” para comentar assuntos caros a Portugal, como
se lá estivessem, manifestou-se também em José Filipe Pestana. As
“Crônicas Geográficas”, nessa última fase da revista, sob sua respon-
sabilidade, restringiram-se à exaltação dos feitos portugueses no
continente africano.
Nesse universo, identificado como terceira fase da coleção de
revistas, encontramos, ainda, um exemplar inteiramente dedicado à
comemoração realizada pela Seção, com a presença de D. Pedro II,
dos feitos em África de Roberto Ivens e Hermenegildo de Brito Ca-
pello, dois exploradores portugueses que dividiram com Serpa Pinto
as glórias das incursões lusas ao continente africano. Ao final desse
mesmo número, constava ainda uma mensagem subscrita por nomes
importantes no cenário brasileiro, como Joaquim Nabuco, Machado de
Assis, e dirigida aos exploradores portugueses, assinada por D. Pedro
II, a imperatriz Teresa, a princesa Isabel, o Conde D’Eu, seus filhos
e uma série de agremiações, como o Clube de Engenharia, a Escola
Politécnica, a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, o Gabinete
Português de Leitura, o Observatório Nacional132 e outros institutos.
Essa apresentação foi feita pelo associado Joaquim Abílio
Borges,133 membro-relator da Comissão de estudos sobre Portugal e
suas colônias. O fascículo em tela contou com a apresentação de um
resumo das aventuras de Ivens e Capello e da conferência, realizada
por Zeferino Cândido, eleito orador pela Seção.
Em consonância com sua postura de defensor da colonização
lusa, Zeferino Cândido entrelaçou os feitos de antigas dinastias ibéri-
cas, da reconquista da península, passando pela formação do reino de
Portugal, até aquele momento de retomada da colonização em África
por portugueses. Para o redator-chefe da revista da Seção, Portugal
levava “a moderna civilização” ao “continente negro”, sob as mais
variadas formas: desenterrando os monumentos e as ruínas das anti-
gas cidades, decifrando moedas, copiando e completando inscrições,
restaurando alfabetos, reanimando línguas esquecidas.
Esse processo civilizador não estaria fundado somente na ques-
tão moral, mas também na necessidade de se promover um equilíbrio
102
Seção e Secessão

de riquezas, implantando indústrias que procuravam terreno para sua


implantação e consumidores para sua afirmação:

A África pede às nações cultas a boa orientação dos princípios


econômicos, que já são conhecidos e os bons mestres e os bons
guias, para dirigirem estes braços, que têm a força para lutar
contra os leões e com os elefantes, mas que não tem o norte e
a direção do trabalho sábio e produtivo [...].134

Neste sentido, a geografia, ao lado da ciência econômica, de-


sempenhava um papel importante:

[...] A geografia registra e observa os fenômenos climatéricos


[sic]; mede e percorre as montanhas, determinando-lhes as
suas populações, vegetais e animais; explora os rios até as
suas nascentes, reconhecendo os seus períodos, a permissão
das suas correntes, determinando o estado e costumes das
populações que vivem nas suas margens.

[...] Em cada região nova, o explorador vai armado de uma mul-


tidão de instrumentos e de uma longa lista de conhecimentos
a determinar. A natureza do terreno, a qualidade das culturas
que permite, as forças industriais que nele se podem aproveitar,
a qualidade e quantidade de matérias-primas que contém ou
produz ou pode produzir, a estatística dos braços e dos consu-
midores, que nele existem ou a ele se podem afeiçoar; enfim,
as relações comerciais que podem empreender-se, as vias de
comunicação que podem abrir-se.135

Cabe ressaltar o conceito de geografia formulado por Zeferino


Cândido, atitude muito rara nas fases anteriores da revista, mas pre-
sente nessa gestão. Mesmo durante a solenidade de posse de Jaceguay,
Zeferino Cândido já havia arriscado definir o papel das sociedades
de geografia:

Hoje, que a ciência geral da geografia se tornou base irrefragá-


vel de todas as boas conquistas do homem; hoje, que todos os
ramos da ciência e da indústria humana, que todas as grandes
aspirações sociais mendigam avidamente nos anais destas so-
ciedades os dados e os elementos das suas lucubrações e das
suas leis, as sociedades desta ordem deixaram de ser simples
reuniões burocráticas, convívios de sábios ou sociedades de
103

Cristina Pessanha Mary


auxílios particulares ou ainda manifestações patrióticas, para
serem os grandes laboratórios das modernas civilizações.

[...] Assim de todos os teatros anatômicos saem os elementos


precisos para o conhecimento das doenças, assim das socie-
dades de geografia saem todos os dias novos elementos para o
conhecimento fisiológico e patológico deste organismo gigante,
a que se acha fatalmente subordinada a vida e o progresso das
sociedades humanas.136

Em meados do século XIX, sob a influência dos avanços da


biologia, generalizou-se o conceito de organismo, quando o próprio
planeta Terra foi considerado enquanto tal, isto é, um todo maior,
dotado de vida própria, composto por várias partes, com funções
diferentes e complementares. 137
Nessa conjuntura, enquanto a geografia foi, muitas vezes, entendi-
da como a ciência encarregada de estudar esse organismo, os geógrafos
avocaram o papel de síntese nesse processo de conhecimento da Terra,
como se observa também no próprio Barão de Jaceguay, que não se
furtou a afirmar que “a geografia era uma ciência universal que a tudo
abarcava”; para o presidente da Seção naquela última fase, a geografia
era assim descrita:

O mais rude e ignaro marujo é um geógrafo, sem o saber....

E, em verdade, senhores, o homem do mar, ainda aquele a quem


cabe o mais modesto mister na arte da navegação, é sempre
um fator do desenvolvimento da ciência, que terá por objetivo
conhecer e descrever a terra na infinita variedade dos aspectos
da tríplice vida que se agita n’esta célula do sistema universal,
habitáculo da família humana...

A geografia é uma ciência universal por excelência: ela abrange


todas as outras ciências, todas as artes, todas as indústrias, todas
as manifestações da inteligência e da atividade humana, assim
como todos os fenômenos da natureza sujeitos à observação do
homem; tudo quanto se passa no universo, apreensível ao nosso
espírito, concorre para ampliá-la, ilustrá-la e enriquecê-la.

Todas as profissões, as mais transcendentes e as mais humildes,


são tributárias do seu aperfeiçoamento nas multíplices ramifi-
104
Seção e Secessão

cações do seu domínio incomensurável. Em uma palavra, nada


do que se passa no mundo é indiferente aos seus fins [...]138

Ao que parece, Jaceguay estaria familiarizado com a ideia das


grandes sínteses globais, bastante difundida durante os séculos XVIII
e XIX na Europa, quando, diante do gigantesco afluxo de informações,
oriundo das explorações, os homens de ciência se empenharam em
inventariar e organizar o material recolhido, dispondo-os segundo
eixos explicativos, gerais e sintéticos.
Segundo Paulo César Gomes,139 a preocupação dos geógrafos em
fazer alarde do papel da geografia como ciência de síntese consistiu,
na verdade, em uma estratégia, no sentido de galgar melhor posição
no ranking das demais disciplinas em processo de consolidação e
diferenciação.
Tal estratégia, muito utilizada também por outros ramos do
conhecimento, informava sobre uma Europa de fins do XIX, em que
o processo de especialização da ciência em curso e a diferenciação
de campos disciplinares era um fato. Cabe indagar, no entanto, a pro-
priedade de se aplicar tal raciocínio à realidade do Império brasileiro,
no qual, mesmo nos seus últimos anos, esta ânsia para garantir um
campo próprio de trabalho não parecia figurar no horizonte da elite,
às voltas com tantas incertezas.
O fato de Jaceguay estar familiarizado com discussões em voga
na Europa, revelando um preparo sofisticado, se explica, provavel-
mente, pelo seu currículo de oficial da Marinha, pois, naquele tempo,
em fins do Império, os oficiais desta arma possuíam um “estilo aris-
tocrático”, isto é, existiam em pequeno número e realizavam viagens
constantes ao exterior, em missões que requeriam cosmopolitismo.140
De qualquer forma, a ideia de síntese tinha como pressuposto a des-
crição da Terra, não fugindo, assim, de uma concepção muito comum
nos Oitocentos.
Essa preocupação em aclarar as concepções de geografia foi
outra característica dessa terceira fase do periódico, além da for-
tíssima inclinação para prestigiar a colônia portuguesa no Brasil,
traço distintivo de Jaceguay e Zeferino Cândido. Como vimos, entre
os demais membros da diretoria da revista (presidentes e chefes de
redação), somente Ladislau Netto, com seu currículo internacional,
e, provavelmente por isso, foi um dos poucos, além do almirante
Jaceguay, a fazer referência explícita à existência de uma “geografia
moderna”, mesmo assim sem defini-la.141
A formulação do conceito de geografia parecia não integrar o
elenco de questões dos exploradores, nem de Teffé e nem de Parima,
105

Cristina Pessanha Mary


homens cultos, membros da elite imperial, por demais absorvidos
pelas demarcações de fronteiras, atividades que requeriam doses
muito altas de pragmatismo e habilidades especiais para enfrentar os
sertões. Assim, ficava difícil apegarem-se à elaboração de um conceito
de geografia.
Contudo, mesmo assim, com esta marca própria, Zeferino
Cândido, eminência parda da gestão de Jaceguay, ao afirmar que à
geografia cabia registrar e medir fenômenos da natureza, demonstrou
não se distinguir muito de Parima e Teffé. A linha de clivagem da Seção,
portanto, não estava na ideia de geografia.
O que parecia mesmo dividir todos era o desejo autonomista
de alguns associados. Embora tenha resistido à tentativa de transfor-
mação, depois do episódio separatista a Seção jamais foi a mesma,
passando a conviver com duas cataduras diferentes: enquanto uma
afirmava-se conciliadora e dócil aos interesses da matriz em Lisboa,
e todos a viam assim, outra, na sombra, trabalhava com a ideia da
construção de um outro grêmio diferente, de uma outra geografia.

Notas
1 Trecho extraído de ofício, enviado pela diretoria da Sociedade de Geografia de
Lisboa, dirigido ao presidente da Seção no Brasil, Cândido Mendes, em maio de
1880 (Revista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio
de Janeiro, série 1, tomo 1, n. 1, p. 16, abr. 1881).
2 Ao comentar a criação da Seção, Perla Zusman chamou a atenção para a pecu-
liaridade dos objetivos daquela filial: atender interesses dos setores pró-lusitanos.
Para a autora em questão, atender o desafio proposto por Portugal em África
significaria aceitar o submetimento do Brasil a Portugal (ZUSMAN, Perla Brígida.
Sociedades de Geografia na produção do saber a respeito do território: estratégias
políticas e acadêmicas das instituições geográficas na Argentina (1879-1942) e no
Brasil (1838-1945). 1996. Dissertação (Mestrado em Geografia)–Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1996).
3 PINHO, Wanderley. Salões e damas do segundo reinado. São Paulo: Livraria Martins,
1959.
4 Da lista dos convidados para o ato de fundação da Seção da Sociedade de Geo-
grafia de Lisboa estiveram presentes: 1 - Visconde de Borges Castro, 2 - Barão de
Teffé ou Antônio Luiz von Hoonholtz, 3 - Visconde de S. Salvador de Mattosinhos,
4 - Benjamim Franklin Ramiz Galvão ou Barão de Ramiz, 5 - Boaventura Gonçalves
Roque ou Visconde do Rio Vez, 5 - Cândido Mendes de Almeida, 6 - Augusto Emílio
Zaluar, 7 - Francisco Maria Cordeiro de Souza, 8 - General Henrique Pedro Carlos
de Beaurepaire-Rohan ou Visconde de Beaurepaire-Rohan, 9 - João Marçal Moreira
Pacheco, 10 - Lucas da Costa Faria, 11 - Miguel Ribeiro Lisboa, 12 - Pedro Gastão
Mernier, 13 - Wenceslau de Souza Guimarães. Justificaram ausência: 14 - Barão da
Ponte Ribeiro ou Duarte da Ponte Ribeiro e 15 - Ladisláu de Souza Mello e Neto
(Revista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 1, tomo 1, n. 1, abr. 1881. p. 33).
5 Revista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 1, tomo 1, n. 1, abr. 1881. p. 9.
106

6 A biografia de Cândido Mendes de Almeida (1818/1881), primeiro presidente da


Seção e Secessão

Seção, revela uma carreira de destaque, iniciada com o bacharelato em ciências


jurídicas e sociais, em 1839, em Olinda. Professor da cadeira de geografia e história
no Liceu de São Luiz, foi também promotor público e deputado, tendo chegado ao
Senado em 1871. Destacou-se na política e foi defensor intransigente dos valores
do catolicismo. Sua produção versou sobre o direito e o que hoje denominamos
história e geografia, tendo publicado no escopo desta última o Atlas do Império
do Brasil (IGLESIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: capítulos da historiografia
brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte: UFMG, IPEA, 2000).
7 Marechal Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire-Rohan, filho do Conde de Be-
aurepaire, formou-se em ciências físicas e matemáticas; ao atingir o posto de
tenente-coronel, transferiu-se para a arma de engenharia. Deve-se ressaltar sua
importância para a cartografia brasileira, tendo chefiado a comissão de levanta-
mento da Carta Geral do Império, ao lado do Barão da Ponte Ribeiro. Na política,
foi presidente das províncias do Pará e da Paraíba, ocupando a pasta da Guerra
(Dicionário biobibliográfico de historiadores, geógrafos e antropólogos brasileiros.
Rio de Janeiro: IHGB, 1993).
8 Decreto 7.315, de 25 de junho de 1879. In: ESTATUTOS da Seção da Sociedade de
Geografia de Lisboa no Brasil. Rio de Janeiro: [s.n.], 1880.
9 PEREIRA, Maria Manuela Cantinho. O Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia
de Lisboa: modernidade, colonização e alteridade. Lisboa: Fundação C. Gulben-
kian, Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2005.
10 SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. Publicações, Rio de Janeiro, n.10, v. 2, do-
cumento 9, 1881-1883.
11 SEÇÃO DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA NO BRASIL. Regimento Interno
da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil. Rio de Janeiro, 1880.
12 Idem, p. 14.
13 Sobre o Fundo Africano, ver capítulo 2.
14 REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil. Rio de
Janeiro. 1. s, t. I, n. 1, 1881. p. 17.
15 CARDOSO, Luciene Pereira Carris. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: iden-
tidade e espaço nacional (1883-1909). 2003. Dissertação (Mestrado em História)–
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
16 Henry Haffard, filho do Cônsul-Geral da Suíça, concluiu seus estudos superiores
em Paris, tendo se dedicado ao longo de sua vida ao comércio e atividades como
a administração do Consulado Geral da Suíça. Haffard integrou também o IHGB,
tendo escrito sobre D. Pedro II (BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Di-
cionário bibliográfico brasileiro. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1883-1902. 7 v).
17 Abílio Borges, advogado de profissão, era filho do Barão de Macaúbas, proemi-
nente educador nos tempos do Império.
18 TABORDA, Humberto. História do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Ja-
neiro: primeiro centenário 1837-1937. Rio de Janeiro: Real Gabinete Português de
Leitura, [19--].
19 O Visconde, proprietário do periódico O Paíz (irmão do Conde de Mattosinhos),
era uma das mais importantes personalidades da colônia portuguesa radicada no
Rio (CARVALHO, José Murilo. O povo do Rio de Janeiro, bestializados ou bilontras?
Revista do Rio de Janeiro, Niterói, 1996). Integraram também a Seção o Conde de
Mattosinhos e seu filho João José dos Reis Júnior.
20 Emílio Zaluar (1826-1882), português, naturalizado brasileiro, ainda em Lisboa,
abandonou o curso de medicina e passou a colaborar em inúmeros periódicos:
primeiro em Portugal, depois no Brasil, publicou, entre outros escritos, Peregrina-
ções pela Província de São Paulo, 1860-1861 (de1861), e ainda a obra que tem sido
107

apontada como uma das primeiras no país, no gênero da ficção científica, O doutor

Cristina Pessanha Mary


Benígus, de 1875. Cabe destacar que a aventura escrita por Emílio Zaluar foi clara-
mente inspirada na obra de Julio Verne (CARVALHO, José Murilo. Benigna ciência.
In: ZALUAR, Emílio. O doutor Benígnus. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1994).
21 Borges Castro foi conselheiro do rei de Portugal, sócio da Academia de Ciências
de Lisboa e chegou a publicar oito volumes acerca de tratados e convenções ce-
lebrados entre a Coroa portuguesa e as demais potências, tendo iniciado sua car-
reira como militar, encerrando-a com a diplomacia (NOBREZA de Portugal. Lisboa:
Editorial Enciclopédia, 1961).
22 Francisco Maria Cordeiro era nada mais nada menos do que o irmão de Luciano
Cordeiro, o Secretário-Perpétuo da Sociedade de Geografia de Lisboa. Francisco
foi cônsul nos Estados Unidos e chegou a fundar em Lisboa, juntamente com seu
irmão, a Companhia dos Carris de Ferro de Lisboa (GRANDE Enciclopédia Portu-
guesa e Brasileira. Lisboa: Editorial Enciclopédia, 1960. 40 v).
23 Além do seu cargo de diretor da Biblioteca Nacional, Ramiz se destacou como
promotor de exposições, tais como a “Camoneana”, a referente à “História do
Brasil”, destacando-se ainda o fato de ter presidido o Primeiro Congresso Nacional
de História, em 1909 (DICIONÁRIO biobibliográfico de historiadores, geógrafos e
antropólogos brasileiros. Rio de Janeiro: IHGB, 1993. 6v).
24 O Barão de Teffé, ou Almirante Antonio Luis von Hoonholtz (1837-1931), desta-
cou-se na esfera científica por seus trabalhos em hidrografia, chegando mesmo a
publicar um tratado de hidrografia. Teffé participou ativamente da demarcação da
fronteira no norte. Ao longo deste trabalho, apresentaremos outros aspectos da
biografia do referido barão.
25 Do notável currículo de Ladislau Netto, botânico pela Academia de Ciências de
Paris, assinala-se seu papel para o desenvolvimento da antropologia e da etnogra-
fia no Império, destacando-se ainda seus trabalhos voltados para a cultura indí-
gena americana (seus hábitos, suas línguas, a decifração de inscrições) (LOPES,
Maria Margaret. O local musealizado em nacional: aspectos da cultura das ciên-
cias naturais no século XIX, no Brasil. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA, Antônio Augusto
Passos (Org.). Ciência, civilização e império nos trópicos. Rio de Janeiro: ACCESS,
2001; FREITAS, Marcus Vinicius. Charles Fredrik Hartt: um naturalista no império de
Pedro II. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002).
26 O Barão de Wildich, Pedro André Afonso de Figueiredo, cidadão francês, atuou,
sobretudo, na carreira diplomática, ocupando o consulado de Portugal no Rio de
Janeiro, nos últimos anos do Império. Além da Seção, o barão foi sócio honorário
do Liceu Literário Português e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Wil-
dich parecia gozar de bastante prestígio entre os grupos próximos ao imperador,
mormente entre os fundadores do Instituo Histórico e Geográfico Brasileiro. Ao
que tudo indica, seu nome foi aprovado na referida instituição em função de uma
obra intitulada Guia do cidadão português no Império do Brasil e que, segundo
insinuações de Capistrano de Abreu, não se distinguia tanto por seu valor histo-
riográfico (GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Debaixo da imediata proteção de
Sua Majestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889).
Revista do IHGB, Rio de Janeiro, v. 156, n. 388, jul./ set. 1995. p. 487; DICIONÁRIO
bibliográfico de sócios estrangeiros (Século XIX). Rio de Janeiro: IHGB, 2001).
27 Ângelo Agostini, jornalista de origem italiana, famoso por integrar o primeiro es-
calão do time de caricaturistas da imprensa, colaborou em diversos periódicos
ilustrados, como O Cabrião, semanário humorístico, adepto da abolição da es-
cravidão (SOARES, Pedro. A guerra da imagem: iconografia da guerra do Paraguai
na imprensa ilustrada fluminense. 2003. Dissertação (Mestrado em História)–Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. p. 60).
28 Joaquim da Costa Ramalho Ortigão, português de uma família proveniente do
Porto, irmão do famoso escritor português, conhecido como Ramalho Ortigão e
amigo de Eça de Queirós, foi uma personalidade importante da colônia lusa no
Brasil. Transferindo-se para o Brasil, dedicou-se às atividades comerciais, entre
108

elas a gerência de casas de Comissões de Café. Envolveu-se também com a re-


Seção e Secessão

forma dos estatutos do Banco do Brasil, sendo um dos criadores do Centro da


Lavoura e do Comércio. No campo cultural, terminou por alçar-se à presidência do
Gabinete Português de Leitura, dentre outras associações onde militou (GRANDE
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. v. 24. Lisboa: Editorial Enciclopédia, 1960;
TABORDA, Humberto. História do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Ja-
neiro: primeiro centenário 1837-1937. Rio de Janeiro: Real Gabinete Português de
Leitura, [19--]).
29 Carlos Maximiano Pimenta de Laet, engenheiro de formação, foi jornalista, profes-
sor do Colégio Pedro II e também presidente do Circulo Católico (BUENO, Alexei;
GERMAKOFF, George (Org.). Duelos no Serpentário: uma antologia da polêmica in-
telectual no Brasil, 1850-1950. Rio de Janeiro: Casa Editorial, 2005).
30 André Rebouças (1838-1898), engenheiro militar por formação, chegou a envol-
ver-se em algumas obras públicas. Liberal de ideias abolicionistas, participou da
fundação de algumas sociedades com este fim. Com a República, parte juntamente
com a família real para o exílio (CARVALHO, Maria Alice. O quinto século: André
Rebouças e a construção do Brasil. Rio de Janeiro: Revan: IUPERJ-UCAM, 1998).
31 ALONSO, Ângela. Ideias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil Império.
São Paulo: Paz e Terra, 2002.
32 Nos primeiros tempos do Império, os engenheiros formavam-se na Academia Real
Militar, que também conferia o título (a partir de 1844) de bacharel em matemática
e ciências físicas. Mais tarde, em 1858, esse estabelecimento desdobrou-se em dois
outros: a Escola Central e a Escola Militar da Praia Vermelha. Em 1874, a Escola
Central transformou-se na Politécnica (destinada a formar engenheiros civis), en-
quanto a Escola Militar passou a monopolizar todos os estudos militares superi-
ores, inclusive a engenharia militar. Nem sempre, contudo, o aluno da Escola Cen-
tral, ou mesmo da Politécnica, ia até o fim do curso, formando-se em engenharia;
por vezes contentava-se com o título de bacharel ou doutor em matemáticas e
ciências físicas ou ciências naturais (CASTRO, Celso. Os militares e a República:
um estudo sobre cultura e ação política. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1995; COELHO,
Edmundo Campos. As profissões imperiais. São Paulo: Record, 1999).
33 FADEL, Simon. Engenharia e saneamento: a trajetória profissional de Fábio Hostílio
de Morais Rego. Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência, Rio de Ja-
neiro, v. 3, n. 3, p. 20-31, jan./ jun. 2005.
34 COELHO, Edmundo Campos. As profissões imperiais. São Paulo: Record, 1999.
35 Eduardo Lemos dedicava-se a negócios relativos ao café, tendo presidido o Gabi-
nete Português de Leitura.
36 O Visconde de São Cristóvão, José Marcelino da Costa e Sá, presidiu o Gabinete
Português de Leitura em 1870.
37 CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 87.
38 Ibidem.
39 Ibidem.
40 COELHO, Edmundo Campos. As profissões imperiais. São Paulo: Record, 1999.
41 ADONIAS, Isa. O acervo de documentos do Barão da Ponte Ribeiro: livros, ma-
nuscritos [e] mapas: centenário da sua incorporação aos arquivos do Ministério
das Relações Exteriores (1884-1984). Rio de Janeiro: IHGB, 1984; MAGNOLI, Demé-
trio. O Estado em busca do seu território. Revista Terra Brasilis, Rio de Janeiro, n.
4-5, 2002-2003.
42 MOTA, Arthur Silveira da. Reminiscências da Guerra do Paraguai. Rio de Janeiro:
Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1982.
109

43 TAUNAY, Visconde de. A retirada da Laguna. 15. ed. Rio de Janeiro: Biblioteca do

Cristina Pessanha Mary


Exército, 1959.
44 SOARES, Pedro. A guerra da imagem: iconografia da guerra do Paraguai na impren-
sa ilustrada fluminense. 2003. Dissertação (Mestrado em História)–Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
45 A titulação de nobreza dos sócios veio em diferentes momentos de suas vidas, ao
longo do Império. Como a Seção se desorganizou no mesmo momento da chegada
da República, quando essas titulações foram abolidas, julgamos irrelevante para
este trabalho precisar as datas de concessão dos títulos.
46 Este foi o caso de grande parte dos fazendeiros de café, após a abolição, quando
inúmeros deles ganharam o título de barão, ainda que sem grandeza, o mais baixo
grau na hierarquia nobiliárquica brasileira. (SCHWARZ, Lilia Moritz. As barbas do
imperador: D. Pedro II, um monarca dos trópicos. São Paulo: Companhia das Le-
tras, 2000).
47 GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. “Debaixo da imediata proteção de Sua Majest-
ade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889)”. Revista do
IHGB, Rio de Janeiro, v. 156, n. 388, jul./ set. 1995.
48 GOUVEIA, Maurílio. Fluminenses nos conselhos do Império, 1822-1973. Niterói: Wal-
deck, 1973.
49 Teffé esteve à testa da Repartição Hidrográfica desde a criação do instituto em
1876, até 1890. Jaceguay presidiu entre 1907 e 1910 (DIRETORIA DE HIDROGRAFIA
E NAVEGAÇÃO. Histórico, atividades, perspectivas. Niterói, 2003).
50 A Repartição Hidrográfica fez longa carreira. Em 1891, foi reunida à Repartição dos
Faróis e à Repartição Central Meteorológica, sob a denominação de Repartição da
Carta Marítima. Anos mais tarde transformou-se em Superintendência da Carta
Marítima, chegando aos dias atuais sob a denominação de Diretoria de Hidrografia
e Navegação (DHN). Independentemente da nomenclatura, esta instituição jamais
deixou de lado sua função original, levantando sistematicamente cartas dos rios,
lagoas e do litoral do Brasil. Ibidem.
51 O Barão de Parima acumulou a presidência da Seção com a direção do Obser-
vatório no ano de 1884. Este último cargo foi ocupado temporariamente, em sub-
stituição a Luis Cruls (BARRETO, Luiz Muniz Barreto. Observatório Nacional: 160
anos de história. Rio de Janeiro: MCT, CNPQ, Observatório Nacional, Academia
Brasileira de Ciências e Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de
Janeiro, 1987).
52 A convivência nos institutos nem sempre produziu laços de amizade, resultando
às vezes em profundo desafeto, como o que contrapôs Pereira Reis ao primeiro
presidente do Observatório, o astrônomo francês Emmanuel Liais, por volta de
1878. A desavença entre ambos, ampliada no intenso debate que se seguiu, termi-
nou suscitando novas rusgas entre aqueles que, tomando partido na contenda, se
alinhavam a um ou outro lado: assim, o Barão Homem de Mello terminou por acu-
dir Pereira Reis, apoiado também em alguns nomes da Politécnica e da Marinha,
enquanto o Barão de Teffé colocou-se a favor de Liais (BARRETO, Luiz Muniz
Barreto. Observatório Nacional: 160 anos de história. Rio de Janeiro: MCT, CNPQ,
Observatório Nacional, Academia Brasileira de Ciências e Secretaria de Ciência e
Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, 1987).
53 FONSECA, Maria Rachel Fróes. As Conferências Populares da Glória: a divulgação
do saber científico. História, Ciência e Saúde, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, 1995.
54 [Nomes como os de Machado de Assis, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco chegaram a
endossar documentos, laudatórios aos exploradores portugueses]. REVISTA Men-
sal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 2,
n. 3, nov./ dez. 1885. p 77.
55 Cabe lembrar que o ano seccional da Seção se iniciava no meio do ano, em julho.
110

56 O senador Manoel Francisco formou-se em Direito, tendo ocupado diversas fun-


Seção e Secessão

ções públicas: elegeu-se senador pelo Pará em 1877, foi ministro da pasta dos
estrangeiros e presidente da província de Pernambuco. Vale destacar sua par-
ticipação no primeiro recenseamento da população do Império como chefe da
Repartição de Estatística. Como veremos adiante, Correia foi o organizador das
Conferências da Glória e a figura central das reuniões de 1883 que desembocaram
na efetivação da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, em 1883 (CARDOSO,
Luciene Pereira Carris. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: identidade e
espaço nacional (1883-1909). 2003. Dissertação (Mestrado em História)–Universi-
dade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003).
57 BOLETIM da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, série 2, n. 6,1881.
58 A defecção do Barão de Teffé, ou Almirante Antônio Luiz Von Hoonholtz (1837–
1931), ocorreu logo após a sua recondução ao cargo de presidente da Seção da
Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil.
59 Assinavam o referido pedido de transformação da Seção em uma outra sociedade
de geografia nacional os seguintes associados da filial no Brasil: A.J.Henriques, Fer-
nando P. Mayrink, Campos de Medeiros, Nicolau Midosi, Antônio José Rodrigues
Netto, Campos da Paz, J. P. Machado Portella, Fernando Mendes de Almeida, Hen-
rique Beaurepaire-Rohan, Emydio Adolpho Victorio da Costa e Wenceslau Gui-
marães (SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. Publicações, Rio de Janeiro, v. 2,
n. 10, documento 3, 1881-1883).
60 SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. Publicações, Rio de Janeiro, n. 2, n. 10,
documento 3, 1881-1883.
61 BOLETIM da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, série 2, n. 7-8, 1881. p.
592.
62 Lista dos sócios contrários à transformação da Seção: Simão de Sampaio Leite, An-
tonio de Serpa Pinto Júnior, J. R. de Oliveira Catramby, J. Marçal, Moreira Pacheco,
Henrique Reis, José Martins Pollo, Luiz Correa da Silva, Antonio Pollo, Francisco
Teixeira de Aragão, Ângelo Agostini, J. C. Ramalho Ortigão, Eduardo R. C. de Le-
mos, Joaquim José Marques, Adolpho Pereira Pinheiro, Pedro Leão Velloso Fialho,
Pompeu da Costa Leão, Henrique Laemmert, Manuel Salgado Zenha, Lucas da
Costa Faria, Eduardo A. de Brito Cunha, Domingos J. B. de Almeida, L. Mertend,
Carlos da Silva Moreceux, Reinaldo Carlos Montoro, Joaquim José Sequeira Júnior
e o Visconde de Sistello.
63 SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. Publicações, Rio de Janeiro, n. 10, v.2, do-
cumento 4, 1881-1883.
64 BOLETIM da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, série 2, n. 6, 1881. p. 475.
65 NOTA da Redação. Revista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no
Brasil, Rio de Janeiro, n.1, abr. 1881. p. 5.
66 SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA. Publicações, Rio de Janeiro, v. 2, n. 10,
documento 7, 1881-1883. p. 17, grifos nossos.
67 MARY, Cristina Pessanha. A geografia no Brasil nos últimos anos do Império. RBHC,
[S.l.], v. 3, n. 2, jul./ dez. 2005.
68 A coleção consultada compõe-se dos seguintes exemplares:
REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 1, tomo 1, n. 1, abr. 1881. 33p.
REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 1, tomo 1, n. 2, abr. 1881. 32p.
REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 1, tomo 1, n. 3-5, jun./ ago. 1881.113p.
111

REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de

Cristina Pessanha Mary


Janeiro, série 1, tomo 2, n.1, ago./ out. 1883. 34p.
REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 1, tomo 2, 1884. 92p.
REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 1, tomo 3, jan./ fev. 1885. 64p.
REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 2, n.1, set. 1885. 46p.
REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 2, n. 2, out. 1885. 47p.
REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 2, n. 3, nov./ dez. 1885. 77p.
REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 2, n. 4, jan./ mar. 1886. 40p.
69 Estamos considerando como “diretoria” os presidentes da Seção e o chefe de re-
dação de cada ano seccional, que se iniciava em junho. Sucederam-se nessas fun-
ções, respectivamente: o Barão de Teffé e Fernando Mendes de Almeida – 1881;
Ladislau Netto e Antônio Serpa Pinto Junior – 1883; o Barão de Parima e Eduardo
Brito Cunha – 1884; o Barão de Jaceguay e Zeferino Cândido – 1885. Eduardo Brito
Cunha substituiu Zeferino Cândido interinamente – 1886.
70 REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 1, tomo 2, n.1, ago./ out. 1883. 34p.
71 Os não associados que publicavam na revista eram, em geral, sócios de outras
sociedades, como os da Sociedade de Geografia de Lille, com a qual a Seção se cor-
respondia frequentemente.Telêmaco Morocines Borba foi um dos raros nomes a
publicar na revista e a não constar entre os filiados do grêmio. Até onde se sabe, o
paranaense Telêmaco publicou um livro intitulado Atualidade Indígena, tendo seu
nome batizado a cidade onde foi criado. Segundo consta, Telêmaco tinha fama de
apresador de índios no interior do Paraná.
72 Incluindo pronunciamentos da redação, seção necrológica e as crônicas como um
tema de ordem geral, que dizia respeito a várias partes do mundo.
73 A biografia de Ladário nos conta uma trajetória profissional semelhante à de Teffé.
Cursou, da mesma forma, a Escola de Guarda-Marinha, e se destacou na guerra
do Paraguai, tendo trabalhado em mais de uma comissão de demarcação, como a
Comissão de Limites entre o Brasil e a Guiana Francesa. Diferentemente de Teffé,
sempre expressando o desejo de não envolver-se na política partidária, Ladário
comprometeu-se com o Partido Liberal, durante o Império, tendo cumprido man-
dato de deputado no Amazonas (1878-1881) (BLAKE, Augusto Victorino Alves Sa-
cramento. Dicionário bibliográfico brasileiro. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional,
1883-1902. 7 v).
74 O Conselheiro Barão da Ponte Ribeiro, ou Duarte da Ponte Ribeiro ( 1794-1878),
cursou anatomia médico-cirúrgica, seguindo, no entanto, a carreira diplomática.
Ribeiro ocupou também o cargo de chefe da Secretaria dos Estrangeiros. Ponte
Ribeiro foi ainda sócio do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, do Instituto da
África em Paris, da Real Academia de Ciências em Lisboa. Esteve envolvido com a
questão de limites e fronteiras, e com a confecção da carta do Império, juntamente
com o Visconde de Beaurepaire-Rohan, em 1875 (BLAKE, Augusto Victorino Alves
Sacramento. Dicionário bibliográfico brasileiro. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional,
1883-1902. 7 v).
75 “PROJETO de divisão política para o Brasil: observações preliminares”. Revista
Mensal da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, n. 2, tomo 1,
p.33-35, maio 1881.
112

76 Cabe a lembrança de que Varnhagen, um personagem crucial na montagem da


Seção e Secessão

história nacional, articulada pelo Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, apadri-


nhou a entrada de Cândido Mendes naquele estabelecimento (GUIMARÃES, Lúcia
Maria Paschoal. Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial: o Insti-
tuto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). Revista do IHGB, Rio de Janeiro,
v. 156, n. 388, jul. /set. 1995. p. 488).
77 VESENTINI, William. A capital da geopolítica. São Paulo: Ática, 1986. p. 70.
78 SEÇÃO necrológica. Revista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa
no Brasil, Rio de Janeiro, tomo I, n.1, p. 22-25, abr. 1881.
79 Ibidem.
80 João Capistrano de Abreu, que terminou por filiar-se à Seção é considerado como
um dos grandes historiadores brasileiros, tendo produzido inovações na pesquisa
relativa ao período colonial. O legado de sua produção pode ser visto como ati-
nente à história, à geografia, à etnologia e à critica literária (GOMES, Ângela de
Castro. História e historiadores. Rio de Janeiro: FGV, 1996).
81 DO clima do Brazil (sic) e a terra e de algumas cousas notáveis que se acham
assim na terra como no mar. Advertência. Revista Mensal da Seção da Sociedade
de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, tomo 1, n. 3-5, p. 20-21, jun./ ago.
1881.
82 REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, tomo 3, seérie 1, jan./ fev. 1885.
83 João Severiano da Fonseca (1836-1897), irmão de Deodoro da Fonseca, estudou
medicina e a empregou na carreira militar. Esteve à disposição do Ministério dos
Estrangeiros, fazendo parte da Comissão de Limites entre o Brasil e a Bolívia; as
observações realizadas acerca de Mato Grosso durante este trabalho integraram
seu livro “Viagem ao redor do Brasil, 1875-1878”. Fonseca integrou diversas aca-
demias científico-culturais, como a Academia Imperial de Medicina, a Sociedade
Auxiliadora da Indústria Nacional, o Instituto Histórico Geográfico no Brasil, o
Instituto Histórico e Geográfico Argentino e a Sociedade de Geografia de Madri
(SILVA, Alberto Martins da. João Severiano. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército
Editora, 1989; DICIONÁRIO biobibliográfico de historiadores, geógrafos e antropó-
logos brasileiros. v. 3. Rio de Janeiro: IHGB,1993; AZEVEDO, Fernando de (Org). As
ciências no Brasil de hoje. v. 1. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994).
84 Miguel Lemos foi um dos artífices da igreja positivista no Rio.
85 REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, tomo 1, n. 2, p.61-62, maio 1881.
86 Eduardo Lemos presidiu o Gabinete de 1875 até sua morte, em 1884, tendo sido
substituído por Ortigão, a partir daí, até 1889.
87 “Projeto de exploração na África Central pelo rio Ouelle” p. 36,38 e “Uma visita ao
Panamá”, p. 39-40 (REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa
no Brasil, Rio de Janeiro, tomo 1, n. 2, p. 61-62, maio 1881).
88 LEMOS, Eduardo. Sociedades de Geografia no Globo. Revista Mensal da Seção da
Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, tomo 1, n. 2, p. 49-51,
maio 1881.
89 CRÔNICA Geográfica. Revista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa
no Brasil, Rio de Janeiro, tomo 1, n. 1, p. 26-31, abr. 1881.
90 Os festejos organizados pela Seção tiveram lugar no Cassino Fluminense, em 26 de
junho de 1881, na presença do casal imperial (REVISTA Mensal da Seção da Socie-
dade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, tomo 1, n. 3-5, jun./ ago. 1881.
p. 63-112).
91 Todos três já citados anteriormente.
113

92 Discurso pronunciado pelo senador Manoel Francisco Correia em nome de uma

Cristina Pessanha Mary


comissão de recepção do explorador (REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de
Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, tomo 1, n. 3-5, jun./ ago. 1881. p. 63-
112. p. 65).
93 A guerra do Paraguai foi um tema recorrente para Taunay, neste sentido, ver, prin-
cipalmente, A Retirada da Laguna, já citada e “Memórias”.
94 “Discurso proferido no salão do Hotel dos Estrangeiros, perante um numeroso au-
ditório, pelo major dr. Alfredo de Escragnolle Taunay, orador das comissões mili-
tares que, no dia 9 de junho, foram cumprimentar o major Alexandre Serpa Pinto
(REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, tomo 1, n. 3-5, jun./ ago. 1881. p. 63-112. p. 74).
95 REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, tomo 1, n. 3-5, jun./ ago. 1881. p. 63-112. p. 75.
96 Ibidem.
97 Foram poucos os registros sobre Antonio Serpa Pinto Júnior, constando como
figura ligada ao comércio (ALMANAQUE Laemmert: almanaque administrativo,
mercantil e industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Edu-
ardo & Henrique Laemmert, 1879).
98 Eduardo Brito Cunha foi secretário da Seção por vários anos, até a sua morte em
1888. Pouco se apurou de sua biografia, somente algumas palavras, por ocasião
do seu falecimento, encontradas na ata da Sociedade de Geografia de Lisboa (BO-
LETIM da Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, v. 8: atas, 1888).
99 NETTO, Ladislau. Trechos de uma excursão no Baixo Amazonas I. Revista Mensal
da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 1,
tomo 2, n. 1, p. 10-19, ago./ out. 1883. p. 15.
100 BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Dicionário bibliográfico brasileiro. v.
6. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1883-1902. v. 6.
101 PEREIRA, Maximiano Mendes. O Nheengatú, I. Revista Mensal da Seção da Socie-
dade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 1, tomo 2, n. 1, p. 2-5,
ago./ out. 1883; PEREIRA, Maximiano Mendes. O Nheengatú, II. Revista Mensal da
Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 1, tomo
2, n. 1, p. 5-11, 1884.
102 BORBA, Telêmaco Morocines. Breve notícia sobre os índios Caingangs. Revista
Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro,
série 1, tomo 2, n. 1, p. 20-55, ago./ out. 1883.
103 MARQUES, Joaquim José. Considerações sobre a glótica. Revista Mensal da Seção
da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 1, tomo 2, n. 1,
p. 6-9, ago./ out. 1883.
104 TORREZÃO, Alberto Noronha. A lenda de Sumê. Revista Mensal da Seção da Socie-
dade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 1, tomo 2, n. 1, p. 37-44,
ago./ out. 1883; PEREIRA, Maximiano Mendes. O Nheengatú, II. Revista Mensal da
Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 1, tomo
2, n. 1, p. 5-11, 1884.
105 FREITAS, Marcus Vinícius. Charles Fredrik Hartt: um naturalista no império de Pe-
dro II. Belo Horizonte: Ed. Universidade Federal de Minas Gerais, 2002. p. 188.
106 Ibidem.
107 A ideia de fronteira natural ganhou força na França, sobretudo a partir de fins
do século XVIII. Até então, a fronteira constituía uma noção imprecisa, podendo
ser entendida como uma linha com postos de alfândega, um limite entre Estados
soberanos. No século XIX, entretanto, a historiografia, francesa e alemã, ergueu
aquele tema de forma passional, à luz de uma nova conjuntura marcada pelas dis-
putas em torno das áreas limítrofes entre uma e outra nação. A ideia do impulso
114

francês em direção ao Reno não tinha boa repercussão na Alemanha que se unifi-
Seção e Secessão

cava (RICHET, Denis. Fronteiras naturais. In: FURET, Françoise; OZOUF, Mona. Di-
cionário crítico da Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989).
108 Carta de Marçal M. Pacheco dirigida a Luciano Cordeiro, de 22 de janeiro de 1883.
Sociedade de Geografia de Lisboa, Correspodência-1883. Apud PEREIRA, Maria
Manuela Cantinho. A Seção do Rio de Janeiro. In: ______. O Museu Etnográfico da
Sociedade de Geografia de Lisboa: modernidade, colonização e alteridade. Lisboa:
Fundação C. Gulbenkian Fundação C.Tecnologia, 2005.
109 Consideramos como revistas da terceira fase os seguintes fascículos: REVISTA
Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro,
série 2, n. 1, p. 2-5, set. 1885; REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia
de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n. 2, out. 1885; REVISTA Mensal da
Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n. 3,
nov./ dez. 1885; REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no
Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n. 4, fev./ mar. 1886.
110 Foi sob os auspícios do Liceu de Artes e Ofícios que, em 1882, criou-se o primeiro
curso de comércio regular na Corte. Este curso contou com a presença de Rama-
lho Ortigão, Eduardo Lemos e vários outros integrantes da Seção (BIELINSKI, Alba
Carneiro. Educação profissional no século XIX: curso comercial do Liceu de Artes e
Ofícios: um estudo de caso. Rio de Janeiro: [s.n.], 2004).
111 CARVALHO, José Murilo. Forças Armadas e política no Brasil. Rio de Janeiro: J. Za-
har, 2005.
112 ALENCAR, José Almino de; PESSOA, Ana. Nabuco e Jaceguay, um debate sobre a
monarquia. In: ______. Joaquim Nabuco: o dever da política. Rio de Janeiro: Casa de
Rui Barbosa, 2002. p. 91.
113 JACEGUAY, Arthur Silveira da Mota, Barão de. Reminiscências da Guerra do Para-
guai. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1982.
114 DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva. Maldita Guerra: nova história da
Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 255.
115 ALENCAR, José Almino de; PESSOA, Ana. Nabuco e Jaceguay, um debate sobre a
monarquia. In: ______. Joaquim Nabuco: o dever da política. Rio de Janeiro: Casa de
Rui Barbosa, 2002. p. 47.
116 Em 1882, Zeferino Cândido compareceu a uma conferência no Retiro Literário Por-
tuguês para discutir sobre a questão do aprendizado das ciências pelas mulheres.
Cabe ressaltar que o temário do Retiro Literário era muito vasto, incluindo assun-
tos como a degeneração da “raça latina”, e quem teria sido o maior: Napoleão ou
César? (REVISTA do Retiro Literário Português, Rio de Janeiro, ano 1, jul. 1882).
117 DICIONÁRIO biobibliográfico de sócios estrangeiros (século XIX). Rio de Janeiro:
IHGB, 2001. p. 166.
118 CÂNDIDO, Zeferino. Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil por parte do
Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Na-
cional, 1900.
119 Zeferino Cândido foi arrolado por Teófilo Braga como integrante do movimento
positivista luso (CARTROGA, Fernando. Os caminhos polêmicos da geração nova.
In: MATTOSO, José et al. História de Portugal: o liberalismo (1807-1890). Lisboa:
Estampa, 1998. v. 5, p. 489).
120 José Ferreira de Araújo era o proprietário da Gazeta de Notícias. A importância cul-
tural da Gazeta e de seu proprietário foi sobejamente destacada por Olavo Bilac.
Para Bilac, a Gazeta “era consagradora por excelência” e o jornalismo de Ferreira
Araújo, considerado como arte e poesia (BILAC, Olavo. Vossa insolência: crônicas.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996).
115

121 José Filipe Pestana, português, radicado no Brasil, foi um defensor de ideias aboli-

Cristina Pessanha Mary


cionistas. Pestana dedicou-se à função de guarda-livros (BLAKE, Augusto Victorino
Alves Sacramento. Dicionário bibliográfico brasileiro. Rio de Janeiro: Tipografia Na-
cional , 1883-1902. 7 v).
122 Cruls, militar de formação, emigrou para o Brasil, vindo a trabalhar na Comissão
Geral da Carta do Império, uma das atribuições do Imperial Observatório. Em 1881
terminou por tornar-se o primeiro astrônomo daquele estabelecimento (BARRE-
TO, Luiz Muniz Barreto. Observatório Nacional, 160 anos de história. Rio de Janeiro:
MCT, CNPQ, Observatório Nacional, Academia Brasileira de Ciências e Secretaria
de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, 1987. p. 87).
123 VIDEIRA Antônio Augusto Passos. Luiz Cruls e a astronomia no Imperial Obser-
vatório do Rio de Janeiro entre 1876 e 1889. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA, Antônio
Augusto Passos (Org.). Ciência, civilização e Império nos Trópicos. Rio de Janeiro:
Access, 2001. p. 128.
124 “ROBÉRIO Dias e as Minas de Prata, parte I. Revista Mensal da Seção da Sociedade
de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n. 1, p. 14-22, set. 1885;
ROBÉRIO Dias e as Minas de Prata, parte II. Revista Mensal da Seção da Sociedade
de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n. 2, p. 66-78, set. 1885.
125 ALGUMAS reflexões sobre a corografia do Brasil. Revista Mensal da Seção da So-
ciedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n. 1, p. 51-53, out.
1885.
126 CÂNDIDO, Antonio Zeferino. Política Colonial II. Revista Mensal da Seção da So-
ciedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n. 2, p. 47-50, out.
1885. p. 8.
127 Ibidem.
128 Ibidem.
129 “Atrás do Português e do Espanhol, aventureiro por amor da glória e do renome, o
Inglês espreita, impassível e calculador, aquelas regiões que podem ser empórios
de comércio e de indústria.” (CÂNDIDO, Antonio Zeferino. Política Colonial II. Re-
vista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro,
série 2, n. 2, p. 47-50, out. 1885. p. 8).
130 As teses de geopolítica defendidas por Zeferino Cândido, calcadas na premissa
da superioridade do poder naval sobre as forças de guerra terrestres, foram ao
encontro da escolha de Jaceguay para a presidência da Seção. Afinal Jaceguay era
almirante, importante representante da Marinha do Império.
131 CÂNDIDO, Antonio Zeferino. Política Colonial II. Revista Mensal da Seção da So-
ciedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n. 2, p. 47-50, out.
1885.
132 REVISTA Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de
Janeiro, série 2, n. 3, nov./ dez. 1885. p. 43-56.
133 Lembramos, como já vimos anteriormente, que Joaquim Abílio Borges, educador e
advogado, era filho do Barão de Macaúbas (Abílio César Borges) (REVISTA Mensal
da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n.
3, nov./ dez. 1885. p. 9-41).
134 CÂNDIDO, Zeferino. Discurso pronunciado pelo sócio dr. Antonio Zeferino Cân-
dido, orador eleito pela Seção. Revista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia
de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n. 3, p. 43-56, nov./ dez. 1885).
135 Ibidem, p. 53.
136 CÂNDIDO, Zeferino. Revista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa
no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n.1, setembro, 1885. p. 44, grifos nossos.
116

137 CAPEL Horacio. Filosofía y ciencia en la geografía contemporânea: una introduc-


Seção e Secessão

ción a la Geografía. Barcelona: Temas Universitarios Barcanova, 1981. p. 273.


138 JACEGUAY, Barão de. Revista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa
no Brasil, Rio de Janeiro, série 2, n. 1, p. 42, set. 1885.
139 GOMES, Paulo César. Geografia fin-de-siècle: o discurso sobre a ordem espacial do
mundo e o fim das ilusões. In: CASTRO, Iná. et al. Explorações geográficas. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
140 CARVALHO, José Murilo de. Forças Armadas e política no Brasil. Rio de Janeiro: J.
Zahar, 2005.
141 NETTO, Ladislau. Trechos de uma excursão no Baixo Amazonas I. Revista Mensal
da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, Rio de Janeiro, série 1,
tomo 2, n. 1, p. 10-19, ago./ out. 1883.
4. O BARÃO DE TEFFÉ E UMA OUTRA GEOGRAFIA

Cumpre ponderar que um país, que se preza de figurar a par


das nações as mais adiantadas do globo, deve antes de tudo
conhecer o seu próprio território.1

O contato com as trajetórias de vida de alguns sócios e a leitura da


coleção de revistas da Seção nos permitiram verificar a complexidade das
ideias de geografia no Brasil de fins dos Dezenove, muito mais um mosaico
de concepções e muito menos uma ideia absoluta de geografia. Dentro deste
quadro movediço, no entanto, distinguimos algumas famílias por assim dizer:
conhecemos uma geografia perpassada pelo viés literário empreendida pelo
Visconde de Taunay e também por Emilío Zaluar, registramos uma tradição
muito próxima da cosmografia em Luiz Cruls, estrela da astronomia brasileira
e encontramos ainda o ramo dos viajantes com seu exército de exploradores
como Serpa Pinto em Portugal, o Barão de Parima e o de Teffé no Brasil.
Este último, o único dos filiados da Seção a resignar seu cargo de presiden-
te e abandonar aquele instituto quando do imbróglio separatista e um dos
adeptos de primeira ordem da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro,
criada em 1883, onde desempenhou um papel de destaque. Lembramos que
durante sua presidência na Seção, diante de Serpa Pinto, representante-mor
do espírito colonialista luso, o Barão de Teffé já enaltecia os exploradores
brasileiros. Naquele momento, no entanto, sua atuação era bastante discreta,
muito diferente do discurso da epígrafe acima. Conhecer seu pensamento
em outros ambientes tornará mais claro o perfil de uma outra vertente da
geografia que ficou escondida nos limites da filial da Sociedade de Geografia
de Lisboa.

4.1. O Almirante Teffé e a ciência nacional

Antônio Luiz Von Hoonholtz, o Barão de Teffé, foi o mais novo dos
cinco filhos de um ex-oficial prussiano, Conde Frederico Guilherme Von
Hoonholtz, integrante das forças que lutaram na campanha cisplatina, e
que, após a volta de D. Pedro I para Portugal, se instalou com a família em
Itaguaí, na Província do Rio de Janeiro.2
Após a morte prematura do pai, foi educado pela mãe e pelos irmãos
mais velhos, tendo completado seus estudos primários no Colégio Alcân-
tara e no Vitorino, onde travou contato com professores, como o Barão de
Tautphoueus,3 amigo da família, Joaquim Manoel de Macedo, e Gonçalves
118
O Barão de Teffé e uma outra geografia

Dias,4 matriculando-se em seguida na Academia da Marinha. Esta


carreira rendeu-lhe bons frutos, tanto pelos postos que galgou, pela
experiência que adquiriu em levantamentos cartográficos, quanto
pelos conhecimentos travados no âmbito da política e da ciência.
Assim, em 1855, ainda na condição de guarda-marinha, inte-
grou a comitiva de negociação da livre navegação pelo rio Paraguai,
comandada pelo Almirante Pedro Ferreira de Oliveira ao país vizinho,
para mais tarde, promovido a 2o tenente, realizar viagem de instrução
ao Pacífico, como professor de hidrografia dos guardas-marinhas.5
De volta ao Rio, Antônio Luiz Von Hoonholtz veio a trabalhar
com o irmão do Almirante Joaquim José Inácio (futuro Visconde de
Inhaúma), a quem dedicou o Compêndio de Hidrografia, publicado em
1859 e adotado na Escola de Guarda-Marinha.
Foi neste início de sua carreira na marinha, quando ainda aju-
dante de ordens do Almirante Joaquim Raimundo De Lamare,6 este
executor de um dos primeiros trabalhos realizados por oficiais da
Marinha brasileira, o levantamento hidrológico da Baía de Guanabara
de 1847,7 que Teffé viu despertado seu desejo de construir uma ciência
realizada por brasileiros.
Ao longo de sua trajetória profissional, De Lamare havia se
destacado pelo empenho em organizar um serviço nacional de hidro-
grafia. Uma atividade que, mesmo depois da independência do país em
1822, ficara a cargo de missões de reconhecimento do nosso litoral,
organizadas por estrangeiros, entre elas a missão francesa chefiada
por Mouchez, entre 1856 a 1868.8
Durante a Guerra do Paraguai, Teffé manteve-se sob as ordens
de De Lamare. Nesse período, fez pequenos levantamentos cartográ-
ficos, necessários ao planejamento estratégico dos combates, tendo
participado da Batalha do Riachuelo. A experiência acumulada e os
contatos realizados nas várias missões encetadas terminaram por
alçar Teffé à presidência da Repartição Hidrográfica do Império, em
1876, tendo sido seu primeiro presidente.
Esta instituição, criada em 1876, sintetizava o sonho de De Lama-
re e do próprio Teffé, a saber: a confecção de uma carta hidrográfica
puramente nacional, que abrangesse a extensa costa do Brasil, desde
o limite setentrional, com a Guiana Francesa, até a fronteira do sul,
com a República Oriental do Uruguai.9
No seu primeiro relatório, como presidente daquela repartição,
Teffé citou os esforços anteriores, seus e do Almirante De Lamare, em
prol da criação daquele serviço hidrográfico, sem o qual os oficiais da
Marinha de Guerra permaneceriam necessitando de estrangeiros que
lhes indicassem o caminho mais seguro para chegar aos seus portos.
119

Cristina Pessanha Mary


Esta preocupação com a criação de um serviço hidrológico na-
cional foi uma constante em sua vida, uma espécie de marca registrada
como se depreende do imbróglio vivido pelo próprio barão e alguns
representantes da marinha francesa. Instado por um amigo, o francês
Amedée Ernest Barthélemy Mouchez, a integrar uma missão de son-
dagem e verificação da existência de um banco de areia no canal de
Abrolhos, organizada pela marinha francesa, Teffé buscou antecipar-se
à iniciativa dos franceses. Auxiliado por fiéis colaboradores, como o
capitão Calheiros da Graça e contando com o suporte do ministro da
Marinha, Conselheiro Castrioto, Teffé enviou para a região de Abrolhos
um cruzador destinado a empreender estudo sobre a aflitiva questão.
Contudo, na sua precipitação, a missão terminou por naufragar, lite-
ralmente, juntamente com o cruzador enviado.10
Como ato contínuo à trágica notícia, o Barão de Teffé, em pessoa,
partiu para Abrolhos, a fim de que a comissão não ficasse sem efeito.
Após a comprovação da existência do banco de areia, Teffé forneceu
a localização e as características daquele acidente geográfico aos
representantes da Marinha francesa. Estes, ao receberem a notícia,
desistiram da empreitada em Abrolhos, como queria o Barão de Teffé:

Consegui, pois, meu desideratum, que era evitar á nossa ma-


rinha de guerra a humilhação de receber ainda hoje de navios
estrangeiros as coordenadas geográficas de um novo banco
descoberto em nossas águas e as instruções para navegar com
segurança nesse trecho das costas do Império!11

O esforço do barão e a sua prática em medições astronômicas


terminaram por render a Teffé o convite do então diretor do Observa-
tório do Castelo, Luiz Cruls, para integrar uma comissão que estudaria
a passagem de Vênus pelo disco solar. O sucesso da incumbência
propiciou a Teffé o reconhecimento do Imperador, que lhe conferiu,
assim, sua elevação à dignidade de Grande do Império em 1882. No
ano seguinte, já egresso da Seção, o barão filiou-se à Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro, como veremos, um instituto perfeitamente
alinhado com a “verve nacionalista do barão”.

4.2. A geografia do barão na


Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro

A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro parecia repetir a


Seção em quase tudo, a começar pela proteção do Imperador àquele
estabelecimento. Seu quadro social contava com personalidades em
120
O Barão de Teffé e uma outra geografia

comum, ligadas à ciência, como Luiz Cruls, Orville A. Derby, Herbert


Smith e Ladislau Netto e Ramalho Ortigão, que, mesmo visceralmente
ligado à colônia portuguesa, não deixou de integrar os dois grêmios
de geografia.
Como na Seção, a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
abrigava largo espectro de representantes, dos mais diversos matizes
da ideologia e da política do Império: Saldanha Marinho, famoso re-
publicano e também maçom,12 e Carlos Maximiano Pimenta de Laet,13
católico fervoroso, são bons exemplos desta pluralidade de interesses.
Tanto a Seção quanto a SGRJ constituíram estabelecimentos privados,
frequentados por membros da elite, como advogados, engenheiros,
militares e médicos, todos, na sua maioria, formados no Brasil. Tanto
em uma quanto em outra havia um equilíbrio entre o número de ad-
vogados e o de militares.14
No entanto, quando trocamos os indicadores de nossa análise
e partimos para uma comparação, baseada nos objetivos, propostas
e iniciativas tomadas pela Seção e sua “alma gêmea”, tudo muda de
figura, sendo possível detectar importantes elementos de diferencia-
ção entre uma e outra.
Logo nas suas formulações iniciais, impressas na introdução do
primeiro boletim editado em 1885, a Sociedade de Geografia do Rio
de Janeiro procurou justificar sua criação com base na necessidade
de se conhecer o território brasileiro, tão vasto:

Não é demasiado recordar aqui as vantagens, que resultam em


geral do estabelecimento de sociedades deste gênero, principal-
mente nos países como o Brasil, em que muito resta a verificar,
quer com relação à sua extensão territorial, limites, orografia
e hidrografia, quer com relação às imensas regiões, que ainda
possui no abandono, e cujos recursos a ninguém tem sido dado
apreciar devidamente, ou sobre os quais existem esparsos, sem
a precisa coordenação, os poucos documentos, que antigos
estudos porventura conseguiram organizar. É tempo de o Brasil
ir se ocupando destes estudos especiais.15

No mesmo documento nota-se, ainda, por parte dos fundadores


daquele estabelecimento, a vontade de esculpir sua própria personali-
dade, assinalando as diferenças em relação às coirmãs cariocas: assim
sendo, na visão dos associados da Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (naquele período,
Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico Brasileiro), dadas a com-
plexidade dos seus fins e a maior concentração de estudos na área de
121

Cristina Pessanha Mary


história, não constituía o espaço ideal para se cogitar sobre a missão
que se anunciava. Para eles, embora a Seção preenchesse plenamente
os fins pretendidos, não deveria ser levada em conta, tendo em vista
constituir apenas uma filial da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Finalmente, após algumas digressões acerca da cooperação
entre os institutos de geografia, a Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro disse a que veio: no entender do grupo que lhe deu vida, o ob-
jetivo fundamental da Sociedade do Rio de Janeiro seria preencher

a lacuna há muito sentida de uma sociedade nacional, que tome


a seu encargo o estudo, a discussão, investigação e explorações
científicas da geografia nos seus diferentes ramos, princípios,
relações, aplicações e, com especialidade, o estudo e o conhe-
cimento dos fatos e documentos concernentes à geografia do
Brasil.16

Temos aqui, explicitamente, a retomada da ideia, sempre contor-


nada pelos filiados da Seção portuguesa, de escrever-se uma geografia
centrada nos territórios do Império e realizada por brasileiros.
A análise retrospectiva dos artigos encontrados no boletim
editado pela Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro17 apontou para
essa mesma direção, anunciada nos seus estatutos. Embora o formato
do Boletim se aproximasse muito do encontrado na revista da Seção,
da mesma maneira incluindo pronunciamentos da redação, e um “No-
ticiário”, equivalente às “Crônicas Geográficas”, englobando informes
sobre assuntos variados, observa-se que sua pauta se ateve mais aos
temas relativos ao Brasil. Quando muito, se estendeu aos assuntos
relacionados aos demais países do continente americano, relegando
a Europa, na maioria das vezes, ao esquecimento. Em relação a este
continente, houve apenas a apresentação de dados esparsos, relativos
à população de alguns países, em flagrante contraste com a revista
da filial portuguesa, onde a geopolítica europeia, particularmente nos
lances que envolviam Portugal e a questão africana, predominou. 18
Cabe aqui assinalar que, no boletim editado pela Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro, não se encontra nada que revele, nem de
longe, alguma preocupação a respeito da antiga metrópole e o drama
africano. Tudo se iniciava e terminava com o tema “Brasil”.
Luciene Carris Cardoso,19 ao levantar o material publicado no bo-
letim (excetuando-se as atas e discursos), no período compreendido en-
tre 1883 e 1909, classificou as monografias e os trabalhos de divulgação
científica a partir das comissões científicas existentes naquele grêmio.
De acordo com a autora, a equipe que mais publicou foi aquela ligada à
122
O Barão de Teffé e uma outra geografia

geografia política. Os trabalhos com este rótulo foram divididos em duas


classes: uma, referente à questão de limites externos, predominantes,
desenvolvendo assuntos como demarcação de fronteiras entre o Brasil
e os países vizinhos, e a outra, a respeito dos limites internos, acerca
da fixação das linhas divisórias entre as províncias do Império.
A pesquisa de Sérgio Nunes Pereira sobre o mesmo tema ra-
tificou o diagnóstico da autora citada: utilizando-se do boletim da
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, entre 1885 e 1900, e com
base na distribuição dos assuntos apresentados no periódico, Sérgio
Nunes Pereira concluiu que “as concepções e práticas de exploração
desenvolvidas na instituição [...] constituíram, de longe, sua principal
preocupação nas últimas décadas do XIX”.20
O boletim focalizou também, de forma recorrente, questões
relativas à população do Império, incluindo na sua pauta vários ar-
tigos contendo estatísticas sobre o número de habitantes, dados da
imigração, levantamento e estudo das principais doenças que afligiam
as capitais, conformando o que então se denominou de “geografia
médica”, relativa ao levantamento da mortalidade nas cidades.21
Logo no ano de 1885, a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
fez constar, naquele periódico e também no Jornal do Commércio, um
“Questionário Geográfico”, organizado por membros da instituição.
Este questionário estabelecia um elenco de temas, considerados
prioritários para publicação. Na verdade continha os quesitos ne-
cessários à descrição geral do Império, como os limites externos,
relevo, hidrografia, orografia, clima, população, cartografia, incluindo
o levantamento dessas informações para cada província e, também, a
catalogação das tribos indígenas selvagens. Os editores do boletim da
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro consideraram proveitosos
todos os esforços relativos à elaboração e armazenamento de roteiros,
memórias, relatos e apontamentos de viagens realizadas no Brasil,
para futura organização de um dicionário de termos geográficos.22
De acordo com Sérgio Nunes Pereira, para a Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro, o dicionário seria um instrumento de
divulgação da geografia nacional, pois, no Brasil, diferentemente do
que acontecia na Europa, não havia atualização dessas publicações.
Assim, obras como as de José Saturnino da Costa Pereira, que em
1834 publicara o Dicionário Topográfico do Império do Brasil, ou de
J. C. Milliet de Saint-Adolphe, que, em 1845, apresentara o Dicioná-
rio Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil, estavam
já defasadas, enquanto os dicionários relativos às províncias eram
considerados incompletos. 23
123

Cristina Pessanha Mary


Em 1884, a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro terminou
por abraçar a causa da publicação do Dicionário Geográfico do Brasil,
de autoria de Alfredo Moreira Pinto,24 nomeado então sócio efetivo da-
quele estabelecimento. Com este fim, várias iniciativas foram encetadas,
como a busca por subsídios e, em 1888, Moreira Pinto pôde oferecer à
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro dois volumes de sua obra.25
Do plano do dicionário de Moreira Pinto constava uma discussão
acerca das províncias do Império e de suas divisões administrativas e
judiciárias, contendo todas as comarcas, termos, municípios e distri-
tos com a indicação de toda a legislação provincial, decretos e outras
leis concernentes à sua fundação, divisão e subsequente alteração.26
De fato, os dicionários, bem como o questionário organizado
pela Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, no seu conjunto, fun-
cionavam como um cuidadoso roteiro para a “geografia pátria”. Por
meio dessas iniciativas, formulava-se e estruturava-se o programa da
geografia daquele instituto, focado, primordialmente, na ampliação do
conhecimento do território nacional.
A promoção e a divulgação de debates se constituíram em
uma outra vertente no âmbito das atividades desenvolvidas pela
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, muito significativas do
ponto de vista da compreensão da linha de preocupações de seus
dirigentes. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro acolheu inú-
meras personalidades que ali discutiram projetos para a nação, ou
apresentaram os resultados de trabalhos realizados no país, alguns
deles de exploradores estrangeiros que haviam percorrido os confins
de nosso território, pois, como bem notou Luciene Carris Cardoso,
“o interesse em se criar uma geografia ‘nacional’ não dispensava a
contribuição de vários exploradores estrangeiros”.27
O período compreendido entre 1884 e 1888 foi profícuo neste
sentido, momento em que a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
centralizou inúmeras contendas, em sessões bastante concorridas,
prestigiadas pelo imperador, D. Pedro II, que acompanhou com inte-
resse as querelas.
Uma das principais discussões iniciada em 1885 referiu-se ao
tema da interligação entre a região do Pará e a maior província do
império, Mato Grosso. Na verdade, a Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro retornava a uma temática, já em voga desde os Setecentos, e
que prendera, também, a atenção dos membros do Instituto Histórico
Geográfico Brasileiro durante boa parte do século XIX, ocupados em
conhecer as regiões de fronteira, integrando-as à corte, no âmbito de
um projeto de consolidação nacional imperial.28
124
O Barão de Teffé e uma outra geografia

Em fins de 1884, veio à tona na Sociedade de Geografia do Rio


de Janeiro mais uma prolongada contenda. Desta feita, o debate se
estabeleceu entre o expedicionário alemão Karl von den Steinen, em
visita à Sociedade, e o engenheiro Francisco Antonio Pimenta Bueno,
membro do comitê de redação do boletim da Sociedade de Geografia
do Rio de Janeiro.
Karl von den Steinen, doutor em medicina pelo Instituto Fisio-
lógico de Estrasburgo, havia tomado parte nos trabalhos de clínica
psiquiátrica da Universidade de Berlim, e, tendo rodado mundo,
terminou por aprofundar-se nos estudos da psiquiatria nevrológica
dos povos cultos, bem como nas investigações antropológicas e et-
nológicas nas ilhas do Pacífico.
Steinen conhecia o interior do Império, pois havia realizado uma
incursão pelo rio Xingu no início daquele mesmo ano, acompanhado de
seu primo Guilherme von den Steinen, membro da Academia de Belas
Artes de Berlim, e Othon Clauss, doutor em matemáticas, especialista
em estudos do magnetismo.29
Durante sua apresentação sobre a viagem realizada ao Xingu,
em sessão solene, honrada com a presença do imperador Pedro II, Stei-
nen fez questão de salientar o desconhecimento geral acerca daquela
bacia hidrográfica, como se depreende de suas palavras: “O Xingu,
esse, coitado! Igual em tamanho ao Tapajós, é como que o enteado da
geografia. Começando da foz, pouco era o que estava conhecido”.30
A conferência do visitante alemão se estendeu em pormenores a
respeito das dificuldades da viagem ao Xingu e informações detalhadas
sobre o caráter e o modo de vida das tribos com que a expedição pôde
travar contato, como os mansos Bacairis, os Parecis, Yurumas e outros
mais. Steinen ocupou-se, ainda, com a caracterização da vegetação e
com a descrição de alguns rios daquele sistema hídrico, encerrando
seu depoimento com uma aligeirada conclusão, em que, retornando ao
tema do aproveitamento do Xingu para interligação entre Mato Gros-
so e Pará, afiançou a inutilidade daquela via hidrográfica. Segundo o
cientista alemão, aquele rio não prestaria tampouco para a construção
de estradas de ferro ou de rodagem, ao longo de seu curso.31
Francisco Antônio Pimenta Bueno, filho do Marquês de São
Vicente e, a exemplo de seu pai, um grande conhecedor das ques-
tões relacionadas a Mato Grosso,32 também nutria especial interesse
por essa região. Tendo escrito trabalhos anteriores sobre a história
daquela província,33 publicou no boletim da Sociedade de Geografia
do Rio de Janeiro um artigo intitulado Memória sobre a exploração no
rio Xingu, em que refutou as teses de Steinen. 34
125

Cristina Pessanha Mary


Após reexaminar antigos documentos acerca de explorações
nacionais no Xingu, Bueno contestou o pioneirismo da aventura do
cientista alemão, aproveitando para deixar bem marcado seu desacordo
quanto a alguns aspectos da descrição daquela área feita por ele, che-
gando a lançar dúvidas até mesmo quanto à descoberta das verdadeiras
cabeceiras daquele rio que tão orgulhosamente Steinen anunciara.35
Em 8 de março de 1887, pouco antes de iniciar sua segunda
expedição ao Xingu, Steinen compareceu novamente à Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro e, numa tréplica, apresentou mapas mais
recentes, a partir dos quais procurou contradizer as insinuações feitas
por Bueno de que o material apresentado como original, na verdade
copiava dados anteriores, registrados por brasileiros. Nessa nova
rodada de debates, Steinen procurou desqualificar “os mapas anti-
gos, feitos sem instrumentos científicos”, para ele, com algum valor
histórico, mas nenhuma importância para a geografia, pois, segundo
sua concepção, era preciso “renunciar a construções teóricas e seguir
viagem, anotando e observando”.36
Ainda nesta mesma “rodada”, Pimenta Bueno manteve-se firme
em sua posição, defendendo os registros realizados anteriormente
como testemunhos confiáveis da existência e competência de nossa
geografia pátria.37
O debate enveredava, assim, pela contraposição de duas
tradições do conhecimento. De um lado, Bueno utilizava as antigas
descrições, memórias acerca de viagens ao Mato Grosso, como uma
trincheira para sua própria argumentação, de outro, Steinen advogava
a utilização de métodos científicos modernos na resolução da questão
do Xingu. A preocupação de Steinen com a rigorosa seleção de fontes
nos remete ao processo de institucionalização da história nas univer-
sidades da Alemanha, um impulso que tomou corpo desde fins dos
Oitocentos, marcando a proeminência dos historiadores profissionais
em detrimento dos “amadores”. Neste âmbito, de afirmação da história
como disciplina, subjugada às regras da ciência, a investigação passou
a ocupar o lugar de honra como método prescrito, secundado pelos
ideais de objetividade. A canonização dessa forma de se fazer história,
tomada como única, implicou não somente o divórcio entre a disciplina
da história, de um lado, e a literatura, filosofia e artes, de outro, como
também a desqualificação de qualquer abordagem pessoal, como
biografias, relatos e testemunhos ligados à memória.38
Alguns analistas da geografia tomaram esse embate entre “o
viajante e o pesquisador de gabinete afeito a documentos antigos”
como uma espécie de confronto entre diferentes modos da geogra-
126
O Barão de Teffé e uma outra geografia

fia, diante de um suposto campo de saber em construção, no qual as


diversas tradições de conhecimento se digladiavam.39
Entretanto, em nossa perspectiva, o eixo da querela não se en-
contrava no modelo de conhecimento preferido de cada um: tratava-se,
na verdade, de uma questão política em torno da disputa acerca da
existência de um corpo de conhecimentos sobre o território nacional
construído por brasileiros, ponto central para a Sociedade de Geogra-
fia do Rio de Janeiro, e que Steinen esteve sempre a desqualificar. Tanto
assim que, como veremos adiante, quando os dirigentes da Sociedade
de Geografia do Rio de Janeiro (inclusive Bueno) especificaram as
instruções da expedição enviada pela Sociedade de Geografia do Rio
de Janeiro a Mato Grosso em 1889, o fizeram de acordo com marcos da
ciência preconizados por Steinen: deixaram seus “gabinetes” e foram
a campo para observar in loco a região.40
Quando se tratava do conhecimento do território do país por
“nativos”, tudo indica não ter havido, por parte dos integrantes da
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, a eleição de uma tradição
geográfica única. Métodos e tradições variavam muito, segundo as
circunstâncias, desde que servissem à causa em tela. O que Pimenta
Bueno procurava, por todos os meios, inclusive através da utilização
de antigas memórias sobre o Império, era desautorizar a incômoda
versão estrangeira acerca do Xingu.
A exaltação da competência nacional foi um traço marcante
do nacionalismo de Pimenta Bueno, e muito evidente no discurso de
vários colegas seus na Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Um
espírito que já havia impregnado, em anos anteriores, a Comissão
Científica de Exploração de 1859, patrocinada pelo Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro, e enviada ao Ceará. Comissão organizada a
partir da estratégia de construção de uma ciência nacional, erigida
segundo alguns eixos, entre eles a exaltação da inteligência nacional
e a crítica do estrangeiro. 41
Embora o nacionalismo de Pimenta Bueno não tenha constituí-
do uma novidade no país, no âmbito das associações de geografia da
Corte, fez toda a diferença. Enquanto para a Seção a ideia de geografia
pátria era elástica, permitindo contemplar tanto o Brasil quanto a Áfri-
ca, dizendo melhor a respeito do sonho de um Império luso-brasileiro,
para a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro o nacionalismo tinha
significado um pouco mais nítido, a pátria não era tão ampla: o Império
era o do Brasil, a família, a brasileira.
Um outro fator que distinguia a Sociedade de Geografia do Rio
de Janeiro de sua coirmã dizia respeito à execução de tarefas práticas,
à contínua busca de ação. É preciso frisar que nem só de revistas, pa-
127

Cristina Pessanha Mary


lavras e debates foi feita a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro.
Assim, em maio de 1888, o presidente daquele estabelecimento, Mar-
quês de Paranaguá, à vista do Conde D’Eu, anunciou uma expedição
à “Região Desconhecida de Mato Grosso”, área ao norte da província
de mesmo nome.
Paranaguá justificou seus planos para exploração, com base na
urgência de se dirimir uma série de questões quanto ao curso, origem
e nomes de rios existentes naquela zona, muitos deles representados
em cartas mais antigas, e, em torno dos quais existiam informações
discrepantes, e por vezes, contraditórias.42
Para execução do projeto de incursão ao interior do Mato Gros-
43
so, formou-se uma comissão composta de engenheiros militares: o
capitão Antonio Lourenço Telles Pires, os primeiros-tenentes Augusto
Ximeno de Villeroy e José Carlos da Silva Telles, e ainda o segundo-
tenente Oscar de Oliveira Miranda.44
O grupo partiu em 1889, acrescido de um sargento e alguns
praças e, posteriormente, se subdividiu, ficando a região desconhecida
de Mato Grosso a cargo de Oscar de Miranda e Telles Pires, enquanto
os demais marcharam para outras áreas ao redor de Cuiabá, ponto
de partida para o sertão propriamente dito.
Desde o início, com a formulação cuidadosa dos roteiros de
viagem e orientações precisas de coleta de dados, a expedição pa-
trocinada pela Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro revelava o
método e as intenções de seus proponentes.
Além do reconhecimento de alguns rios, atividade que envolvia a
exploração de afluentes, a determinação de suas coordenadas geográ-
ficas e as altitudes dos saltos e cachoeiras, a expedição exploradora
ambicionou realizar outros estudos e, para isto, contou com a ajuda de
instituições, como o Museu Nacional e a Repartição Hidrográfica. Em
conjunto, estas instituições definiram instruções minuciosas, distribu-
ídas em sete áreas temáticas: geografia, história natural, antropologia
e etnologia, zoologia, botânica, geologia, meteorologia e magnetismo.
Em relação à geografia, requisitava-se a atenção para a posi-
ção astronômica das vertentes, cachoeiras e foz dos cursos fluviais
encontrados; a altura de suas cachoeiras; a direção das cadeias de
montanha e a altura e posição de seus cumes; sondagens transversais
em diversos pontos dos cursos fluviais e determinação da velocidade
de suas águas; levantamento geral da área explorada etc. Dados antro-
pométricos das populações nativas (altura e ângulo facial de ambos
os sexos) e a observação da cor da pele, cabelo e olhos constavam
das recomendações referentes à história natural, antropologia e etno-
logia. No âmbito deste segmento, solicitava-se, ainda, a organização
128
O Barão de Teffé e uma outra geografia

de coleções dos instrumentos indígenas, identificando a denominação


na língua nativa, a cópia do modelo das cabanas e das canoas, bem
como a observação das línguas e dos rituais fúnebres.45
No tocante à zoologia, botânica e geologia, importava formar
coleções de esqueletos e crânios, enquanto as espécies animais e
vegetais deveriam ser recolhidas e, quando fosse o caso, observadas
em seu uso – medicinal e outros – pelos indígenas. As instruções nas
áreas de meteorologia e magnetismo dispunham sobre observações
e medidas, segundo mapa organizado pela Repartição Central Me-
teorológica do Império, em horários rigorosamente determinados
e, sempre que possível, incluíam observação sobre a declinação da
agulha magnética em diversos pontos.46
Cabe ressaltar que esses pontos do programa, a serem levanta-
dos pelos exploradores de Mato Grosso, não diferiam muito dos que
orientaram os naturalistas de fins do século XVIII, em suas viagens
filosóficas. Havia também a mesma vontade de servir a sociedade atra-
vés da recolha de minerais utilizáveis pela indústria, preconizando-se
a descrição de novas espécies vegetais, passíveis de aproveitamento
agrícola, a localização das bacias hidrográficas e sua avaliação como
via de comunicação entre regiões e, por fim, a identificação das tribos
indígenas e seus costumes.
Como antes, o encontro com o sertão foi sempre imprevisível e,
muitas vezes, os ideais foram, literalmente, esmagados pelas febres,
animais selvagens ou tragados pela força dos rios, não sendo outro
o desfecho da empreitada encetada pela Sociedade de Geografia do
Rio de Janeiro, encerrada pelo trágico destino de grande parte dos
expedicionários, como o capitão Telles Pires e mais 18 membros do
grupo, que encontraram a morte no desempenho daquela missão.
Contudo, independentemente de seus parcos resultados, a
própria viagem constituiu-se como valioso testemunho do desmedido
esforço, por parte da liderança da Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro, para materializar seus ideais através de ações concretas, como
a expedição aqui destacada, a par de outros esforços que envolveram
muita ação, como a transferência do meteorito de Bendengó47 e a
Exposição Geográfica Sul-Americana.48
Esta faceta dinâmica da Sociedade de Geografia do Rio de Ja-
neiro contrastava demais com o “imobilismo” da Seção: nos seus dez
anos de existência, apesar de seu interesse pelo continente africano,
a filial da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil nunca arriscou
nenhuma medida mais prática, nem “lá”, nem “cá”, permanecendo
afeita a um desempenho literário, restrito a reuniões, discussões,
129

Cristina Pessanha Mary


palestras. Contrastava evidentemente com o espírito pragmático de
Teffé, acostumado que estava com as atividades de exploração.
Naturalmente a opção do Barão de Teffé pela Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro pode ser explicada por inúmeros fatores,
desde alguns detalhes bem pessoais de sua vida, como a estreita
amizade com o Marquês de Paranaguá, eterno presidente daquele
grêmio, até seu progressivo desentendimento com membros da famí-
lia imperial, que o levou a cada vez mais distanciar-se dos ideais da
colônia lusa no Brasil e a abraçar outros. Entretanto, sua atuação na
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro e os seus textos publicados
no boletim daquele estabelecimento se coadunavam perfeitamente
com os anseios dos grupos que lutavam pela afirmação de uma
ciência nacional.49 Este foi o caso de suas afirmações, durante a citada
cerimônia em honra do explorador alemão Steinen, na Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro:

[...] Não é sem grande constrangimento e mesmo vexame, que


entro nesta segunda parte desta tarefa, que me foi imposta,
pois sempre achei sobremodo estranhável, senhores, a indi-
ferença dos nossos estadistas por tudo quanto se refere às
explorações de nosso vastíssimo território, e confrange-se-me
[sic] o coração, quando considero na insignificância do que
neste ramo dos conhecimentos humanos tem empreendido o
Brasil império, em comparação com as assombrosas viagens
realizadas através dos mais recônditos sertões nos tempos do
Brasil colônia [...] Detesto as declamações pessimistas, mas
os fatos aí estão a demonstrar a todas as luzes que a ciência
vale alguns sacrifícios, e que se hoje não há mais o atrativo das
fabulosas minas de ouro, nem da torpe especulação das levas
de índios, que eram os móveis principais das explorações de
outrora, cumpre ponderar que um país, que se preza de figurar
a par das nações as mais adiantadas do globo, deve antes de
tudo conhecer o seu próprio território.50

Muito distante daquele discretíssimo presidente da Seção da


Sociedade de Geografia de Lisboa, o Barão de Teffé que se apresentava
na Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro era outro: impositivo,
clamava por uma geografia dos nossos sertões. Não era para menos,
Antônio Luiz Von Hoonholtz devia seu baronato de 1873 a uma imen-
sa aventura vivida nos confins do Brasil demarcando a fronteira do
Império com a República do Peru.
130
O Barão de Teffé e uma outra geografia

Parte desta viagem espetacular, equiparável no grau de dificul-


dade àquelas levadas a cabo por Serpa Pinto na África, foi registrada
em um diário, pelo próprio Barão de Teffé. Este documento,51 publi-
cado na sua íntegra apenas na França, por Alfredo Marc,52 residente
em Paris, foi transcrito em grande parte no boletim da Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro: 53 ali estava o relato do barão acerca dos
esforços para encontrar a nascente principal do Javari, o “Nilo Brasilei-
ro”, como denominava Teffé, um rio que, embora fosse conhecido por
seu acesso difícil – em razão da reação indígena – não se prestando à
navegação, jamais deixou de ser considerado, “em todo o seu curso,
tanto por espanhóis como pelos estados que os sucedera, como limite
natural do Brasil”.54
Através da leitura daquelas páginas escritas por Teffé, toma-se
ciência da utilização nas batalhas contra os índios das “Winchester”,
das “Spencer” e das “Comblaim”, armas que abriram literalmente o
caminho dos expedicionários, provando sua “superioridade”, como
dizia Teffé, que diante de cada vitória contra os “silvícolas indomáveis”
regozijava-se. 55 Na verdade, o relato do barão centrava-se quase que
exclusivamente no combate aos índios.
Durante todo o século XIX, os indígenas foram percebidos sob
diferentes perspectivas: por vezes encarados como objeto de estudos
científicos, como vimos em Ladislau Netto, outras tantas idealizados,
como nos romances de José de Alencar, e frequentemente considera-
dos inimigos a serem abatidos.
No seu diário, o Barão de Teffé deu mostras de sentimentos
ambíguos em relação à problemática indígena: por um lado, temia
e não se furtava a tirar a vida daqueles que obstruíam seu caminho,
considerando-os como verdadeiros obstáculos à sua missão, por outro,
revelava curiosidade científica, esforçando-se por identificar a “nação”
a que pertencia o silvícola abatido nos confrontos.
Cabe ressaltar que, em relação ao casal imperial, o barão procu-
rou manifestar seu apreço, batizando o córrego que considerou como
nascente principal do Javari com a data de nascimento da imperatriz.
Por fim, o barão encerrou seu diário com a descrição do assentamento
do que ele próprio julgou ser o “último marco divisório entre o Brasil
e o Peru”.56
Um outro viés não menos importante do nacionalismo do Barão
de Teffé manifestava-se no apego ao passado: em meio à sua obsessão
pela demarcação das fronteiras brasileiras, encontrava-se a preocu-
pação com a reconstituição do movimento de formação do território
do Império, também um estandarte da Sociedade de Geografia do Rio
de Janeiro.
131

Cristina Pessanha Mary


Do discurso do Barão de Teffé, profundamente apegado à histó-
ria, relacionamos alguns textos, publicados no boletim da Sociedade
de Geografia do Rio de Janeiro. Entre eles computam-se dois trabalhos
dedicados à memória da colonização: o primeiro, intitulado “O Bertioga
( o Porto de Santos),”57 e o segundo, denominado “Explorações de Pedro
Teixeira: trecho de uma longa memória inédita sobre o Amazonas”.58 No
primeiro texto, relativo ao Bertioga, conhecido como “Rio Bertioga”, na
verdade um braço de mar, ligação natural entre o oceano e o porto de
Santos, o barão nos coloca a par das possibilidades para a navegação
de pequenos vapores, assinalando a importância daquele canal como
uma espécie de arquivo de recordações históricas. Segundo Teffé,
este “rio” reivindicado por descendentes dos primeiros donatários e
herdeiros de Martim Afonso, como linha divisória entre as capitanias
de São Vicente e Santo Amaro, circunda a ilha de Guaíba, cuja posse
fora disputada pelos primeiros colonos portugueses com os Tamoios
e Carijós. Daquela ilha fortificada pelo próprio Martim Afonso, futura
Santo Amaro, só restava do passado as ruínas das primeiras edificações
portuguesas no local, recobertas pela capoeira.
Teffé lamentava a decadência de famílias inteiras, descendentes
da raça ativa e empreendedora (portugueses), a viver em tugúrios,
sem aspirações, “filhos da civilização retroagindo quatro séculos”,
confundindo-se pelos usos e costumes com os fundadores dos sam-
baquis existentes naquelas paragens, sambaquis estes que estavam
a desaparecer, levando consigo preciosas informações acerca dos
primórdios de nosso continente.59
É interessante notar que, apesar de lamentar a mistura dos
descendentes de portugueses com os nativos da região, o barão dava
prova de reconhecer o valor de peças como os sambaquis, a exemplo
do que pensava o Visconde de São Januário.
No segundo texto, o barão tratava das primeiras explorações do
rio Amazonas. Neste documento, Teffé nos conta sua teoria, segundo
a qual as principais descobertas da parte setentrional da América
do Sul ficaram a dever, em muito, à fábula sul-americana acerca da
existência de um Império no interior da região amazônica, às margens
de esplendoroso lago dourado, cuja capital reunia grande quantidade
de ouro. Para o barão, esta fábula do Eldorado teria sido inventada
pelos Incas na vã tentativa de se desvencilhar da “tirania espanhola”,
desviando sua atenção das regiões andinas e empurrando-os em di-
reção às florestas. Já no início do século XVI, seguiram-se sucessivas
expedições, a partir do rio Orenoco em direção ao Amazonas, quan-
do espanhóis, portugueses e holandeses terminaram por desbravar
grande parte da região, chegando de fato à bacia amazônica.
132
O Barão de Teffé e uma outra geografia

Seguindo o fio da sua narrativa, encontramos a descrição da


ocupação da foz do Amazonas pelo português Francisco Caldeira
Castelo Branco, já no primeiro quartel do século XVII, bem como a
expedição que alcançou o local onde, posteriormente, foi erguida a
cidade de Belém.
Teffé destacou, sobretudo, o desempenho do alferes Pedro
Teixeira, a quem atribuiu a realização da ligação por terra entre as
cidades atuais de Belém e São Luiz, não se esquecendo de ressaltar
o comando da força militar, que partiu em direção ao rio Xingu, para
expulsar holandeses daquela região.
Outro feito registrado acerca de Pedro Teixeira foi a missão ex-
ploradora do rio Amazonas, ocasião em que Teixeira teria executado
a proeza de deslocar-se de São Luiz até Quito, entre 1637 e 1638, bem
como instalado um padrão divisório, colocado nas margens do rio
Napo, para demarcar as terras limítrofes de Portugal e Espanha.
Os episódios pinçados por Teffé lhe permitiram recriar, passo a
passo, o movimento de ocupação do vale amazônico. Manejando com
maestria o passado, Teffé construiu sua versão do processo, omitindo a
primazia espanhola, pois, como é de conhecimento geral, esta se deve
ao capitão espanhol, Francisco Orellana, que, tendo saído do Peru,
por volta de 1542, foi o primeiro europeu a atravessar o Amazonas
em toda sua extensão de oeste para leste.60
Teffé criticou o quanto podia os representantes castelhanos, na
sua visão, violentos, crédulos e capazes de acreditar nas artimanhas
incas. O silêncio do almirante acerca do pioneirismo espanhol bem
como suas críticas aos castelhanos tinham destino certo: na verda-
de, encobriam o avanço português por sobre áreas reivindicadas e
consideradas pelos espanhóis como suas, durante a União das Coroas
Ibéricas, entre 1580 e 1640, período do grande momento de dilatação
das fronteiras do Brasil, encetada pelos portugueses.
Na verdade, este apego ao passado, desenvolvido pelo Almi-
rante Teffé, não constituiu um sentimento isolado do barão; era uma
atitude que transcendia em muito os próprios muros da Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro ligando-se ao processo de constituição
simbólica do próprio Império.
O estado imperial, através de seu centro – o imperador e o
conselho de estado –, defrontava-se continuamente com a missão de
gerir interesses regionais, múltiplos e, por vezes, conflitantes. Muito
embora alguns fatores aglutinassem as elites, o conjunto formado pelo
Império era frágil e pouco coeso.61
Desde o início, foi preciso alimentar o Império com o patrio-
tismo e o sentimento nacional, sedimentando, paulatinamente, uma
133

Cristina Pessanha Mary


determinada ideia de nação e um determinado desenho do território
nacional, inscrevendo-os nos corações e nas mentes daqueles que
constituíam o Império do Brasil.
Havia, por assim dizer, um mito fundador da história e da
geografia do país, centrado na ideia da existência de uma unidade
territorial prévia, desde os tempos da colonização. Unidade esta que
foi continuamente incensada, quer pela literatura quer pelos relatos
de viagens, pela cartografia, pela geografia e pela história.
No final do século XIX, houve uma espécie de atualização desta
mitologia nacional, reforçada pela ideia da existência de uma língua
geral, utilizada pelos índios por todo o “território nacional”, desde
tempos remotíssimos.
Nesta dimensão da constituição simbólica do império, a histó-
ria e a geografia andaram sempre juntas, desempenhando um papel
importantíssimo, nas palavras de Demétrio Magnoli: enquanto a
primeira dedicava-se à “biografia nacional”, inscrevendo a pátria no
tempo, a segunda

idealizava o território nacional, ancorando-o na natureza, car-


tografando as suas fronteiras, descrevendo as suas paisagens,
caracterizando as suas regiões e identificando os gêneros de
vida típicos de cada uma. [...] Por essa via, imaginou o corpo
da pátria, inculcando-o nas sucessivas gerações e erguendo
o mapa do país à condição de símbolo tão poderoso quanto a
bandeira nacional.62

A forte ligação do Barão de Teffé com a história não fugia, assim,


ao corte nacionalista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro:
era um dos seus sintomas. Ao recontar os episódios da ocupação
da Amazônia, região que estava no centro das disputas acerca dos
limites com as repúblicas vizinhas no século XIX, Teffé nada mais fez
do que completar a sua obra como demarcador de fronteiras: além
de localizar e precisar os contornos do rio Javari, lutou também pelo
reconhecimento daquela fronteira “natural” como um dado da histó-
ria, bordando, assim, um ponto a mais no mito, sempre incensado,
da existência de um território brasileiro como herança lusa, desde os
tempos remotos das conquistas.63
Na sua vida pessoal, o Barão de Teffé terminou por se desiludir
com a monarquia brasileira resolvendo fixar-se na França. Isolado em
Paris, o barão voltou-se para a divulgação de seus trabalhos de hidro-
logia, refazendo seus laços com o Almirante Mouchez, então diretor do
observatório daquela cidade, ampliando sua rede de conhecimentos
134
O Barão de Teffé e uma outra geografia

no mundo da ciência, através de contatos com outros membros de


importantes institutos científicos, como a Academia de Ciências de
Paris. Teffé decidiu, então, por se candidatar à vaga de sócio corres-
pondente da Academia de Ciências de Paris. Em campanha para esta
eleição, Luiz von Hoonholtz rogou ao Conde d’Eu o cargo de ajudante
de campo do monarca, tendo em vista que tal nomeação lhe serviria
como um cartão de visitas, abrindo-lhe muitas portas.
Embora não tenha obtido o cargo pedido, o barão logrou vencer
a disputa para o instituto parisiense, deixando para trás concorrentes
do porte do explorador Savargnan de Brazza e do explorador por-
tuguês, Serpa Pinto.

Figura 11 – Retrato do Barão de Teffé

Fonte: Acervo do IHGB IP 77 – Jorge H/Papj – Petrópolis, s.d., (1963-1920).

Em contrapartida ao seu triunfo internacional, sua carreira no Brasil


parecia desfazer-se: em outubro de 1889, viu sua indicação para o
Ministério da Marinha ser preterida em favor do seu grande inimigo,
o Barão de Ladário.64 Logo chegou também sua demissão da Repar-
tição Hidrográfica.
135

Cristina Pessanha Mary


Ainda sob o impacto dessas notícias Teffé recebeu uma outra,
sobre a Proclamação da República e, um mês depois, dizendo-se traído
pelo casal imperial, aceitou integrar o governo recém-formado, sendo
transferido para o corpo diplomático do novo regime.
Com tal reviravolta em sua vida, de um país que deixava o
monarquismo, de um barão que aderia à República, a incerteza que
havia abatido o coração de Antonio Luiz von Hoonholtz, a mesma que
dividira a geografia, se dissipara.

Notas
1 TEFFÉ, Barão de. Exploração do Rio Xingu e homenagem tributada a seus explora-
dores. Boletim da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, tomo 1,
n. 1, p. 62, 1885.
2 TEFFÉ, Tetra. Barão de Teffé, militar, cientista: biografia do Almirante Antônio Luiz
Von Hoonholtz. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1977.
3 Tautphoueus integrou a filial portuguesa. Sua doçura e seu saber aparecem tan-
to nas memórias de Taunay como nas de Joaquim Nabuco. Nabuco chegou a
dedicar um capítulo inteiro a Tautphoueus (TAUNAY, Visconde de. Memórias. São
Paulo: Iluminuras, 2004; NABUCO, Joaquim. Minha formação. 9. ed. Rio de Janeiro:
J. Olimpio, 1976. p. 157).
4 TEFFÉ, Tetra. Barão de Teffé, militar, cientista: biografia do Almirante Antônio Luiz
Von Hoonholtz. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1977.
5 SANTOS, Paulo César dos. Nair de Teffé: símbolo de uma época. Petrópolis, RJ:
Folha Serrana, 1983.
6 De Lamare também foi um associado da Seção.
7 DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO. Histórico, atividades, perspectivas.
Niterói, 2003. p. 12.
8 Mouchez realizou inúmeros levantamentos, como os do Rio Paraguai, Paraná, fez
ainda o reconhecimento do Arquipélago de Abrolhos. Numa destas missões, veio
a conhecer o Barão de Teffé, quando este, no início da década de 1860, procedia
ao levantamento do canal de Santa Catarina, em uma missão organizada por De
Lamare.
9 TEFFÉ, Barão de. Relatório da Repartição Hidrográfica, apresentado ao Ilmo. e Exm.
Senhor Conselheiro Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros pelo
Capitão de Fragata, Barão de Teffé, Diretor da mesma Repartição. Rio de Janeiro:
Diretoria de Hidrografia e Navegação, 1876.
10 OS BANCOS do Canal de Abrolhos. Revista da Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, p. 261-268, 1886.
11 Ibidem, p. 268.
12 ANDRADE, Alex Moreira. Anexo Prosopográfico: fichas biográficas dos membros
efetivos do Supremo Conselho do Brasil para Lavradio, Beneditinos e para a Ma-
çonaria (1883-19010). In: _____. Maçonaria no Brasil (1863-1901): poder, cultura e
ideias. 2004. Dissertação (Mestrado em História)–Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
13 Carlos Maximiano Pimenta de Laet, engenheiro de formação, foi jornalista, profes-
sor do Colégio Pedro II e também presidente do Circulo Católico (DICIONÁRIO
biobibliográfico de historiadores, geógrafos e antropólogos brasileiros. Rio de Ja-
neiro: IHGB, 1993. 6. V).
136

14 CARDOSO, Luciene Pereira Carris. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: iden-


O Barão de Teffé e uma outra geografia

tidade e espaço nacional (1883-1909). 2003. Dissertação (Mestrado em História)–


Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. p. 15.
15 BOLETIM da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, t. 1, n. 1,
1885. p. 3, grifo nosso.
16 Ibidem, p. 4, grifo nosso.
17 Embora o periódico da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro tenha alterado
sua denominação para “ Revista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro,” a
partir de 1886, em nosso texto, optamos por manter a denominação original, isto
é, Boletim da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, facilitando a diferenciação
em relação ao periódico da Seção.
18 Ver análise da Revista Mensal da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no
Brasil, em Mary, CRISTINA PESSANHA, 2005.
19 CARDOSO, Luciene Pereira Carris. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: iden-
tidade e espaço nacional (1883-1909). 2003. Dissertação (Mestrado em História)–
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. p. 69.
20 PEREIRA, Sergio Nunes. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, ob-
sessões e conflitos (1883-1944). 2002.Tese (Doutorado em Geografia)–Universi-
dade de São Paulo, São Paulo, 2002. p. 187, p. 203.
21 Este assunto foi praticamente monopolizado por João Pires Farinha, médico, for-
mado na corte, demógrafo na Inspetoria Geral da Higiene do Rio de Janeiro e au-
tor de diversos trabalhos sobre população e higiene (CARDOSO, Luciene Pereira
Carris. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: identidade e espaço nacional
(1883-1909). 2003. Dissertação (Mestrado em História)–Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. p. 38).
22 CARDOSO, Luciene Pereira Carris. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: iden-
tidade e espaço nacional (1883-1909). 2003. Dissertação (Mestrado em História)–
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. p. 55.
23 PEREIRA, Sergio Nunes. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, ob-
sessões e conflitos (1883-1944). 2002.Tese (Doutorado em Geografia)–Universi-
dade de São Paulo, São Paulo, 2002. p. 69.
24 Alfredo Moreira Pinto era bacharel em Belas Artes e, embora tendo cursado direito
em São Paulo, não integralizou seus estudos. Na corte, foi professor de história e
geografia do curso preparatório, anexo à Escola Militar da Praia Vermelha. Moreira
Pinto foi um republicano, grande admirador de Floriano Peixoto (PINTO, Alfredo
Moreira. Suplemento aos apontamentos para o Dicionário Geográfico do Brasil:
acréscimos e correções. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1935).
25 PEREIRA, Sergio Nunes. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, ob-
sessões e conflitos (1883-1944). 2002.Tese (Doutorado em Geografia)–Universi-
dade de São Paulo, São Paulo, 2002. p. 173.
26 PINTO, Alfredo Moreira. Suplemento aos apontamentos para o Dicionário Geográ-
fico do Brasil: acréscimos e correções. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1935.
27 CARDOSO, Luciene Pereira Carris. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: iden-
tidade e espaço nacional (1883-1909). 2003. Dissertação (Mestrado em História)–
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. p. 97.
28 A REVISTA do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e os temas de sua historio-
grafia (1839-1857), fazendo a história nacional. In: WELLING, Arno (Org.). Origens
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: ideias filosóficas e sociais e estruturas
de poder no Segundo Reinado. Rio de Janeiro: IHGB, 1889.
29 STEIN, Karl von de. Exploração do Rio Xingu. Boletim da Sociedade de Geografia do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, tomo 1, n.1, 1885. p. 61.
137

30 Ibidem, p. 64.

Cristina Pessanha Mary


31 Ibidem, p. 76.
32 O marquês, conselheiro do Império e homem de confiança de D. Pedro II, havia
mediado junto ao presidente do Paraguai, Carlos Antônio Lopes, como encarrega-
do dos negócios brasileiros, em 1844, “um tratado que permitisse a comunicação
com Mato Grosso, por meio da livre-navegação dos rios compartilhados pelos dois
países” (DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Para-
guai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 27).
33 Francisco Antônio Pimenta Bueno, entre outros trabalhos acerca das provín-
cias brasileiras, publicou “A Estrada de Ferro de Mato Grosso à Bolívia”, 1877;
“História da Província de Mato Grosso”,1880; “Carta da Fronteira do Brasil”,1881
e “A Borracha”, 1882 (BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Dicionário
bibliográfico brasileiro. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1883-1902. 7 v).
34 BUENO, José Antônio Pimenta. Boletim da Sociedade de Geografia do Rio de Ja-
neiro, Rio de Janeiro, n. 3, p. 232, 1885.
35 PEREIRA, Sergio Nunes. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, ob-
sessões e conflitos (1883-1944). 2002. Tese (Doutorado em Geografia)–Universi-
dade de São Paulo, São Paulo, 2002. p. 77.
36 Ibidem, p. 80.
37 Ibidem, p. 80.
38 BANN, Stephen. Romanticism and the rise of History. New York: Twayne Publishers,
1995.
39 PEREIRA, Sergio Nunes. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, obses-
sões e conflitos (1883-1944). 2002. Tese (Doutorado em Geografia)–Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2002. p. 84.
40 Desde o século XVII a expressão, trabalho de gabinete, era conhecida na França.
Este termo diferia de outro, “trabalho de campo”. As fronteiras entre um e outro
não foram estanques ao longo da história: entretanto, houve momentos em que os
métodos e os procedimentos daqueles que iam a campo medir e localizar deter-
minadas regiões se diferenciavam, e muito, do trabalho daqueles que apenas orga-
nizavam e divulgavam os conhecimentos, como no caso da cartografia (DRIVER,
Felix. Geography militant: cultures of exploration and Empire. Oxford: Blackwell
Publishers, 2001).
41 KURY, Lorelai. A Comissão Científica de Exploração (1859-1861): a ciência impe-
rial e a musa cabocla. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA PASSOS, Antônio Augusto (Org.).
Ciência e civilização nos trópicos. Rio de Janeiro: Acess, 2001. p. 40.
42 CARDOSO, Luciene Pereira Carris. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: iden-
tidade e espaço nacional (1883-1909). 2003. Dissertação (Mestrado em História)–
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. p. 80.
43 EVANGELISTA, Hélio de Araujo. A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Revista
Geo-paisagem, [S.l.], v.1, n.1, p. 5-27, 1988.
44 PEREIRA, Sergio Nunes. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, ob-
sessões e conflitos (1883-1944). 2002.Tese (Doutorado em Geografia)–Universi-
dade de São Paulo, São Paulo, 2002. p. 66.
45 Ibidem, p. 67.
46 Ibidem, p. 68.
45 A Exposição Geográfica Sul-Americana, prevista para 1888, só se realizou no início
do ano seguinte, na Escola Politécnica, com a participação de várias instituições,
um verdadeiro pool científico. Ali foram mostrados mapas, roteiros, livros e manu-
scritos, e abordados os mais variados temas dentro de uma subdivisão que se
estendia pela geografia física, política, geologia, antropologia e ensino de geografia
138

(PEREIRA, Sergio Nunes. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: origens, ob-


O Barão de Teffé e uma outra geografia

sessões e conflitos (1883-1944). 2002.Tese (Doutorado em Geografia)–Universi-


dade de São Paulo, São Paulo, 2002, p. 90).
48 Desde o final do século XVIII tinha-se notícia da existência de uma pedra incomum
no país, abandonada no riacho Bendengó, no interior da Bahia, após uma tentativa
de remoção. Apesar de sua localização, vários estudiosos estrangeiros, tendo con-
hecimento de sua localização, haviam retirado amostras da rocha, remetendo-as
para museus no exterior. Em 1886, D. Pedro II, inteirado do assunto por membros
da Academia de Ciências de Paris, interessou-se pelo transporte da peça, encar-
regando a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro de tomar as providências
necessárias para o empreendimento. O transporte do meteorito envolveu perso-
nalidades da ciência, como Luiz Cruls e Ladislau Netto, e medidas práticas, como
a abertura de novos caminhos. O meteoro chegou à corte somente em 1888, mas
conferiu um grande destaque à Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro na im-
prensa e nos meios científicos (CARDOSO, Luciene Pereira Carris. A Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro: identidade e espaço nacional (1883-1909). 2003. Dis-
sertação (Mestrado em História)–Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2003. p. 86).
49 A ideia de centrar nossa atenção na “ vida e obra” do Barão de Teffé, tomando-o
como um exemplo da geografia realizada na Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro, foi uma adaptação livre da noção de biografia modal, quando se constrói
a trajetória de um indivíduo por sua capacidade de concentrar muitas das carac-
terísticas de um grupo (LEVI, Giovanni. Usos da biografia. In: FERREIRA, Marieta de
Moraes; AMADO Janaína (Org.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV,
2001).
50 TEFFÉ, Barão de. Exploração do Rio Xingu e homenagem tributada a seus explora-
dores. Boletim da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, tomo 1,
n. 1, 1885. p. 62.
51 Embora a indicação deste diário, intitulado “Un explorateur Brésilien, deux mille
kilomètres de navigation en canot dans un fleuve inexploré et complètement domi-
né par des sauvages féroces et indomptables”, conste no catálogo digitalizado da
Biblioteca Nacional, o referido documento foi extraviado.
52 Alfredo Marc, ligado ao círculo de amizades de Lopes Trovão, na época da pu-
blicação do diário do Barão de Teffé, desempenhava o cargo de vice-presidente da
terceira seção da Sociedade de Geografia Comercial de Paris, publicando também
outras obras sobre viagens no Brasil, como Le Brésil: excursion à travers ses 20
provinces. Paris: En Vente, 1890.
53 TEFFÉ, Barão de. Episódios da viagem de exploração às vertentes do famoso rio
Javary, afluente meridional do Alto Amazonas, realizada pelo Barão de Teffé. Re-
vista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, tomo 4, n. 3,
p.169-188,1888.
54 PEIXOTO, Renato Amado. A máscara da medusa: a construção do espaço nacional
brasileiro através das corografias e da cartografia no século XX. 2005. Tese (Douto-
rado em História)–Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. p.
40.
55 TEFFÉ, Barão de. Episódios da viagem de exploração às vertentes do famoso rio
Javary, afluente meridional do Alto Amazonas, realizada pelo Barão de Teffé. Re-
vista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, tomo 4, n. 3,
p.169-188,1888. p.182.
56 Ibidem, p. 183.
57 REVISTA da Sociedade do Rio de Janeiro, p. 23-26, 1886.
58 ELDORADO: trecho de uma longa memória do Barão de Teffé sobre os primeiros
navegadores do Amazonas. Revista da Sociedade de Geografia, Rio de Janeiro,
tomo 1, n. 1, p. 43-50, 1885; EXPLORAÇÕES de Pedro Teixeira: trecho de uma longa
139

memória inédita sobre o Amazonas. Revista da Sociedade de Geografia Rio de Ja-

Cristina Pessanha Mary


neiro, Rio de Janeiro, tomo 1, n. 2, p.285-290, 1885.
59 Ibidem, p. 25.
60 MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria: a imaginação geográfica e a política ex-
terna no Brasil (1808-1912). São Paulo: Moderna, 1997.
61 MAGNOLI, Demétrio. O Estado em busca do seu território. In: JANCSÓ, István. Bra-
sil: formação do Estado e da Nação. São Paulo: Hucitec: Ed. Unijui: Fapesp, 2003.
62 MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria: a imaginação geográfica e a política ex-
terna no Brasil (1808-1912). São Paulo: Moderna, 1997. p. 8.
63 Ibidem.
64 José Murilo de Carvalho atribui a escolha de Ladário ao Visconde de Ouro Preto,
último presidente do Conselho de Ministros que, numa conjuntura de revolta mili-
tar, tentou apaziguar os ânimos colocando alguns desses militares em ministérios,
como foi o caso de Ladário (CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II por José Murilo
de Carvalho. São Paulo: Companhia das Letras, 2007).
CONCLUSÃO

A QUESTÃO NACIONAL COMO UM DIVISOR


DE ÁGUAS DAS GEOGRAFIAS DO IMPÉRIO

Quanto melhor conhecemos nossa terra, melhor saberemos


amá-la. Os entusiasmos dispersos do civismo brasileiro ga-
nharão melhor forma, conformados sobre o conhecimento
perfeito das nossas plagas natais. Ilustra-se e educa-se assim
o instinto patriótico pela noção do solo. E, tão vasto como a
amplidão do território, pode expandir-se o orgulho do nosso
nacionalismo.

Nada mais próprio do que as referências políticas, junto de


um compêndio de geografia. O ardor patriótico vem a ser
filho da terra como Antheu. O entusiasmo político é, de fato, a
psicologia do território.1

O trecho da epígrafe consta em uma carta de Raul Pompeia,2 escrita


em 1894 e dirigida ao seu ex-professor e amigo, Alfredo Moreira Pinto, autor
do Dicionário de Geografia,3 publicado naquele mesmo ano. Na correspon-
dência em questão, Pompeia relatou as agruras vividas por Moreira Pinto
ao tentar publicar a sua obra, que só veio a se concretizar com a queda da
monarquia.
Segundo Pompeia, somente com o movimento de novembro, referindo-
se à implantação da República, abriu-se ao dicionário a porta de uma tipo-
grafia. O passado imperial, prosseguiu o romancista, não havia sido, pois,
generoso para o dicionário, tampouco para a nacionalidade:

[...] Toda esta fase inicial da nossa sociedade, construída fundamen-


talmente sobre a hipótese da nacionalidade, era de fato a negação da
nacionalidade. Nacionalidade era de fato o caráter coletivo dos povos.
O passado de nossa existência social vivia para contestar-nos a digni-
dade de povo. Obstava-se a evolução política, a evolução industrial.

[...] Depois, representando os príncipes de Orleans e Bragança o disfar-


ce coroado da ocupação colonial, era para com eles uma afronta de lesa
majestade a simples concepção da idéia de pátria. E, por exconjurar o
lúcido espectro desse ideal, requintava-se em práticas de exorcismo
142
Conclusão – A questão nacional como um divisor de águas das geografias do Império

a cabala monárquica, perseguindo-lhes as mais vagas proba-


bilidades sugestivas, como se vê na antiga educação popular,
sem plano e sem dignidade. E cabia perfeitamente em suspeita
a geografia. Uma carta geográfica, afinal de contas, pode ser
um estandarte de revolta. É vocação da terra. É a consciência
transfigurada e resumida da nacionalidade. É exatamente a
efígie gráfica da pátria.4

O afã demolidor demonstrado por Pompeia, dirigido a tudo


quanto se referia à monarquia, tinha suas raízes em um ódio profundo
do autor em relação aos portugueses e aos seus empreendimentos em
geral.5 Este sentimento antilusitano, do qual Pompeia era apenas um
expoente, atingiu grandes proporções entre os anos de 1891 e 1894,
durante o governo do Marechal Floriano Peixoto, num quadro que in-
dispôs cada vez mais a jovem República brasileira com o seu passado
monárquico. Neste último ano, e ainda no âmbito da consolidação do
regime republicano, numa reação do governo brasileiro a movimen-
tos de contestação interna – um deles assumindo uma conotação de
restauração monárquica e que teria tido apoio português –, o Brasil
terminou por cortar as relações diplomáticas com Portugal. Tal rom-
pimento prolongou-se até maio de 1895; daí em diante, o que se viu
foi uma reconciliação gradativa entre o Brasil e sua antiga metrópole,
tanto em termos diplomáticos quanto em termos culturais.6
A defesa do modelo republicano, empreendida por Raul Pompeia,
explicitava o que até a queda do Império ficara, muitas vezes, escondi-
do no silêncio respeitoso ou prudente de muitos integrantes da Seção
portuguesa, a saber, uma ideia de nação diferente daquela preconizada
por Lisboa, de um Brasil como prolongamento de Portugal.
A eloquência de Raul Pompeia salientava, sobretudo, a ligação
visceral da geografia ao problema nacional. Tal ligação explica a ori-
gem da Sociedade de Geografia de Lisboa, intimamente relacionada à
campanha de resgate da autoestima portuguesa, quando Portugal, no
fim do século XIX, “abatido” e fustigado pelo sentimento de decadência,
apegou-se ao sonho de construir um novo Brasil na África.
Foi no âmbito do sonho de expansão imperial que Lisboa termi-
nou por criar filiais, mundo afora, fundando, entre outras, a Seção da
Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, em 1878. Estas sucursais,
na verdade, funcionavam como uma correia de transmissão naquela
engrenagem colonialista: como uma antiga caravela, a Seção brasileira
“aportou” na cidade do Rio de Janeiro, então corte do Império brasilei-
ro, em busca do apoio da importante colônia lusa ali radicada. De seus
compatriotas esperavam-se recursos financeiros para impulsionar as
143

Cristina Pessanha Mary


explorações realizadas em África, contando também com a divulgação
e a defesa dos novos planos da nação lusa.
De início, num contexto em que as culturas brasileira e lusitana
funcionavam como verdadeiros vasos comunicantes de homens e
ideias, a Seção, inserida no âmbito de uma rede de outras instituições
lusas,7 verdadeiro pólo de valorização da “cultura-mãe’, obteve grande
receptividade. Entretanto, como ocorrera na França, e, mesmo no
Porto, onde foram instaladas várias sociedades de geografia regionais,
independentes das suas matrizes, a Seção portuguesa instalada no Rio
deparou-se com a iniciativa de alguns associados, entre portugueses
e brasileiros, em prol da transformação da Seção em um grêmio nacio-
nal, autônomo em relação à proposta de Lisboa. Contornada a crise,
mediante a pronta reação de Portugal, que impediu a divisão de sua
filial, a Seção manteve-se enquanto tal, permanecendo ativa. Jamais,
contudo, aquele grêmio reencontrou seu eixo, passando a conviver
com uma linha imaginária, a separar os grupos que se mantinham
fiéis aos propósitos da matriz em Lisboa dos associados, como o
Barão de Teffé, insatisfeitos com aquele projeto e imbuídos de outro
sentimento de brasilidade.
Durante um longo tempo, a lealdade dos homens que habitavam
estas paragens se dirigiu mais às províncias nas quais viviam e me-
nos à distante nação brasileira, da qual pareciam não tomar parte. O
mesmo ocorreu com a ambígua noção de pátria, muitas vezes pintada
com as cores locais, enquanto a identidade brasileira edificou-se por
oposição aos estrangeiros, sem a forte sensação de pertencimento
ao país.8 Por ocasião da Independência, o que havia era ressentimen-
to antilusitano, porém restrito às camadas médias e populares das
grandes cidades costeiras. Em fins dos Oitocentos, ainda se ouviam
dos representantes do Império declarações que consideravam os
brasileiros como os portugueses da América.9
Em algumas ocasiões, em movimentos cívicos, como o da
Guerra do Paraguai e as campanhas abolicionistas, durante o Império,
desenhava-se com maior nitidez o caráter nacional.10 Mesmo assim,
com a República e a eliminação da dinastia portuguesa, muitos brasi-
leiros pensavam ser necessário trabalhar para inculcar o sentimento
nacional entre seus habitantes.
As afirmações contidas no livro11 de José Veríssimo, A Educação
Nacional, publicado na aurora da República, sugerem este diagnóstico.
Segundo o autor, tudo ainda estava por fazer quanto à construção
de uma educação verdadeiramente nacional, inexistente no Brasil de
1890 considerada como condição para o fortalecimento do sentimento
nacional. Para Veríssimo, tal sentimento não se confundia, entretanto,
144
Conclusão – A questão nacional como um divisor de águas das geografias do Império

com o caráter nacional. Não faltava ao Brasil este último, tendo em


vista a nossa unidade linguística e religiosa.
Aqui, reclamava o literato, não havia orgulho dos homens e dos
feitos, mas sim dos elementos da natureza. No Brasil, ressaltou, “há
baianos, há paraenses, há paulistas, há riograndenses. Raro existe o
brasileiro”.
Consternado com a pobreza desse sentimento entre os brasi-
leiros, o professor arrolou em seu texto alguns dos sintomas desta
fragilidade. Nosso jornalismo não se ocupava do Brasil, raros eram
os livros sobre as coisas brasileiras (excetuando os romances), não
tínhamos museus, monumentos e festas nacionais. Nossos livros,
mesmo quando escritos por nacionais, não tinham o espírito nacional,
não incutiam o sentimento de amor à pátria. Existia, sim, profunda
ignorância acerca de nós mesmos e um espírito público em que o
sentimento provincial se antepunha ao nacional.
Preconizando a organização consciente da instrução pública,
como forma de romper o isolamento do espírito nacional, Veríssimo
traçou, então, um quadro devastador do ensino no país, em todos os
seus níveis. Terminou, assim, por propor um verdadeiro programa de
educação nacional. No Brasil, onde estrangeiros conheciam melhor do
que os nacionais suas gentes e terras, caberia à história, à geografia
e à educação física a primazia no processo de construção da nossa
identidade,
Para o autor, em nossas escolas, a geografia resumia-se a ci-
tações de nomes europeus e à geografia pátria, árida denominação,
em geral, circunscrita aos programas. No primário, a geografia não
ultrapassava uma “decoreba bestial”, no secundário era ministrada
de forma apressada e precipitada, com vista ao exame, não existindo
estudo superior nesta matéria. A Politécnica formava engenheiros
geógrafos, mas ali os conhecimentos geográficos ficavam restritos a
um estreito ponto de vista matemático e de agrimensura.
A geografia do Brasil tinha poucos compêndios, mal escritos e
sem valor pedagógico. Quase ninguém dedicava atenção a escrever so-
bre sua própria região. Havia carência de cartas e mapas; sabíamos do
nosso país através de estrangeiros. Estávamos, enfim, muito “longe dos
excelentes trabalhos alemães, ingleses, americanos ou franceses”.
Os franceses, após o desastre de Sedan, humilhados e movidos
pelo espírito revanchista, jamais se esqueceram da necessidade de
se aprender geografia, enquanto a geografia alemã, superiormente
cultivada nas universidades e secundada pela história, preparou de
longa data a unidade do reino. Existiam bons exemplos de geografia
pátria, tanto na França como na Alemanha, mas, aqui, isso parecia
não importar.
145

Cristina Pessanha Mary


Se este era o panorama do sentimento de brasilidade, no perío-
do final do império, impreciso e volátil, seria oportuno descrever, de
forma mais acurada, as diferentes visões do “nacional”.
Com o intuito de esclarecer tal questão, procuramos paralelos
com estudos acerca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Embora os debates relativos ao intrincado processo de construção
da ideia de nação não tenham ficado circunscritos àquela casa, vin-
gou ali uma determinada ideia da nação – quando não, o instituto, na
sua prolongada trajetória, foi um importante centro de discussão da
história e da geografia pátrias.
Criado em 1838, no bojo do processo de consolidação do Es-
tado nacional, o instituto nasceu articulado à necessidade, intrínseca
a todo e qualquer Estado nascente, de se “delinear um perfil para a
Nação Brasileira, capaz de lhe garantir uma identidade própria”.12
No Império nascente, após a independência, a ideia de uma
nação como transplante da civilização europeia na América tropical
grassou entre nossa elite. Entretanto, esta visão se desdobrou em
outras tantas, que se alternaram e, mesmo, conviveram com outras,
ao sabor da política no século XIX.13
Em suas linhas gerais, a feição da história pátria e da geo-
grafia nacional, que terminou por crescer naquele estabelecimento
de história, restringiu-se aos marcos de compromissos com a tarefa
civilizadora, iniciada pela colonização portuguesa. Seus fundadores14
tiveram como norte a ideia de continuidade, pois, para eles, a monar-
quia, instaurada em 1822, apresentava-se como sucessora do império
português na América. A geração que se sucedeu àquela manteve, com
zelo, a memória construída, ao menos até a República.15
Esta imagem do país, como presença branca, cunhada em
grande parte no Instituto de História, distanciou-se da vertente lite-
rária, na qual a singularidade do nativo foi sublinhada e enaltecida.16
Enquanto o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro valorizava o ele-
mento português, muitas correntes o detrataram, responsabilizando
Portugal e a monarquia pelo atraso brasileiro; esta última, vista como
a personificação do projeto de continuidade lusa.
Em 1861, o político abolicionista Tavares Bastos escreveu um dos
primeiros textos, associando o sistema colonial português à origem dos
nossos males, lançando, assim, os germes da polêmica entre os grupos
que tinham a cultura anglo-saxônica em alta conta e aqueles, ditos “ibe-
ristas”, advogados do legado da cultura portuguesa e espanhola.
Para explicar os flagelos que grassavam em nossas terras, como
a corrupção e o crime, Bastos voltou ao início da história moderna,
encontrando no absolutismo, principalmente em Portugal, a origem
146
Conclusão – A questão nacional como um divisor de águas das geografias do Império

de nossas desventuras. A nobreza cavalheiresca que definhava “a


industriosa raça hebraica, perseguida”, a brutalidade do clero e o for-
talecimento de uma nobreza indolente explicariam nossos infortúnios.
Para o autor, a história interna da metrópole aclarava a fisionomia da
colônia.
A rejeição em relação à herança lusitana reacendeu-se no último
quartel dos Oitocentos. Desde então, lentamente e de vários pontos
do país, grupos de oposição ao status quo, sob diversas formas, en-
frentaram a ordem estabelecida. A contestação ganhou as ruas com
as campanhas abolicionista e republicana. Entre esta miríade de
grupos descontentes, correntes antilusitanas, tomaram fôlego, muitas
vezes associadas a outros modelos de Brasil, principalmente aqueles
identificados com os Estados Unidos.17
Esta admiração pela grande república anglo-saxônica transpare-
ceu frequentemente entre os grupos liberais e republicanos, enquanto
monarquistas defendiam com ardor o legado ibérico. Este foi o caso
de Eduardo Prado, 18 ao escrever A Ilusão Americana, no auge da
campanha monarquista contra a República instaurada.
O autor procurou alertar sobre a falácia da amizade dos Esta-
dos Unidos da América em relação às nações latino-americanas, tão
propalada pela República brasileira. Nesta linha, fez um histórico das
relações entre os norte-americanos e o Brasil, demonstrando as incon-
táveis traições dos primeiros: durante a formação do Império, quando
os Estados Unidos custaram a reconhecê-lo e outros episódios.
Enquanto um Brasil republicano e americanista ganhava força,
a figura do monarca, sua presença e a da família real tornaram-se pro-
gressivamente alvo das críticas de alguns setores, a exemplo de Raul
Pompeia. A contradição, sempre presente, de Império independente,
mas visceralmente ligado à dinastia portuguesa, parecia se desfazer
em favor de uma nova realidade, que via ascender, com força, as ten-
dências que buscavam desembaraçar-se de suas raízes ibéricas.
Quando Lisboa criou, no Rio de Janeiro, uma Seção de geogra-
fia, o fez nos moldes de uma política de continuidade em relação a
Portugal, a pensar o Brasil como prolongamento português, pois da
geografia requeria adesão imediata na urgente tarefa de manter os
territórios africanos.
Com o aproximar da República e a sua instauração, os integran-
tes da Seção viram estreitarem-se seus horizontes, oscilando entre
duas posições: de um lado, compunham um grêmio filiado ao instituto
português, sob a proteção de D. Pedro II, personificando, portanto, a
monarquia e os interesses lusos no Brasil; de outro, sensibilizavam-se
com o verdadeiro levante de novos modelos de nação.
147

Cristina Pessanha Mary


Os outros grêmios de história e geografia, diante das mesmas
circunstâncias, terminaram por se adequar aos novos tempos. A so-
brevivência da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, bem como do
Instituto Histórico, foi obtida através de uma política de descolamento
de seus projetos em relação às antigas propostas do Império (à ima-
gem e semelhança de Portugal), sacrificando-se, assim, as relações,
outrora tão estreitas, com a monarquia.
A guinada dada pela Seção nos seus derradeiros momentos,
engajando-se profundamente ao projeto de um Brasil como continui-
dade ibérica, atrelou definitivamente sua sorte à do Império. Este, ao
ruir, esvaziou de sentido a existência da própria filial lusa. A geografia
pátria, com o significado que lhe emprestou Veríssimo, isto é, focada
no Brasil e realizada por brasileiros, não coube na filial de um instituto
português, pois ali haviam que se manter as prioridades indicadas
por Portugal.
Nesta conjuntura, quando Portugal cruzava novamente o
Atlântico, de volta, a saída do Barão de Teffé da Seção, bem como
daqueles que o acompanharam na sua transferência para a Sociedade
de Geografia do Rio de Janeiro, assinalava assim outro caminho para
a geografia em que a noção de pátria de uns não deveria ser mais
confundida com a de outros. O Brasil tentava desvincular-se definiti-
vamente do legado ibérico.

Notas
1 POMPÉIA, Raul. Carta de Raul Pompéia dirigida a Alfredo Moreira Pinto, 1894 . In:
PINTO, Alfredo Moreira. Apontamentos para o Dicionário Geográfico do Brasil. Rio
de Janeiro: Imprensa Nacional, 1894.
2 Raul Pompeia, destacado romancista brasileiro, nasceu em Angra dos Reis, tendo
por pai um magistrado. Pompeia concluiu seus primeiros estudos no Colégio Abí-
lio, de propriedade de um membro da Seção, o Barão de Macaúbas, e, posteri-
ormente, cursou direito em São Paulo. Já adulto, destacou-se como jornalista e
por sua admiração por Floriano Peixoto, presidente da República entre 1891-1894
(PONTES, Eloy. A vida inquieta de Raul Pompéia. Rio de Janeiro: J. Olimpio, 1935).
3 PINTO, Alfreto Moreira. Dicionário Geográfico do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1894.
4 POMPÉIA, Raul. Carta de Raul Pompéia dirigida a Alfredo Moreira Pinto, 1894 . In:
PINTO, Alfredo Moreira. Apontamentos para o Dicionário Geográfico do Brasil. Rio
de Janeiro: Imprensa Nacional, 1894.
5 CARVALHO, José Murilo. Brasil: nações imaginadas. Antropolítica: Revista Contem-
porânea de Antropologia e Ciência Política, Niterói, n. 1, jan./ jun. 1995.
6 CERVO, Amado et al. (Org.). Depois das caravelas: as relações entre Portugal e
Brasil, 1808-2000. Brasília, DF: UnB, 2000.
7 Após a independência, a colônia lusa deparou-se com a questão da preservação e
da afirmação da sua própria identidade, desenvolvendo ainda mais o espírito asso-
ciativo. Em 1837, alguns portugueses radicados no Rio criaram o Gabinete Portu-
148

guês de Leitura, antecipando-se, portanto, à criação do Instituto Histórico Geográ-


Conclusão – A questão nacional como um divisor de águas das geografias do Império

fico Brasileiro, de 1838, e de outras instituições nacionais, ligadas à memória do


Império, como o Arquivo Público do Império, de 1840. O Gabinete terminou por
inspirar a criação de outras agremiações do gênero, como o Retiro Literário Por-
tuguês, fundado em 1859, sociedade patrocinada por imigrantes ricos, o Liceu
Literário Português, criado em 1868, na verdade uma dissidência do primeiro,
tendo aberto uma escola de ensino noturno destinada a brasileiros e portugueses.
Além de se constituir como modelo para as demais organizações, o Gabinete de-
senvolveu uma política de apoio aos outros institutos da colônia, chegando a se-
diar algumas reuniões da Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil, do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, como também da Academia Brasileira
de Letras. Da mesma maneira, incentivou e deu suporte a algumas das entidades
de assistência, como a Beneficência Portuguesa, criada em 1840, destinadas ao
amparo de portugueses desprovidos de recursos (MULLER, Eliza. A organização
sociocomunitária portuguesa no Rio de Janeiro. In: LESSA, Carlos. Os Lusíadas na
aventura do Rio Moderno. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 307).
8 CARVALHO, José Murilo. Brasil: nações imaginadas. Antropolítica: Revista Contem-
porânea de Antropologia e Ciência Política, Niterói, n.1, jan./ jun. 1995.
9 A ideia do Brasil como um imenso Portugal traduz antigas aspirações portuguesas.
Afinal o Brasil tornou-se Império antes de formar-se como nação (MELLO, Evaldo
Cabral de. Um imenso Portugal. São Paulo: Ed. 34, 2002).
10 CARVALHO, José Murilo. Brasil: nações imaginadas. Antropolítica: Revista Contem-
porânea de Antropologia e Ciência Política, Niterói, n.1, jan./ jun. 1995.
11 VERÍSSIMO, José. A educação nacional. Pará: Tavares, Cardoso & Cia., 1890.
12 GUIMARÃES, Manoel Luiz Lima Salgado. Nação e civilização nos trópicos: O IHGB
e o Projeto de uma História Nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 1, n.1, p.
5-27, 1988.
13 ROWLAND, Robert. Patriotismo, povo e ódio aos portugueses: notas sobre a cons-
trução da identidade nacional no Brasil independente. In: BRASIL, formação do
Estado Nação. São Paulo: HUCITEC; Ed. UNIJUÍ; FAPESP, 2003..
14 Parte significativa dos fundadores do instituto havia nascido em Portugal, tendo
para cá imigrado quando da invasão napoleônica à Península Ibérica, permane-
cendo fiéis à casa de Bragança (GUIMARÃES, Manoel Luiz Lima Salgado. Nação
e civilização nos trópicos: o IHGB e o Projeto de uma História Nacional. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, v. 1, n.1, p. 5-27, 1988).
15 GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Debaixo da imediata proteção de sua Majes-
tade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). Revista do
IHGB, Rio de Janeiro, v. 156, n. 388 jul./ set. 1995.
16 GUIMARÃES, Manoel Luiz Lima Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o IHGB e
o Projeto de uma História Nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 1, n.1, p.
5-27, 1988.
17 CARVALHO, José Murilo. Brasil: nações imaginadas. Antropolítica: Revista Contem-
porânea de Antropologia e Ciência Política, Niterói, n. 1, jan./ jun. 1995.
18 Eduardo Paulo da Silva Prado, formado em direito, foi jornalista e literato. Seu cír-
culo de amizades incluiu Eça de Queiroz, em Portugal, e Afonso Arinos, no Brasil.
Grande defensor da restauração monárquica, escreveu a obra citada em 1893. Em
razão dos enfrentamentos entre o governo de Floriano e os monarquistas, seu livro
foi retirado de circulação e proibido pelo governo republicano (PRADO, Eduardo.
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APÊNDICES
4XDGUR,y'LUHWRULDVGDVRFLHGDGHGHJHRJUDILDGH/LVERD
&DUJRV$QRV      
9LVFRQGHGH6 -RVp9LFHQWH%DUERVD -RVp9LFHQWH%DUERVD
3UHVLGHQWH $QWRQLR$XJXVWRGH$JXLDU $QWRQLR$XJXVWRGH$JXLDU )UDQFLVFR0DULDGD&XQKD
-DQXiULR GX%RFDJH GX%RFDJH
-RVp9LFHQWH%DUERVD
9LFHSUHVLGHQWH $QWRQLR$XJXVWRGH$JXLDU $QWRQLR$XJXVWRGH$JXLDU )UDQFLVFR0DULDGD&XQKD )UDQFLVFR0DULDGD&XQKD )UHGHULFR2RP
GX%RFDJH
$QWRQLRGR1DVFLPHQWR -90HQGHV*XHUUHLUR
9LFHSUHVLGHQWH 1mRKRXYH 1mRKRXYH &RQGHGH)LFDOKR &RQGHGH)LFDOKR
3HUHLUD6DPSDLR
)UDQFLVFR0DULD&XQKD
9LFHSUHVLGHQWH ,GHP ,GHP )UHGHULFR2RP )HUQDQGR0DULDGD&XQKD -RDTXLP-RVp0DFKDGR

+HQULTXHGH%DUURV*RPHV )HUQDQGR0DULDGH )HUQDQGR0DULD


9LFHSUHVLGHQWH ,GHP ,GHP +HQULTXHGH%DUURV*RPHV
$OPHLGD3HGURVR GH$OPHLGD3HGURVR
R6HFUHWiULR /XFLDQR&RUGHLUR /XFLDQR&RUGHLUR /XFLDQR&RUGHLUR /XFLDQR&RUGHLUR /XFLDQR&RUGHLUR /XFLDQR&RUGHLUR
R6HFUHWiULR 5RGULJR$IRQVR
5RGULJR$IRQVR3HTXLWR /XLV$QWRQLRGH0RUDHVH6RXVD -RVp%HQWR)HUUHLUDGH$OPHLGD -3'LRJR3DWURQH-XQLRU -)3DOHUPRGD)RQVHFD)DULD
RXVHFUHWiULRDQXDO 3HTXLWR

6HFUHWiULRV -RVp%HQWR)HUUHLUDGH$OPHLGD $GULmR$FDFLRGH6HL[DV --*RPHVGH%ULWR (UQHVWRGH9DVFRQFHOORV


1mRKRXYH 1mRKRXYH
DGMXQWRV $GULmR$FDFLRGH6HL[DV -3'LRJR3DWURQH -)3DOHUPRGH)DULD 'RPLQJRV7DVVRGH)LJXHLUHGR

$QWRQLR$XJXVWR -RmR+HQULTXH8OULFK-XQLRU -RmR+HQULTXH8OULFK-XQLRU -RmR+HQULTXH8OULFK-XQLRU -RmR+HQULTXH8OULFK-XQLRU )UDQFLVFRGRV6DQWRV


7HVRXUHLUR
3HUHLUDGH0LUDQGD
5RGULJR$IIRQVR3HTXLWR
-RVp-RDTXLPGD6LOYD$PDGR
$QWRQLR$XJXVWR3HUHLUDGH0LUDQGD $QWRQLR0DULD%DUERVD 5RGULJR$IIRQVR3HTXLWR
5RGULJR$IIRQVR3HTXLWR
-RmR&DQGLGRGH H&RQGHGH)LFDOKR )HUQDQGR0DULDGH -RVp%HQWR)HUUHLUDGH$OPHLGD
*HUDUGR$XJXVWR3HU\ $QWRQLR3HUHLUDGH&DUYDOKR
9RJDLV 0RUDLV )HUQDQGR0DULDGH$OPHLGD3HGURVR $OPHLGD3HGURVR -3'LRJR3DWURQH-XQLRU
&RQGHGH)LFDOKR (GXDUGR&RHOKR
H2WiYLR*XHGHV )UDQFLVFR0DULDGH6RXVD%UDQGmR )UDQFLVFR0DULDGH -RVp(VWHYDQGH0RUDHV6DUPHQWR
-RVp%HQWR)HUUHLUD
0DQXHO3LQKHLUR&KDJDV 6RXVD%UDQGmR -RmR+HQULTXH8OULFK
GH$OPHLGD
0DQXHO3LQKHLUR&KDJDV

Apêndices
169
Apêndices
170

4XDGUR,,y3HUILOVRFLRSURILVVLRQDOGHGLUHWRUHVGD6RFLHGDGHGH*HRJUDILDGH/LVERD
'LUHWRUHV 2ULJHP )RUPDÊÆR $WLYLGDGHV 2EVHUYDÊØHV
/HQWHGHTXtPLFDGD3ROLWpFQLFDGH/LVERDHGR,QVWLWXWR&RPHU
$QWRQLR$XJXVWRGH$JXLDU /LVERD 3ROLWpFQLFDGH/LVERD FLDOH,QGXVWULDOGH/LVERD'HSXWDGR3DUGR5HLQR0LQLVWURGDV
2EUDV3~EOLFDV
3XEOLFRXPXLWRVREUH
ERWkQLFD,QWHJURXR
&RQGHGH)LFDOKR 3ROLWpFQLFDGH/LVERD 'LUHWRUGR0XVHX1DFLRQDOHGR,QVWLWXWR$JUtFROD JUXSRGRV³9HQFLGRV
GD9LGD´DRODGRGH
(oDGH4XHLUyV
'LUHWRUGR5HDO&ROpJLR0LOLWDUIRLDMXGDQWHGHFDPSRKRQRUiULR
$QJUDGR+H
)UDQFLVFR0DULDGD&XQKD (VFRODGR([pUFLWR GH'/XL]H'&DUORV)RL*RYHUQDGRU*HUDOGH0RoDPELTXH
ULVPR
WHQGRVLGR'HSXWDGR3DUGR5HLQRH0LQLVWURGD*XHUUD
)LJXUDGHUHQRPHQD
)UHGHULFR2RP DVWURQRPLDSRUWX
JXHVD
)LOKRGR&RPHQGDGRU
GHPHVPRQRPHSUH
&XUVRSUHSDUDWyULRSDUD 9LFHF{QVXOGR%UDVLOGLUHWRUGD&LD1DFLRQDOGH7DEDFRV VLGHQWHGR*DELQHWH
-RmR+HQULTXH8OULFK-XQLRU %UDVLO
R¿FLDLVQD(VFROD3ROLWpFQLFD HRXWUDVDWLYLGDGHVFRPHUFLDLV 3RUWXJXrVGH/HLWXUD
&DYDOHLURGD2UGHP
GH&ULVWR
/HQWHGH]RRORJLDGD(VFROD3ROLWpFQLFD'HSXWDGRSHOR3DUWLGR 2UJDQL]RXR0XVHX
-RVp9LFHQWH%DUERVD'X%RFDJH
)XQFKDO 0HGLFLQDSRU&RLPEUD 5HJHQHUDGRU3DUGR5HLQR0LQLVWURGD0DULQKDHGR8OWUDPDU =RROyJLFR
0LQLVWURGRV(VWUDQJHLURVH&RQVHOKHLURGH(VWDGR
&XUVR6XSHULRUHP/HWUDV 'LUHWRU*HUDOGH,QVWUXomR3~EOLFDH'HSXWDGRSRUGXDVYH]HV
/XFLDQR&RUGHLUR 0LUDQGHOD
HP/LVERD WHQGRIXQGDGRD&RPSDQKLDGH&DUULVGH)HUURGH/LVERD
5RGULJR$IRQVR3HTXLWR
/HQWHQR,QVWLWXWR,QGXVWULDOGH/LVERD'HSXWDGRSRU/LVERD
/LVERD &XUVRFRPHUFLDOHP/LVERD
H3DUGR5HLQR

&DUUHLUDPLOLWDUFKHJRXDJHQHUDOFRPDQGRXD(VFRODGR
9LVFRQGHGH6-DQXiULR %DFKDUHO&LrQFLDV
3DoRGRV$UFRV ([pUFLWRWHQGRVLGRSUHVLGHQWHGR&RQVHOKRGH*XHUUD7DPEpP
PDWHPiWLFDVSRU&RLPEUD
GHVHPSHQKRXIXQo}HVGLSORPiWLFDV
)RQWH*5$1'((QFLFORSpGLD3RUWXJXHVDH%UDVLOHLUD/LVERD(GLWRULDO(QFLFORSpGLD+,67Ï5,$GH3RUWXJDOHGLomRPRQXPHQWDO3RUWR3RUWXFDOHQVH0Ð1,&$0DULD)LORPHQD(oDYLGDHREUD
GH-RVp0DULDGH4XHLUyV6mR3DXOR5HFRUG12%5(=$GH3RUWXJDO/LVERD(GLWRULDO(QFLFORSpGLD6,/9$)UDQFLVFR,QRFrQFLRGD'LFLRQiULRELEOLRJUi¿FRSRUWXJXrV/LVERD,PSUHQVD1DFLRQDO

4XDGUR,,,y'LUHWRULDVGD6HÊÆRGD6RFLHGDGHGH*HRJUDILDGH/LVERDQR%UDVLO
9LFH
3UHVLGHQWH R9LFH R9LFH R7HVRXUHLURRXFRPLV
$QRV 3UHVLGHQWH 3UHVLGHQWH R6HFUHWÄULR 6XSOHQWH R6HFUHWÄULR 6XSOHQWH
+RQRUÄULR SUHVLGHQWH SUHVLGHQWH VÆRGHFRQWDV
+RQRUÄULR
)UDQFLVFR&DOKHLURVGD :HQFHVODXGH6
&DQGLGR 9LVFRQGHGH %DUmR:LOGLFK /XL]&RUUrDGD
 ; ; %5RKDQ *UDoD -3LUHV)DULQKD *XLPDUmHV-XQLRU
0HQGHV %RUJHV&DVWUR 6LOYD
/XFDVGD&RVWD)DULQKD

%HDX )UDQFLVFR&DOKHLURVGD :HQFHVODXGH6


%DUmR 9LVFRQGHGH %DUmR:LOGLFK /XL]&RUUrDGD
 '3HGUR,, ; UHSDLUH *UDoD ; *XLPDUmHV-XQLRU
GH7HIIp %RUJHV&DVWUR 6LOYD
5RKDQ /XFDVGD&RVWD)DULQKD

0DQRHO :HQFHVODXGH6
%DUÆR +HUPPDQ -RmR3LUHV )UDQFLVFR0DULD 'RPLQJRV-RVp
 '3HGUR,, ; )UDQFLVFR $QW{QLR3ROOR *XLPDUmHV-XQLRU
GH7HIIÌ +DXSW )DULQKD &RUGHLUR %HUQDUGLQR
&RUUHLD +HQULTXH5HLV

0DQRHO :HQFHVODXGH6
%DUmRGH +HUPPDQ -RmR3LUHV )UDQFLVFR0DULD 'RPLQJRV-RVp
 '3HGUR,, ; )UDQFLVFR $QW{QLR3ROOR *XLPDUmHV-XQLRU
:LOGLFK +DXSW )DULQKD &RUGHLUR %HUQDUGLQR
&RUUHD +HQULTXH5HLV
%DUmRGH 'U/RXUHQoR
/DGLVODX )HUQDQGR (GXDUGR$GH $QWRQLRGH6HUSD3LQWR 'U-RVp0DUTXHV 0DQRHO-RDTXLP0RUHLUD
 '3HGUR,, ; :LOGLFK )HUUHLUDGD
1HWWR 0HQGHV %ULWRH&XQKD -XQLRU GH&DUYDOKR)LOKR 6DPSDLR6/HLWH
6LOYD/HDO
,PSHUDGRU 2WKRQ (GXDUGR$GH
%DUmRGH %DUmR )HUQDQGR $OEHUWR-% 0-6RXWR$PRULP 0DQRHO-RDTXLP0RUHLUD
 9LVFRQGHGH /HRQDUGRV %ULWRH&XQKD ;
:LOGLFK GH3DULPD 0HQGHV +DUJUHDYHV H-RVp)HOLSSH3HVWDQD &DUORV(GXDUGR'XSUDW
6mR-DQXiULR
,PSHUDGRU
&DUORV &RPHQGDGRU-RVp$
9LVFRQGHGH %DUmRGH %DUmR -RVp)HUUHLUD (GXDUGR$GH &RPHQGDGRU(X $QW{QLR7HOPR
 (GXDUGR &DUORV$3HUHLUD7RUJR .RSNHGH6HYHULQR6RX]D
6mR-DQXiULR :LOGLFK GH-DFHJXD\ GH$UD~MR %ULWRH&XQKD JHQLR7RXULQKR
'XSUDW 0DQRHO&RVPH3LQWR

&DUORV (GXDUGR$
,PSHUDGRU &RPHQGDGRU
%DUmRGH %DUmR -RVp)HUUHLUD (GXDUGR GH%ULWR &DUORV$3HUHLUD7RUJR
 9LVFRQGH (XJHQLR7RXULQKR $QW{QLR7HOPR 0DQRHO&RVPH3LQWR
:LOGLFK GH-DFHJXD\ GH$UD~MR 'XSUDW H&XQKD
GH6mR-DQXiULR

(GXDUGR$
,PSHUDGRU $UWKXU &RPHQGDGRU $UWKXU$OEHUWR'LDV
%DUmRGH %DUmRGH 9LVFRQGH GH%ULWR $QW{QLR
 9LVFRQGH *HW~OLR (XJHQLR7RXULQKR /XL]7RUWDGD6LOYD /XL](EHUW*HRUJH
:LOGLFK 0DFD~EDV GH'XSUDW H&XQKD 7HOPR
GH6mR-DQXiULR GDV1HYHV 6DQYLOOH

,PSHUDGRU $UWKXU
%DUmRGH %DUmR 9LVFRQGH /XLV7RUWD (YDULVWR7HL[HLUD
 9LVFRQGHGH *HW~OLR /XL]5(EHUW +HQU\6DG $QGUpGH2OLYHLUD
:LOGLFK GH-DU\ GH'XSUDW GD6LOYD1XQHV 3LQWR*RPHV
6mR-DQXiULR GDV1HYHV
([LVWLUDPGXDVGLUHWRULDVQRDQRGH(PLWiOLFRHVWiRQRPHGDTXHOHTXHIRLR~QLFRDGHL[DUD6HomRQHVWDRFDVLmR(PQHJULWRRQRPHGDTXHOHTXHWHYHVXDSRVLomRDOWHUDGDQDKLHUDUTXLDGDGLUHWRULD)RQWHV
&ROHomRGD5HYLVWDGD6RFLHGDGHGH*HRJUD¿DGH/LVERDH%ROHWLPGD6RFLHGDGHGH*HRJUD¿DGH/LVERD2LWDYD6pULH  $WDVYS

Apêndices
171
Apêndices
172

4XDGUR,9y(TXLSHVGHUHGDÊÆRGD6HÊÆRGD6RFLHGDGHGH*HRJUDILDGH/LVERDQR%UDVLO
$126&$5*26 &+()('(5('$ª¦2 5('$725(6 5(9,67$6
 ; ; ;
(GXDUGR5RGULJXHV&DUGRVR/HPRV
-RDTXLPGD&RVWD DVpULH
 )HUQDQGR0HQGHVGH$OPHLGD 5DPDOKR2UWLJmR 7RPR,
-RVp$YHOLQR*XUJHOGR$PDUDO QRDEULOQRPDLRQRMXQDJR
5DLPXQGRGH6i9DOOH

(GXDUGR/HPRV
5DPDOKR2UWLJmR 5DPDOKR2UWLJmR
 ;
6HUSD3LQWR
9HOORVR)LOKR

 -RmR6HYHULDQRGD)RQVHFD 5DPDOKR2UWLJmR ;

'U/RXUHQoR)HUUHLUDGD6LOYD/HDO
DVpULH
'U&DUORV3LPHQWD/DHW
 $QW{QLR6HUSD3LQWR 7RPR,,
0DQRHO5RGULJXHV&DUQHLUR
QRDJRRXW
'U+HQULTXH(GXDUGR+DUJUHDYHV

-RmR0DULDGD*DPD%HUTXy
/DGLVODX1HWWR
DVpULH
 (GXDUGR%ULWR&XQKD LQWHULQR -RVp0DULD9HOKRGD6LOYD
MDQIHY
(PtOLR0RUJHQWKDOHU
$OEHUWR1RURQKD7RUUH]mR
=HIHULQR&kQGLGR
)HUUHLUDGH$UD~MR
DVpULH
 $QW{QLR=HIHULQR&kQGLGR &DSLVWUDQRGH$EUHX
QRVHWQRRXWQRQRYGH]GH
-RVp)LOLSH3HVWDQD
/XL]&UXOV
DVpULH
 (GXDUGR%ULWR&XQKD LQWHULQR ;
QRMDQPDU
$EtOLR%RUJHV&DSLVWUDQRGH$EUHX
/XL]&UXOV
 ; ;
%HUQDUGR7GH0RUDHV/HLWH9HOKR
/XL]7RUWDGD6LOYD1XQHV
 -RDTXLP$EtOLR%RUJHV ; ;
([LVWLUDPGXDVHTXLSHVGHUHGDomRQRDQRGH(PQHJULWRRQRPHGDTXHOHTXHWHYHVXDSRVLomRDOWHUDGDQDKLHUDUTXLD
4XDGUR9y6ÖFLRVGD6HÊÆRGD6RFLHGDGHGH*HRJUDILDGH/LVERDQR%UDVLO
66*//LVWDGH 25,*(0 6*5- ,+*% 6$,1 287526 )250$d­2 $7,9,'$'(6 2%6(59$d®(6
'3HGUR,, 5-
$QGUp$XJXVWRGH3iGXD)OHXU\ 07 'LUHLWR 3ROtWLFD
$5RELOODUGGH0DULJQ\ 1, 1, 1,
)RLGLUHWRUGD%LEOLRWHFD1DFLRQDODSDUWLUGH'HQWUH
RVLQ~PHURVWHPDVSHORVTXDLVVHLQWHUHVVRXFDEHGHVWDFDU
$OIUHGRGR9DOH&DEUDO %$ 1, )XQFLRQiULR3~EOLFR
DHSLJUD¿D&RPR/XFLDQR&RUGHLURHP3RUWXJDOUHFROKLD
LQVFULo}HVSDUDSRVWHULRUDQiOLVH

9HUHDGRUQD&kPDUD0XQLFLSDOGD&RUWH3XEOLFRXVREUH
$GROSKR%H]HUUDGH0HQH]HV &( ; 0HGLFLQD 3ROtWLFD FDQFURHWDPEpPDELRJUD¿DGR9LVFRQGHGH8UXJXDL)RL
XPLPSRUWDQWHOtGHUHVStULWD
)RLRRSUHVLGHQWHGD5&00PXLWRDPLJRGH3HUHLUD5HLV
$GROSKR3HUHLUD3LQKHLUR 5- 5&00 0DULQKD )XQFLRQiULR3~EOLFR
GR2EVHUYDWyULR1DFLRQDO
$PLJRGRH[SORUDGRU%XUWRQWUDGX]LXYiULDVREUDVGHOHH
$OEHUW7RRWDO 63 1, 1,
WDPEpPDVGH+DQV6WDGHQSDUDRLQJOrV
$OIUHGRGH3LUDJLEH 5- ; $,0 0HGLFLQD )XQFLRQiULR3~EOLFR (VFUHYHXVREUHYDFLQDV
)RLSUHVLGHQWHGH6mR3DXORHSHUWHQFHXDR3DUWLGR5HSX
$PpULFR%UD]LOLHQVHGH$OPHLGDH0HOOR 63 ; 'LUHLWR 3ROtWLFD
EOLFDQR3DXOLVWD

$PLJRGR9LVFRQGHGH7DXQD\H-RDTXLP1DEXFR,GHDOL]RX
(QJHQKDULD
$QGUp5HERXoDV %$ ; ; (QJHQKDULD DOJXQVSURMHWRVFRPRRGD)HUURYLDGH$QWRQLQDQR3DUDQi
-RUQDOLVPR
GHIHQGLGRVSHOR%DUmRGH7HIIp

$QGUp6WHHOH 1, 1,
*UDQGHQRPHGRVFDUWXQVQR%UDVLOQRWDELOL]RXVHSRUVXDV
ÆQJHOR$JRVWLQL ,WiOLD 3LQWXUD 3DULV -RUQDOLVWDH&DUWXQLVWD
FKDUJHVTXHUHWUDWDYDPDYLGDSROtWLFDGRSDtV
$QWRQLR$FKLOOHVGH0LUDQGD9DUHMmR 5- 'LUHLWR )XQFLRQiULR3~EOLFR 0DoRP
$QWRQLR$XJXVWRGD6LOYD/RER 1, 1, 1,
$QWRQLR$XJXVWRGH6RXVD0DVFDUHQKDV 1, 1, 1HJRFLDQWH
$QWRQLR&DUORV5LEHLURGH$QGUDGD0DFKDGR 6HXSDLGHPHVPRQRPHHUDLUPmRGH-RVp%RQLIiFLRGH
)UDQoD 'LUHLWR 3ROtWLFR
H6LOYD $QGUDGD
$QW{QLRGH6RXVD3LQWR 1, 1, 1,
$QWRQLR+HQULTXHV/HDO 0$ ; ; *3/H6*3 0HGLFLQD )XQFLRQiULR3~EOLFR
$QWRQLR-RDTXLP&RHOKRGD6LOYHLUD 1, 1, 1,
$QWRQLR-RDTXLPGH0DFHGR6RDUHV 5- ; $)5- 'LUHLWR 3ROtWLFD 0DoRP
$QWRQLR-RVp+HQULTXHV 3% ; 63%$ 1, 3ROtWLFD 6yFLRGD6RFLHGDGH3URSDJDGRUDGDV%HODV$UWHV
(VFUHYHXQD6HPDQD,OXVWUDGD&HQVXURXRVDEXVRVGR
$QWRQLR-RVp9LWRULQRGH%DUURV 5- ; ; 0DULQKD )XQFLRQiULR3~EOLFR
(SLVFRSDGR0DoRP
$QWRQLR3ROOR 1, 1, )XQFLRQiULR3~EOLFR
$QWRQLRGH6HUSD3LQWR 1, 1, &RPpUFLR
$QWRQLR7LEXUFLR)HUUHLUDGH6RXVD 1, 1, 1,

Apêndices
173
Apêndices
174

,QWHOHFWXDOSRUWXJXrVPXLWRHQYROYLGRFRPDVTXHVW}HVGH
$QWRQLR=HIHULQR&kQGLGR 3RUWXJDO ; 0DW)LORVR¿D 3URIHVVRU HQVLQRQHVWHVHQWLGRSXEOLFRXHPXPOLYURGLGiWLFR
GHGLFDGRjFRVPRJUD¿D
$XJXVWRGH&DUYDOKR 5- 'LUHLWR -RUQDOLVPR
%DOGRPHUR&DUTXHMD)XHQWHV 1, (GLWRU
%DOGXLQR-RVp&RHOKR 1, 1, 1,
%DUmRGH%XWXL -RVp$QWRQLR0RUHLUD 56 1, 1,
%DUmR+RPHPGH0HOOR ,JQiFLR0DUFRQGHV+
63 'LUHLWR 3ROtWLFD
GH0HOOR
*UDQGHGHVDIHWRGR%DUmRGH7HIIp1RGLDGD3URFODPDomR
GD5HS~EOLFDIRLR~QLFRPLOLWDUTXHDSUHVHQWDQGRVHQR
%DUmRGH/DGiULR -RVpGD&RVWD$]HYHGR 5- ; 0DULQKD 3ROtWLFD
&DPSRGH6DQWDQDVDLXHPGHIHVDGDPRQDUTXLDHIRL
IHULGRjEDOD
&RPDLPSODQWDomRGD5HS~EOLFDFKHJRXDWHUSUREOHPDV
%DUmR5DPL]*DOYmR %HQMDPLP)UDQNOLQ5DPL]
56 ; 0HGLFLQD )XQFLRQiULR3~EOLFR SRLVHUDFDVDGRFRPD¿OKDGH6DOGDQKDGD*DPDXPGRV
*DOYmR
SURWDJRQLVWDVGD5HYROWDGD$UPDGD
%DUmRGH5LR%RQLWR -RVp 7HUFHLUR%DUmRGH5LR%RQLWRSURSULHWiULRGHWHUUDV¿GDOJR
5- 1, 3URSULHWiULRGH7HUUDV
3HUHLUDGH)DUR FRPH[HUFtFLRQDFDVDUHDO
%DUmRGH6DOJDGR=HQKD
3RUWXJDO *3/ &RPpUFLR )RLSUHVLGHQWHGR*DELQHWH3RUWXJXrVGH/HLWXUD
0DQRHO6DOJDGR=HQKD
%DUlR6mR)HOL[ $QWRQLR)HOL[0DUWLQV 5- ; 63%$ 0HGLFLQD 3ROtWLFD 0DoRP

%DUmRGH7HIIp $QW{QLR/XL]YRQ+RRQKROW] 5- ; ; 5+ 0DULQKD )XQFLRQiULR3~EOLFR


%DUmRGH:LOGLFK 3HGUR$IRQVR$QGUp
)UDQoD ; /LWHUDWXUD )XQFLRQiULR3~EOLFR
GH)LJXHLUHGR
%HODUPLQGR&DUQHLUR 1, 1, &RPpUFLR
%HODUPLQR%UDVLOLHQVH3HVVRDGH0HOOR 3( ; 1, 1,
0DQXHO9HQkQFLR&DPSRVGD3D] 63 ; (QJHQKDULD 1,
&DQGLGR0HQGHVGH$OPHLGD 0$ ; 'LUHLWR 3ROtWLFD
&DUOR)UDQFLVFRGD6LOYHLUD0RUHDHX[ 1, 1, 1,
&DUORV$UWKXU%XVFK9DUHOOD 5- ,$% 'LUHLWR 1, 3DUWLFLSRXGDV&RQIHUrQFLDVGD*OyULD
)RLJRYHUQDGRUGD3URYtQFLDGR5LRGH-DQHLURTXDQGR
&DUORV%DOWKDVDUGD6LOYHLUD 1, 0DULQKD 3ROtWLFD
)ORULDQRGHUUXERX'HRGRURHP
(VWHYHHQYROYLGRFRPDUHIRUPDGHHQVLQRQDYLUDGDGD
&DUORV/H{QFLRGH&DUYDOKR 1, 3ROtWLFD
GpFDGDGH
(VFUHYHXGHVGHSRHPDVDWpPHPyULDVVREUHRELVSDGRHDV
&DUORV+RQyULRGH)LJXHLUHGR 3( 'LUHLWR 3ROtWLFD
IDFXOGDGHVGHGLUHLWR0DoRP
&DUORV0D[LPLDQR*UXHO 1, 1, 1,
&HVDU$XJXVWR0DUTXHV 0$ ; $5&/ 0HGLFLQD )XQFLRQiULR3~EOLFR
(PRFRQGHSXEOLFRX3RUTXHPHXIDQRGRPHXSDÐV
&RQGH$IRQVR&HOVRGH$VVLV)LJXHLUHGR-XQLRU 0* ; 'LUHLWR 3ROtWLFD XPREUDTXHH[DOWDYDDVEHOH]DVQDWXUDLVGR%UDVLOHD
FRUGLDOLGDGHGHVXDSRSXODomR
&RQGHGH66DOYDGRU0DWWRVLQKRV 3RUWXJDO 1, &RPpUFLR
&RQGH9LOOHQHXYH -~OLR&RQVWDQFLHGH9LOOHQHXYH 5- ; 'LUHLWR )XQFLRQiULR3~EOLFR 3URSULHWiULRGRMRUQDO2&RPÌUFLR
&RQVWDQWLQR-RDTXLPGH$]HYHGRGH/HPRV 1, 1, 1,
'HFODURXVHEUDVLOHLURQDWXUDOL]DGR(VFUHYHX26HOORGD
'DYLG&RUUHLD6DQFKHVGH)ULDV 1, 1, 1,
5RGD GUDPDHPWUrVDWRV 
'RPLQJRV-%GH$OPHLGD 1, 1, 1,
(GXDUGR$XJXVWR2¶1HLOGH%ULWRH&XQKD 1, ; 1, 1,
(GXDUGR)HUUHLUDGD6LOYD 1, 1, 1,
)RLSUHVLGHQWHGR*DELQHWH3RUWXJXrVGH/HLWXUDHQWUH
(GXDUGR5RGULJXHV&DUGRVRGH/HPRV 3RUWXJDO *3/ 1, &RPpUFLR

(O\VLR*RQoDOYHV0HQGHV 1, 1,
(PtOLR1LHOVHQ 1, 1, &RPpUFLR
$OpPGHYiULDVREUDVSXEOLFRXXPOLYURGLGiWLFRGHJHRJUD
(PtOLR=DOXDU QDWXUDOL]DGR 3RUWXJDO ; ; 0HGLFLQD 3URIHVVRU ¿D1RÊØHVHOHPHQWDUHVGH*HRJUDILDODQoDGRSHOD(GLWRUD
GH1LFRODX$OYHVWDPEpPLQWHJUDQWHGD6HomR
)iELR+RVWLOLRGH0RUDHV5HJR 0$ (QJHQKDULD (QJHQKDULD
6yFLRGR&tUFXORGRV(VWXGRV&DWyOLFRVGH6mR3DXOR¿OKR
)HUQDQGR0HQGHVGH$OPHLGD 5- ; ,$% 'LUHLWR )XQFLRQiULR3~EOLFR
GH&DQGLGR0HQGHV
)HUQDQGRGH3LUHV)DULQKD 1, ; 1, 1,
)LUPR$OEXTXHUTXH'LQL] 1, ; 'LUHLWR $GYRJDGR
7UDEDOKDYDQD5HSDUWLomR+LGURJUi¿FDFRPR%DUmRGH
)UDQFLVFR&DOKHLURVGD*UDoD $/ ; 5+ 0DULQKD )XQFLRQiULR3~EOLFR 7HIIp&KHJRXDHVFUHYHUVREUHDRULJHPHFDXVDGRDTXHFL
PHQWRGDViJXDVGR*XOI6WUHDP
)UDQFLVFRGH0RXUD&RXWLQKR%DVWR 1, 1, 1,
&KHJRXDFULDUIiEULFDVHLQYHVWLUHPHVWUDGDGHIHUURPDV
)UDQFLVFRGH3DXOD0D\ULQFN 0* ; (QJHQKDULD 3ROtWLFD
IDOLX
$GMXQWRQDVDXODVGHGHVHQKRGD(&3XEOLFRXEDVWDQWH
63%$H
)UDQFLVFR-RDTXLP%HWWHQFRXUWGD6LOYD 5- ; $UTXLWHWXUD 3ROtWLFD VREUH%HODV$UWHVWHQGRVLGRVHFUHWiULRSHUSpWXRGD6RFLH
/$2
GDGH3URSDJDGRUDGDV%HODV$UWHV
)UDQFLVFR0DULD&RUGHLURGH6RXVD 3RUWXJDO ; 1, )XQFLRQiULR3~EOLFR ,UPmRGH/XFLDQR&RUGHLUR
)UDQFLVFR4XLULQRGRV6DQWRV 63 'LUHLWR -RUQDOLVPR 0DoRP
)UDQFLVFR5DPRV3D] 3RUWXJDO 1, &RPpUFLR $PLJRGH0DFKDGRGH$VVLV
)UDQFLVFR7HL[HLUD$UDJmR 1, ; 0HGLFLQD 0pGLFR
)UDQNOLQ3DOP 1, 1, 1,
*XLOKHUPHGH&DVWUR 1, 1, 1,
5HFHEHXQR3RUWRGR5LRRVLUPmRVTXHYLHUDPIXQGDURV
*XLOKHUPH0RULVV\ 1, 1, 1,
6DOHVLDQRV
+HQULTXH/DHPPHUW $OHPDQKD 1, (GLWRU ,UPmRHVyFLRGRIXQGDGRUGR$OPDQDTXH/DHPPHUW
+HQU\5DIIDUG 5- ; 0DWHPiWLFD )XQFLRQiULR3~EOLFR (VWXGRXHP3DULV
+HUPDQ+DXSW 1, 1, )XQFLRQiULR3~EOLFR
&RPpUFLR
-RmR(OL]LDULRGH&DUYDOKR0RQWH1HJUR 3RUWXJDO 1, )RLGD$VVRFLDomRGRV-RUQDOLVWDVH(VFULWRUHVSRUWXJXHVHV
MRUQDOLVPR

Apêndices
175
Apêndices
176

-RmR)ORULDQR0DUWLQVGH7ROHGR 1, 'LUHLWR $GYRJDGR


-RmR)ULFN 5*6 (QJHQKDULD (QJHQKHLUR *HQURGR%DUmRGH0DXi
-RmR-RVpGRV5HLV-XQLRU 1, ; 1, 1, 3DUHQWHGR&RQGHGH0DWRVLQKRV
-RmR0DQRHO3HUHLUDGD6LOYD 5- ; $%/ 'LUHLWR 3ROtWLFD
-RmR0DUoDO0RUHLUD3DFKHFR 1, 1, 1,
-RmR0DUWLQV3ROOR 1, 1, 1,
,UPmRGH&DQGLGR0HQGHV(VFUHYHXR'LFLRQÄULR*HRJUÄ
-RmR0HQGHVGH$OPHLGD 63 'LUHLWR 3ROtWLFD
ILFRGD3URYÐQFLDGH63
(VFUHYHXVREUHHVJRWRVHRXWUDVTXHVW}HVDFHUFDGR
-RmR3LUHV)DULQKD 56 ; 0HGLFLQD 1,
VDQHDPHQWR
,UPmRGH'HRGRURGD)RQVHFFDHUHGDWRUFKHIHGD5HYLVWD
-RmR6HYHULDQRGD)RQVHFD $/ ; $,0 0HGLFLQD 3ROtWLFD GD6HomR$XWRUGROLYUR9LDJHPDR5HGRUGR%UDVLO

$OpPGRVFDUJRVQDSROtWLFDIRLSURIHVVRUQR&XUVR&R
PHUFLDOGR,PSHULDO/LFHXGH$UWHVH2ItFLRV3DUWLFLSDUDP
-RDTXLP%RUJHV&DUQHLUR 3LDXt 'LUHLWR 3ROtWLFD
GHVWHFXUVR=HIHULQR&kQGLGR5DPDOKR2UWLJmRHRXWURV
QRPHVGDFRO{QLDSRUWXJXHVD
(VFUHYHX&DPSRV1RYRVDSDUHFHQGRHPOLVWDGRVUHSX
-RDTXLPGH3DXOD6RXVD 1, 1, (VFULWRU EOLFDQRVSDXOLVWDVDRODGRGH$PpULFR%UDVLOLHQVHHGH
4XLULQRGRV6DQWRV

,QWHJURXD6RFLHGDGHGH(QJHQKHLURVGH3DULV(VFUHYHX
-RDTXLP*XDOGLQR3LPHQWHO 5- ; 6(3 (QJHQKDULD 3ROtWLFD PXLWRVREUHORFRPRWLYDVVREUHDVWURQRPLD(VFUHYHXDUWL
JRVGHIHQGHQGR&UXOV SROrPLFDFRP3HUHLUD5HLV 

-RDTXLP-RVpGH&GD&RVWD0H$OEXTXHUTXH 0$ 2$% 'LUHLWR 3ROtWLFD

-RDTXLP-RVpGH6HTXHLUD3LQWR 1, 1, 1,
3URIHVVRUGH$QD
-RDTXLP-RVp0DUTXHV 1, 0HGLFLQD
WRPLD
-RDTXLP-RVp3HUHLUD6DQWLDJR 1, 1, 1,
-RDTXLP0DQXHOGH0DFHGR 5- ; 0HGLFLQD 3ROtWLFD 5RPDQFLVWD
-RDTXLP0DULD6HUUD 0$ 1, 3ROtWLFD
-RDTXLP0HQGHV0DOKHLURV 1, 1, 1,
-RDTXLP0LJXHO5LEHLUR/LVERD 5- (QJHQKDULD (QJHQKHLUR
-RDTXLP1RUEHUWRGH6RXVDH6LOYD 5- ; 1, )XQFLRQiULR3~EOLFR /LWHUDWR
(VFUHYHXVREUHGRHQoDVSURGXWRVQDWXUDLVGR%UDVLOH
-RDTXLP3L]DUUR -RmR 5- ; ; 01 0HGLFLQD 1,
PHPyULDVVREUHD)DFXOGDGHGH0HGLFLQD
-RDTXLP5DLPXQGRGH/DPDUH 07 0DULQKD 3ROtWLFD $PLJRGR%DUmRGH7HIIp
-RVp$OEDQR7DYDUHVGH$PRULP 1, 1, 1,
-RVp&DUORVGH6RXVD)HUUHLUD 1, 1, 1,
-RVp&RHOKRGD*DPDH$EUHX 1, 1, 1,
-RVpGH&DUYDOKR$OPHLGD 1, 1, 1,
0DWHPiWLFDH
-RVpGH6DOGDQKDGD*DPD 5- ; ; ; 1, &RQIHUrQFLDVGD*OyULD
)tVLFD
-RVpGH9DVFRQFHOORV 1, ; 1, -RUQDOLVPR
-RVp(J\GLR*DUFrV3DOKD 1, 1, 1,

-RVp)HUQDQGHVGD&RVWD3HUHLUD-XQLRU 5- 'LUHLWR 3ROtWLFD

-RVp)HUUHLUDGH$UD~MR 3RUWXJDO 0HGLFLQD -RUQDOLVPR 'RQRGD*D]HWDGH1RWtFLDV


-RVp-RDTXLP*RGLQKR 1, 1, 1,
,QVSHWRU&DSHOD
-RVp-RDTXLP3HUHLUDGD6LOYD 5- ; (FOHVLiVWLFR
,PSHULDO
-RVp0DULDGH$OEXTXHUTXH%ORHP 3( ; 0LOLWDU 0LOLWDU
-RVp0DUWLQV3ROOR 1, 1, 1,
-RVp5LFDUGR0RQL] 1, 1, 1,
-RVp9HOORVR%DUUHWR 3$ 1, 1,
-RVLQRGR1DVFLPHQWR6LOYD 5- 'LUHLWR 3ROtWLFD
/0HUWHQG 1, 1, 1,
5HVSRQViYHOSHODPRGHUQL]DomRGR0XVHX1DFLRQDOWHQGR
/DGLVODXGH6RXVD0HOORH1HWR $/ ; ; 01 &LrQFLDV1DWXUDLV )XQFLRQiULR3~EOLFR
HVWXGDGRQD)UDQoD
/RXUHQoR/LQVGH+ROODQGD 1, 1, 1,
/XFDVGD&RVWD)DULD 1, 1, 1,
/XL]$QWRQLR6DOJDGR 1, 1, 1,
/XL]&RUUHLDGD6LOYD 1, 1, 1,
/XL]GH&DVWUR 1, 1, 1,
&KHJRXDRSRVWRGH$OPLUDQWH(QYROYHXVHQRHSLVyGLR
/XL])LOLSSH6DOGDQKDGD*DPD 5- 0DULQKD 0DULQKD GD5HYROWD$UPDGDHQDUHYROWDQR5*6RQGHWHUPLQRX
PRUUHQGR

/XL]*RPHV3HUHLUD %$ 'LUHLWR &RPpUFLR


/XL]-RDTXLPG¶2OLYHLUD&DVWUR 1, 1, 1,
3HUWHQFLDDXPJUXSRH[LVWHQWHQD)UHJXHVLDGD*OyULDFXMD
/XL]-RDTXLP'XTXH(VWUDGD7HL[HLUD 5- 'LUHLWR 3ROtWLFD IXQomRHUDDSRLDUR3DUWLGR&RQVHUYDGRU3DUWLFLSRXGDV
&RQIHUrQFLDVGD*OyULD

/XL]6FKHUHQLHU $OHPDQKD (QJHQKDULD (QJHQKHLUR


0DUWLQV)UDQFLVFR5LEHLURGH$QGUDGD )UDQoD 'LUHLWR 3ROtWLFD
0DQXHOGD&RVWD+RQRUDWR 3( ; 'LUHLWR 1,
(VFUHYHXR'LFLRQÄULR7RSRJUÄILFR(VWDWÐVWLFRH+LVWÖULFR
0DQXHOGD6LOYD0HOOR*XLPDUmHV 1, 1, 1,
GD3URYÐQFLDGH3(HWDPEpPVREUHD,JUHMD
2UJDQL]RXDV&RQIHUrQFLDVGD*OyULDHFULRXD6RFLHGDGHGH
0DQXHO)UDQFLVFR&RUUHLD 31 ; ; 'LUHLWR 3ROtWLFD
*HRJUD¿DGR5LRGH-DQHLUR

Apêndices
177
Apêndices
178

0DQXHO*RPHVGH2OLYHLUD 1, 1,
0DQXHO-HVXLQR)HUUHLUD %$ 1, 1L
0DQXHO0DUTXHVGH6i 1, 1, 1,
0DQRHO3HUHLUD5HLV %$ ; 21 (QJHQKDULD )XQFLRQiULR3~EOLFR
0LJXHO5LEHLUR/LVERD 5- ; (QJHQKDULD 1,
1LFRODX$OYHVIRLGRQRGD/LYUDULD&OiVVLFDHVHXVREUL
1LFRODX$OYHV 3RUWXJDO 1, (GLWRU QKR)UDQFLVFR$OYHVYHLRDVHURSURSULHWiULRGD(GLWRUD
)UDQFLVFR$OYHV
1LFRODX-RDTXLP0RUHLUD 5- ; ; 01,)$ 0HGLFLQD )XQFLRQiULR3~EOLFR
1LFRODX0LGRVL 5- ; 1, 1, (VFUHYHXVREUHDJULFXOWXUDHVREUHLPLJUDomR

2FWiYLR+DXSW 1, 1, 1,
3HGUR/HmR9HOORVR)LOKR %$ ; 'LUHLWR $GYRJDGR
3RPSHXGD&RVWD/HmR 1, 1, 1,
5DLPXQGR9HQkQFLR5RGULJXHV&DSHOOD 3RUWXJDO  1, )XQFLRQiULR3~EOLFR
5D\PXQGR)HUUHLUDG¶$UDXMR/LPD &( 'LUHLWR 3ROtWLFD
5H\QDOGR&DUORV0RQWRUR 3RUWXJDO ; 1, -RUQDOLVPR
5RGROSKR$OH[DQGUH+HEO 1, 1, 1,
5RGROSKR/XFLXV 1, 1, 1,
5RVHQGR0XQL]%DUUHWR %$ ; ; 0HGLFLQD 3URIHVVRU
6LPmRGH6DPSDLR/HLWH 1, 1, 1,
(VFUHYHXQDIROKDGLiULD23URJUHVVRHQR3XEOLFDGRU
7KHPLVWRFOHVGD6LOYD0DFLHO$UDQKD 0$ 1, -RUQDOLVPR
0DUDQKHQVH
7KHRSKLORGDV1HYHV/HmR 1, 3URIHVVRU 3DUWLFLSRXGDV&RQIHUrQFLDVGD*OyULD
&RPDQGRXRSULPHLURQDYLRGHJXHUUDGHJUDQGHSRUWHD
7KHRWRQLR5D\PXQGRGH%ULWR 3$ 0DULQKD 0DULQKD
QDYHJDUQR$PD]RQDV
7RUTXDWR-RVp)HUQDGHV&RXWR 1, 1, 1,
&KHIHGDFRPLVVmRGHOHYDQWDPHQWRGD&DUWD*HUDOGR
9LVFRQGH%HDXUHSDLUH5RKDQ +HQULTXHGH
5- ; ; (QJHQKDULD 3ROtWLFD %UDVLO&KHJRXDWUDEDOKDUFRP3RQWH5LEHLUR)RLPLQLVWUR
%HDXUHSDLUH5RKDQ
GR6XSUHPR7ULEXQDO0LOLWDU
9LVFRQGHGH%RP5HWLUR /XL]3HGUHLUDGR&RXWR
5- ; 01 'LUHLWR 3ROtWLFD 0XLWRDPLJRGH'3HGUR,,
)HUUD]
$5&/H
9LVFRQGH%RUJHV&DVWUR %RUJHV&DVWUR 3RUWXJDO 1, )XQFLRQiULR3~EOLFR
,,)$
9LVFRQGHGH'XSUDW &DUORV(GXDUGR'XSUDW 1L 1, 1,
9LVFRQGHGH,QKD~PD -RDTXLP-RVp,JQiFLR 1, 0DULQKD 3ROtWLFD 'HVDIHWRGR%DUmRGH-DFHJXD\
9LVFRQGHGR5LR9H] %RDYHQWXUD*RQoDOYHV
3RUWXJDO *3/ 1, 1, )RLSUHVLGHQWHGR*3/HQWUHH
5RTXH
9LVFRQGHGH6&ULVWyYmR -RVp0DUFHOLQRGD
*3/ 1, 1, 3UHVLGLXR*3/HP
&RVWDH6i
9LVFRQGHGH6LVWHOOR 0DQRHO*RQoDOYHV5RTXH 3RUWXJDO 1, 1, ,UPmRGR9LVFRQGHGR5LR9H]
9LVFRQGHGH6RXVD)RQWHV -RVp5LEHLURGH6RXVD
5- ; ; 0HGLFLQD 0HGLFLQD 9LDMRXFRP'3HGUR,,
)RQWHV
9LVFRQGHGH7DPDQGDUp -RDTXLP0DUTXHV 6HPIRUP
 0DULQKD
/LVERD VXSHULRU
9LVFRQGHGH7DXQD\ $OIUHGRGH(VFUDJQROOH
5- ; ; (QJHQKDULD 3ROtWLFD 5RPDQFLVWD
7DXQD\
:HQFHVODXGH6RX]D*XLPDUmHV SDL IRLSUHVLGHQWHGR*3/
:HQFHVODXGH6RXVD*XLPDUmHV-XQLRU 1, *3/ 1, &RPpUFLR
HQWUHH
:LOOOLDP6FXOO\ ,QJODWHUUD 1, -RUQDOLVPR (VFUHYHXVREUH'3HGUR,,HP
/HJHQGD1, 1mR,GHQWL¿FDGR 
)RQWHV$/(1&$5-RVp$OPLQRGH3(662$$QD1DEXFRH-DFHJXD\XPGHEDWHVREUHDPRQDUTXLD,QBBBBBB-RDTXLP1DEXFRRGHYHUGDSROtWLFD5LRGH-DQHLUR&DVDGH5XL%DUERVD$=(9('2
)HUQDQGRGH 2UJ $VFLÍQFLDVQR%UDVLOGHKRMHY5LRGH-DQHLUR8)5-%$55(72/XL]0XQL]2EVHUYDWÖULR1DFLRQDODQRVGH+LVWÖULD5LRGH-DQHLUR0&7&13T2EVHUYDWyULR1DFLRQDO
$FDGHPLD%UDVLOHLUDGH&LrQFLDVH6HFUHWDULDGH&LrQFLDH7HFQRORJLDGR(VWDGRGR5LRGH-DQHLUR%/$.($XJXVWR9$6DFUDPHQWR'LFLRQÄULRELEOLRJUÄILFREUDVLOHLURY5LRGH-DQHLUR7LSRJUD¿D
1DFLRQDO>@&$1','2$QW{QLR)RUPDÊÆRGD/LWHUDWXUD%UDVLOHLUDY%HOR+RUL]RQWH,WDWLDLD>@&$59$/+20DULD$OLFH5H]HQGH24XLQWR6ÌFXOR$QGUp5HERXoDVHDFRQVWUXomRGR%UDVLO
5HYDQ,83(5-8FDP&2(/+2(GPXQGR&DPSRV$VSURILVVØHVLPSHULDLV6mR3DXOR5HFRUG&287,1+2$IUkQLR(XFOLGHV&DSULVWDQRH$UDULSH5LRGH-DQHLUR(GGH2XUR>@*20(6
ÆQJHODGH&DVWUR+LVWÖULDHKLVWRULDGRUHV5LRGH-DQHLUR)*9*289(,$0DXUtOLR)OXPLQHQVHQRV&RQVHOKRVGR,PSÌULR1LWHUyL:DOGHFN*8,0$5­(6/~FLD0DULD3DVFKRDO'H
EDL[RGDLPHGLDWDSURWHomRGHVXD0DMHVWDGH,PSHULDOR,QVWLWXWR+LVWyULFRH*HRJUi¿FR%UDVLOHLUR  5HYLVWDGR,+*%5LRGH-DQHLURYQMXOVHW,*/(6,$6)UDQFLVFR+LVWRULDGRUHV
GR%UDVLOFDStWXORVGDKLVWyULDEUDVLOHLUD5LRGH-DQHLUR1RYD)URQWHLUD%HOR+RUL]RQWH8)0*,3($+(,=(5$OGD9,(,5$3$6626$QW{QLR$XJXVWRV 2UJ &LÍQFLDHFLYLOL]DÊÆRQRVWUÖSLFRV5LR
GH-DQHLUR$FHVV1$%8&2-RDTXLP8PHVWDGLVWDGR,PSÌULRY5LRGH-DQHLUR7RRSERRNV)DFXOGDGHGD&LGDGH0$7726$QtEDO2%DUÆR+RPHPGH0HOOR3HUDQWHD+LVWÖULDDSRQWDPHQWRV
KLVWyULFRVELRJUi¿FRVHFUtWLFRVGHVXDYLGDHVXDREUD6mR3DXOR>VQ@ &ROHomR'HSDUWDPHQWRGH&XOWXUD 6,66216$*DOHULDGRV%UDVLOHLURV,OXVWUHV RVFRQWHPSRUÅQHRV Y6mR3DXOR/LYUDULD
0DUWLQV>@62'5e1HOVRQ:HUQHFN$+LVWÖULDGD,PSUHQVDQR%UDVLO5LRGH-DQHLUR&LYLOL]DomR%UDVLOHLUD7(//(63HGUR&DUORVGD6LOYD+LVWÖULDGD(QJHQKDULDQR%UDVLO6ÌF;;5LRGH-DQHLUR
&ODYHUR(GLWRUDomR*5$1'((1&,&/23e',$32578*8(6$(%5$6,/(,5$/LVERD(G(QFLFORSpGLDY

Apêndices
179
180
Apêndices

4XDGUR9,y6XEVHÊØHVGD6HÊÆRGD6RFLHGDGHGH*HRJUDILDGH/LVERDQR%UDVLOHP

$UWKXU$OEHUWR'LDV
&RPLVVmRGH&RQWDV 'U/XL](EHUW
*HRUJH6DQYLOOH
(VWXGRVVREUHR%UDVLO
)UDQFLVFR&DOKHLURVGD*UDoD
-~OLR3LQNDV
+HUEHUW%6PLWK
(VWXGRVVREUH3RUWXJDOHVXDVFRO{QLDV
-RDTXLP$EtOLR%RUJHV
&RPLVV}HV*HRJUi¿FDV
-RmR0DULDGD*DPD%HUTXy
-RVp)HOLSH3HVWDQD
(VWXGRV*HUDLV
/XL](UEHUW
2UYLOH$'HUE\
)HUQDQGR0HQGHVGH$OPHLGD
)RQWH5HYLVWDGD6HomRGD6RFLHGDGHGH/LVERDQR%UDVLODVpULHQVHW
4XDGUR9,,y$XWRUHVHDUWLJRVGDUHYLVWDGD6HÊÆRGD6RFLHGDGHGH*HRJUDILDGH/LVERDQR%UDVLO

$8725 7°78/2 $126¬5,(12 3¤*,1$6 2%6(59$ª¸(6

5HGDWRU&KHIH)HUQDQGR0HQGHV&R
PLVVmRGH5HGDomR(GXDUGR5RGULJXHV ,QWURGXomR $SUHVHQWDomR GD UHYLVWD GHPRQV
6RPHQWH RV GRLV SULPHLURV WRPDUDP
&DUGRVR GH /HPRV -RDTXLP GD &RVWD WUDQGRRJRVWRSHORHVWXGRGD*HRJUD¿DQR%UD D6pULHQR 
SDUWHQHVWHQ~PHUR H[SHGLHQWHS 
5DPDOKR2UWLJmR-RVp$YHOLQR*XUJHO VLO
GR$PDUDOH5D\PXQGRGH6i9DOOH
7UDQVFULomRGHDWRVHGHFUHWRVUHODWLYRV
%UHYH1RWtFLD+LVWyULFDGD6HomR D6pULHQR 
jFULDomRGD6HomR
&RQIHUrQFLD 6REUH D 'HPDUFDomR GH /LPLWHV GR
%DUmRGH7HIIp D6pULHQR 
,PSpULR
5HSURGXomR GH PDQXVFULWRV DQWLJRV
HQFRQWUDGRV HQWUH RV SDSpLV GR VHQD
'R&OLPDGR%UDVLOH7HUUDHGH$OJXPDV&DXVDV
GRU &DQGLGR 0HQGHV H SRVWHULRUPHQWH
3DGUH)HUQmR&DUGLQ 1RWiYHLVTXHVH$FKDP$VVLPQD7HUUDFRPRQR D6pULHQR
LGHQWL¿FDGRV SRU &DSLVWUDQR GH$EUHX
0DU
FRPRWHQGRVLGRHVFULWRVSRU3DGUH)HU
QmR&DUGLQ

5DPDOKR2UWLJmR 6HomR1HFUROyJLFD D6pULHQR  0RUWHGRVHQDGRU&DQGLGR0HQGHV

-RmR3LUHV)DULQKD $WDGD6HomR1HFUROyJLFD D6pULHQR 

Apêndices
181
Apêndices
182

&U{QLFD *HRJUi¿FD GHFODUDomR GR UHL GH 3RU


WXJDO SURFODPDQGRVH SURWHWRU GD 6*/ GHFUHWR
LQFRUSRUDQGR D &RPLVVmR &HQWUDO 3HUPDQHQWH
GH*HRJUD¿Dj6*/DQ~QFLRGD&RPHQGD5HDO
GD2UGHP3RUWXJXHVDGH16'D&RQFHLomRH
9LOOD9LoRVD DR VHQDGRU &DQGLGR 0HQGHV QRWD
VREUH H[SHGLomR FRPHUFLDO j ÈIULFD SDUWLGD GH
XP QRYR H[SORUDGRU -RmR 0DULD 6FKXYHU TXH
VH SURS}H D DWUDYHVVDU R FRQWLQHQWH DIULFDQR GR
&DER DR &DLUR QRWtFLDV GH HVFDYDo}HV GH SLUk
PLGHVQR(JLWRQRWtFLDVVREUHRSURMHWRGRW~QHO
GD0DQFKDTXHVWmRGDXQLIRUPLGDGHGRVSHVRVH
PHGLGDVPRHGDVHQ~PHURVGHKDELWDQWHVQD(X
$UHGDomR D6pULHQR 
URSDQRWtFLDVREUHDVRFLHGDGHMDSRQHVDGHJHR
JUD¿DQRWDVREUHH[SRVLomRLQWHUQDFLRQDOGHJH
RJUD¿DHP9HQH]DH[SORUDo}HVGLQDPDUTXHVDV
UXVVDVHDOHPmVHUXSo}HVYXOFkQLFDVPDQXVFULWR
GH9DVFRGD*DPDSRSXODomRGH%HUOLPDQ~Q
FLRGHFULDomRGHXPDVRFLHGDGHGHJHRJUD¿DQD
FLGDGH GH 0DQFKHVWHU FiOFXOR GDV GLPHQV}HV
GDVIROKDVGHIDLDVHPDOWLWXGHVGLYHUVDVQRWtFLDV
VREUHHQWUHJDGHSUrPLRVGLVWULEXtGRVSHOD6RFLH
GDGH GH *HRJUD¿D GH 3DULV DRV YLDMDQWHV 6HUSD
3LQWR VHUWmR DIULFDQR  =ZHLIHOG H 0RXVWLHU
IRQWHV GR 1tJHU  0RUHQR 3DWDJ{QLD  H /HLJK
6PLWK UHJL}HVSRODUHV 
([SHGLHQWH SHULyGLFRV UHFHELGRV SHOD 6HomR ±
5HYLVWD%UDVLOHLUD%6*/HRXWUDVGHVRFLHGDGHV
D6pULHQR 
)HUQDQGR0HQGHV GHJHRJUD¿DFRPRDUXVVDDDXVWUtDFDDDPHUL
FDQDHWF
&DQGLGR0HQGHV 8P3URMHWRGH'LYLVmR3ROtWLFDSDUDR%UDVLO D6pULHQR 
3URMHWRGH([SORUDomRQDÈIULFD&HQWUDOSHOR5LR
/pRQ/DFURL[ D6pULHQR  7UDGXomRGH(GXDUGR/HPRV
2XHOOp
7UDGXomRGH5DPDOKR2UWLJmRVHPQRWL
'XEXUFT 8PD9LVLWDDR3DQDPi D6pULHQR  ¿FDomRVREUHRDXWRUTXHVXS}HVHVHMDR
PHVPRFLWDGRHP5HYLVWDSRVWHULRU
%DUmRGH7HIIp &RQIHUrQFLD6REUHD'HPDUFDomRGH/LPLWHVGR,PSpULR FRQWLQXDomR ,, D6pULHQR 
'R&OLPDGR%UDVLOH7HUUDHGH$OJXPDV&DXVDV1RWiYHLVTXHVH$FKDP
3DGUH)HUQmR&DUGLQ D6pULHQR 
$VVLPQD7HUUDFRPRQR0DU FRQWLQXDomR 
(GXDUGR/HPRV 6RFLHGDGHVGH*HRJUD¿DQR*ORER D6pULHQR 
3DUWH2¿FLDOPHQVDJHQVGD6*/ODPHQWDQGRDPRUWHGH&DQGLGR0HQGHV D6pULHQR 
&U{QLFD*HRJUi¿FDGHVVHFDomRQRODJR&RSDLVQD*UpFLDEXVFDQGRFRQ
WHUDPDOiULDD¿UPDomRGL]HQGRTXHRSULPHLURFRQJUHVVRJHRJUi¿FRVH
UHDOL]RX HP 6DJUHV WHQGR HP YLVWD RV HVWXGRV VREUH (VWUDEmR UHDOL]DGRV
SRU ' +HQULTXH H D  FRUUHomR GH  PDSDV DQWLJRV QRWtFLD VREUH HVWXGRV
GDGLVWULEXLomRJHRJUi¿FDGDWtVLFDUHVHQKDGHDUWLJRVREUHDFXOWXUDGR
OLQKRHP3RUWXJDOPRYLPHQWRGHHPLJUDomRGHDOHPmHVSDUDDVFRVWDVGR
3DFt¿FRSDUWLGDGH)HUQDQGGH/HVVHSVSDUDR(JLWRFRPYLVWDVDHVWXGDU
D6pULHQR 
SODQRVGHLPSODQWDomRGH&DQDOQDUHJLmRSRSXODomRGDV)LOLSLQDVGHV
FREHUWDGHFLGDGHQD%DELO{QLDSHORViELRDUTXHyORJR+RUPXVG5DVVDQ
RIHUHFLPHQWRGRJRYHUQRGH%HQJXHODj6*/SDUDH[SHGLomRFLHQWL¿FDHP
ÈIULFDFRQVWUXomRGHREVHUYDWyULRQRLQWHULRUGD)UDQoDWUDQVFULomRGHDU
WLJRVGHXPFDSLWmRIUDQFrVUHIXWDQGRRVDUJXPHQWRVFRQWUiULRVjFULDomR
GR&DQDOGR3DQDPiQRWtFLDVVREUHSUrPLRVGLVWULEXtGRVSHOD$FDGHPLD
GH&LrQFLDVGH3DULV
(GXDUGR/HPRV
H 5HVHQKDGROLYUR/XL]GH&DPØHVGH0LJXHO/HPRV D6pULHQR 
5DPDOKR2UWLJmR
([SHGLHQWHSXEOLFDo}HVUHFHELGDVSHOD6HomRDWpPDLRGH±
HVWXGRVFUtWLFRVGH(VFUDJQROOH7DXQD\HRXWURVSHGLGRDRVDVVLQDQWHV
)HUQDQGR0HQGHV 
GRLQWHULRUSDUDTXHDFXVDVVHPRQmRUHFHELPHQWRGDUHYLVWDQRWtFLDGD
HOHLomRGH7HIIp
,QFOXL GLVFXUVR GR 6HQDGRU )UDQFLVFR
D6pULH
$UHGDomR 2([SORUDGRU3RUWXJXrV0DMRU6HUSD3LQWR  &RUUHLDHDWUDQVFULomRGHRXWURIHLWDSHOR
QRH
-RUQDOGR&RPPÌUFLR
$OIUHGR(7DXQD\
'LVFXUVRHP3UHVHQoDGR([SORUDGRU6HUSD3LQWRUHSUHVHQWDQGRD D6pULH
RX9LVFRQGH 
&RPLVVmRGRV0LOLWDUHV QRH
GH7DXQD\
$WDGD6HVVmR6ROHQHSDUDUHFHSomRGR0DMRU6HUSD3LQWR'LVFXUVRGR D6pULH
%DUmRGH7HIIp 
3UHVLGHQWHGD66*/ QRH
$WDGD6HVVmR6ROHQHSDUD5HFHSomRGR0DMRU6HUSD3LQWR'LVFXUVRGR D6pULH

5DPDOKR2UWLJmR RUDGRUQRPHDGR QRH

Apêndices
183
Apêndices
184

$OH[DQGUH6HUSD $WDGD6HVVmR6ROHQHSDUD5HFHSomRGR0DMRU6HUSD3LQWR'LVFXUVRGR D6pULH



3LQWR 0DMRU6HUSD3LQWR QRH
D6pULHQR
(GXDUGR/HPRV 5HVHQKD&RPRHX$WUDYHVVHLDÈIULFDSRU6HUSD3LQWR 
H
5HVHQKD9LDJHPDR5HGRUGR%UDVLOSHOR'U-RmR6HYHULDQRGD D6pULHQR
)HUQDQGR0HQGHV 
)RQVHFD H
D6pULHQR
%DUmRGH7HIIp &RQIHUrQFLD6REUHD'HPDUFDomRGRV/LPLWHVGR,PSpULR FRQWLQXDomR  
H
D6pULHQR 3URMHWRDSUHVHQWDGRj6RFLHGDGHGH*HR
/HRQ/DFURL[ 3URMHWRGH([SORUDomRQDÈIULFD&HQWUDOSHORULR2XHOOp 
H JUD¿DGH/LOOHHP
7UDGXomRGH(GXDUGR/HPRV&RPXQL
D6pULHQR
'XEXUFT 23DQDPiHP FRQWLQXDomR   FDomR DSUHVHQWDGD j 6 * GH /LOOH HP
H

&RUUHVSRQGrQFLDHQWUH&DSLVWUDQRH)HU
$GYHUWrQFLDVREUHRPDQXVFULWRv'R&OLPDGR%UDVLOH7HUUDHGH$OJX D6pULHQR
&DSLVWUDQRGH$EUHX  QDQGR0HQGHVTXDQGRRSULPHLURHVFOD
PDV&DXVDV1RWÄYHLVTXHVH$FKDP$VVLPQD7HUUDFRPRQR0DUw H
UHFHDXWRULDGRVPDQXVFULWRVHPTXHVWmR
&U{QLFD*HRJUi¿FDSRSXODomRGD*Um%UHWDQKDSRSXODomRGD5HS~EOLFD D6pULHQR

2ULHQWDOGR8UXJXDLH[SORUDomRGDVWHUUDVSRODUHV H

([SHGLHQWHUHSURGXomRGDFDUWDGR&RQGHG¶(XHVWLPXODQGRDFRQWLQXL
GDGHGD6HomRDSHVDUGDPRUWHGH&DQGLGR0HQGHV'HOLEHUDomRDFHUFD D6pULHQR

GRVSUy[LPRVQ~PHURVGD5HYLVWDLQGLFDQGRTXHIRVVHPGHGLFDGRVj6HUSD H
3LQWRHLQIRUPDomRGRVQRPHVGDGLUHWRULDGH
'LUHWRUH5HGDWRU
&KHIH$QWRQLRGH
6HUSD
3LQWR-XQLRU
5HGDWRUHV
'U/RXUHQoR)HUUHL ,QWURGXomRDQ~QFLRGRR7RPRHGRIDWRGHD6HomRHVWDUDWUDVDGDQR
D6pULHQR 
UDGD6LOYD/HDO PRYLPHQWRJHRJUi¿FRXQLYHUVDO
'U&DUORV3LPHQWD
/DHW0DQRHO5RGUL
JXHV&DUQHLUR'U
+HQULTXH(GXDUGR
+DUJUHDYHV

00HQGHV3HUHLUD 1KHHQJDWX,DTXHFODVVHGHOtQJXDVSHUWHQFHR7XSL D6pULHQR 


-RDTXLP-RVp
&RQVLGHUDo}HV6REUHD*OyWLFD D6pULHQR 
0DUTXHV

/DGLVODX1HWWR 7UHFKRVGHXPD([FXUVmRQR%DL[R$PD]RQDV, D6pULHQR 

7HOrPDFR0RURFLQHV
%UHYH1RWtFLD6REUHRV,QGLRV&DLQJDQJV D6pULHQR 
%RUED
$OEHUWR1RURQKD
$/HQGDGH6XPr D6pULHQR 
7RUUH]mR

&RUUHVSRQGrQFLDHQWUH
$QGUp+RYJDDUG 2'LMPSKQDUHWLGRSHORJHORQRPDUGH.DUD D6pULHQR  +RYJDDUGH$XJXVWLQ*DPHOUHSURGX]L
GDSHOD6HomR

FLQFR
SiJLQDV
5HODomRGRV6yFLRVGD66*/QR%UDVLOHP(IHWLYLGDGH ,  D6pULHQR QXPHUD
GDVGH
HPGLDQWH

SiJ
QXPHUD
$QWRQLR6HUSD3LQWR &DWiORJRGRVOLYURVTXHWrPVLGRRIHUHFLGRVj6HomR D6pULHQR
GDVGH
HPGLDQWH

'LUHWRUGH5HGDomR&KHIH,QWHULQR(GX
DUGR$%ULWR&XQKD5HGDWRUHV-RmR
00HQGHV3HUHLUD 1KHHQJDW~ FRQWLQXDomR  D6pULH  0DULDGD*DPD%HUTXy/DGLVODX1HWWR
-RVp0DULD9HOKRGD6LOYD(PtOLR0RU
JHQWKDOHUH$OEHUWR1RURQKD7RUUH]mR

$OEHUWR1RURQKD
$9HOKD$PpULFDHQVDLRVVREUHRV7XSLV D6pULH 
7RUUH]mR

Apêndices
185
Apêndices
186

([WUDWRGRUHODWyULRGR7HQHQWHFRURQHO
'LRQtVLR(YDQJHOLVWDGH&DVWUR&DUUHLUD
'LRQtVR(YDQJHOLVWD DMXGDQWHGRFRURQHO%DUmRGH3DULPD
5LR0DWXUDFi D6pULH 
GH&&DUUHLUD FKHIHGD&RPLVVmRGHOLPLWHVHQWUH
R,PSpULRGR%UDVLOHD5HS~EOLFDGD
9HQH]XHOD

(PEXVFDGRV5HVWRVGD0LVVmR&UpYDX[PLVVmRIUDQFHVDQRV$QGHV%R
$7KRXDU D6pULH  7UDGXomRGH%ULWR&XQKD
OLYLDQRV

9LFHF{QVXOGR%UDVLOHP$QWXpUSLD
$%DTXHW $V5DoDV3ULPLWLYDVGDV'XDV$PpULFDV D6pULH  HFRQVHOKHLURGD6RFLHGDGH5HDOGH
*HRJUD¿DGD$QWXpUSLD

2&DERGH6DQWR$JRVWLQKR 0DQXVFULWRDQWLJRH[WUDtGRGD5HYLVWD
D6pULH 
GD6RFLHGDGHGH*HRJUD¿DGH0DGULG

&U{QLFDV*HRJUi¿FDV6*5-+HEHUW+6PLWK 0DWR*URVVR &RQIHUrQ


FLDGH%HUOLP'LVFXUVRGR0LQLVWUR3RUWXJXrVQD&RQIHUrQFLD1RWtFLDV
GDÈIULFDQRYDH[SHGLomRDWUDYpVGRFRQWLQHQWHQHJURFDPLQKRGHIHUUR
GH/RDQGDD$PEDFDH[SHGLomRSRUWXJXHVDGH0XDWD<DQYDFRO{QLD%{HU
0RQJHQWKDOHUH GDSURYtQFLDGH$QJRODHVWXGRVFOLPiWLFRVGDUHJLmRGH+XPSDWDQRWtFLDV
D6pULH 
%ULWR&XQKD GR =DLUH HVWDEHOHFLPHQWR GH IHLWRULDV SRUWXJXHVDV QR =DLUH QDYHJDomR
GR&RQJRFRPpUFLRGDÈIULFD([SORUDo}HV3RODUHV2EVHUYDWyULR$VWUR
Q{PLFR HP .DXOXP 3RSXODomR GRV ³6WUDLWV 6HWWOHPLQWV´ 7HUUHPRWR GH
,VFKLDYLDJHPGR6U$UWKXU7KRXDU0HULGLDQR8QLYHUVDO&RQJUHVVRGDV
6RFLHGDGHV)UDQFHVDVGH*HRJUD¿D

$WRVGD6RFLHGDGH D6pULH 63iJ


/XtV&UXOV 20HULGLDQR,QLFLDO D6pULH 
9LVLWDj&RUYHWD1RUWHDPHULFDQD3DWWHUVRQ D6pULH 
9LVLWD)HLWDj6RFLHGDGHSRU([SORUDGRUHVGR;LQJX&DUORV9RQGHQ6WHLQ
D6pULH 
2WWR.ODXVVH*XLOKHUPH9RQGHQ6WHLQ

([SHGLHQWH D6pULH 

1DLQWURGXomRGRDUWLJR&DSLVWUDQRGH
'R&OLPDH7HUUDGR%UDVLOHGH$OJXPDV&DXVDV1RWiYHLVTXHVH$FKDP
3DGUH)HUQmR&DUGLQ D6pULH $EUHXHVFODUHFHDUHVSHLWRGDGDWDGR
$VVLPQD7HUUDFRPRQR0DU
GRFXPHQWR

&DSLWmR)HOLFLDQR ([PHPEURGD&RPLVVmRGH/LPLWHV
1RWtFLD6REUHR5LR%UDQFRHRVËQGLRVTXHR+DELWDP D6pULH
$QWRQLR%HQMDPLQ HQWUH%UDVLOH9HQH]XHOD

+HUEHW+6PLWK
WUDGXomRGH&DUORV $UHJLmRGRV&DPSRVQR%UDVLO D6pULH
$PpULFRGRV6DQWRV

&U{QLFD *HRJUi¿FD &RQIHUrQFLD GH %HUOLP SRVLomR JHRJUi¿FD GD FRV


WDEUDVLOHLUD VREUHDSDUFHULD&UXOV±7HIIp H[SORUDomRGR;LQJXFDWH
TXHVH GRV tQGLRV &ULFKDQiV H[SORUDomR GR ;LQJX SRU +HUEHU % 6PLWK
IDOHFLPHQWR GH &DPHUXP QD JXHUUD GR 6XGmR H[SHGLomR GH 7KRPSVRQ
SHOD5HDO6RFLHGDGHGH*HRJUD¿DGH/RQGUHVHVWDEHOHFLPHQWRGHSURWH
WRUDGRQD*XLQpSHOD)UDQoDSURWHWRUDGRGD$OHPDQKDQDFRVWDRFLGHQWDO
GDÈIULFDH[SORUDomRGH9LFWRU*LUDXGQR&RQJRFDPLQKRGH)HUURGH
(0RUJHQWKDOHUH
/RDQGDSDUD$PEDFDQRYDH[SHGLomRGH6HUSD3LQWRDRFRQWLQHQWHQHJUR D6pULH
%ULWR&XQKD
H[SHGLomRSRUWXJXHVDDR0XDWDLDQYRSRU+HQULTXHGH&DUYDOKRH[SOR
UDomR GR7HQHQWH 6WRQH\  HP$ODVFD H[SHGLomR j 3DWDJ{QLD RUJDQL]DGD
SHOR,QVWLWXWR*HRJUi¿FR$UJHQWLQRH[SHGLomRDR&KDFRRUJDQL]DomRGH
$WODVQD$UJHQWLQDSDWURFLQDGRSHORJRYHUQRDUJHQWLQRYLDJHPGRUXVVR
3HMHYDOVNLDR7LEHWYLDJHPGRIUDQFrV3DXO1HLVj,QGRFKLQDH[SORUDomR
GRYXOFmRGH.UDNDWRDH[SORUDo}HVGDVUHJL}HVSRODUHVH[SHGLomRSRODU
QRUWHDPHULFDQD

3XEOLFDo}HV3HULyGLFDV5HFHELGDVSHOD%LEOLRWHFDQRV0HVHVGH-DQHLURH
%ULWR&XQKD D6pULH
)HYHUHLURGH

Apêndices
187
Apêndices
188

&RPLVVmRGH
5HGDomR=HIHULQR
&kQGLGR
)HUUHLUDGH$UD~MR 'HFODUDomRGD&RPLVVmR D6pULHQR 
&DSLVWUDQRGH
$EUHXH-RVp)HOOLSH
3HVWDQD
=HIHULQR&DQGLGR 3ROtWLFD&RORQLDO D6pULHQR 
/XtV&UXOV 26HUYLoR0HWHUHROyJLFRQRV(8$ D6pULHQR 

&DSLVWUDQRGH$EUHX 5REHULR'LDVHDV0LQDVGH3UDWDVHJXQGR1RYRV'RFXPHQWRV D6pULHQR 

-RVp)HOOLSH3HVWDQD ([SHGLomR&DSHOOR,YHQV D6pULHQR 

&U{QLFD*HRJUi¿FD,PLJUDomRH([SRVLomR8QLYHUVDOG¶$QWXpUSLD6RFLH
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Apêndices
189
Apêndices
190

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Coleção Biblioteca EdUFF

O cotidiano dos trabalhadores de Buenos Aires (1880-1920)


Norberto Osvaldo Ferreras

Em busca da boa sociedade


Selene Herculano

História do anarquismo no Brasil - V. 1


Rafael Borges Deminicis e Daniel Aarão Reis Filho (orgs.)

O poder de domar do fraco: construção de autoridade e poder


tutelar na política de povoamento do solo nacional
Jair de Souza Ramos

Cruéis paisagens
Ângela Maria Dias de Brito Gomes

Percursos do olhar: comunicação, narrativa e memória


Marialva Carlos Barbosa

Literalmente falando: sentido literal e metáfora na metalinguagem


Solange Coelho Vereza

Rotas atlânticas da diáspora africana: da baía do Benim


ao Rio de Janeiro
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Terras lusas. A questão agrária em Portugal


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Regina Souza Gomes

Experiência do limite: Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath


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Anélia Montechiari Pietrani

O veludo, o vidro e o plástico: desigualdade e diversidade


na metrópole
Luis Antonio dos Santos Baptista

Maços na gaveta: reflexões sobre mídia


Beatriz Kushnir (organizadora)
PRIMEIRA EDITORA NEUTRA EM CARBONO DO BRASIL

Título conferido pela OSCIP PRIMA (www.prima.org.br)


após a implementação de um Programa Socioambiental
com vistas à ecoeficiência e ao plantio de árvores referentes
à neutralização das emissões dos GEE’s – Gases do Efeito Estufa.

Este livro foi composto na fonte ITC Cheltenhan, corpo 10.


impresso na Flama Ramos Manuseio e Acabamento Gráfico,
em papel reciclato 75g (miolo) e cartão supremo 250g (capa)
produzidos em harmonia com o meio ambiente.
Esta edição foi impressa em março de 2010.

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