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FILOSOFIA 10º ANO

Utilitarismo
John Stuart Mill
FILOSOFIA 10º ANO

O UTILITARISMO DE JOHN STUART MILL

O credo que aceita a utilidade, ou o Princípio da Maior


Felicidade, como fundamento da moralidade, defende
que as ações estão certas na medida em que tendem a
promover a felicidade e erradas na medida em que
tendem a produzir o reverso da felicidade.

John Stuart Mill (1806-1873)


FILOSOFIA 10º ANO

O UTILITARISMO DE JOHN STUART MILL


John Stuart Mill é o defensor de uma das mais discutidas éticas consequencialistas: o
utilitarismo.

Esta teoria responde ao problema da fundamentação da moral da seguinte forma:


teoria do valor: o bem último é a felicidade;
teoria da obrigação: a ação correta é aquela, de entre as alternativas
disponíveis, que mais promove a felicidade – Princípio da Maior
Felicidade.
FILOSOFIA 10º ANO

O UTILITARISMO DE JOHN STUART MILL

A única prova que se pode apresentar para mostrar que


um objeto é visível é o facto de as pessoas efetivamente
o verem. A única prova de que um som é audível é o
facto de as pessoas o ouvirem, e as coisas passam-se do
mesmo modo com as outras fontes da nossa
experiência. Similarmente, entendo que a única
evidência que se pode produzir para mostrar que uma
coisa é desejável é o facto de as pessoas efetivamente a
desejarem. […]

John Stuart Mill (1806-1873)


FILOSOFIA 10º ANO

ARGUMENTO DA FELICIDADE

[C]ada pessoa, na medida em que acredita que esta é


alcançável, deseja a sua própria felicidade.
Isto, no entanto, sendo um facto, dá-nos não só toda a
prova que o caso admite, mas toda a prova que é
possível exigir, para mostrar que a felicidade é um bem:
que a felicidade de cada pessoa é um bem para essa
pessoa.

John Stuart Mill (1806-1873)


FILOSOFIA 10º ANO

ARGUMENTO DA FELICIDADE
1) A única prova de que algo é visível (audível) é o facto de ser visto (ouvido) por
alguém.
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ARGUMENTO DA FELICIDADE
1) A única prova de que algo é visível (audível) é o facto de ser visto (ouvido) por
alguém.

2) Logo, a única prova de que algo é desejável é o facto de ser desejado por alguém. (De
1, por analogia)
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ARGUMENTO DA FELICIDADE
1) A única prova de que algo é visível (audível) é o facto de ser visto (ouvido) por
alguém.

2) Logo, a única prova de que algo é desejável é o facto de ser desejado por alguém. (De
1, por analogia)

3) A única coisa que cada pessoa deseja, por si mesma, é a sua felicidade.
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ARGUMENTO DA FELICIDADE
1) A única prova de que algo é visível (audível) é o facto de ser visto (ouvido) por
alguém.

2) Logo, a única prova de que algo é desejável é o facto de ser desejado por alguém. (De
1, por analogia)

3) A única coisa que cada pessoa deseja, por si mesma, é a sua felicidade.
4) Se a única prova de que algo é desejável é o facto de ser desejado por alguém, e a
única coisa que cada pessoa deseja, por si mesma, é a sua felicidade, então a felicidade
individual é a única coisa que é, por si mesma, desejável para cada pessoa.
FILOSOFIA 10º ANO

ARGUMENTO DA FELICIDADE
1) A única prova de que algo é visível (audível) é o facto de ser visto (ouvido) por
alguém.

2) Logo, a única prova de que algo é desejável é o facto de ser desejado por alguém. (De
1, por analogia)

3) A única coisa que cada pessoa deseja, por si mesma, é a sua felicidade.
4) Se a única prova de que algo é desejável é o facto de ser desejado por alguém, e a
única coisa que cada pessoa deseja, por si mesma, é a sua felicidade, então a felicidade
individual é a única coisa que é, por si mesma, desejável para cada pessoa.

5) Logo, a felicidade individual é a única coisa que é, por si mesma, desejável para cada
pessoa. (De 2 a 4)
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AVALIAÇÃO CRÍTICA DO
ARGUMENTO DA FELICIDADE

• A analogia subjacente à passagem da premissa (1) para a premissa (2) é bastante


fraca, pois existem diferenças relevantes entre propriedades como “visível” e
“audível” e a propriedade “desejável”.

• As primeiras são puramente descritivas, ou seja, limitam-se a dizer como as coisas


são – dizer que algo é visível é o mesmo que dizer que pode ser visto e dizer que algo
é audível é o mesmo que dizer que pode ser ouvido
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AVALIAÇÃO CRÍTICA DO
ARGUMENTO DA FELICIDADE
• A última tem, geralmente, um certo conteúdo normativo: não diz apenas como as
coisas são, mas antes como devem ser – dizer que algo é desejável significa
geralmente que deve ser desejado, e não simplesmente que pode ser desejado.

• Assim, o facto de algo ser desejado não prova que deve ser desejado, mas sim que
pode ser desejado.

• Contudo, Mill pretende estabelecer que a felicidade de cada pessoa é desejável para si
mesma, num sentido normativo.
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PRINCÍPIO DA MAIOR FELICIDADE


1) Assim, para um utilitarista, o bem que devemos promover é a felicidade.

2) Consequentemente, o estatuto moral de um ato depende de um único fator: a sua


contribuição para a felicidade ou bem-estar.

Princípio da Maior Felicidade:


uma ação é correta, se e só se, de entre as alternativas disponíveis, é aquela que mais
promove a felicidade.
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PRINCÍPIO DA MAIOR FELICIDADE

Indivíduos afetados
I1 I2 I3 I4 I5 Total
Ações disponíveis
Opção A 8 9 4 3 4 28
Opção B 3 3 3 3 3 15
Opção C 4 5 6 5 6 26
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ARGUMENTO A FAVOR DO PRINCÍPIO


DA MAIOR FELICIDADE

Se o fim que a doutrina utilitarista propõe a si própria


não fosse, na teoria e na prática, reconhecido como um
fim, nada poderia alguma vez convencer qualquer
pessoa de que o era. Não se pode apresentar qualquer
razão para mostrar que a felicidade geral é desejável,
exceto a de que cada pessoa, na medida em que acredita
que esta é alcançável, deseja a sua própria felicidade.

John Stuart Mill (1806-1873)


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ARGUMENTO A FAVOR DO PRINCÍPIO


DA MAIOR FELICIDADE

Isto, no entanto, sendo um facto, dá-nos não só toda a


prova que o caso admite, mas toda a prova que é
possível exigir, para mostrar que […] a felicidade geral
um bem para o agregado de todas as pessoas.

John Stuart Mill (1806-1873)


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ARGUMENTO A FAVOR DO PRINCÍPIO


DA MAIOR FELICIDADE
1. A felicidade individual é a única coisa que é, por si mesma, desejável para cada
pessoa. (Conclusão do argumento da felicidade)

2. Se a felicidade individual é a única coisa que é, por si mesma, desejável para cada
pessoa, então a felicidade geral é a única coisa que é, por si mesma, desejável para o
agregado das pessoas.

3. A felicidade geral é a única coisa que é, por si mesma, desejável para o agregado das
pessoas. (De 1 e 2, por Modus Ponens)
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ARGUMENTO A FAVOR DO PRINCÍPIO


DA MAIOR FELICIDADE
4. Se a felicidade geral é a única coisa que é, por si mesma, desejável para o agregado
das pessoas, então a felicidade é o único fim da ação humana, e a sua promoção é o
teste para julgar toda a conduta humana.

5. Logo, a felicidade é o único fim da ação humana, e a sua promoção é o teste para
julgar toda a conduta humana – Princípio da Maior Felicidade. (De 3 e 4, por
Modus Ponens)
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AVALIAÇÃO DO ARGUMENTO A FAVOR DO PRINCÍ-


PIO DA MAIOR FELICIDADE
• Os críticos do Argumento a Favor do Princípio da Maior Felicidade têm atacado a
premissa (2) desse argumento.

• Esta premissa tem subjacente a falácia da composição, que consiste em atribuir ao


todo características que apenas podem ser legitimamente atribuídas a cada uma das
suas partes.

• Considerar que do facto de que cada um dos alunos da turma ser pessoa se segue que a
turma é uma pessoa é um bom exemplo desta falácia.
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AVALIAÇÃO DO ARGUMENTO A FAVOR DO PRINCÍ-


PIO DA MAIOR FELICIDADE
• Alegadamente, Mill incorre nessa falácia ao considerar que o facto de a felicidade de
cada pessoa ser a única coisa que é, por si mesma, desejável para cada uma delas é
uma condição suficiente para que a felicidade geral seja a única coisa que é, por si
mesma, desejável para o agregado das pessoas.
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HEDONISMO

Por felicidade, entende-se o prazer e a ausência de dor;


por infelicidade, a dor e a privação de prazer.

John Stuart Mill (1806-1873)


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HEDONISMO

• Mill era um hedonista, o que significa que, para ele, a felicidade ou bem-estar de um
indivíduo consiste unicamente no prazer (experiências aprazíveis) e na ausência de
dor.
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HEDONISMO QUANTITATIVO

• Jeremy Bentham defendia uma versão puramente quantitativa de hedonismo.

• Para calcular o bem-estar causado por uma dada ação temos de ver como ela afeta
cada um dos indivíduos envolvidos, subtraindo a quantidade de dor à quantidade
de prazer que ela provoca.

• A quantidade de dor e de prazer é calculada exclusivamente com base na sua


intensidade e na sua duração.
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HEDONISMO QUALITATIVO
• Ao contrário de Bentham, Mill defendia uma versão qualitativa de hedonismo.

• Para Mill, há prazeres qualitativamente superiores a outros, ou seja, há prazeres


intrinsecamente melhores do que outros.

• Os prazeres inferiores correspondem aos prazeres corpóreos: satisfação das


necessidades primárias (comida, água, sexo, etc).

• Os prazeres superiores correspondem aos prazeres intelectuais e emocionais:


satisfação das necessidades mentais/espirituais (como a fruição da beleza, do
conhecimento, da amizade e do amor, etc).
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HEDONISMO QUALITATIVO

É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um


porco satisfeito; é melhor ser Sócrates insatisfeito do que
um tolo satisfeito. E se o tolo ou o porco têm uma
opinião diferente é porque só conhecem o seu próprio
lado da questão. A outra parte da comparação conhece
ambos os lados.

John Stuart Mill (1806-1873)


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HEDONISMO QUALITATIVO
1. Se entre dois prazeres um deles é colocado, por aqueles que têm experiência de
ambos, tão acima do outro que não abdicariam dele por quantidade alguma do outro,
então esse prazer é qualitativamente superior ao outro.

2. Se aqueles que têm experiência quer dos prazeres intelectuais/espirituais, quer dos
prazeres corporais, dão preferência aos primeiros e não abdicariam deles por
quantidade alguma dos segundos, então os prazeres intelectuais/espirituais são
qualitativamente superiores aos prazeres corporais. (De 1, por instanciação)
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HEDONISMO QUALITATIVO
3. Aqueles que têm experiência quer dos prazeres intelectuais/espirituais, quer dos
prazeres corporais, dão preferência aos primeiros e não abdicariam deles por
quantidade alguma dos segundos.

4. Logo, os prazeres intelectuais/espirituais são qualitativamente superiores aos


prazeres corporais. (De 2 e 3, por Modus Ponens)
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CONSEQUENCIALISMO:
INTENÇÃO E CONSEQUÊNCIAS

[O] motivo, embora seja muito relevante para o valor do


agente, é irrelevante para a moralidade da ação. Aquele
que salva um semelhante de se afogar faz o que está
moralmente certo seja o seu motivo o dever, seja a
esperança de ser pago pelo incómodo; aquele que trai um
amigo que confia em si é culpado de um crime, mesmo
que o seu objetivo seja servir outro amigo relativamente
ao qual tem maiores obrigações.

John Stuart Mill (1806-1873)


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CONSEQUENCIALISMO:
INTENÇÃO E CONSEQUÊNCIAS
• A avaliação moral das ações depende apenas das suas consequências.

• As intenções e motivações do agente (a razão pela qual este realiza as suas ações) são
irrelevantes para o estatuto moral dos atos.

• Em qualquer situação, a ação correta é aquela que, comparada com todas as


alternativas, tem as melhores consequências, ou seja, aquela que gera o melhor
estado de coisas possível.
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CONSEQUENCIALISMO:
INTENÇÃO E CONSEQUÊNCIAS

• Para determinar o valor das consequências de um ato, temos de ponderar


imparcialmente os prejuízos e os benefícios que a sua realização trará a todos os
indivíduos afetados pelo mesmo.

• Devemos fazer esse cálculo com total imparcialidade, o que significa que devemos
dar a mesma importância à forma como cada indivíduo é afetado pela nossa ação.
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CONSEQUENCIALISMO:
INTENÇÃO E CONSEQUÊNCIAS

[A] felicidade que constitui o padrão utilitarista do que


está certo na conduta não é a felicidade do próprio
agente, mas a de todos os envolvidos. Quanto à escolha
entre a sua própria felicidade e a felicidade dos outros, o
utilitarismo exige que ele seja tão estritamente imparcial
como um espetador benevolente e desinteressado.

John Stuart Mill (1806-1873)


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CONSEQUENCIALISMO:
INTENÇÃO E CONSEQUÊNCIAS

• O padrão da maior felicidade não se refere apenas à maior felicidade do próprio


agente, mas sim à maior felicidade geral, ou seja, à felicidade de todos os seres
sencientes (incluindo animais não-humanos) afetados pela nossa ação.

• Isto significa que, para Mill, sacrificar o bem pessoal tem sentido, se, e só se,
aumentar a quantidade total de felicidade.
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CONSEQUENCIALISMO:
INTENÇÃO E CONSEQUÊNCIAS
I4 = EU

Indivíduos afetados
I1 I2 I3 II44 I5 Total
Ações disponíveis
Opção A 8 9 4 3 4 28
Opção B 3 3 3 3 3 15
Opção C 4 5 6 5 6 26

Embora EU fique melhor na Opção C, a opção correta de acordo com o utilitarismo de


John Stuart Mill continua a ser a Opção A, porque é aquela em que o maior total de
felicidade é alcançado.
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AGREGACIONISMO
• O utilitarismo de Mill defende que a ação correta é aquela que mais promove o
bem-estar agregado – isto é, aquela que corresponde a um maior total de
bem-estar depois de descontar a dor à soma do prazer de todos os envolvidos,
independentemente da forma como esse bem-estar se encontra distribuído pelos
diferentes indivíduos.

• Portanto, o utilitarismo de Mill é uma teoria agregacionista.

• Uma teoria é agregacionista se, e só se, considera que um determinado estado de


coisas é melhor do que outro, no caso de ter um maior total de bem,
independentemente da forma como este se encontra distribuído.
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CONSEQUENCIALISMO:
INTENÇÃO E CONSEQUÊNCIAS

Indivíduos afetados
I1 I2 I3 I4 I5 Total
Ações disponíveis
Opção A 8 9 4 3 4 28
Opção B 3 3 3 3 3 15
Opção C 4 5 6 5 6 26

Embora na Opção B haja uma distribuição mais igualitária de felicidade e na Opção C


haja mais pessoas mais felizes (3 em vez de 2), a opção correta de acordo com o
utilitarismo de John Stuart Mill continua a ser a Opção A, porque é aquela em que o
maior total de felicidade é alcançado.
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PRINCÍPIOS SECUNDÁRIOS: A INEXISTÊNCIA


DE REGRAS MORAIS ABSOLUTAS
• Resta acrescentar que, apesar de encarar o princípio da utilidade (ou da maior
felicidade) como fundamento de toda a moralidade, Mill não pensava que
deveríamos orientar toda a nossa conduta diretamente por esse princípio.

• Frequentemente, não há tempo, antes de uma dada ação, para calcular e avaliar os
efeitos que esta terá na felicidade geral.

• Contudo, isso não significa que a ética utilitarista se revela incapaz de fornecer
qualquer orientação prática para a nossa conduta.
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PRINCÍPIOS SECUNDÁRIOS: A INEXISTÊNCIA


DE REGRAS MORAIS ABSOLUTAS
• A humanidade tem vindo a aprender por experiência a tendência que certas ações
têm para produzir felicidade, ou infelicidade e, com base nisso, podemos adotar
certos princípios secundários e utilizá-los como guias para a nossa conduta.

• Por exemplo, quando alguém se sente tentado a roubar, ou a matar, não é como se
tivesse de considerar pela primeira vez se o roubo ou o homicídio são benéficos ou
prejudiciais para a felicidade humana.

• Dada a tendência geral dessas ações para produzir mais infelicidade do que felicidade,
podemos assumir como regra geral que não devemos roubar, nem devemos matar
ninguém.
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PRINCÍPIOS SECUNDÁRIOS: A INEXISTÊNCIA


DE REGRAS MORAIS ABSOLUTAS
• Contudo, estes princípios secundários não devem ser encarados como regras
morais absolutas, que devemos respeitar em toda e qualquer situação.

• Desde logo, porque as peculiaridades de cada circunstância assim o exigem.

• No caso de dois princípios fornecerem recomendações contraditórias, por exemplo,


temos de recorrer ao princípio da utilidade (ou da maior felicidade) para saber qual
delas deverá prevalecer sobre a outra.

• Sem poder recorrer ao padrão da utilidade, qualquer teoria moral tornar-se-ia


incapaz de nos orientar nestes casos.
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OBJEÇÃO AO HEDONISMO

• O filósofo Robert Nozick (1938-2002) concebeu uma engenhosa experiência


mental para mostrar a nossa felicidade não consiste apenas no prazer e na ausência
de dor.

• Essa experiência mental ficou conhecida como “A Máquina de Experiências”.


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OBJEÇÃO AO HEDONISMO
Suponhamos que havia uma máquina de experiências que
proporcionaria ao leitor a experiência que desejasse.
Neuropsicólogos superfixes podiam estimular o seu
cérebro de maneira a pensar e sentir que escrevia um
grande romance, fazia um amigo, ou lia um livro
interessante. Durante todo o tempo estaria a flutuar numa
cuba, com elétrodos ligados ao cérebro. Dever-se-ia ligar
esta máquina durante toda a vida, pré-programando as
suas experiências de vida? (...) Evidentemente, enquanto
está na cuba não saberá que ali está; pensará que tudo
aquilo acontece efetivamente. (...) Ligar-se-ia? O que
mais pode ter importância para nós, além do modo como
são as nossas vidas a partir de dentro?
Robert Nozick (1938-2002)
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OBJEÇÕES AO AGREGACIONISMO - I
• O problema da separação entre os indivíduos:

• Uma outra objeção comum ao utilitarismo está diretamente relacionada com o


caráter agregacionista desta teoria.

• Como vimos anteriormente, para uma teoria agregacionista o importante é


produzir o maior total de bem-estar agregado, independentemente da forma
como este se encontra distribuído pelos diferentes indivíduos.

• O filósofo norte-americano John Rawls considera que esta conceção não respeita
os princípios da justiça social, pois não tem em conta a separação entre os
indivíduos.
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OBJEÇÕES AO AGREGACIONISMO - I
A característica marcante da visão utilitarista da justiça é
a de que, para ela, não importa, a não ser indiretamente, o
modo como a soma das satisfações é distribuída entre os
sujeitos, da mesma forma que não importa, também salvo
indiretamente, a forma como os sujeitos distribuem as
suas satisfações no tempo. Em ambos os casos, a
distribuição correta é aquela que produz a máxima
satisfação. […] Não há, pois, razão para que, em
princípio, os maiores ganhos de alguns não compensem as
perdas, comparativamente menores, de outros; ou, mais
importante, para que a violação da liberdade de alguns
não possa ser justificada por um maior bem partilhado por
muitos.
John Rawls (1921-2002)
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OBJEÇÕES AO AGREGACIONISMO - I

Em cada caso, há um único sujeito cujo sistema de


desejos determina a melhor afetação de recursos
limitados. A decisão correta é, essencialmente, um
problema de administração eficiente. Esta visão da
cooperação social é a consequência da extensão à
sociedade do princípio de escolha aplicável ao indivíduo,
seguida, como modo de tornar efetiva esta extensão, da
união de todos os sujeitos num só […]. O utilitarismo
não considera, pois, seriamente a pluralidade de
sujeitos.

John Rawls (1921-2002)


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OBJEÇÕES AO AGREGACIONISMO - II
População A População B
1
1 1
1 1
1 1 1
1 1 1
1 1 1
8 9 7 8 1 1 1
1 1 1
1 1
1 1
1
1

35 Bem-estar
30
25
20
15
10
5
0
Series1
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OBJEÇÕES AO AGREGACIONISMO - II
• O problema da conclusão repugnante:

• Mill defende que a ação correta é aquela que mais promove o bem-estar
agregado, isto é, aquela que corresponde a um maior total de bem-estar depois
de descontar a dor à soma do prazer de todos os envolvidos.

• Mas, nesse caso, uma ação que resultasse numa sociedade com um grande
número de indivíduos que vivessem vidas que quase não merecem ser vividas
seria preferível a uma sociedade com um menor número de indivíduos, ainda
que estes tivessem vidas com elevados níveis de
bem-estar.
FILOSOFIA 10º ANO

OBJEÇÕES AO AGREGACIONISMO - II
• Se o agregacionismo fosse verdadeiro, então uma ação que resultasse numa sociedade
com um grande número de indivíduos que vivessem vidas que quase não merecem ser
vividas seria preferível a uma sociedade com menos indivíduos, ainda que estes
tivessem vidas com elevados níveis de bem-estar.

• Ora, é falso que uma ação que resultasse numa sociedade com um grande número de
indivíduos que vivessem vidas que quase não merecem ser vividas seria preferível a
uma sociedade com menos indivíduos, ainda que estes tivessem vidas com elevados
níveis de bem-estar.

• Logo, o agregacionismo é falso. (De 1 e 4)


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CONTRAEXEMPLOS AO PMF
• O Princípio da Maior Felicidade diz-nos que: “uma ação é moralmente correta, se, e
só se, é aquela, de entre as alternativas disponíveis, que mais promove a felicidade.”

• Se quisermos mostrar que esta bicondicional é falsa temos de encontrar


contraexemplos para a mesma.

• Para isso, recordemos as condições de verdade da bicondiconal: ela só é falsa quando


o valor de verdade das proposições que a compõem difere (como se pode ver na tabela
de verdade do slide seguinte).
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CONTRAEXEMPLOS AO PMF

Dicionário:
P: A ação é moralmente correta.
Q: A ação é aquela que, de entre as alternativas disponíveis,
mais promove a felicidade.
P Q (P ↔ Q)
V V V
V F F
F V F
F F V
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CONTRAEXEMPLOS AO PMF
• Isto significa que se pretendemos mostra que o Princípio da Maior Felicidade é
falso através de um contraexemplo, teremos de encontrar uma das seguintes
situações:

1. Mill defende que a ação correta é aquela que mais promove o bem-estar
agregado, isto é, aquela que corresponde a um maior total de bem-estar depois
de descontar a dor à soma do prazer de todos os envolvidos.

2. P é falsa, mas Q é verdadeira – ou seja, uma ação que não é moralmente


correta, apesar de ser a alternativa disponível que mais promove a felicidade.
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CONTRAEXEMPLOS AO PMF
• No caso 1. a definição apresentada é demasiado restrita, pois exclui casos que
deveria incluir.

• No caso 2., a definição apresentada é demasiado abrangente, pois inclui casos que
deveria excluir.

• No caso 1., estaremos a considerar que a ética utilitarista é demasiado exigente, pois
considera que é sempre errado fazer algo que não contribua para a felicidade geral no
maior grau possível, por maiores que sejam os sacrifícios pessoais que isso implique.

• No caso 2., estaremos a considerar que a ética utilitarista é demasiado permissiva,


porque considera que qualquer ato, por mais hediondo que seja, é moralmente correto
desde que promova a felicidade.
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OBJEÇÃO DA EXIGÊNCIA EXTREMA


• Imagina que tens à sua disposição as seguintes opções:
• Opção A: Doar 500€ à UNICEF.
• Opção B: Doar 500€ à OXFAM.

• Agora, imagina que decidiste doar o dinheiro à UNICEF produzindo uma grande
quantidade de felicidade a um número significativo de crianças e respetivas famílias.

• Imagina ainda que se tivesses decidido oferecer o dinheiro à OXFAM, terias


produzido um maior número de felicidade.
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OBJEÇÃO DA EXIGÊNCIA EXTREMA


• O utilitarismo diria que essa ação não foi moralmente correta, pois havia uma
alternativa disponível que produziria mais felicidade.

• Mas parece inaceitável afirmar que fazer um grande bem é errado simplesmente
porque se podia ter feito um bem ainda maior.

• Ou seja, a ação em causa parece ser moralmente correta, embora não seja a alternativa
disponível que mais promove a felicidade.

• Podemos acabar por viver uma vida miserável, abdicando de sistematicamente dos
nossos projetos pessoais em prol da maximização da felicidade geral.
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OBJEÇÃO DA PERMISSIVIDADE EXTREMA


• Uma vez que não admite a existência de restrições deontológicas e obrigações
centradas no agente, o utilitarismo implica que por vezes cometer uma injustiça ou
fazer algo moralmente condenável, pode ser a coisa certa a fazer.

• Por exemplo, para um utilitarista é correto prender, matar ou torturar inocentes se isso
resultar numa maior felicidade geral.

• Mas parece que atos desse tipo não são justificáveis pelo simples facto de produzirem
as melhores consequências.
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OBJEÇÃO DA PERMISSIVIDADE EXTREMA


• Imagina que és um chefe da polícia que tem à sua disposição as seguintes opções:

• Opção A: Condenar à morte um inocente sem qualquer tipo de ligações afetivas,


para por fim a uma onda de agitação social que está a provocar uma grande
quantidade de mortes e sofrimento na generalidade da população.

• Opção B: Não condenar o inocente, permitindo que a agitação social continue a


provocar mortes e sofrimento na generalidade da população.
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OBJEÇÃO DA PERMISSIVIDADE EXTREMA


• O utilitarismo diria que essa ação foi moralmente correta, pois era a alternativa
disponível que produziria mais felicidade.

• Mas parece inaceitável afirmar que fazer um grande mal a uma pessoa é correto
simplesmente porque é a alternativa que mais promove a felicidade geral.

• Isto parece reduzir as pessoas ao estatuto de coisas que podem ser usadas de qualquer
maneira se isso permitir produzir um grande número de felicidade para outros.

• Ou seja, a ação em causa parece não ser moralmente correta, embora seja a alternativa
disponível que mais promove a felicidade.

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