Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EMPREGABILIDADE
Lavar o próprio banheiro tem muito a ver com a segurança de abrir um MacBook em
uma praça pública do Rio de Janeiro, pode acreditar .
Por mais modernos que queiramos parecer, nós brasileiros somos um povo conservador.
Temos uma alma aristocrática que não exige corpo aristocrático para se incorporar. Da
faxineira à socialite, do gari ao magnata, não é difícil encontrar quem sonhe ter (ou
tenha) um (ou mais de um) empregado em tempo integral a seu dispor, para servir e
cumprir as tarefas desagradáveis. Ter bens somente para ter e dizer que tem é normal.
1
Disponível em http://www.administradores.com.br/artigos/carreira/por-que-executivos-deveriam-lavar-
banheiros/74887/. Acesso em 03.02.2014.
De tão cristalizada que essa visão está em nossa cultura, é difícil isso não soar como
algo normal. Mas eu acredito, sinceramente, que seríamos uma sociedade melhor se
executivos lavassem seus próprios banheiros e porteiros não precisassem olhar os
moradores do condomínio de luxo de baixo para cima.
Lendo coisas pela internet, encontrei um texto escrito por um brasileiro que mora na
Holanda e publicado em seu blog, em janeiro de 2013, há cerca de um ano. Ele fala
sobre isso e achei interessante compartilhar aqui com vocês.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Profissões especializadas pagam mais, mas não muito mais. Igualdade social significa
menor distância social: todos se encontram no meio. Não há muito baixo, mas também
não há muito alto. Um lixeiro não ganha muito menos do que um analista de sistemas.
O salário mínimo é de 1300 euros/mês. Um bom salário de profissão especializada, é
uns 3500, 4000 euros/mês. E ganhar mais do que alguém não torna o alguém teu
subalterno: o porteiro não toma ordens de você só porque você é gerente de RH. Aliás,
ordens são muito mal vistas. Chegar dando ordens abreviará seu comando. Todos ali
estão em um time, do qual você faz parte tanto quanto os outros (mesmo que seu
trabalho dentro do time seja de tomar decisões).
Porém, a igualdade social holandesa tem um outro efeito que é muito atraente pra
quem vem da sociedade profundamente desigual do Brasil: a relativa segurança. É
inquestionável que a sociedade holandesa é menos violenta do que a brasileira. Claro
que aqui há violência – pessoas são assassinadas, há roubos. Estou fazendo uma
comparação, e menos violenta não quer dizer “não violenta”.
Não gosto mais do que qualquer um de limpar banheiro. Ninguém gosta – nem as
faxineiras no Brasil, obviamente. Também não gosto de ir ao médico fazer exames.
Mas é parte da vida, e um preço que pago pela saúde. Limpar o banheiro é um preço a
pagar pela saúde social. E um preço que acho bastante barato, na verdade.
UPDATE: Muita gente tem lido este post como uma idealização da Holanda como um
lugar paradisíaco. Nada mais longe da verdade. A Holanda não é nenhum paraíso e
tem diversos problemas, muitos dos quais eu sinto na pele diariamente. O que
pretendo fazer aqui é dizer duas coisas: a origem da violência no Brasil é a
desigualdade social e 2, apesar da violência que gera, muita gente gosta dessa
desigualdade e fica infeliz quando ela diminui, porque dela se beneficia e não enxerga
a ligação desigualdade-violência. Por fim: esse post não é sobre a Holanda. A Holanda
estar aqui é casual. Esse post é sobre o Brasil, minha pátria mãe.