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AFA 2024

REDAÇÃO

AULA 07
Coerência

Prof.ª Celina Gil

www.estrategiamilitares.com.br
Prof.ª Celina Gil

Sumário
Apresentação 3

1 – Análise social 3

2 – Coerência 7

2.1 – Exercícios de coerência 8

2.2 - Gabarito 16

2.3 – Exercícios comentados 16

3 - Propostas 27

Considerações finais 43

Siga minhas redes sociais!

Professora Celina Gil @professoracelinagil @professoracelinagil

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Apresentação
Olá!

Essa é uma das aulas mais importantes para a escrita de sua redação. Começaremos aqui nosso
estudo sobre o coerência. Na aula de hoje, veremos:

Nossas aulas de redação serão sempre compostas de 3 partes:

1 - Análise social
Apontamentos acerca de assuntos ligados ao contemporâneo.
Esses apontamentos têm o objetivo de fortalecer seu repertório e auxiliar na
elaboração de argumentos.

2 - Estudo de uma parte da dissertação


Estudo aprofundado de uma das partes que compõe o texto dissertativo.
Vamos passar por introdução, desenvolvimento, conclusão e coesão/coerência.

3- Produção textual
Análise de redações/trechos de redações e/ou exemplo de produção textual.
Propostas de redação inéditas para serem executadas pelo aluno.

Vamos lá?

1 – Análise social
Para nossa última análise social do curso, vamos nos dedicar a pensar sobre um aspecto muito
importante os brasileiros: a ideia de Brasil e qual a nossa imagem para o exterior.

Muitas redações vão ser bastante específicas em pedir que você fale sobre realidades brasileiras.
Claro que é muito difícil para qualquer um – até para os estudiosos do tema – falar com toda a segurança
o que faz um país ser como ele é. Muitos dados de sua história influem na constituição de um país: sua
colonização, sua natureza, seus recursos, sua trajetória política etc.

Não faça o erro de usar expressões taxativas demais em sua redação. Falas como “o problema
do Brasil é” ou “o brasileiro é muito (...)” são muito perigosas, pois são generalizantes e não propõe nada:

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se o brasileiro for, por exemplo, naturalmente corrupto, então não há solução possível para nenhum
problema abordado em seu texto, o que enfraquece todos os seus argumentos. Há três autores
fundamentais e que podem ser usados sempre que quiser falar sobre problemas fundamentais à
sociedade brasileira. Vamos ver um pouco mais sobre cada um deles:

Gilberto Freyre
Na obra Casa grande & senzala, Gilberto Freyre aborda a formação
do povo brasileiro a partir de sua origem de miscigenação entre
brancos, pretos e indígenas. Os defeitos, qualidades e alguns mitos
em torno na ideia de Brasil viriam das características desses povos
e, principalmente, dos processos de colonização e papeis sociais
estabelecidos então. Ele também disserta sobre a opressão contra
a mulher e a influência da religião na composição do país.
É importante para pensar como nosso passado colonial impacta na sociedade até hoje.

Sergio Buarque de Hollanda


No livro Raízes do Brasil, o autor cunha o conceito de homem cordial
como o traço definidor do caráter brasileiro. O homem cordial é
aquele que ao mesmo tempo em que estabelece intimidade
rapidamente, rejeita as convenções e os formalismos. Isso faz com
que tendamos a estabelecer relações de proximidade em qualquer
tipo de cenário social, fazendo com que os limites entre público e privado fiquem menos claros.
É importante para pensar relações de ética e civilidade, tanto nas micro quanto macroestruturas.

Roberto DaMatta
DaMatta cunha a expressão jeitinho brasileiro. Em sua definição, o
jeitinho é um modo particular do brasileiro de ser capaz de improvisar
soluções para situações problemáticas. Pode ser visto de maneira
positiva (como um sinônimo de criatividade) ou negativa (denotando a
ideia de malandragem, corrupção ou desonestidade). O autor aponta,
porém, que muitas vezes, diante de uma realidade opressora, o jeitinho é a única chance de
sobrevivência para muitos brasileiros.
É importante para pensar como nos relacionamos com as instituições e as regras.

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Veja possíveis temas de redação que se beneficiariam dessas ideias:

Racismo
Nepotismo Mesmo sendo um país Desigualdade social
A prática de favorecer miscigenado, o Brasil As desigualdades sociais
parentes e amigos no segue perpetuando o no Brasil não foram ainda
ambiente de trabalho. racismo em diversas superadas. Como nossa
Como a ideia do homem instâncias. Como nossa história justifica essas
cordial pode explicar essa formação cultural e desigualdades e como
mistura entre o público e o história colonial se nosso comportamento
privado? relacionam com essa ajuda a perpetrá-las?
prática?

Corrupção
Imigração
Como a corrupção aparece
O Brasil recebe muitos
nas diversas instâncias?
imigrantes até hoje. Como
Há pesos diferentes, ou
a ideia de homem cordial e
seja, pequenas e grandes
o mito da não existência
corrupções? Como as
do racismo no Brasil
ideias de cordialidade e
fortalecem esses fluxos
jeitinho se relacionam com
migratórios?
isso?

Um outro assunto importante a se pensar é sobre a expectativa que o estrangeiro deposita sobre
o brasileiro. Há uma ideia no mundo – e se você já conversou com um estrangeiro você vai saber do que
estou falando – de que o brasileiro é um povo sempre muito feliz, receptivo e alegre. Longe de mim querer
dizer que não (até por que eu amo carnaval), mas será que é possível realmente ser feliz o tempo todo?

Alguns dos produtos de exportação culturais do Brasil mais importantes são as praias, o Carnaval,
a música, a natureza e as comidas. Esses serão quase sempre as primeiras referências que um estrangeiro
apontará sobre o Brasil. Isso, porém, gera alguns problemas: ligados a esse turismo, estão também
práticas como o turismo sexual, a invasão de territórios para roubo de nossa fauna e flora e uma
reprodução de estereótipos sobre um povo muito diverso. Assim, é importante pensarmos como mostrar
a diversidade cultural do Brasil para o mundo?

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FILMES
Bacurau (2019) Dir.: Kleber O auto da compadecida Tropa de elite 2: O inimigo
Mendonça Filho (2000) Dir.: Guel Arraes agora é outro (2010) Dir.:
José Padilha

Em um futuro próximo João Grilo e Chicó são dois


brasileiro, Teresa volta para homens pobres, porém Muita gente viu o Tropa de
sua pequena cidade natal espertos, vivendo no sertão elite, mas pouca gente viu o
para o funeral de sua avó. nordestino. Na obra, segundo filme. E é aqui que a
Estranhos acontecimentos, acompanhamos sua luta por história se completa. Capitão
no entanto, começam a sobrevivência, fazendo uso Nascimento, acusado de um
mobilizar os moradores da de truques e artimanhas crime, é afastado do
região contra um inimigo contra os moradores do comando, mas por ser um
desconhecido. vilarejo – e até contra um homem popular, é alçado a
cangaceiro. um cargo na Secretaria de
Segurança.
Que horas ela volta? Macunaíma (1969) Dir.: Central do Brasil (1998) Dir.:
(2015) Dir.: Anna Muylaert Joaquim Pedro de Andrade Walter Salles

Val trabalha há 13 anos Baseado na obra de Mario Dora é uma ex-professora que
como empregada de Andrade, o filme conta a escreve cartas na estação
doméstica e babá. Sua filha, história de Macunaíma, central do Rio de Janeiro para
Jéssica, foi criada por também conhecido como o pessoas analfabetas. Ela
parentes em outro estado. herói sem nenhum caráter. acaba ajudando Josué, um
Ela vai morar com a mãe, Ele passa por diversas menino de 9 anos que acaba
mas as complexas relações situações fantásticas em sua de perder sua mãe, e eles
entre patrões e vida – como a mudança de partem em uma viagem para
empregados começam a etnia após entrar em um rio. encontrar o pai do menino.
ser tensionadas.

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2 – Coerência
A coerência está no nível da semântica e das ideias, ou seja, dos significados do texto para
que ele mantenha uma relação lógica e compreensível. Ela pode aparecer na estilística, gênero
textual, pragmática, semântica, sintaxe ou tema.

• Coerência estilística – estilo em que o texto é escrito. Na sua prova, você deve redigir
seu texto segundo a norma culta. morfologia, sintaxe,

• Coerência de gênero textual - na maioria dos vestibulares, o gênero exigido é o


dissertativo-argumentativo. Independente disso, leia o enunciado com cuidado!

• Coerência pragmática – diz sobre o contexto. Pode se aplicar tanto na escolha do que
explicar (informações compartilhadas por todos não precisam ser explicadas), quanto a
construção de um contexto (por exemplo, quando escrevemos uma pergunta na
redação, pois se torna esperado que haverá uma resposta).

• Coerência semântica – se refere ao significado das palavras. Ela evita as seguintes


situações:

Problema Exemplo
Contradições Eu não bebo café. Vou me servir de uma xícara de
café. (Se não bebo café, porque me serviria?)
Mau uso das palavras A televisão transmite diversão. (Errado: transmitir
tem a ver com a programação da televisão, não a
sensação).
Palavras homófonas Conserto (Quando algo é consertado ou arrumado)
(mesmo som, mas e Concerto (Espetáculo musical)
significado diferente)

• Coerência sintática – dispor os elementos na ordem correta, selecionar o léxico de


maneira que se encaixe à proposta, regência e concordância corretas.

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• Coerência temática – não fugir ao tema proposto no enunciado. A fuga ao tema é um


dos principais problemas nos vestibulares. Ocasiona nota 0 na redação.

2.1 – Exercícios de coerência


1. (ITA SP 2004)
Assinale a opção em que a ambiguidade ou o efeito cômico NÃO decorre da ordem dos termos.
a) O estudo analisou, por 16 anos, hábitos como caminhar e subir escadas de homens com idade
média de 58 anos. (Equilíbrio. Folha de S. Paulo, 19/10/2000)
b) Andando pela zona rural do litoral norte, facilmente se encontram casas de veraneio e moradores
de alto padrão. (Folha de S. Paulo, 26/01/2003)
c) Atendimento preferencial para: idosos, gestantes, deficientes, crianças de colo (Placa sobre um
dos caixas de um banco.)
d) Temos vaga para rapaz com refeição (Placa em frente a uma casa em Campinas, SP.)
e) Detido acusado de furtos de processos (Folha de S. Paulo, 8/7/2000)

2. (ITA SP - 2003)
A universidade de Taubaté (UNITAU) conta, no total, com 720 universitários [no curso de Comunicação
Social], sendo 130 formandos. Com tantos universitários saindo para o mercado de trabalho, o
coordenador do curso de Comunicação Social da UNITAU (...) mencionou que o Vale do Paraíba é
inexplorado e tem potencial de absorver os formandos.
( Jornal Comunicação, n.1, março 2002, p.3)

Considerando ainda o período abordado na questão anterior, assinale a alternativa que, completando
a oração abaixo, apresenta a relação mais coerente entre as ideias.
O coordenador do curso de Comunicação Social mencionou que,
a) à medida que muitos universitários saem para o mercado de trabalho, o Vale do Paraíba tem
potencial de absorver os formandos, pois ainda é um mercado inexplorado.
b) como muitos universitários saem para o mercado de trabalho, o Vale do Paraíba tem potencial de
absorver os formandos, pois ainda é um mercado inexplorado.
c) há muitos universitários saindo para o mercado de trabalho, de modo que o Vale do Paraíba tem
potencial de absorver os formandos, pois ainda é um mercado inexplorado.
d) muitos universitários saem para o mercado de trabalho; portanto, o Vale do Paraíba tem potencial
de absorver os formandos, pois ainda é um mercado inexplorado.
e) embora muitos universitários estejam saindo para o mercado de trabalho, o Vale do Paraíba tem
potencial de absorver os formandos, pois ainda é um mercado inexplorado.

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3. (IME - 2016)
TEXTO 1
CONSUMIDORES COM MAIS ACESSO À INFORMAÇÃO QUESTIONAM A VERDADE QUE LHES É
VENDIDA
Ênio Rodrigo

Se você é mulher, talvez já tenha observado com mais atenção como a publicidade de produtos
de beleza, especialmente os voltados a tratamentos de rejuvenescimento, usualmente possuem
novíssimos "componentes anti-idade" e "micro-cápsulas" que ajudam "a sua pele a ter mais firmeza
em oito dias", por exemplo, ou mesmo que determinados organismos "vivos" (mesmo depois de
envazados, transportados e acondicionados em prateleiras com pouco controle de temperatura)
fervilham aos milhões dentro de um vasilhame esperando para serem ingeridos ajudando a regular
sua flora intestinal. Homens, crianças, e todo tipo de público também não estão fora do alcance desse
discurso que utiliza um recurso cada vez mais presente na publicidade: a ciência e a tecnologia como
argumento de venda.
Silvania Sousa do Nascimento, doutora em didática da ciência e tecnologia pela Universidade Paris
VI e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), enxerga
nesse processo um resquício da visão positivista, na qual a ciência pode ser entendida como verdade
absoluta. "A visão de que a ciência é a baliza ética da verdade e o mito do cientista como gênio criador
é amplamente difundida, mas entra, cada vez mais, em atrito com a realidade, principalmente em
uma sociedade informacional, como ( 1 ) nossa", acrescenta.
Para entender esse processo numa sociedade pautada na dinâmica da informação, Ricardo
Cavallini, consultor corporativo e autor do livro O marketing depois de amanhã (Universo dos Livros,
2007), afirma que, primeiramente, devemos repensar a noção de público específico ou senso comum.
"Essas categorizações estão sendo postas de lado. A publicidade contemporânea trata com pessoas e
elas têm cada vez mais acesso ( 2 ) informação e é assim que vejo a comunicação: com fronteiras
menos marcadas e deixando de lado o paradigma de que o público é passivo", acredita. Silvania
concorda e diz que a sociedade começa ( 3 ) perceber que a verdade suprema é estanque, não condiz
com o dia-a-dia. "Ao se depararem com uma informação, as pessoas começam a pesquisar e isso as
aproxima do fazer científico, ou seja, de que a verdade é questionável", enfatiza.
Para a professora da UFMG, isso cria o "jornalista contínuo", um indivíduo que põe a verdade à
prova o tempo todo. "A noção de ciência atual é a de verdade em construção, ou seja, de que
determinados produtos ou processos imediatamente anteriores à ação atual, são defasados".
Cavallini considera que ( 4 ) três linhas de pensamento possíveis que poderiam explicar a utilização
do recurso da imagem científica para vender: a quantidade de informação que a ciência pode agregar
a um produto; o quanto essa informação pode ser usada como diferencial na concorrência entre
produtos similares; e a ciência como um selo de qualidade ou garantia. Ele cita o caso dos chamados
produtos "verdes", associados a determinadas características com viés ecológico ou produtos que
precisam de algum tipo de "auditoria" para comprovarem seu discurso. "Na mídia, a ciência entra

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como mecanismo de validação, criando uma marca de avanço tecnológico, mesmo que por
pouquíssimo tempo", finaliza Silvania.
O fascínio por determinados temas científicos segue a lógica da saturação do termo, ou seja, ecoar
algo que já esteja exercendo certo fascínio na sociedade. "O interesse do público muda bastante e a
publicidade se aproveita desses temas que estão na mídia para recriá-los a partir de um jogo de
sedução com a linguagem" diz Cristina Bruzzo, pesquisadora da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e que acompanhou ( 5 ) apropriação da imagem da
molécula de DNA pelas mídias (inclusive publicidade). "A imagem do DNA, por exemplo, foi acrescida
de diversos sentidos, que não o sentido original para a ciência, e transformado em discurso de venda
de diversos produtos", diz.
Onde estão os dados comprovando as afirmações científicas, no entanto? De acordo com Eduardo
Corrêa, do Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária (Conar) os anúncios, antes de
serem veiculados com qualquer informação de cunho científico, devem trazer os registros de
comprovação das pesquisas em órgãos competentes. Segundo ele, o Conar não tem o papel de
avalizar metodologias ou resultados, o que fica a cargo do Ministério da Saúde, Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) ou outros órgãos. "O consumidor pode pedir uma revisão ou confirmação
científica dos dados apresentados, contudo em 99% dos casos esses certificados são garantia de
qualidade. Se surgirem dúvidas, quanto a dados numéricos de pesquisas de opinião pública, temos
analistas no Conar que podem dar seus pareceres", esclarece Corrêa. Mesmo assim, de acordo com
ele, os processos investigatórios são raríssimos.
RODRIGO, Enio. Ciência e cultura na publicidade. Disponível em:
<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S000967252009000100006&script=sci_arttext>.
Acesso em 22/04/2015.
TEXTO 2
PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —


Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

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Anda a espreitar meus olhos para roê-los,


E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

Marque a opção em que a respectiva substituição dos termos destacados não prejudicaria o sentido
encontrado no contexto dado.

I. Silvania (…) enxerga nesse processo um resquício da visão positivista, na qual a ciência pode ser
entendida como verdade absoluta. (texto 1, 2º parágrafo)
II. “ (…) é assim que vejo a comunicação: com fronteiras menos marcadas e deixando de lado o
paradigma de que o público é passivo" (texto 1, 3º parágrafo)
III. Silvania concorda e diz que (…) a verdade suprema é estanque. (…) (texto 1, 3º parágrafo)
IV. Monstro de escuridão e rutilância, (texto , verso 2)

a) excesso – modelo – relevante – fluorescência;


b) resto – arquétipo – absoluta – trevas;
c) vestígio – modelo – importante – trevas;
d) vestígio – modelo – absoluta – fluorescência
e) excesso – arquétipo – máxima – fluorescência.

4. (IME – 2010 adaptada)


Observe este trecho do texto Retirantes da educação e responda a questão:
Irinilda da Silva, de 31 anos, deixou de amamentar a filha, de quatro meses, que ficou em casa com
o pai. Robéria Gomes, de 36, viajou grávida e seu bebê, João Vítor, nasceu na quinta-feira passada, no
Hospital Central do Exército, em Benfica. As duas são retirantes da educação: integram um grupo de
12 professores do Acre que cruzou 4.521 quilômetros de Brasil, superando uma série de dificuldades,
para fazer uma pós-graduação. Um exemplo das barreiras de qualificação profissional no país. Hoje,
53% dos cursos de mestrado e doutorado estão no Sudeste; só 3,8% na Região Norte, a de menor
cobertura.
MARCH, Rodrigo. Retirantes da educação. Caderno Boa Chance: O GLOBO, 10 de maio de 2009.

No primeiro parágrafo do texto, as formas verbais “cruzou”, “ superando” e “fazer” referem-se


a) ao baixo nível da educação no Brasil.
b) ao vocábulo “grupo”.
c) ao vocábulo “barreiras de qualificação”.
d) às retirantes Irinilda e Robéria e ao bebê João Vítor.

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e) à concretização do convênio firmado entre a Universidade Federal do Acre (UFAC) e a Universidade


Federal Fluminense (UFF), de Niterói.

5. (FUVEST – 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos
tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos
negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo
que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim
mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o
lazareto*. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto* é que os matava.
Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do
sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu
diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de
despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu
pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
*lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas

Das propostas de substituição para os trechos sublinhados nas seguintes frases do texto, a única que
faz, de maneira adequada, a correção de um erro gramatical presente no discurso do narrador é:
a) "Assim mesmo morrera negro, morrera pobre.": havia morrido negro, havia morrido pobre.
b) "Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara.": Omolu dizia, no entanto, que não fora.
c) "Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina.": mas tão
pouco sabiam da vacina.
d) "Mas para que seus filhos negros não o esqueçam [...].": não lhe esqueçam.
e) "E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas [...].": numa noite em que os atabaques.

6. (FUVEST - 2010)
Leia esta notícia científica:
Há 1,5 milhão de anos, ancestrais do homem moderno deixaram pegadas quando atravessaram um
campo lamacento nas proximidades do Ileret, no norte do Quênia. Uma equipe internacional de
pesquisadores descobriu essas marcas recentemente e mostrou que elas são muito parecidas com as
do “Homo sapiens”: o arco do pé é alongado, os dedos são curtos, arqueados e alinhados. Também, o
tamanho, a profundidade das pegadas e o espaçamento entre elas refletem a altura, o peso e o modo

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de caminhar atual. Anteriormente, houve outras descobertas arqueológicas, como, por exemplo, as
feitas na Tanzânia, em 1978, que revelaram pegadas de 3,7 milhões de anos, mas com uma anatomia
semelhante à de macacos. Os pesquisadores acreditam que as marcas recém-descobertas
pertenceram ao “Homo erectus”.
Revista FAPESP, nº 157, março de 2009. Adaptado.

No trecho “semelhante à de macacos”, fica subentendida uma palavra já empregada na mesma frase.
Um recurso linguístico desse tipo também está presente no trecho assinalado em:
a) A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo às
futuras gerações.
b) Recorrer à exploração da miséria humana, infelizmente, está longe de ser um novo ingrediente no
cardápio da tevê aberta à moda brasileira.
c) Ainda há quem julgue que os recursos que a natureza oferece à humanidade são, de certo modo,
inesgotáveis.
d) A prática do patrimonialismo acaba nos levando à cultura da tolerância à corrupção.
e) Já está provado que a concentração de poluentes em área para não fumantes é muito superior à
recomendada pela OMS.

7. (FUVEST - 2008)
Há muitas, quase infinitas maneiras de ouvir música. Entretanto, as três mais frequentes
distinguem-se pela tendência que em cada uma delas se torna dominante: ouvir com o corpo, ouvir
emotivamente, ouvir intelectualmente.
Ouvir com o corpo é empregar no ato da escuta não apenas os ouvidos, mas a pele toda, que
também vibra ao contato com o dado sonoro: é sentir em estado bruto. É bastante frequente, nesse
estágio da escuta, que haja um impulso em direção ao ato de dançar.
Ouvir emotivamente, no fundo, não deixa de ser ouvir mais a si mesmo que propriamente a
música. É usar da música a fim de que ela desperte ou reforce algo já latente em nós mesmos. Sai-se
da sensação bruta e entra-se no campo dos sentimentos.
Ouvir intelectualmente é dar-se conta de que a música tem, como base, estrutura e forma.
Referir-se à música a partir dessa perspectiva seria atentar para a materialidade de seu discurso: o
que ele comporta, como seus elementos se estruturam, qual a forma alcançada nesse processo.
Adaptado de J. Jota de Moraes, O que é música.
Considere as seguintes afirmações:
I. Ouvir música com o corpo é senti-la em estado bruto.
II. Ao ouvir-se música emotivamente, sai-se do estado bruto.

Essas afirmações articulam-se de maneira clara e coerente no período:


a) Com o corpo, ouve-se música sentindo-a em estado bruto, ocorrendo o mesmo se ouvi-la
emotivamente.
b) Sai do estado bruto quem ouve música com o corpo, no caso de quem a sente de modo emotivo.

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c) Para sentir a música emotivamente, quem sai do estado bruto é quem a ouve com o corpo.
d) Sai para o estado emotivo de ouvir música aquele que a ouvia no estado bruto do corpo.
e) Quem ouve música de modo emotivo deixa de senti-la no estado bruto, próprio de quem a ouve
com o corpo.

8. (FGV - 2017)
Na frase “Apesar de aparentar ser uma ideologia justa, a meritocracia, por causa principalmente de
disparidades socioeconômicas, revela-se imparcial, uma vez que só detêm méritos aqueles que são
beneficiados com oportunidades para alcançá-los”, pode-se apontar incoerência devido ao emprego
inadequado da palavra

a) “ideologia”.
b) “disparidades”.
c) “imparcial”.
d) “beneficiados”.
e) “oportunidades”.

9. (IBMEC - 2017)
Pizza por drone
Não ria, mas a entrega de pizzas nas noites de sexta e sábado é um problema para as grandes
cidades. Em nome do conforto das famílias, os motoboys das pizzarias tomam as ruas com a preciosa
carga, infernizam o trânsito, comprometem o ambiente com seus canos de descarga e neurotizam os
motoristas fazendo bibibi. Sei bem que, diante do prazer que as pizzas proporcionam, seus
consumidores fazem vista grossa a isso e ao despropósito de se comprometer um veículo de 200 kg
para transportar um pacote de 2 kg.
Mas a tecnologia se preocupa. Agora, graças à Amazon e ao Google, são os satélites que trazem
uma solução nova: a entrega por drone. Pede-se a pizza pelo celular; ela é acomodada num drone
equipado com GPS e, em poucos minutos, chega, fofa e quentinha, à porta do prédio ou casa do
cliente. Pode-se recolhê-la já de guardanapo ao pescoço. Não congestiona as ruas, não polui, não faz
barulho e deixa um perfume de orégano no ar.
Mas há alguns inconvenientes. As autoridades não gostam que os drones voem à noite. A fiação
aérea nas cidades não é favorável a objetos que voam baixo. E há ainda o risco de colisão com corujas
e morcegos.
Mas, pelo menos, 59 anos depois do Sputnik, ficamos sabendo para que se inventou o satélite.
Para acabar em pizza.
(Ruy Castro, Pizza por drone. Folha de S.Paulo, 31.08.2016. Adaptado)

Na organização textual, a frase que inicia o segundo parágrafo – Mas a tecnologia se preocupa – deve
ser entendida como uma informação que
a) se opõe às precedentes, marcadas pelo imediatismo do interesse próprio das pessoas.

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b) se coaduna com as precedentes, apresentando a justificativa para o despropósito.


c) se distancia das precedentes, pois deixa de considerar as vantagens da tecnologia.
d) se confunde com as precedentes, que também enfatizam a importância da tecnologia.
e) se contrapõe às precedentes, as quais negam a necessidade de novas tecnologias.

10. (FGV - 2017)


Foi exatamente durante o almoço que se deu o fato.
Almira continuava a querer saber por que Alice viera atrasada e de olhos vermelhos. Abatida, Alice
mal respondia. Almira comia com avidez e insistia com os olhos cheios de lágrimas.
– Sua gorda! disse Alice de repente, branca de raiva.
Você não pode me deixar em paz?!
Almira engasgou-se com a comida, quis falar, começou a gaguejar. Dos lábios macios de Alice haviam
saído palavras que não conseguiam descer com a comida pela garganta de Almira G. de Almeida.
– Você é uma chata e uma intrometida, rebentou de novo Alice. Quer saber o que houve, não é? Pois
vou lhe contar, sua chata: é que Zequinha foi embora para Porto Alegre e não vai mais voltar! Agora
está contente, sua gorda?
Na verdade Almira parecia ter engordado mais nos últimos momentos, e com comida ainda parada na
boca.
Foi então que Almira começou a despertar. E, como se fosse uma magra, pegou o garfo e enfiou-o no
pescoço de
Alice. O restaurante, ao que se disse no jornal, levantou-se como uma só pessoa. Mas a gorda, mesmo
depois de ter feito o gesto, continuou sentada olhando para o chão, sem ao menos olhar o sangue da
outra.
Alice foi ao pronto-socorro, de onde saiu com curativos e os olhos ainda regalados de espanto. Almira
foi presa em flagrante.
Na prisão, Almira comportou-se com delicadeza e alegria, talvez melancólica, mas alegria mesmo.
Fazia graças para as companheiras. Finalmente tinha companheiras. Ficou encarregada da roupa suja,
e dava-se muito bem com as guardiãs, que vez por outra lhe arranjavam uma barra de chocolate.
(Clarice Lispector. A Legião Estrangeira, 1964. Adaptado)

Considerando-se o contexto em que está empregado o período “O restaurante, ao que se disse no


jornal, levantou-se como uma só pessoa.” (7.o parágrafo), a oração em destaque pode ser substituída,
sem prejuízo de sentido ao enunciado, por:
a) quando disseram algo no jornal.
b) conforme o que se disse no jornal.
c) caso se tenha dito algo no jornal.
d) embora dissessem algo no jornal.
e) à medida que se disse algo no jornal.

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2.2 - Gabarito
1. C
2. E
3. D
4. B
5. E
6. E
7. E
8. C
9. A
10. B

2.3 – Exercícios comentados


1. (ITA SP 2004)
Assinale a opção em que a ambiguidade ou o efeito cômico NÃO decorre da ordem dos termos.
a) O estudo analisou, por 16 anos, hábitos como caminhar e subir escadas de homens com idade
média de 58 anos. (Equilíbrio. Folha de S. Paulo, 19/10/2000)
b) Andando pela zona rural do litoral norte, facilmente se encontram casas de veraneio e
moradores de alto padrão. (Folha de S. Paulo, 26/01/2003)
c) Atendimento preferencial para: idosos, gestantes, deficientes, crianças de colo (Placa sobre um
dos caixas de um banco.)
d) Temos vaga para rapaz com refeição (Placa em frente a uma casa em Campinas, SP.)
e) Detido acusado de furtos de processos (Folha de S. Paulo, 8/7/2000)
Comentários: Na alternativa C, a ambiguidade está na supressão de um termo que complete o
sentido de “crianças de colo”, pois nessa construção o atendimento preferencial poderia ser para
“pessoas com crianças de colo” ou apenas para as próprias “crianças de colo”.
Na alternativa A, a ambiguidade está na posição do termo “de homens”, que pode se referir tanto
a “escadas” quanto a “hábitos”.
Na alternativa B, a ambiguidade está na posição de “de alto padrão”, que pode se referir a “casas”
ou “moradores”.
Na alternativa D, a ambiguidade está na posição de “com refeição”, que pode se referir a “vaga”
ou “rapaz”.
Na alternativa E, a ambiguidade está na posição de “de processos”, que pode se referir a
“acusado” ou “furtos”.
Gabarito: C
2. (ITA SP - 2003)
A universidade de Taubaté (UNITAU) conta, no total, com 720 universitários [no curso de
Comunicação Social], sendo 130 formandos. Com tantos universitários saindo para o mercado de
trabalho, o coordenador do curso de Comunicação Social da UNITAU (...) mencionou que o Vale do
Paraíba é inexplorado e tem potencial de absorver os formandos.
( Jornal Comunicação, n.1, março 2002, p.3)

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Considerando ainda o período abordado na questão anterior, assinale a alternativa que,


completando a oração abaixo, apresenta a relação mais coerente entre as ideias.
O coordenador do curso de Comunicação Social mencionou que,
a) à medida que muitos universitários saem para o mercado de trabalho, o Vale do Paraíba tem
potencial de absorver os formandos, pois ainda é um mercado inexplorado.
b) como muitos universitários saem para o mercado de trabalho, o Vale do Paraíba tem potencial
de absorver os formandos, pois ainda é um mercado inexplorado.
c) há muitos universitários saindo para o mercado de trabalho, de modo que o Vale do Paraíba tem
potencial de absorver os formandos, pois ainda é um mercado inexplorado.
d) muitos universitários saem para o mercado de trabalho; portanto, o Vale do Paraíba tem
potencial de absorver os formandos, pois ainda é um mercado inexplorado.
e) embora muitos universitários estejam saindo para o mercado de trabalho, o Vale do Paraíba tem
potencial de absorver os formandos, pois ainda é um mercado inexplorado.
Comentários: E é a alternativa correta, pois identifica a resposta do coordenador do curso para a
preocupação da possível falta de mercado de trabalho para os formados. Há uma relação de
concessão inerente: ainda que haja muita mão de obra, há locais ainda inexplorados.
A alternativa A está incorreta, porque tem valor proporcional, ou seja, na medida que acontece
X, Y ocorre também.
A alternativa B está incorreta, porque tem valor de consequência, como se o potencial de
absorção tivesse sido criado por conta da grande quantidade de alunos formando.
A alternativa C está incorreta, pelo mesmo motivo da B, o valor de consequência.
A alternativa D está incorreta, porque tem valor de conclusão, ou seja, há muitos formados, daí
conclui-se que há mercado inexplorado.
Gabarito: E

TEXTO 1
CONSUMIDORES COM MAIS ACESSO À INFORMAÇÃO QUESTIONAM A VERDADE QUE LHES É
VENDIDA
Ênio Rodrigo

Se você é mulher, talvez já tenha observado com mais atenção como a publicidade de produtos
de beleza, especialmente os voltados a tratamentos de rejuvenescimento, usualmente possuem
novíssimos "componentes anti-idade" e "micro-cápsulas" que ajudam "a sua pele a ter mais firmeza
em oito dias", por exemplo, ou mesmo que determinados organismos "vivos" (mesmo depois de
envazados, transportados e acondicionados em prateleiras com pouco controle de temperatura)
fervilham aos milhões dentro de um vasilhame esperando para serem ingeridos ajudando a regular
sua flora intestinal. Homens, crianças, e todo tipo de público também não estão fora do alcance

AULA 06 – REDAÇÃO 17
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desse discurso que utiliza um recurso cada vez mais presente na publicidade: a ciência e a tecnologia
como argumento de venda.
Silvania Sousa do Nascimento, doutora em didática da ciência e tecnologia pela Universidade
Paris VI e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
enxerga nesse processo um resquício da visão positivista, na qual a ciência pode ser entendida como
verdade absoluta. "A visão de que a ciência é a baliza ética da verdade e o mito do cientista como
gênio criador é amplamente difundida, mas entra, cada vez mais, em atrito com a realidade,
principalmente em uma sociedade informacional, como ( 1 ) nossa", acrescenta.
Para entender esse processo numa sociedade pautada na dinâmica da informação, Ricardo
Cavallini, consultor corporativo e autor do livro O marketing depois de amanhã (Universo dos Livros,
2007), afirma que, primeiramente, devemos repensar a noção de público específico ou senso
comum. "Essas categorizações estão sendo postas de lado. A publicidade contemporânea trata com
pessoas e elas têm cada vez mais acesso ( 2 ) informação e é assim que vejo a comunicação: com
fronteiras menos marcadas e deixando de lado o paradigma de que o público é passivo", acredita.
Silvania concorda e diz que a sociedade começa ( 3 ) perceber que a verdade suprema é estanque,
não condiz com o dia-a-dia. "Ao se depararem com uma informação, as pessoas começam a
pesquisar e isso as aproxima do fazer científico, ou seja, de que a verdade é questionável", enfatiza.
Para a professora da UFMG, isso cria o "jornalista contínuo", um indivíduo que põe a verdade
à prova o tempo todo. "A noção de ciência atual é a de verdade em construção, ou seja, de que
determinados produtos ou processos imediatamente anteriores à ação atual, são defasados".
Cavallini considera que ( 4 ) três linhas de pensamento possíveis que poderiam explicar a
utilização do recurso da imagem científica para vender: a quantidade de informação que a ciência
pode agregar a um produto; o quanto essa informação pode ser usada como diferencial na
concorrência entre produtos similares; e a ciência como um selo de qualidade ou garantia. Ele cita
o caso dos chamados produtos "verdes", associados a determinadas características com viés
ecológico ou produtos que precisam de algum tipo de "auditoria" para comprovarem seu discurso.
"Na mídia, a ciência entra como mecanismo de validação, criando uma marca de avanço
tecnológico, mesmo que por pouquíssimo tempo", finaliza Silvania.
O fascínio por determinados temas científicos segue a lógica da saturação do termo, ou seja,
ecoar algo que já esteja exercendo certo fascínio na sociedade. "O interesse do público muda
bastante e a publicidade se aproveita desses temas que estão na mídia para recriá-los a partir de
um jogo de sedução com a linguagem" diz Cristina Bruzzo, pesquisadora da Faculdade de Educação
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e que acompanhou ( 5 ) apropriação da imagem
da molécula de DNA pelas mídias (inclusive publicidade). "A imagem do DNA, por exemplo, foi
acrescida de diversos sentidos, que não o sentido original para a ciência, e transformado em discurso
de venda de diversos produtos", diz.
Onde estão os dados comprovando as afirmações científicas, no entanto? De acordo com
Eduardo Corrêa, do Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária (Conar) os anúncios,
antes de serem veiculados com qualquer informação de cunho científico, devem trazer os registros
de comprovação das pesquisas em órgãos competentes. Segundo ele, o Conar não tem o papel de

AULA 06 – REDAÇÃO 18
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avalizar metodologias ou resultados, o que fica a cargo do Ministério da Saúde, Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) ou outros órgãos. "O consumidor pode pedir uma revisão ou
confirmação científica dos dados apresentados, contudo em 99% dos casos esses certificados são
garantia de qualidade. Se surgirem dúvidas, quanto a dados numéricos de pesquisas de opinião
pública, temos analistas no Conar que podem dar seus pareceres", esclarece Corrêa. Mesmo assim,
de acordo com ele, os processos investigatórios são raríssimos.
RODRIGO, Enio. Ciência e cultura na publicidade. Disponível em:
<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S000967252009000100006&script=sci_arttext>. Acesso em
22/04/2015.

TEXTO 2
PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —


Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,


E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

3. (IME - 2016)
Marque a opção em que a respectiva substituição dos termos destacados não prejudicaria o sentido
encontrado no contexto dado.

I. Silvania (…) enxerga nesse processo um resquício da visão positivista, na qual a ciência pode ser
entendida como verdade absoluta. (texto 1, 2º parágrafo)

AULA 06 – REDAÇÃO 19
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II. “ (…) é assim que vejo a comunicação: com fronteiras menos marcadas e deixando de lado o
paradigma de que o público é passivo" (texto 1, 3º parágrafo)
III. Silvania concorda e diz que (…) a verdade suprema é estanque. (…) (texto 1, 3º parágrafo)
IV. Monstro de escuridão e rutilância, (texto , verso 2)

a) excesso – modelo – relevante – fluorescência;


b) resto – arquétipo – absoluta – trevas;
c) vestígio – modelo – importante – trevas;
d) vestígio – modelo – absoluta – fluorescência
e) excesso – arquétipo – máxima – fluorescência.
Comentário: Esta é uma questão muito característica no vestibulares do ITA e IME. Depende do
vocabulário do aluno para conseguir responder.
No Item I, “resquício” significa restos ou vestígios.
No Item II, “paradigma” significa modelo ou ideia pré-concebida.
No Item III, “suprema” significa absoluta ou total (neste contexto).
No Item IV, “rutilância” significa luz ou brilho ou fluorescência.
Esta questão poderia ser resolvida por eliminação. As alternativas A e colocam “resquício” como
sinônimo de excesso, sendo que é justamente o contrário. Das alternativas restantes, apenas a D
apresenta correto sinônimo de “rutilância”.
Gabarito: D
4. (IME – 2010 adaptada)
Observe este trecho do texto Retirantes da educação e responda a questão:
Irinilda da Silva, de 31 anos, deixou de amamentar a filha, de quatro meses, que ficou em casa
com o pai. Robéria Gomes, de 36, viajou grávida e seu bebê, João Vítor, nasceu na quinta-feira
passada, no Hospital Central do Exército, em Benfica. As duas são retirantes da educação: integram
um grupo de 12 professores do Acre que cruzou 4.521 quilômetros de Brasil, superando uma série
de dificuldades, para fazer uma pós-graduação. Um exemplo das barreiras de qualificação
profissional no país. Hoje, 53% dos cursos de mestrado e doutorado estão no Sudeste; só 3,8% na
Região Norte, a de menor cobertura.
MARCH, Rodrigo. Retirantes da educação. Caderno Boa Chance: O GLOBO, 10 de maio de 2009.

No primeiro parágrafo do texto, as formas verbais “cruzou”, “ superando” e “fazer” referem-se


a) ao baixo nível da educação no Brasil.
b) ao vocábulo “grupo”.
c) ao vocábulo “barreiras de qualificação”.
d) às retirantes Irinilda e Robéria e ao bebê João Vítor.
e) à concretização do convênio firmado entre a Universidade Federal do Acre (UFAC) e a
Universidade Federal Fluminense (UFF), de Niterói.

AULA 06 – REDAÇÃO 20
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Comentários: A alternativa B está correta, pois pessoa verbal que realiza as ações descritas nos
termos grifados é “grupo de 12 professores”, sendo que “grupo” é o núcleo desse sujeito. É
possível confirmar essa informação pela concordância de “cruzou”, que indica que o termo
referido era necessariamente singular.
A alternativa A está incorreta, pois não há o aparecimento desse termo no período e, portanto,
não pode ser a que se refere.
A alternativa C está incorreta, pois “barreiras de qualificação” é plural.
A alternativa D está incorreta pelo mesmo motivo da C: se refere a mais e uma pessoa, descritas
textualmente, portanto é plural.
A alternativa E está incorreta pois não há o aparecimento desses termos no período, assim como
a alternativa A.
Gabarito: B
5. (FUVEST – 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos
tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus
dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu.
Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola.
Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara.
Fora o lazareto*. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto* é que
os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos
latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco
da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de
despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu
pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
*lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas

Das propostas de substituição para os trechos sublinhados nas seguintes frases do texto, a única
que faz, de maneira adequada, a correção de um erro gramatical presente no discurso do narrador
é:
a) "Assim mesmo morrera negro, morrera pobre.": havia morrido negro, havia morrido pobre.
b) "Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara.": Omolu dizia, no entanto, que não fora.
c) "Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina.": mas tão
pouco sabiam da vacina.

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d) "Mas para que seus filhos negros não o esqueçam [...].": não lhe esqueçam.
e) "E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas [...].": numa noite em que os atabaques.
Comentários: A alternativa E é a correta, pois adiciona o “em”, necessário na construção da oração após
o “numa noite”.

Esta questão exigia muitos conhecimentos de gramática combinados. Se a gramática for um problema
para você na construção de um texto, considere uma revisão do nosso curso Gramática para o ITA.

A correção da alternativa A é incorreta, pois não foi feita nenhuma mudança. Apenas trocou-se o
“morrera” mais que perfeito simples pelo “havia morrido” mais que perfeito composto.
A correção da alternativa B é incorreta pelo mesmo motivo da alternativa A: a substituição foi por
sinônimos, não houve correção.
A correção da alternativa C é incorreta, pois “tampouco” dá ideia de adição, diferentemente de “tão
pouco” que significa grande quantidade.
A correção da alternativa D é incorreta, pois o pronome oblíquo o verbo “esquecer” é transitivo direto
não admite o pronome “lhe” (valor de objeto direto)
Gabarito: E
6. (FUVEST - 2010)
Leia esta notícia científica:
Há 1,5 milhão de anos, ancestrais do homem moderno deixaram pegadas quando atravessaram um
campo lamacento nas proximidades do Ileret, no norte do Quênia. Uma equipe internacional de
pesquisadores descobriu essas marcas recentemente e mostrou que elas são muito parecidas com
as do “Homo sapiens”: o arco do pé é alongado, os dedos são curtos, arqueados e alinhados.
Também, o tamanho, a profundidade das pegadas e o espaçamento entre elas refletem a altura, o
peso e o modo de caminhar atual. Anteriormente, houve outras descobertas arqueológicas, como,
por exemplo, as feitas na Tanzânia, em 1978, que revelaram pegadas de 3,7 milhões de anos, mas
com uma anatomia semelhante à de macacos. Os pesquisadores acreditam que as marcas recém-
descobertas pertenceram ao “Homo erectus”.
Revista FAPESP, nº 157, março de 2009. Adaptado.

No trecho “semelhante à de macacos”, fica subentendida uma palavra já empregada na mesma


frase. Um recurso linguístico desse tipo também está presente no trecho assinalado em:
a) A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo às
futuras gerações.
b) Recorrer à exploração da miséria humana, infelizmente, está longe de ser um novo ingrediente
no cardápio da tevê aberta à moda brasileira.
c) Ainda há quem julgue que os recursos que a natureza oferece à humanidade são, de certo modo,
inesgotáveis.
d) A prática do patrimonialismo acaba nos levando à cultura da tolerância à corrupção.

AULA 06 – REDAÇÃO 22
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e) Já está provado que a concentração de poluentes em área para não fumantes é muito superior
à recomendada pela OMS.
Comentários: O recurso utilizado é a anáfora (recuperação de termo que apareceu
anteriormente), neste caso, “anatomia”. Isto também ocorre na alternativa E, em que o pronome
“a” (presente na formação o a craseado) retoma “concentração de poluentes.
A alternativa A não demonstra um caso de anáfora, já que o termo grifado é um predicativo do
sujeito.
A alternativa B não demonstra um caso de anáfora, pois não há aparecimento de nenhum termo
anterior que possa substituir o termo grifado.
A alternativa C não demonstra um caso de anáfora, pelo mesmo motivo da B: não há termo
equivalente retomar.
A alternativa D não demonstra um caso de anáfora, pois “da tolerância à corrupção” é
complemento de cultura e não retoma termo anterior.
Gabarito: E
7. (FUVEST - 2008)
Há muitas, quase infinitas maneiras de ouvir música. Entretanto, as três mais frequentes
distinguem-se pela tendência que em cada uma delas se torna dominante: ouvir com o corpo, ouvir
emotivamente, ouvir intelectualmente.
Ouvir com o corpo é empregar no ato da escuta não apenas os ouvidos, mas a pele toda, que
também vibra ao contato com o dado sonoro: é sentir em estado bruto. É bastante frequente, nesse
estágio da escuta, que haja um impulso em direção ao ato de dançar.
Ouvir emotivamente, no fundo, não deixa de ser ouvir mais a si mesmo que propriamente a
música. É usar da música a fim de que ela desperte ou reforce algo já latente em nós mesmos. Sai-
se da sensação bruta e entra-se no campo dos sentimentos.
Ouvir intelectualmente é dar-se conta de que a música tem, como base, estrutura e forma.
Referir-se à música a partir dessa perspectiva seria atentar para a materialidade de seu discurso: o
que ele comporta, como seus elementos se estruturam, qual a forma alcançada nesse processo.
Adaptado de J. Jota de Moraes, O que é música.
Considere as seguintes afirmações:
I. Ouvir música com o corpo é senti-la em estado bruto.
II. Ao ouvir-se música emotivamente, sai-se do estado bruto.

Essas afirmações articulam-se de maneira clara e coerente no período:


a) Com o corpo, ouve-se música sentindo-a em estado bruto, ocorrendo o mesmo se ouvi-la
emotivamente.
b) Sai do estado bruto quem ouve música com o corpo, no caso de quem a sente de modo emotivo.
c) Para sentir a música emotivamente, quem sai do estado bruto é quem a ouve com o corpo.
d) Sai para o estado emotivo de ouvir música aquele que a ouvia no estado bruto do corpo.

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e) Quem ouve música de modo emotivo deixa de senti-la no estado bruto, próprio de quem a ouve
com o corpo.
Comentários: A alternativa E é a correta, pois mantém a relação de oposição entre os dois estados:
o bruto e o emotivo, relacionando o corpo (bruto) e o sentimento (emotivo).
A alternativa A está incorreta, pois não ocorre o mesmo, mas sim o contrário: sai-se do estado
bruto.
A alternativa B está incorreta, pois não há coesão entre as duas orações: uma não dialoga com o
sentido da outra.
A alternativa C está incorreta, pois não há relação de finalidade entre as duas afirmações, mas sim
oposição, contraste.
A alternativa D está incorreta, pois o “estado bruto” não é do corpo como afirma a oração, mas
sim do “sentir”.
Gabarito: E
8. (FGV - 2017)
Na frase “Apesar de aparentar ser uma ideologia justa, a meritocracia, por causa principalmente de
disparidades socioeconômicas, revela-se imparcial, uma vez que só detêm méritos aqueles que são
beneficiados com oportunidades para alcançá-los”, pode-se apontar incoerência devido ao emprego
inadequado da palavra

a) “ideologia”.
b) “disparidades”.
c) “imparcial”.
d) “beneficiados”.
e) “oportunidades”.
Comentários: Se o texto afirma que a meritocracia só “aparenta” ser justa e que apenas uma
parcela da população consegue usufruir verdadeiramente dela, ela não pode ser considerada
“imparcial”.
É uma questão de coerência, não de gramática. É preciso entender o texto e procurar por alguma
palavra que não faça sentido ali, seja pelo significado ou pela sonoridade. Neste exercício,
nenhum dos outros itens apresenta incoerências quanto ao significado.
Gabarito: C
9. (IBMEC - 2017)
Pizza por drone
Não ria, mas a entrega de pizzas nas noites de sexta e sábado é um problema para as grandes
cidades. Em nome do conforto das famílias, os motoboys das pizzarias tomam as ruas com a preciosa
carga, infernizam o trânsito, comprometem o ambiente com seus canos de descarga e neurotizam
os motoristas fazendo bibibi. Sei bem que, diante do prazer que as pizzas proporcionam, seus
consumidores fazem vista grossa a isso e ao despropósito de se comprometer um veículo de 200 kg
para transportar um pacote de 2 kg.

AULA 06 – REDAÇÃO 24
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Mas a tecnologia se preocupa. Agora, graças à Amazon e ao Google, são os satélites que trazem
uma solução nova: a entrega por drone. Pede-se a pizza pelo celular; ela é acomodada num drone
equipado com GPS e, em poucos minutos, chega, fofa e quentinha, à porta do prédio ou casa do
cliente. Pode-se recolhê-la já de guardanapo ao pescoço. Não congestiona as ruas, não polui, não
faz barulho e deixa um perfume de orégano no ar.
Mas há alguns inconvenientes. As autoridades não gostam que os drones voem à noite. A fiação
aérea nas cidades não é favorável a objetos que voam baixo. E há ainda o risco de colisão com
corujas e morcegos.
Mas, pelo menos, 59 anos depois do Sputnik, ficamos sabendo para que se inventou o satélite.
Para acabar em pizza.
(Ruy Castro, Pizza por drone. Folha de S.Paulo, 31.08.2016. Adaptado)

Na organização textual, a frase que inicia o segundo parágrafo – Mas a tecnologia se preocupa –
deve ser entendida como uma informação que
a) se opõe às precedentes, marcadas pelo imediatismo do interesse próprio das pessoas.
b) se coaduna com as precedentes, apresentando a justificativa para o despropósito.
c) se distancia das precedentes, pois deixa de considerar as vantagens da tecnologia.
d) se confunde com as precedentes, que também enfatizam a importância da tecnologia.
e) se contrapõe às precedentes, as quais negam a necessidade de novas tecnologias.
Comentários: O “mas” é um conectivo que indica oposição. Neste caso, há uma oposição entre a
vontade de receber a pizza rapidamente e, nesse ínterim, não se preocupar com os efeitos
causados no trânsito. Por isso, a alternativa correta é a A.
A B está incorreta, pois a relação estabelecida é de oposição, não de concordância com o exposto.
A C está incorreta, pois considera as vantagens: a tecnologia se preocupa com o que as pessoas
não se preocupam.
A D está incorreta, pois no parágrafo anterior não há menção à importância da tecnologia
anteriormente, mas sim a descrição das entregas feitas pelos motoboys.
A E está incorreta, pois – ainda que não mencione especificamente a tecnologia – fica implícito
que há necessidade de mudança no modo caótico e entregas.
Gabarito: A
10. (FGV - 2017)
Foi exatamente durante o almoço que se deu o fato.
Almira continuava a querer saber por que Alice viera atrasada e de olhos vermelhos. Abatida, Alice
mal respondia. Almira comia com avidez e insistia com os olhos cheios de lágrimas.
– Sua gorda! disse Alice de repente, branca de raiva.
Você não pode me deixar em paz?!
Almira engasgou-se com a comida, quis falar, começou a gaguejar. Dos lábios macios de Alice
haviam saído palavras que não conseguiam descer com a comida pela garganta de Almira G. de
Almeida.

AULA 06 – REDAÇÃO 25
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– Você é uma chata e uma intrometida, rebentou de novo Alice. Quer saber o que houve, não é?
Pois vou lhe contar, sua chata: é que Zequinha foi embora para Porto Alegre e não vai mais voltar!
Agora está contente, sua gorda?
Na verdade Almira parecia ter engordado mais nos últimos momentos, e com comida ainda parada
na boca.
Foi então que Almira começou a despertar. E, como se fosse uma magra, pegou o garfo e enfiou-o
no pescoço de
Alice. O restaurante, ao que se disse no jornal, levantou-se como uma só pessoa. Mas a gorda,
mesmo depois de ter feito o gesto, continuou sentada olhando para o chão, sem ao menos olhar o
sangue da outra.
Alice foi ao pronto-socorro, de onde saiu com curativos e os olhos ainda regalados de espanto.
Almira foi presa em flagrante.
Na prisão, Almira comportou-se com delicadeza e alegria, talvez melancólica, mas alegria mesmo.
Fazia graças para as companheiras. Finalmente tinha companheiras. Ficou encarregada da roupa
suja, e dava-se muito bem com as guardiãs, que vez por outra lhe arranjavam uma barra de
chocolate.
(Clarice Lispector. A Legião Estrangeira, 1964. Adaptado)

Considerando-se o contexto em que está empregado o período “O restaurante, ao que se disse no


jornal, levantou-se como uma só pessoa.” (7.o parágrafo), a oração em destaque pode ser
substituída, sem prejuízo de sentido ao enunciado, por:
a) quando disseram algo no jornal.
b) conforme o que se disse no jornal.
c) caso se tenha dito algo no jornal.
d) embora dissessem algo no jornal.
e) à medida que se disse algo no jornal.
Comentários: A oração destacada deixa claro onde estava a informação apresentada. O narrador
não estava no local: ficou sabendo pelo fato pelo jornal. Portanto, “ao que se disse” pode ser
substituído por “segundo” ou qualquer outra expressão que denote conformidade. É o caso da
alternativa B, conforme.
A alternativa A está incorreta, pois a relação não é temporal, como expressaria o “quando”.
A alternativa C está incorreta, pois não há dúvidas ou concessões quanto ao que foi dito, como
expressaria o “caso”.
A alternativa D está incorreta, pois não há relação de oposição, mas sim de conformidade.
A alternativa E está incorreta pelo mesmo motivo da A: não há relação temporal ou sequencial
como denotaria “à medida que”.
Gabarito: B

AULA 06 – REDAÇÃO 26
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3 - Propostas
(AFA – 2014)
TEXTO I

A MOÇA E A CALÇA

Foi no Cinema Pax, em Ipanema. O filme em exibição é ruim: “O menino mágico”. Se mágico adulto
geralmente é chato, imaginem menino. Mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é a mocinha muito
da redondinha, condição que seu traje apertadinho deixava sobejamente clara. A mocinha chegou,
comprou a entrada, apanhou, foi até a porta, mas aí o porteiro olhou pra ela e disse que ela não podia
entrar:

_ Não posso por quê?

_ A senhora está de “Saint-Tropez”.

_ E daí?

Daí o porteiro olhou pras exuberâncias físicas dela, sorriu e foi um bocado sincero: _ Por mim a
senhora entrava. (Provavelmente completou baixinho... e entrava bem.) Mas o gerente tinha dado ordem
de que não podia com aquela calça bossa-nova e, sabe como é... ele tinha que obedecer, de maneira que
sentia muito, mas com aquela calça não.

_ O senhor não vai querer que eu tire a calça.

Nós, que estávamos perto, quase respondemos por ele: _ Como não, dona! _ Mas ela não queria
resposta. Queria era discutir a legitimidade de suas apertadas calças “Saint-Tropez”. Disse então que suas
calças eram tão compridas como outras quaisquer. O cinema Pax é dos padres e talvez por causa desse
detalhe é que não pode “Saint-Tropez”. A calça, de fato, era comprida como as outras, mas embaixo. Em
cima era curta demais. O umbigo ficava ali, isolado, parecendo até o representante de Cuba em
conferências panamericanas.

_ Quer dizer que com minhas calças eu não entro? _ Quis ela saber ainda mais uma vez. E vendo o
porteiro balançar a cabeça em sinal negativo, tornou a perguntar: _ E de saia?

De saia podia. Ela então abriu a bolsa, tirou uma saia que estava dentro, toda embrulhadinha
(devia ser pra presente). Desembrulhou e vestiu ali mesmo, por cima do pomo da discórdia. No caso, a
calça “SaintTropez”. Depois, calmamente, afrouxou a calça e deixou que a dita escorresse saia abaixo.
Apanhou, guardou na bolsa e entrou com uma altivez que só vendo.

Enquanto rasgava o bilhete, o porteiro comentou:

_ Faço votos que ela tenha outra por baixo.

Outra calça, naturalmente.

(Stanislaw Ponte Preta)

AULA 06 – REDAÇÃO 27
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TEXTO II

A FAVOR DA DIFERENÇA, CONTRA TODA DESIGUALDADE *

A maioria das pessoas acredita que está isenta de preconceitos. No entanto até sua linguagem
contradiz esta crença. De modo especial, o corpo, que deveria ser um elemento de agregação e de
comunicação, se torna elemento de discriminação.

Coube-me fazer uma pesquisa com dez adolescentes sobre a presença da violência na escola
através da palavra. Todos afirmaram que já agrediram e foram agredidos com palavras. Surpreende que
os adolescentes veem no corpo um elemento de discriminação. A obesidade, a altura, pequenos defeitos
físicos são motivos de preconceito.

Acontece que nossa sociedade seleciona um determinado corpo como modelo e quem não
obedece a este padrão está fora de cogitação. Num país de pobres que não conseguem ter uma
alimentação equilibrada e nem os cuidados mínimos com a saúde, a consequência é a marginalização.

As pessoas com necessidades especiais também são consideradas anormais. É muito comum
agredir verbalmente as pessoas chamando-as de retardadas. Até os pobres entram na dança da agressão.
Um xingamento comum é o de vileiro ou favelado. E o que dizer dos adolescentes homossexuais?

Diferença x desigualdade

Existe a visão de que a diferença se identifica com a desigualdade. Há um padrão de ser humano
estandardizado e único que deve servir de metro para o julgamento das pessoas. O grande desafio para a
educação é descobrir este currículo oculto verdadeiro e forte para enfrentá-lo adequadamente.

Há pessoas que dizem que só a educação é capaz de salvar e desenvolver um país. Até aqui todos
estão de acordo. Contudo é importante se perguntar qual é o tipo de educação necessária para um país
como o Brasil, que tem uma das maiores concentrações de renda do mundo. Há pessoas que tiveram
acesso a todos os estudos possíveis e, no entanto, continuam defendendo uma sociedade livre sem ser
justa, o que, convenhamos é uma grande possibilidade.

Pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a pedido do MEC,
demonstrou que quanto mais preconceito e práticas discriminatórias existem numa escola, pior é o
desempenho de seus estudantes. Foram entrevistadas 18.500 pessoas entre alunos, pais, diretores,
professores e funcionários de 501 escolas de todo o Brasil. Do total de estudantes entrevistados, 70% têm
menos de 20 anos.

Esta pesquisa revela que praticamente todos os entrevistados (99,3%) têm preconceito em algum
nível. Sobre contra quem eles admitem ter preconceito, revelaram: homossexual, deficiente mental,
cigano, deficiente físico.

Enquanto a educação não enfrentar essas questões, o que está acontecendo em nossas escolas é
apenas uma transmissão de conteúdos, um verniz colorido que não penetra o profundo, a consciência e
o coração das pessoas. (...)

SANDRINI, Marcos. Mundo jovem. Realidade brasileira Fevereiro de 2013.

*O texto foi reproduzido na íntegra, respeitando-se todas as construções sintáticas da forma como nele apareceram.

AULA 06 – REDAÇÃO 28
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TEXTO III

SOMOS SÓ PARTE DA IMENSA DIVERSIDADE

Protagonista do filme “Colegas”, que estreou sexta, fala da vida com a síndrome de Down e de como se
sente igual a todos.

Protagonista do filme “Colegas”, do diretor Marcelo Galvão, o ator Ariel Goldenberg, 32, se define
como um “guerreiro”. E ele é. Guerreiro down, diga-se. Down de síndrome de Down mesmo.(...)

O sonho do guerreiro, agora é se firmar na carreira de ator (pensa em atuar em uma novela) e
estudar para se tornar diretor também. Abaixo, entrevista de Goldenberg, em que revela o segredo de
seu sucesso e dá dicas sobre como os pais de crianças com Down podem ajudar seus filhos.

Como você avalia o seu desempenho no filme?

Eu dei a minha alma para que o Stallone expressasse a realidade de um down que luta para materializar
seus sonhos. Stallone sou eu. Tenho orgulho de dizer que fizemos o filme todo em um take só. Gravamos
direto, não houve a necessidade de refazer cenas porque os atores se esqueceram do texto, ou porque
não colocaram verdade nos personagens.

Você alguma vez se sentiu discriminado por ser down?

Uma vez. E foi, por coincidência, em um cinema. Eu e a Rita estamos acostumados a ir ao cinema toda
sexta-feira. Sempre fomos tratados com respeito, mas, naquele dia, o gerente se recusou a aceitar que
pagássemos meia-entrada, que é um direito assegurado aos downs. Ficou claro que ele não nos queria lá.
Me subiu o sangue na hora.

Como você conheceu a Rita?

Entrei no site “Grandes encontros”, que é uma sala de bate-papo para pessoas com deficiência, e a
encontrei. O que ela tem de mais? Nada. Apenas uma alma pura e os olhos azuis bonitos. Casamos nos
rituais judaico, religião da minha família, e no católico, da família da Rita.

Você se sente um cara diferente das pessoas comuns?

Não. Eu me sinto igual a todo mundo. Nós downs perante a sociedade somos downs, mas, perante Deus,
somos normais. É claro que eu sei que temos uma cópia a mais do cromossomo 21. Mas todo dia nasce
um bebê torto, ou loiro, ou moreno, ou mais inteligente ou menos. Nós somos apenas parte da imensa
diversidade dos seres humanos. Por isso, somos normais.

E ter filhos, você e a Rita não planejam?

Não. Porque dá muito trabalho formar um filho com a síndrome. E há a probabilidade muito grande de
termos um filho com a síndrome. Eu não quero arriscar.

CAPRIGLIONE, Laura. Folha de São Paulo. 04 de março de 2013.

TEXTO IV

SER DIFERENTE É NORMAL

AULA 06 – REDAÇÃO 29
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Todo mundo tem seu jeito singular


de ser feliz, de viver e de enxergar
se os olhos são maiores ou são orientais
e daí, que diferença faz?

Todo mundo tem que ser especial


em oportunidades, em direitos, coisa e tal
seja branco, preto, verde, azul ou lilás
e daí, que diferença faz?

Já pensou, tudo sempre igual?


Ser mais do mesmo o tempo todo não é tão legal
Já pensou, sempre tão igual?
Tá na hora de ir em frente:
ser diferente é normal!

Todo mundo tem seu jeito singular


de crescer, aparecer e se manifestar
se o peso na balança é de uns quilinhos a mais
e daí, que diferença faz?

Todo mundo tem que ser especial


em seu sorriso, sua fé e no seu visual
se curte tatuagens ou pinturas naturais
e daí, que diferença faz?

Já pensou, tudo sempre igual?


Ser mais do mesmo o tempo todo não é tão legal
já pensou, sempre tão igual?
Tá na hora de ir em frente:
Ser diferente é normal!
(Adilson Xavier/ Vinícius Castro)

A partir da leitura dos textos desta prova e de seus conhecimentos prévios, redija um texto
dissertativo-argumentativo, em norma padrão escrita da língua portuguesa, posicionando-se criticamente
em relação ao tema:

O combate aos preconceitos na atualidade.

Dê um título a sua Redação.

(EPCAR – 2014)
TEXTO I
DO FUNDO DO BAÚ
Eu tenho uma amiga que, todos os anos, me enviava um belo cartão de Natal, às vezes desenhado
por ela. Este ano, em vez de cartão, chegou uma gentil mensagem eletrônica. Eu entendo, ficou mais fácil.

AULA 06 – REDAÇÃO 30
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E dessa maneira, você manda para quantas pessoas quiser. Mas não há comparação entre um cartão (que
você custa a jogar fora) e uma mensagem eletrônica.
Isso ainda é mais verdade para essa maravilhosa forma de comunicação que é a carta. É difícil
imaginar o que a carta representa na história da humanidade. Primeiro, como laço afetivo. Certo, pode-
se pôr sentimento numa mensagem eletrônica. Mas ela tem um caráter menos pessoal que uma carta.
Recebendo a carta, você sabia que era só para você. Que uma determinada pessoa, num cantinho do
universo, sentou-se numa mesa, escolheu o papel, uma caneta, e começou a escrever para você. A
emoção podia começar na caixa do correio – pelo formato do envelope, pela letra que você conhecia.
Isso pelo lado afetivo. Havia outro, enorme: a carta como documento histórico, ou literário, ou
sociológico. Aqui no Brasil, começou com a carta de Pero Vaz, o primeiro documento da nacionalidade.
Pouquíssimo tempo depois, as cartas do padre Manoel da Nóbrega prestam informações preciosas sobre
um país recém-nascido.
Não há nenhuma certeza de que as pessoas vão guardar e-mails. É uma coisa mais precária e a
própria pressa da vida moderna conspira contra isso. Assim, talvez deixem de se repetir coisas como:
1. As cartas de São Paulo, básicas para a história do cristianismo.
2. Dois conjuntos de cartas romanas: as de Cícero e as de Sêneca, que, sozinhas, garantiam um
conhecimento quase íntimo de uma época grandiosa. As de Cícero, mais pictóricas, tecidas com as
histórias do dia a dia. As de Sêneca, o retrato de um filósofo que foi o Montaigne dos romanos.
3. As cartas de Fénelon. Esse grande bispo francês foi um incomparável diretor de consciências na França
de Luís XIV. Sua correspondência é uma combinação única de beleza literária e finura espiritual.
4. As cartas de Flaubert, talvez sua obra-prima (tenho uma preciosa edição francesa em sete volumes). O
caso de Flaubert é um bom exemplo. Como ele vivia isolado, totalmente dedicado aos seus (poucos)
romances, a carta era o seu meio de comunicação com o mundo. Sendo ele o escritor que era, surgiram
maravilhas literárias. Mas o tom é absolutamente íntimo. Não vai muito bem com a eletrônica.
5. A correspondência entre Machado de Assis e Joaquim Nabuco. Este é um tesouro bem nosso. Nabuco
era dez anos mais moço que Machado, e foi seu parceiro na formação e consolidação da Academia
Brasileira de Letras. Para além do puramente literário, o que essas cartas revelam é o encontro, o diálogo,
entre dois espíritos superiores. Tem o sabor de um velho vinho do Porto.
A lista poderia ir longe. Na literatura romântica, por exemplo, as cartas de amor entre Elizabeth
Barret Browing e seu futuro marido Robert Browing, todos dois grandes poetas. No século XX, as cartas
que tanto enriquecem a estante kafkiana. Sem serem famosas, as cartas de Thomas Mann são um dos
melhores meios de aprofundar o conhecimento desse grande romancista alemão.
Isto não é para ser um exercício de saudosismo. Cada época tem suas coisas boas – ou más.
Normalmente, nesses casos, ganha-se por um lado e perde-se pelo outro. O ideal é quando se pode
conservar tudo – ou quase tudo. (...)
(HORTA, Luiz Paulo. O Globo. 28 de dezembro de 2012.)

TEXTO II
UMA CARTA DE MACHADO DE ASSIS
Machado de Assis tinha 65 anos quando Carolina, sua mulher, morreu em 1904; viveria ainda
quatro anos. Joaquim Nabuco, um de seus melhores amigos, era dez anos mais moço, e correspondia-se
com Machado, desde a adolescência.

Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1904.


Meu caro Nabuco,
Tão longe, e em outro meio, chegou-lhe a notícia da minha grande desgraça, e você expressou a
sua simpatia por um telegrama. A única palavra com que lhe agradeci é a mesma que ora lhe mando, não
sabendo outra que possa dizer tudo o que sinto e me acabrunha. Foi-se a melhor parte da minha vida e
aqui estou só no mundo. Note que a solidão não me é enfadonha, antes me é grata, porque é um modo

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de viver com ela, ouvi-la, assistir aos mil cuidados que essa companheira de 35 anos de casados tinha
comigo; mas não há imaginação que não acorde, e a vigília aumenta a falta da pessoa amada. Éramos
velhos, e eu contava morrer antes dela, o que seria um grande favor; primeiro, porque não acharia a
ninguém que melhor me ajudasse a morrer; segundo, porque ela deixa alguns parentes que a consolariam
das saudades, e eu não tenho nenhum. Os meus são amigos, e verdadeiramente são os melhores; mas a
vida os dispersa, no espaço, nas preocupações do espírito e na própria carreira que a cada um cabe. Aqui
me fico, por ora na mesma casa, no mesmo aposento, com os mesmos adornos seus. Tudo me lembra a
minha meiga Carolina.
Como estou à beira do eterno aposento, não gastarei muito tempo em recorda-la. Irei vê-la, ela
me esperará.
Não posso, caro amigo, responder agora à sua carta de 8 de outubro; recebi-a dias depois do
falecimento de minha mulher, e você compreende que apenas posso falar deste fundo golpe.
Até outra e breve; então lhe direi o que convém ao assunto daquela carta que, pelo afeto e
sinceridade, chegou à hora dos melhores remédios. Aceite este abraço do triste amigo velho
Machado de Assis
http://rosebud-rose-bud.blogspot.com/2007/02/uma-carta-demachado-de-assis.html, acessado em 04/05/2013.

Após a leitura dos textos desta prova e da charge acima, redija um texto dissertativo, em norma
padrão escrita da língua portuguesa, sobre o seguinte tema:

A influência das novas formas de comunicação no relacionamento humano do século XXI.

Dê um título a sua Redação.

(Estratégia Militares - 2020)


TEXTO I

Mobilidade Sustentável

A questão da mobilidade urbana surge como um novo desafio às políticas ambientais e urbanas,
num cenário de desenvolvimento social e econômico do país, no qual as crescentes taxas de urbanização,
as limitações das políticas públicas de transporte coletivo e a retomada do crescimento econômico têm

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implicado num aumento expressivo da motorização individual (automóveis e motocicletas), bem como da
frota de veículos dedicados ao transporte de cargas.

Em outras palavras, o padrão de mobilidade centrado no transporte motorizado individual mostra-


se insustentável, tanto no que se refere à proteção ambiental quanto no atendimento das necessidades
de deslocamento que caracterizam a vida urbana. A resposta tradicional aos problemas de
congestionamento, por meio do aumento da capacidade viária, estimula o uso do carro e gera novos
congestionamentos, alimentando um ciclo vicioso responsável pela degradação da qualidade do ar,
aquecimento global e comprometimento da qualidade de vida nas cidades (aumento significativo nos
níveis de ruídos, perda de tempo, degradação do espaço público, atropelamentos e stress).

A necessidade de mudanças profundas nos padrões tradicionais de mobilidade, na perspectiva de


cidades mais justas e sustentáveis, levou à recente aprovação da Lei Federal nº 12.587 de 2012, que trata
da Política Nacional de Mobilidade Urbana e contém princípios, diretrizes e instrumentos fundamentais
para o processo de transição. Dentre estes, vale destacar:

• integração (da Política Nacional de Mobilidade Urbana) com a política de desenvolvimento urbano
e respectivas políticas setoriais de habitação, saneamento básico, planejamento e gestão do uso
do solo no âmbito dos entes federativos;

• prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de
transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado;

• integração entre os modos e serviços de transporte urbano;

• mitigação dos custos ambientais, sociais e econômicos dos deslocamentos de pessoas e cargas na
cidade;

• incentivo ao desenvolvimento científico-tecnológico e ao uso de energias renováveis e menos


poluentes;

• priorização de projetos de transporte público coletivo estruturadores do território e indutores do


desenvolvimento urbano integrado;

• restrição e controle de acesso e circulação, permanente ou temporário, de veículos motorizados


em locais e horários predeterminados;

• aplicação de tributos sobre modos e serviços de transporte urbano pela utilização da


infraestrutura urbana, visando a desestimular o uso de determinados modos e serviços de
mobilidade, vinculando-se a receita à aplicação exclusiva em infraestrutura urbana destinada ao
transporte público coletivo e ao transporte não motorizado e no financiamento do subsídio
público da tarifa de transporte público, na forma da lei;

• dedicação de espaço exclusivo nas vias públicas para os serviços de transporte público coletivo e
modos de transporte não motorizados;

• monitoramento e controle das emissões dos gases de efeito local e de efeito estufa dos modos de
transporte motorizado, facultando a restrição de acesso a determinadas vias em razão da
criticidade dos índices de emissões de poluição.

AULA 06 – REDAÇÃO 33
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(Disponível: <https://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/planejamento-ambiental-e-territorial-urbano/urbanismo-
sustentavel/mobilidade-sustent%C3%A1vel.html> Acesso em 26 mai. 2020)

TEXTO II

Os desafios da mobilidade urbana sustentável

Na América Latina, a maior fonte de emissão de gases de efeito estufa são os meios de transporte.
Por isso, não é possível dissociar os problemas de mobilidade das mudanças climáticas, explica Ilan
Cuperstein, vice-diretor para América Latina da organização C40. A rede internacional é formada por mais
de 90 cidades que se comprometeram a zerar as emissões até 2050. “Para isso, várias mudanças drásticas
têm que ser feitas: utilização apenas de veículos limpos; maior uso do transporte não motorizado, através
de bicicletas, mais viagens a pé, patinete; todo tipo de transporte novo”, argumenta.

Segundo os especialistas, os novos modais não são a solução para os problemas de mobilidade.
Eles são parte da solução. É o caso da bicicleta, mas também de novos sistemas como o BRT (Transporte
rápido por ônibus) - uma criação de Curitiba que ganhou o mundo - ou o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos),
do Rio. O projeto carioca seguiu a tendência mundial de humanizar os grandes centros, tornando-os mais
amigáveis para os pedestres. “Evidentemente o automóvel esgotou, e as novas gerações já não têm o
mesmo sonho de ter um primeiro automóvel. Eles se viram muito bem com o Uber, taxi, caronas, de outra
maneira. Lentamente, a cultura está mudando e é necessário aproveitar essa mudança para traçar um
projeto de futuro”, aposta o filósofo Rogério da Costa, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

(Disponível em: <https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhos-da-reportagem/2019/05/os-desafios-da-mobilidade-urbana-


sustentavel> Acesso em 26 mai. 2020)

TEXTO III

Atitudes simples, porém indispensáveis

Uma campanha do DETRAN/RS, intitulada “Trânsito Seguro: o Motorista Consciente”, expressa a


necessidade de todos fazerem sua parte no trânsito, sejam pedestres, ciclistas, motociclistas ou
motoristas. Nela, o departamento sinaliza para a importância de adotar práticas mais seguras para que a
qualidade de vida das pessoas seja garantida. A campanha elabora, ainda, uma lista com várias atitudes
necessárias para a segurança no trânsito.

Tais atitudes são simples e não causam quaisquer dúvidas quanto à sua realização. Uma delas, por
exemplo, é a orientação para parar no sinal vermelho. Outras, com o mesmo grau de complexidade, são
sinalizar antes de realizar qualquer manobra, não usar celular ao dirigir, dar a preferência para
ambulâncias e outros veículos de emergência e, ainda, parar a cada 4 horas em casos de viagens longas.

Outras recomendações, como ligar o pisca alerta e usar o triângulo em caso de parada causada
por problemas no veículo, deixar a distância de 5 metros das esquinas ao estacionar, manter distância
segura de outros veículos, usar farol baixo em dias chuvosos ou de neblina, também são feitas. Por fim,
mas não menos importante, outras sugestões essenciais são não consumir estimulantes ou energéticos
se for dirigir e, a recomendação mais feita em todos os lugares, se for dirigir, não beber. Neste caso, é
importante ficar, pelo menos, 8 horas sem assumir o volante.

Como se pode perceber, existem várias práticas para colaborar com um trânsito melhor. Muitas
delas são atitudes básicas de segurança e apreço ao próximo. Basta ter consciência de que tomar medidas
de precaução contribui para a manutenção da paz e da segurança em um espaço utilizado por todos os

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cidadãos que, como tais, devem exercer a cidadania em todas as atividades do seu dia a dia, em prol de
uma vida com mais respeito e tranquilidade.

(Disponível em: <https://www.politize.com.br/seguranca-transito-conscientizacao/> Acesso em 26 mai. 2020)

TEXTO IV

Integração de modais de transporte é o futuro

A solução para a nova mobilidade urbana passa pela integração dos transportes. Esqueça aquele
conceito de uma única forma de deslocamento. Vou de carro, vou de ônibus ou vou de bicicleta. Ficou no
passado. As integrações são o presente e serão o futuro das cidades. E os sistemas de compartilhamento
de carros, bicicletas e patinetes – e também de ônibus regular, como já vem surgindo – são os propulsores
dessa mudança. Que veio para ficar. Isso é consenso.

Além do caminhar, mesclar diferentes tipos de transporte para chegar de um ponto a outro ficou
fácil e pode ser bem mais barato. A sociedade começa a perceber isso. As bicicletas públicas
compartilhadas têm números animadores – crescimento de viagens superior a 300%, como é o caso do
BikePE. Os sistemas dockless (sem estação) – patinetes elétricos e bicicletas – também crescem no País,
apesar da polêmica que os envolve. Estudos começam a comprovar a constatação das ruas. Pesquisa do
Instituto Ipsos e da 99 realizada nas cinco regiões do País, em junho, constatou que o brasileiro utiliza, em
média, três modais diferentes durante a semana. E que a predominância na integração ainda é da
caminhada – 13,9% dos entrevistados afirmaram que antes ou depois de usar um app de transporte
privado caminhavam. Mas a utilização integrada com o transporte coletivo é forte – 10,2% – e com o
automóvel é relevante – 9%.

A avalanche de alternativas de transporte dos últimos anos também está provocando um outro
fenômeno: desmistificando o automóvel e os valores sociais que sempre o envolveram. Outra pesquisa,
realizada em 2018 pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS), entidade que financia projetos e estudos
sustentáveis no País, mostrou que, de fato, o passageiro que hoje utiliza os aplicativos de transporte
privado era usuário do transporte público (ônibus, metrô ou trem) – uma média de 50% das pessoas –,
mas revela uma fuga do carro – entre 20% e 30% dos passageiros afirmaram que antes de usar um app
com frequência tinham o automóvel como principal transporte.

(Disponível em: <http://especiais.jconline.ne10.uol.com.br/novarotacao/integracao-de-modais-de-transporte-e-o-


futuro.php> Acesso em 26 mai. 2020)

TEXTO V

Acessível para quem? Como o transporte divide ricos e pobres na cidade brasileira

Joana Barros e Michael Batty; Especial para a BBC Brasil.

14 outubro 2016

O objetivo básico do transporte é o de melhorar a conexão entre as pessoas, mas, muitas vezes,
ele só faz aumentar a divisão social

AULA 06 – REDAÇÃO 35
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As cidades brasileiras estão entre as mais divididas do mundo. Sempre foram espacialmente
segregadas.

Assim, um dos desafios que elas têm é aumentar o acesso a empregos e oportunidades e criar
comunidades que supram, de forma efetiva, necessidades de serviços locais.

Para tanto, um planejamento de transporte integrado, incluindo diferentes modais, é uma


prioridade urgente.

Grandes cidades brasileiras como São Paulo não se beneficiaram de investimentos no setor
ferroviário, particularmente em sistemas de metrô subterrâneos, equivalentes aos ocorridos em grandes
cidades de países desenvolvidos e também do Sudeste Asiático.

É importante compreender que altos investimentos são necessários para que essas cidades
funcionem efetivamente. Somente dessa forma a segregação que dominou o passado pode ser reduzida,
permitindo que cidades brasileiras alcancem o desenvolvimento econômico que cidades no Norte Global
já atingiram há muitos anos.

(Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-37572962> Acesso em 26 mai. 2020)

Com base nos textos de apoio e em seus conhecimentos gerais, construa um texto dissertativo-
argumentativo, em terceira pessoa, de 25 (vinte e cinco) a 30 (trinta) linhas, sobre o tema:

“Desafios na implantação de um modelo de mobilidade urbana sustentável”

(Estratégia Militares - 2021)


Texto I

“Vacina pouca, meu braço primeiro”: Esporte, vida e ética no novo normal

Renato Saldanha, Verônica Toledo Ferreira de Carvalho

A certa altura no ano passado, no tempo em que ainda assistíamos lives de cantores e cantoras, e
chocávamo-nos com algumas dezenas de mortes por dia, ganhou força entre os otimistas a ideia de que
a pandemia teria o seu “lado bom”. As dificuldades impostas pelo Coronavírus, as perdas, o confinamento,
a impossibilidade de contato social mais próximo, tudo isso seria uma oportunidade de reflexão sobre
nossa vida em sociedade. O vírus faria de nós pessoas melhores.

Pois bem, eis que agora a Conmebol anuncia a intenção de vacinar todos os envolvidos
diretamente nas competições organizadas por ela. Jogadores, arbitragem e equipes técnicas seriam
imunizados com um lote de 50 mil doses, fornecido por um laboratório farmacêutico em uma jogada de
marketing.

Se olharmos estritamente pelo viés esportivo, isso já seria problemático. No Campeonato


Brasileiro do ano passado, por exemplo, todas as equipes sofreram, em maior ou menor número, com
baixas inesperadas, por infecção pelo Coronavírus. Segundo levantamento do Globoesporte.com, só na
Série A foram 320 casos, entre atletas e técnicos. Nesse ano, a vacinação, via Conmebol, pode ser uma

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vantagem indevida para alguns clubes, que estarão mais protegidos, enquanto seus concorrentes
seguirão sofrendo com desfalques. Já nas séries B, C e D, assim como nas outras competições de menor
visibilidade, a tendência é que o princípio da igualdade prevaleça: todos estarão expostos e seguirão
viajando, jogando e se infectando, sem que a mídia, a Conmebol ou a CBF se importe com isso.

Mas há nessa iniciativa uma questão ética mais ampla, que extrapola o campo esportivo, e que
não deve ser secundarizada. É justo que a elite do futebol nacional seja imunizada antes de outros grupos,
como professoras, motoristas de ônibus, garis, e carteiros?

Vale dizer que a Conmebol não é a única que buscar garantir pra si esse privilégio. O dito popular
“Farinha pouca, meu pirão primeiro” tem sido um mantra de muitos.
(Adaptado de: SALDANHA, Renato; CARVALHO, Verônica Toledo Ferreira de. “Vacina pouca, meu braço primeiro”: Esporte, vida e ética no
novo normal. Ludopédio, São Paulo, v. 143, n. 9, 2021. Acesso em 01 jun. 2021)

Texto II

Futebol de rua

Crônica de Luis Fernando Veríssimo

Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais
rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer
terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do
que eu estou falando. Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora. Não sei se alguém,
algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos
assim:

DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No
desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão
menor, que sairá correndo para se queixar em casa. No caso de se usar uma pedra, lata ou outro objeto
contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De preferência os novos, do colégio. Quem jogar descalço
deve cuidar para chutar sempre com aquela unha do dedão que estava precisando ser aparada mesmo.
Também é permitido o uso de frutas ou legumes em vez da bola, recomendando-se nestes casos a laranja,
a maçã, o chuchu e a pêra. Desaconselha-se o uso de tomates, melancias e, claro, ovos. O abacaxi pode
ser utilizado, mas aí ninguém quer ficar no golo.

DAS GOLEIRAS – As goleiras podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos,
paralelepípedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu irmão menor, e até o seu
irmão menor, apesar dos seus protestos. Quando o jogo é importante, recomenda-se o uso de latas de
lixo. Cheias, para aguentarem o impacto. A distância regulamentar entre uma goleira e outra dependerá
de discussão prévia entre os jogadores. Às vezes esta discussão demora tanto que quando a distância fica
acertada está na hora de ir jantar. Lata de lixo virada é meio golo.

DO CAMPO – O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, calçada, rua e a calçada do outro
lado e – nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua.

DA DURAÇÃO DO JOGO – Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até
alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.

AULA 06 – REDAÇÃO 37
Prof.ª Celina Gil

DA FORMAÇÃO DOS TIMES – O número de jogadores em cada equipe varia, de um a 70 para cada lado.
Algumas convenções devem ser respeitadas. Ruim vai para o golo. Perneta joga na ponta, a esquerda ou
a direita dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é
beque.

DO JUIZ – Não tem juiz.

(...)

DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando.

DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o Futebol de Verdade (que é como, na rua,
com reverência, chamam a pelada), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável
dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando
com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina é córner.

DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar um adversário dentro do
bueiro. É considerada atitude antiesportiva e punida com tiro indireto.

DA JUSTIÇA ESPORTIVA – Os casos de litígio serão resolvidos no tapa.


(Disponível em <https://contobrasileiro.com.br/futebol-de-rua-cronica-de-luis-fernando-verissimo/> Acesso em 01 jun. 2021)

Texto III

(Disponível em <https://tribunaonline.com.br/distanciamento-social-no-esporte-e-o-tema-da-charge-do-dia> Acesso em 01 jun. 2021)

Texto IV

Os primeiros casos de gripe espanhola no Brasil foram registrados por volta de meados de 1918,
mesmo ano em que a enfermidade começou a se propagar pelo mundo.

AULA 06 – REDAÇÃO 38
Prof.ª Celina Gil

A doença, de rápida propagação e que matava em poucos dias, se espalhou por diversos países
por meio dos portos. Estima-se que cerca de 50 milhões de pessoas tenham morrido em decorrência da
enfermidade em todo o mundo.

Por volta de setembro daquele ano, navios chegaram de outros países e pessoas infectadas pelo
vírus causador dessa gripe desceram em diferentes regiões do Brasil. A doença logo se espalhou.

O governo brasileiro chegou a negar a gravidade da enfermidade. Porém, poucos dias depois, nas
últimas semanas de setembro de 1918, decidiu adotar medidas preventivas, como a recomendação de
que as pessoas ficassem em suas casas.

Muitos reclamaram do pedido de evitar locais públicos. Sem a devida adoção das medidas
sanitárias para conter a propagação do vírus, o Brasil enfrentou uma subida vertiginosa no número de
mortes pela doença.

A gravidade da situação exigiu a construção rápida de hospitais de campanha e locais para


isolamento de indivíduos infectados com o vírus.

Enquanto o vírus avançava, autoridades do Rio de Janeiro passaram a ficar alertas em relação ao
evento que seria sediado na então capital da República naquele ano: o Campeonato Sul-Americano,
programado para novembro de 1918.

Dados da época apontam que o Rio de Janeiro contabilizou cerca de 15 mil óbitos entre setembro
e novembro de 1918.

Diante da alta de casos e mortes, as autoridades decidiram suspender todos os eventos esportivos.
(Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57312349> Acesso em 01 jun. 2021)

Considere os textos da prova de Língua Portuguesa e seu conhecimento de mundo como motivações para
redigir um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, conforme o tema apresentado.

“A manutenção de eventos esportivos em ano de pandemia”

Instruções:

• Considere os textos desta prova como motivadores e fontes de dados. Não os copie, sob pena de ter a
redação zerada.

• A redação deverá conter no mínimo 100 (cem) palavras, considerando-se palavras todas aquelas
pertencentes às classes gramaticais da Língua Portuguesa.

• Recomenda-se que a redação seja escrita em letra cursiva legível. Caso seja utilizada letra de forma
(caixa alta), as

letras maiúsculas deverão receber o devido realce.

• Utilize caneta de tinta preta ou azul.

AULA 06 – REDAÇÃO 39
Prof.ª Celina Gil

• Dê um título à redação.

• Não assine a folha da redação.

(Estratégia Militares - 2021)


Texto I

Empatia na telinha: a importância da representatividade de PCDs

Bruna Coelho

Todo mundo tem aquele filme que já assistiu umas 10 vezes. Ou já ficou doido para maratonar
todos os episódios daquela série. E até mesmo, já deixou de sair de casa para assistir o final daquela novela
– mesmo sabendo que iria ser reprisada no dia seguinte.

Não dá para negar que o conteúdo audiovisual é uma das principais fontes de entretenimento da
atualidade. Quem nunca correu para o Youtube quando o tédio bateu, não é mesmo!? Não é por acaso
que até 2020, 80% dos conteúdos que vão circular pela internet serão audiovisuais. Mais do que entreter,
esse formato pode ser muito informativo.

A mídia tem tanto poder de criar hábitos e tendências, quanto de difundir e propagar um
pensamento. Esses conteúdos são projetados para aumentar a nossa percepção do mundo. E, por isso,
em pleno século XXI, não dá mais para fechar os olhos para a diversidade e é preciso representá-la nas
telinhas.

Por ter um forte poder informativo, o conteúdo audiovisual é um canal muito importante para
mostrar a realidade das pessoas com deficiência. Isso pode ajudar todos a quebrarem a barreira atitudinal
que há dentro deles. Afinal, conhecer a realidade do outro também é praticar um pouco de empatia.

Onde estão as pessoas com deficiência?

Atualmente, cerca de 1 bilhão de pessoas têm alguma deficiência no mundo segundo a OMS
(Organização Mundial da Saúde). Só no Brasil, o número de pessoas com deficiência representa cerca de
24% da nossa população. Ou seja, um a cada quatro brasileiros. Muita gente, não é mesmo!? Mas vamos
parar para refletir por um momento. Quando a gente fala de filmes, novelas ou até mesmo propagandas:
quais personagens com deficiência você se lembra de ter visto? Eles eram o protagonista? Foram
interpretados por algum ator com deficiência?

Aposto que a lista não foi muito grande… A indústria audiovisual ainda está no seu despertar
quando o assunto é representatividade. E isso é ainda mais claro quando se trata de pessoas com
deficiência. Por isso, os números ainda deixam muito a desejar. Segundo a pesquisa TODXS, realizada pela
agência Head, a representatividade de pessoas com deficiência em comerciais brasileiros não chegou a
0,12% no último ano. Um outro estudo, o Diversity and Social Change Initiative, analisou os 100 principais
filmes lançados em 2015. O resultado encontrado foi que o número de personagens com deficiência foi
de 2,4%. Não precisa ser nenhum gênio da matemática para perceber que, infelizmente, esses números
não chegam nem perto de representar a realidade.

AULA 06 – REDAÇÃO 40
Prof.ª Celina Gil

Buscando reverter essa situação, surgiu a Gadim (Aliança Global para Inclusão de Pessoas com
Deficiência na Mídia e Entretenimento) lançada na ONU em 2016. Essa iniciativa incentiva ações na mídia
que promovam representações de pessoas com deficiência. Ela está presente no Brasil e em todo o
mundo. O projeto foi baseado no Artigo 8 da Constituição dos Direitos Humanos, que acredita no poder
da mídia como ferramenta de conscientização e inclusão.

(Disponível em: < https://blog.handtalk.me/representatividade-pcds/> Acesso em 7 mai. 2021)

Texto II

Portador, especial, deficiente? Qual o termo adequado?

10 de julho, 2020

Outro dia, um dos leitores dessa coluna questionou o uso do termo "aluno com deficiência",
perguntando se o correto não seria "aluno portador de necessidade especial". Boa pergunta, ótima
oportunidade para falarmos sobre nomenclatura.

Para que avancemos na construção de uma sociedade inclusiva, importa muito o cuidado com as
palavras que usamos para nos referirmos ao outro. Nas últimas décadas, a terminologia destinada ao
tratamento de pessoas com algum tipo de deficiência (física, intelectual, visual, auditiva ou múltipla)
esteve em contínuo processo de reformulação, tendo em vista a evolução de nosso entendimento sobre
o tema e a nossa visão de mundo em cada contexto histórico. No século passado, por exemplo, eram
perfeitamente aceitáveis adjetivos como "inválidos", "excepcionais" e até "defeituosos". Basta nos
lembrarmos que a sigla AACD, de uma das organizações mais tradicionais e respeitadas nesse campo no
Brasil, significava Associação de Assistência à Criança Defeituosa. Hoje, essas palavras são consideradas
até ofensivas e devemos deixá-las para trás.

E qual que é o termo considerado adequado? Hoje, recomenda-se o uso da expressão "pessoa com
deficiência". Ela é adotada pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006),
principal referência internacional sobre esse assunto. Essa Convenção diz que a deficiência é resultante
da combinação entre dois fatores: os impedimentos clínicos que estão nas pessoas (que podem ser físicos,
intelectuais, sensoriais etc.) e as barreiras que estão ao seu redor (na arquitetura, nos meios de
transporte, na comunicação e, acima de tudo, na nossa atitude). Resumindo, entende-se que a deficiência
é uma condição social que pode ser minimizada conforme formos capazes de eliminar tais barreiras.

E por que foram abandonadas as expressões "portador de deficiência" e "pessoa com necessidades
especiais", vistas como tentativas de amenizar o estigma e o olhar negativo gerado pelas palavras? Ou
seja, por que se optou por "pessoa com deficiência" (ou "aluno com deficiência" ou "profissional com
deficiência" etc)? Em síntese, por dois fatores: esta expressão não disfarça a existência de uma diferença
e evita a armadilha de partirmos para argumentos simplistas, como "no fundo, todo mundo é imperfeito".
Por outro lado, favorece a consciência de que, em alguns casos, é necessário um tratamento desigual para
que a gente promova equidade.

Longe de ser mero preciosismo, o cuidado com as palavras faz parte da busca por patamares mais
civilizados e inteligentes de convivência entre seres humanos.
(Disponível em < https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/rodrigo-mendes/2020/07/10/portador-especial-deficiente-qual-o-termo-
adequado.htm> Acesso em 7 mai. 2021)

AULA 06 – REDAÇÃO 41
Prof.ª Celina Gil

Texto III

(Disponível em < http://inclusaopcd.blogspot.com/2013/11/a-triste-realidade.html> Acesso em 7 mai. 2021)

Texto IV

Foi pra diferenciar


Que Deus criou a diferença
Que irá nos aproximar
Intuir o que ele pensa
Se cada ser é só um
E cada um com sua crença
Tudo é raro, nada é comum
Diversidade é a sentença

Que seria do adeus


Sem o retorno
Que seria do nu
Sem o adorno
Que seria do sim
Sem o talvez e o não
Que seria de mim
Sem a compreensão

Que a vida é repleta


E o olhar do poeta

AULA 06 – REDAÇÃO 42
Prof.ª Celina Gil

Percebe na sua presença


O toque de Deus
A vela no breu
A chama da diferença
(Trecho de Diversidade, Lenine. Disponível em: < https://www.letras.mus.br/lenine/diversidade/> Acesso em 7 mai. 2021)

Com base nos textos da prova de Língua Portuguesa, bem como no seu conhecimento de mundo,
escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, sobre o seguinte tema:

A inclusão de pessoas com deficiência.

Orientações

• Considere os textos da prova de Língua Portuguesa como motivadores e fonte de dados. Não os copie,
sob pena de ter a redação zerada.

• A redação deverá conter no mínimo 100 (cem) palavras, considerando-se palavras todas aquelas
pertencentes às classes gramaticais da Língua Portuguesa.

• Recomenda-se que a redação seja escrita em letra cursiva legível. Caso seja utilizada letra de forma
(caixa alta), as letras maiúsculas deverão receber o devido realce.

• Utilize caneta de tinta preta ou azul.

• Dê um título a sua redação.

Considerações finais
Não deixe de produzir as redações e enviá-las para correção. É muito importante que você não
acumule redações para a última hora, pois não teremos tempo para corrigir.

Na próxima aula, veremos temas de redação de assuntos contemporâneos que podem cair na sua
prova.

Qualquer dúvida estamos à disposição no fórum ou nas redes sociais.

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AULA 06 – REDAÇÃO 43

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