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Contemporâneos
1.2.2.1. Labeling
Mead, que foi professor de filosofia na Universidade de Chicago,
concebeu a formação do Ego como o resultado das interacções
sociais com Outros Significativos (Aggleton 1991; Barata 1990a).
As pessoas interagem fundamentalmente através de símbolos
(sons, imagens, gestos, etc.) e os seus significados emergem da
interacção social.
Herbert Blumer desenvolveu a ideia de que os significados não
são dados, mas requerem uma interpretação activa por parte dos
actores sociais envolvidos (Aggleton 1991).
Erving Goffman introduziu o conceito de identidade social, para
se referir às qualidades pessoais que permanecem constantes em
diferentes situações (Aggleton 1991). Defendeu ainda que a
identidade social pode ser consolidada pelas reacções dos outros
ao comportamento dos indivíduos. Se as reacções forem
negativas, as pessoas podem ser forçadas a aceitar uma “spoiled
identity”, processo que Goffman define como de estigmatização.
13
1.3. Síntese
Perspectivas de estudo dos problemas sociais
Desorganização
Falha no funcionamento das regras sociais Regras sociais
Social
Comportamento
Violação de expectativas normativas Papéis sociais
Desviado
________________________________
6
Em Portugal, registam-se diversos exemplos desse tipo de intervenções, sobretudo a partir do século
XV, de que o exemplo mais significativo foi a criação de condições para a proliferação do movimento
das Misericórdias (Tavares, 1989: 267 e sgs).
20
Estado Protector
Objectivos:
. Produzir segurança
. Reduzir a incerteza
O Estado Protector
Crescimento e radicalização
das funções do Estado
Estado Providência
Objectivos:
. Produzir segurança
. Reduzir a incerteza
. Promover a regulação e a orientação sócio-económica
Fins dominantes do Estado:
. Segurança
. Justiça
. Bem estar
Características dominantes do aparelho de Estado:
. Dimensão progressivamente maior
. Organização progressivamente mais complexa
. Pilotagem progressivamente mais profissionalizada
O Estado Providência
________________________________
7
A complexidade da organização pode ser observada através de três indicadores: a instauração de
mais patamares hierárquicos, diferenciando crescentemente os papéis de mando e de obediência, a
divisão de trabalho, num processo de crescente especialização funcional, e o aumento de sistemas
de regulamentação.
8
Exemplos recentes desta tendência são, o aumento das qualificações formais pedidas nos concursos
de ingresso à função pública e o peso crescente da formação complementar como parâmetro de
avaliação nos concursos de acesso.
22
Movimentos de
Génese económica legitimação Génese política
doutrinária
Expansão
(séculos XV e XVI)
Centralização do
(implica diversificação
poder real
de mercados;
acumulação de capital) . Mercantilismo
. Fisiocracia
. Movimentos
Guerras religiosas
Industrialização de reacção
(século XVII)
aos excessos
do Príncipe
que culminam
na Revolução
francesa Consolidação da
Nova ordem
nova ordem política
económica
(o Estado-Nação ao
(consolidação da
serviço da economia
burguesia)
subsidiada)
Liberalismo
Génese do liberalismo
2.2.1. Génese
Com a expansão europeia e a consequente diversificação de mercados
e acumulação de capital, a burguesia consolidou-se como classe social.
Paralelamente a este processo, a ordem política foi também ela
profundamente alterada, como atrás foi referido, apresentando como
traços dominantes, a centralização do Poder real e o consequente
enfraquecimento da velha aristocracia, apoiada na ascensão da
burguesia.
Acompanhando esta dupla tendência e escorando-a ideologicamente,
foram surgindo diversas doutrinas económicas e sociais, como o
mercantilismo, a fisiocracia e todo um corpo filosófico que procurou
23
2.2.2. As teses
É esta a tese defendida por grande parte dos principais autores do
liberalismo positivista clássico, como Adam Smith, Jeremias
Bentham, Burke, Humbold, do liberalismo utópico como Paine e
Godwin e do neoliberalismo como Robert Nozick ou John Rawls. Em
todos estes autores encontramos uma forte crítica à excessiva
dimensão do Estado, variando, no entanto, nos critérios definidores das
suas funções e na definição do seu campo de actuação. É o caso, mais
recente, da corrente neoliberal, que deve ser entendida como uma
crítica, da crítica à economia de mercado.
Para discutir esta questão, Rosanvallon (1984) parte da teoria das
internalidades (Wolf, 1979). De acordo com esta teoria, a acção do
Estado tem, com frequência, efeitos imprevistos (internalidades), que
pervertem as intenções de justiça e de promoção do Bem-Estar das suas
políticas. Um exemplo deste tipo de efeitos perversos é o do ciclo
vicioso das despesas públicas descrito por este autor:
● O crescimento das necessidades dos cidadãos (económicas,
sociais, de segurança, etc.), implica uma pressão sobre o Estado
no sentido de as colmatar (aumento da procura de Estado).
● O aumento da procura de Estado, obriga este a concentrar
recursos e articulá-los para dar resposta às necessidades
(aumento da oferta de Estado).
● Para que a oferta de Estado cresça, este é obrigado a fazer mais
despesas públicas.
● O aumento das despesas públicas determina um aumento dos
impostos para lhes fazer face.
● O aumento da carga fiscal sobrecarrega os cidadãos o que,
naturalmente, lhes aumenta as necessidades e a procura de
Estado, e assim sucessivamente.
No que respeita aos problemas sociais e económicos, o pensamento
liberal tem evoluído, ainda que partilhe de uma ideia comum: o mercado
é melhor regulador que o Estado e, por consequência, os
problemas sócio-económicos devem ser atacados
predominantemente pela sociedade civil.
Em suma, a posição liberal face aos problemas sócio-económicos pode
resumir-se em dois aspectos:
● A maior parte dos problemas sociais e económicos resultam de
uma excessiva intervenção do Estado
● A resolução dos problemas sociais e económicos deveria ser
deixada aos mecanismos (naturais) de auto-regulação do mercado.
24
2.2.3. As limitações
Em traços gerais os críticos à perspectiva liberal apontam-lhes as
seguintes limitações (Rosanvallon, 1984):
● Os limites da acção do Estado são, em regra, insuficientemente
operacionalizados.
● Normalmente a crítica à acção do Estado é bem feita,
nomeadamente no que respeita aos efeitos perversos da
burocracia, baseada na teoria das internalidades. No entanto, os
efeitos imprevistos do funcionamento do mercado que
condicionam fortemente a emergência e o agravamento dos
problemas sócio-económicos não são convenientemente
equacionados.
De acordo com Suzanne de Brunhoff (1987), a conjuntura é vista como
um cenário de guerra económica o que implica, por parte dos
decisores políticos, uma atitude de nacionalismo económico. Neste
contexto, as funções económicas e sociais do Estado procuram atingir
dois objectivos:
● reforçar a frente de combate económica, apostando em políticas
de obtenção de encomendas no estrangeiro e em estratégias de
financiamento e de proteccionismo dos sectores sociais mais fortes,
como os segmentos que apostam no desenvolvimento tecnológico
e nas exportações;
● ajudar a tratar dos feridos da guerra económica (pobres e novos
pobres, grupos mais atingidos como os jovens, as mulheres, os
idosos, os imigrantes e os desempregados de regiões industriais
sinistradas).
Neste cenário, o reforço da frente de combate é normalmente mais
forte que a ajuda ao tratamento dos feridos da guerra económica,
criando-se um ambiente tendente a retirar os direitos sociais e
económicos aos cidadãos.
2.3.2. As teses
O pensamento de Marx relativamente ao papel do Estado não é idêntico
ao longo da sua obra, nela se encontrando
● desde uma posição idealista defendida na Gazeta Renana, em
1843, em que descrevia a possibilidade da existência de “uma
associação de homens verdadeiramente livre num estado
idealizado, concebido, com base no modelo hegeliano, como uma
incarnação da razão (Mclellan, 1974: 293),
● passando pela afirmação de que o Estado era uma expressão da
alienação humana semelhante à religião, ao direito e à moralidade
(Manuscritos de 1844), um biombo que esconde as verdadeiras
lutas inter-classes, assumindo-se como instrumento da classe
dominante (Ideologia Alemã), uma mera comissão de gestão dos
assuntos da burguesia (Manifesto),
● até à afirmação de que poderia desempenhar, apesar de todas as
críticas, algum papel positivo em favor das classes oprimidas (A
guerra civil em França), ou mesmo que poderia ser, quando em
situação de ditadura do proletariado, instrumento de mudança para
a sociedade comunista (Crítica do Programa de Gotha).
Apesar desta aparente ambivalência, parece ser constante o
reconhecimento do importante papel que cabe ao Estado como
instrumento da classe dominante (seja ela a burguesia ou o
proletariado), nas funções de regulação e orientação da sociedade
global.
Se a esta constatação acrescentarmos que, na perspectiva marxista, os
problemas económicos e sociais são resultantes, em última análise,
da situação de exploração de uma classe em benefício de outra num
cenário de permanente luta de classes, poderemos entender as duas
estratégias defendidas por esta corrente, consoante detenha ou não o
controle do Estado:
● quando o Estado não é controlado pela classe trabalhadora15,
às organizações desta classe cabe fazer pressão16, no sentido de
que o poder político lhes faça concessões, em nome de uma paz
social ameaçada, no sentido de prevenir e atenuar os problemas
sociais; uma vez que a raiz dos problemas está no sistema de
dominação, qualquer reivindicação de solução para os problemas
referidos deve ter em atenção, ainda que a longo prazo, a conquista
do poder pela classe trabalhadora;
quando o Estado é controlado pela classe trabalhadora, deve
●
centralizar a definição de rumos e a articulação de meios para fazer
face aos problemas sociais e económicos; neste sentido, deve-lhe
competir um papel dominante no planeamento e organização da
economia e da protecção social17.
________________________________
15
À expressão inicial proletariado, foi sendo preferida a designação mais populista classe trabalhadora,
na qual poderiam sentir-se identificados vários grupos progressistas de origem burguesa como aqueles
que Gramsci designava intelectuais orgânicos.
16
Através dos grupos de interesse ou de partidos que a representem.
17
Mesmo no caso singular do sistema titista de socialismo jugoslavo, a concentração de poder foi um
facto, o que aliás, parece ter sido um sistema eficaz para evitar a balcanização do país que voltou a
verificar-se posteriormente.
27
2.3.3. As limitações
Correndo o risco de simplificar em demasia as críticas que têm sido
feitas à perspectiva marxista de ver os problemas sociais, podemos
agrupá-las em dois conjuntos:
● do ponto de vista doutrinário as que sublinham que, ao privilegiar
a luta de classes como instrumento de intervenção, o marxismo
provocou danos elevados na coesão social, lançando as classes
sociais umas contra as outras, gastando consideráveis energias
sociais necessárias ao crescimento económico e ao
desenvolvimento social, em nome da igualdade e em detrimento
da liberdade.
● Do ponto de vista político, as que o acusam de falta de eficácia
e de eficiência uma vez que, nos países em que foram aplicadas
as concepções marxistas de ataque aos problemas sociais e
económicos, os resultados obtidos foram muito inferiores aos
previstos (ineficácia) e, os avanços conseguidos, foram-no
frequentemente a custos económicos e sociais muito elevados
(ineficiência), uma vez que exigiram uma máquina estatal
excessivamente pesada.
2.4.1. Os fundamentos
Os fundamentos da intervenção do Estado relativamente aos problemas
sociais e económicos podem encontrar-se na constatação de efeitos
imprevistos (positivos18 ou negativos19) do funcionamento do mercado
a que Pigou, em 1920, chamou externalidades (cit in Rosanvallon,
1984: 49).
________________________________
20
Ex: o grupo cujos participantes ficaram conhecidos por socialistas de cátedra (Wagner, Schaeffle e
Schmoller) que, em 1872, declaram guerra ao liberalismo num documento que ficou conhecido por
Manifesto de Eisenach (Rosanvallon, 1984:118).
21
Como Ferdinand Lassalle, uma das principais figuras do socialismo alemão.
29
________________________________
22
A perda de confiança na acção do Estado (e não apenas do Estado-Providência) não se deveu
apenas às crises petrolíferas: teve a ver com a situação de anomia provocada pela mudança
acelerada que causou um autêntico choque do futuro (Toffler, 1970, 1980, 1991), que afectou a sua
credibilidade em dois aspectos: as tendências para a globalização e a localização (vide capítulo sobre
as questões económicas) puseram em causa o conceito tradicional de soberania; a crise do sistema
organizacional burocrático questionou as administrações públicas como principais instrumentos da
realização dos fins do Estado (Carmo, 1985, 1997; Bilhim, 2000; Sá, 1997).
23
“a administração Reagan chegou ao poder com a promessa de reduzir o défice orçamental. O que
aconteceu foi que, no tempo de Reagan, o défice orçamental elevou-se como nunca. No Reino Unido,
também o advento do governo Thatcher coincidiu com um crescimento, e não um decréscimo das
despesas públicas (...) A estrutura dos serviços sociais universais, nomeadamente a educação, a
saúde e a segurança social, também se manteve em grande parte intacta, quer nos Estados Unidos
quer no Reino Unido, apesar das proclamações neoconservadoras sobre privatização e retracção da
assistência social” (Mishra, 1995:7).
24
Foram exemplos desta tendência, a vitória de Clinton nos Estados Unidos, bem como a de Tony Blair
no Reino Unido, com a sua política de terceira via (Giddens, 1999).
31
2.5. Em Portugal
2.5.1. A perspectiva intervencionista na
evolução constitucional
Constituição Características
Constituição de 1822 • Pretende criar instituições liberais e democráticas
• Não passou de um projecto pois o seu suporte social era
débil (burguesia mercantil), os inimigos, muitos e, a
secessão do Brasil, uma questão urgente, que remeteu
a organização das FESE para segundo plano
Carta Constitucional • Sendo conservadora mantém as FESE numa
de 1826 perspectiva liberal
Constituição de 1838 • Mantém a concepção de uma monarquia liberal assente
na aliança do Rei com a burguesia (Jorge Miranda)
Constituição de 1911 • Não altera a perspectiva liberal das funções do Estado,
condimentando-as de laicismo, anti-clericalismo e
municipalismo.
• Dá grande realce à política de Educação.
Constituição de 1933 • Corporativista, apresenta um cariz muito mais
intervencionista, pretendendo ser a pedra de toque em
que as FESE são sensivelmente maiores e mais
complexas.
• Explicita princípios de protecção à família, incumbências
económicas do Estado, organização de interesses
sociais, da empresa e do direito ao trabalho.
Constituição de 1976 • É influenciada pelas doutrinas marxistas e do Estado-
Providência.
• Consolida medidas socializantes das FESE
• Identifica três sectores de propriedade (público,
cooperativo e privado)
• Consagra direitos, liberdades e garantias democráticas
• Explicita princípios de protecção aos cidadãos e aos
trabalhadores em particular, em diversos domínios das
FESE: Educação, Saúde, Segurança Social, Habitação,
Trabalho, etc.
________________________________
25
Uma das razões da suspensão do Plano foi o facto dele ter um cariz considerado demasiado
reformista pelas forças políticas dominantes, ainda que respeitasse escrupulosamente os três Dês do
Programa do Movimento das Forças Armadas (descolonização, democratização e desenvolvimento).
Os seus principais autores foram Melo Antunes, Victor Alves, Maria de Lourdes Pintasilgo, Rui Vilar e
Victor Constâncio.
35
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26
Não confundir o ozono troposférico existente na camada inferior da atmosfera (troposfera), com o
ozono estratosférico. Os hidrocarbonetos não queimados na combustão dos combustíveis fósseis nos
veículos de transporte e nas indústrias, por acção da radiação solar podem converter-se em ozono.
Este gás é um poluente, pois trata-se uma substância altamente reactiva que pode provocar efeitos
negativos na saúde pública e nos ecossistemas.
37
3.4. Biodiversidade
3.4.1. Introdução
A tendência para a diversificação, é uma propriedade inerente à
progressão ecológica e à evolução biológica em geral. Apesar de não
haver um inventário de todas as espécies terrestres, estima-se que
existem entre 5 e 30 milhões de espécies. Destas, estão descritas 1,5
milhões, das quais, 90 % apenas se sabe o nome (Bellés, 1998).
Apesar do desconhecimento sobre a imensa diversidade biológica que
povoa a terra, é alarmante constatar que uma importante fracção desta
riqueza tem a sobrevivência ameaçada, registando-se anualmente a
extinção de aproximadamente 13 000 espécies. No âmbito do presente
sub-capítulo referiremos biodiversidade para designar a diversidade de
habitats e espécies existentes nos diferentes ecossistemas.
Ao longo de milhões de anos, verificaram-se na terra, episódios de
destruição massiva de espécies, resultado de fenómenos naturais, de
natureza vulcânica, geofísica e tectónica, unidos ou não a alterações
climáticas27. De uma forma geral, estas extinções foram lentas e
graduais, verificando-se o desaparecimento das espécies ao longo de
milhares de anos.
No entanto, o ritmo a que hoje se verifica o desaparecimento das
espécies é assustador, atribuindo-se ao homem a responsabilidade
desta destruição.
Com a descoberta do fogo o Homo sapiens idealizou e concebeu novos
utensílios domésticos e instrumentos que lhe permitiram caçar com
maior eficiência as suas presas. Aumentou a sua autonomia em relação
aos alimentos, passando a retirar da terra com alguma sabedoria
plantas, raízes e tubérculos. A pouco e pouco foi-se tornando sedentário.
A agricultura foi o ponto de partida para a escalada na exploração dos
recursos naturais. Foi através de uma exploração mais intensiva dos
solos que nos últimos séculos o homem modificou ecossistemas
naturais, incentivou a monocultura, aumentou a uniformidade genética da
exploração agrícola, contaminou o meio com excesso de fertilizantes e
pesticidas orgânicos, desbravou e queimou florestas para conquistar
solos para as práticas agrícolas.
________________________________
27
Recorde as extinções verificadas no Ordovício, Devónico, Pérmico ou Triásico.
40
________________________________
28
Entende-se por floresta todo o ecossistema dominado por árvores de folha caduca ou perene, larga
ou em agulha, mais ou menos evoluído, no qual se incluem florestas aparentemente arbustivas como o
maquis mediterrânico, seja ele alto ou baixo (Alves, 1998). É um sistema pluri-estratificado que alberga
uma imensa biodiversidade numa grande variedade de nichos ecológicos.
42
3.6. Resíduos
3.6.1. Introdução
3.6.2. Resíduos sólidos urbanos31 (RSU)
Um dos indicadores financeiros de que dispomos para avaliar o
crescimento e conómico de uma sociedade é o rendimento disponível
das famílias. Quanto maior for o rendimento líquido per capita, maior se
considera o desenvolvimento de uma determinada sociedade. A
apetência para o consumo, característica das sociedades modernas, tem
consequências nem sempre previsíveis aos mais diversos níveis:
económico, social e ambiental. Aliciados por campanhas publicitárias e
estratégias de marketing agressivas, os indivíduos são levados a consu-
________________________________
29
Saelização: processo regressivo em que os ecossistemas tendem para situações de pré-deserto.
30
Segundo Lovelock (1983), “A biosfera é uma entidade autorreguladora com capacidade para manter
a saúde do nosso planeta mediante o controlo do equilíbrio químico e físico” (ide. Benito, 1999).
31
RSU é sinónimo de resíduos domésticos ou urbanos.
43
mir. Adquirem inúmeros produtos, dos quais não necessitam, que deitam
fora com facilidade, uma vez que, para além de apresentarem uma baixa
durabilidade são frequentemente substituídos por novos e mais
interessantes modelos constantemente lançados no mercado. Em Paris,
a quantidade de resíduos domésticos rejeitados/ano/habitante era em
1962 pouco mais de 184 kg, enquanto que em 1994 se aproximava dos
549 kg.
A taxa de tratamento e eliminação de resíduos, em 1991, era menor em
Portugal do que em qualquer outro país da U.E. Verificando-se nessa
altura a deposição em lixeiras preferencialmente à compostagem32,
incineração ou à deposição em aterro sanitário33.
Os governos, municípios, e os meios de comunicação social têm, nos
últimos anos, feito um esforço para sensibilizar os cidadãos e a
sociedade em geral, para a importância da valorização dos resíduos.
Neste sentido, têm surgido em algumas autarquias, ecopontos34,
recolhas porta-a-porta de materiais, como papel, vidro e cartão que
posteriormente são tratados em indústrias de reprocessamento destes
materiais.
Refira que, no caso dos resíduos urbanos, exige-se que, para não haver
perigo de emissões tóxicas e para o processo ser eficiente, haja uma
prévia separação dos materiais a incinerar, o que só poderá ser feito
com a contribuição das populações que fizerem a separação dos
resíduos domésticos. Na Dinamarca, país onde as populações estão
muito sensibilizadas para a triagem dos desperdícios domésticos, a
incineração é um processo usado com êxito para o tratamento dos
resíduos (Pichat, 1995).
Algumas indústrias grandes consumidoras de energia, como as
cimenteiras, podem co-incinerar alguns destes resíduos na forma de
combustível como é o caso de materiais plásticos não clorados, óleos,
gorduras e substratos celulósicos. Mesmo quando a cimenteira está
preparada para queimar resíduos, os poluentes ou ficam retidos nas
“poeiras” emitidas pela própria unidade industrial ou são incorporadas no
cimento, o que pode reflectir-se negativamente na saúde das
populações, já que estas estão em permanente contacto com estruturas
de betão.
Apesar de muitas indústrias terem desenvolvido grandes esforços para a
diminuição dos resíduos que produzem, há alguns resíduos que não
podem ser resolvidos no seu interior, sendo muitos destes produtos
recolhidos, armazenados e tratados por indústrias de recuperação.
Os custos de tratamento e valorização são variáveis, dependendo da
composição dos resíduos nomeadamente das suas propriedades físicas,
da quantidade e qualidade dos resíduos finos solidificados e
estabilizados e do custo do armazenamento.
fracos compromissos.
Se os níveis de desigualdade dos rendimentos económicos forem
mantidos ao actual ritmo é de esperar que a pobreza local relacionada
com problemas ambientais, como a sobre-exploração local de recursos
naturais e a morbilidade e mortalidade relacionada com problemas
ambientais seja mantida ou agravada.
É assim necessário identificar prioridades políticas e estratégias
efectivas para a aplicação do desenvolvimento sustentável e para o
progresso na implementação da Agenda 21.
4. Problemas demográficos
4.1. Explosão demográfica
4.1.1. Evolução da população mundial
Foi necessária toda a história humana até 1801, para que a população
mundial atingisse o primeiro bilião (milhar de milhões). Prevê-se que em
2050, a população seja de 8.9 mil milhões e em 2150 passe para 9.738.
Assim, foram necessários 130 anos para que se atingisse o 2º. milhar de
milhão, para o 3º. apenas 30 anos, o 4º. milhar de milhão foi alcançado
em 14 anos, 13 bastaram para que o 5º. milhar de milhão fosse atingido,
em 12 anos apenas o mundo atingiu o 6º. milhar de milhão de pessoas.
1,5
1
0,5
0
5000 4000 3000 2000 1000 0 1000 1776 1976 2176 3000 4000 5000
a.C. a.C. d.C. d.C.
Anos
________________________________
38
As projecções das Nações Unidas incluem 3 cenários, alto, médio e baixo com base no
comportamento da fecundidade (relação do número de nascimentos com a população feminina em
idade de procriar, assumindo-se o período fértil entre os 15 e os 49 anos). Os dados que se
mencionam para os anos 2050 e 2150, referem-se ao cenário médio, por ser considerado como o mais
provável, e assume-se que o número médio de filhos por mulher será de dois, ou seja assume-se que
haja renovação das gerações. Nações Unidas (1998) Long-Range World Population Projections:
Based on the 1998 Revisions, 1999.
50
________________________________
39
Taxa de Natalidade – número de nados-vivos ocorrido durante um certo período de tempo,
normalmente o ano, referido à população média desse período (habitualmente número de nados-vivos
por 1000 habitantes), (1999) Estatísticas Demográficas, Lisboa, INE, 1998.
40
Taxa de Mortalidade – Número de óbitos ocorridos durante um certo período de tempo, normalmente
o ano, referido à população média desse período (por regra o número de óbitos por cada 1000
habitantes), (1999) Estatísticas Demográficas, Lisboa, INE, 1998.
41
“O número de mortos devido à peste contou-se por vezes por milhões. Calcula-se que a grande peste
de 1348 terá provocado 25 milhões de mortos, ou seja, um quarto da população da Europa nesse
tempo.” Barata, 1968: 335.
42
Corresponde à duração média de vida de um indivíduo.
51
________________________________
43
Nas regiões menos desenvolvidas, em 1950, o número médio de filhos por mulher era 6,2, passando
em 1999 para menos de 3. O decréscimo mais rápido da fecundidade verificou-se na América Latina e
na Ásia, foi menos rápido no Norte de África e Médio Oriente e muito lentamente na África sub-sariana
(entre 1950 e 1995, passou de 6,5 para 5,5).
44
Nas sociedades “(...) onde o parentesco forma a base principal da organização social, a reprodução é
um meio necessário para quase todos os principais objectivos de vida. A salvação da alma, a
segurança na velhice, a produção de bens, a protecção do lar, e a garantia de afecto podem depender
da presença, ajuda e apoio da prole. (...) Esta articulação do status parental com os restantes status de
um indivíduo é o supremo estímulo da fertilidade.” Davis 1949: 561, citado por Weeks, 1996: 134.
45
Nos países menos desenvolvidos a taxa de alfabetização das mulheres é de 61%, sendo nos países
africanos que se registam as taxas mais baixas com 46%, idem. “Os demógrafos e os sociólogos
verificaram que mais educação para as mulheres e as raparigas está relacionada com melhorias na
saúde e com a descida das taxas de fecundidade.” FNUAP, 1999: 20.
46
350 milhões de mulheres, quase um terço das mulheres de países menos desenvolvidos, não tem
ainda acesso aos diversos meios de planeamento familiar. FNUAP, 1999:2. A percentagem de
mulheres casadas que usam meios de contracepção modernos nos países menos desenvolvidos é de
37%, sendo na África a Sul do Sara onde a percentagem é menor com 18%. Idem.
52
________________________________
47
Entre 1940 e 1990, o uso da água quadruplicou. Population Reference Bureau (1999) More Than
Just Numbers.
48
O aumento da população reduziu a zona de cultivo de cereais por pessoa em 50%, desde 1950.
FNUAP, 1999: 27.
53
Acesso a cuidados
de saúde modernos
Valorização da criança
Melhores condições
Baixas habilitações sanitárias e
literárias da Mulher higiénicas
EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA
________________________________
49
Considerou-se a idade de 65 anos para delimitar os indivíduos idosos por ser, na maioria dos países,
a idade de entrada para a reforma. Consideram-se jovens, os indivíduos que tenham idades entre os 0
e os 14 anos. A população activa compreende os indivíduos entre os 15 e os 64 anos de idade.
50
Por explosão demográfica, entende-se o acelerado crescimento da população que se tem verificado
nos países menos desenvolvidos a partir de 1945, mas com maior significado a partir da década de 80.
56
________________________________
51
Número de óbitos de crianças com menos de um ano ocorrido durante um certo período de tempo,
normalmente o ano, referido ao número de nados-vivos do mesmo período (habitualmente número de
óbitos de crianças com menos de um ano por 1000 nados-vivos). INE (1999) Estatísticas
Demográficas, Lisboa, 1999.
52
Na década de 50, a esperança média de vida era de 45,1 anos para os homens e de 47,8 anos para
as mulheres. Na década de 90, era de 62,4 e 66,5 respectivamente. Em 2020, será de 70,2 para os
homens e de 74,9 para as mulheres. Houve um acréscimo de, cerca de, 18 anos em 50 anos. No
entanto, a esperança média de vida não é igual em todas as regiões do planeta. Assim, nos países
mais desenvolvidos a esperança média de vida é de 71,1 para os homens e de 78,7 para as mulheres,
nas regiões menos desenvolvidas é de 61,8 para os homens e de 65 para as mulheres.
Os ganhos do aumento da longevidade, poderão vir a ser reduzidos devido ao número crescente de
indivíduos afectados com o HIV/SIDA, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
53
Note-se que, segundo as projecções realizadas pelas Nações Unidas para 2050, com base no
cenário médio, a Espanha terá a população mais envelhecida do mundo, em que a idade média será
de 47,4 anos e África terá a população mais jovem, com idade média de 30,7 anos.
A Espanha será o país mais envelhecido do mundo, com a idade média de 54,3 anos, em que para
cada indivíduo com menos de 15 anos existirão 3,6 com mais de 60 anos. De todos os países mais
envelhecidos, Portugal será “o mais jovem” com idade média de 50 anos.
A área mais jovem do mundo será a Faixa de Gaza, com a idade média de 26,9 anos, seguindo-se o
Burkina Faso, com 27,6 anos.
57
Baixa taxa da
Planeamento familiar e
mortalidade infantil
uso de contraceptivos
ENVELHECIMENTO DEMOGRÁFICO
4.3. Migrações
Foi a partir do século XVI que se deram os movimentos “(...) mais
espectaculares e aparentes, (...) as grandes migrações transoceânicas que
levaram ao povoamento por europeus da América, da África meridional, da
Austrália e da Nova Zelândia”.
________________________________
62
É, por exemplo, o caso do Japão que face ao envelhecimento da sua população e escassez de mão-
de-obra, se tem socorrido de estrangeiros. Entre 1985 e 1995 a população estrangeira aumentou 60%,
FNUAP, 1999:4.
63
Os migrantes enviam mais de 70 milhões de dólares para o seu país natal, sob a forma de remessas,
FNUAP, 1999:4.
64
O número de países com uma população migrante de 300.000 pessoas ou mais aumentou mais de
50%, entre 1965 e 1990, FNUAP, 1999:26.
65
Em meados dos anos 90, cerca de 145 milhões de indivíduos viviam fora dos países de origem, e
prevê-se que este número aumente entre 2 a 4 milhões por ano. Population Reference Bureau (1999)
World Population: More Than Just Numbers.
63
________________________________
66
Por refugiados entendem-se os indivíduos que são forçados a mudar de país ou região devido a
factores como: guerra, genocídio ou perseguições (políticas, religiosas). Nos anos 90 os países com
maior número de refugiados foram, Ruanda (1994) com 1.700.000, Iraque (1991) com 1.500.000 e
Somália (1991) com 1.000.000 idem.
67
Em 1990, do total da população migrante, a percentagem das mulheres foi de 48%. A maioria das
mulheres migrantes em busca de trabalho tende a concentrar-se em empregos menores, idem, ibidem.
64
Migrações-Síntese
Causas:
Ordem Económica:
• Desemprego;
• Baixos Salários;
• Subemprego;
CONSEQUÊNCIAS CONSEQUÊNCIAS
o Rejuvenescimento da população;
o Pressão demográfica e pressão na
prestação dos serviços; - Socio-política:
o Sentimentos de xenofobia e racismo;
o Fome;
o Políticas restritivas à imigração;
o Desemprego;
País de origem
o Pobreza;
Ordem económica:
o Tensões sociais.
o Remessas dos emigrantes;
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68
Índice Sintético da Fecundidade ou índice conjuntural da fecundidade ou soma dos nascimentos
reduzidos indica o número médio de filhos por mulher de uma geração de uma dada idade num ano
determinado.
Para que a substituição da geração seja assegurada é preciso que o número médio de filhos por
mulher seja pelo menos de dois (uma vez que existem dois parentes a substituir), Géhanne, 1995, cit.
por Torres, 1996:153.
69
________________________________
69
Segundo Maisons Laffitte uma das causas da baixa da taxa da natalidade em França foi o novo valor
atribuído à família e à criança: “A família começa então a organizar-se em torno da criança, a dar-lhe
uma importância que a faz sair do seu antigo anonimato, não sendo já possível perdê-la e substituí-la
sem grande desgosto, nem “repeti-la” demasiadas vezes – passa a ser considerado conveniente limitar
o número dos filhos para melhor cuidar deles”, Ariès, 1988: 12-13.
70
Políticas que preconizam a utilização de métodos anti-concepcionais como meio de combate à
ameaça de um excessivo crescimento populacional. Estas políticas têm a sua génese na doutrina
defendida por Malthus. Para o aprofundar destas matérias confira-se, Malthus, op. cit.
70
Explosão Envelhecimento
Demográfica Demográfica
5. Globalização económica
5.1. Introdução
Este capítulo apresenta os principais conceitos usados na análise dos
determinantes da globalização, assim como a moldura analítica básica
necessária para a compreensão das relações entre globalização,
desnacionalização e vulnerabilidade externa. O argumento central é que
o processo de globalização económica provoca relações mais complexas
e profundas de interdependência entre economias nacionais e, no caso
de alguns países, (Brasil e, basicamente, toda a América Latina) essas
relações levam à consolidação ou ao agravamento de uma situação de
vulnerabilidade externa.
A entrada de empresas de capital estrangeiro (ECE), com destaque para as
empresas transnacionais, representa uma menor capacidade de resistência a
factores desestabilizadores e choques externos, na medida em que a actuação
dessas empresas vem acompanhada de extraordinárias fontes internas de
poder e, principalmente, fontes externas de poder.
A globalização é, na realidade, um tema de múltiplas dimensões, que
dificultam significativamente a elaboração conceptual ou teórica (Baumann,
1995; Ianni, 1995).
Neste texto, um dos principais conceitos usado é o de investimento externo
directo (IED).
De um modo geral, o investimento externo directo refere-se a todo o fluxo
de capital estrangeiro destinado a uma empresa (residente) sobre a qual o
estrangeiro (não-residente) exerce controlo sobre a tomada de decisão.
A ECE é também referida, às vezes, como empresa internacional,
multinacional, transnacional ou, mais simplesmente, como empresa
estrangeira.
● interligação de administrações/direcções,
● conexões políticas locais,
● padrão ideológico hegemónico,
● influência do nacionalismo,
● conjuntura política,
● disponibilidade de formas alternativas de internacionalização da
produção,
● importância estratégica dos bens e serviços produzidos,
● potencialidade do mercado interno,
● controlo e uso dos meios de comunicação,
● níveis de alfabetização/educação/formação profissional do país
receptor,
● atitudes culturais,
● coerência da política governamental,
● natureza das políticas públicas (comercial, cambial, financeira),
● institucionalidade (aparelho repressivo/coercivo do Estado),
● grau de desnacionalização, e vulnerabilidade externa do país
(Gonçalves, 1999, p.44).
Uma parte substantiva das fontes internas mencionadas também se
aplica ao caso das empresas privadas nacionais, particularmente aos
grandes grupos económicos nacionais. Por exemplo, num país no qual a
corrupção é difundida e encontrada em alguns sectores governamentais
(sabemos que não é difícil mencionar), qualquer sector, departamento ou
grupo do aparelho do Estado que tenta realizar uma política mais séria (ou
restritiva) relacionada às ECE pode ver o resultado dos seus esforços
prejudicado por qualquer “vazamento” que ocorra nos sectores corrompidos.
Isso ocorre quanto mais não seja pelo facto de que iniciativas e estímulos
reduzem-se quando os resultados não são alcançados nos termos das regras
claras do jogo. Naturalmente, práticas comerciais questionáveis (quando não
proibidas legalmente) podem ser usadas tanto pelas ECE como por grandes
grupos económicos nacionais (Gonçalves, 1999, p.45).
Quanto mais importantes forem os recursos da propriedade das ECE,
maior tende a ser a sua capacidade de usar diferentes métodos para
controlar mercados, criar poder económico e, consequentemente, poder
político. O maior volume de recursos também permite às ECE financiar
programas que objectivam o uso de métodos, legais e ilegais, para influenciar
o processo da tomada de não-decisão e o processo de tomada de decisão por
meio, por exemplo, da propaganda. Naturalmente, grandes grupos
económicos nacionais também têm essa vantagem de usar grandes
volumes de recursos financeiros e, portanto, gerar um extraordinário
potencial de poder. A origem da propriedade não é relevante nesse caso.
A especificidade das ECE está, de facto, nas fontes externas de poder.
Nesse caso, a origem da propriedade é de importância fundamental na
determinação do poder político específico de um agente económico – a
empresa de capital estrangeiro.
81
de produção fabricando cada parte dos bens nos países em que o custo
é menor. Os objectos perdem a relação de fidelidade com os
territórios de origem. A cultura é um processo de montagem
multinacional, uma articulação flexível de partes, uma colagem de
traços que qualquer cidadão de qualquer país, religião e ideologia
pode ler e utilizar (Clanclini: 1998).
O que diferencia a internacionalização da globalização é que no
tempo da internacionalização das culturas nacionais era possível não se
estar satisfeito com o que se possuía e ir procurá-lo noutro lugar. Mas a
maioria das mensagens e dos bens que consumíamos era gerada na
própria sociedade, e havia alfândegas estritas, leis que protegiam o que
se produzia em cada país. Agora o que se produz em todo o mundo está
aqui e é difícil saber o que é o próprio. A internacionalização foi uma
abertura das fronteiras geográficas de cada sociedade para
incorporar bens materiais e simbólicos das outras. A globalização
supõe uma interacção funcional de actividades económicas e
culturais dispersas, bens e serviços gerados por um sistema com
muitos centros, no qual é mais importante a velocidade com que se
percorre o mundo do que as posições geográficas a partir das quais
se está a agir.
Muito do que é feito actualmente nas artes é produzido e circula de
acordo com as regras das inovações e da obsolescência periódica, não
por causa do impulso experimentador, como no tempo das vanguardas,
mas sim por que as manifestações culturais foram submetidas aos
valores que “dinamizam” o mercado e a moda: o consumo
incessantemente renovado, a surpresa e o divertimento. Por razões
semelhantes a cultura política tornou-se errática: as decisões políticas
e económicas são tomadas em função das seduções imediatistas
do consumo, o livre comércio sem memória dos seus erros, a
importação desenfreada dos últimos modelos que nos faz cair, uma
e outra vez, como se cada uma fosse a primeira, nesse
consumismo.
A maneira neoliberal de fazer a globalização consiste em reduzir
empregos para reduzir custos, competindo entre empresas
transnacionais, cuja direcção tem origem a partir de um ponto
desconhecido, de modo que os interesses sindicais e nacionais
quse não podem ser exercidos. A consequência de tudo isto é que
mais de 40% da população das sociedades em “vias de
desenvolvimento” se encontra privada de trabalho estável e de
condições mínimas de segurança, que sobrevive nas aventuras também
globalizadas do comércio informal, da electrónica japonesa vendida junto
a roupas do sudeste asiático, junto a ervas esotéricas e artesanato local,
em volta dos sinais de trânsito: nesses vastos “subúrbios” que são os
centros históricos das grandes cidades, há poucas razões para se ficar
contente enquanto o que chega de toda a parte se oferece e se espalha
para que alguns possuam e imediatamente esqueçam.
Anexos
(Glossário)
A Globalização; a mundialização do capitalismo
Ocorrência simultânea de três processos, a saber: a expansão extraordinária dos
fluxos internacionais de bens, serviços e capitais; a competitividade e concorrência
nos mercados mundiais; e a maior integração entre os sistemas económicos.
Agregados Macroeconómicos
Grandezas económicas que quantificam as operações que todos os agentes de uma
economia efectuam durante um ano.
Neoliberalismo
Hegemonia nas esferas políticas e económica da maior liberdade para as forças de
mercado, menor intervenção do Estado, desregulamentação, privatização do
património público, preferência revelada pela propriedade privada, abertura para o
exterior, ênfase na competitividade internacional e menor compromisso com a
protecção social.
Exclusão Social
Grupos humanos que não têm acesso a bens, serviços e meios de produção (uso,
controlo e propriedade) que permitem a satisfação das necessidades básicas nas
dimensões económica, política, social, cultural e afectiva.
Política
Conjunto dos princípios e dos objectivos que servem de guia a tomadas de decisão
e que fornecem a base da planificação das actividades.
Estado
Instituição com o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um
determinado território ou núcleo do exercício do poder político onde as distintas
forças políticas resolvem os seus conflitos.
Nação
Grupo humano consciente de formar uma comunidade e partilhar uma comunhão de
interesses, necessidades, aspirações, cultura e tradições (em que a identidade de
língua, de religião ou de raça são importantes, mas não imprescindíveis), ligado a
um território claramente demarcado, tendo um passado e um projecto comuns e a
exigência do direito de se governar.
Estado Nacional
Tipo de Estado que possui o monopólio do que afirma ser o uso legítimo da força
dentro de um território demarcado, e que procura unir o povo submetido ao seu
governo por meio da homogeneização, criando uma cultura, símbolos e valores
comuns, revivendo tradições e mitos de origem ou, às vezes, inventando-os.
Nacionalismo
Sentimento de pertencer a uma comunidade cujos membros se identificam com um
conjunto de símbolos, crenças e estilos de vida e têm vontade de decidir sobre o seu
destino político comum. Pode ser também um patriotismo intelectualizado e arvorado
em doutrina política que faz da Nação um absoluto.
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Vulnerabilidade externa
Reduzida capacidade de resistência diante de pressões, choques ou factores
desestabilizadores.
Conferência de Bretton Woods
Conferência realizada na localidade norte-americana de Bretton Woods ainda no
decorrer da 2ª Guerra Mundial, entre os EUA e o Reino Unido, e que originou o
estabelecimento de um Sistema Monetário Internacional (FMI).
Fundo Monetário Internacional (FMI)
Fundo das Nações Unidas criado em 1944, na Conferência de Bretton Woods, e que
se tornou operacional a partir de 1947. Tem como objectivo promover a cooperação
monetária internacional e o crescimento do comércio internacional, e estabilizar a
variação cambial.
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE)
Organização internacional fundada em 1961 com o objectivo de promover o
desenvolvimento económico e o comércio mundial. Carecendo de poder decisório, a
OCDE é sobretudo um organismo de acompanhamento da evolução económica.
GATT
Conjunto de acordos de comércio internacional que têm como fim a abolição das
tarifas e das taxas aduaneiras entre países signatários.
Banco Mundial
Instituição especializada da ONU que elabora projectos para financiar o
desenvolvimento económico dos estados membros.
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91
Até há bem poucos anos, quando se discutia sobre educação quase todos os
interlocutores se referiam ao que hoje se chama formação inicial. Estava-se
numa época em que o ciclo de vida do conhecimento, isto é, o tempo que
mediava entre o momento da sua criação e o da sua morte, era longo,
podendo mesmo exceder o ciclo de vida humano.
6.2.2. Os produtos
A diferente situação em que os diversos sistemas de ensino se
encontram relativamente aos recursos disponíveis e às exigências a que
têm de fazer face, naturalmente afecta os seus produtos, que se
98
________________________________
74
Como atrás se fez referência, qualquer sistema educativo deve ter como finalidades, a educação
para a adaptação e gestão da mudança, para o desenvolvimento, para a solidariedade, para a
democracia e para a autonomia.
102
7.1. Racismo
O conceito de racismo é uma construção recente. No entanto, o termo “raça”
começou a ser utilizado a partir de finais do século XV e a Europa assistiu ao
longo dos séculos XVIII e XIX ao impulso da produção científica e discussão
política em torno da “raça”. A diferenciação entre “raças superiores” e “raças
inferiores” e a legitimação da supremacia das primeiras face a estas designa-
se por racialismo. O racialismo designa, portanto, a vertente ideológica do
racismo.
O domínio que os colonizadores Europeus detinham sobre os países e povos
por eles colonizados, não só económico como também científico, conduziu a
explicações científicas marcadamente etno e eurocêntricas, traduzidas em
representações inferiorizantes dos “outros”, sendo a grande arma que
legitimava os abusos da colonização e a própria escravatura. É assim que o
projecto ideológico de construção de uma nação alemã, unificada sob a
pertença ancestral a uma “raça ariana”, era sustentado pela classificação
convergente de “raça” e nação, justificando assim a exclusão da “raça judia”.
7.3. Sexismo
As consequências dos preconceitos sexistas são diferentes para os dois
sexos: as mulheres são as suas maiores vítimas pois dos estereótipos
resultam discriminações e uma posição de subordinação face aos homens. O
termo sexismo é, assim, utilizado mais frequentemente quando nos
reportamos às desigualdades sofridas pelas mulheres.
A análise da desigualdade e da discriminação das mulheres face aos homens
gira em torno de três grandes temas:
• a natureza;
• a família;
• o trabalho.
113
FIM