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Ufes – Depto.

Ciências Sociais – Disciplina: INTRODUÇÃO ÁS CIÊNCIAS


SOCIAIS – CSO 02101 Sem 2023-2 – turma 1 – Arquitetura e Urbanismo –
Prof. Luiz Muramatsu – material postado no dia 03 de setembro de 2023

Resumo do Capítulo 2 – POSITIVISMO (pp. 37 – 62) – do livro: Ideologias e


Ciências Sociais - Michael Lowy. 19ª edição São Paulo: Cortez, 2010
1. As três ideias fundamentais do positivismo

 A sociedade humana é regulada por leis naturais ou por leis que tem todas as
características das leis naturais, invariáveis, independentes da vontade e da ação
humana. Na sociedade reina uma harmonia natural.
 Em consequência, os métodos e procedimentos para se conhecer a sociedade
humana são os mesmos que são utilizados para se conhecer a natureza. Se a
sociedade humana é regulada por leis de tipo natural, então, os métodos para
estudá-la são os mesmos utilizados para se estudar a natureza.
 Como consequência das duas ideias anteriores temos uma terceira ideia que
seria uma conclusão lógica: da mesma forma que as ciências da natureza são
ciências objetivas, neutras, livres de juízos de valor, de ideologias políticas,
sociais ou outras, as ciências sociais devem funcionar exatamente segundo este
modelo de objetividade científica.

2. História do positivismo: origem e desenvolvimento.

 Primeira fase: utópica e crítica. Representantes: Condorcet e Saint-Simon. Trata-


se de um positivismo utópico crítico herdeiro do pensamento iluminista. Crítica da
ordem feudal e do pensamento que a sustenta: a ideologia clerical. Critica o
monopólio do saber das classes dominantes do antigo regime – igreja e nobreza.
Proposta de um conhecimento baseado na razão e não em dogmas religiosos
(Condorcet). Luta contra os privilégios da nobreza (Saint-Simon). Analogia da
sociedade com a natureza (Saint-Simon). Fase em que a burguesia ainda não se
encontra no poder.
 Segunda fase: ideológica e conservadora. Representantes: Comte e Durkheim.
Trata-se de um positivismo conservador e defensor da ordem burguesa
estabelecida. Se o positivismo da primeira fase era crítico em relação a ordem
feudal este da segunda fase é defensor da ordem burguesa. Da mesma forma
que o positivismo da primeira fase, propõe um conhecimento livre de juízos de
valor, um conhecimento objetivo, neutro, livre de ideologias. Porém, agora trata-
se de criticar as correntes de pensamento que propõe a mudança da ordem
burguesa correntes estas consideradas ideológicas e não científicas, tais como o
pensamento socialista ou marxista. Tanto Comte como Durkheim propõe uma
ciência social que tenha como modelo as ciências naturais, tendo em vista que a
sociedade é regulada por leis naturais.

3. Critica de Michael Löwy ao positivismo da segunda fase


 Proposta de Durkheim: o sociólogo deve se comportar como um cientista
natural, tal como o físico ou o químico. Ser objetivo, fazer calar as paixões, não
se envolver politicamente.
 Segundo Löwy a proposta de objetividade científica nas ciências sociais
proposta por Durkheim e os positivistas se assemelha a estória do Barão de
Münchhausen. Da mesma forma que o Barão saiu do pantanal puxando-se
pelos próprios cabelos, igualmente o positivismo propõe eliminar as ideologias
por esforço próprio, na pura boa intenção.
 Por que este método não funciona? O preconceito não é reconhecido enquanto
tal pelo preconceituoso. O preconceito é visto pelo preconceituoso como algo
evidente, óbvio, natural.
 Há apenas um aspecto “positivo” no positivismo: a intenção sincera de que
chegar a um conhecimento verdadeiro e para isso se esforçar em eliminar os
juízos de valor, os preconceitos, as ideologias, as prenoções. Mas apenas a boa
intenção não ajuda muito, não basta para se ter um conhecimento verdadeiro.

4. Max Weber: a sua proposta para superar o problema da objetividade: entre


o historicismo e o positivismo.

 Resumo da proposta weberiana: a investigação nas ciências sociais pode ser


dividida em duas etapas: a pergunta inicial da investigação que seria o ponto de
partida da pesquisa isto é, a escolha do que pesquisar e o ponto de chegada que
seria o próprio processo de investigação e o resultado dela, isto é, a resposta em
relação ao que foi perguntado no início. Para Weber, o ponto de partida depende
de valores os quais vão fornecer a problemática que é o ponto de partida da
pesquisa. Neste sentido, ele, Weber, é anti-positivista, contra o positivismo.
Porém, o processo para se chegar à resposta e a própria resposta devem
obedecer a procedimentos livres de juízos de valor, neutros, universais,
conforme prega o positivismo. Neste sentido, Weber, embora não seja
considerado um positivista, acaba incorrendo no mesmo erro dos positivistas,
qual seja, de achar que é possível se livrar dos juízos de valor no processo de
investigação em ciências sociais valendo apenas da boa vontade e do esforço
próprio do pesquisador.
 Influência de Rickert no debate da objetividade nas ciências sociais e na
solução de Weber. Para Rickert a realidade é infinita. A questão é transformar a
realidade infinita em finita. Para isso existem dois métodos: o nomotético (das
ciências naturais) e o idiográfico (as ciências sociais). Para Rickert nas ciências
cujo método é o ideográfico a grande questão é como fazer a seleção e a
escolha do que pesquisar nesta realidade social infinita. Assim, para Rickert
toda ciência social implica necessariamente certos valores, que vão apontar o
que é importante a ser estudado e o que não é importante. Isto é, estes valores é
que vão fazer a seleção do que é relevante ser estudado. Como saber se este
fato é relevante para ser pesquisado e este outro não é relevante? Para Rickert,
os valores que servem como base para esta distinção (relevante ou não
relevante), são universais, aceitos por todos. Por exemplo, se aceitarmos as
colocações de Rickert, devemos concordar que o fato histórico mais importante
no ano de 2001 foi o ataque terrorista às torres gêmeas (World Trade Center)
em Nova York. A diferença entre Rickert e Weber é que este último considera
que os valores que vão fazer a escolha do que pesquisar não são universais.
Estes valores são definidos de acordo com cada cultura, cada país, cada
religião. Assim, do ponto de vista de Weber este ataque terrorista pode ter sido o
fato histórico mais relevante para os americanos mas não para o mundo todo.
Naquele ano, outros fatos para outras culturas e países podem ter sido mais
relevantes. Por exemplo, se 11 de setembro é lembrado e relembrado pelos
americanos como a data do ataque terrorista, para os chilenos 11 de setembro é
lembrado como o dia em que Salvador Allende foi deposto por um golpe militar
em 1973 com participação oculta da CIA.

 Weber contra o chamado “Crepúsculo dos Deuses” nas Ciências Sociais.


Para Weber nas ciências sociais diferente das ciências naturais os valores, as
prenoções, as visões de mundo não vão desaparecer como desapareceram nas
ciências naturais (nestas os “deuses” entendidos como valores, ideologias vão
desaparecendo como acontece com o sol no seu crepúsculo). Ele crítica
inclusive a proposta positivista que entende que este crepúsculo já acontece nas
ciências sociais através da adoção de métodos das ciências naturais como a
biologia penetrando no campo das ciências sociais.

 Três criticas de Löwy em relação a proposta de Weber quanto ao problema


da objetividade. 1. Weber vê os valores que vão fornecer a problemática
relacionados apenas a culturas nacionais e religiosas e não às classes sociais.
2. Weber não percebe que o ponto de partida (a pergunta) já define não só o
próprio procedimento como também o ponto de chegada ( a resposta). 3. Para
Weber não existe uma relação lógica entre valores e fatos. De fato, não existe
uma relação lógica, mas existe uma relação sociológica. Weber cai no mesmo
erro dos positivistas, qual seja, de achar de a objetividade e a neutralidade do
conhecimento em ciências sociais se faz através do esforço próprio do
pesquisador. Depois de um tremendo esforço por parte de Weber para resolver
o problema da objetividade, ele chega a uma solução pouco convincente,
segundo Löwy

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