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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E SAÚDE

(NUTES/UFRJ)

Disciplina: Teorias do Conhecimento Científico

Atividade da aula de 31 de outubro de 2023 – Positivismo e Marxismo

Discentes: Elaine Santana e Élida Ribeiro.

1. Quais são as principais ideias do positivismo?

O autor chama o Positivismo de doutrina da neutralidade axiológica (valorativa) do saber, de


base eminentemente empirista. Um princípio importante é o determinismo e a crença na harmonia
natural; um segundo princípio de que as ciências sociais podem ser estudadas por métodos similares
às das ciências naturais; um terceiro princípio é a crença na possibilidade de observação e
explicação dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou ideologias,
descartando previamente todas as prenoções e preconceitos (p. 18). O positivismo nega, portanto, o
condicionamento histórico-social do conhecimento. S. Simon é o primeiro a nomear, empregar o
termo positivo.

2. A que se deve a mudança de orientação do positivismo, que abandona a visão crítica,


utópica, negativa e revolucionária trilhada por Saint-Simon e passa a percorrer o caminho dos
conservadores e da legitimação da ordem estabelecida defendida por Auguste Comte?

Inicialmente, com Condorcet e Saint-Simon, o positivismo era considerado uma Utopia


crítico-revolucionária, partindo da burguesia antiabsolutista e descendendo do iluminismo. Alegava-
se que a sociedade que não mais se encontrava nas condições orgânicas que puderam justificar o
reino da opressão1 (p. 22). Assim, o positivismo se propunha a desenvolver uma Ciência natural da
sociedade ou “matemática social”, baseada no cálculo das probabilidades. Nesse período, seu
objetivo era emancipar o conhecimento social dos “interesses e paixões” das classes dominantes (p.
20). Escapava a essa concepção a autocrítica, no sentido de reconhecer que também estavam
submetidos a interesses sociais – “Fé ingenua do pensador iluminista” (p. 21). Em seguida, no
século XIX, Comte insere no positivismo a ideologia conservadora, identificada com a ordem
estabelecida (industrial/burguesa). Tratava-se de um viés conservador não no sentido de restaurar o
absolutismo, mas de instaurar uma Nova Ordem, a Industrial, contendo o progresso. Apesar de ter
sido discípulo de Condorcet e de S. Simon, Comte alega que seu discurso carregava uma carga

1 S. Simon, “De Ia physiologie sociale appliquée à ram élioration des institutions sociales” apud LÖWY, 1985.
crítica e “negativa” que seria ultrapassada e perigosa (p. 22). Comte se refere a Preconceitos
Revolucionários de Condorcet, que o “impediriam de ver leis sociológicas” (p. 22-23).

3. Quem formulou a concepção do positivismo como ideologia conservadora foi Auguste


Comte, mas foi graças ao seu discípulo Émile Dukheim que ela se transformou realmente na
perspectiva básica da sociologia. Descreva de que maneira.

Durkheim é considerado o Pai da sociologia positivista como disciplina científica. Sua


abordagem consolidou o paradigma organicista, segundo a sociedade pode ser comparada a um
Sistema de órgãos, em que cada indivíduo ou grupo social ocupa seu lugar de maneira natural,
fenômeno esse regido por leis – o que é bastante conveniente para a manutenção da ordem
capitalista. Assim, como intenta-se equiparar as ciências sociais com as ciências naturais, os
privilégios sociais e econômicos passam a ser considerados fenômenos naturais. Existe, dessa
maneira, uma tendência a um certo darwinismo social, em que os mais aptos naturalmente iriam se
destacar em detrimento dos demais. Segundo esse paradigma, o ser humano encontra sua felicidade
ao realizar sua natureza, sendo suas necessidades relacionadas com seus meios. “Assim, no
organismo cada órgão não reclama senão uma quantidade de alimentos proporcional à sua
dignidade.”2

4. Qual a receita clássica do positivismo para resolver o problema da objetividade científica na


ciência social?
A partir do axioma da homogeneidade epistemológica entre as ciências naturais e sociais,
alega-se a possibilidade de atingir um conhecimento neutro, objetivo e imparcial e, para tanto, é
necessária a “boa vontade” dos pesquisadores. Dessa maneira, os pesquisadores deveriam ignorar os
conflitos ideológicos, fazendo “calar as paixões e os preconceitos” e “afastar sistematicamente
todas as prenoções”3. Ou seja, para resolver o problema da objetividade científica, acreditava-se ser
possível despir-se de todos os preconceitos, prenoções, crenças, valores e carga cultural e, dessa
maneira, realizar análises imparciais.

5. Por que se afirma que a obra de Rickert teve grande influência como crítica ao método
positivista?
Para Rickert, as ciências sociais ou da cultura realizam, necessariamente, escolhas – um
critério de seletividade (p. 35) –, baseadas em valores. Ou seja, questiona a possibilidade de despir-
se de todas as prenoções. Por outro lado, postula a existência de valores universais, que
assegurariam a possibilidade de haver objetividade e universalidade nas ciências históricas.
Portanto, Rickert dirige uma desassociação entre os critérios necessários às ciências naturais e os
necessários às ciências sociais – desestabilizando o princípio positivista da homogeneidade
epistemológica.

2 E. Durkheim, La division du travail social, PUF, Paris, 1960, p. 157-158, 369-370, sublinhado por nós ML apud
LÖWY, 1985, p. 28.
3 E. Durkheim, Les règles de la méthode..., p. 140, 144, 31, sublinhado por nós ML apud LÖWY, 1985, p. 30.
Referências Bibliográficas

LÖWY, Michael [1985]. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen:


marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. trad. Juarez Guimarães e Suzanne Felicie
Léwy. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

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