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Teorias da Sociologia Clássica e

Contemporânea

Conteudista
Prof.ª Dra. Vivian Fiori

Revisão Textual
Aline de Fátima Camargo da Silva
Sumário

Objetivos da Unidade............................................................................................................ 3

Introdução.............................................................................................................................. 4

O Positivismo de Auguste Comte...................................................................................... 4

Émile Durkheim e os Fatos Sociais..................................................................................... 9

Karl Marx e Friedrich Engels............................................................................................... 11

Max Weber e a Ação Social................................................................................................ 13

A Sociologia Contemporânea............................................................................................15

Em Síntese............................................................................................................................. 21

Material Complementar.................................................................................................... 22

Referências........................................................................................................................... 23
Objetivos da Unidade

• Analisar algumas teorias clássicas e contemporâneas sobre a Sociologia;

• Discutir alguns teóricos e suas obras acerca de questões sociais e sua relação
com aspectos da ideologia, da política, da economia e da cultura;

• Compreender as contribuições de autores importantes para os estudos socioló-


gicos, explorando suas ideias, conceitos e concepções teórico-metodológicas.

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3
VOCÊ SABE RESPONDER?

De que forma as teorias sociológicas clássicas e contemporâneas analisam as inte-


rações entre questões sociais, ideológicas, políticas, econômicas e culturais?

Introdução
A Sociologia, assim como outras Ciências Humanas, passou por transformações,
desenvolvendo-se como campo de conhecimento mediante obras de diferentes au-
tores, proporcionando novas maneiras de ler e compreender a sociedade.

Nesta Unidade, vamos tratar um pouco de alguns autores que tiveram importância para
os estudos da Sociologia, suas ideias, conceitos e concepções teórico-metodológicas.

O Positivismo de Auguste Comte


Auguste Comte (1798-1857) é considerado por muitos como o formulador e pai da
Sociologia por ter sistematizado esse conhecimento sobre a sociedade, propondo
um método para analisá-la. Formado em Física, Comte procurou estudar a socieda-
de com objetividade e rigor metodológico, utilizando o método que ficou conhecido
como Positivismo.

O Positivismo é um método, uma forma de compreender, analisar e explicar a


realidade. O termo foi cunhado por Saint Simon, mas um dos precursores e prin-
cipais autores do Positivismo é Auguste Comte, que escreveu a obra Curso de
Filosofia Positiva.

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Figura 1 – August Comte “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: a figura é um retrato em preto e branco de August Comte, ele é representado em uma pose
lateral, destacando seu rosto e expressões faciais. Comte é retratado vestindo trajes típicos da época, como um
terno formal. Seu olhar é focado e expressivo. Fim da descrição.

Sua proposta de método não era específica da Sociologia, mas, segundo a sua con-
cepção, o Positivismo serviria para analisar todas as ciências, fossem elas humanas,
naturais ou físicas.

Importante
O Positivismo influenciou várias ciências e baseava-se princi-
palmente na concepção de que, qualquer que seja a ciência, é
fundamental o estudo a partir da aparência dos fenômenos. Por
meio da aparência e da observação do pesquisador, chega-se à
explicação da realidade, podendo, ainda, mediante essa obser-
vação e interpretação, realizar classificações.

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O progresso do espírito humano em relação ao conhecimento, para Auguste Com-
te, passaria por três fases, a saber:

Primeira fase

A primeira, um estado teológico, no qual o homem procurava explicar a


realidade por meio das crenças e religiões. Para o autor, nessa fase, havia
três etapas também: primeiro o fetichismo; depois o politeísmo, com a
crença em vários deuses; e, por fim, o monoteísmo com a crença em
apenas um Deus.

Segunda fase

Numa segunda etapa de evolução, o homem, por meio da concepção filo-


sófica chamada metafísica, procura explicar a natureza íntima das coisas,
sua origem e destinos últimos, bem como a maneira pela qual são produ-
zidas, mas, para o autor, a metafísica ficava muito distante da realidade,
questionando o mundo, sem, no entanto, ter respostas que explicariam a
sua existência.

Terceira fase

Por isso, o autor propõe que o conhecimento chegue ao terceiro estágio,


chamado por ele de “estado positivo”, no qual advém o nome Positivismo.

Portanto, no estado positivo é fundamental subordinar a imaginação mediante a


argumentação e observação. A observação dos fenômenos para o autor, nesse caso,
é essencial. Conforme ele próprio afirma:

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A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos
fenômenos (procedimento teológico ou metafísico e torna-se pesquisa
de suas leis; entendidos como relações constantes entre fenômenos
observáveis Este sentido lembra a tendência constante do verdadeiro
espírito filosófico a obter em toda parte o grau de precisão compatível
com a natureza dos fenômenos e conforme as exigências de nossas
verdadeiras necessidades; enquanto a antiga maneira de filosofar con-
duzia necessariamente a opiniões vagas, comportando apenas a indis-
pensável disciplina, baseada numa repressão permanente e apoiada
numa autoridade sobrenatural.

Fonte: Comte, 1978, p. 62

Dessa forma, aquilo que se observa é passível de ser descrito, obtendo valor cientí-
fico para o positivismo. A aparência dos fenômenos é primordial, pois só pode ser
descrito aquilo que todos podem ver, mas, para ir além do senso comum, nesse
caso, é necessário se fundamentar por uma teoria, cuja se distancie de práticas me-
tafísicas. É preciso ser objetivo, positivo!

Comte era ligado aos interesses do Estado Nacional, do liberalismo capitalista, daí
sua concepção de Sociologia – da ordem e progresso –, A moral deveria estar pre-
sente na política e na economia da sociedade para se alcançar a ordem e o progres-
so. Era necessário, segundo ele, buscar a “ordem e o equilíbrio social” mediante o
conhecimento científico – um sistema cuja ordem imitaria a própria natureza.

Como explica a pesquisadora sobre o autor e a questão da moral:

Na política, a moral despertaria nos súditos sentimentos de obediência e


sujeição e, nos governadores, responsabilidade no exercício da autorida-
de. Na economia, a moral tornaria os ricos perfeitos administradores de
seus bens e os pobres satisfeitos com sua posição social, e todos colabo-
rariam “para a prosperidade, grandeza e realização da humanidade.

Fonte: Chinazzo, 2013, p. 106.

Observe que a tal ordem dependeria dos mais pobres aceitarem sua condição
social e serem obedientes. Daí, o apoio explícito do autor ao governo da época e ao
liberalismo econômico.

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Auguste Comte
Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857), conhecido como
Auguste Comte nasceu em Montpellier, França. Foi um filósofo, e é consi-
derado o fundador da Sociologia e um dos principais autores do Positivis-
mo. O Positivismo influenciou várias ciências e baseava-se principalmente
na concepção de que, qualquer que seja a ciência, é fundamental o estudo a
partir da aparência dos fenômenos. Por meio da aparência e da observação
do pesquisador, chega-se à explicação da realidade, podendo, ainda, me-
diante essa observação e interpretação, realizar classificações. Assim, no
Positivismo, parte-se do princípio que o conhecimento tem de ter uma base
objetiva, fundada a partir da observação e de uma teoria que possa expli-
cá-la. Nesse sentido, a observação e a descrição se tornam seus principais
procedimentos metodológicos.

Embora tenha se tornado referência para várias ciências e importante para a siste-
matização da Sociologia, diversos autores criticam o método positivista e a visão do
autor a respeito da sociedade. A principal crítica a Comte é que, para ele, a socieda-
de evoluía de forma mecânica e natural, saindo de uma situação inicial e progredin-
do como num processo natural, consistindo, portanto, numa “naturalização” das
estruturas sociais vigentes. Conforme explica Comte sobre a Sociologia, chamada
por ele inicialmente de Física Social:

Entendo por física social a ciência que tem como projeto próprio o estu-
do dos fenômenos sociais, considerados com o mesmo espírito que os
fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é, como
submetidos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta é o objetivo espe-
cial das suas investigações. Assim, propõe-se explicar diretamente com
a máxima precisão possível, o grande fenômeno do desenvolvimento da
espécie humana visto sob todas as suas partes essenciais; isto é, desco-
brir através de que encadeado necessário de transformações sucessivas
é que o gênero humano partindo de um estado ligeiramente superior aos
das sociedades dos grandes símios foi gradualmente conduzido ao ponto
onde hoje se encontra na Europa civilizada.

Fonte: Comte apud Chinazzo, 2013, p. 105

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Nessa citação do próprio autor, observa-se que ele compara a Sociologia com as
outras ciências físicas e naturais, bem como coloca que o homem evoluiu chegando
até a civilização europeia. A concepção de Comte é que a sociedade é regulada por
leis naturais, assim como os fenômenos da natureza, da Física, da Química etc.

Figura 2 – Química
Fonte: Freepik

Essa visão foi muito criticada por vários pesquisadores, pois o homem é um ser que,
em princípio, tem consciência, cultura, pensa, tem discernimento, diferentemente
dos aspectos físicos e naturais. Por isso, comparar a sociedade a uma ordem natural
não é adequado, assim como a comparação de estágios de evolução, como se as
sociedades mais simples fossem mais atrasadas do que a europeia.

Émile Durkheim e os Fatos Sociais


De origem francesa, Émile Durkheim (1858-1917) foi um importante autor para a
elaboração de teorias das Ciências Sociais, por isso, para alguns pesquisadores, ele é
o principal expoente da sistematização da Sociologia e sua relação com o meio aca-
dêmico, haja vista que foi professor de Sociologia. Suas obras As Regras do Método
Sociológico e Divisão do Trabalho Social foram fundamentais para trazer à tona as
questões sociais mediante abordagem teórica e acadêmica.

9
Importante
Segundo esse autor, o objeto de estudo da Sociologia seriam
os “fatos sociais”, que de acordo com esta teoria não partem
da vontade do indivíduo, mas sim da sociedade. Quando nas-
cemos, já existem normas sociais que ajudam a nos conduzir.
Essas normas foram criadas e elaboradas ao longo do tempo
por uma determinada sociedade.

Assim, os fatos sociais podem ser um hábito social; o conjunto das leis; o sistema
monetário; as religiões; as normas em geral. Esses fatos sociais criam uma consci-
ência coletiva sobre como agir em sociedade, já que de forma coercitiva, os fatos
chegam ao indivíduo por meio das normas que a sociedade impõe a todos. Como
afirma Durkheim (2007):

Isso é sobretudo evidente nas crenças e práticas que nos são transmitidas
inteiramente prontas pelas gerações anteriores; recebemo-las e adotá-las
porque, sendo ao mesmo tempo uma obra coletiva e uma obra secular,
elas estão investidas de uma particular autoridade que a educação nos
ensinou a reconhecer e a respeitar. Ora, cumpre assinalar que a imensa
maioria dos fenômenos sociais nos chega dessa forma. Mas, ainda que
se deva, em parte, à nossa colaboração direta, o fato social é da mesma
natureza. Um sentimento coletivo que irrompe numa assembleia não ex-
prime simplesmente o que havia de comum entre todos os sentimentos
individuais. Ele é algo completamente distinto, conforme mostramos.

Fonte: Durkheim, 2007, p. 9

Como demonstra a sua afirmação, por intermédio de nossa vivência diária e da edu-
cação, as pessoas aprendem e são influenciadas pela sociedade em que vivem. Des-
sa maneira, para o autor, cada um tem um papel a desempenhar na sociedade uma
função, levando ao conceito de “divisão do trabalho social” no qual, segundo sua
visão, todos têm direitos e deveres, e deve-se buscar a solidariedade social orgâni-
ca, em que todos busquem em sua função manter o todo para o avanço de toda a
sociedade.

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Karl Marx e Friedrich Engels
Se, para o Positivismo, a nova sociedade capitalista precisava de ordem social para
progredir, na visão de Marx e Engels, tal ordem capitalista precisava ser contestada
e analisada pormenorizadamente.

Com a obra de 1848 Manifesto do Partido Comunista e O Capital, Marx e Engels


lançaram luz sobre a questão do capitalismo e do modo de produção capitalista,
criando uma teoria que ficou conhecida como Marxismo.

Figura 3 – Friedrich Engels e Karl Marx


Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: a figura é uma montagem que apresenta duas fotos lado a lado. Na foto da direita, está
Friedrich Engels, retratado em preto e branco. Ele é mostrado com uma barba densa e está vestindo um terno
formal. Sua expressão é séria e concentrada. Na foto da esquerda, está Karl Marx, retratado em cores. Assim
como Engels, ele também possui uma barba e está vestindo um terno formal. As cores utilizadas na foto desta-
cam os detalhes faciais de Marx, como a cor da pele, cabelo e olhos. Fim da descrição.

Para essa análise, os referidos autores propõem o uso do método denominado de


materialismo histórico e dialético, buscando entender a sociedade como processo
histórico, que vai sendo construído com inúmeras contradições.

Para a lógica dialética, existe um processo que é sempre um ir e vir, uma luta de
forças opostas de diferentes formas e níveis de poder. Alguns autores são conside-
rados importantes por terem discutido tal método, entre eles, Friedrich Hegel, Karl
Marx e Friedrich Engels, Henri Lefebvre e Jean Paul Sartre – ainda que, com algumas
premissas diferentes.

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Marx e Engels (2002) propõem a necessidade de tratar o homem em sua vida real, envol-
vido em processos da existência real, da sua forma de vida, de seu trabalho. Consequente-
mente, a busca desse homem concreto é fundamental no entendimento desse discurso. Os
autores explicam:

[...] partimos dos homens em sua atividade real, é a partir de seu processo
de vida real que representamos também o desenvolvimento dos reflexos
e das repercussões ideológicas desse processo vital.

Fonte: Marx; Engels, 2002, p. 19

Marx, sobretudo, com o conjunto de livros conhecido como O Capital, almeja explicar o
funcionamento da economia no modo de produção capitalista, no sistema produtor de
mercadorias, evidenciando como a sociedade industrial gerou enormes desigualdades, ex-
ploração do trabalho e criou especificidades nas formas de trabalho. Afrânio Mendes Catani
(1995) explica o que seria o modo de produção capitalista:

Por meio de produção entende-se tanto o modo pelo qual os meios ne-
cessários à produção são apropriados, quanto as relações que se esta-
belecem entre os homens a partir de suas vinculações ao processo de
produção. Por esta perspectiva, capitalismo significa não apenas um
sistema de produção de mercadorias, como também um determinado
sistema no qual a força de trabalho se transforma em mercadoria e se
coloca no mercado como qualquer objeto de troca.

Fonte: Catani, 1995, p. 8

A proposta de Marx preconiza que o homem deve ser estudado, em sua organização
social, pelas formas de trabalho, dos meios de produção – no caso da sociedade
contemporânea, como parte do sistema capitalista e suas formas de relações so-
ciais. Mediante os modos de produção seria possível desvendar as características de
uma sociedade.

No caso do capitalismo, uma sociedade cuja base seria a luta de classes – a bur-
guesia (donos dos meios de produção) e o proletariado (operários), sendo que a
existência das classes sociais tem relação intrínseca com a propriedade privada.

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Max Weber e a Ação Social
​ ax Weber (1864-1920), considerado um dos mais importantes pensadores do final
M
do século XIX, foi um sociólogo alemão é considerado um importante pensador do
final do século XIX, que fez várias contribuições para estudos da sociedade, caso da
relação entre religião e organização social, burocracia e estrutura social.

O período em que viveu Max Weber foi de intensas transformações na Alemanha


e na Europa, com a unificação e criação do Estado da Alemanha (1871), bem como
pela sua transição tardia no processo de colonização e industrialização.

Alguns de seus trabalhos versaram acerca da relação da religião com a ética do tra-
balho e da economia. Tratou das religiões e filosofias asiáticas – caso do confucio-
nismo na China – bem como da ética Protestante e sua relação com o capitalismo,
seu trabalho mais conhecido.

A Ética Protestante, obra de Max Weber


(1864-1920) “A ética protestante e o espí-
rito do capitalismo” retrata a existência de
um comportamento ético acerca da acu-
mulação de riquezas. Esse modo de pensar,
de acordo com o autor, teria surgido junta-
mente com a propagação do protestantis-
mo, nas nações anglo-saxônicas e do norte
da Europa. Para Weber, a economia tradi-
cional encarava o trabalho apenas como um
fator necessário para sobrevivência, e não
como valor em si. Já a “ética protestante”,
considera que a recompensa material será
dada àqueles que tiverem méritos durante
sua existência, ou seja, que tenham traba-
lhado arduamente para obter êxito. Essa
visão, segundo o autor, favoreceu o desen-
volvimento do sistema capitalista, visto que
a riqueza passou a ser considerada fruto do
trabalho, qual seja, os méritos do trabalho
árduo e da dedicação levam à prosperidade
do indivíduo.

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O objetivo da Sociologia para Weber é a compreensão da ação social empreendida
pelos agentes sociais. Tais ações sociais devem ter um sentido (não no aspecto de
ser bom ou ruim), podendo ter uma racionalidade ou ser feita motivada por uma
emoção (ação afetiva), pela tradição (dos costumes sociais), entre outros, eviden-
ciando as causas e as consequências dessa ação.

Trocando Ideias
Por exemplo, uma empresa demite um funcionário. Tal ação so-
cial é realizada no sentido da racionalidade econômica e admi-
nistrativa do agente social (nesse caso, o empresário); mas, de
outro lado, quais seriam os efeitos disso na vida do empregado?

Para Weber, o sociólogo ou cientista social deve buscar compreender as ações so-
ciais produzidas pela ação humana, buscando identificar as instâncias que promo-
vem tal ação, sejam políticas, econômicas ou religiosas, verificando os motivos e os
efeitos da ação. Nem sempre os efeitos são os esperados pelo agente social que
dá início à ação, daí a importância do cientista social em estudar essas relações. Em
relação à forma que um cientista social deve estudar, Weber (1999) comenta:

A ciência social que nós pretendemos praticar é uma ciência da realidade.


Procuramos compreender a realidade da vida que nos rodeia e na qual
encontramos situados naquilo que tem de específico; por um lado, as
conexões e a significação cultural das suas diversas manifestações na sua
configuração atual e, por outro lado, as causas pelas quais se desenvolvei
historicamente assim e não de outro modo. [...] Não há qualquer dúvida de
que o ponto de partida do interesse pelas ciências sociais reside na con-
figuração real e portanto individual da vida sociocultural que nos rodeia.

Fonte: Weber, 1999, p. 90

Logo, para o autor, é a partir da realidade vivida na sociedade que as Ciências So-
ciais devem almejar desvendar as ações sociais. Já as relações sociais, são situações
compartilhadas por várias pessoas ao mesmo tempo, estabelecendo esta relação.

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A Sociologia Contemporânea
A seguir, iremos delinear dois grupos de pensadores considerados contemporâneos,
os quais formaram escolas ou correntes das Ciências Sociais: a Escola de Chicago
e a Escola de Frankfurt.

A Escola de Chicago foi um movimento de professores da Universidade de Chicago,


formado, especialmente, por sociólogos apoiados pelo magnata Rockfeller, que reali-
zaram pesquisas sobre o espaço urbano nas cidades americanas, nas décadas de 1910
e 1920.

É relevante contextualizar que os Estados Unidos da América (EUA), no final do sé-


culo XIX e começo do XX, receberam inúmeros imigrantes de diferentes nacionali-
dades – muitos pobres moradores de cortiços que vinham tentar uma vida melhor
nos EUA. Havia problemas de gangues – cujos grupos, em geral, eram formados por
imigrantes, assim como problemas de moradia e a formação de comunidades se-
gregadas. Isso ocorreu também em Chicago, cidade industrializada do Meio-Norte
dos EUA, no qual o grupo criou essas pesquisas.

Figura 4 - Os homens desempregados enfileiram fora de uma cozinha da sopa da depressão


aberta em Chicago
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: a figura é uma fotografia em preto e branco tirada por Al Capone em 1931. Na imagem, é
possível ver uma fila de homens desempregados do lado de fora de uma cozinha da sopa em Chicago. Os homens
estão alinhados em uma fila ordenada, esperando sua vez para receber uma refeição. Eles usam roupas simples e
modestas, que mostram sinais de desgaste. Alguns dos homens estão com as mãos nos bolsos, enquanto outros
mantêm os braços cruzados ou seguram sacolas ou chapéus. A fotografia em preto e branco oferece variações to-
nais que destacam os contornos e as características dos rostos dos homens, assim como os detalhes do ambiente
ao redor. A falta de cores vivas cria um contraste entre as áreas mais claras e escuras da imagem. Fim da descrição.

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Assim, tornaram-se estudos de fenômenos sociológicos urbanos, da marginalidade
urbana, dos problemas de moradia, da imigração e da segregação social.

Escola de Chicago
A Escola de Chicago surge nos Estados Unidos, no Departamento de So-
ciologia da Universidade de Chicago, fundada por Albion W. Small em 1910.
O surgimento dessa escola tem ligação direta com a expansão urbana e
demográfica que a cidade de Chicago sofria como resposta ao desenvolvi-
mento industrial que era alvo. Assim, foram surgindo fenômenos sociais ur-
banos novos que acabaram se tornando objeto de pesquisa dos sociólogos
da Escola de Chicago. Esses estudos, acerca dos novos problemas sociais
emergentes, estimularam a construção de um arcabouço teórico-concei-
tual inédito, além da inauguração de novos métodos de investigação so-
ciológica. [...] Robert Ezra Park, um dos fundadores da Escola de Chicago
e autor de “A Cidade: Sugestões para a investigação do comportamento
humano”, publicado em 1916, foi aluno de Simmel enquanto esteve na Eu-
ropa. Afirmava ser fundamental uma pesquisa voltada para o urbano para
que surgissem respostas que ajudariam a compreender melhor a cidade
e os seus problemas. A cidade, na visão de Park, tem aspectos técnicos e
dimensões morais que influenciam os seus habitantes. Park estuda a cidade
a partir de uma Ecologia Humana, que leva em consideração os indivíduos
inseridos no seu meio social urbano e busca compreender qual relação o
espaço físico e as relações sociais mantêm com o modo e estilo de vida dos
indivíduos. A cidade passa, assim, a ser vista como um laboratório social, e
as análises sociológicas da cidade, levantamento de dados e informações
sobre os modos de vida urbana se dão pelo método empírico de fazer pes-
quisa (SANTOS, 2013).

Já a chamada “Escola de Frankfurt”, era formada por um grupo de pensadores so-


ciais alemães, que no início do século XX, criou uma teoria crítica da sociedade. En-
tre outros, esse grupo de autores era formado por Theodor Adorno, Max Horkheimer,
Herbert Marcuse e Walter Benjamin.

Para esses autores, a ciência não era neutra, e havia uma massificação, realizada
principalmente pela indústria cultural, que ampliava a alienação do homem. O perío-
do em que viveram no começo do século XX, passou pela Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), pelo nazismo na Alemanha, em que a propaganda estatal do governo

16
Hitler ajudou a disseminar a cultura do nazismo. Vieram num período pós-guerra de
transformações sociais, políticas e econômicas na Europa.

A indústria cultural é um termo cunhado em 1947 por Adorno e Horkheimer


para designar a transformação em mercadoria de bens culturais da socieda-
de contemporânea — caso do cinema, das artes, da fotografia, da televisão,
das mídias, dos valores culturais, que passaram a ser mercadorias e existem
como parte do processo de uso cultural mercadológico. Daí, a origem da
expressão “indústria cultural” substituindo o termo “cultura de massa”.

A indústria cultural acaba definindo padrões culturais da moda, dos modismos he-
gemônicos, que acabam por estabelecer novos padrões culturais, difundidos por
meio das mídias e dos meios de comunicação. Tudo vira espetáculo a ser consumi-
do, ocorrendo isso, até mesmo, nas tragédias reais, documentadas e assistidas por
todos na televisão. Adorno comenta:

O efeito do conjunto da indústria cultural é o de uma antidesmistificação,


a de um anti-iluminismo [anti-Aufklärung]; nela, como Horkheimer e eu
dissemos, a desmistificação, a Aufklärung, a saber a dominação técnica
progressiva, se transforma em engodo das massas, isto é, em meios de
tolher a sua consciência. Ela impede a formação de indivíduos autôno-
mos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente.
Mas estes constituem, contudo, a condição prévia de uma sociedade de-
mocrática, que não se poderia salvaguardar e desabrochar senão através
de homens não tutelados. Se as massas são injustamente difamadas do
alto, como tais, é também a própria indústria cultural que as transforma
nas massas que ela depois despreza, e impede de atingir a emancipa-
ção, para qual os próprios homens estariam tão maduros quanto as forças
produtivas da época o permitiriam.

Fonte: Adorno apud Santos, 2014, p. 28-29

Já na metade do século XX, Adorno evidenciava o papel da indústria cultural na


música e na pseudoindividualidade, na definição dos gostos do indivíduo, já que o
capitalismo aliena e mascara a pretensa escolha de cada um, com a lógica da padro-
nização da música e do consumo. É a música para ser consumida.

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Propuseram uma análise crítica da sociedade, a qual se denominou de Teoria Crítica,
analisando o papel da indústria cultural sobre a sociedade, na música, no cinema, nas
artes em geral. Habermas, filósofo e sociólogo alemão, faz críticas severas em relação
à sociedade contemporânea, pois, segundo ele, os meios de comunicação – as mídias
em geral – mostram-se favoráveis a certos grupos e ao Estado enquanto uma socie-
dade passiva, resignada, alienada consome as informações sem refletir sobre elas.

Figura 5 – Meios de comunicação


Fonte: Freepik

O autor afirma que os interesses da administração pública e dos setores econômicos


mediante formas de poder e do dinheiro intervêm na vida cotidiana da sociedade,
por intermédio dos meios de comunicação. Mais recentemente, no final do século
XX e início do século XXI, outras tantas preocupações passaram a ser analisadas pe-
las Ciências Sociais. O processo de globalização vem, cada vez mais, transformando
as técnicas e formas de vida. O advento da revolução técnica e a disseminação das
tecnologias informacionais promovem mudanças radicais nas relações sociais e os
modos de vida vêm se alterando.

Sociólogos como Manuel Castells (2005) vêm estudando o fenômeno da socie-


dade em rede, visto que, cada vez mais, as redes sociais estabelecem relações
sociais virtuais.

18
Figura 6 – Sociedade em rede
Fonte: Getty Images

Castells (2005, p. 18) assim explica as redes no atual período da globalização:

[...] a comunicação em rede transcende fronteiras, a sociedade em rede é


global, é baseada em redes globais. Então, a sua lógica chega a países de
todo o planeta e difunde-se através do poder integrado nas redes globais
de capital, bens, serviços, comunicação, informação, ciência e tecnologia.
Aquilo a que chamamos globalização é outra maneira de nos referirmos à
sociedade em rede, ainda que de forma mais descritiva e menos analítica
do que o conceito de sociedade em rede implica. Porém, como as redes
são selectivas de acordo com os seus programas específicos, e porque
conseguem, simultaneamente, comunicar e não comunicar, a sociedade
em rede difunde-se por todo o mundo, mas não inclui todas as pessoas.
De facto, neste início de século, ela exclui a maior parte da humanidade,
embora toda a humanidade seja afectada pela sua lógica, e pelas relações
de poder que interagem nas redes globais da organização social.

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Evidencia que o governo, as instituições públicas e privadas, a sociedade civil, as
empresas, vêm se organizando cada vez mais em rede. Mesmo as atividades ilegais,
aproveitam-se das tecnologias informacionais mais recentes para atuarem em rede.

No início do século XXI, alguns temas têm sido revisitados pelos sociólogos, sendo
que outros são totalmente novos, caso das transformações pelas quais a sociedade
vem enfrentando com as mudanças técnicas do atual período da globalização.

Mas, igualmente, temas como o trabalho, o emprego, a condição e o papel das mu-
lheres na sociedade, as estruturas e formas de organização sociopolíticas continu-
am sendo abordados pelos pesquisadores em Ciências Sociais, usando diferentes
abordagens teórico-metodológicas.

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Em Síntese

Finalizando, é importante perceber que a Sociologia teve diferentes teorias, con-


ceitos e abordagens para os estudos da sociedade ao longo da história da ciência.

21
Material Complementar

Leituras
Entre as Flores da Paixão e os Espinhos da Razão: Max Weber nos Jardins
das Ciências Sociais
Para conhecer um pouco mais do pensamento de Weber, faça a leitura a seguir.
https://bit.ly/3rN501s

O Positivismo no Brasil: uma Ideologia de Longa Duração


Sobre o positivismo no Brasil, como ideia que perdurou, recomendamos a lei-
tura do artigo.
https://bit.ly/46HG7EF

Livros
As Etapas do Pensamento Sociológico
Para conhecer como se constitui o pensamento sociológico por etapas, indi-
camos o livro a seguir.
ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes,
2002.

O Que é Positivismo
Caso você queira se aprofundar nas ideias do positivismo, recomendamos a
obra seguinte.
RIBEIRO, J. O que é positivismo. São Paulo: Brasiliense, 1996.

Vídeo
Clássicos da Sociologia: Karl Marx
O aspecto sociológico do pensamento de Karl Marx é apresentado com base
em entrevista do sociólogo Gabriel Cohn e a caracterização in loco da econo-
mia de uma pequena cidade paulista.
https://youtu.be/2DmlHFtTplA

22
Referências

CASTELLS, M. CARDOSO, G. (Orgs.). A sociedade em rede: do conhecimento à


ação política. Conferência. Belém (Por): Imprensa Nacional, 2005.

CATANI, A. O que é capitalismo? Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasilense,


1994.

CHINAZZO, S. S. R. Epistemologia das Ciências Sociais. Curitiba: InterSaberes,


2013. (e-book)

COMTE, A. Curso de Filosofia Positiva; Discursos sobre o espírito positivo; Discur-


so preliminar sobre o conjunto do positivismo; Catecismo positivista. Seleção de
textos. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

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