Turma: 4º semestre (2021/1) de Arquitetura e Urbanismo
Disciplinas: Estudos Socioeconômicos
SOUZA, Jessé de. A gramática social da desigualdade brasileira. Revista brasileira de ciências sociais: vol. 19, n. 54, fev. 2004. p. 79-96.
A gramática social da desigualdade brasileira
Atualmente, a sociedade brasileira está num período complicado, principalmente para as
classes periféricas. Com uma hierarquia moral vertical fortemente marcada, que influencia diretamente conflitos com a população mais carente, o país apresenta uma grande porcentagem de população carcerária das classes de menor renda, taxa que é bem menos expressiva em países europeus. Apesar de se basear em grande parte nos sistemas europeus de desenvolvimento, a aplicação desses modelos intensificou a desigualdade na população brasileira, e isso se deve, ignorando o próprio sistema capitalista, gerador de desigualdades, em grande parte pela execução em massa, desconsiderando singularidades regionais. A aplicação de uma modernização, baseada na europeia, no Brasil, e em grande parte dos países subdesenvolvidos, ocorreu sem uma grande mudança política, moral e religiosa. O mito de que uma economia desenvolvida, sem grandes mudanças sociais, diminui a desigualdade contribuiu para isso, mas isso vira um pensamento que acaba beneficiando somente a população de classes mais altas, e ajuda a aumentar o abismo entre a população marginalizada e os “cidadãos”. Afinal, não se pode considerar uma população que tem seus direitos constantemente agredidos como cidadãos, mas sim “subcidadãos”. Outro ponto que corrobora com essa marginalização é o pensamento meritocrático. A ideia de depender do desempenho pessoal para elevar de “classe” acaba excluindo automaticamente pessoas sem condições de competir de forma justa, e que não podem se dedicar em tempo integral. Além disso o pensamento meritocrático acaba servindo como uma máscara que corrobora com a marginalização das classes mais baixas, e a consequente subcidadânia, obscurecendo as verdadeiras causas da desigualdade e possíveis soluções. Apesar de o modelo de desenvolvimento econômico contribuir com o país, não é possível pensar numa melhoria para a região sem pensar nos seus habitantes, e principalmente na condição de precarização que grande parte deles vivem. Porém, isso só é possível se voltarmos nossos olhos para essas problemáticas, não naturalizando a realidade que as populações marginalizadas vivem. Mudanças radicais em políticas que atendam essa população são necessárias, e uma conscientização acerca dessas questões precisa ser trabalhada, para que haja uma verdadeira integração dos “subcidadãos”, moradores da periferia, com a cidadania e o direito a cidade, os transformando em cidadãos efetivos.