Você está na página 1de 2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO URBANO E
REGIONAL

ECONOMIA E TERRITÓRIO II
PROF. CARLOS BRANDÃO
ALUNO: FAUSTO CAFEZEIRO

Resenha de:

BRANDÃO, C. Mudanças no “padrão de sociabilidade” e na reprodução social dos


“de baixo” no Brasil.

Este texto se debruça sobre a reprodução das desigualdades no Brasil junto à


preservação de estruturas socioeconômicas. Penso que a hipótese analítica seja a de que
a expansão do capitalismo no Brasil não cria novas frações de classe, mas perpetua as
relações de classe já existentes. A Lei de Terras brasileira, por exemplo, quando nega o
direito à terra para as comunidades camponesas, fundando um mercado fundiário
através do qual é o dinheiro, é o ato de compra quem legaliza a propriedade, cria
obstáculos à criação de um campesinato propriamente capitalista, estabelecendo o
cenário que será visto dos êxodos rurais, expulsões de terras e a sangrenta história das
lutas sociais no campo. O mesmo se pode derivar das questões urbanas: enquanto no
capitalismo central o Estado atua como um promotor dos direitos sociais burgueses, sob
a forma das proteções ao trabalho, à moradia etc., o Estado Brasileiro conserva, nas
cidades, o padrão de acumulação por desposseção, seja sob a forma das reformas
urbanas do início do século XX no Rio e em São Paulo, seja atualmente com a forte
financeirização do mercado imobiliário. Não sei se as duas analogias são válidas para a
proposta do texto, mas foi como visualizei a proposta.
Esta máquina de produzir desigualdades, no entanto, não quer dizer que não
houve, em tempo algum, a possibilidade de ascenção social no Brasil. Ao contrário:
seletivamente, ela existe, mas nunca pode ser generalizada. Não são as políticas
públicas que a promovem, e sim contextos favoráveis de acesso a mecanismos que
podem a promover. Dessa forma, a democratização do acesso à escola pública, por
exemplo, nunca foi fato, mas, como existem escolas públicas de excelência, é possível a
um aluno pobre que nelas consiga uma vaga ascender socialmente. O fato, contudo, é
sempre exceção, nunca regra. Os da mesma comunidade não têm nada que garanta a
mesma oportunidade, muitas vezes nem mesmo a família. Os níveis de ascenção são,
portanto, baixíssimos, compondo uma verdadeira competição por condições melhores
de vida, consumo, oportunidades.
O domínio dos capitais financeiro e mercantis no capitalismo brasileiro, segundo
o argumento do texto (desdobrado das ideias de Maria da Conceição Tavares e de
Carlos Lessa) faz com que as classes sociais, no Brasil, sejam “precariamente
constituídas” e, por outro lado, tenhamos dificuldades em construir projetos de
desenvolvimento mais abrangentes. Talvez aí haja um diálogo também com Celso
Furtado, quando afirma uma “falha estrutural” no capitalismo brasileiro, que poderia ser
traduzida grosso modo como uma revolução burguesa mal feita. Aliás, uma burguesia
malconstituída seria um termo melhor para expressar a hipótese. Os processos de
modernização no território brasileiro foram, portanto, geradores de uma enorme
marginalidade social, através da inclusão precária de uma grande parcela da população.
A formação precária das classes sociais é, portanto, em sentido amplo, diz respeito a
todos os setores da sociedade brasileira, o que justifica a retomada da probblemática da
marginalidade.
Sobre a atual conjuntura econômica, o texto expressa grande preocupação com a
erosão de direitos que vêm aconteceno. Se antes eram precários e não conseguiam
atingir a maior parcela da população, hoje, com a neoliberalização radicalizada, a
incerteza e o individualismo são o que restou às camadas populares. A adaptação a mais
trabalho precário, o que alguns chama de “uberização da economia” é exemplar disso. É
interessantíssimo o uso por Brandão do termo “táticas de sobrevivência privada” (p. 16),
que substitui as estratégias de sobrevivência coletiva das gerações passadas.
O texto finaliza sem chegar a uma solução objetiva para o problema. Talvez isso
seja sintoma de um pensamento social que já muito propôs para a superação do
subdesenvolvimento em diferentes momentos históricos(revolução burguesa, reformas
de base, e por aí vai) e que chegou a mais uma encruzilhada quando da neoliberalização
radical. O que se propõe é que se reorganizem os estudos, que seja reelaborada a teoria
para que se possa combater esse estado de coisas.

Você também pode gostar