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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO URBANO E
REGIONAL

ECONOMIA E TERRITÓRIO I
PROF. CARLOS BRANDÃO
ALUNO: FAUSTO CAFEZEIRO

Resenha de:

CASTEL, Robert. (2012). ¿Que centralidade del trabajo?. In: El ascenso de las
incertidumbres: trabajo, protecciones, estatuto del individuo. Mexico, FCE, cap. 2.
(1)

Os dois textos de Castel tratam do mesmo problema: os novos sentidos do


trabalho no cenário contemporâneo. Já o de Harvey traz uma leitura de Marx, com
referências a Williams e Gramsci, sobre o sentido do trabalho – o de criação do ser
humano a si mesmo através do exercício da transformação da natureza. Neste momento,
optei por resenhar o texto “Qué centralidade del trabajo?”, por entender que o cenário
neoliberal de flexibilização trabalhista, abordado no texto de Castel, talvez proponha
novas questões.
Castel parte da constatação de que já não é mais o trabalho a centralidade estável
de garantias e direitos contra os maiores riscos sociais. Percebendo que, apesar disso,
não há nenhum indicador de outra forma social que o substitua, o artigo já começa
apontando uma recusa ao discurso do fim do trabalho – que parece ressoar uma espécie
de “discurso dos fins”, muito recorrente nos anos 1990 (fim do trabalho, fim da história,
fim dos territórios...). Aí se coloca as questões centrais do artigo: qual é o alcance da
degradação do trabalho no momento atual do capitalismo? Será mesmo possível falar
numa sociedade não mais centralizada no trabalho?
Como pressuposto, Castel propõe que é a flexibilização dos direitos trabalhistas
sob orientação ideológica neoliberal que condiciona novos riscos sociais uma nova
relação com o trabalho, marcada pela instabilidade e pela precarização. Desdobram-se
disso as questões do desenvolvimento tecnológico, das terceirizações, “mercado
secundário de trabalho” ou, como mais correntemente falado no Brasil, “trabalho
informal”, que atinge (na França) principalmente mulheres e homens jovens.
A esta altura, apresenta-se a crítica aos entendimentos apocalípticos de que o
trabalho, tidas como “extrapolações” ou “exageros”. Como reforço ao argumento, o
autor apresenta dados da França, que apontam para um crescimento da população
trabalhadora. Este crescimento se sustenta pela própria precarização das relações de
trabalho e de subemprego. Estes dados são comparados com os Estados Unidos, onde o
processo de precarização é mais intenso, e as conclusões são semelhantes. Deriva-se a
conclusão de que não se flexibilizou somente a forma das relações capital-trabalho, mas
também entre empresa e empregado. O local de trabalho não é mais somente a sede da
empresa, o que intensifica o (menor) tempo de trabalho.
Concluindo, a proposta do autor é de que não se trata de vangloriar as relações
pretéritas com o trabalho, muito pelo contrário: é preciso reconhecer que a estabilidade
de que as relações de trabalho outrora gozaram eram relativas e não foram logradas sem
conflitos e confrontos. Porém, também não se deve crer no fim do trabalho (ou da
história, ou da indústria...), já que, se em termos quantitativos alguns países mostram
uma população trabalhadora maior, qualitativamente também se pode perceber a
centralidade do trabalho no imaginário social. A questão é perceber como e quais são as
novas formas de relação com o trabalho na sociedade contemporânea, e aí o autor cita o
exemplo da economia solidária, das ações do terceiro e quarto setor, etc.

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