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Disciplina: Questões Étnico-Raciais

Professora: Claudia Furlanetto


Aluno: Pedro Jardel da Silva Coppeti

RELATÓRIO SOBRE A PALESTRA DE HODÁVIO A RESPEITO DAS


QUESTÕES IMIGRATÓRIAS

Hodávio José Siga, original da Guiné Bissau, compartilha informações


sobre sua trajetória de vida, suas aspirações, seus objetivos, seus conflitos, sua vinda
para o Brasil, o que o motivou a vir para cá e também os entraves e dificuldades que
passam a grande maioria dos imigrantes que aqui aportam.

A respeito de seu País refere que é menor que muitos Estados


Brasileiros, cuja língua oficial é o Português, mas que há inúmeros outros idiomas. Esta
no Brasil desde 2014, e veio para estudar, e acentua a dificuldade de imigrantes virem
para uma outra realidade, especialmente para estudar. Existem vários obstáculos que
tem que ser enfrentados para atingir este objetivo.

Esclarece como foi a sua adaptação, com a língua, a fala, as pessoas, a


cultura. Fala que no seu país tem muitos conflitos de origem econômica, social e
política, que acabam por originar muitas guerras. Então, os jovens de lá, tendem a ficar
responsáveis por modificar esta realidade e sentem necessidade de contribuir para
melhorar a qualidade de vida de suas famílias, mas não encontram campo nem nível de
escolaridade para isso. Assim, tendem a se deslocarem a outros países em busca de
maiores oportunidades, conhecimento, e melhora de seu nível escolar e econômico.
Alguns, como o palestrante, imigram para estudar, outros, que não detém esta
possibilidade, por uma série de razões, acabam por procurar trabalhos em outros países,
diversos de seu continente, como uma forma diversa de ganhar a vida e sustentar seus
familiares, e, muitas vezes, acabam aceitando qualquer coisa, são explorados e
escravizados. Infelizmente, aquele lugar que os jovens nasceram (África, por exemplo),
não é o local adequado para realizar seus sonhos e acabam por saírem de seus países
para o mundo afora, em busca da realização e da felicidade.

O imigrante de seu continente, especialmente aqueles que tem como


língua oficial a francesa, acabam por encontrar ainda mais dificuldades porque,
primeiramente, tem que aprender a língua portuguesa, que é muito difícil. Nesse
caminho, sofrem muito bullyng, e até conseguirem se estabilizar encontram muitos
desafios. Até mesmo aqueles que tem a língua oficial portuguesa sofrem muitas
dificuldades, uma vez que seu idioma é o nativo local (p. ex., o crioulo), diferente,
portanto, do Português. É o caso, inclusive, do palestrante, que procurou novos estudos
em busca de seu objetivo, mas também teve muitas dificuldades, pois teve quase que
traduzir tudo para o crioulo e depois novamente para o Português para conseguir
compreender melhor a língua. Foi muito desafiador.

Também sentiu muito o fato da adaptação escolar, pois saiu de uma


escola precária e ingressou na faculdade, percebendo que estava muito atrás, em matéria
de conhecimento, de seus colegas. Mas nada disso é obstáculo para quem deseja, uma
vez que através da leitura, do estudo, da aquisição de vocabulário, entre outras coisas,
acaba-se por ultrapassar estas barreiras, procurando ficar no mesmo nível que os
brasileiros.

Disse que já encontrou muitos imigrantes no Brasil, e, seguidamente


acaba por conversar com os senegaleses, que são em bom número. É um povo
declaradamente muçulmano e cumprem sua religiosidade a risca, mesmo distante.
Rezam 5 vezes por dia e isto acaba indo na contramão do que exigem os empregadores
daqui. É bem difícil esta adaptação, porque ao mesmo tempo que devem cumprir as
regras empregatícias e as ordens de seus patrões, demandam necessidade também de
manter o seu culto e seus padrões ritualísticos. É um dos choques que os imigrantes se
deparam, ou seja, trabalho x cultura, abandonar o trabalho e manter a cultura, manter o
trabalho e abandonar a cultura. O ideal é encontrar o meio termo. Se é no Senegal estas
práticas religiosas são bem compreendidas, mas aqui no Brasil é um pouco diferente.
Coloca-se a disposição para responder a questionamentos, uma vez
que seria melhor do que fazer uma palestra sobre a questão migratória, sobre o trabalho,
etc.

A respeito da manutenção da cultura africana daqueles imigrantes que


estão aqui no Brasil, disse ser muito complicado, porque para manter as tradições
culturais é necessário conviver com mais pessoas, mas como cada um tem as suas
atividades, muitas vezes distintas, fica muito difícil as pessoas reunirem-se e conservá-
las, especialmente diante do corre-corre diário. Cada um vive por si. Em Fortaleza, onde
morou, esclarece que na Universidade haviam muitos conterrâneos e, portanto,
conseguiu se reunir em uma festa da independência do seu País, em um convênio
proporcionado pela própria Universidade, onde cultuaram danças, músicas, peças
teatrais, vestuários e outras práticas culturais.

Seu país é laico, onde cada etnia tem sua religiosidade, como
cristãos, muçulmanos, etc. A comemoração da data da independência acontece uma vez
por ano, com amparo da Reitoria da Universidade lá de Fortaleza, mas estes eventos são
muito raros, o que impossibilidade não cultuar seguidamente seus rituais.

Ao ser questionado porque escolheu o Brasil para imigrar, refere que


ele é um país que de certa forma tem uma relação muito estreita com seu País,
especialmente pelas telenovelas e jornais, pelos convênios entre as Universidades e
também com o governo brasileiro e o seu, em função da língua portuguesa ser comum.
Ao contrário dos senegaleses, que quando vão estudar, vão para a França, por causa que
são colônias francesas e falam a mesma língua. A maioria dos senegaleses que vem para
o Brasil, infelizmente, não tem acesso à escolaridade, vem apenas para trabalhar.
Raramente se encontra um senegalês na Universidade. No seu caso específico, fez
vestibular utilizando um destes convênios e acabou sendo aprovado, foi ali que decidiu
vir para o Brasil. Aduz que no seu País não tem escola gratuita e nem Universidade
Pública, os estudos são pagos e, portanto, por ter origem pobre, não conseguiria pagar
para estudar. Se ficasse no seu País não estudaria. E, mesmo que tivesse condições, vir
para o Brasil é um ganho adicional, uma vez que viver em outro País é uma experiência
de vida ímpar e única, com nova cultura, novos conhecimentos, novos vocabulários.
Embora a dificuldade, vem superando gradativamente as barreiras.
Aqui no Brasil, no início trabalhou como motorista (mesma atividade
que desenvolvia em seu País) e ao mesmo tempo sempre estudou. Fez bacharelado e
terminou licenciatura em Sociologia e hoje está em Erexim fazendo mestrado em
ciências humanas.

Indagado sobre a situação do trabalho escravo aqui no RS, salienta


que o Brasil é um País que passou por diversos estudos, relembra a história dos
diferentes, daqueles povos que tem características distintas. Fala sobre os negros
escravizados, a mistura entre as etnias, a inibição da imigração para evitar que haja uma
mistura das raças. Hoje os africanos que chegam ao Brasil continuam sofrendo
discriminação, pois vem com a autoestima baixíssima e se submetem a qualquer
trabalho, a qualquer coisa, porque primeiramente, quando você se sente fora de seu
território, para atingir seus objetivos, acaba por aceitar qualquer espécie de atividade, o
que acaba originando e dando oportunidade para o surgimento do trabalho análogo à
condição de escravo. Para eles é uma oportunidade, trabalham dia e noite, mas para os
direitos humanos é uma condição de vida degradante e que merece ser reprimida
legalmente. Isso não acontece só com os imigrantes, mas também com relação a outras
pessoas que não tem poder econômico, que são vulneráveis economicamente. Além
disso, desconhecem completamente o seu direito. Da mesma forma sofrem os
ambulantes, que querem colocar o seu próprio negócio, comprando os produtos e
revendendo-os, mas que acabam por serem mal vistos e originam vários atritos,
complicações com os proprietários de lojas que pagam os seus impostos e veem uma
concorrência, no seu ponto de vista, como desleal.

Sobre as questões burocráticas da imigração, especialmente relativas


aos documentos, refere ser um dos problemas mais sérios. Nesse aspecto, Odávio teve
privilégio, por ser estudante, já que a Universidade tratou de conseguir os seus
documentos. Porém, os imigrantes que vem isoladamente não possuem qualquer
orientação ou ajuda nesse sentido. Alguns municípios fazem ações filantrópicas para
ajudar os imigrantes a fazer os seus documentos. Muitos estão ilegais e ficam se
escondendo. O que acaba por restringir, inclusive, a possibilidade de trabalho, porque
não possuem identidade, CPF, nem possuem o motivo para estar aqui. A maioria dos
imigrantes não possuem passaporte com visto e, se são pegos, acabam sendo deportados
ou até presos. Quanto mais o visto permanente ou até a naturalização, mas não tem
como recorrer a estas vias. Quando nasce um filho de imigrante, que está ilegal, piora
ainda mais a situação.

Também trata sobre a questão da representatividade dos que são


eleitos a cargos públicos, sobre as políticas públicas, sobre o patriotismo, sobre a
ausência de compreensão de alguns brasileiros com relação aos imigrantes, sobre as
críticas que recebem quem defende o trabalho para os imigrantes, em função de que
estão, a priori, ‘tirando a oportunidade’ da gente da nossa terra. Retrata sobre as causas
da imigração, sobre serem chamados de “homens bombas”, “forasteiros”. Fala sobre as
dificuldades encontradas nos órgãos públicos para acolhimentos desses imigrantes.

Assevera que a maior dificuldade que encontrou no nosso País como


imigrante foi bem diversa dos demais imigrantes, já que já veio com vínculo
estabelecido com a Universidade, e sua adaptação ocorreu de maneira mais tranquila do
que seus conterrâneos. O maior perrengue pessoal foi o período em que trabalhava
como motorista e estudava, já que quase não dormia e sentia dificuldade de se
concentrar em sala de aula pelo cansaço. Mas precisava trabalhar porque não tinha
bolsa, às vezes utilizava o tempo da escola para cochilar. Depois que ganhou a bolsa,
passou a ter exclusividade no estudo, o que melhorou significativamente a sua vida.
Quando chegou no Sul sua rotina permaneceu a mesma, ir para a Escola e voltar para a
Casa. Já com relação a língua portuguesa também não foi um grande problema para ele,
porque entendia e falava/reproduzia o português que entendia e assim foi indo,
adequando o seu vocabulário, até porque o português que tem no seu país é o de
Portugal, diferente do daqui do Brasil. O que lhe incomadava também um pouco é que
ele era muito diferente dos demais colegas, o que acabava ganhando ‘destaque’, muitas
vezes negativo, com bastante olhares estranhos. Sentia-se envergonhado, constrangido,
com vontade de se esconder. Mas já está familiarizado com o ambiente, e mantém
sempre o respeito com as pessoas, o que o ajuda a evitar conflitos e evitar comentários,
tipo ‘levei um susto’.

Está também se preparando para o Doutorado, sempre agarrando com


todas as forças as oportunidades que aparecem. A sua rotina não se aplica a outras
pessoas, p. ex., os haitianos, que possuem uma série de conflitos, políticos e jurídicos.
Há muitos imigrantes haitianos no Brasil, que tem muitas dificuldades, especialmente
com a língua. Os brasileiros o confundem muito com os haitianos, uma vez que são
todos pretos, mas isso não é problema para ele.

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