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Skinneriana de Self
Independente do que o self seja, para Skinner (1953; 1974), ele não parece ter a mesma
natureza do organismo físico. Uma pessoa age no mundo e é dito que ela faz isso em
função de seu eu interior, pois é ele que inicia e direciona um comportamento à
obtenção de reforçamento. Muitas vezes, mais de um self é utilizado para explicar o
porquê uma pessoa se comporta. O mesmo acontece com a personalidade.
Se uma pessoa se comporta de forma dita chamativa ou parece estranha, o faz porque
tem uma personalidade histriônica, como a cantora Lady Gaga e o cantor Marylin
Manson. Caso possua um superego bem estabelecido, acarreta que a pessoa tem uma
personalidade predominantemente neurótica, o que os psicanalistas esperam que a
maioria das pessoas sejam. Por essas razões, Skinner (1953) aponta que, numa análise
do comportamento, não seria necessário o conceito de self. Mas não dar uma explicação
do que seria esse fenômeno do ponto de vista comportamental, deixaria a teoria em
dívida com relação a outras teorias da Psicologia.
Muito do que sabemos de nós mesmos, muito do que sabemos do outro e das coisas que
nos cercam, só sabemos porque a comunidade verbal em que estamos inseridos arranjou
contingências para que soubéssemos nomear e descrever cada um desses fenômenos
(Skinner, 1957; 1974; Catania, 1999; Hübner, Borloti, Almeida & Cruvinel, 2012). Só
dizemos como nos sentimos, o que pensamos e o nome das coisas a nossa volta porque
nossa comunidade verbal arranjou contingências e consequenciou nossas verbalizações
de acordo com aquilo que seria produtivo para a sobrevivência da própria comunidade
verbal (Skinner, 1957; Abreu & Hübner, 2012).
“Sou do sexo masculino, tenho 39 anos, trabalho como engenheiro civil e me chamo
João” é uma descrição de quem a pessoa é e do que ela faz. Tatear, nomear e descrever
aspectos internos e externos que nos competem, expressar as relações funcionais de
considerado homem, ter um nome, ter uma determinada idade e uma dada profissão são
relações verbais ocasionadas e reforçadas por contingências sociais.
Uma vez que o self é uma construção social e que o comportamento social depende de
outros para ocorrer e ser consequenciado, poderíamos dizer que, por só sabermos
descrever quem somos e como nos comportamos em função de uma comunidade verbal,
há uma evidência de que o self pode ser, portanto, controlado verbalmente. E isso não
nos dá necessidade de explicar determinados comportamentos dividindo-os em diversos
selves e/ou personalidades.
A personalidade também tem pontos em comum com o conceito de self por depender
também, como todo e qualquer comportamento humano, dos três níveis de seleção do
comportamento apontados por Skinner (1981). Desse modo, podemos citar a
importância dos aspectos de personalidade herdados geneticamente, dos aspectos
aprendidos durante a história individual e dos aspectos aprendidos em convivência
social, com a comunidade verbal (Lundin, 1977; Banaco, Vermes, Zamignani, Martani
& Kovac, 2012), que adentraria especificamente o self. A personalidade poderia, então,
ser descrita e avaliada com base em padrões comportamentais regulares, sensíveis aos
paradigmas de condicionamento respondente e operante, contemplados pelos
fenômenos comportamentais de reforçamento, punição e extinção, sem esquecer jamais
da singularidade do indivíduo, que é incontestável na visão da ciência (Skinner, 1959).
Referências
Banaco, R. A.; Vermes, J. S.; Zamignani, D. R.; Martone, R. C.; Kovac, R. (2012)
Personalidade. In Hübner, M. M. C.; Moreira, M. B. Temas Clássicos da Psicologia sob
a ótica da Análise do Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Catania, A. C. (1999) Aprendizagem: Comportamento, linguagem e cognição. Porto
Alegre: Artmed.
Skinner, B. F. (1953) Science and Human Behavior. New York: The Free Press.