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0-9876 543 RELATÓRIO SOBRE A PALESTRA DE DJAMILA

RIBEIRO A RESPEITO DO TEMA DIVERSIDADE

Uma das intelectuais mais importantes do país, a filósofa,


professora, escritora e ativista Djamila Ribeiro é hoje uma das mais importantes
vozes no pensamento e na luta antirracista e feminista no Brasil.

Em sua palestra sobre diversidade reproduzida no Youtube, a


autora ressalta que para discutir este tema é necessário e imprescindível
estabelecer um debate sobre o que significa igualdade, levando-se em
consideração os fatos históricos e os constructos implicados nesse conceito, a fim
de combater o machismo, o racismo e especialmente o achismo.

Para tal reflexão, importa conhecer, com profundidade, os dados


estatísticos a respeito das desigualdades, seu contexto histórico, estar atento às
imposições de papéis sociais e atentar sobre os estudos acadêmicos e teóricos
sobre esta questão.

Nesse âmbito, há necessidade de refletir o nascimento e a


permanência das desigualdades sob o aspecto da elite fundiária (não acesso à
terra/propriedade pelos negros), pensar o processo caracterizado como
branqueamento da população, a própria escravidão (junto a ela o trabalho
doméstico), bem como discutir o conceito de racismo biológico utilizado como
justificativa para a colonização, a escravatura e o secessionismo biológico, com
imposições de comportamentos inadequados e discriminatórios pela sociedade.

Todos estes aspectos relacionados acima estão ainda muito


presentes na mentalidade brasileira atual, que acaba, com isso, fazendo um
processo de naturalização destes comportamentos, que explicam a origem social
das desigualdades.

Nesse sentido, é importante estar atento ao fato de que a


desigualdade é atribuída, equivocadamente, ao indivíduo, esquecendo-se que sua
base é de natureza estrutural e não individual.

Da mesma forma, se este comportamento é naturalizado, está na


hora de começarmos a desnaturalizá-lo, ou seja, é importante refletir, debater,
desconstruir, combater, através do conhecimento histórico, as desigualdades, para
que se possa efetivamente colocar em prática um processo de transformação
social.

Ademais, trazer à tona a discussão sobre DESIGUALDADE


CONCRETA X DESIGUALDADE ABSTRATA é uma outra forma de
alcançarmos avanços nessa seara da transformação. Embora a Constituição,
abstratamente, elenque que todos são iguais perante a lei, sabe-se que, na prática,
esta premissa não é verdadeira. Inexiste em nosso país tratamento igual e
paritário. A realidade concreta, os dados, as estatísticas, os exemplos, a história,
mostram exatamente o contrário. A Magna Carta é letra morta se a discutirmos a
partir da desigualdade concreta. Basta algumas indagações simples para que se
visualize quanto ainda temos que caminhar para dar concretude ao princípio da
igualdade: A gente está contratando profissionais negros? Quais empregos ou
espaços são oferecidos/proporcionados às mulheres negras? Quantos negros
existem no âmbito do ensino superior? Quantos deles têm acesso ao concurso
público? Há engajamento na luta antirracista? Existem políticas públicas
afirmativas de inclusão?

Nesta linha todos precisam entender a realidade concreta, fruto


da formação do Estado Brasileiro. Além disso, a amenização deste quadro passa
obrigatoriamente pela diversidade no âmbito das empresas. Uma sociedade mais
próspera e justa, mais equilibrada, mais equânime, mais igual, mais ética,
necessita saber trabalhar esta diversidade e compreender que ela proporciona
uma maior criatividade no trabalho, uma maior sinergia, um melhor desempenho,
uma maior vantagem econômica e social, um aumento no mercado consumidor,
um atendimento melhor qualificado a respeito das demandas, uma melhor
qualidade nas relações humanas.

É fundamental entender que a mistura de pessoas e ideias, a


heterogeneidade dos grupos traz, como já referido, inovação e criatividade,
possibilita soluções inovadoras para o mercado global e multicultural. A
promoção da diversidade aumenta a qualidade do trabalho, o relacionamento
entre os funcionários. Estas justificativas partem de focos distintos. O conceito de
diversidade (no meio corporativo), a partir de interesses e concorrências das
empresas visa a adequação ao mercado mais exigente em termos de imagem e
desempenho, de maneira a aglutinar eficiência e compromisso social. E sob o
ponto de vista da sociedade objetiva a superação das políticas discriminatórias e
de exclusão.

Para além, é preciso que a população discuta os processos


denominados ‘branquitude’ e ‘masculinidade’. É necessário que as pessoas se
responsabilizem e discutam teoricamente as relações sociais que abrangem estes
conceitos, para que, aos poucos, as pessoas refutem viver só no seu mundo e
apreendam a examinar a extensão e a consequência discriminatória que estes
fenômenos são capazes de proporcionar, especialmente pela ausência total de
crítica sobre eles.

Por fim, quando instada a falar sobre o ‘lugar da fala’, a autora


explica que este é o local no qual, do ponto de vista discursivo, os corpos
subalternizados reivindicam sua existência. Para reproduzi-lo, a filósofa pensou
nas produções do Sul do Mundo, com o intuito de pensar o lugar social que é
imposto para esta gente e como é importante compartilhar experiências,
conhecimentos e falas para fortalecer o discurso sobre a discriminação e a
desigualdade, dando voz aos que sofrem na pele tais atos atentatórios à dignidade
humana.

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