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Nosso saudoso Paulo Freire disse uma frase que se tornou um

dos pilares quando o assunto é educação, e que cabe muito bem


ao tema proposto do Seminário:

“Educação não transforma o mundo. Educação


muda pessoas. Pessoas transformam o
mundo”.
Num momento em que a cidadania enfrenta novos desafios, busca novos
espaços de atuação e abre novas áreas por meio das grandes transformações
pelas quais passa o mundo contemporâneo, é importante ter o conhecimento
de realidades que, no passado, significaram e, no presente, ainda significam
passos relevantes no sentido da garantia de um futuro melhor para todos.

Para transformar pessoas a escola torna-se uma das ferramentas de


maior alcance, porém há um grande esforço de profissionais da
educação em buscar novas formas de atrair a atenção do aluno na sala
de aula, uma vez que a sociedade dos novos tempos demanda por uma
escola nova.
Em um novo cenário, se cobra cada vez mais que a educação deve
transformar a sala de aula em um ambiente colaborativo, com uma gestão
de saber que envolve também aspectos humanos, culturais e sociais, se
tornando um instrumento de redução das desigualdades e das
discriminações e possibilitam uma aproximação pacífica entre os povos de
todo o mundo

Com o presente seminário desejamos trazer breves reflexões acerca


das temáticas: promoção da igualdade, respeito e valorização da
diversidade étnico-racial, identidade de gênero e de orientação sexual,
numa perspectiva de transformar as práticas de ensino de sala de aula,
de maneira que venha a desconstruir preconceitos e romper o ciclo de
sua reprodução na escola.
A diversidade racial existe e precisa ser compreendida de
forma séria e responsável, de modo que seja objeto de discussão e
proposição de ações afirmativas que contribuam para a
construção de uma sociedade plural e diversa. A escola tem como
papel fundamental a criação de um espaço onde a questão étnico-
racial tenha lugar de importância – assim como as questões de
gênero, sexualidade, religiosidade etc. – permitindo a ruptura do
silêncio e da negligência observadas em relação ao tema.
De acordo com o Livro de Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 197)
preconceito é:
“qualquer atitude negativa em relação a uma pessoa ou a um grupo
social que derive de uma ideia preconcebida sobre tal pessoa ou grupo”

Podemos dizer que na maioria das vezes, a não aceitação ao diferente ocorre
por meio do nosso complexo de superioridade em definir aquilo que na nossa
concepção é a “verdade” ou “padrão do ideal”. Defendemos princípios morais e
éticos que estão enraizados na nossa cultura justamente por não querer aceitar
e/ou conviver com as diferenças.
Desnaturalizar o racismo e suas práticas deve ser um exercício
pedagógico cotidiano e nesse cotidiano de vivências, romper com
falas e atitudes racistas é essencial à prática da escola, compreendida
como um espaço onde a exclusão e a segregação jamais tomem
forma ou nem mesmo se naturalizam, pois considerando a educação
como um mecanismo de transformação da sociedade e
compreendendo que ela não é um espaço neutro, cabe também ao
Estado promover e assegurar a implementação de políticas públicas
voltadas para a igualdade racial, em um país que é marcado
historicamente pelas desigualdades étnico-raciais.
É muito cômodo para nós culpar as pessoas que são consideradas
diferentes para que elas se adequem à sociedade, sejam “normais” e
desenvolvam um comportamento e ações que se encaixem no que se
define como correto, como a verdade.

Para Foucault a verdade é algo que ocorre por meio das relações
de força assim como o saber, a base das relações de força é poder,
desse modo o saber se articula com o poder e os dois controlam o
dizer.
Sendo assim os estereótipos e preconceitos criados em nossa
sociedade brasileira foram criados e estabelecidos por um grupo de
dominantes que buscou impor a cultura e ditou as regras de
convivência e comportamento de nosso país ao seu modo e assim
impondo ideias como: mulher como inferior, negro como indivíduo
que possui capacidade de fazer os trabalhos braçais, gays e
prostitutas como indivíduos que perturbam a integridade moral da
sociedade, entre outros.
As relações de força só funcionam em cadeia, nunca de forma
individual, sendo assim o poder não se concentra somente no
Estado, mas sim em diversas partes da sociedade que possuem
formas de poder diferentes e se articulam entre si fazendo uma
troca. Além disso, a verdade é o conhecimento que pode receber ou
não, uma comprovação científica, mas que é utilizado como um
enunciado no meio social para impor obediência. A verdade está
relacionada aos sistemas de poder.
Toda essa dialética dita por Foucault se reflete na educação
brasileira que foi criada com influências européias, que priorizaram a
cultura branca, masculina e cristã, menosprezando as demais culturas
dentro da sua composição do currículo e das atividades do cotidiano
escolar.
É interessante mencionarmos que o negro no Brasil foi muito
injustiçado desde o momento em que foi trazido da África para
trabalhar como escravo nas lavouras brasileiras. Os europeus através
de massacres e escravidão conquistaram o poder que dominou a
sexualidade, a religiosidade e a linguística dos nativos e escravos
africanos, sendo sempre relacionados ao trabalho braçal com pouca
atividade intelectual.
Nesse contexto, devido o débito histórico de nosso país que sempre
maltratou o negro, se faz necessário que o Brasil crie políticas que
viabilizem a inserção do negro nas universidades, no mercado de
trabalho e, consequentemente, na sociedade, a fim de amenizar o
sofrimento que foi causado às pessoas de pele negra.
Segundo o Livro de Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 196):
“O racismo é uma doutrina que afirma não só a existência das raças, mas também a
superioridade natural e, portanto, hereditária, de umas sobre as outras. (...) O racismo tem
uma história, que é tipicamente ocidental e moderna e diz respeito às relações de saber e
poder que se estabeleceram tanto internamente à população europeia, quanto entre as
sociedades europeias ou europeizadas e uma grande variedade de outras sociedades e
povos.”
O ambiente escolar é um lugar que concentra muitos jovens em
processo de formação de identidade e onde esses jovens se deparam
com as diferenças entre eles. Portanto, a escola é um local propício
para que possamos diminuir a discriminação e as diversas formas de
preconceito.
Para falarmos sobre equidade de gêneros, se faz necessário analisar
conceito de gênero, pois muitas vezes o termo gênero é erroneamente
utilizado em referência ao sexo biológico.
É importante enfatizar que o gênero diz respeito aos aspectos
sociais atribuídos ao sexo, ou seja, gênero está vinculado a
construções sociais, não a características naturais. O gênero, portanto,
se refere a tudo aquilo que foi definido ao longo tempo e que a nossa
sociedade entende como o papel, função ou comportamento esperado
de alguém com base em seu sexo biológico.
Por exemplo: muitas vezes escutamos frases como “cuidar da casa é
coisa de mulher”. O que está por trás de frases desse tipo é justamente a
questão de gênero: se o que caracteriza “ser mulher” são simplesmente
características biológicas e anatômicas, não haveria razão para alguém
atribuir uma atividade especificamente às mulheres. Afinal, qual
genitália uma pessoa tem não faria diferença na hora de limpar a casa.
Isso demonstra que há algum sentido a mais atribuído a “ser mulher”,
algo que vá além do sexo biológico. Esse “algo além” é, justamente, o
gênero.
O que ocorre no Brasil e ao redor do mundo é uma assimetria de
gênero que beneficia significativamente o homem em relação à
mulher, porém nas últimas décadas, os movimentos feministas têm
proporcionado mais visibilidade na luta das mulheres na igualdade
de direitos. Aos poucos elas vão conseguindo seu espaço no esporte,
na política e no mercado de trabalho. Essas conquistas evidenciam a
importância da mulher na sociedade e o quanto ela pode contribuir
para o crescimento econômico e social do país, porém temos que
reconhecer que a mulher mesmo tendo uma carga horária de trabalho
equivalente ao homem, muitas das vezes, ela não é remunerada
adequadamente.
Os conteúdos que abordam cidadania e direitos humanos devem
ser bem desenvolvidos na escola logo a partir dos primeiros anos do
ensino básico. A finalidade é que tais conteúdos possam contribuir na
formação da personalidade do aluno durante a infância, adolescência
e fase adulta, visto que, a escola tem a responsabilidade de
desconstruir qualquer forma de discriminação, inclusive as
desigualdades de gêneros que ocorrem no âmbito social e formar
cidadãos e cidadãs conscientes para conviver e defender a equidade
de gênero.
Ainda para Foucault, o poder não deve ser visto somente como
forma de repressão, mas como algo que possa produzir
transformações sociais através da luta por direitos, além disso o poder
delimitar a verdade que é posta no meio social.
A orientação sexual que cada pessoa assume é afetada pela cultura, já
que a identidade pessoal é também afetada e se transforma conforme os
princípios morais vigentes na sociedade em um determinado lugar e em
uma dada época (assim como já discutido anteriormente sobre as
construções de ideias e pensamento através das relações de força). A
cultura que constrói o gênero, classificando aquilo que são atividades
masculinas e femininas.
Para se mudar os pensamentos e comportamentos preconceituosos
precisa-se de uma luta intensa com o intuito de mudar a situação através
da informação, tais mudanças podem acontecer mais rapidamente com o
uso da tecnologia por exemplo; outro exemplo são os movimentos
sociais, tais como a parada LGBT em São Paulo que reúne milhares
pessoas LGBTQIA+ nas ruas para reivindicarem direitos e igualdade,
dessa forma também o movimento LGBT é noticiado pela mídia no
mundo inteiro, e cada vez mais é fortalecido.
Quando se trata de formação de opinião nos direcionamos mais uma
vez para a escola, e sabemos que no ambiente escolar ainda existem
muitas dificuldades dos educadores em lidar com temáticas polêmicas
como a sexualidade. Muitas vezes as dificuldades em lidar com certas
temáticas se dá pela falta de conhecimento e informações sobre o assunto,
além é claro da enraizada formação moralista que geralmente os
educadores e/ou os pais dos alunos tiveram com as influências
A escola é o espaço onde os jovens passam a maior parte de seus dias, o
local deveria proporcionar ambientes acolhedores que permitam o
desenvolvimento dos jovens, porém muitas vezes para o público LGBT esse
espaço acaba se tornando aversivo. A emergência de se propor intervenções
que amenizem ou erradique o preconceito com a sexualidade se dá pelo fato
de que a pessoa que pratica bullying/ofender ou discriminar alguém pela
sexualidade e a mesma não é repreendida, mais tarde será a mesma que
comete agressões físicas e crimes contra a população LGBTQIA+, a LGBTfobia
começa a matar quando as pessoas envolta se omitem nessas situações, pior se
é quando o preconceito é emitido pelo professor, que é tido como exemplo e
formador de opinião que fará com que outras pessoas reproduzam seu
discurso.
O próprio artigo é muito pertinente quando diz:
“no espaço escolar, a discriminação sofrida pelo jovem em sala de aula gera muito
desconforto que, consequentemente, resulta no abandono do aluno das suas
atividades educacionais. Isso ocorre porque ele não consegue suportar a zombaria de
seus colegas. Então, o jovem gay, lésbica, bissexual, travesti ou transexual se ausenta
do espaço que, na verdade, deveria oferecer conforto e conhecimento para melhorar a
vida dele e contribuir para a transformação da conjuntura social em que todos tenham
o mesmo direito independentemente da sua opção sexual. De fato, o professor não
precisa ser um simpatizante do movimento LGBT nem tampouco levantar a
bandeira em prol desse movimento, mas deve pelo menos ter a maturidade de
tratar com respeito a orientação sexual de cada indivíduo, como também saber
lidar com os diversos assuntos que envolvem temática sexualidade e trabalhá-
los de forma que contribuam para que o aluno possa desconstruir preconceitos
com relação à orientação sexual diversa.”
Para fins de também promover a informação, segundo o Livro de
Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009) :
“1) gay é a pessoa do gênero masculino que tem desejos, práticas sexuais e/ou
relacionamento afetivo-sexual com outras pessoas do gênero masculino; 2) lésbica é
a pessoa do gênero feminino que tem desejos, práticas sexuais e/ou relacionamento
afetivo-sexual com outras pessoas do gênero feminino; 3) bissexual é a pessoa que
tem desejos, práticas sexuais e relacionamento afetivo-sexual com pessoas de ambos
os sexos; 4) travesti é a pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que
tem sua identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, assumindo papéis de
gênero diferentes daquele imposto pela sociedade. 5) transexual é a pessoa que
possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento. Homens
e mulheres transexuais podem manifestar o desejo de se submeterem a intervenções
médico cirúrgicas para realizarem a adequação dos seus atributos físicos de nascença
à sua identidade de gênero constituída”
Desde quando nascemos já somos inseridos em uma sociedade
que já se encontra estruturada. A nossa passividade em seguir e
obedecer às regras sociais implica na continuação de um modelo
que escraviza o indivíduo e reproduz estereótipos que foram
enraizados ao longo de séculos.

Mudar as ideias e comportamentos preconceituosos são cada vez


mais necessários, e a escola tem grande poder de permitir essa
mudança de perspectiva dos sujeitos desde cedo.
Entretanto compreendemos as dificuldades que existem na
mudança, porque quando propomos a mudança estamos
ameaçando pessoas que possuem determinados privilégios e que
vivem violando os direitos de outros seres humanos de possuírem
uma vida melhor.

A escola como instituição formadora de opinião e com o dever de


formar o aluno para a cidadania, não pode continuar propagando
ideias, conceitos que alimentem o preconceito e a discriminação
contra a pessoa humana.
São os professores os agentes efetivos de transformação,
protagonistas na construção de ações e propostas pedagógicas
concretas e condizentes com cada realidade, que podem e devem
promover situações e discussões para combater, no ambiente
escolar, o preconceito racial, ainda enraizado na cultura brasileira.

Mostrar e educar para a compreensão do mundo plural


contribui, sem dúvida alguma, para a formação de crianças e jovens
com uma visão mais abrangente e diversa da realidade, afinal, a
diversidade constitui o ser humano.

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