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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

LETRAS LÍNGUA PORTUGUESA – CCSE


LINGUÍSTICA APLICADA
DOCENTE: SUZANNY PINTO SILVA

O ENSINO DE PORTUGUÊS PARA GRUPOS REFUGIADOS: PROPOSTAS


METODOLÓGICAS DE UM ENSINO INCLUSIVO NAS ESCOLAS DA
CAPITAL PARAENSE

Joice Silva de Sena1


Kédima Kérllem Dos Reis Santos 2
Resumo:
A presente oficina visa proporcionar aos participantes propostas metodológicas para um
ensino inclusivo dentro de uma perspectiva relacionada à população refugiada. Dessa
forma, tem-se como público alvo professores, educadores e gestores do campo da
educação, visto que são agentes primordiais para a composição de um ensino acolhedor
e abrangente. Pretende-se, de maneira primária, investigar as problemáticas centrais que
permeiam o ensino para os refugiados, porém, possuindo como foco principal a análise
dos entraves no que tange ao ensino da língua portuguesa para o respectivo grupo.
Nesse viés, a principal motivação de escolha do objeto de estudo parte da constatação dos
crescentes números de indivíduos refugiados que residem em Belém, publicados pela
ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), os quais predominantemente são indígenas
venezuelanos.

Objetivos:
• Geral: Apresentar propostas metodológicas para o ensino de LP como língua
acolhedora para grupos refugiados.

• Específicos:
1. Estimular o ensino de língua portuguesa e da cultura brasileira para uma
população vulnerável.
2. Integrar a população refugiada ao idioma, cultura e vida social do país acolhedor

1
Graduanda do Curso de Letras Licenciatura em Língua Portuguesa/ Centro de Ciências Sociais e Educação da
Universidade do Estado do Pará.
2 Graduanda do Curso de Letras Licenciatura em Língua Portuguesa/Centro de Ciências Sociais e Educação da

Universidade do Estado do Pará.


Justificativa:

A relevância desta oficina parte da necessidade da construção contínua de um


espaço de aprendizagem receptivo e integralizado para estudantes imigrantes, uma vez
que a sala de aula não está condicionada a técnicas de ensino previamente definidas ou
normativas. Posto isso, o docente em sua posição de mediador, dispõe de diversas
ferramentas de ensino, as quais podem/devem serem aplicadas dentro do ambiente
pedagógico, tendo como finalidade o desenvolvimento de um ensino analítico e social,
pautado na realidade do aluno.

Dessa forma, para a presente oficina, destaca-se os imigrantes residentes em


Belém, os quais majoritariamente são indígenas venezuelanos. Porém, torna-se válido
destacar que as propostas de ensino abordadas não estão restritas somente aos imigrantes
venezuelanos, podendo estas serem adotadas para qualquer grupo refugiado.

Partindo desta perspectiva, retomaremos, de maneira primária, o conceito de


refugiado proposto pela ACNUR.

São pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores
de perseguição relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade,
pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, como
também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e
conflitos armados. (ACNUR: Agência da ONU para Refugiados, 2022)

O Brasil, em 1997, sancionou a Lei 9.474, a qual criou o Comitê Nacional para os
Refugiados (CONARE):

Artigo 1º - Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:


I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião,
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país
de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país;
II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua
residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das
circunstâncias descritas no inciso anterior;
III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a
deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.

A Constituição Brasileira, de 1988, delimita nos Art. 5º e Art. 6º os seguintes


preceitos:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade [...].
Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

Por cerca de anos o Brasil recebe milhares de pessoas em situação de


vulnerabilidade social. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Justiça, em 20 de
junho de 2022, desde 1985 o Brasil reconheceu cerca de 60 mil pessoas como refugiadas,
a maioria delas provenientes da Venezuela, Síria, República Democrática do Congo e
Angola.

Atualmente, a maioria absoluta dos refugiados acolhidos pelo Brasil vem da


Venezuela. Em segundo lugar vem a Síria, com apenas 1,8 mil refugiados desde 2016.

Além disso, portanto, desde 2016, indígenas do povo Warao começaram a chegar
à região metropolitana de Belém, no Pará, em processo de migração forçada para escapar
da crise social e humanitária na Venezuela, país em que viviam.

Segundo dados mais recentes do Comitê Nacional para Refugiados, ligado ao


Ministério da Justiça e da Segurança Pública (CONARE/MJSP), a Venezuela é o
principal ponto de partida do deslocamento forçado e a Região Norte é onde mais são
registradas as solicitações de refúgio no Brasil, cerca de 75%.

Segundo a ACNUR, em 2019, pela gestão do então prefeito Zenaldo Coutinho, a


prefeitura de Belém assinou um acordo que fortalece assistência a refugiados
venezuelanos na capital paraense. Em 2021, a respectiva agência disponibilizou os
seguintes infográficos em relação a composição etária e informações acerca da situação
escolar dos venezuelanos refugiados em Belém.

(GRÁFICO 1. Fonte: ACNUR, 2021) (GRÁFICO 2. Fonte: ACNUR, 2021)


Expostas tais ponderações, pode-se constatar que existe um número significativo
de crianças e adolescentes refugiados em Belém. Mediante a isso, a presente oficina urge
como necessária para apresentar práticas elucidativas acerca de uma abordagem de ensino
inclusiva e humanizada, tendo como foco um dos fatores proeminente na adaptação de
tais indivíduos: a condição linguística.

Dessa forma, a utilização de práticas educacionais objetivas e inclusivas


proporcionam ao sujeito um meio de adaptação. Oliveira (2010) ressalta a importância da
aprendizagem da língua materna, visto que é por meio dela que o indivíduo consegue
introduzir uma integração social e consequentemente desempenhar um papel significativo
na construção indenitária, porém, sem esquecer-se do seu lugar de origem.

Ou seja, o professor deve estar aberto a inserção de novas práticas metodológicas,


possuindo como finalidade um ensino capaz de introduzir aspectos nos quais corroborem
para uma educação extensiva e preparatória, capaz de enxergar o aluno – refugiado –
como parte da construção do conhecimento, fomentando uma relação de proximidade
entre a língua portuguesa e o imigrante. Ademais, é papel do corpo pedagógico a criação
de um ambiente de ensino capaz de integralizar as práticas linguísticas ao ambiente social,
enxergando o sujeito como agente ativo no processo de aquisição da língua portuguesa.
"[...] a linguagem não pode ser tomada como objeto exterior ao aprendiz, mas
sim como processo construtivo e emergente de significações e identidade.
Aprender uma língua não é somente aprender outro sistema, nem passar
informações a um interlocutor, mas construir no discurso (a partir de contextos
sociais concretos e experiências prévias) ações culturais apropriadas. ”
(ALMEIDA FILHO, 1992, pg. 21)

Dessa forma, deve-se compreender que o indivíduo em posição de refugiado não


está à parte do ensino, ele deve fazer parte do ensino, e o professor deve ser o mediador
entre a apresentação de um discurso inclusivo e práticas de ensino as quais envolvam tais
processos. Isto é, desenvolvendo uma educação qualitativa, equitativa e analítica,
possibilitando um aprendizado que não estará restrito somente em sala de aula, mas no
contexto social no qual o aluno encontrará aptidão e confiança.

Metodologia:
A presente oficina pretende-se apresentar e refletir sobre propostas de ensino
voltadas para o grupo refugiado. Logo, contará com 10hr, as quais serão divididas em
dois dias, contando com 5hr para cada dia.

Posto isto, o desenvolvimento da oficina, no 1º dia, pretende-se seguir sobre tal


modelo:

• Apresentação da proposta temática, bem como uma breve elucidação acerca do


entendimento a respeito dos grupos refugiados;
• Realização da técnica de Brainstorming, tendo como objetivo incitar breves
diálogos com os ouvintes acerca de tal assunto;
• Levantamentos de hipóteses sobre entraves e dificuldades do ensino da língua
portuguesa para estrangeiros, em especial para grupos refugiados.

Após tais ponderações e discussões, apresentaremos duas propostas


metodológicas que podem ser implementadas no ensino de LP, dentro da sala de aula.

1º: Literatura em quadrinhos: a construção do respeito as diferenças por


meio dos desenhos.

O professor de Língua portuguesa usufrui de diversos objetos de ensino para a


realização de uma aula produtiva e qualitativa. Dessa forma, o docente, juntamente com
a turma, poderá produzir uma oficina de desenhos e produção artística, tendo como
objetivo a apresentação de obras literárias – em quadrinhos – que abordam a temática da
imigração e ressaltam as diferenças interculturais. Mediante a isso, o docente criará um
espaço de criação e exploração da capacidade imaginativa e criativa dos seus alunos, além
de intensificar o ensino da leitura e interpretação de texto.
Ademais, o docente poderá dividir a turma em grupos, os quais deverão criar suas
próprias histórias em quadrinhos tendo como referência as obras as quais foram
apresentadas anteriormente. Posto isso, a turma deverá socializar as histórias entre eles e
posteriormente deverão criar uma biblioteca virtual para a publicação das respectivas
HQ’s.

2º: A música como recurso educativo


É de conhecimento geral que a música é um recurso significativo no aprendizado
de qualquer idioma. Ou seja, muitas escolas que possuem o foco no ensino de uma
determinada língua estrangeira usam do recurso da música como um forte objeto de
ensino.

Mediante a isso, o professor, em sala de aula, poderá apresentar músicas regionais,


tendo como objetivo identificar as variações linguísticas, bem como o ritmo, melodia e
expressão, abrindo espaço para que os alunos possam se comunicar através dela e
consequentemente explorar os contextos culturais e históricos presentes nas músicas. Tal
atividade poderá ser usada como recurso de entendimento da construção linguística,
podendo ser explorado desde os aspectos gramáticas – como ordem sintática das palavras
– e a percepção cognitiva no que tange a análise do discurso.

Em consonância a esses aspectos, o segundo dia de oficina seguirá tal modelo:

• Construção de textos, pelos alunos, que exponham sua cultura, religião e vida social, a
fim de que o professor e a turma conheçam as particularidades de cada um.

• Socialização dos textos, em sala de aula, a fim de que todos possam ouvir, ler e conhecer
história de cada um.

Avaliação:

• Observação
• Produção individual
• Socialização

Recursos:

Humanos: professores e educadores.

Materiais de consumo: lápis, caneta, papéis, folder e cartaz.

Materiais permanentes: notebook e projetor.


REFERÊNCIAS

ACNUR. Perfil de indígenas venezuelanos warao estado do pará. JULHO 2020.


Disponível em: < https://www.acnur.org/portugues/wp-
content/uploads/2020/07/ACNUR-Brasil-Perfil-de-Ind%C3%ADgenas-Venezuelanos-
Warao-no-Estado-do-Par%C3%A1-Julho-2020-FINAL-1.pdf>. Acesso em: 10, outubro,
2022.

ALMEIDA FILHO, J. C. P.; LOMBELLO, L. C. Identidades e caminhos no ensino de


português para estrangeiros. Campinas: Pontes Editora, 1992.

MENEZES. Isabela, ACNUR e Prefeitura de Belém assinam acordo que fortalece


assistência a refugiados venezuelanos na cidade. Agência da ONU para Refugiados,
2019. Disponível em: < https://www.acnur.org/portugues/2019/11/20/acnur-e-prefeitura-
de-belem-assinam-acordo-que-fortalece-assistencia-a-refugiados-venezuelanos-na-
cidade/>. Acesso em: 10, outubro, 2022.

OLIVEIRA, A. Processamento da informação num contexto migratório e de


integração. In: GROSSO, M. J. (dir.) Educação em Português e Migrações. Lisboa:
Lidel, 2010.

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