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INTRODUÇÃO
Por conta disso, a autora considera fundamental a explicitação da concepção adotada pelo
pesquisador ao se tratar das abordagens culturais. Candau (2008) destaca três perspectivas do
2. METODOLOGIA
Para realizar a pesquisa proposta, selecionamos uma escola pública regular paulistana de
ensino fundamental que contém uma quantidade considerável de alunos bolivianos no ciclo de
alfabetização. Optamos por um estudo etnográfico com observação participante por considerar que
seria o mais interessante para compreender com maior profundidade essas relações.
Em fevereiro deste ano (2015), começamos a acompanhar as atividades das sete turmas de
1º a 3º ano da escola. Observamos os alunos em sala de aula, nos intervalos e em todos os outros
espaços e momentos escolares. A próxima etapa do trabalho de campo será a realização de
entrevistas com os professores desses alunos e a coordenação da escola. Pretendemos entrevistar
todos os educadores diretamente envolvidos na escolarização dos alunos bolivianos do ciclo de
alfabetização nessa escola. As entrevistas serão semiestruturadas e abordarão questões sobre
diversidade cultural e diferenças.
Considerando a faixa etária dos educandos, além da observação participante, realizaremos
também rodas de conversa com todos os alunos para tratar da questão da diversidade cultural de
forma lúdica. As conversas serão propostas a partir da leitura de obras literárias infantis que tratam
dessa temática. A análise dos dados coletados está sendo realizada à luz das teorias da Antropologia
da Criança e de estudos sobre Educação Intercultural.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa está em andamento e o trabalho de campo ainda não foi concluído, por isso
algumas análises que apresentaremos são apenas preliminares.
Apesar de um número considerável de alunos bolivianos na escola e de outras
nacionalidades também (há alunos de mais de dez nacionalidades distintas), não percebemos que há
uma postura clara desta instituição em pensar em novas possibilidades pedagógicas para atender a
esses educandos. Nas três turmas do 1º ano, percebemos algumas dificuldades de interação entre
alunos brasileiros e bolivianos, especialmente no caso de alunos recém-chegados ao Brasil. A
língua demonstra ser um fator que dificulta a interação e também o processo de aprendizagem.
Podemos destacar algumas cenas em que os alunos bolivianos tentam falar algo ao professor e não
são compreendidos. Eles acabam desistindo e voltam para o lugar sem conseguirem comunicar o
que gostariam. Essa dificuldade de comunicação pode ajudar a entender melhor porque é tão
comum observar agrupamentos de bolivianos na hora do recreio, especialmente no intervalo dos 1ºs
e 2ºs anos. Observamos que alguns alunos que falam bem o português e o espanhol interagem não
só com os bolivianos, mas também com os brasileiros. Conversando com as crianças, descobrimos
que muitas se aproximam na hora do recreio (mesmo sendo de turmas diferentes) por já se
conhecerem. Geralmente, são parentes ou vizinhas. Algumas até dividem a mesma moradia, como
ocorre com alguns primos. Outra questão percebida foi em relação à situação econômica dos
bolivianos. Tivemos acesso aos dados do perfil das famílias de alguns alunos e a maioria das fichas
de bolivianos analisada apresentou uma renda familiar entre 1 e 3 salários mínimos por mês;
algumas declaram ganhar menos de 1 salário mínimo mensal. Com dificuldade de acesso a serviços
básicos, algumas crianças bolivianas são discriminadas por sua condição. Algumas falas
demonstram que há uma série de preconceitos dos pais das crianças brasileiras em relação aos
bolivianos e que são reforçados em suas orientações aos filhos no que se refere a certo afastamento
das crianças bolivianas. Alguns educadores também fizeram comentários em relação à higiene e à
saúde dos alunos bolivianos, pois muitos apresentam o rosto com algumas manchas e alguns dentes
comprometidos por cáries. Um discurso recorrente entre os educadores é de que as famílias
bolivianas são mais participativas e mais comprometidas do que as brasileiras. Há uma visão de que
os bolivianos seriam mais esforçados e valorizariam mais a escola por precisarem mais dela.
4. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livros:
CANDAU, Vera Maria Ferrão (Org.). Diferenças Culturais e Educação: construindo caminhos. Rio de
Janeiro: 7 Letras, 2011. v. 1.
COHN, Clarice. Antropologia da Criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
OLIVEIRA, Gabriela Camargo de; BAENINGER, Rosana. A segunda geração de bolivianos na cidade
de São Paulo. In BAENINGER, Rosana (Org.). Imigração Boliviana no Brasil. Campinas: Núcleo de
Estudos de População-Nepo/Unicamp; Fapesp; CNPq; Unfpa, 2012.
Artigos de revista:
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. A ética na pesquisa etnográfica com crianças: primeiras
problematizações. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 9., nº 1, p. 235-245, jan/jun 2014.
Disponível em:<http://www.revistas2.uepg.br/index.php/praxiseducativa/article/viewArticle/6389>.
Acesso em: 20 fev. 2015.
FLEURI, Reinaldo Matias. Intercultura e educação. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, n. 23, Ago. 2003.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n23/n23a02.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2014.
PIRES, Flávia. Ser adulta e pesquisar crianças: explorando possibilidades metodológicas na pesquisa
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SILVA, Sidney Antonio da. Bolivianos em São Paulo: entre o sonho e a realidade. Estud. av., São
Paulo, v.20, n.57, Ago. 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ea/v20n57/a12v2057.pdf>.
Acesso em: 03 set. 2014.
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