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O Canadá é um país de destaque na construção de um sistema multiculturalista e, por isso, foi escolhido para que

sejam tratadas neste trabalho as novas influências que surgiram com o multiculturalismo, com destaque para a
cidadania. Este trabalho estuda as políticas multiculturalistas educacionais que existem no Canadá para dar fluidez
ao processo de multiculturalismo que existe no país, que foi oficializado em forma de lei, revelando uma
característica única do país de mais destaque em ações de cunho multicultural do mundo. Grande parte do trabalho
foi desenvolvida a partir de livros e fontes virtuais dos Estados Unidos e do Canadá na língua inglesa e sem tradução,
por não haver escritos oficiais sobre o tema específico do Canadá na língua portuguesa, com pouquíssimas exceções.
O sistema educacional de multiculturalismo será o destaque do trabalho por ser uma das formas mais eficientes na
consolidação do que a lei já tem proclamado por meio de Atos e programas governamentais, ao mesmo tempo que
mostra que, apesar da legalização de um método que pretende melhorar confrontos sociais, muitos progressos
ainda não foram alcançados. O desenvolvimento do trabalho pretende mostrar que o multiculturalismo criado no
Canadá tem falhas, mas é uma forma benevolente de busca de solução de intolerâncias na sociedade, como é o caso
da intolerância da diferença. O reconhecimento da diferença é uma importante ferramenta para que uma esfera de
multiculturalismo seja uma realidade. Com a participação da sociedade nos projetos governamentais, o Canadá
passou a construir uma nova noção de cidadania, levando a pluralidade como ponto natural e valorizado pelos
cidadãos. O país ainda é muito restrito, mas adotou políticas de aceitação de imigrantes de acordo com interesses
econômicos do governo, o que mesmo assim abriu um grande leque que passou a aceitar pessoas de qualquer lugar
do mundo como imigrantes e possíveis cidadãos. Atualmente, o Canadá trabalha com vários programas que
aperfeiçoam novos imigrantes e os auxiliam na integração social anglo-canadense ou franco-canadense. Mesmo com
muitas falhas, fraquezas e contradições multiculturalismo, o Canadá é um exemplo de que a globalização tem
provocado um novo olhar, especialmente no mundo ocidental, em questões econômicas, comerciais, políticas e
sociais. A cidadania está sempre em processo de construção e sofre mudanças de conceito quando a
internacionalização se intensifica. Grande parte dos países com perfis multiculturais são desenvolvidos, mas outros
países já têm alguma característica multiculturalista, como é o caso do Brasil, que tem uma grande deficiência na
construção da sua cidadania por questões históricas e a consolidou há menos de três décadas. O sistema
educacional brasileiro ainda é ineficiente em vários pontos, mas mesmo assim o governo já criou programas e
projetos educacionais que carregam o multiculturalismo como ponto-chave, mostrando que essa tendência é
importante para o perfil do país.

61Unoesc & Ciência - ACHS Joaçaba, v. 7, n. 1, p. 61-68, jan./jun. 2016MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADE


CULTURAL: UMA REFLEXÃOPaulo Ricardo Bavaresco*Daiane Paula Tacca** RESUMO

No presente trabalho se discorre sobre o multiculturalismo: a diversidade cultural na escola, analisando a relevância
de considerar todas as diferenças de um sujeito histórico, social e culturalmente construído, com valores, culturas e
iden-tidades diferentes. Nessa perspectiva, a pesquisa procura entender e conhecer como a criança constrói sua
identidade e como os educadores valorizam esse aspecto, contribuindo para a não existência de preconceitos no
espaço escolar. Assim, a educação deve ser construída em um espaço heterogêneo, fruto da ação recíproca entre
educando e instituição, que é capaz de reconhecer e incorporar positivamente a diversidade sociocultural,
procurando dar um sentido mais humanizador, no qual possamos reconhecer e acolher o outro como pessoa
humana, única e diversa sem deixar de ter sua própria identidade. A pesquisa é de cunho bibliográfico e qualitativo.
O tema abordado passa pela necessidade de refletir o papel da escola diante da exclusão, realidade tão presente
nesse espaço. Portanto, discorrer sobre multicultura-lismo inclui, de certo modo, o processo de exclusão ou inclusão,
dependendo do ângulo que a escola assuma enquanto espaço vivo dos problemas sociais.Palavras-chave:
Multiculturalismo. Identidade. Diversidade cultural. Escola.1 INTRODUÇÃOAo estudarmos história, descobrimos que
a diversidade cultural é responsável pelo desenvolvimento material e cultural da humanidade. No entanto, falar em
multiculturalismo no âmbito escolar, ainda hoje, gera muitas discussões entre a teoria e a prática. O
multiculturalismo é a valorização da diversidade cultural que busca eliminar preconceitos e estereótipos construídos
historicamente, procurando formar uma sociedade alicerçada no respeito e dignidade do outro com suas diferenças.
Portanto, é preciso pensar nas diferenças dentro de suas “diferenças”, e o multiculturalismo abre espaço para
refletir a complexidade e as divergências classificatórias da atualidade.O multiculturalismo é o reconhecimento das
diferenças e da individualidade de cada um. A escola por se con-figurar como espaço legítimo onde ocorre o
processo de socialização, é o ambiente no qual mais se discute a questão da diversidade – cultural racial e social.
Para que este processo aconteça é necessário o convívio multicultural que implica respeito ao outro e ao diálogo
com os valores do outro. O multiculturalismo ocorre a partir de iterações sociais na esco-la, que implica,
especialmente, a aprendizagem do aluno. As experiências vividas em sala de aula ocorrem, inicialmente, entre o
ambiente e os colegas que ali estão envolvidos com o educador. Nesse caso o educador precisa ter um bom
planejamento e ser um bom mediador para fazer a diferença na aprendizagem dos educandos.O objetivo com
trabalho é discutir sobre a temática da diversidade cultural no processo educativo e refletir em torno de alguns
elementos, sejam culturais, religiosos, étnicos, sejam de identidade ética e multiculturalismo. Pontua--se, ainda, a
presença de diferentes experiências socioculturais no Brasil, contribuindo para o repensar da prática pe-dagógica do
professor e da formação do aluno enquanto sujeito das suas ações. Vale ressaltar que vivemos em um país
multicultural, onde há uma mistura de etnias, cada uma com seus costumes, seus valores e seu modo de vida. Dessa
mistura é que surge um indivíduo que não é branco nem índio, que tampouco é negro, mas que é simplesmente
brasi-leiro. Filhos desse hibridismo e tendo como característica marcante o fato de abrigar diversas culturas, nós,
brasileiros, ________________* Doutor em Ciências Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos; Professor e
pesquisador na Universidade do Oeste de Santa Catarina; paulo.bavaresco@unoesc.edu.br** Graduanda do Curso
de Pedagogia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina; daianepaula0605@hotmail.com
À guisa de conclusão
O multiculturalismo está situado em uma política de reconhecimento e afirmação da diversidade enquanto
manifestação da diferença. Esta política preceitua o respeito à diferença como manifestação da dignidade humana.
Nessa conjunção, as identidades misturam aspectos abrangentes envolvendo o continente, a nação, a região, o local, a
idade, o gênero, a etnia, a profissão e a classe. Esta perspectiva potencializa u ma maio r abert ur a para novas po
ssibilidade s polít ica s, eco nômicas e
soc io culturais como expressões de uma cidadania d iferenciada focada nos d ire it o s humanos.
Em pa íses co m a for mação hist ó rica e cult ur al ao est ilo do Brasil, a diferença “era
sile nc iada”, anulada. O mult icult ura lismo, po is, a fr onta as concepções mo no cu lt ura is e m
soc iedades de expressões cu lt ura is et nocê ntrica s. Out ros o vee m u m fator de fo rtalec imento
do tecido socia l. Po rt anto, um fato r de demo crac ia. O mult ic ult ur alis mo pode ser um fat o r de
fo rt ale ciment o do tec ido socia l e po lít ico à medida do avanço dos dire it o s civis.
Po st as as análise s e m t o rno de uma art icu lação entr e o mu lt icu lt ura lis mo , diversidade
e d ire it o s humanos, potencia lidades e limit es, é d estac ada a bu sca de u ma co mpat ibilização
ent r e as d ifere nças cult ur ais, histór icas, soc ia is, eco nômica s e ideo ló gicas existentes e o utras
fo r ma s de expressão da d iferença. Algo ind ispensável a u ma visão at ent a à comp lexidade do
mult icu lt ura lis mo e da cidadania d ifere nc iada co mo avanços para u ma a bordagem qualit at iva
da de mo cracia. O entr elaça mento de uma visão inclusiva das minor ia s. Enfim, u ma
perspectiva de paz na convivência com a d iversidade cultur al e a justiça social.
REFER ÊNCIAS
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gLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO

P ensar sobre multiculturalismo e educação pressupõe analisar concepções e experiências pedagógicas baseadas
nesse movimento teórico que se inicia em meados do século XX nos Estados Unidos e que se difunde no mundo
ocidental como forma de enfrentamento dos conitos gerados em função das questões econômicas, políticas, e,
mormente, étnicoculturais, na tentativa de combater discriminações e preconceitos, haja vista as diculdades de
indivíduos e grupos de acolher e conviver com a pluralidade e as diferenças culturais. Sobre isso Valente (1999: 63)
argumenta: “Aceitar as diferenças e enriquecer- se com elas continua a ser um problema que hoje ninguém sabe
resolver porque supõe o reconhecimento da alteridade (...)”. Diante dessa circunstância, considera-se relevante
situar a realidade sócio-histórica e cultural atual, marcada pelos processos de reestruturação produtiva do sistema
capitalista em escala mundial, que resulta na chamada universalização do capital, bem como marcada pelo
crescimento dos intercâmbios culturais, que evidenciam diferenças e acirram conitos, despertando cada vez mais os
sujeitos e os grupos alvos de discriminação para lutar em defesa das formas plurais e diversas de ser e de vivier

Economicamente, esse novo momento histórico é representado pela chamada globalização econômica que, em
síntese, refere-se à internacionalização do capital, tendo por base a produção, distribuição e consumo de bens e
serviços, organizados a partir de uma estratégia mundial e voltados para um mercado mundial, visando atender, de
forma padronizada, o gosto de consumidores em todos os recantos do planeta. Salienta-se com isso, o caráter
opressivo da globalização em relação às identidades culturais diversas, sobretudo quando se leva em conta que
globalizar pode signicar homogeneizar, diluindo identidades e apagando as marcas das culturas ditas inferiores
(FLEURI, 2003). Politicamente, prevalece o ideário neoliberal centrado na crítica ao papel do Estado na economia,
que propõe a redução drástica de sua intervenção socioeconômica para eliminar garantias trabalhistas e revogar
direitos sociais visando desmobilizar os trabalhadores e suas conquistas históricas, e, ao mesmo tempo, desmontar a
máquina pública e reformar o Estado Benfeitor (Welfare State) a m de fortalecer os empresários, seus negócios
lucrativos, a liberdade de mercado e o livre comércio em todas as esferas da vida privada. Culturalmente, com o
vertiginoso avanço da tecnologia, media, informática e a diluição de fronteiras geográcas, tem-se acelerado o
intercâmbio cultural. O mundo assume, denitivamente, as feições e as marcas da multiculturalidade, da diversidade
cultural, fazendo-nos crer que estamos “condenados” a pensar a unidade humana na base de sua diversidade
cultural e nos desafiando a desenvolver a capacidade de conviver com as diferenças

s. OS INTERCÂMBIOS CULTURAIS E AS DIFICULDADES DE CONVIVER COM O “OUTRO” Pressupondo que não há como
refrear a suposta homogeneidade cultural pseudoconstruída ao longo do desenvolvimento da humanidade pelos
diversos grupos étnicoculturais, e, haja vista que a heterogeneidade tem-se constituído na marca predominante da
sociedade contemporânea, há que se reconhecer que muitas são as diculdades que se anunciam perante essa
realidade irrevogável e irreversível. Olhando sob esse ângulo, um dos obstáculos que se interpõe na busca da
convivência pacíca e tolerante relaciona-se à visão de que, não raro, a diferença é associada à inferioridade e
desigualdade, e o “outro” - que é diferente porque diverso e plural - torna-se inferior e passa a representar uma
ameaça aos padrões euroamericanos de ser e de viver. Tais padrões, assentados nas culturas ocidentais brancas,
letradas, masculinas, heterossexuais e cristãs, estão arraigados no imaginário social e naturalizados cotidianamente
nos diversos espaços de convivência humana, afetando tanto os chamados grupos minoritários quanto os
pertencentes às esferas hegemônicas. Ademais, são padrões culturais denidos arbitrariamente e impostos de modo
sutil ou arrogante e hostil, peculiar das culturas e identidades autoproclamadas “superiores”, o que contribui para
reforçar e difundir a chamada ideologia do branqueamento, segundo a qual os grupos ocidentais brancos se dizem
mais capazes e melhores que os demais existentes, tornandoos alvos de exclusão, discriminação, preconceito etc.
Salienta-se que a ideologia do branqueamento está centrada numa visão etnocêntrica de mundo, isto é, na cultura
do próprio grupo como a única aceitável e correta, conforme as imagens projetadas de si mesmo e reproduzidas
como uma espécie de narcisismo coletivo anestesiante, afetando a vivência social de todos os grupos culturais,
sejam os ditos superiores ou inferiores. Por conta disso, torna-se difícil, muitas vezes, situar quem é quem no jogo
das diferenças, nas relações de poder desiguais, isto é, quem se posiciona na condição de dominante ou de
dominado, uma vez que em todos os grupos culturais há aqueles que são a, um só tempo, discriminados e
discriminadores, vítimas e algozes. Podemos mencionar, a título de exemplicação, o caso de um sujeito negro que é
discriminado por outro branco, mas, maltrata a mulher em casa; ou um praticante do candomblé que é alvo de
preconceito dos católicos, porém, combate com veemência os evangélicos ou a união estável entre pessoas do
mesmo sexo; ou mesmo o caso de um gay ou lésbica que sofre na pele o preconceito pela sua condição sexual, mas
não deixa de assumir posição racista diante de uma pessoa negra etc.

Outro entrave à convivência plural é que temos caminhado a passos lentos no sentido de acolher a diversidade
cultural, sobretudo quando se considera a rapidez com que assumimos práticas preconceituosas, racistas,
estereotipadas ou xenofóbicas diante do “outro”. E, o mais importante, apesar das conquistas alcançadas em todos
os países do mundo ocidental, tais como o Brasil, as ações efetivas têm sido tímidas na maioria das instituições
formadoras (incluindo as escolas e universidades) com vistas a uma educação multicultural capaz de ensinar e
aprender a lidar com práticas discriminatórias. Quando muito, sobressai-se a retórica vazia de sentido político, sem
grandes repercussões concretas.

Em função dessa realidade, a educação em geral e, mais especicamente, a escola e os professores são encarados
como “esperança de futuro”, sendo pressionados a repensar o seu papel diante das transformações em curso, as
quais demandam novos saberes, novas competências, um novo jeito de pensar e de agir, enm, um novo perl de
formação do cidadão. O desao maior tem sido a busca de soluções para os problemas e impasses sociais causados
pela lógica do mercado como o “deus social soberano”, para quem os seres humanos e as suas necessidades são
secundarizadas em relação ao capital. Tendo em vista, portanto, de um lado, que nas sociedades contemporâneas
ocidentais as lutas pelo poder não se desenrolam somente no espaço político e econômico, porém, ampliam-se para
o terreno cultural, e, de outro, que o cenário de interdependência global e de intercâmbios culturais contribui para
promover discriminações, racismos, xenofobias, extremismos religiosos, exclusão social, econômica e étnica etc.,
atingindo sobremaneira os grupos economicamente mais fragilizados, vai se tornando urgente e inadiável a
mobilização de esforços no sentido de solucionar e combater a opressão ou, em última instância, aliviar as tensões,
conter a propagação dos racismos, bem como rearmar os direitos humanos, garantindo o direito à pluralidade e às
diferenças culturais, a m de evitar abalos mais profundos nos alicerces da ordem vigente. Em face das rápidas
mudanças, profundas contradições e incertezas que colocam em xeque a própria existência humana na terra,
demandando o seu enfrentamento em escala mundial, as agências internacionais como a Organização das Nações
Unidas (ONU) via Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Banco Mundial se encarregam de “mobilizar” os países-membros em
torno da discussão sobre educação, tolerância e respeito à diversidade cultural, haja vista o problema representar
uma ameaça a todos, indistintamente (dominados e dominantes, pobres e ricos, negros e brancos, mulheres e
homens), independente de classe ou grupo social. Para isso, traçam metas, denem propostas e promovem eventos
(fóruns e conferências), a m de manter sob controle os antagonismos sociais e culturais. Por meio desses eventos
“estimulam” os Estados-Nação, dentre eles o Brasil, assumir o compromisso de reformular os discursos e
implementar reformas nos sistemas educacionais e curriculares ociais, articulando princípios da ideologia neoliberal
e, contraditoriamente, de “educação para a tolerância”, “cultural da paz” e “respeito às diferenças culturais” entre
povos, etnias, nações (LOPES, 1999). Nesse sentido, levar em conta a pluralidade cultural no âmbito da educação
implica pensar formas de reconhecer, valorizar e incorporar as identidades plurais em políticas e práticas
curriculares. Signica, ainda, reetir sobre mecanismos discriminatórios que tanto negam voz a diferentes identidades
culturais, silenciando manifestações e conitos culturais, bem como buscando homogeneíza-las numa perspectiva
monocultural. Tais reexões constituem o alicerce para se situar o multiculturalismo no terreno educacional. Porém, o
que é o multiculturalismo? Quais as suas origens históricas? De que multiculturalismo se fala ou, melhor, quais as
concepções teóricas existentes? Quais as vertentes mais conhecidas? Veremos esses assuntos a seguir

O multiculturalismo emerge em território estadunidense não apenas como movimento social em defesa das lutas
dos grupos culturais negros e outras “minorias”, mas também, como abordagem curricular contrária a toda forma de
preconceito e discriminação no espaço escolar. Inicialmente, constitui-se desvinculado dos sistemas de ensino,
incorporado na sua maioria pelos movimentos sociais, especialmente os grupos culturais negros. O eixo orientador
do movimento é o combate ao racismo e as lutas por direitos civis. Gonçalves e Silva (1998) situam o início do

movimento no final do século XIX, com as lutas dos afro-descendentes, que buscavam a

igualdade de exercício dos direitos civis e o combate à discriminação


racial no País.
Os precursores do multiculturalismo foram professores
doutores afro-americanos, docentes universitários na área dos
Estudos Sociais que trouxeram, por meio de suas obras,
questões sociais, políticas e culturais de interesse para os afro-
descendentes. Entre esses estudiosos destacam-se George W.
Williams, Carter G. Woodson, W. E. B. Dubois, Charles H. Wesley, St.
Claire Drake. Baseando-se em argumentos cientícos procuravam
preparar as populações segregadas para exigir igualdade de direitos,
Diversa :: Ano I - nº 1 :: pp. 51-66 :: jan./jun. 2008
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estimulando a auto-estima desses grupos e apoiando o debate
intelectual sobre questões relativas à discriminação e exclusão
social.

Para Gonçalves e Silva (1998), os trabalhos acadêmicos


desses estudiosos, embora ignorados pela sociedade em geral, foram
divulgados em escolas, igrejas e associações afro-estadunidenses,
consistindo em pesquisas histórico-sociais e em elaboração de
materiais didáticos e novas metodologias para os diversos níveis
de ensino, fundamentados em um novo conhecimento da história
dos negros. Partindo da reexão desses precursores, novos
estudos serão realizados ao longo do século XX, contribuindo
para o desenvolvimento de pesquisas e práticas pedagógicas, que
insistem na idéia de se repensar a educação em uma perspectiva
multicultural.
Analisando a adesão da universidade ao movimento
multiculturalista, Gonçalves e Silva (1998) comentam que os
primeiros programas e departamentos de Black Studies são criados
em 1968 na San Francisco State University. No ano seguinte,
outras universidades como Harvard, Yale e Columbia, cedendo
às pressões do movimento estudantil, incluem em seus quadros
curriculares esta nova área de estudos. Os Black Studies, ao se
preocuparem com as relações entre os diversos grupos sociais a
partir da história e da cultura dos afro-descendentes, ajudam a
reconstruir a história dos negros e da humanidade, permitindo a
essas comunidades compartilhar dos conhecimentos produzidos e
veiculados em sociedade.
Todas essas mudanças contribuíram para amenizar o chamado
dilema racial na década de 70 nos Estados Unidos, sobretudo entre
a juventude negra. Para Glazer (citado por GONÇALVES E SILVA,
1998: 34), “se antes, eles estavam preocupados na integração,
ignorando sua própria cultura e sua história, é porque queriam
ser exatamente como os brancos; hoje, eles se debruçam sobre
a própria herança, buscando dialogar com o seu passado, para
descobrir a própria identidade”.
A partir dos anos 70, há um relativo avanço nas lutas
multiculturalistas, à proporção que os Estados Unidos instituem, à
custa das pressões populares, políticas públicas em todas as esferas
de poder público (federal, estadual e municipal), visando garantir
igualdade de oportunidades educacionais, de integração e justiça
social a grupos culturais diversos, tais como os não-brancos, do
sexo feminino, decientes, alunos de baixa renda etc.
Nos anos 80 e, especialmente, nos anos 90, são fortalecidos
os estudos sobre o multiculturalismo em decorrência da ampliação da

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