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Minha Escola é (quase) inclusiva

Eduardo Martins, docente adjunto IV, (UFMS), curso


de história, campus de Nova Andradina-MS.

Vivemos na era dos direitos; humano, animais, plantas, etc. Época de


inclusão; cegos, autistas, deficientes físicos, surdos, mudos, exilados, imigrantes,
etc. Minha escola é (quase) inclusiva, atende todas, todos e todes, também todxs,
obedece às leis do país, a Constituição e da educação LDB (Lei n. 9394/96), e as
demais normas, portarias e resoluções das Secretarias de educação.
Minha Escola é devidamente adaptada para estudantes cadeirantes, temos
intérprete de LIBRAS, e muitos acadêmicos (as) estagiários (as) que fazem o
acompanhamento dos estudantes portadores de necessidades especiais. Até aí está
tudo bem, no entanto, temos ainda uma situação, que aparentemente é nova para
resolver; a da língua portuguesa! Exatamente, o Brasil tem recebido muitos
imigrantes hispânicos: bolivianos, colombianos, venezuelanos e paraguaios, que os
pais vêm em busca de oportunidades de emprego.
O que acontece é que estas famílias têm crianças que são estudantes, diante
deste fato a Escola também enfrenta a questão da imigração que a princípio é um
fator de expulsão econômico, pode-se ler político. As crianças em tenra idade
escolar, porém, já alfabetizadas na sua língua materna, o espanhol, falando sua
língua original em casa fluentemente. Ao chegar à escola se depara com outro país;
disse Caetano Veloso que “minha pátria é minha língua”, neste caso, tendo a acatar
a visão do poeta. Esta criança se encontra fora da sua pátria, língua, a escola é,
então, um país estrangeiro para esta criança, estudante.
Retomando o que eu disse lá no começo deste texto, com a provocação do
“quase” inclusiva, e aqui, questionando se a Escola está preparada para este “novo”
aluno (a), imigrante, alienígena (no sentido do estranhamento ao lugar) que acabou
de desembarcar noutra terra e enfrentando a barreira linguística. Estaria a minha
escola apta para, por exemplo, mostrar à criança de língua hispânica que o portão
que os pequenos, educação infantil, saem não é o mesmo que o dos grandes,
ensino fundamental? E se, por acaso, esta criança ficar perdida dos seus
responsáveis na hora da saída? Note que também os responsáveis são estrangeiros
e, portanto, alienígenas na escola. Estaria a Escola preparada, adaptada, para
acolher as crianças estrangeiras de língua hispânica, assim como seus
responsáveis? E se esta criança se perder, se desencontrar do seu responsável e
vice-versa, qual trauma terá? Ainda que temporariamente.
Quais as ações a minha escola tem feito para acolher esta pessoa com
necessidades especiais da linguagem?
Se acaso, as respostas foram não ou, um silêncio conivente, minha escola
ainda não está totalmente adaptada para a inclusão, infelizmente. No entanto, isso
se resolve facilmente, com um pequeno esforço de empatia, com a mudança do
Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, tirando a língua inglesa, ou incluindo a
língua espanhola nas suas grades curriculares, exigindo a contratação de
profissionais de língua espanhola para autuarem como intérpretes e, ou ainda, como
apoio educacional das crianças hispânicas, ou acompanhamento, tal qual existe
para os portadores de necessidades especiais. Pode-se (deve-se) também, em
parceria com as universidades, em projetos de ensino ou de extensão, solicitar
estudantes bolsistas que tenham conhecimentos certificados de língua espanhola
para trabalharem nas escolas auxiliando estas crianças portadoras de dificuldades
com a língua portuguesa, bem como com os seus responsáveis.
Por enquanto, vejo crianças perdidas nos portões das escolas chorando por
seus responsáveis numa escola estranha que se quer inclusiva. No outro portão vejo
responsáveis também chorando a perda/desencontro dos seus filhos, puramente por
não saber falar, ainda, a língua portuguesa. Vejo alguns responsáveis pelas crianças
estudantes deslocados, excluídos pela barreira da língua nas reuniões escolares e
demais eventos que conclamam a participação da família.
Faz-se mais do que urgente que a Comunidade escolar, direção,
coordenação, corpo docente, técnicos, corpo discente e pais/responsáveis se
mobilizem para incluir a língua espanhola na educação escolar.
Por fim, o Mercosul, criado em 1991, está fazendo vinte e dois ano (22) de
existência e um dos seus objetivos era a língua comum. Vale ressaltar que o Brasil é
citado, com certa recorrência, como a potência regional de maior destaque dentre
todas as que integram o bloco econômico citado.

Referências

ALMEIDA, Patricia M. C.; ESPÍRITO SANTO JR., Respício A. Ensino de português


como segunda língua para os parceiros do MERCOSUL, 2000. (mimeo.).
disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/horizontesla/article/view/861/752.
Acesso em 20, mai, 2023.

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NATALI, Adriana. O Brasil flerta com a vizinhança. Revista Língua Portuguesa,


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THOMAZ, Karina M. A política linguística do projeto escolas interculturais


bilíngues de fronteira do Mercosul: ensino de segunda língua para as áreas
fronteiriças. Revista Línguas & Letras, Paraná, v. 11, n. 21, 2º semestre de 2010.

URUGUAI ensinará português em escolas públicas a partir de 2010. Estadão, São


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http://www.estadao.com.br/noticias/geral,uruguai-ensinara-portugues-nas-escolas-
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