Você está na página 1de 3

1

“A baleia” e o amor

Fonte: https://www.em.com.br/app/noticia/diversidade/2023/02/27/noticia-diversidade,1462421/o-
preconceito-por-tras-da-sensibilidade-de-a-baleia.shtml. Acesso em 03 fe, 2023.

Já falaram sobre o amor, definiram, divagaram, poetizaram, e demais coisas


sobre essa coisa/sentimento singular do ser humano. Todo mundo já falou e fala,
todos têm uma definição, uma explicação empírica, teórica ou escabrosa, ou uma
história dele.
Sendo assim eu também vou falar, afinal eu também amo, portanto, tenho
lugar de fala. Falo que deveria ser proibido por decreto definir o amor. Decreto 01/23
“a partir de hoje está expressamente proibido definir o amor em palavras faladas e
escritas, sob pena de 200 chibatadas em praça pública aplicadas com amor”.
Cumpra-se.
Acho que foi o Platão que começou com essa história de definir o amor; um
negócio da alma, idealizado, depois o São Paulo de Tarso vai fazer uma missa
católica entorno do amor , falando que é caridoso, disse que é paciente, é bondoso,
depois foi o Camões que teorizou falando que é fogo, na verdade revela um tipo de
amor oximoro.
Tantos e tantas pessoas escreveram alguma coisinha em seus livros ou
tratados; Romeu e Julieta seria o ápice do amor romântico que se morre por essa
coisa, temos a lenda britânica de Tristão e Izolda que também tem fins trágicos, a
lenda de Drácula da Transilvânia é também uma história de amor de um cristão,
cruzado, vai pra batalha contra os muçulmanos com a promessa da Igreja de
abençoar o seu amor o que não aconteceu e o coitado amante foi condenado pela
eternidade a beber sangue humano. Histórias e mais histórias são contadas sobre o
amor e suas facetas; macabras via de regra, vide Capitu e Bentinho; ou no Sertão
Diadorim e Riobaldo, por que Rosa não deixou Diadorim homem?
2

Poetas, literatos, filósofos, santos, loucos escreveram sobre o amor, pra quê e
pra quem? Por quê? Afinal se chegou a alguma conclusão? Não.
Cada pessoa acha que sabe suficientemente sobre o amor a ponto de dar
longas lições; explanar, expor, jurar de pés juntos que sabe o que é essa maluquice
ou desvario ou sandice ou loucura ou bobeiragem, etc., podem chamar também de
beleza, pureza, divindade, algo que o valha, sentido positivo, otimista e bom.
Eu vou defender meu decreto 01/23 ninguém mais deve tentar definir isso por
escrito ou fala.
É tudo sobre amor, canto de Ossanha falou que amor só é bom se doer, nisso
eu tendo a acreditar, saravá.
Mas, se acaso for uma um fio, qual é a sua tensão? Se for fogo de fato, qual a
sua temperatura máxima? E se gelo for, qual sua temperatura mínima? No entanto,
se for escada, qual a sua altura? Por fim, se for tempo, qual sua idade, séculos,
eras? Ele depende da moral ou mais de fatos concretos, ou apenas palavras
bastam? Digo isso porque um belo dia se ama intensamente, o amor máximo e
esplêndido, mágico e maravilhoso, porém uma simples atitude do ser amado, um
“derrapão”, um “deslize”, uma pequena “falha”, ou lapso, como se esquecer de tomar
o café da manhã ou uma conversa num celular pode jogar o intenso amor água
abaixo, no ralo. Amor de meses e anos se esfumaça física e materialmente,
deixando em seu lugar o não-amor, o amor sofrido, a dor no coração; aqui acho que
existe consenso, o lugar do amor é o coração; fisicamente ele dói quando o amor
aperta, correto? Portanto, ainda assim defendo que o fim do amor é amor, aqui sem
querer definir, senão cairia em contração no meu raciocínio, explico; é amor em
ausência.
Acho meio estranho o amor que se mata e se morre, o tal do crime passional,
e tem até atenuante! Vossa excelência minimiza a pena do condenado que mata por
amor, curioso, né? Mas, é a lei e neste caso ela é branda confronta o dito romano da
“dura lex, sed lex”. O magistrado sabe que amanhã pode ser a vez dele que
confrontar a lei neste caso de amor traído, justiça em causa própria. Já vi juiz falar
em “crime por honra”, trocando em miúdos, um corno bravo mata sua esposa e não
é punido pelos rigores da lei de femicidío, corno manso é outra vibe, acho que este
ama de verdade, a ponto de dividir o amor, de confraternizar com o próximo, será?
Mas, ainda não para por aí, tem sempre mais alguém dando um belíssimo
pitaco, apalavrando ou rogando o saber sobre Ele; desta feita vai mais uma “esse
3

desconhecido o amor”, ou “não existe amor, só provas de amor” e por aí segue a


saga.
Quero deixar claro que essas são meras divagações sobre o amor, não tem
finalidade nenhuma e só vale para mim, até porque cada um tem a sua teoria e vale
igualmente para si.
Finalmente, ontem vi o filme “A baleia” (2022), direção de Darren Aronofsky,
trata-se de um filme sobre amor, o amor em suas faces cotidianas doloridas, sofridas
e dramáticas, num enredo forte e realista que amarra realismo, em tons cinza, num
cenário “que fede”, e que exala o amor nas personagens, o amor e sua essência
mortal, podem chamar de loucura, doença, entre outras palavras do gênero, mas é
amor. O cenário novamente é parado, é mórbido, é lento, sujo. “A baleia” retrata a
busca de nós por nós mesmos, ao mesmo tempo em que nos afasta de nós
mesmos, por amor, sempre; é a saga de um homem em busca de uma “baleia”
(amor) é uma metáfora da condição humana e da caça a um animal, a baleia, ser
gigante, imponente, forte, destruidora; o próprio amor? No filme os personagens,
sete, se revezam em seus dilemas de amor.
Bom filme.

Eduardo Martins, aos 2 dias de março, do ano 523 da invasão portuguesa contra as terras
indígenas e massacre do povos originários pela Igreja e pela Coroa Portuguesa.

Você também pode gostar