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AMOR
DESPIDO

Carlos Mario Alvarez

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AMOR DESPIDO

Copyright 2021 - Carlos Mario Alvarez

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer


processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc, sem a autorização por escrito.
Todos os direitos reservados desta edição 2021 para o autor.

Produção Editorial / Diagramação


Elisabeth Lucacs

Revisão
Érico B. B. Lima

ALVAREZ, Carlos Mario


Amor despido / Carlos Mario Alvarez - Rio de Janeiro - RJ

1. Psicanálise 2. Freud 3. Teoria

carlosmario@terra.com.br

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Dr. Carlos Mario Alvarez - Psicanalista e supervisor clínico.
Professor convidado da Université Sorbonne (Paris 2).
Mestre em Teoria Psicanalítica (UFRJ)
e Doutor em Letras (PUC-Rio).
Professor, Pesquisador visitante na universidade
Rutgers (2010/2011), NJ - EUA.
Membro fundador da Formação Freudiana (RJ).
Criador e curador do projeto em Mídias Sociais,
Psicanálise Descolada, onde desde 2010 realiza intervenções
nas plataformas digitais, articulando artes visuais, música,
psicanálise e estilo de vida.
Mora no Rio de Janeiro, com consultório no Leblon.

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O amor é tortuoso,
o amor é absolutamente
improvável, ele é quase uma
fantasia de carnaval que,
quando a gente pode, a gente
veste, se transveste.
Engana. E é enganado.

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O AMOR DESPIDO

A ideia que quero compartilhar não é só o conceito de


amor, mas é também falar sobre o amor. Mais especi-
ficamente, transando o amor com algumas questões da
psicanálise.

Uma amiga minha foi se submeter a uma prova de dou-


torado aqui no Rio de Janeiro e comentava que uma das
questões tratava do narcisismo: o narcisismo tinha algu-
ma coisa relacionada ao amor sobre si, ela me dizia. E
tem toda razão, e mais: ao amor sobre si mesmo.

Freud dizia que o amor admitiria dois tipos de relação


com o objeto. Um tipo de amor é aquele da escolha dita
anaclítica, em que o objeto de amor é um “outro” na qual
as formas de lidar e se ligar estão, assim, em um processo
de interesse, de admiração, num nível em que esse “ou-
tro” é externo.

Porém, ele também falava de um tipo de escolha de amor


de objeto que seria a escolha narcísica, no qual predomi-
naria a escolha por alguém que se parece consigo pró-
prio, ou que fosse tratado como si próprio, ou, ainda,
que se fizesse à semelhança do próprio.

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Na verdade, essas escolhas não são tão diferenciadas, elas
se misturam. Minha amiga prosseguia: “Freud tem aquela
frase que diz que o amor é capaz de sarar. Quem ama
estaria bem. Quem ama e trabalha esse amor, segundo
uma certa postulação do Freud, estaria bem, estaria or-
denado.”

Nada mais bobo, falacioso, equivocado do que esta ideia,


porque o amor tanto cura quanto fura. O amor tanto
faz brilhar como apodrecer. O amor tanto liberta como
aprisiona. Não há nada de “tão” isento ou de “tão” ima-
culado no amo. O amor, na verdade, nem é tão amor
assim, porque se presta a ser fragmentado, fragmentado,
fragmentado...

Sofre-se por amor, chora-se por amor, busca-se o amor


e nunca se consegue ter esse amor. Encontra-se o amor
e perde-se o amor. Acha que se encontrou no amor e se
equivoca porque não encontrou porcaria nenhuma. É-se
traído pelo desejo. É-se traído pelo objeto do amor. Pan-
demônios, horrores, mas também todo tipo de ilusão,
ficções e, evidentemente, algumas satisfações.

Não existe nada de “redondinho”. Às vezes a pessoa pen-


sa: “nunca amei” ou “não amo mais”, “não sou amada”,

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“não sou amado”. Ok. Nada de “tão” errado com você.
O amor é tortuoso, o amor é absolutamente improvável,
ele é quase uma fantasia de carnaval que, quando a gente
pode, a gente veste, se transveste. Engana. E é enganado.

Tem uma palavra que tem uma certa mística e na qual


as pessoas querem muito acreditar (vou dizer já...). De
uma certa maneira, quando acontece, é claro que é bom,
porque dá a sensação de completude. Dá a ideia de que
você encontrou a sua, como dizem por ai?, encontrou sua
“cara metade”.

É a certeza que você tem de que, finalmente, assentou.

Caros, aqui, como psicanalista e como vivente, como


músico, artista, cantor e sabe-se lá mais o quê, eu vou
dizer a vocês: a vida não tem assentamento.

Não tem assentamento em vida! Somos o tempo todo


nômades. Estamos nômades. Estamos o tempo todo sain-
do e vindo, chegando, partindo e partido novamente, e
não se acha aquilo que se procura. Isso é bem freudiano,
mas isso está em qualquer lugar que pense seriamente
a experiência da vida. Porque a experiência da vida não
é pronta, não vem com manual, não vem com garantia.
Não tem segunda via. Não tem “seguro” de e para a vida.
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O negócio é Live, é ao vivo. É aqui e agora. E não é re-
dondo, não desce redondo. A vida pode ser boa, pode
melhorar, mas nunca desce redondinha!

Estamos cheios de probleminhas, cheios de percalços,


cheios de resistências, cheios de coisas que nos atrapa-
lham, e nem por isso a gente vai dizer que “não dá para
ser feliz! / Não dá para ser feliz!! ...”.
Dá! Dá para ser feliz às vezes! Por enquanto...
...Enquanto o “Seu Lobo não vem!”. Às vezes dá para ser
feliz até (ou porque) quando o “Seu Lobo” vem!

Vamos brincar um pouco com as palavras, porque esse


negócio de psicanálise só vale a pena se o tal do desliza-
mento do significante efetivamente se opera. A fantasia
não é nada mais que essa super, ultra, hiper montagem de
letras, de palavras, de linguagem e tudo mais.

Então, se você está achando que a vida não foi interessan-


te para você por nunca ter amado alguém... Está O.K.!
Tem vários, vários e vários que são iguais a você, e as-
sim mesmo você pode um dia se surpreender e sacar que
amou alguém... Ou se surpreender, pelo contrário, e di-
zer: “Poxa!, nunca amei ninguém, mas sempre achei que
amei!”.

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Aquelas histórias de “nunca te vi, mas sempre te amei”
também funcionam aqui, ou seja, amor é um troço mui-
to complicado e muito passível de gerar DOR, ARDOR,
LOUVOR, RUMOR, HUMOR e qualquer coisa que
você queira rimar.

Mas agora vem um destaque que eu quero fazer: recebi


uma cartinha de uma pessoa que falou para mim: “se você
puder, um dia, comenta em um dos teus vídeos, porque
isto daqui é verdadeiro, é uma experiência minha, é sofri-
mento. Fala porque eu quero que o mundo conheça!...”.
E na carta ela diz assim: “O Amor despido” e ela segue:

Por diversas vezes escrevi versos lindos de amor


Por diferentes tentativas e caminhos cantei

Vibrei e soprei linhas repletas de entusiasmo e glória

Hoje, não sei o que acontece

Não tenho domínio sobre as coisas

Mas preciso escrever

Mais uma vez estou me sentindo desesperadamente só

Uma sensação de desconexão, de desespero, de cólera

Onde estou? Será que fiz algo de errado no caminho?

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Não sei bem ao certo, mas a coisa se passa como se
estivesse tomado pelo desatino

Abandono? Será que estou me recusando, me rejeitan-


do eu próprio me abandonando?

Onde estão minhas forças de contenção e retenção?

Preciso delas desesperadamente”

E este é o primeiro parágrafo dessa carta. É nele que eu


vou ficar. Para você perceber o seguinte: um amor que-
brado, um amor partido, um amor rompido, um amor
pulverizado, isso leva certamente a algum tipo de desati-
no, a algum tipo de desespero. Porque vai bater naquilo
que eu comecei falando. Vai bater no DESESPERO NAR-
CÍSICO. O sujeito fica desarmado, desancorado, despro-
vido daquilo que sustentava a malha da sua existência. Ele
fica desprovido do objeto de amor, de l’objet d’amour...

Daí, dá para “sacar” que, quando o amor quebra, quando


ele falta na ligação de um com o outro, o sujeito cai no
terror do vazio narcísico, porque o amor objetal anaclíti-
co, dito esse, assim, pelo Freud, é de um outro que supre
evidentemente a malha narcísica.

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Entendam que não há amor que não toque a questão
narcísica. O meu amigo, o meu autor (desculpem a inti-
midade, mas eu fiz meu mestrado sobre ele, falei muito
sobre ele) Sándor Ferenczi, já havia dito que não há amor
que não seja narcísico. E eu vou dizer também que não
há amor que não seja RIMA. Não há amor que não traga
DOR e ARDOR...

...dentro e fora do espelho...

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A vida não tem
assentamento.
Não há assentamento
em vida!
Somos o tempo todo
nômades.
Estamos nômades.

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