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O DISCURSO AMOROSO

ENTRE PERSONAGENS
LÉSBICAS EM AMORA E
LUNDU
Claudiana Gois dos Santos
ECLLP- USP
CLAUDIANA GOIS DOS SANTOS

Doutoranda pelo Programa de Estudos Comparados de Literaturas


de Língua Portuguesa ECLLP da Universidade de São Paulo- USP.
Bolsista CAPES.

Orientadora: Professora Vima Lia Rossi (USP)


Coorientação: Professora Luana Barossi (UFSC)
O que é o discurso amoroso?
O Como ele surge em algumas

DISCURSO obras contemporâneas?


O que há de diferente?
AMOROSO
O DISCURSO AMOROSO É HOJE
DE UMA EXTREMA SOLIDÃO. ESSE
DISCURSO TALVEZ SEJA FALADO
POR MILHARES DE PESSOAS
(QUEM SABE?), MAS NÃO É SUS-
TENTADO POR NINGUÉM; FOI
COMPLETAMENTE ABANDONADO PE-
LAS LINGUAGENS CIRCUNVI-
ZINHAS: OU IGNORADO, OU DE-
PRECIADO, OU IRONIZADO POR
ELAS, EXCLUÍDO NÃO SOMENTE
DO PODER, MAS TAMBÉM DE SEUS
MECANISMOS.
(BARTHES, 2018, P.13)
AMORA (2015),
NATALIA BORGES
POLESSO
"Um livro para falar de amor"
Milena Britto (UFBA).
[...] QUERIA FAZER ALGO QUE ME
FALTAVA, ALGO QUE EU NÃO TINHA
LIDO, POR FALTA DE PRODUÇÃO, OU
POR FALTA DE CIRCULAÇÃO OU POR
FALTA DE CONHECIMENTO, QUERIA
ESCREVER ALGO ABERTAMENTE
LGBTQIAPN+, ABERTAMENTE LÉSBICO,
[...] FUI ARQUITETANDO O AMORA –
QUE ESQUECI DE CONTAR, ATÉ ENTÃO
SE CHAMAVA AMOR A, DEPOIS VIROU
AMOR(A) E DEPOIS VOLTOU A SER
AMOR A. SIM, ERA PÉSSIMO. ERA
AMOR A ALGO, ALGUMA COISA OU
ALGUÉM. TER AMOR E DÁ-LO. NÃO SÓ
O AMOR ROMÂNTICO, MAS OUTRAS
FORMAS DE AMOR, EM OUTRAS
RELAÇÕES TAMBÉM. (2022A, P. 17)
PROJETO LITERÁRIO

ÉTICO

O amor deixa de ser algo indefinível


ou incontrolável;
Quem enuncia o amor são mulheres,
ESTÉTICO POLÍTICO
para outras mulheres;
As relações são baseadas na justiça
e na igualdade entre as personagens
[...] quero retornar àqueles que [...] “a prática feminista é o único
preferem amaldiçoar ou ridicularizar os movimento por justiça social em nossa
Afetos e ações humanas em vez de sociedade que cria condições para que
entendê-los. Estes, sem dúvida, hão de a mutualidade seja nutrida. Quando
admirar que eu me proponha a tratar aceitarmos que o verdadeiro amor é
dos vícios e inépcias dos homens à fundamentado em reconhecimento e
maneira Geométrica e queira aceitação, que o amor combina com
demonstrar com uma razão certa aquilo cuidado, responsabilidade, comprome-
que reiteradamente proclamam ser timento e conhecimento, entendere-
contrário à razão, vão, absurdo e
mos que não pode haver amor sem
horrendo. (ESPINOSA, 2021, p. 234–
justiça.” (hooks, 2018, p.150)
235)
O DISCURSO AMOROSO EM AMORA
"MINHA PRIMA ESTÁ NA
CIDADE"
1 Quebra dos estereótipos - de gênero e de lesbianidade

2 Discurso amoroso baseado na ética e na equanimidade

3 Conto centrado na relação de amor, não na infelicidade


[... [...] Eu amo a Bruna e nunca quis
no meio em que ela circula é mais fácil magoá-la e nunca vou querer. Temos
aceitar. Eu vou jantar com os amigos da essa combinação de evitar dizer coisas
Bruna, amigos do trabalho. Eles sabem das quais possivelmente nos arrepen-
que a gente é um casal, porque a Bruna deremos mais tarde, e nunca, nunca
não tem problemas com isso. Eu tenho. ameaçamos uma a outra com um término
[...] Por exemplo, as minhas colegas do de relação a menos que isso seja mesmo
trabalho não precisam saber, nem a uma possibilidade, aliás, mais que isso,
minha família. (POLESSO, 2015, p. 75) que seja uma vontade legítima para além
[fim de citação] daquele momento. (POLESSO, 2015, p.
76)
LUNDU (2016),
TATIANA NASCIMENTO
Para aquelas de nós que
escrevemos, é necessário examinar
não só a verdade do que dizemos,
mas também a verdade da
linguagem que usamos para dizê-lo.

Audre Lorde
PROJETO LITERÁRIO

ÉTICO

Desorbitar o paradigma da dor;


Construir imagens de amores felizes;
Metáforas que convivem, não dominam
ESTÉTICO POLÍTICO
a mulher amada/ a natureza;
LAVRAR RESISTÊNCIA NEGRA LGBTQI COMO
Í EXERCÍCIO DE LIBERDADE, EXPANSÃO DO
SENTIDO TRADICIONAL DE “RESISTÊNCIA”.
REFUNDAR A NOÇÃO DE LITERATURA NEGRA,
VISTA APENAS COMO COMBATIVA, DE DENÚNCIA
DO RACISMO, IDEALIZADA EM MODELOS DE
“HOMEM NEGRO” E “MULHER NEGRA” BINÁRIO-
HTCISCÊNTRICOS. QUESTIONAR ESSE JEITO DE
FAZER, LER, COMPREENDER LITERATURA NEGRA
NO QUAL DOR, SOFRIMENTO, HEROÍSMO, RE-
VOLTA, HETEROCISCENTRALIDADE SERIAM TE-
MAS DOMINANTES. [...] MESMO QUE DE-
NUNCIAR O RACISMO HETEROCISSEXISTA SEJA
UMA NECESSIDADE CONSTANTE DE AFIRMAÇÃO
DE EXISTÊNCIAS NEGRAS LGBTQI, TEMOS MAIS
QUE DENÚNCIAS A FAZER, ESPECIALMENTE
PELA NOSSA POESIA QUE SE CONECTA A UM
PROJETO EPISTÊMICO NEGRO-SEXUAL-DISSI-
DENTE ATRAVESSADO POR DISPUTAS NARRA-
TIVAS. O RACISMO TEM TENTADO SECULAR-
MENTE, NOS CALAR AO PROFERIR “DISCURSOS
AUTORIZADOS SOBRE NÓS”.
(NASCIMENTO, 2019, P.15,18-9)
[...] a língua, por mais poética que [...] O circunlóquio a respeito de a
possa ser, tem também uma dimensão literatura representar ou não o real, ser
política de criar, fixar e perpetuar imperfeita, ou uma distorção do mundo
relações de poder e de violência, pois das ideias nunca me atraiu, porque nada
cada palavra que usamos define o lugar disso destruiria as injustiças sociais.
de uma identidade. No fundo, através de Tudo isto ficou neste patamar, até que
suas terminologias, a língua informa- compreendi o que Angela Davis
nos constantemente de quem é normal e expressou, com seu otimismo inabalável:
de quem é que pode representar a podemos criar tudo que podemos
verdadeira condição humana. imaginar. [...] A imaginação é um
(KILOMBA, 2019, p. 14)1 músculo político. (QUIANGALA, 2020,
p.12-3).
O DISCURSO AMOROSO EM LUNDU
LUNDU

1 O amor é um, entre tantos, dos interesses na voz lírica.

2 O sujeito amoroso é um sujeito político;

3 Ressignificação das metáforas da natureza ao redor


Lundu
vem cá, deita em mim que nem ar que de tanto amar a
gravidade deita em cima de tudo que tem na superfí-
cie da terra y empurra quem tá dentro dela, ou que

nem água vai se deitando em ondas sobre toda areia


de qualquer praia pela dança do humor das marés,
vindo indo no fluxo do vento, da lua, do sol, até,
se te fizer sentido [...]
Referências
ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo: Editora Spicione, 1994. 183 p.
BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. [s.l.] : Editora UNESP, 2018.

DALCASTAGNÈ, Regina. A personagem do romance brasileiro contemporâneo: 1990-2004. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, [S. l.], v.
2005, n. 26, p. 13–71, 2005.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. HOOKS, Bell. O feminismo é para

todo mundo: políticas arrebatadoras. 1.a ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
hooks, bell. Tudo sobre o amor: novas perspectivas. São Paulo: Elefante, 2020.

LEITE, Dante Moreira. O amor romântico e outros temas. 2. ed. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979.
LORDE, Audre. Irmã Outsider: ensaios e conferências. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.

NASCIMENTO, Beatriz. A mulher negra e o amor. In: Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. a. p.
265–268.
NASCIMENTO, Tatiana. Cuilombismo. [s.l.] :n-1, 2019. c.
____________, Tatiana. Lundu, 2.ª ed. Brasília: Padê editorial, 2015.

POLESSO, Natalia Borges. Amora. Porto ALegre: Não Editora, 2016.


RICH, Adrienne. Heterossexualidade Compulsória e Existência Lésbica & outros ensaios. Rio de Janeiro: A Bolha, 2019.
SOUSA SANTOS, Maria Irene Ramalho; AMARAL, Ana Luísa. Sobre a Escrita Feminina. oficina n.o90CoimbraCentro de Estudos Sociais Coimbra, , 1997
Contato:

claudiana_gois@usp.br

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