Poesia com elos

26ª edição
Pamela Facco
Direção da foto: foi pedido para os participantes encenarem a sensação em ter Bolsonaro como presidente.
Poesia com elos

Sejamos

O último mês no Brasil foi estarrecedor.

Minha sensibilidade, meu senso de justiça, minha
ética e moral foram esmagadas.
É assustador assistir essa escalada do ódio e
perceber esse sentimento saindo do virtual e
aniquilando vidas concretamente.
Sonhar, acreditar e vislumbrar um país mais
humano, mais igualitário, mais saudável e susten-
tável virou motivo de guerra e risco de morte.
Não podemos fingir que não temos uma missão. Nossa
sociedade está a beira de um colapso e precisamos
sim paralisar essa corrente absurda de violência
e intolerância que circula entre nós.
Como faremos isso? Eu não sei, mas se eu pudesse
arriscar a equação para neutralizar o excesso de
ódio eu apostaria no amor.
Aquele amor profundo, aquele amor nos detalhes,
aquele amor paciente e aquele amor que trans-
borda na sinceridade os melhores desejos para
o coletivo. Não estou falando para acolhermos
discursos absurdos, nem para darmos palco para o
preconceituoso se exibir, nem vez para o intole-
rante nos atropelar. Tem pessoas que já apodrece-
ram por dentro, deixemos elas de lado, o mais longe
possível do nosso convívio, mas ainda há espaço
para o nosso amor entrar entre os imparciais.
Você certamente conhece alguém que diz prefere
tomar um tiro na cabeça a escolher entre Lula e
o Bolsonaro, pois é essa pessoa que o seu amor
e esperança por tempos melhores precisa tocar.
É essa conversa que você precisa ter carinho e
paciência em ter. O nosso convívio como sociedade
pacifica, que segue a lei, que defende vidas e
valores éticos básicos para além de crenças espe-
cificas está em risco.
Toda nossa evolução em termos de direitos das
minorias, preservação da natureza e deveres do
estado estão por um fio. É a hora limite para
não perdemos de vez nossa a nossa autonomia,
liberdade, dignidade e até mesmo nossa vida. Digo
isso pois nessa onda polarizada, violenta e armada
qualquer um de nós pode ser o novo Marcelo Aloizio
de Arruda, onde uma simples celebração pode ser
vista como afronta e motivo de retaliação. Eu não
quero morrer pelas minhas ideais, mas também não
quero deixar de me escandalizar publicamente a
todo absurdo que meus semelhantes vivenciarem. Se
pocicionar diante de violações, assédios, abusos
e crimes que terceiros passam é, na minha opinião,
pre requisito de uma alma digna. Cortem a empatia
do meu ser que eu já me dou por morta.
Não aceitemos jamais nos minimizar para caber
nesse mundo doente. Repita essa frase quantas
vezes for necessário, mas não aceite ser menos,
se chocar menos nem se emocionar menos. O mundo
precisa de nós em sua máxima potência.
Que sejamos sempre tudo de nós.
Cortem a empatia do meu
ser que eu já me dou por
morta.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa
O ensaio desse mês foi potente, revigorante para
o projeto POESIA e extremamente político.
Os personagens se conectaram logo de cara e as
conversas quase foram mais agradáveis do que as
composições.
Ter uma vida sendo gestada no mesmo momento da
nossa potência criativa foi uma experiência que
exponenciou a nossa sensibilidade e engrandeceu
ainda mais esse momento. Poucas vezes me senti
tão ligada ao poder da mensagem da minha arte
quanto nesse ensaio. Talvez por conseguir poetizar
em imagens a minha indignação sobre os últimos
escândalos de estupros e os julgamentos sobre as
escolhas das mulheres que sofreram esse abuso, ou
mesmo talvez, pelo peso e medo constante de ser
mulher nessa sociedade misógina e cruel.
Também a parte a política, desenhamos algumas
releituras e abraçamos o individuo em sua parti-
cularidade com retratos bem característicos a
cada ser.
Eu amei fazer esse ensaio do começo ao fim.
Espero que vocês interpretem as imagens da forma
que mais sensibilizar a sua alma e que se permita
encher de energia através da arte para você
conseguir encarar essa realidade momentânea do
Brasil com alguma esperança.
Vamos juntos!
Releitura : Morte e Vida : Gustav Klimt
Profunda gratidão à todos Elos da minha poesia.
Junho de 2020

Poesia com elos

26ª edição
Pamela Facco

Julho de 2022