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NATIVOS:

HISTÓRIAS
E LUTAS
INDÍGENAS

DANYELLE CLARO PAULA SOUZA


ISABELLA FLÁVIA THIAGO FEITOSA
KAMILLA FIDEL
Sumário

Por que falar dos povos indigenas 03

Capítulo I - Parentes 06
Capítulo II - Artigos 23

Capítulo III - Ijyy/Ijyky 42

Capítulo IV - Crítica cultural 56

Capítulo V - Quem somos 70


Por que falar dos povos indígenas?

Estávamos em uma aula presencial da disciplina de


Narrativas Jornalísticas quando o professor, Fábio
D’Abadia, pediu à turma que se dividisse em grupos e que
cada grupo escolhesse um tema para a produção de um
livro-reportagem. Neste momento surge a nossa primeira
dificuldade: qual tema escolher?

Começamos a discutir em grupo, éramos cinco


integrantes: Kamilla Fidel, Danyelle Claro, Isabella Flávia,
Paula Ravyanne e Thiago Martins. Houve um impasse
entre dois temas: um tema mais fácil e já abordado antes
por outros alunos do professor Fábio, ou um tema novo,
mais complexo de ser elaborado e de pouco conhecimento
entre os integrantes do grupo. A ideia de falar sobre os
povos indígenas era intrigante para todos mas, ao mesmo
tempo, era um desafio. Então, por que aceitar esse
desafio?

Os povos originários brasileiros lutam por suas vidas


desde o período de colonização, ou melhor, invasão
portuguesa. O Brasil, antes Pindorama — nome que
supostamente os indígenas, que falam tupi, teriam
chamado o Brasil — era um lugar habitado por esses
povos que viviam harmoniosamente em comunidade,
dividiam os trabalhos e compartilhavam da caça, pesca e
cultivo de roças. Pindorama era rico em toda a sua
diversidade, fauna e flora, e os portugueses

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subjugaram, escravizaram e exterminaram os donos
daquelas terras para roubar-lhes toda a riqueza. Até
hoje os povos indígenas sofrem as consequências dessa
usurpação e, mais de 500 anos depois, o Brasil como
um todo, não sabe dar o devido valor aos nativos
brasileiros e suas histórias. Com isso, os povos
indígenas merecem ter destaque, hoje mais do que
nunca, e antes tarde do que nunca, pois hoje estão
enfrentando outro genocídio.

Dito isso, consideramos este tema como complexo e


importante ao mesmo tempo. Contudo, por sermos
ignorantes sobre este assunto, houve uma
contraposição pela maioria, porém, democraticamente
decidimos que seria esse o tema. Além disso, um dos
entrevistados para a produção de um perfil disse que
essa foi a melhor escolha que fizemos e nos
parabenizou por falar sobre a comunidade indígena,
pois são povos que merecem reconhecimento.

Assim como um dos maiores desafios deste trabalho


foi a complexidade do tema e o pouco acesso às
comunidades, compreender os percalços desses povos
no dia a dia também foi um grande desafio, pois são
dificuldades distantes das nossas realidades como não
indígenas. Apesar de todo o trabalho e dedicação, foi
importante para que passássemos a ter conhecimento
sobre o tema e, por consequência, enfrentamos nossa
ignorância.

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Por mais que vivamos em um mundo cada vez mais
tecnológico, o tema "indigena" ainda é pouco explorado
no meio digital. Quando pesquisamos sobre
acessibilidade aos povos, por exemplo, encontramos
pouco conteúdo sobre, e os que encontramos são
escassos. Então, muitas vezes tivemos que recorrer aos
nossos entrevistados, aos quais somos sinceramente
gratos por serem pessoas tão gentis e atenciosas; eles
sempre se preocupam e perguntam se precisamos de
alguma ajuda, pois sabem que cada pessoa que
demonstra interesse em aprender um pouco sobre eles
podem mudar o mundo em que vivemos.
Esse tema, por mais que tenha sido desafiador, fez
com que abríssemos nossa visão de mundo, e nos deu a
certeza que fará grande diferença em nossas vidas. E
esperamos sinceramente que esse livro reportagem seja
agregador para quem o leia, assim como foi para nós.
Boa leitura!
Orientado por Fábio D'Abadia

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PARENTES
O pouco que tenho
ofereço ao meu próximo
Por Danyelle Claro

Foto: Maloiri Xerente Iny - Acervo pessoal

De personalidade altruísta, Maloiri é uma pessoa de boa


índole e prestativa, se dispõe a ajudar a todos, não importa
quem seja ou qual o tipo de situação. A gentileza e
sinceridade são suas características mais marcantes, e
talvez seu maior defeito seja falar muito, o que se enquadra
no seu signo de gêmeos. Ele é descendente de duas etnias
indígenas diferentes, ele é filho de mãe Karajá e pai Xerente,
e os estima como seus heróis e exemplos de vida.

Nasceu em Goiânia — GO, no dia 25 de maio de 1993, e


quando tinha cinco anos foi morar na aldeia São Domingos,
em Mato Grosso, onde nasceu sua mãe. Lá morou cinco
anos com ela, seus dois irmãos e a irmã.

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Na aldeia ele se sentia livre, e suas melhores lembranças
são em São Domingos. Gostava de nadar no rio, o qual ele
lembra das águas serem bem geladas, de brincar e curtir o
mato com seus parentes e amigos. Depois de um ano,
voltaram para cidade para reencontrar com o pai, que ficou
em Goiânia em busca de emprego e estabilidade para a
família, lá viveram até 2002 antes de virem todos para o
Tocantins. Sempre que possível ele volta à aldeia para visitar
a família e amigos.

Já na “reta final” do curso de jornalismo, ele possui


notáveis experiências que agregaram para seu crescimento,
por exemplo, em 2018 foi a Brasília no movimento indígena,
e apresentou na UNB um projeto de extensão sobre a
permanência dos indígenas nas universidades, e também foi
diretor de políticas indígenas na UFT, Campus Palmas.
Atualmente, Maloiri espera ser um jornalista renomado, e
para o futuro tem grandes aspirações e expectativas dentro
e fora da carreira jornalística.

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Prazer, meu nome é
Mydiwaru Karajá!
Por Isabella Flávia

Acervo pessoal - Mydiwary Karajá

Com apenas 4 anos, saí da aldeia por causa de uma


mulher que me levou para morar com ela na cidade. Depois
de um tempo, com 12 anos voltei para aldeia Santa Isabel
do Morro (na região leste do Tocantins), onde tive que
aprender tudo de novo. Ao voltar, tive uma experiência
muito boa: rever meu povo, minha família, ter a facilidade
de aprender a cultura, aprender os costumes e o mais difícil
foi aprender a língua, o Iny Rybé.

Sempre fiquei na minha com poucos amigos, mas valeu


a pena voltar para a aldeia. Hoje tenho 22 anos, conclui o
curso de fotografia, na qual sou apaixonada, sempre amei
tirar fotos e vejo que a fotografia combina muito com
jornalismo, fotografia é um dos meus passatempos, e
atualmente estou cursando jornalismo na Unasp (Centro
Universitário Adventista de São Paulo) e trabalhando como
administradora.

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Um dos meus grandes sonhos é conseguir ajudar meu
povo e principalmente minha família, que por falar nisso,
me deixa triste e irritada quando alguém fala sobre mim e
discute com a minha avó, pois, ela é a minha maior
inspiração para continuar na luta da vida. Além dela, a
minha tia Narubia Werreria é uma importantíssima ativista
ambiental indígena do Brasil, que atualmente está cursando
Direito na Universidade Federal do Tocantins, ela acredita
que os brasileiros devem conhecer seus direitos e não ter
medo de lutar por eles.

Sou mestiça, minha mãe é indígena e meu pai é tori


(não indígena), no meu tempo livre gosto de jogar bola,
meu estilo musical é bem eclético, do internacional ao
sertanejo, e o que me deixa feliz é estar com meus amigos
ou reunida com a minha família.

Prazer, meu nome é Mydiwaru Karajá!

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Onde eu estiver, vou ser
sempre Sitbro
Por Kamilla Fidel

Acervo pessoal - Sitbro Xerente

Sitbro é um indígena da aldeia Xerente, vindo de seu


povoado para cidade em busca de estudo e oportunidade,
falando apenas sua língua nativa, passou por muitas coisas
para conseguir ser o que é hoje.

Meu nome é Josimar Sitbro Calixto Xerente, mais


conhecido como Sitbro, tenho 35 anos, nasci em Miracema
do Tocantins - TO, no dia 13 de julho de 1986, mas vivi a
minha infância na aldeia que fica na cidade de Tocantínia -
TO; sou o primogênito de 9 filhos do casal Josair e Vanda
Xerente, tenho três filhos: Jonathas, Wakmõpte e Judineia
Waiti. Tive meu primeiro filho aos 19 anos, hoje sou pai solo,
trabalho na assessoria, faço faculdade, curso investigação
perícia criminal e me inscrevi para cursar Direito na
Universidade Federal do Tocantins. Minha profissão dos
sonhos quando era mais novo era ser policial, mas não

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consegui e quando fui tentar, minha idade já tinha
avançado, hoje estudo para essas outras profissões.

Minha infância foi incrível, naquela época eu não tinha


celular, nem redes sociais; quando tive meu primeiro
celular, já estava maior de idade. No momento em que
penso na atualidade vejo ser totalmente diferente, quando
eu era pequeno meus irmãos e eu não nos importávamos
com as conversas dos nossos pais, brincávamos muito, nos
divertíamos, nos ocupávamos em ser criança. Criei meus
filhos da mesma forma que fui criado, as mesmas tradições
e ensinamentos, para que eles cresçam e aprendam como
eu cresci e aprendi, então, cada povo deve assegurar a sua
cultura.

Quando tinha 13 anos, saí da casa dos meus pais com


a minha irmã para estudar, pois, meu pai adoeceu, ele teve
início de um AVC (Acidente vascular cerebral), isso foi difícil
para mim; tínhamos criação de gado, tivemos que vendê-lo
para os tratamentos, então ver ele vender o gado, as coisas
que conquistamos, me doía. Outra dificuldade que tive
quando saí de casa, foi me comunicar com as pessoas,
então eu pensava que eu precisava daquilo, precisava me
esforçar, pois, quando você quer algo, com esforço
consegue. Comecei a me envolver, fazer amizade e o
principal, comecei a ler, lia bastante e até hoje tenho esse
hábito, mesmo com dificuldades; pois, o português é a
minha segunda língua. Mas não olho para trás, pois, penso
que se não tivesse acontecido isso, eu não estaria aqui, não
teria conquistado o que conquistei.

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Hoje agradeço por cada situação que me aconteceu,
pois, foi através da luta que estou aqui, valorizo cada
momento. Eu sou uma pessoa sem medo, estou preparado
para tudo, sempre fui muito otimista; o medo é algo
negativo, ele não nos deixa olhar para frente, devemos
estar preparados para qualquer coisa.
Eu já nasci para ser líder, não me escolhi, mas Deus
me escolheu; eu fui três vezes presidente do grêmio
estudantil em Tocantínia, me comprometi com a política,
visto que, nós indígenas devemos fazer parte para que não
sejamos invisíveis. Aos meus 20 anos fui para sala de aula,
fiquei dois anos, depois fui convidado para representar a
COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira), então tive a oportunidade de sair do
estado onde nasci, fui dar assistência a nove Estados do
Brasil, fui consultor de nove países e sinto orgulho disso,
porque tive oportunidade. Na época em que o ex-
governador Mauro Carlesse foi eleito em 2018, me
convidaram para ser gerente na secretaria de segurança
pública e vi em Palmas que o meu lugar também é aqui, do
meu povo Xerente.

Então, para sermos visíveis, devemos ter acesso às


instituições, esse é o nosso trabalho, e eu como
representante indígena, apesar da minha aparência muito
jovem, já tenho currículo. Porém, como eu estou aqui em
Palmas, não significa que deixei de ser índio, onde eu
estiver, vou ser sempre Sitbro, isso eu tenho deixado claro
para as pessoas “eu não posso esconder a minha imagem”.
O que eu falo para os indígenas que estão na universidade
é o seguinte: “Vocês estão na universidade, mas vocês
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precisam também valorizar suas raízes”, quando falo raízes,
eu quero dizer que a raiz é a sua base, os seus ancestrais, lá
na sua comunidade. Dito isso, as informações que você
adquire fora do seu povo, você tem que levar de volta,
porque lá eles estão desinformados.

Quase todos os fins de semana eu estou lá, nas festas


indígenas, nas danças culturais e levo comigo informações
a eles. Isso me deixa seguro, pois, nunca vou ouvir um
“Sitbro abandonou a aldeia”, por isso eu cobro de alguns
acadêmicos, pois, eles estão aqui e acabam sem dar
atenção e esquecem sua raiz. Acontece que nossos anciãos
esperam informações, quando nos distanciamos, eles ficam
ansiosos, e pensam “qual informação ele vai trazer?”.

Uma vez meu pai chegou em mim e disse “Sitbro, vou


ter que passar a liderança cacique para você”, então eu pedi
para ele esperar mais, pois, estou aqui na cidade, mas levo
informações sempre pra eles e eles necessitam disso, então
quando estou aqui, não falo que moro, apenas estou de
passagem para absorver conhecimento e levar até eles,
minha casa é lá.

Em 2002, meu povo (Xerente) começou a ver que


estávamos atrasados, nenhum de nós tinha interesse em
atuar em alguma profissão, não tínhamos interesse de
fazer faculdade e algo que pudesse nos representar, única
coisa que fazíamos era trabalhar, caçar, dormir, procurar
alimentos para sobrevivermos e ponto.

Hoje o meu maior sonho é me ver formado na

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faculdade, ver meus filhos formados também; mas quando
olho para trás, não me culpo, pois, não fiz faculdade antes
já que estava com a representação do meu povo, estava na
defesa perante a minha cultura, com a atividade de levar
benefícios para o povo indígena; então algumas vezes fiz
palestras na Universidade Federal doTocantins (UFT), estava
na posição de líder em relação ao meu povo. Os indígenas
conseguiram entrar na universidade, se formaram, alguns
são advogados, outros enfermeiros, professores, etc. Isso é
gratificante, pois, saímos de casa, do nosso povo, para
podermos ser vistos. Isso é um sonho meu, que sejamos
sempre vistos, respeitados.

Já sofri preconceito por ser quem sou, em um trabalho


passado fui proibido de falar na minha língua, mesmo que o
português seja minha segunda língua; eu simplesmente
disse à moça que me proibiu de falar minha língua que só
não a processava por que tenho educação, recebi isso dos
meus pais, passei para os meus filhos e levo comigo até
hoje, isso que aconteceu, me abalou muito, pois, sempre
digo e sempre direi, que por onde eu for sempre serei
Sitbro, ninguém tira isso de mim. O preconceito vem de
casa, tudo que disser aos filhos, eles vão absorver e isso
funciona com o respeito também, tudo vem do berço.

Quando estou na aldeia, nas minhas horas vagas, eu


costumo pegar minha arma e ir caçar, isso é terapia para
mim, pois, quando estamos na cidade, acumulamos muitas
coisas, e lá eu libero isso. Às vezes faço comidas típicas,
chamamos os amigos, parentes e nos reunimos, isso me faz
bem; já quando estou na cidade, costumo ler livros, a bíblia.

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Sou evangélico e ler a bíblia me faz bem, gosto de sair com
meus filhos, em lugares legais, como na praia, em uma
sorveteria, e assim consigo ver que minha família se sente
mais segura e mais feliz.

Daqui a uns 30 anos me vejo mais maduro, mais sábio,


pois, percebo que a cada ano que passa eu aprendo coisas
novas, quero voltar para a vida na política, me candidatei a
vereador em Tocantínia - TO, em uma época atrás, e perdi
por dois votos. Mas agradeço por isso, porque penso agora
que eu era muito inexperiente, mas sempre tive esse
convite para que eu voltasse e pretendo voltar.

Então, quando se fala em índio, as pessoas pensam


serem todos iguais, mas não é assim. Cada índio, cultura,
povo, são diferentes, até na fisionomia os xerentes são
diferentes dos krahôs, javaés, etc. As pessoas não têm
informação, dizem “é índio”, e muitos não buscam saber, se
informarem. Espero que as pessoas busquem saber e
terem interesse sobre quem somos.

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Sempre falo para eles:
vocês são indígenas
Por Paula Souza

Acervo pessoal Tuinaki Karajá

Tuinaki Kaixaru Karajá, nome dado a ela em


homenagem aos seus antepassados. Filha de pais Karajás
de aldeias distintas, Tuinaki morou até os quatro anos na
aldeia do seu pai; a aldeia Santa Isabel do Morro no
Tocantins. Apesar de terem saído da aldeia, seu povo
sempre foi presente durante toda a sua vida. “Na aldeia do
meu pai, nós ficávamos na casa da minha tia Kuaxiru, o
convívio com ela foi maravilhoso, ela contava histórias para
todos quando anoitecia. Na aldeia da minha mãe, meus
avós plantavam muito milho, amendoim, abóbora,
melancia, batata-doce, banana; era uma fartura de comida.
Meu avô sempre pescava também”. Sua infância foi repleta
de momentos que a marcaram, sempre tendo a presença
daqueles que eram sábios — “quando chegava na casa dos
meus avós era uma alegria imensa, meus avós sempre
contavam histórias. Minha avó colocava a esteira no
terreiro e contava histórias sobre nossos antepassados,
sobre as lendas, ou nos ensinava o nome das estrelas”.

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Atualmente, com 33 anos, ela mantém o contato
frequente com a aldeia, seja nas férias ou nos feriados
prolongados, pois, ela quer que seus filhos tenham contato
com suas origens — “quero que meus filhos presenciem
essa conexão de ter contato com aldeia, com os parentes.
Aqui em casa eu ensino eles a língua do meu povo Karajá…
Eu pinto eles, faço tinta de jenipapo. Sempre falo para eles:
'vocês são indígenas, a mamãe é indígena, os pais da
mamãe são indígenas'. Eu sempre explico para eles!
Expliquei a respeito do dia do índio, que hoje em dia não é
mais dia do índio e sim dia dos povos indígenas, a
nomenclatura foi mudada no ano passado”.

Em relação ao preconceito diário aos povos indígenas,


ela não se lembra de ter sofrido preconceito e relata que
sua convivência com os não indígenas foi tranquila —
“minha relação com os não indígenas sempre foi tranquila.
Eu sempre aprendi a respeitar o espaço do outro e o que
eu ganhei em troca foi a admiração de muitas pessoas, e
curiosidades; as pessoas sempre me perguntavam porquê
eu me pintava, qual era o significado… Então as pessoas
sempre tiveram muita curiosidade em saber mais em
relação a minha cultura, o meu povo e as minhas origens.
Elas tinham muita admiração”. Apesar de ter tido uma boa
relação com os não indígenas, ela compreende o
preconceito que seu povo passa dia após dia — “em relação
ao povo Karajá eles sofrem muito preconceito na cidade de
São Félix do Araguaia, coisas que não deveriam acontecer,
pois, a cidade só é movimentada por causa dos indígenas
que compram suas coisas; quando tem festas culturais, os
indígenas compram bastante.

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Então, os indígenas estão sempre movimentando o
mercado, mas a gente ainda vê o preconceito até hoje”.

Formada em turismo pela Universidade do Estado do


Mato Grosso (UNEMAT), Tuinaki, tem projetos para
trabalhar o turismo na sua aldeia — “quero trabalhar com o
turismo na aldeia para fortalecer a nossa cultura, mostrar
ao mundo, que existe as transformações, mas o nosso povo
mantém a nossa cultura viva. Ainda existem rituais, as
danças culturais, a cultura ainda está muito valorizada e eu
pretendo trabalhar com isso”. Juntamente com outros
Karajás ela está à frente do instituto Maluá, que tem o
objetivo de dar apoio e suporte, além de valorizar e
fortalecer a sua cultura.

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Adaptação de vida numa metrópole
Por Thiago Martins

Acervo pessoal - Beluakani Karajá

Beluakani Karajá sofre com preconceitos por ser


indígena — o que inclui seus caracteres culturais — desde
que cursava o 1° ano do ensino fundamental “muitos
diziam que indígenas não estudam e que não tínhamos
direito de morar em cidade, e foram vários tipos de
comentários desconfortáveis de ouvir. Os alunos de classe
que estudavam comigo sempre falavam que eu era uma
indígena feia, que não tinha inteligência, que não fazia nada
direito, que era suja entre outras coisas. Tinha um garoto
de classe que me odiava por literalmente ser ‘diferente’,
houve várias agressões dele pra cima de mim e quando eu
falava pra diretoria da escola nada era resolvido. Então,
quando vi que não tinha aquela prioridade de outros
alunos eu aguentei tudo calada, eu não podia nem chegar
perto de algumas pessoas. Tinha livros de história que
mostravam imagens de macacos e muitos faziam uma
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comparação minha com aquele animal e claro nada
agradável.”. Dito esses relatos, Bel agradece por não
recordar de mais situações dolorosas à ela.

Sua criação em casa foi ambientada com a cultura do


povo Karajá, que seus pais se preocupam em mantê-la
viva, mas ao mesmo tempo não desconsiderava o modo
de vida urbano, bem como a importância nos estudos que
objetivam o bem-estar futuro. Quando Bel inicia o 6° ano
decide se comportar diferente para ter uma convivência
mais favorável à sua saúde mental. “Coloquei em mente
que tinha que estar no 'padrão' da sociedade pra poder
'conviver' bem com eles.”. Quanto ao preconceito, ela
acrescenta “atualmente não sofro mais com isso, por não
deixar esses tipos de coisas me atingir. Depois que percebi
que o erro não estava em mim, comecei a ter mais
segurança”.

Os pais da Bel nasceram no centro urbano e a tiveram


no ano de 2004 em Palmas, no Estado do Tocantins. Ela
mora atualmente com o pai Waxiy Maluá Karajá e sua mãe
Bikunaki Karajá, na cidade de Palmas. Se identifica com o
povo Karajá — que vive em quatro estados brasileiros:
Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará — mas, embora não
conviva com seu povo, ela os visita nas férias e mantêm
contato pelos meios de comunicação, além de ter uma
prima que mora com ela e se expressa oralmente só pela
língua indígena. Apesar de Beluakani não falar a língua
nativa de seu povo, ela compreende muito bem e consegue
desenvolver uma comunicação “normal e compreensiva”,
segundo ela.

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Outro traço que compõe a sua subjetividade é a sua
crença Umbandaime (mescla de Umbanda com Santo
Daime) diferente da crença dos Karajás, que ela afirma ser
a maioria adventista, porém cada um é livre para decidir
sua crença.

Hoje, a Bel cursa o 3° ano do ensino médio, e


começou a produzir pinturas em madeiras reutilizadas,
vendidas por encomenda através do instagram
@aldeia_encantada, devido a sua vontade de trabalhar
com arte, seu otimismo, determinação, persistência e a sua
interpretação de que produtos artesanais estavam com
boas vendas no tempo pandêmico. Após a conclusão do
ensino médio pretende cursar a faculdade de jornalismo
(sem deixar seu trabalho artístico), pois desde pequena se
interessa pela área. Há de considerar que a medida em
que ela foi crescendo, sua mente foi se abrindo a diversas
possibilidades que poderiam, e podem, tomar seu
interesse, mas, por enquanto, ela segue com o curso de
jornalismo em mente por achar um curso incrível e que ela
admira. Além do que, em seu exercício profissional pode
trabalhar em projetos que visem a valorização do povo e
da cultura indígena.

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ARTIGOS
A importância da representação indígena na
política para o cumprimento dos direitos e leis
indigenistas
Por Danyelle Claro

Há muito tempo os povos originários enfrentam


diversos tipos de perseguição e resistem à opressão
advinda das sociedades hegemônicas. Apesar de já terem
conquistado diversas leis que reconhecem e garantem seus
direitos, tais leis ainda são constantemente ameaçadas,
infringidas e negligenciadas. Isso acontece principalmente
por dois motivos: descaso do governo para com os
indígenas e interesse particular na exploração de suas
terras.

Se tornam cada vez mais comuns denúncias de


injustiças e crimes cometidos contra os povos indígenas,
que reivindicam seus direitos pressionando aqueles que
ocupam cadeiras no Senado e Congresso, e trazem à tona
os diversos problemas enfrentados por eles, a maioria em
defesa de suas terras. Protestos de rua e nas mídias sociais
ressaltam a importância da representatividade indígena nos
cargos políticos e posições de poder.

Para que possamos compreender as necessidades


desses povos e sua relação com a política e com suas
terras, precisamos evidenciar a realidade do genocídio
indígena brasileiro.

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Em entrevista para a série “Desafios” do site do Jornal
da USP, lançado em setembro de 2019, Marta Rosa Amoroso,
coordenadora do Centro de Estudos Ameríndios (CESTA),
relembra o Relatório Figueiredo, que em suas mais de 7.000
páginas, revela crimes de genocídio praticados contra
indígenas brasileiros por latifundiários e funcionários do
Serviço de Proteção ao Índio (SPI), responsáveis por cuidar
das políticas para essa população. Esse relatório indica que o
SPI escravizou e torturou crianças, roubou terras e
deliberadamente introduziu varíola em aldeias isoladas,
deixando populações inteiras à beira da extinção. O SPI foi
dissolvido e substituído pela Fundação Nacional do Índio
(Funai).
De acordo com Marta, o conceito de “terras indígenas”
foi consagrado na Constituição de 1988, definindo-as como
espaço de expressão e extensão cultural, garantindo os
direitos aos povos indígenas de participar do território
nacional em suas diferentes “matizes” culturais. Porém, a
Constituição não garante o cumprimento desses direitos na
prática, e mesmo os direitos ali contidos são considerados
insatisfatórios pelo fato de terem sido feitos por constituintes
que tinham relações diretas e indiretas com latifundiários,
mineradores e madeireiros.
A Constituição, ainda naquela época, sancionou a
demarcação de terras indígenas em um prazo de até 5 anos,
só que até hoje muitos desses processos não foram
finalizados. A demarcação é de responsabilidade da Funai,
que hoje tem como presidente o delegado da polícia federal,
Marcelo Augusto Xavier Silva, escolhido pelo atual presidente
da república Jair Bolsonaro. Xavier foi presidente da União
Democrática Ruralista e, é a favor da exploração de
mineração em terras indígenas.

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Segundo o site terrasindigenas.org.br, o subprocurador
geral da República, Carlos Bigonha, afirmou que houve um
“esvaziamento do órgão e aparelhamento ideológico” na
ocupação de cargos importantes, pouco tempo depois da
posse de Marcelo na Funai.

A Funai, entidade que deveria proteger e promover


os direitos indigenistas, hoje caminha para um rumo
semelhante ao do SPI. A gestão de Marcelo Xavier é
marcada pelo menor número de delimitação de terras
indígenas desde o fim da ditadura militar. Em setembro de
2021 Xavier virou réu na Justiça por descumprir ordem
judicial que obriga a Funai a avançar a demarcação de
territórios, e foi multado em um valor de mais de 250 mil
reais. Em outubro do mesmo ano, a APIB (Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil) e a DPU (Defensoria Pública da
União), fizeram uma petição para o afastamento de
Marcelo. O documento conta com 76 páginas que detalham
toda a má conduta do presidente do órgão.

Jair Bolsonaro sempre se posicionou de forma racista


contra os indígenas, indiferente quanto às questões
ambientais e em seu mandato foi complacente com
diversos projetos de lei que colocam em risco a vida dos
indígenas brasileiros e o meio ambiente. O presidente da
Funai e o governo Bolsonaro são repudiados por ativistas
indígenas e todos aqueles que se importam com a
preservação das florestas e vidas dessas populações.

26
Em uma reunião do programa Inclusão Sociopolítica
dos Povos Indígenas do Tocantins, transmitido ao vivo pelo
canal no youtube do Tribunal Regional Eleitoral do
Tocantins (TRE-TO), Narubia Werreira, ativista e presidente
do Instituto Indígena do Tocantins (Inditins), disse que a
política precisa de pessoas com humanidade e
sensibilidade, e ressaltou a importância da valorização de
mulheres indígenas na política. Para ela, o extermínio dessa
população somada ao roubo de terras, começa com a
dominação da mulher. Sua valorização é sinônimo de
valorização da terra, ancestralidade, cultura e de toda a
história do Brasil. Segundo Narubia, para tornar mais
efetiva e ampliada tal representação na política, necessita
de “leis que destinem verbas específicas para mulheres
indígenas e de leis rigorosas que façam com que esses
recursos se destinem a candidaturas e reservem
candidaturas para a mulher indígena”.

Marcos Terena, líder indígena da região do Pantanal


e coordenador dos direitos indígenas da Funai, na mesma
reunião, discursou sobre o protagonismo e importância da
representatividade indígena na política. Ele destacou a
importância de se saber votar com dignidade, inteligência,
tendo como norte o compromisso com as etnias e o meio
ambiente. Abordou a importância do empoderamento
indígena dentro e fora do país, e de como isso deve se
desdobrar na política, para que não sejam mais vistos como
“coitados”, e sim, como símbolo de resistência, luta, força e
de reconhecimento.

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A última edição do Acampamento Terra Livre (ATL),
evento de mobilização dos povos indígenas do Brasil, que
acontece anualmente, reuniu ano, em Brasília — DF, o
maior número de indígenas da história do movimento, com
aproximadamente 8 mil indígenas e 200 povos. Os
participantes do ATL depois de 10 dias de assembleias,
rodas de conversas e protestos nas proximidades do
Congresso Nacional, aprovaram documento final onde
trazem propostas para a reconstrução do Brasil, além de
reivindicações do movimento como: direitos territoriais, a
reconstrução de políticas e instituições indigenistas,
retomada dos espaços de participação e controle social
indígena e agenda ambiental.

O evento contou também com a presença do ex-


presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem se mostrado
um apoiador do movimento ATL e de questões ligadas ao
meio ambiente. Em seu discurso criticou os retrocessos do
atual governo e disse que, se voltar à presidência, irá
proteger as terras indígenas criando um ministério voltado
exclusivamente para suas questões e especificidades,
liderado por um deles.

Com o avanço de pautas, como a do aquecimento


global, nunca foi tão urgente se voltar para os povos da
floresta e seu papel fundamental na garantia de
conservação do meio ambiente em que estão inseridos.
Batalhar pela demarcação de terras indígenas é permitir
que a biodiversidade seja preservada, a vida e os direitos
básicos de comunidades inteiras seja mantido, bem como
evitar que o agronegócio, dentro de uma estratégia de

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monocultura e devastação, cada vez maior de territórios,
venha a sucumbir. Se os povos originários às terras que
eles residem, bem como a biodiversidade que
naturalmente eles garantem, sucumbirem, sucumbiremos
todos nós.

Narubia Werreira discursando na Reunião de Avaliação das Ações de


Educação Política nas comunidades Indígenas
Reprodução: Youtube

29
Educação e acessibilidade:
Um direito indígena
Por Isabella Flávia

De acordo com o governo brasileiro, “A educação


escolar indígena é uma modalidade de ensino que vem
recebendo um tratamento especial por parte do Ministério
da Educação, um novo paradigma educacional de respeito à
interculturalidade”, mas na realidade não é bem isso que
vemos nas escolas indígenas, encontramos escolas
precárias com falta de recursos e com falta de
acessibilidade.

Uma importante barreira que os povos indígenas


enfrentam é a educação para indígenas surdos. Para
compreender melhor as dificuldades que os surdos
enfrentam, vamos falar um pouco da história da sociedade
surda no Brasil.

As pessoas surdas foram excluídas das sociedades e


da educação básica durante séculos, porque se acreditava
que o pensamento não era desenvolvido sem a linguagem
oral. A exclusão acontecia principalmente por conta da
religião, vale destacar a igreja católica, pois, acreditava-se
que os surdos não podiam ser “salvos” por não
conseguirem confessar seus pecados oralmente. Somente
no século XVII, que surgiram as primeiras escolas de surdos
na Europa, e somente em 1857 no, Rio de Janeiro, que foi
inaugurada a primeira escola de surdos no Brasil, o
Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).
30
Durante minhas pesquisas, não encontrei relatos
específicos de como os indígenas surdos eram tratados,
porém, existem relatos históricos que confirmam as
práticas e costumes entre a população indígena que
levavam a eliminação ou a exclusão de crianças com
deficiência física, ou até mesmo aquelas que adquirirem
alguma limitação física, ou sensorial no decorrer de sua
infância.

Apesar de tanto preconceito e exclusão, a comunidade


surda brasileira, ainda tem muitos obstáculos pela frente.
Independente de tanto preconceito sofrido ao decorrer dos
anos e ocorridos diariamente, o surdo vem lutando por
mais acessibilidade. Uma de suas conquistas além da
inauguração da primeira escola para surdos, INES, é fazer
com que a Libras, se torne a segunda língua oficial do
Brasil, como consta a “lei 10.436/2002, que reconhece a
Língua Brasileira de Sinais (Libras) como uma das línguas
oficiais do país”, mas, ao mesmo tempo, também é algo a se
pensar, pois, essa conquista só foi ocorrer no século XXI, e
que poucos brasileiros conhecem essa língua, logo acredito
que o ensinamento dessa belíssima língua seja
obrigatoriamente ensinada nas escolas públicas e
particulares, ao invés de ensinar línguas estrangeiras, não
que elas não sejam importantes, mas ao observar a
população, percebi que de muito é falado da língua
estrangeira e pouco de sua segunda língua oficial.

31
Já na educação, que apesar de tanta proposta que o
governo vem dizendo estar em prática, estão precárias com
falta de recursos, e as que estão de fato em prática são
muito precárias. Sendo assim, pensando na falta de
recursos necessários para uma educação básica para a
comunidade surda nas grandes cidades, como anda a
educação e a acessibilidade para a comunidade surda
indígena?

A educação dos povos indígenas é bastante precária,


muitas vezes com a falta de professores e recursos básicos,
além da falta de formação de profissionais qualificados.
Com isso, por serem um povo de grande maioria, isolados
da sociedade, percebemos a falta de assistência e
acessibilidade para esses alunos e, acredito que a língua
local falada na aldeia acabe se tornando sua segunda língua
e a língua de sinais local a primeira, assim como o
português é a segunda língua do surdo não indígena.
Portanto, a dificuldade para a aprendizagem se torna mais
difícil ainda para essa comunidade, que por terem pouco
contato ou até mesmo nenhum com a civilização, os surdos
indígenas acabam por criar sua língua de sinais própria. O
que decorre em um profissional da educação especial ter
que aprender os sinais locais e ensinar a Libras, com a
esperança de eles conseguirem evoluir cada vez mais a
ponto de entrar na faculdade, o que é pouco visto hoje em
dia.

32
Acredito que os indígenas são os verdadeiros donos
do país, mas que por serem ridiculamente excluídos pela
sociedade acabam não tendo a oportunidade e o valor que
merecem. Percebo que o povo brasileiro precisa
urgentemente acordar, e se unir aqueles que realmente
merecem todo o nosso apoio, pois, sem o indígena talvez
hoje não existiríamos, sem o indígena talvez nossa natureza
não seria tão bela, sem o indígena talvez não existiria o
Brasil.

Foto: Fernando Amazônia

33
A constituição garante o direito
dos indígenas no ambiente escolar
Por Kamilla Fidel

O índice de indígenas matriculados em escolas básicas


aumentou consideravelmente nos últimos 30 anos.

Atualmente, cerca de 300 mil alunos que representam


os indígenas estão matriculados em escolas básicas nativas
em cidades de todo o país. Segundo o antropólogo e
professor universitário Gersem Baniwa, o número é o triplo
do registrado na década de 1990, quando foram estudados
cerca de 100 mil indígenas. Outro dado importante,
relacionado à política de cotas desenvolvida e adotada pelo
governo federal do PT (Partido dos Trabalhadores), mostra
que mais de 100 mil indígenas estão matriculados no
ensino superior em algumas universidades do Brasil.

A lei de Diretrizes Educacionais e Lei Básica n.º 9.394 de


1996 garante a educação bilíngue e intercultural aos povos
indígenas. José Bessa, coordenador do Programa de
Estudos dos Povos Indígenas da Faculdade de Educação da
UERJ, no Rio de Janeiro, disse que a quase cinco séculos há
tentativas de padronizar uma educação. Quando os nativos
tiveram acesso, foi em uma escola que não falava a língua
deles, os 6 saberes não foram transmitidos. Do ponto de
vista legal, a Constituição de 1988 reafirmou o impacto
sobre esses povos, ao reconhecer o direito desses
primitivos a escolas bilíngues, transculturais, específicas,

34
diferenciadas, principalmente aquelas alfabetizadas em sua
própria língua. José vê isso como um grande passo em
termos de propostas.

Mais de dez anos após a promulgação de acordo com


a atual constituição brasileira, os direitos dos povos
indígenas no Brasil podem ser afirmados com educação
diferenciada e de qualidade subsequente, ou seja, o que
percebemos quando coletamos a legislação brasileira sobre
escolarização indígena em nível nacional.

A atual LDB (Lei de Diretrizes Educacionais de Lei


Básica), substitui a lei n.º 4.024 de 1961, isso envolve a
educação nacional. Sobre escolas indígenas, a velha LDB fez
referência explícita à escolarização dos povos nativos em
dois momentos. Um deles aparece em parte de a educação
ser em português, mas afirma que as comunidades
indígenas usam sua língua nativa e seu próprio processo de
aprendizagem, isto é, reproduzem-se aqui os direitos
consagrados no artigo 210 da Constituição.

Esse direito à educação é reconhecido, inclusive temos


um decreto, 6.861 de 2009. Ele vai definir como vai se dar a
organização desses povos, em seus territórios, de forma
ética educacional. Uma das coisas bem importantes que
isso vai trazer, é que os nativos têm o direito à educação
escolar diferenciada e intercultural, que é algo que o
estatuto já previa, mas isso vai aparecer de forma mais
clara através de uma lei própria para regular esse tema.

35
No estatuto do índio já diz que a educação do sistema
de ensino em vigor no país, vai ser estendida à população
indígena, obviamente que, ao reconhecer as necessárias
adaptações. Temos que compreender que eles vêm de uma
cultura diferente, tem um sentido de vida distinta, então
muitas vezes é necessário fazer uma adaptação no ensino
dessas pessoas, lembre-se que, a lógica não é da integração
da tutela total, mas de reconhecer os direitos a essa
população e a própria convivência como diferente.

36
Jejuvy: O fim de uma vida
Por Paula Souza

As comunidades indígenas brasileiras têm enfrentado


uma grande batalha contra o suicídio entre seus jovens. Os
motivos diversos vêm tornando essa etnia a líder no
ranking de mortes. Algumas comunidades, como a Guarani-
Kaiowá, é afetada com mais frequência, a prática mais
comum é por enforcamento (jejuvy); e a porcentagem de
homens indígenas que se suicidam é maior que a
porcentagem de mulheres indígenas, conforme foi
divulgado pelo site Centro de Valorização da Vida (CVV).

De acordo com o Ministério da Saúde, a taxa de suicídio


entre os povos originários é maior que a taxa nacional,
chegando a ser três vezes mais que a média. Há estudos
que tentam definir possíveis motivações dessa fatalidade
em cada comunidade. As motivações podem se dar pelo
estado psicológico do indivíduo, conflitos pessoais, e o
contexto social e cultural. A luta por território pode ser
também um fator contribuinte. Para que possa definir a
causa, é necessário analisar o contexto em que o
indivíduo/comunidade está inserido.
A partir dos dados apresentados, pode-se inferir que a
morte de indígenas por suicídio se dá pelo extremo estado
de tensão em que eles se encontram, ocasionada pelo do
homem não indígena. O desrespeito e descaso com os
povos originários, verdadeiros donos das terras brasileiras,
tem causado estragos nas comunidades, seja tomando suas
vidas, terras ou identidade.
37
A crise na identidade indígena também é um fator
importante que deve ser observado, pois, o
“embranquecimento” tem causado efeitos de falta de
pertencimento em muitos jovens indígenas.
Portanto, para combater o suicídio, que é um grave
problema de saúde pública, é necessário a inclusão desses
jovens em políticas que visam tratar a saúde psíquica
dessas comunidades. A busca e a preservação da cultura e
identidade através de projetos sociais também é uma forte
aliada na construção de jovens indígenas com perspectivas.
Ademais, ter acesso à educação e saúde de qualidade é um
direito que deve ser dado a essas comunidades.

Foto: Fernando Amazônia

38
Resistência pela Vida Indígena
Por Thiago Martins

O garimpo ilegal na terra indígena Yanomami tem


causado muitos efeitos destrutivos, violentos, devastadores
para os habitantes destas comunidades. Desde 1991, o
jornalista e apresentador do programa Eco Senado, Cesar
Mendes, já fala sobre a mineração nessas terras no
documentário “Boca do Ouro”, o qual foi realizado por ele e
teve como objetivo mostrar a mineração nas áreas
indígenas.

Diante dessa situação, ficam os questionamentos: até


quando as autoridades brasileiras continuarão com
medidas negligentes no combate aos garimpeiros ilegais?
Será que é tão difícil assim ter empatia com os povos
indígenas e lhes oferecer uma boa qualidade de vida?

Segundo informações publicadas em 11 de abril de


2022, pelo jornal O Globo, houve um aumento de 46% em
relação a 2020, de destruição dessa terra — localizada entre
os estados do Amazonas e Roraima — uma área de 1.038
hectares, a maior taxa anual desde a demarcação da área,
em 1992. Além da devastação das florestas e dos rios,
também ocorrem as consequências sanitárias, como
aponta o relatório “Yanomami sob ataque”, divulgado pela
Hutukara Associação Yanomami, citado pelo O Globo, com
a explosão de casos de malária, insegurança alimentar e
doenças sexualmente transmissíveis.

39
Por consequência da atividade garimpeira afetar a
rotina dos indígenas, o relatório destaca depoimentos de
moradores que deixaram de cultivar os próprios alimentos
para trabalhar como carregadores para os garimpeiros em
troca de dinheiro ou ouro, para comprar comida nas
cantinas dos acampamentos de garimpo. Bem como, teve
casos de mulheres que foram influenciadas e acabaram
sendo vítimas de exploração e abuso sexual em troca de
comida.

Diante disso, um ato de resistência que merece


reconhecimento é o Acampamento Terra Livre (ATL), que
ocorreu durante dez dias de programação em Brasília e se
encerrou no dia 14 de abril. Esse ato de protesto reuniu
mais de 7 mil indígenas de 200 povos diferentes, segundo
informações da DW Brasil, publicadas no dia 13 de abril.

Dentre as atividades estão os pedidos de andamento


nos processos das demarcações de áreas, feitos pelas
lideranças indígenas; protestos contra o Projeto de Lei
191/2020 — que libera mineração e outros grandes
empreendimentos em terras indígenas, manifestações
onde os indígenas se cobriram de lama e sangue
cinematográfico, para denunciar em frente ao Ministério de
Minas e Energia os efeitos do garimpo ilegal em suas terras.
Como também, a exposição dos problemas nos territórios
indígenas a representantes do Judiciário e paralelo à
agenda política, o ATL promove o reencontro das origens
dos povos.

40
Portanto, é de longa data a luta dos yanomami pela
preservação das terras onde vivem e, infelizmente, também
é de longa data a má gestão pública. Bem como, merece
destaque o apoio do atual presidente Jair Bolsonaro (PL)
aos garimpeiros, que vem desde a sua campanha como
candidato com declarações a favor da legalização da
mineração e do garimpo, o que incentiva ainda mais os
conflitos entre esses grupos.

Por isso, é de extrema importância que o Governo


Federal, junto a outras autoridades, deem a devida atenção
e cumpra seu dever, como está garantido na Constituição
Federal, de proteger os povos indígenas e a natureza
brasileira de malfeitores.

SOS Yanomami (1989) obra de Augusto Cardoso

41
IJYY/IJYKY*

*"História" na lingua karajá,


respectivamente paterna e materna
Sociedade atrasada
Por Danyelle Claro

Acordei pela manhã com o celular despertando


exatamente às 06:20, já era hora de tomar banho, preparar o
café e ir à UFT. As pessoas sempre reclamam de tomar banho
frio pela manhã, eu não entendo, pois, dentro das casas nem
é tão frio assim. Quando eu morava na aldeia onde nasci,
banhávamos com água ainda mais gelada e o banheiro nem
ficava dentro de casa, o vento e o clima era bem mais ameno
que na cidade.

Era por volta das 07:20 da manhã quando eu tentava


pegar um ônibus na estação Krahô. Acho interessante o fato
de terem colocado nomes de povos indígenas nas estações
de ônibus na tentativa de homenagear os povos que foram
dizimados para dar espaço a essa nova sociedade, os nomes
se tornam populares para as pessoas da cidade, mas de fato
poucos sabem a história sobre esses povos. Enfim, os ônibus
vinham entre 5 a 10 minutos e todos já vinham lotados, e na
estação também havia uma multidão querendo subir nos
ônibus. Na maioria das vezes as pessoas desciam do ônibus e
o motorista seguia viagem, sem abrir a porta para entrarmos,
visto que o pessoal não se movia para caber mais gente.
Quando percebi, já se aproximava das 7:40, o horário de pico
se estenderia até as 8:00 e a viagem até o ponto onde eu

43
desceria, na última estação, era de pelo menos 35 minutos.
Então, se eu não subisse no ônibus naquele exato momento,
chegaria muito atrasado na aula. Porque se eu não
conseguisse chegar a tempo de pegar o ônibus 090 da UFT
das 08:10, o próximo só passaria às 08:30, e depois às 09:00.

Sem pensar muito eu tomei uma decisão, subi ligeiro e


discretamente pela porta de trás do ônibus. Algumas pessoas
ficaram me encarando, provavelmente pelo estranhamento
da minha atitude. Eu estava nervoso, pois, não é do meu
feitio fazer coisas assim, já que minha mãe sempre me
ensinou muito sobre fazer o que é certo. E naquele momento
eu senti os olhos dela sobre mim, me esmagando com seu
olhar como ela sempre fazia quando queria me dar broncas
em público. Quase podia ouvir os discursos dela sobre viver
de forma correta e honesta, independente das circunstâncias
e das injustiças que nos acometem, como ela havia feito ao
descobrir que eu tinha quebrado o brinquedo do meu irmão
e, ao invés de admitir na hora, tentei esconder e colocar a
culpa no acaso. Neste dia me senti pequeno, indefeso e
errado, era assim que eu me sentia toda vez que ela me
lançava aquele olhar sério sobre mim.

Já o meu pai, falaria para eu não levar a vida tão a sério,


principalmente as coisas mais triviais. Quando eu passei
pela iniciação do Hetohoky, que é quando o menino se
torna homem, ele me disse que muitas coisas iriam mudar,
e as mudanças seriam tanto internas quanto externas. Mas,
principalmente as externas, pois, as pessoas iriam começar
a me tratar como homem, mas eu ainda iria me sentir como
um menino por muitas vezes, e teria que lembrar do

44
homem em quem eu estava me tornando naquele dia para
vir proteger o menino. Às vezes quando eu me sinto um
menino indefeso eu me lembro desse dia e dessas palavras

Assim eu fiz, me lembrei da história dos meus ancestrais


e parentes que, antes da colonização, viviam livremente por
suas terras. As terras eram o Brasil inteiro e não somente
algumas pequenas áreas demarcadas. O Brasil inteiro era
terra indígena, cheio de árvores e animais por todos os
lados. Andavam nus e descalços, não tinha asfalto nem
energia elétrica. Não tínhamos celulares e nem internet
para nos comunicarmos, falávamos pessoalmente uns com
os outros. Não tínhamos que pegar ônibus para trabalhar e
ganhar o mínimo suficiente apenas para sobreviver em
uma sociedade capitalista para que outras pessoas fiquem
ricas. Éramos felizes e livres antes de vir o homem branco.
Quando eles vieram, aos poucos foram tomando e
destruindo as coisas, terras, riquezas naturais, a língua, a
cultura, a liberdade e até os próprios índios eles dizimaram.

Refletindo sobre tudo o que esse “novo” povo


estrangeiro fez com os nativos daqui, percebi que não
estava fazendo nada de ruim pra ninguém, principalmente
se comparado ao que eles fizeram para o Brasil ser o que é
hoje: uma selva de pedras onde os “reis” constroem seus
palácios tirando proveito dos subalternos e os mandando
para os confins da sociedade apenas com migalhas. O
sistema deles é falho, quem não se aproveita chega sempre
atrasado.

45
A natureza faz parte de mim
e eu faço parte dela
Por Isabella Flávia

Não me lembro de muita coisa da minha infância na


aldeia até os meus três anos, só lembro que quando eu
tinha em torno de quatro anos, em um belo dia ensolarado,
uma moça branca junto ao seu esposo compareceram à
aldeia, não me lembro bem o que eles foram fazer lá, só me
veio a mente ela se aproximando e com uma voz calma
disse “que linda mocinha”. Eu, como nunca tinha a visto
antes, envergonhada, escondi meu rosto com as minhas
pequenas mãos, sem saber como reagir com a situação.

Alguns dias depois, vejo minha mãe com uma expressão


triste no rosto, arrumando uma pequena bolsa com as
minhas coisas e entregando a moça, que pega dizendo “não
se preocupe, irei cuidar muito bem dela”, e colocando atrás
de uma coisa estranha com quatro rodas, que logo depois,
descobri que se tratava de um veículo. Entro no carro com
um certo receio, pois, não sabia o que iria acontecer comigo
depois, logo em seguida o veículo começa a andar e
durante a viagem, admiro a paisagem pela janela, “como
pode a natureza ser tão bela assim?!”. Alguns minutos
depois, chegamos a um lugar estranho, com muitos
veículos barulhentos e pessoas por toda parte, a famosa
cidade, na qual cresci e tive acesso à escola, conhecer
pessoas novas, onde me formei e consegui um emprego.

46
É estranho, pois, lembro que quando cheguei aqui, a
primeira coisa que pensei foi quando iria voltar para casa, e
hoje não me vejo longe da famosa cidade grande. Em um
belo dia, a moça que me levou para a cidade, na qual passei
a chamá-la de mãe, veio com um sorriso no rosto em minha
direção querendo me dar uma notícia, “minha filha, minha
querida filha! Hoje você completa 20 anos, e para celebrar,
quero levá-la para uma visita à aldeia em que você nasceu!”,
não relutei com essa decisão de minha mãe, pois, vinha
sempre flashes de lembranças desse lugar, no qual sempre
tive uma curiosidade de saber como era, então aceitei. Um
mês depois, chegou o dia da viagem, eu estava muito alegre
por finalmente saber como é o lugar onde nasci e claro, um
pouco ansiosa, pois, não sabia como seria quando chegasse
lá, será se alguém de lá vai me reconhecer?

Ao chegar à aldeia, ansiosamente saio do carro, tiro


meus sapatos, deixando meus pés em contato com a terra
geladinha e úmida e fecho meus olhos, me concentro no
canto dos pássaros, no som das águas do rio e as folhas das
árvores. Um sentimento satisfatório preenche meu corpo e,
um sentimento fantástico me domina, então é aqui o lugar
onde nasci, é tão incrível e encantador, cada dia que passa
me identifico cada vez mais, vestindo as roupas
aprendendo a língua local, os rituais, os cantos… afinal por
que me tiram daqui?

47
Escuto minha mãe gritando meu nome “MYDIWARU
está na hora!”, levanto da beira do rio e vou em direção ao
carro. Antes de partir me despeço e agradeço a todos,
foram alguns meses de aprendizados incríveis que vou
levar para o resto da minha vida, e tenho certeza, que
sempre que puder, vou retornar, pois, não tem lugar
melhor para ficar, a natureza faz parte de mim e eu faço
parte dela.

48
Antes do pôr do sol
Por Kamilla Fidel

À margem direita do rio Araguaia, no norte do estado


do Tocantins, Brasil, região conhecida como Bico do
Papagaio, vivia uma jovem indígena chamada Yara Waiti, ela
tinha apenas 19 anos quando se apaixonou por um rapaz
chamado Gustavo Cristofari, porém, o rapaz não era índio,
e sim “homem branco”, como Yara e o seu povo chamavam
as pessoas não indígenas.

A jovem índia o conheceu quando ele foi fazer um


estudo na sua aldeia, ela era índia dos povos Apinajés e foi
na ida desses estudos que os dois se cruzaram e dali
começou as encaradas e flertes. Yara sabia que era
impossível ter um diálogo a sós com Gustavo, por ele ser
“homem branco”. Yara resolveu ir até o rio mergulhar um
pouco para tirar Gustavo da cabeça, com a intenção de
demorar algumas horas para quando voltasse, o rapaz já
tivesse ido embora. Mas, pelo contrário do seu esperado, o
jovem a seguiu e quando ele percebeu que a moça iria
mergulhar, se abaixou atrás de um arbusto e ficou a
observá-la. Gustavo ficou encantado com a beleza de Yara,
como a garota tinha o costume de tradição e cultura em
nadar nua, Gustavo estava inteiramente apaixonado em
seu corpo e em sua alma. De repente, Yara percebeu que
havia alguém a espioná-la e perguntou quem estava ali.
Gustavo por ser um rapaz tímido, ficou quieto, mas logo os
dois escutaram movimento de pessoas vindo em suas
direções, então, Yara saiu desesperadamente da água,

49
vestiu-se com seu vestido um pouco rasgado de mini
florzinhas e correu em direção de Gustavo sem perceber,
ele estava levantando-se para também sair dali, quando ela
se esbarra nele e os dois caem no chão (Yara em cima de
Gustavo) e foi ali que ambos perceberam que sentia algo
um pelo outro. Os dois ficaram ali por alguns minutos, mas,
em suas cabeças, pareciam horas.

Os dois levantaram e começaram a conversar e dali


em diante decidiram que iriam se encontrar todos os dias
que pudessem, mas o que eles não imaginavam era que o
pai da moça já sabia de tudo. Dias e noites se passaram, o
casal continuou a se encontrar e no fim de um pôr do sol
eles se despediram combinando o próximo encontro, logo
após o combinado, a garota volta a aldeia e o rapaz para
casa, na cidade. Ao entrar na estrada, o jovem foi
surpreendido por um homem grande e forte em sua frente,
ele freou o carro imediatamente e já pálido baixou o vidro
do carro e perguntou o que aquele senhor queria, o
homem sem dizer uma só palavra, apontou e atirou uma
flecha em seu peito esquerdo que o fez sofrer por horas ali
dentro do carro.

No outro dia, Yara vai até onde havia combinado com


Gustavo, ficou horas à espera, mas nada do seu amor
aparecer. Já preocupada, ela se alegra ao perceber alguém
vindo em sua direção, mas, ao se aproximar mais um pouco
de si, ela percebe que é o seu pai com um olhar expressivo
de frieza e rigidez; a moça já assustada, imagina que algo
estava acontecendo e que não era bom, seu pai a pegou
pelos cabelos e a levou de volta à aldeia sem dizer uma só
50
palavra. Yara ficou sob vigia de seus irmãos, mas consegue
escapar, corre desesperadamente com os olhos cheios de
lágrimas em direção a estrada, para ver se encontra rastos
ou algo que a leva até Gustavo. De repente ela encontra o
carro de Gustavo e corre sentido ao carro e ao chegar se
depara com seu amor desfalecido com uma flecha no peito.
Depois de horas chorando em seu colo, Yara volta para
casa numa lentidão e tristeza infinita, mas conformada,
pois, em sua cabeça esse romance nunca iria seguir em
frente, isso aconteceria com ela ou com ele mesmo. O que
ela não sabia, era que esse amor havia gerado um fruto no
qual irá lembrá-la para sempre de seu amor, Gustavo
Cristofari.

51
Para você, o caro europeu
Por Paula Souza

Hoje, eu acordei imaginando que talvez pudesse ter um


dia diferente desde o dia em que três jovens da aldeia
foram encontrados enforcados na mata. No fatídico dia, o
silêncio era ensurdecedor e os olhos tristes das pessoas
denunciavam que meu povo precisava de ajuda. Na mesma
semana em que ocorreu o suicídio, duas crianças da aldeia
foram levadas de sua mãe e uma garotinha foi encontrada
morta. Nem consigo descrever a situação em que os
garimpeiros deixaram seu corpo, depois de o invadir
brutalmente!

Mas, não é novidade que os nossos corpos são


violentados de todas as formas, que nossa identidade é
traficada e que meu povo é fadado a derramar seu sangue
por toda essa terra. Algumas pessoas acreditam que a
crueldade do europeu se foi há bastante tempo, saiba que
você reproduz essa maldade todos os dias. Sim, você
mesmo! Quando faz da nossa cultura fantasia de carnaval,
os olhares diferentes que nos enxergam como exóticos. São
vocês que puxam o gatilho quando se tornam apáticos à
violência que nos atinge dia após dia.

Uma garotinha foi estuprada, morta e todo o seu povo


desapareceu, mas o que isso muda na sua vida? Não muda
nada, pois, não existe um de nós que frequente a sua casa
ou que você escuta nos corredores da faculdade. Quantos

52
de nós estamos na faculdade? E, sabe, nós não somos o
problema. Quando vocês chegaram, nós já estava aqui.

Alguns vão sentir a própria ignorância fluindo da pele


depois de me ouvir, e outros ainda vão me chamar de índio.
E, eu quero que saibam — EU NÃO SOU ÍNDIO. Concluí
olhando meu reflexo no espelho do banheiro, hoje será
diferente, acordei querendo mudar o mundo.

53
Que nome dou ao meu filho?
Por Thiago Martins

Sou pai solteiro. Eu e minha esposa estávamos


conversando sobre que nome daremos ao nosso filho,
tínhamos em mente a ideia de escolher um nome de
origem indígena para preservar a sua tradição familiar.
Eu, como um não-indígena, estava pensando em chamá-
lo de Mateus ou João, mas, minha ideia não foi bem
aceita e logo descartada pela Aruana Martins.

Decidimos que só daríamos, oficialmente, o nome


do nosso filho no momento de seu nascimento, então
parti para pesquisas e reflexões acerca de qual nome
escolher. Já sabia que era menino, então meio caminho
já tinha sido andado.

Poderia chamá-lo de Kauã, como o nosso galã de


novela Cauã Reymond, que diferente do ator de novela,
na tradição indígena significa gavião, como um símbolo
de alerta para as tribos. Mas talvez meu filho não se
torne um modelo ou não seja tão observador como um
gavião.

Ou então poderia ser Kaique, um jogador de futebol


famoso, que em sua origem tem o sentido de possuir
habilidades e ser talentoso na caça e na pesca. Mas, será
que ele vai se interessar por pesca? Talvez ele possa
chegar a pescar comida na geladeira de madrugada. Mas,
não, vou procurar outro.

54
Que tal Moacir? Melhor não, porque seu significado
vem de “magoado”, “o que faz doer, o que magoa”, não vou
querer um filho com a fama de alguém que por onde passa,
deixa rastros de tristeza nas pessoas.

Ou, ainda, Iberê! Como o grande Iberê Thenório do


canal no Youtube que, simbolicamente, significa algo bem
bonito, remete ao “rio que se arrasta”, enfim, são tantos
nomes…

Apresentei a ela minhas opções e ela me falou as


suas: Raoni, Rudá, Iraê, Arari, Upiara; mas em especial,
disse, com lágrimas nos olhos e um olhar sentimental, para
nós considerarmos com carinho o nome Dario, por sua
visão de que Dario Kopenawa, vice-presidente da Hutukara
Associação Yanomami, é um grande defensor dos direitos
indígenas, além do que ela expressa uma forte ligação
emocional com esse nome.

No momento do nascimento, minha esposa teve


complicações imprevisíveis e não resistiu ao parto. Fiquei
em prantos assim que recebi a notícia na sala de espera do
hospital. Com muita dor no coração, lembrei de suas
palavras e logo que peguei meu filho nos braços, o nomeei
como Dario Martins Fonseca.

55
CRÍTICA CULTURAL
“Bíblia, Boi e Bala”
Por Danyelle Claro

Arte do videclipe "Biblia, boi e Bala" de Edgar

Com base nos três pilares dos assuntos preferidos dos


políticos de direita do Brasil, o videoclipe da música “Bíblia,
Boi e Bala” é um verdadeiro retrato do país em relação aos
temas mais problemáticos e polêmicos que englobam a
atualidade. O artista Edgar consegue saltar entre diversos
tópicos e nos mostrar, em pouco mais de seis minutos,
outra perspectiva por trás dessas ferramentas do
capitalismo.

O videoclipe começa mostrando um indígena tomando


banho no rio. Percebe-se a tranquilidade na sua feição
serena, e no efeito dos seus olhos, que brilham flores, que
ele está em conexão com a natureza, mas isso acaba
quando a água revela a poluição. A água, antes limpa, agora
é tomada por sangue e peixes mortos. O sangue representa
o massacre aos povos indígenas que sofrem extermínio, em
detrimento do garimpo ilegal e roubo de terras, os peixes
mortos, a contaminação dos rios e o aquecimento global.
Junto a isso, ele encontra um óculos que, ao colocar no
rosto, o faz enxergar o mundo de um diferente panorama
da habitual realidade que conhecia vivendo na floresta.
57
Por que “Bíblia, Boi e Bala”? Ao dizer repetidamente
essas três palavras, o artista consegue fazer referência à
bancada evangélica, à bancada ruralista e política de
armamento. Três conceitos que estão presentes no âmago da
política de extrema-direita que visa o lucro acima de tudo,
inclusive acima do meio ambiente. A agropecuária é hoje uma
das atividades econômicas mais rentáveis do país, atingindo
cerca de 26% de participação no PIB do Brasil, segundo o
Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Arte do videclipe "Biblia, boi e Bala" de Edgar

Porém, devido ao crescimento desenfreado dessa


atividade, os grandes fazendeiros procuram cada vez mais
expandir o negócio, e para isso acontecer muitas florestas
são destruídas, queimadas e desmatadas, inclusive a Floresta
Amazônica que é a maior diversidade de reserva biológica do
mundo, e onde se encontra o maior número de terras
indígenas no Brasil. Ao dizer a frase “a palavra indígena fica
muito perto da palavra indigente”, Edgar nos lembra que
existe um descaso da parte do governo em relação ao
extermínio da população indígena que se dá desde a falta do
básico, como saúde pública, e vai até verdadeiros massacres
que eles sofrem, direta ou indiretamente, de ruralistas que se
beneficiam com a fragilidade desse povo, visto que cobiçam
as terras indígenas.

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Quando o artista diz “agrupe o seu gado usando um
livro sagrado”, ele faz uma clara alusão sobre a manipulação
mental usada por pastores e políticos que utilizam da religião
e de trechos retirados da bíblia, fora de contexto, para
controlar a grande massa da população que segue a mesma
doutrina em benefício dos próprios interesses. Ele continua
“a ovelha cala quando o pastor fala”, e ao comparar a
sociedade a um rebanho, podemos observar que ele realça a
alienação e o medo que os detentores do poder, da palavra e
da bala implantam dissimuladamente na mente do povo.

Arte do videclipe "Biblia, boi e Bala" de Edgar

O videoclipe é repleto de simbolismos que expõe uma


sociedade materialista e apegada ao dinheiro que, não
apenas depende, mas idolatra o sistema capitalista. A
competitividade toma o lugar do respeito e união, e a
sociedade moderna não sabe mais o que é viver em
comunidade com harmonia. Ao tirar os óculos, o indígena se
encontra na praia onde chegam os navios dos portugueses,
que seria onde tudo começou, ele cai de joelhos em choro
pelas atrocidades que viu.

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Legião Urbana - Índios
Por Isabella Flávia

A música “Índios” é relacionada a um fato que


aconteceu com o cantor Renato Russo, que assim como
grandes ídolos musicais, teve uma vida conturbada com
vários obstáculos a sua volta e fatos polêmicos.

Em minhas pesquisas sobre o cantor e a sua


composição, descobri um fato interessante relacionado a
canção que não sabia. Em 1984 quando a banda Legião
Urbana estava preparando seu primeiro disco, que foi
lançado em janeiro de 1985, o cantor Renato Russo teve
sérios problemas de saúde por conta de depressão,
segundo relatos feitos por integrantes da banda e
familiares. Ele teve que ser internado com urgência em um
hospital localizado em Brasília, após este fato ocorrer, o
cantor compôs essa música, que foi escrita em poucas
horas, e somente lançada em seu segundo disco.

A composição do cantor tem uma grande relação


histórica com todos os acontecimentos e obstáculos que os
povos indígenas tiveram que passar, e que refletiram e
refletem ainda hoje na sociedade brasileira.

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Na primeira estrofe ele quer dizer que, toda essa
questão da colonização, acerca do ouro e prata roubadas
nas terras brasileiras, que aconteceu no século XVIII, nos
permite refletir a questão do ouro dos indígenas que se
iniciou através de um saque a essas terras, após a chegada
dos portugueses.

“Quem me dera ao menos uma vez / Ter de volta todo o


ouro que entreguei a quem / Conseguiu me convencer que era
prova de amizade / Se alguém levasse embora até o que eu
não tinha”

As inúmeras promessas não cumpridas, para conquistar


a confiança dos nativos que aqui viviam, a formação do
Brasil se deu através de um processo mentiroso, onde a
confiança com os nativos foi comprada e após subjugada e
escravizada.

Renato conseguia apresentar fielmente essa crítica social


na composição de sua música, mostrando ao seu público, a
crueldade que foi imposta aos nativos durante a conquista
da América. Esse processo deixou profundas marcas em
nossa sociedade, e está de fato enraizado em uma
estrutura patriarcal de subjugação social. Também, a de
imposição de elementos de uma cultura sobre as outras
consideradas egocentricamente como “culturas inferiores”.

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Durante a canção o cantor critica a forma que o Brasil
foi explorado, se aproveitando de povos inocentes para
benefícios próprios, dizimando povos inteiros com suas
maldades e doenças europeias.

Povos que são os verdadeiros donos de nossas terras,


e que ao contrário da realidade de hoje, deveriam ser
respeitados e tratados como reis, mas que por conta dessa
cruel colonização, eles ainda sofrem. Acredito que se ao
menos parássemos para refletir o quanto os povos
indígenas são importantes para a formação da sociedade,
mas que pouco deles é falado.

Encerro aqui minha análise, com um trecho da música


que me interessou, me fazendo refletir em como nossa
sociedade não enxerga um de nossos bens mais preciosos,
e que Renato exalta a pureza e a ingenuidade dos índios,
ele gostaria de ver nossa sociedade com bons olhos, da
mesma forma que os índios viram os colonizadores
naquela época.

“Quem me dera ao menos uma vez / Acreditar por um


instante em tudo que existe / E acreditar que o mundo é
perfeito / E que todas as pessoas são felizes”.

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Pocahontas

Por Kamilla Fidel

O filme “Pocahontas” foi lançado em 23 de junho de


1995, nos Estados Unidos, dirigido por Mike Gabriel e Eric
Goldberg para Walt Disney Feature Animation.

O filme conta a história de amor entre a jovem


indígena Pocahontas e John Smith, um rapaz da cidade
grande que veio com os colonizadores para invadir as
terras na qual a moça vivia. Smith veio com os
pensamentos gananciosos, de que aquele lugar traria
riqueza e que ali era o lugar certo, depois de passar muito
tempo com Pocahontas, sua paixão por ela e pelo lugar se
mostrou. A guerra entre os indígenas e os colonizadores
começou realmente após um dos invasores atirar contra
um indígena e a matá-lo, mas o amor entre Pocahontas e
John Smith foi mais forte e acabou com aquela luta que
estava tendo entre os dois grupos. Porém, o líder dos
invasores acaba atirando em direção ao chefe da tribo,
pai de Pocahontas, Smith se lança na frente e a bala o
acerta, isso acaba o levando de volta à cidade para cuidar
do ferimento, deixando a jovem que decidiu ficar com o
seu povo, mas aguardando a volta de seu amor.

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O filme retrata algo que já aconteceu no mundo real,
mas com um toque de romance. Homens brancos que
achavam que tinham o direito de invadir as terras indígenas
sem ao menos pensar que ali viviam pessoas, povos que
tinham suas vidas, tradições, culturas próprias. O fato de,
no filme os invasores se referirem aos nativos com o termo
“selvagens” só mostra os quão ignorantes eles eram, ao
achar que, só pelo motivo deles morarem distantes da
cidade, na natureza, seriam inferiores a nós. Essa ambição
que as pessoas têm, esse desejo de querer sempre mais,
sem pensar no que pode acontecer, só os deixa mais leigos.

O número de invasões de madeireiros, grileiros e


garimpeiros crescem, assim como o desmatamento, a
destruição das florestas, rios, as culturas e modos de vida
dos nativos. Aumenta o risco de um futuro incerto para
nossos filhos e netos. Os indígenas garantem a proteção
das florestas que, por sua vez, regulam o clima, produzem a
chuva e abrigam a maior biodiversidade do planeta, fonte
de novos medicamentos e curas.

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'Índio' tem seu orgulho
Por Paula Souza

A música Brincar de índio, lançada oficialmente em 11 de


julho de 1988, pela artista Xuxa, é carregada de
estereótipos e má interpretação da cultura indígena. No
trecho 'índio fazer barulho', reforça de forma pejorativa a
fala desses povos. Sendo que por muito tempo piadas
como 'mim fazer barulho', 'mim não fazer barulho', foi
usada para ridicularizá-los.

O termo "índio", ele já trás uma carga de preconceito, pois


ele é um termo pejorativo que os não indígenas deram à
esses povos. Ele também desconsidera que os povos
originários são os verdadeiros donos dessas terras
ocupadas pelos brancos que apenas os definiram como
índio, se eximindo de toda a culpa. É dever lembrar que os
indígenas não eram índios até a chegada dos colonizadores
e que esse termo é, por sua totalidade, uma visão
eurocêntrica desse povos.

A falta de crianças indígenas no videoclipe, que foram


substituídas por crianças brancas não indígena fantasiadas,
é um ponto a ser observado, pois a música se trata de um
povo sem representá-los. É perceptível que toda a música é
composta por uma visão eurocêntrica dessa cultura
riquíssima.

Se levarmos em consideração o ano em que a canção foi


lançada, há aspectos que podem, sim, ser positivos. Apesar

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da visão estereotipada tem trechos que representam esses
povos, como:

Índio já foi um dia / O dono dessa terra / (Terra)

Os povos indígenas sempre foram e serão donos dessa


terras. Apesar de ser uma crítica à uma canção em um
contexto histórico em que esses povos ainda não tinham
espaço de fala, é importante salientar que ela serve como
reflexão para coisas que a sociedade ainda reproduz.

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A admirável forma de transmitir
a cultura indígena

Por Thiago Martins

Alok Achkar Peres Petrillo, estava sofrendo de


depressão em 2014, e em busca de respostas decidiu fazer
uma visita à aldeia dos yawanawá, no Acre. Lá, obteve mais
do que respostas, recebeu a revelação de que “o futuro é
ancestral”, o que o levou a produzir obras em parceria com
os indígenas — parceria abençoada por dois pajés que o
presentearam com dois cocares, para valorizar e transmitir
a energia que obteve na aldeia.

A partir desse contexto, que disserta a reportagem


digital da Folha de S. Paulo, publicada em maio de 2022.
Essa reportagem traz com profundidade a trajetória do DJ
em seu processo de conexão e imersão na cultura indígena
yawanawá, enfatizando seu futuro álbum autoral, que
segundo Alok, é a concretização de uma mudança de
percurso em sua carreira. Além do álbum, produziu um
documentário, que está disponível no YouTube, sobre o seu
contato e a união com os indígenas.

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Para mais, é muito importante a produção do álbum
para a valorização, quebra de preconceitos da sociedade
perante os indígenas e o cenário político, que atualmente,
tem desvalorizado e desonrado os direitos indígenas. Alok
se posiciona contra a ideia de que para o país crescer
economicamente, precisa desmatar algumas áreas
florestais, e acredita que isso ocorre por falta de
conhecimento.

O álbum, que ainda não teve seu título ou número


de faixas divulgado, vai contar com músicas nas línguas
indígenas, e não considera que a falta de conhecimento do
público em relação à essas línguas será um impedimento
para o alcance do disco, visto que suas músicas de maiores
sucessos, são cantadas em inglês. Além do que, torna as
músicas mais puras e originais, o que permite uma
experiência mais imersiva e atmosférica.

O caráter de Alok é algo que merece reconhecimento,


porque ele não espera que seu novo álbum se torne algo
que venha a se destacar nas paradas, ou não está o
produzindo pensando em se promover em cima da causa
indígena — prova disso, é a apresentação de duas faixas
desse álbum, que vieram ao público em um projeto do
Global Citizen, transmitido pelo Youtube, que arrecada
doações para o combate à pobreza mundial. Muito menos
se preocupa em perder público por usar um discurso, em
manifestações, a favor dos indígenas e da humanidade
como um todo.

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Também, graças ao seu conhecimento tecnológico,
decidiu gravar as faixas e composições originais em NFT
(sigla do inglês para non-fungible token, ou token não
fungível em português, quer dizer, um NFT é um ativo
criado a partir da tecnologia blockchain que serve como
identidade digital de um item, que garante a posse de um
item exclusivo e assegura a autenticidade de um item
único), que estão salvas no blockchain (um sistema de base
de dados que funciona de maneira distribuída; na prática,
acaba funcionando como um grande arquivo
compartilhado de registros de transações), com a
justificativa de preservar a cultura oral dos povos
yawanawá, kariri-xocó, huni kuin e guarani.

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QUEM SOMOS
"Demoro para desenvolver intimidade
com as pessoas, mas depois disso, sou
uma boa amiga."
Por: Milena Raquel Cumerlato

Foto: acervo pessoal

Danyelle Claro Lima, nascida em Palmas - Tocantins no


dia 27 de dezembro de 1997, é uma pessoa reservada que
prefere "ouvir muito e falar pouco". Mas apesar disso, ela
adora conhecer gente nova, e quando se conquista a sua
amizade, tenha certeza de que será muito bem valorizada.
Para ela, temos um pouco de tudo ao mesmo tempo dentro
de nós, fazendo nossa personalidade ter um aspecto fluído,
assim, resumir uma pessoa a apenas uma característica ou
palavra seria um equívoco.

Dany, apelido pelo qual geralmente se apresenta, tem


um grande amor pela natureza, tão forte que a faz se sentir
estranha na cidade. Seus fins de semana são gastos em
71
uma bela chácara fora do perímetro urbano, onde ela
frequenta um centro ecléctico universalista. Seu amor pela
natureza se estende também aos animais, em especial
gatos. Em sua casa podem ser encontrados três felinos, as
vezes quatro. Ademais, se importa com as causas
ambientais e espera usar do jornalismo para trabalhar em
prol do meio ambiente e sociedades subalternas, dando
visibilidade aqueles que mais precisam.

Dany é uma pessoa leal, sincera, carinhosa, com senso


de humor e relativamente calma. Ela tem uma dieta
pescetariana; na qual exclui a carne, com exceção de peixes
e frutos do mar. Isso, no entanto, não diminui sua paixão
por comida, quem a conhece sabe que para vê-la feliz,
basta alimenta-la.

Hoje em dia pode-se encontrar Dany fora da cidade, em


contato com a natureza, buscando evolução espiritual, ou
então em sua casa, maratonando alguma série.

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" A confiança em si mesmo é o
primeiro passo para o sucesso"
Por Karolliny Neres

Foto: acervo pessoal

Isabella Flávia Maciel da Silva, é natural de Bom Jesus


da Lapa - Bahia, mas foi criada desde a infância em Brasília.
Sua personalidade é de uma pessoa observadora,
perfeccionista e detalhista. Possui a si mesma como
fortaleza, e toma a confiança como aliada, no entanto parte
de sua personalidade forte se esconde atrás da timidez e
simpatia.

Dona de hobbies diversificados como fotografia,


culinária e interpretação musical, ela é fluente em libras
(língua brasileira de sinais) e gerencia um perfil no
Instagram com vídeos educativos para ensinar e facilitar a
comunicação com pessoas surdas.

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Como uma boa baiana, no seu sangue não podia faltar
o axé, Isabella possui um estilo ousado e esportivo. Seu
gosto musical é bem eclético, vai do Rap Ao internacional
com facilidade.

Seu defeito mais visível é a timidez exagerada que a faz


perder oportunidades e espaço para se posicionar. E sua
maior qualidade é a capacidade de empatia e o profundo
desejo de fazer com que a comunidade surda tenha
visibilidade de forma expressiva na sociedade.

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Uma boa amiga e altruísta
nas horas vagas
Por: Thiago Feitosa

Foto: acervo pessoal

Kamilla Fidel Glória nasceu na cidade de Pedro Afonso,


no estado do Tocantins, em 20 de outubro de 2001. Na
época em que um dos seus gêneros favoritos de música, o
rock, estava se popularizando através dos canais musicais
de televisão, como MTV e Multishow.

Filha da Maria Aparecida e do Júlio, sofre com a


separação dos pais, que ocorreu em meados de 2011.
Segundo Kamilla, seu pai não assumiu (e continua não
assumindo) a paternidade, pois não fazia parte do seu
caráter ajudar financeiramente, ou por outras formas, a
sua única filha que ainda o defendia.

Com 1,64m de altura, tem-se mostrado ser uma boa


amiga, humilde e engraçada; não deixando de citar:
impaciente, ansiosa e escandalosa. Além do rock, também
73
também gosta de ouvir MPB e diversos cantores e bandas
como Lana Del Rey, System of a Down e Zé Ramalho. Em
outra categoria de arte, conhecida como cinema, cito seus
três filmes favoritos: Divertidamente, Matilda e Os sem-
floresta.

Recentemente, a estudante de jornalismo da UFT, se


mudou para Palmas e mora atualmente com seu
namorado. Mesmo com a sua preocupação com a
faculdade, o fato de não estar trabalhando e seu medo de
não alcançar um bom futuro; é visto que segue otimista e
confiante de que a sua situação melhore e que seu desejo
de ter o próprio dinheiro para retribuir a ajuda da sua
mãe, o seu sonho de se formar, ter a própria casa e um
belo casamento, sejam realizados.

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"Vê no jornalismo uma oportunidade de
praticar o que ama, a investigação"
Por Thalia Macedo da Luz

Foto: acervo pessoal

Em um mundo tão volátil e com tantas informações é


impossível não surgir dúvidas, mas nem sempre as dúvidas
são sanadas no momento que precisamos das repostas.
Deste modo, será apresentado a vós, um pouco da história
da jovem de 20 anos que reside em Palmas e cursa
jornalismo.

Moradora da Aureny 3, Ravyanne era uma criança


imperativa que gostava de brincar e ignorar coisas
supérfluas, além de ter apoio e apreço dos pais. No
entanto, a adolescência trouxe mudanças para sua vida, o
que culminou em desequilíbrio emocional. O motivo que a
levou a esse estado foi a crise existencial, segundo a jovem,
as pessoas eram cruéis e ela não se encaixava no mundo. A
família Souza não compreendia o que estava acontecendo,

73
“seria falta de Deus?!”, mas independentemente do que
acontecia no mundo de Ravyanne, sua mãe manteve o
apoio e cuidado. Mais de 3 anos de terapia para resolver o
conflito interno que afetava sua autoestima. De acordo
com a mesma, o processo terapêutico foi negligenciado, e
por isso não demostrou ser tão eficiente.

Na busca de se encontrar, a jovem continua


experimentando novas oportunidades e pouco a pouco
está obtendo respostas. A senhora Pequeno, seu
sobrenome, reconhece que a tristeza vicia, mas também
entende que possui muitas vocações e vê no jornalismo
uma oportunidade de praticar o que ama, a investigação.

Contudo, ela é muito mais que um histórico, e demostra


isso no olhar e nas colocações, seja Ravyanne, Pequeno ou
Souza, ela é a Paula uma jovem que gosta de filme,
cinema, aprecia música indie, curte uma cerveja e
strogonoff. Mulher do sorriso largo seu nome é Paula
Ravyanne Pequeno de Souza.

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“Desejo encontrar alguém que, não me
complete, mas que esteja junto a mim”
Por Kamila Fidel Glória

Foto: acervo pessoal

Thiago Martins Feitosa nasceu no dia 15 de agosto de


2001 na cidade de Palmas-TO. Com seus cabelos pretos
cacheados e pele parda, é o terceiro filho do casal Antonio e
Rosilene. Quando tinha onze anos de idade, seus pais se
separaram, e hoje ele tem uma irmã mais nova por parte de
pai. Thiago é uma pessoa calma, paciente, muito educado,
organizado e inteligente. Sua cor preferida é o azul e seu
estilo musical é o rock; ele gosta de animais, como gatos e
cachorros, e o esporte que ele mais curte é o basquete.

Thiago gosta de jogar jogos eletrônicos e de comer


hambúrguer não industrializados, curte ler e o seu livro
preferido é “O mundo de Sofia” de Jostein Gaarder; também
tem medo de animais peçonhentos, como cobras e baratas.
Ele não tem uma profissão dos sonhos específica, mas
almeja alguma que ele goste, em que se sinta bem; e seu
maior desejo é encontrar alguém que o entenda, ou ouça,
não que o complete, mas que esteja junto a ele.

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