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Trabalho de História.

Aluna: Mariana Nepomuceno

Turma: 3BTEL

Minha família é majoritariamente formada por pessoas negras e


descendentes de indígenas e, por isso, os desafios socioeconômicos encarados
por eles foram bem parecidos. Entretanto, pelo fato de os entrevistados serem
de épocas distintas, suas visões de mundo são completamente diferentes. O
Jair, meu pai, por exemplo, é filho de um operário e de uma dona de casa, e
apesar de ter tido uma infância pobre, não passou por grandes dificuldades
financeiras. Já a Andrea, minha madrasta, filha de ambulantes e com pai
sambista, teve uma infância muito difícil no morro da Providência, onde ficou até
sua adolescência.

Ambos se tornaram professores formados pela UERJ e entendem o


estudo árduo como melhor forma de ascender socioeconomicamente. Minha
irmã mais velha, Naomi, consegue conciliar sua juventude com a
responsabilidade de sua profissão. Concluindo seus estudos de Letras na UFRJ,
- seguindo o caminho da licenciatura como grande parte de nossa família - ela
pratica exercícios físicos regularmente e mantém uma dieta saudável, condições
essas dissemelhantes a de nosso pai na idade dela.

Isso mostra que, apesar de todas as barreiras, minha família foi capaz de
se estruturar como uma família de educadores capazes de fornecer uma melhor
condição de vida para os mais jovens. Oriundo da Baixada Fluminense e pai de
4 filhos biológicos, Jair consegue ver sua prole buscando lugares melhores para
viver e trabalhar. Do mesmo modo em que Andrea, por meio do estudo e
trabalho, possibilita seus pais e filhas a terem bons planos de saúde e educação.

E consequentemente, tanto eu quanto minha irmã aprendemos a ver o


conhecimento acadêmico como uma das formas de ascensão vital.
Compreendemos que este talvez seja o caminho mais oportuno para pessoas
como nós que, sem talento para a arte ou para trabalhos manuais, tem
habilidades científicas muito afloradas. Porém, compreendemos que é um
caminho árduo no Brasil, e que o retorno financeiro nem sempre é proporcional
ao trabalho exercido. E sendo sincera, ao vir de uma família de professores, ir
ao encontro da Academia é muito mais fácil.

Portanto, acredito que as relações de trabalho e moradia na minha família


se construíram em volta de muita cultura, sapiência e samba. Os laços com a
ciências foram se estreitando cada vez mais e, no fim, nos tornamos uma bolha
de educadores periféricos, que se tornaram professores com o intuito de tornar
o país melhor, e se aposentam cansados, imaginando seus filhos em vidas
melhores que a levadas por eles.

Para além de posicionamento político, acreditamos em valores. Apesar da


família de meu pai não se posicionar politicamente com frequência, ele esteve
presente em diversos movimentos negros durante a ditadura militar. Porém,
tenho para mim que meus avós paternos acabaram se posicionamento
politicamente por meio dos seus gostos musicais e gastronômicos, e pela
maneira que criaram dois filhos na década de 60. Uma opinião bem mais
minuciosa que a de Jair, mas nunca totalmente silenciosa.

Meu pai e seu irmão foram criados de forma com que aprendessem fazer
todas as tarefas domésticas, muito diferente da criação da maior parte dos
homens brasileiros. Esse fato influencia nosso dia a dia familiar até hoje, visto
que eu cresci de forma completamente diferente, e tenho asno a tarefas
domésticas. Retomando ao que foi dito, creio que isso diz muito sobre a visão
de mundo dos meus avós paternos.

Já a minha madrasta cresceu em uma família conservadora. Apesar de


ser compositor do Salgueiro e morador de comunidade, seu pai, Tiãozinho do
Salgueiro, acredita que a ditadura militar tenha sido o melhor período político
brasileiro. Sua mãe, por outro lado, não acredita na importância da política e nem
que ela afete sua vida de alguma forma. Além disso, no período de
redemocratização, Tiãozinho foi eleitor de Collor e, mais recentemente, de
Bolsonaro.

A maior reviravolta é que a Andrea é um ponto fora da curva comparada


a sua família. Apanha muito de seu pai por não aceitar injustiças, e sempre
acreditou que a melhor saída fossem as políticas públicas de base. Ela entendeu
que teve uma infância muito difícil e que não precisava ser assim, e por isso, era
constantemente chamada de “anarquista” e estudou muito para entender a
situação em que vivera.

Por outro lado, a família da minha irmã se posicionou concisamente contra


a ditadura militar, entendendo que aquele período foi extremamente ameaçador
a vida negras. Além disso, sua avó se colocou a favor do governo Vargas e foi
eleitora do Lula, assim como sua mãe e tios.

Naomi, assim como eu, foi criada na Baixada Fluminense com


muito esforço vindo de mulheres negras. Hoje, que somos ambas maiores de
idade, vemos a importância de lutar pela vida dessas pessoas e pela sua
visibilidade. Acreditamos que nosso papel, enquanto jovens, é honrar o caminho
trilhada por nossos ancestrais para que fossemos capazes de ocupar os
espaços. Além dela possuo outros irmãos, todos filhos de meu pai, que construiu
relações diferentes da tradicional família brasileira, mas que resultaram em muita
fraternidade e apoio.

E com isso, definitivamente, acredito que minha família é de esquerda,


devido a todas as suas conclusões sobre a sociedade e sobre a forma que
deveríamos lutar pelo que acreditamos.

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