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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

Disciplina: História da Educação

2º semestre de 2020

Discente: Rubens Pinto dos Santos Filho 05 / 07 / 2021

Docente: Profº Dr. Fábio Alves

Disciplina: História da Educação

1. Passado e Presente: reconstruir, refletir e analisar minha


história da Educação a partir da memória.

A partir do tema apresentado proponho rememorar e (res)sentir a minha história


como processo, o qual não partira de um princípio genealógico. Bem como, não terá como
objetivo ser uma construção conclusiva e sim uma perspectiva, um ponto de vista, uma
inclinação. Elencando três instituições sociais como parte deste processo, Família, Escola,
e a Igreja. Como aquele que se propõe a percorrer novos caminhos em busca de si, refletir
a questão, discutir o fato pessoal histórico sobre a transição do ensino médio para o ensino
superior. Assim, essa reflexão foi ancorada a partir de Paul Ricoeur.
Para falar sem rodeios, não temos nada melhor que a memória para
significar que algo aconteceu, ocorreu, se passou antes que
declarássemos nos lembrar dela. (Ricoeur, 2007, p.40)
A estrutura do texto será por tópicos. No entanto, escrevendo a partir do cotidiano.
Pois, eles ocorrem de forma simultânea e também pensando esse tipo de estrutura como
forma de organização mental. Será escrito o meu próprio processo educacional, não
apenas limitando-se a escola. Ao ponto que escrevo, farei uso de imagens como referência
visual e para uma clara compreensão e o entendimento sobre o traçado que desejo
percorrer neste texto.
Construirei a escrita e estabelecerei conexões, ocorridas no passado e reverberam
no presente. Pensar a partir memória para dar significado e reconstruir questões que vivo
no hoje.

2. A cidade onde nasci e cresci


. Chamada Maruim, localizada em Sergipe. Segundo alguns historiadores, Sergipe
nasceu em Maruim. Recentemente, a bióloga e historiadora Maria Lúcia Marques Cruz e
Silva, filha de Maruim, expôs achados históricos do município. São milhares de peças e
documentos que revelam o apogeu e a decadência do Empório de Sergipe. Parte da minha
história é nesta pequena cidade, onde eu nasci e aqui deu-se inicio meu processo
educacional.

Imagem: Cidade Maruim - Sergipe

Fonte: Facebook Maruim em Pauta

3. ruas: minha rua, meu espaço


A rua onde morei, caminhei, cresci e parte da educação foi construída. Foi nela que
reconheci as formas de pedras, o formato mosaico e até hoje não se permite ser chamada
asfalto.
Ela foi chamada rua da cancela, a que abria a cidade quando ainda era rural. Passou
a ser General Siqueira, em homenagem ao general-de-exército brasileiro, ex-ministro-
chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. No entanto,
foram colocadas na rua pedras irregulares, que hoje faz parte do patrimônio histórico da
cidade. Então, a rua passa a ser chama rua das pedras e hoje como principal referência
para chegar a ela.
Escrevo sobre a ruas das pedras olhando para elas, consigo sentir a partir da memória
visual as afetividades do meu tracejar neste lugar. A casa da minha avó, os meus amigos
de infância que tanto brincávamos na rua. As pessoas que fizeram suas passagens e as
que caminham diariamente. Sempre foi uma rua alegre, silenciosa e tem um marco
especifico que é a elegância que há em si e nos moradores. Algumas casas modificaram-
se, outras pessoas passaram a fazer parte das particularidades e pessoas com novos hábitos
e formas de vida chegaram, trazendo consigo a diferença e outras belezas.
As irregularidades da rua das pedras, aparece também com as irregularidades que há na
vida. Pedras fora do lugar, cores diferentes e sem tem que ser um fácil caminhar.

Imagem: Rua das Pedras

Fonte: Facebook Maruim em Pauta

4. A casa: minha casa e minha antiga casa


Nem o primogênito, nem o caçula, o do meio. Pai, Mãe e seis irmãos. Aqui tratarei
da minha formação educacional em casa. Meu pai sempre teve seu micronegócio e minha
mãe dona de casa, ambos não puderam concluir os estudos.
A Educação em casa era formada por uma educação religiosa e uma perspectiva
ideológica judaica cristã neopentencostal. Crescer por essa formação, não foi um processo
fácil, quando penso sobre minha sexualidade. Com a culpa acima das minhas ações foi
torturador. Fui colocado em lugares não agradáveis, o do cabelo ruim, o “João sujo”
apelido dado por meus irmãos porque sempre chegava da rua sujo, ou mesmo o “João
pobre” por nunca ter o que pudesse ser meu e sim ganhar do outro..
Parece que crescer não foi fácil, porque deus, cristo e a religião sempre esteve
acima de tudo, ou dentro de casa. Meus pais sempre estiveram mais preocupados que eu
fosse para igreja, pois, era nela seria tirado o espirito da homossexualidade presente em
mim, desde o ventre da minha mãe.
Uma educação humilde, pensando numa sociedade que massifica e impossibilita
o pobre. Com a pouca presença da família e confrontando-se com o sentimento de
abandono.
Não podia ter amizade com mulheres, nem com amigxs gays e lésbicas. A
formação politica deveria ser extinta, pois, acreditava-se na possibilidade de uma doutrina
apolítica. E falar sobre meus sentimentos, meus anseios tornou-se silencio e o silencio
quase me matou.

Imagem: minha casa

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Fonte: Rubens Pinto
5. A Igreja: docilize e retire seus demônios
Nasci e cresci numa família judaica cristã pentecostal, sendo parte do meu
processo educacional. A igreja foi uma das instituições mais opressoras nesse processo.
Pensar sobre minha sexualidade, com a culpa acima de tudo e crescer imaginando ser
cheio de espíritos.
Foi de forma opressora que tentava entender o que desviava do meu corpo, algo
que mexia e não optou por silenciar como minha família.
Ir à igreja todas às terças, quintas e domingos (tarde e noite) sempre foi
desconfortante. Porque já fazia parte do meu inconsciente me libertar e não fazer parte
daquele universo, qual não entendia o por que não parecia com nenhum deles.
Fazer tudo que faziam, silenciar, distanciar-se do universo a fora, ser “homem de
Deus”, curvar-se diante de um deus branco e heteronormativo, cantar e clamar por ele,
era esse o tipo de educação proposta.
Era doloroso, pois, não queria ir para o “inferno”. Mas meu corpo, meu ser
desviou, tornou-se desviante e foi importante desconstruir e conhecer outras
subjetividades.

Imagem: Igreja

Fonte: Rubens Pinto


6. Escola: linha de fuga ou mais um processo de abandono
Pensar minha formação como processo escolar, é fazer contato com o lugar que
não era a igreja e nem a minha casa. No entanto, mais uma instituição. Não farei aqui
uma anamnese de todo educação básica (escola). Irei pontuar o momento mais próximo
do fim de um ciclo, inicio de outro e essa transição.
Na escola também houveram sempre os conflitos com a sexualidade, as piadas
feitas ao meu comportamento mais afeminado e também conflitos entre a família, a
igreja e a escola.
Aqui escrevo como foi meu ensino médio, numa corrida para chegar a ele e sair dele
também. Estigmatizado por ter reprovado duas vezes, queria o mais rápido possível
passar por ele. Sem nenhuma dimensão do universo que estava por vir, o que seria
educação superior e os monstros que viria a enfrentar sem a devida formação, a qual
toda periferia é subjulgada.
Aqui faço uma critica ao pragmatismo do ensino em série, qual levou-me ao ensino
superior privado, optando por pagar com o dinheiro que pouco tinha. Porque sempre me
foi falado na escola que, a universidade pública não tinha qualidade e era cheia de
defeitos. Com a igreja e família salientando que, na universidade as pessoas mudam,
que as pessoas só vão para fazer uso de drogas ilícitas e sexo.
Ao adentrar na instituição privada, me confrontei com os problemas de ensino, o pouco
comprometimento institucional para alguém que teve uma educação básica precária e
falta de solidariedade.

Imagem: Colégio Estadual Felipe Tiago Gomes

Fonte: Rubens Pinto


Relembrar, refletir e escrever todo o meu processo educacional não foi fácil. No entanto,
foi importante perceber o amadurecimento e perceber que hoje construo uma educação
mais saudável. Hoje, pude perceber o quão massacrante e opressor foi. Analisar essas
instituições como paredes e concretos, que não diferenciam-se umas das outras,
especificamente falando sobre meu processo educacional.

7. Referência
RICOEUR, P. A memória, a história, o esquecimento. (A. François, Trad.). Campinas: Ed. Unicamp,
2008.

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