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IDENTIDADE E PODER

BACHARELADO EM HUMANIDADES

DOCENTE: Janaina Lobo

DISCENTE: Samuel dos Santos Cruz Fidélis

Memorial e os Aspectos Identitários

Acarape - CE

2023
Introdução

A oportunidade de relembrar momentos, me fez brilhar os olhos, refletir sobre toda minha
trajetória escolar e acadêmica, porém esta não possui muito tempo, mas que já faz parte de mim.

Este memorial busca identificar aspectos de identidade durante meu percurso escolar em
específico. Essas experiências foram analisadas de acordo com minha compreensão atual.

A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas pode ser vívida
olhando-se para frente (KIERKEGAARD, 2001)

Para entender como cheguei até aqui, os porquês estar dessa forma, detalhei minha vida escolar,
e um pouco de minha história de vida. Busquei nas minúcias os pontos que me fizeram fazer as
escolhas, mas visando principalmente as construções identitárias.

Poderão compreender um pouco da minha personalidade, quem já fui, de que forma aconteceu
determinadas situações, mas que elas me ajudaram a me formar como aluno e pessoa nesses
longos anos.

Experiências

Sou o irmão do meio de quatro filhos, isso não faz sentido, porém me vejo dessa forma, tenho
duas irmãs mais velhas e um irmão mais novo. Estou com minha mãe desde sempre, meu pai
nos deixou quando eu estava na barriga dela, nasci na cidade de Baturité, CE, mas minha mãe
não morava lá. Nós morávamos em Fortaleza, capital do estado, e então depois de alguns anos
nos mudamos para Aratuba, uma cidade do interior, a Aldeia dos Kanindé, povo indígena que
havia a pouco tempo iniciado seu processo, “levantamento” como eles denominam, para serem
identificados como povo. Além dos indígenas, Aratuba é terra de minha vó, que nesse período
ainda estava com meu avô, que veio a falecer anos depois.

Minha mãe independente de qualquer coisa, me incentivava a estudar, pois foi algo que ela não
conseguiu acessar, porque começou a trabalhar muito nova, aos doze anos, em casas de famílias,
fazendo limpeza. Mesmo com todas as dificuldades, estar longe de casa, em outra cidade, com
pessoas desconhecidas, trabalhando arduamente, ela nunca desistiu, e acredito que o motivo
dela nunca parar de batalhar, seja porque tudo que ela fez era porque gostava, e o que me veio
de aprendizado com isso foi, por mais que não nos agrade fazer determinadas ações, devemos
executar com maestria.

Vida Escolar
Comecei minha vida escolar em uma creche da aldeia, que era um lugar para as crianças
brincarem enquanto as mães e pais trabalhavam. Na comunidade estão localizadas duas escolas,
uma não indígena, a conhecida como “rural" ou “de cima", porque a aldeia está localizada em
uma montanha, e geograficamente essa escola fica acima da outra, porém a “rural” nunca foi
minha preferência, queria ir para a indígena, pois no fundo eu sabia das minhas origens, e do
que eu era.

Após alcançar a idade necessária para ingressar na escola, fiz o que queria, fui para a indígena.
Minha maior dificuldade nesse período foi a interação social, por ser muito magro, não falava
com frequência, sofria bastante bullying, porém não tinha conhecimento dessa palavra e sua
definição, e me via sempre como o errado. Minha forma de interação era levar brinquedos, para
que os colegas viessem até mim, e assim fui criando vínculos

No quinto ano escolar, o qual é anterior a ir para o período da tarde, foi uma das minhas maiores
preocupações, pois a juventude estava chegando, e a minha aparência me deixava ansioso e
inseguro.

De certa forma, ser alguém que não falava bastante me deu uma vantagem sobre os colegas,
eu estava mais focado nos conteúdos, atividades, e a partir do sexto ano escolar, minhas
estratégias de interação mudaram, acabei me tornando o centro das atenções, pois sempre tinha
conhecimento das respostas, e os colegas vinham falar comigo, comecei a criar vínculos, me
tornando mais interativo, pois falava com todos, e a confiança se tornou parte de mim.

Tempo Comunidade

O projeto acontecia todos os meses do período escolar, durante uma semana, e reunia todas as
séries, desde o fundamental ao os últimos anos do ensino médio. Seu funcionamento ocorria
desta forma, na segunda-feira, os professores organizavam os alunos, de todas as turmas no
auditório, e então se delimitava o tema a ser trabalhado, e os discentes recebiam uma numeração
que correspondia a uma “turma", essa chamada “turma" reunia alunos de várias idades, porém
cada turma deveria ter alunos de todas as séries, após feita a divisão, era dito quem seriam os
professores responsáveis por cada turma, geralmente eram dois por exemplo: A professora de
espanhol, e o professor de matemática, após isso nós alunos nos direcionávamos as salas
correspondentes, adendo que as matérias lecionadas pelos professores não entravam no
contexto dessa semana, apenas a sua temática era comum.
Então durante toda a semana, alunos e professores, planejavam e ensaiavam o que seria
apresentado na sexta-feira, como por exemplo: Danças, poesias, peças teatrais, seminários. Um
dos pontos mais importantes dessa atividade, era a questão da interação entre turmas, o
aprendizado coletivo, algo que se faz necessário, que em muitos momentos tornavam o aluno
professor e vice versa.

Portanto, fiz a análise de que esta atividade, por ser uma aplicação de conhecimentos locais em
quase todas suas edições, ou seja, a cultura, tradições do povo estavam presentes, incentivando
os alunos a conhecerem o que é ser indígena, formando pessoas, e por muitas vezes mudar o
papel de aluno para professor, construía alunos preparados para os conhecimentos escolares e
para a vida.

Considerações Finais

Este memorial demonstra como me apresentei, e pude me comportar na minha vida escolar ao
longo dos 12 anos. No decorrer deste meu trajeto pude exercer as funções que estavam ao meu
alcance, todas as atividades que fiz me ajudaram na formação como estudante e pessoa.

Agradeço a cada um que esteve comigo nessa jornada, meus colegas que vários estiveram
comigo desde o “pré”, agradeço aos professores que sempre me incentivaram a dar o melhor de
mim, mesmo quando percebiam que estava mal ou triste por problemas pessoais.

Minha aldeia foi minha base, eu fiz a escolha certa quando quis ir para a escola indígena, hoje
eu ser Kanindé, conseguir me auto identificar é porque tudo a minha volta me motivava e
incentivava, a luta não acabou e está longe de terminar.

Considero o projeto:

• Tempo Comunidade

Este foi um dos principais pontos da minha formação como estudante, pessoa e além disso
como militante do meu povo, conhecer a cultura, história, os saberes do meu lugar foram
essenciais.

A escolha do BHU como o curso a ser seguido foi por via da influência do meu povo, identificar
que, com esta formação poderia ajudar na nossa luta, ter a oportunidade de contribuir na
formação de novas lideranças, professores, médicos, me fez brilhar os olhos.
Por fim, agradeço a professora Janaina, por solicitar que fizéssemos este memorial, pois me fez
relembrar situações que foram essenciais na minha formação, os porquês de chegar da forma
que estou.
Referência

KIERKEGAARD, Sören. O desespero humano. São Paulo: Martin Clareet, 2001

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