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Avaliação III (4 pontos)

Parte I

Leia com atenção o exemplar de relato autobiográfico1 a seguir, extraído do Museu da Pessoa
(museudapessoa.org), bem como o quadro-síntese para a análise linguística proposta para esse
gênero. Em seguida, na parte II, realize o que se pede em termos de didatização de atividades
de análise linguística pertinentes à reescrita desse gênero por aprendizes de 3º ano de Ensino
Médio noturno de uma escola pública do RS.

a. Exemplar de relato autobiográfico extraído do Museu da Pessoa:

História

Depois de crescer e entrar no maravilhoso campo do ensino, comecei a querer entender


o que me motivou a me tornar professora. Além disso, o que me fez perceber quem eu sou
hoje? O encontro com o espaço da Educação abriu uma possibilidade real para mim de olhar
para uma viagem no passado e reconstruir minha trajetória para tentar dar sentido à minha
formação. Não estava preparada para ser professora, mas algo dentro de mim me impulsionou
a entrar nessa área e, assim que surgiu a oportunidade, aproveitei com força. No entanto,
entendo que os fundamentos científicos e metodológicos da Pedagogia e da Educação eram
lacunas para mim. Se me sentia uma pedagoga, o que me tornava assim?
Conhecendo melhor o campo da pesquisa educacional, me deparei com uma
abordagem nova: o método autobiográfico. Nessa perspectiva, vejo a oportunidade de poder, a
partir da minha experiência, compreender a minha formação e, melhor ainda, fazer com que
outros reconheçam a sua história na minha história. Não estudei para ser professora, mas
queria muito ser professora e hoje sou graduanda em Pedagogia. Quantas pessoas
compartilhariam os mesmos sentimentos? Decidi escrever sobre meu histórico de formação e
fazer uma hipótese sobre mim. “Eu instituí provisoriamente uma figura de mim e a submeti a
avaliação da minha experiência” (DELORY-MOMBERGER, 2006).
Escrever minha experiência escolar e seu ambiente, referenciando as pessoas, grupos e
eventos em minha trajetória, é o que me propus a fazer neste texto. Para isso, eu procurei traçar
uma linha do tempo na história da minha vida, que tem seu eixo na formação escolar, da
educação infantil ao ensino médio e, por fim, o ensino superior. No entanto, não posso
construir uma história para mim com essas palavras sem ser capaz de mergulhar no contexto
familiar e social que incorporei à minha história. Devo documentar, aqui, como a prática da
autobiografia foi maravilhosa para mim e, ao mesmo tempo assustador, tantas emoções e
seleções do que “EU” posso mostrar para outros.
Tentei trabalhar com um material narrativo feito de memórias que são consideradas
experiências significativas durante minha educação e o legado que a escola me deixou. Quando
opto por falar sobre o que considero ser experiências formativas durante minha vida de
estudante, estou falando sobre mim mesma e sobre o mundo que vi. Somente identificando
essas experiências, posso entender como a dinâmica de formação, conhecimento e
aprendizagem fazem essa inter-relação entre meu passado, presente e futuro.

EU NO MUNDO

Nasci no dia 16 de outubro de 1996 na cidade de Rolim de Moura, estado de Rondônia,


Brasil. No dia de meu nascimento, tive o primeiro contato com meus pais adotivos, Antônio
H. Miranda e Irene Miranda, um casal que já havia criado quatro filhos, com o crescimento dos

1
Em linhas gerais, “[o] gênero escolhido trata de uma narrativa pessoal em que o autor conta a própria vida de
maneira retrospectiva, retomando momentos essenciais que constituem sua trajetória e dando destaque a
acontecimentos do passado e do presente” (PEREIRA, 2021, p. 65).

1
seus, Irene, minha mãe, se sentiu solitária e optou por adotar uma criança. Os dias foram se
passando, e logo se tornaram meses, e eu, aquela menina com alguns problemas de saúde, foi
crescendo, logo me tornei muito amada, até por quem não apoiava muito a adoção... Andei e
falei com nove meses, aos cinco anos atravessava a cidade de bicicleta para comprar coisas no
mercado para minha mãe. Morávamos no lugar mais lindo do mundo, minha casa, minha
terra. Morávamos em uma chácara de 2 alqueires, tínhamos muitas arvores plantadas, muitas
frutas, um rio que passava na fundiária da chácara, Rio Anta, algumas vacas, alguns bezerros,
um em específico ao qual eu era muito agarrada, Cherin, um cachorro, Réx, e um gato,
Michelin.

EU NA ESCOLA

Essa menina é diferente! Eles diziam. Ela será nossa “Menina de Ouro”. Cresci
ouvindo isso e, dentro de mim, aos poucos se desenvolveu um alto nível de cobrança! Tenho
que ser a melhor.
Tenho que ter as melhores notas e, se possível, ser a primeira da
classe. Eu falava isso constantemente para mim mesma.
Quando eu tinha 5 anos, entrei na minha primeira escola (Pré I). Não me lembro muito
daquela Primeira Escola, a não ser dos uniformes azuis e do caminho íngreme que
escalávamos para chegar lá. Estudava no turno matutino, lembro-me muito bem, porque todos
os dias acordava cedo, banhava, escovava os dentes e, antes que meu pai saísse para trabalhar,
vendendo pasteis, garapa e sucos, ele me dava uma coxinha e um enroladinho, que, na época,
eram meus pasteis preferidos! Até hoje não encontrei “PASTEL” mais gostoso que o de meu
pai.
Aos 6 anos me mudei de escola, a nova escola se chamava: Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Maria do Carmo de Oliveira Rabelo, estudei lá do 1º ao 4º ano, sem
muitos detalhes, recordo-me de uma sala da qual eu fazia parte, eu era muito falante, e sempre
queria responder as perguntas e fazê-las. Brincar era muito bom. Eu me divertia muito, apesar
dos poucos amigos, nessa época eu vivia chegando chateada em casa, os colegas “Jogavam na
minha cara, que eu não era filha de sangue dos meus pais”, era sempre um bafafá, uma revolta.
Na época, eu estava aprendendo a escrever, e me lembro especialmente de uma
conquista da qual me orgulho muito: consegui escrever semelhante às letras cursivas dos livros
de caligrafia que eu tanto fazia! Eu estava em casa e a primeira pessoa que mostrei foi para a
minha mãe. Ela ficou muito animada. Mas sempre tinha a seguinte fala: Vamos melhorar essa
letra?
Sem muitos detalhes recordo-me de como foi aprender a ler, foi um tanto difícil, eu
tinha uma dificuldade enorme com as letras P e B, eu sempre trocava elas, Irene, minha mãe,
apesar de ter estudado só até a quarta série, tinha o prazer de me ensinar a ler todos os dias
depois da aula, em casa, todo dia de manhã eu estudava na escola, e todos os dias na parte da
tarde com minha mãe, lembro-me até do método que ela utilizava, P com A, PA, T com O, TO,
o que está escrito Aline? Ela perguntava.
Meu pai sempre dizia: “Não quero que você tenha o mesmo futuro que eu”, “estude pra
não encarar um trabalho braçal”. Mesmo com toda dificuldade, foram os melhores anos da
minha vida, nossa geladeira era farta, meu pai nunca deixou faltar, lembro do carinho e
empenho em sempre me deixar muito arrumada, lembro do amor que minha mãe tinha em
preparar minha lancheira; outra memoria muito rica, é a moto de meu pai, ele tinha uma CG,
seu escapamento fazia um barulho que dava para escutar a quilômetros.
Meu pai era muito criativo, ele conseguiu fazer uma espécie de adaptação em sua
moto, de alguma maneira ele arranjou um caixote na parte de trás da moto, para que, assim,
ele colocasse as caixas térmicas com os salgados e sucos em cima da moto. Lembro-me, com
um largo sorriso, das muitas vezes em que ele me carregou dentro desse caixote, quando
pequena eu amava a aventura, mas confesso que, do 3º ao 5º ano, pedia pra ele me deixar uma
esquina antes da escola, pois todo mundo me chamava de: “a menina do caixote”, e meu pai,
muito amoroso, me deixava em frente à escola, nunca uma rua antes, lembro do sermão cheio
de sabedoria, hoje sou o que sou por conta desses momentos e da educação que tive desde
berço.

2
Na terceira série, eu tive uma professora de quem me recordo muito bem, Bia, foi uma
das piores professoras que já tive, escrevíamos textos, muitos textos, textos estes que eram
transcritos do livro para o caderno. Em um determinado dia mostrei minha escrita para ela, foi
horrível, ela fez um X enorme e vermelho no meu caderno, disse que minha letra era pior do
que a de medico, não me lembro muito bem o motivo, mas sei que cheguei em casa com a
orelha ardendo, ela havia torcido. Minha mãe no outro dia, foi me defender, eu agradeço
muito por essa experiência não ter acabado com o meu gosto pela escrita.
Aos 9 anos, meus pais decidiram vender a chácara em que morávamos e o pouco de
vacas que ali tínhamos, e nos mudamos para a cidade de Ariquemes, passei a estudar na
EEEFM Francisco Alves Mendes Filho, cursei do 5º ao 8º nessa escola.
Aos 10 anos, lembro-me especialmente de uma conquista da qual me orgulho muito:
fui Aluna Nota 10, na cidade de Ariquemes, no meio daquele ano. Guardo até hoje o
certificado “Aluno Nota 10” que recebi por ter me classificado como primeira colocada da
classe, e segunda colocada da escola toda. Essa honra fez minha mãe muito orgulhosa, pois
ela comentava com todos. Até a quinta série, minha mãe me acompanhou com frequência à
escola, participava de todas as reuniões, sempre buscava os Boletins, eu amava, pois sempre
era muito elogiada.
A rotina e a frequência ao ambiente escolar me cravaram algumas memórias. Eu quase
não faltava às aulas. Fecho os olhos e quase que escuto o barulho que fazíamos ao sermos
liberados para o recreio ou na saída. Essas recordações me emocionaram muito e me
trouxeram uma memória olfativa e gráfica dos lugares em que tantas vezes estive: a cantina, a
quadra de esportes, as salas de aula, os corredores, o banheiro, a fila. Ah, a fila... Ali acontecia
todo o ritual antes de adentrarmos a sala, ao qual obedecíamos.
Orávamos antes de entrar na sala de aula todos os dias o Pai Nosso, e cantávamos o
Hino Nacional. A coordenadora "puxava" as orações por meio de um microfone. As filas eram
classificadas por turmas, "menores na frente e maiores atrás", na frente de cada fila tínhamos o
professor de cada turma. Quando terminei o ensino fundamental, meu pai começou a adoecer,
então nos mudamos para Rio Branco-AC, meus irmãos já moravam há anos aqui, e tinham
uma pequena empresa na época, empresa que foi construída com a venda da chácara em que
morávamos em Rolim de Moura. Como o amor de pai e mãe são puros, são capazes de vender
tudo o que tem para investir nos sonhos dos filhos! A empresa cresceu, meus irmãos trabalham
muito bem e logo ficaram conhecidos, hoje meus pais têm casa própria, e todo domingo a casa
está cheia, filhos, noras e netos, para um almoço em família. [...] Aos 16 anos terminei o
Ensino Médio e, com a conclusão do Ensino Médio, me vieram muitas responsabilidades e
sonhos, sonho de me tornar autorrealizada em todos os aspectos da vida. [...]
Fonte: Miranda (2023). Disponível em: https://museudapessoa.org/historia-detalhe/?id=21969.
Acesso em 29 nov. 2023. Adaptado.

b. Quadro-síntese para a análise linguística:


Relato Autobiográfico
Contexto de Função social: narrativa individual de caráter real da vida do
produção/circulação autor. Situacionalidade:
Locutor: qualquer pessoa pode escrever um relato autobiográfico,
desde que esteja disposta a contar sua própria história.
Interlocutor: público em geral, ou público específico interessado
em conhecer a história de vida do outro.
Veículo de comunicação: a circulação do gênero pode ocorrer
por meio virtual ou impresso, como a publicação dos relatos em
espaços destinados a isso (ex: sites). No caso da autobiografia,
por tratar de uma narrativa maior, pode ser publicada em livros
impressos ou digitais.

Conteúdo temático Intencionalidade: Relato pessoal com foco na trajetória de vida;


apresentação de momentos marcantes; a construção narrativa
pode

3
ocorrer em torno de um foco específico (ex.: profissional). Temas
presentes na construção do relato: família, amizades, escola.
Organização do conteúdo temático: destaque das informações
presentes nos textos de referência; representações da vida pessoal
de cada um; seleção de momentos marcantes; sensibilização
sobre como construir o conteúdo apresentado no relato

Estrutura Presença de título; abertura do texto; desenvolvimento da


composicional narrativa apresentando os fatos selecionados para a construção
da trajetória pessoal; encerramento do texto.

Elementos Relativos à coerência textual


linguístico Conexão: organizadores textuais para articular a sequência do
textuais-discursivo texto (conjunções, advérbios, locuções adverbiais, marcadores
s temporais etc.);
Progressão temática: organização da narrativa, não
necessariamente em ordem cronológica, mas com fatos
ordenados em uma sequência lógica (relação de sentido entre as
partes do texto).
Relativos à coesão textual
Coesão nominal: discurso em primeira pessoa; presença de
pronomes pessoais e possessivos; referenciação: uso de recursos
linguísticos para a introdução e retomada de referentes
(referência a lugares, momentos, pessoas), característicos para
relatar o trajeto pessoal.
Coesão verbal: uso de recursos linguísticos para organização
temporal no texto; marcação da temporalidade por verbos
predominantemente do pretérito perfeito e imperfeito.

Fonte: Pereira (2021, adaptado).


Parte II

Leia com atenção o exemplar de relato autobiográfico (versão inicial) produzido por aprendiz
de 3º ano do Ensino Médio noturno transcrito a seguir.

Texto 1: produção inicial de Arthur2


Autobiografia
Me nomearam de Arthur, nome que dizem significar “protetor da família”. Mesmo com 17 anos,
quando nasci, em 2002, já carregava um peso de um adulto nas costas; com irmãos “perdidos no
mundo” eu era a ultima esperança de dar um filho bom. Cresci numa infância que faria qualquer
jovem perder a cabeça, a ponto de ter suas coisas na rua depois de confrontar o padrasto pra
defender a mãe, de com 12 anos, ter postura de 18 indo atrás de ajuda policial pra tirar um mal de
dentro de casa. Por mais que o dinheiro não fosse o problema, aprendi a ver que o mundo vai muito
mais além do que só estabilidade financeira. Ao menos vi que meu nome significa exatamente o
que sou. Minhas dificuldades me tornaram alguém que com certeza não tem só 17 anos. Com 16 saí
de casa da mamãe que dava tudo pra morar com o pai que trabalha tanto que é como se eu morasse
sozinho. Mais responsabilidades adquiridas, dificuldades sempre presentes entretanto com toda
pressão de ser um bom filho, de ir bem na escola, de passar no vestibular, de ser um bom
funcionário pra ser promovido, de tudo e mais um pouco, a vida me mostrou que tudo pode ser pior,
e nisso nem está só o lado financeiro.

Fonte: Pereira (2021, p. 85)

2
Nome fictício atribuído ao autor do texto.

4
a. Considerando os aspectos representativos do funcionamento linguístico-textual e
enunciativo do gênero relato autobiográfico, sugeridos na parte I, além de outros que
você pode incorporar ao quadro-síntese acima, aponte a/s necessidades de adequação
ao gênero e ao seu funcionamento detectadas na primeira versão das produções de
aprendizes do 3º. ano do Ensino Médio, tanto em nível frástico quanto textual. Para
tanto, produza uma resposta dissertativa, em que objetos de ensino (relativos à análise
linguística) sejam colocados em evidência, justificando a pertinência de sua
abordagem no ensino da produção escrita para o/a autor/a do texto apresentado acima.
Não se esqueça de relacionar tais objetos de ensino aos níveis de análise linguística
propostos por Bezerra e Reinaldo (2020), além de outras discussões ou leituras
realizadas ao longo de nossa disciplina.

Como proposto por Bezerra e Reinando (2020), o nível sequencial-composicional de


um gênero diz respeito às suas características estruturais, que geram a sequência do
texto. O gênero textual relato autobiográfico consiste na escrita de fatos da vida de
uma pessoa, narrados por ela mesma em 1ª pessoa no pretérito perfeito e imperfeito.
Para isso, é feito um título que especifique sobre quem é a autobiografia, uma
introdução que apresente a pessoa e o motivo dela escrever um relato autobiográfico e,
por fim, escolhe-se uma ordem de fatos pessoais que sejam importantes para uma
progressão temática considerando o prisma pelo qual a pessoa escolheu contar a
própria história: relação com estudos, trabalho, família, entre outros. É um gênero
pessoal e subjetivo, logo não requer um alto nível de formalidade, mas é um texto
escrito, o que exige o uso da norma padrão.

O texto do aluno Arthur certamente segue as principais características do relato


autobiográfico: são narrados fatos de sua vida em 1ª pessoa em relação,
especificamente, a sua vida familiar. A primeira dificuldade do aluno em relação ao
nível sequencial-composicional é a falta de informações que são importantes para a
composição do texto e que, gerando lacunas, dificultam a leitura e compreensão. Como
exemplo, o aluno coloca que era a última esperança de ser um bom filho, pois seus
irmãos são “perdidos no mundo”: não está claro se essa cobrança vem dos pais e,
também, não está claro como os irmãos estão “perdidos no mundo”, se são
irresponsáveis, se são muito mais velhos e se distanciaram da família, etc. Essas
informações são importantes para compreender a pressão posta no menino de ser o
adulto da família tão cedo. Outras situações em que a completude de informações faz
falta para a progressão do texto é a relação com o padrasto, porque brigaram e se ele foi
expulso de casa pelo padrasto, o motivo de ele ter ido para a casa do pai e quando ele
começou a trabalhar, se é por conta própria ou para ajudar alguém. Outra coisa a ser
considerada, ainda que não tão comprometedora, é o título que é simplesmente
“Autobiografia” - seria interessante, pelo menos, um pouco mais de especificidade
pensando que possíveis leitores precisam saber de quem é a autobiografia para que se
interessem em ler o texto.

Partindo para o nível semântico, a maior dificuldade a ser percebida é o uso muito
frequente da oralidade no texto. O aluno utiliza a contração “pra” diversas vezes e as
contrações “nisso” e “nem” juntas. Na frase: “[...] eu era a ultima esperança de dar um
filho bom.”, há a falta de acentuação na palavra “última”, ainda que isso seja
excepcional, e a expressão “dar um filho”, em que a utilização do verbo “dar” em vez
de “ser” também indica oralidade. Além disso, utiliza a locução verbal “indo atrás” que
é típica da oralidade e é diferente do tempo verbal utilizado na maior parte do texto,
que é o pretérito perfeito. Outra questão que exige atenção no texto é a organização dos
períodos, exemplos a serem observados são: “Mais responsabilidades adquiridas,
dificuldades sempre presentes, entretanto, com toda pressão de ser um bom filho [...]”
e “[...] depois de confrontar o padrasto pra defender a mãe, de, com 12 anos, ter
postura de 18 [...]”, em que as vírgulas em vermelho são estão presentes originalmente.
Na frase “Mesmo com 17 anos, quando nasci, em 2002, já carregava um peso de um
adulto nas costas [...]”, a parte em vermelho e a parte em rosa não fazem sentido
juntas, pois não se entende se ele carregava o peso de um adulto com 17 anos ou se
carregava já quando ele nasceu, em 2002. Por fim, existem casos de repetição de
palavras, como “Me nomearam de Arthur, nome que dizem significar “protetor da
família”, o que não compromete a compreensão, mas que poderia ser facilmente
mudado com a supressão do substantivo “nome” na segunda oração, sendo ela já
explicativa pela utilização da conjunção “que”.

O aluno parece ter um bom compreendimento do seu papel como interlocutor, o que
não gera dificuldades com o nível enunciativo, ainda que a falta de informações citadas
anteriormente possam fazer falta aqui também, que o leitor não pode preencher as
lacunas de um texto pessoal de outrem.

Por fim, no nível argumentativo, mais uma vez é possível citar as lacunas presentes no
texto pela falta de informação, pois, tratando-se de um relato autobiográfico, o mais
importante são os fatos que fazem o leitor compreender a progressão da vida da pessoa
em questão. Sem sabermos, por exemplo, por que os irmãos são julgados como
“perdidos no mundo”, não é possível compreender porque o Arthur é tão pressionado
desde cedo; ou, sem saber porque ele se mudou para a casa do pai, é difícil entender
porque essa foi citada como uma razão de dificuldade. Existe, enfim, a questão das
“dificuldades financeiras” que são citadas no texto duas vezes: primeiro logo após a
descrição das dificuldades com o padrasto – “Por mais que o dinheiro não fosse o
problema, aprendi a ver que o mundo vai muito mais além do que só estabilidade
financeira [...]” e no fim do texto – “[...] de tudo e mais um pouco, a vida me mostrou
que tudo pode ser pior, e nisso nem está só o lado financeiro.”. Os dois trechos são
contraditórios, pois o aluno não cita problemas financeiros de ordem alguma, apesar de
falar que trabalha desde cedo, ele na verdade coloca no meio do texto que o dinheiro
não era o problema. Logo, não há necessidade de colocar, ao fim, que o pior da vida
não é apenas o lado financeiro, pois em nenhum momento entende-se que foi.

b. Elabore, no mínimo, quatro (04) atividades de análise linguística a serem praticadas em


sala de aula como preparação para a reescrita textual da versão inicial do texto inscrito
no gênero relato autobiográfico dos/as estudantes e que contemplem a/s necessidades
de aprendizagem detectadas em (a). Leve em consideração o nível de ensino dos
estudantes (3º. Ano do Ensino Médio, escola pública estadual, período noturno), que a
realização das atividades deverá ser feita em sala de aula e a relação com diferentes
práticas de linguagem que podem ser exploradas na prática de análise linguística
(especialmente leitura e escrita), visando à qualificação da produção textual discente.
Não se esqueça de incluir, também, as respostas esperadas em cada atividade
proposta.

Questão 1. Releia o seguinte trecho retirado do relato autobiográfico “História” e responda às


questões:
“Na terceira série, eu tive uma professora de quem me recordo muito bem, Bia, foi
uma das piores professoras que já tive, escrevíamos textos, muitos textos, textos estes que
eram transcritos do livro para o caderno. Em um determinado dia mostrei minha escrita para
ela, foi horrível, ela fez um X enorme e vermelho no meu caderno, disse que minha letra era
pior do que a de medico, não me lembro muito bem o motivo, mas sei que cheguei em casa
com a orelha ardendo, ela havia torcido. Minha mãe no outro dia, foi me defender, eu
agradeço muito por essa experiência não ter acabado com o meu gosto pela escrita.”

a.) Por que a professora fez um X na atividade da narradora? A professora fez


um X na atividade, pois ela não achou que a caligrafia da aluna estava boa.
b.) Por que a mãe da narradora vai defender a filha na escola? A mãe da
narradora vai defendê-la na escola, porque a professora foi grosseira com a filha e
agrediu ela fisicamente, torcendo sua orelha.
c.) No fim do trecho, a autora coloca “[...] eu agradeço muito por essa
experiência não ter acabado com meu gosto pela escrita.” Por que a experiência
poderia acabar com o gosto dela pela escrita? A experiência poderia acabar com o
gosto da autora pela escrita, porque a professora foi agressiva com ela em relação a sua
caligrafia, tanto verbalmente quanto fisicamente, e não ofereceu ajuda para ela pudesse
melhorar. Esse evento poderia deixar ela com o entendimento de que ela escreve mal,
que não consegue melhorar e ela ficaria receosa de escrever de novo.
d.) Em outro momento do texto, a autora narra um momento em que a mãe, que
ajudava a filha a aprender a escrever, faz um comentário que nos faz compreender a
dificuldade que fez com que a professora desse um errado na atividade. Ache o
parágrafo em que isso acontece, o trecho e explique o que a mãe faz de diferente da
professora e como é possível entender isso. No 4º parágrafo da parte do texto “Eu na
escola”, a autora narra o seguinte trecho: “[...] consegui escrever semelhante às letras
cursivas dos livros de caligrafia que eu tanto fazia! Eu estava em casa e a primeira
pessoa que mostrei foi para a minha mãe. Ela ficou muito animada. Mas sempre tinha
a seguinte fala: Vamos melhorar essa letra?”. O trecho se relaciona com o acima, pois
a mãe chama atenção para que a filha melhore a caligrafia. Depois, quando ela narra a
bronca que recebeu da professora, entende-se que é uma dificuldade que ela carrega há
muito tempo e que, diferente da professora, a mãe oferece ajuda para que a filha
melhore. É possível entender que ela oferece ajuda, pois ela usa o verbo “vamos”, se
incluindo no processo para melhorar a letra da filha.
e.) Em seu caderno, faça uma ordem dos eventos, desde o trecho encontrado na
questão d.), até o momento que a mãe vai defender a filha na escola. Você pode colocar
1. primeiro evento, 2. segundo evento e assim por diante. Resposta esperada: 1. autora
imita caligrafia dos livros, 2. mãe parabeniza e incentiva ela a melhorar a letra, 3.
autora mostra texto à professora, 4. professora coloca um X no texto e torce a orelha da
autora, 5. mãe vai à escola defender a autora.

Questão 2. Faça dupla com um colega e troquem os seus textos.


a.) Leia o texto do seu colega e marque todas as partes em que você não
entendeu alguma coisa por estar faltando uma informação. Ele fará o mesmo com o seu texto.
Quando terminar, mostre para ele as marcações e se conseguir pergunte sobre o que falta.
Exemplo: Por que você brigou com pessoa x? O que aconteceu aqui? É esperado que o aluno
identifique coisas que não entendeu no texto do colega e que pergunte, “mas por que isso
aconteceu? O que aconteceu antes?”
b.) Anote o que o seu colega não entendeu sobre o seu texto. Faça uma ordem de
eventos assim como você na questão 1d com o que você se recorda que aconteceu. O que
apareceu na ordem que não está no texto? Expectativa é que o aluno preencha as lacunas
separadamente e que depois as insira no texto com a reescrita.
Questão 3. Veja o vídeo a seguir:

https://youtu.be/wDnFOkc8lGo?si=aeJzoGowSc6aetUA

a.) O que no vídeo é parecido com o texto “História”? E o que é diferente? Tanto
o vídeo, quanto o texto são relatos autobiográficos. Eles se diferem porque um é escrito e o
outro é falado.
b.) Como a escrita do texto “História” é diferente da fala do vídeo? A fala do
vídeo tem vários “ai” para indicar progressão dos eventos, existem intervenções de coisas que a
pessoa que está falando se lembra (ex.: “nunca lembro do nome dessa tia dele”), imitação da
fala de outras pessoas, como a da tia e da mãe.
c.) Escreva o que a Syomara fala do minuto 1:00 ao minuto 1:17, da forma como
você escuta. Não se preocupe com pontuação ou ortografia por enquanto. Aluno pode
transcrever como preferir.
d.) Com a professora, reescreva o trecho copiado do vídeo como se fosse um
relato autobiográfico escrito. Na lousa, a professora tem a transcrição do texto, sem vírgulas, e,
com a sala, ela vai completando. O trecho transcrito é: “Quando eu nasci a minha mãe ligou de
novo eu nunca consigo guardar o nome dessa tia dele falou olha fulana o negócio é o seguinte
nasceu é uma menina e se chama Syomara ela falou olha o chico falou que nem sabe se essa
filha é dele a minha mãe ah então também não sei se é não mas é minha”. Uma forma como
pode ser adaptado para a escrita: “Quando eu nasci, minha mãe ligou para a tia do meu pai, a
qual eu não me lembro o nome, e disse que eu havia nascido e me chamava Syomara. A tia, no
entanto, falou que o Chico, meu pai, sequer sabia se eu era mesmo filha dele. A minha mãe,
surpresa, disse ‘Também não sei se é filha dele, mas é minha.’”
d.) No seu texto, o que se parece com a fala do vídeo? Como é possível adaptar
isso para a escrita? Expectativa é que o aluno encontre os sinais de oralidade do texto como
“pra”, que é mais frequente, e pense e modifique para “para” e, se necessário, corte e pense em
outra forma de construção da frase.

Poste no Classroom, identificando seu exercício com seu nome, RA, Aval II e data.
5

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