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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA.

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTE


DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM – DEEL.

MARTA FERREIRA PINTO – 3VB

MEMORIAL ACADÊMICO

PONTA GROSSA – PARANÁ.

2021
Sumário

APRESENTAÇÃO 3
IDENTIFICAÇÃO 3
FORMAÇÃO PRÉ-UNIVERSITÁRIA 3
FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA 4
APRESENTAÇÃO
Como em um diário, destacarei algumas atividades e eventos mais
importantes de maior significado no âmbito escolar, além da autoidentificação
racial, experiência estudantil no Ensino Médio e o combate ao racismo dentro
do espaço escolar. A construção do meu eu e da minha formação se deu muito
no ambiente familiar, através dos meus irmãos mais velhos que já estavam na
universidade. Muitas vezes conversávamos sobre as questões que cada aluno,
principalmente negro, sofre dentro da escola. Naquela época, como aluna de
Ensino Médio, isso fez muita diferença na minha vida. Através dessas
conversas, eu consegui prosseguir com meus estudos, porque a minha família
me ajudou e ainda ajuda a passar por todas as dificuldades.

IDENTIFICAÇÃO
Marta Ferreira Pinto, brasileira nascida no interior de Ponta Grossa, no
Município de Palmeira, em uma comunidade Quilombola, a Colônia Sutil.

FORMAÇÃO PRÉ-UNIVERSITÁRIA
Eu era uma criança especial com um grau muito alto de hiperatividade e
déficit de atenção e com muita dificuldade para aprender em algumas
disciplinas. Os professores não tinham paciência ou não sabiam como
trabalhar em sala de aula com uma criança como eu naquela época, sem
contar com a discriminação racial que sofri dentro da sala de aula por parte de
alguns professores. Não era nem dos colegas da sala, e sim dos professores.
Demorei muito para aprender a ler e escrever, tive duas reprovações, uma no
infantil e uma no fundamental. Foi com muita dificuldade que eu prossegui com
meus estudos. Meus irmãos também me ajudaram nessa parte da
alfabetização, para que eu conseguisse aprender a ler e a escrever. Lembro-
me que meus irmãos mais velhos me davam aulas de caligrafia, de leitura, de
matemática e de outras disciplinas. Em 2012, com 15 anos, fomos embora da
Comunidade Quilombola porque meus irmãos mais velhos começaram a fazer
faculdade, e para ficar mais perto da cidade meus pais resolveram sair de lá.
Isso foi um processo difícil pois tivemos que sair do nosso lugar para ocupar
outro, mas foi necessário.
No ano de 2017 eu cursava o terceiro ano do Ensino Médio pela manhã
no Colégio Estadual Colônia Dona Luiza no bairro de Oficinas, durante a tarde
fazia as atividades do colégio e a noite estudava para o vestibular. Fiz a
inscrição para o curso de Letras Português/Espanhol turno vespertino, escolhi
cotas para negros, porém só tinha uma vaga para a cota de negros. Eu passei
e fiquei na lista de espera. Terminei o Ensino Médio e comecei a trabalhar de
babá durante o dia todo e a noite eu fui fazer o cursinho pré-vestibular. Era
bem cansativo pois ficava manhã e tarde trabalhando e a noite ia para o
cursinho, chegava em casa às 22/23 horas e ia estudar até as 1/2 horas da
madrugada.
Prestei o vestibular de inverno para o mesmo curso e como eu não tinha
certeza se iria conseguir passar através da cota para negros, escolhi a cota
para estudantes de escola pública e dessa vez consegui entrar. Tive que sair
do emprego de babá. Meus irmãos mais velhos já são formados, já estavam
trabalhando e começaram a me ajudar com passagem de ônibus, xerox entre
outras coisas. Se não fosse minha família me ajudar eu não iria conseguir me
manter dentro da universidade, certamente eu iria desistir do curso e iria ficar
apenas trabalhando. Nessa reflexão vejo como é importante ter na família
irmãos, pai, mãe, tios, primos que também estudam, assim eles veem como é
difícil entrar e se manter dentro de uma universidade. Se a pessoa é negra, a
dificuldade é sempre maior, por isso vejo que é importante ter o apoio da
família.

FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA
Em 2018 entrei no curso de Letras Português/Espanhol na UEPG-
Universidade Estadual de Ponta Grossa. Confesso que senti bastante
dificuldade em algumas disciplinas, eu já sabia que o caminho que eu iria
percorrer seria o da literatura. Das disciplinas optativas, escolhi as que eram
relacionadas a literatura, fiz uma que era Literatura e Filosofia. Essa disciplina
gostei muito, pois me fez refletir que de certa forma todas a áreas do
conhecimento se relacionam e estão próximas. Porém tinham alguns textos e
autores que eram difíceis de ler e entender, isso me fez entender que nem
todos os textos e autores são fáceis de ler e compreender o que dizem. Eu
tinha bastante contato com outros colegas do curso que já estavam mais
avançados de uma certa forma, isso me ajudou a pensar que espaços eu
queria ocupar dentro da universidade. Participei como monitora do XXVII
Encontro Anual de iniciação Científica (XXVII EAIC), de 2018. No mesmo ano
entrei no Projeto de Extensão Educação Semiótica em Perspectivas
Interdisciplinares e Interculturais e continuo fazendo parte nesse ano de 2021.
Comecei a fazer parte do Núcleo de Relações Étnico-Raciais, de Gênero e
Sexualidade (Nuregs/UEPG). Eu também construo o Movimento das Mulheres
Negras de Ponta Grossa (MOOLAADÉ). Os colegas também me propuseram
fazer parte do Diretório Central de Estudantes da universidade (DCE) e eu
aceitei. Também fiz parte da refundação do Diretório Acadêmico Conceição
Evaristo (DACE) em 2019, que é a entidade que representa alunos(as) dos
cursos de Letras. Com isso eu tive um maior contato com outros acadêmicos
de vários cursos e também os acadêmicos negros da universidade. Isso me
ajudou muito a ter um diálogo com vários colegas e conhecer um pouco mais a
universidade.
Quando eu entrei no curso, percebi que havia poucos acadêmicos
negros na minha sala e circulando pelo campus, pois é muito difícil ver outros
negros ocupando seu espaço dentro da universidade. Vi que tinha professores
negros, isso me deixou mais à vontade dentro da universidade porque eu
nunca tive professor(a) negro(a) na minha vida. Para mim isso foi muito
significativo, é como se eu não estivesse sozinha.
Por isso é importante que tenha mais acadêmicos negros(as) na
licenciatura, para poder mudar essa realidade dentro da sala de aula. Dessa
forma os alunos irão se sentir mais representados e outras professoras que
praticam essa violência dentro de sala de aula se sentiriam intimidadas, e os
alunos negros não iriam se silenciar pois saberiam que teriam alguém para
ouvi-los. Além disso, seria mais confortável frequentar uma escola onde tem
representatividade.
Como sempre, acho necessário ocuparmos algum espaço no lugar onde
estamos situados. Como eu já estava mais situada e familiarizada com a
universidade e com os colegas, procurei conversar e conhecer outros colegas
de outros cursos que são negros. Nos reunimos e criamos no dia 9 de março
de 2019 o coletivo de estudantes negros(as) da UEPG. Após votação entre
os(as) alunos(as) presentes, o nome escolhido foi ILÊ AIYÊ que, além de dar
nome ao Primeiro bloco de carnaval da Bahia que também é composto apenas
por pessoas negras,“ILÊ AIYÊ", por aproximação, pode ser traduzido como "a
casa de todos", "o mundo" ou "a terra da vida“.
Entrar no coletivo de estudantes negros foi muito bom para o meu
conhecimento e crescimento pessoal, logo nós já estávamos aumentando o
grupo aos poucos, mas percebemos que não é fácil criar o grupo e trazer
novas pessoas. No mesmo ano foi feito o evento do Novembro Negro por nós
do coletivo. Fazer esse evento também foi uma experiência muito boa porque
tivemos que nos unir mais para planejar o evento, estar mais próximo dos
professores e até mesmo dos outros acadêmicos que não dialogam sobre o
tema e entre outras questões. No mesmo ano entrei no grupo de estudos
Grupo de Estudos de Currículo e Diversidade (GECD). Entrar nesse grupo me
ajudou a ampliar meu conhecimento. A professora que coordena o grupo
propôs que todos que participassem apresentassem no III Congresso
Internacional de Estudos da Linguagem (CIEL), que aconteceu na universidade
em 2019, eu e minha colega Clara apresentamos sobre Equipes
Multidisciplinares em Ponta Grossa: como atuam as instâncias no sentido da
implementação no sentido da implementação das leis 10.639/03 e 11.645/08?
Apresentar nesse evento foi uma experiência muito boa e construtiva, pois era
primeira vez que eu estava apresentando em um evento.
Em 2020 eu estava no segundo ano, novamente escolhi as optativas na
área de literatura, fiz literatura Colonial e Pós Colonial e Estudos de Narrativas
Curtas. No 3º ano em 2021, entrei no Projeto de Extensão Visibilidades &
Perspectivas - Literaturas de Autoria de Mulheres. As disciplinas optativas
escolhidas novamente foram da área de literatura, Manifestações Literárias no
Paraná. Optei por essa disciplina para ter mais conhecimento dos autores
locais. A disciplina Estudos da Poesia eu optei para aprender um pouco mais
sobre as técnicas e maneiras de se fazer poesia. Literatura Afro-latina
Americana optei porque já imaginei que iria me ajudar na minha pesquisa sobre
a literatura de autoria negra e conhecer outros autores latino-americanos.
Desde o primeiro ano eu já frequentava a biblioteca. Certo dia na
biblioteca fiquei pensando o que eu iria pesquisar, qual tema seria o meu TCC,
qual autor(a) eu iria pesquisar. Já sabia que seria na área da literatura, neste
mesmo dia saí da biblioteca muito pensativa sobre os questionamentos que fiz
para mim mesma.
Passou-se alguns dias e pensei: amanhã irei na biblioteca pesquisar
alguns autores(as) negros(as). Logo me deparei com um livro intitulado:
Literatura Afro-Brasileira Vol.1: 100 Autores do século XVIII ao XXI, do Eduardo
de Assis Duarte, onde ele traz dados biográficos e informações sobre a
produção literária de escritores e escritoras afro-brasileiros. Fiquei
entusiasmada, e pensei em pesquisar Machado de Assis pois li a biografia do
autor no livro. Chegando em casa pesquisei sobre o autor e vi que tinha muitas
pesquisas relacionadas a ele. Novamente fiquei pensando, pensei ser melhor
pesquisar autores que não sejam muito conhecidos, porque acho necessário
dar visibilidade aos autores(as) que são desconhecidos por nós acadêmicos,
professores e até mesmo na universidade.
Como eu tinha feito o empréstimo do livro fiquei lendo, li todas as
biografias dos autores do livro, porém teve uma autora que eu gostei muito de
ler, e de certa forma me chamou a atenção porque nunca tinha ouvido falar
dela, nem no Ensino Médio e até mesmo na universidade. Como eu gostei
muito do que estava descrito da autora, comecei a pesquisar mais sobre ela, a
Maria Firmina dos Reis. Comecei a ler artigos sobre ela, e encontrei o PDF do
romance dela intitulado Úrsula. Li o romance Úrsula, gostei muito. No 2º ano já
comecei a fazer pesquisa, perguntei para os professores do meu curso se
algum deles conheciam ou pesquisavam a Maria Firmina dos Reis pois eu
estava com o pensamento de pesquisar ela e a obra dela no TCC. Não tive
devolutiva pois os professores não conheciam ela e nem pesquisavam ela, isso
me deixou chateada e deixei de ler e pesquisar a autora por alguns meses.
Percebi que talvez não desse certo a pesquisa que estava fazendo da
autora Maria Firmina dos Reis e resolvi pesquisar outros autores, que eu gosto
muito. Kafka, Albert Camus, Dostoievski. Pensei em fazer uma pesquisa
relacionada à proximidade dos autores e suas obras, porém esses autores não
trazem questões somente relacionada à literatura, mas também a filosofia, e eu
como sou estudante da área de Letras acho que tenho que tomar cuidado para
não me aprofundar muito na área da filosofia. Logo desisti de pesquisar esses
autores, quem sabe no mestrado ou doutorado eu prossiga.
No 2ª ano voltei a pesquisar a Maria Firmina dos Reis, fiz uma releitura da
sua obra Úrsula, biografia e alguns artigos sobre a autora. No 3º ano comecei a
conversar com algumas professoras, fui insistente e disse que “eu quero
pesquisar a Maria Firmina dos Reis no TCC e na Iniciação Científica (I.C)
porque ela é pouco pesquisada, pouco conhecida e pouco falada dentro do
âmbito acadêmico, e para não ficar apenas na autora por si só pensei em fazer
um contraponto com a obra da Conceição Evaristo Insubmissas Lágrimas de
Mulheres”. A professora achou interessante e aceitou me orientar.
Como sou mulher, brasileira e negra, nada melhor do que pesquisar autoras
mulheres, brasileiras e negras. Não que as outras autoras não sejam boas,
mas não há nada melhor do que estar pesquisando sobre as suas ancestrais
(minhas ancestrais) dialogando sobre os povos do seu próprio país. É como
seu eu estivesse pisando em um campo onde eu me sinto bem.

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