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Resumos - História da Cultura Medieval (séculos IV-XV)

- História da cultura: lida com os fenómenos de criação, difusão e transmissão que


recorrem, quer à escrita, quer à oralidade. Lida com os agentes culturais, que podem ser
coletivos ou individuais, com as instituições culturais e com os objetos culturais.

 Estuda as manifestações culturais do passado;


 Meios de produção (oralidade) e transmissão (escrita);
 Textos escritos (fontes);
 Objetos da época;
 Indícios (crenças).

1. Antiguidade Tardia (IV-VII);


2. Idade Média Rural (VIII- XI);
3. Idade Média Urbana (XII-XV).

As (1) sociedades urbanas (mercado; lei escrita; escrita; mobilidade; moeda, etc.) são
diferentes das (2) sociedades rurais. Não havia uma grande familiarização das pessoas da
cidade e do campo com os costumes de uma e outras culturas.

1- Sociedades urbanas 2- Sociedades rurais

Mercado; investimento e a) Princípios Autossuficiência;


lucro económicos entesouramento; dádiva
Indivíduo (jovem) b) Valores sociais Grupo (dirigido pelos mais
velhos)
Escrita: é assinado (tem uma c) Natureza do Oralidade: o produtor é
autoria); progressivamente discurso cultural anónimo (tem autoria
(obras coletivas); coletiva); exemplaridade;
originalidade (diferença) ortodoxia
Profano; progresso; espaço d) Visão do mundo Sagrado; eterno retorno;
aberto; sempre a receber espaço fechado; o que é de
novidades fora pode ser perigoso –
processo de aceitação longo
Campo Cidade
Simplicidade/Manjares Iguarias
Escassez Abundância
Paz Violência
Cereais Carne
Atração Morte/ferida

1. Antiguidade Tardia (IV-VII):

São os séculos de transição da Antiguidade Clássica para a Época Medieval. Em 476 dá-
se o fim do Império Romano do Ocidente e a sua consequente divisão.

Problemas:

 Formação de diversos povos (lombardos, ostrogodos, visigodos, francos), que


levou à regionalização da Europa;
 Problemas no comércio devido à falta de segurança;
 Unidade linguística passa a ser uma mistura de línguas germânicas;
 O problema das cidades gera um processo de ruralização.

Consequências:

 Fragmentação e desagregação do Império;


 As escolas perdem alunos devido à falta de futuras oportunidades;
 Algumas escolas fecham, pela perda de população nos centros urbanos (a literacia
perdeu importância);
 Muitos abastados preferem o ensino privado (continuação com o ensino das artes
liberais: gramática; retórica; artes; e dialética.);
 Surgem as igrejas que vão ser as novas fontes de ensino.

Antiguidade Tardia (caraterísticas):

 Civilização do escrito;
 Existência de escolas públicas: litterator, grammaticus, rhetor;
 Existência de um ensino privado;
 Itinerário intelectual obrigatório, exercícios escolares típicos;
 Cânone das leituras: Cícero, Virgílio;
 Bibliotecas públicas e privadas;
 Codices, volumina, tabulae;
 Cálamo, estilete;
 Abundância da produção escrita usual, de consumo imediato;
 Regularidade da produção escrita nobre, destinada a ser conservada;
 Importantes centros de cultura e de ensino (Roma, Cartago, Córdova, Leão);
 Atividade epigráfica contínua e disseminada;
 Administração escrita;
 Direito escrito, escolas de direito;
 Universalidade das leis;
 Noção de cidadania e de res publica;
 Cultura erudita disseminada, prioridade à retórica;
 Persistência da tradição literária;
 Prestígio das artes liberais;
 Prestígio do passado imperial;
 Unidade dialética do latim falado;
 Coerência intercultural do latim falado;
 O Latim, língua de comunicação geral;
 Ausência de escrita das línguas bárbaras.

Artes liberais (instrução básica) - as mais importantes eram a gramática, a retórica, a


dialética (estas três fazem parte do trivium) e depois as menos importantes eram a
aritmética, a música, a astronomia e a geometria (quadrivium).

É um ensino que se preocupa com o corpo e com o espírito. Preocupação com a educação
moral dos jovens (baseada na Bíblia), com a introdução do Cristianismo na educação. Em
suma: o modelo da educação romana mantém-se, mas transforma-se. Era importante que
a educação dos mais novos se baseasse na castidade (pureza). Primeiro aprendiam as
letras elementares e depois as artes liberais, para além da arte de falar em público. Aquele
que estava instruído nos bons hábitos morais e nas artes liberais, poderia alcançar a vida
honesta e o poder.
Continuam a haver mulheres letradas. As artes liberais perdem peso. Há a ruralização,
que também leva à alteração do processo de educação. Revalorização das mulheres.

Conhecimento: mais baixo era saber ler, escrever e contar, no ponto mais alto estava a
Filosofia. No nível intermédio estava o Direito, o domínio da arte Oratória e capacidade
de se exprimir nas duas línguas do Império, o Grego e Latim. A Antiguidade Clássica e
Tardia caracteriza-se por um elevado grau de domínio da comunicação escrita. A palavra
é usada pra instruir e comemorar, o ato de ler é essencial.

Cristianismo:

 Baseia-se numa verdade escrita (Bíblia);


 Os cristãos eram letrados, sabiam ler e escrever;
 Os pagãos (não cristão) viviam no campo e os cristãos na cidade;
 É uma religião urbana;
 Havia uma proximidade entre o cristianismo e a cultura urbana;
 A Bíblia era destinada ao comum das gentes;
 Os apologistas escreviam textos a favor do Cristianismo, por vezes em poesia.
 Era considerada uma religião de pobres porque os mais pobres eram apanhados nas
perseguições;
 O Orígenes aplicou na Bíblia as regras da gramática e das artes liberais e chegou à
conclusão que existem várias leituras: uma leitura literal, metafórica e alegórica.

O Saber Antigo prepara os cidadãos para a vida pública, com a ajuda do Saber Cristão,
com a salvação, as artes liberais, a filosofia e a ética.

- Agostinho banaliza a religião e as crenças pagãs mostrando-as como puro produto da


ação humana. Agostinho é um escritor da Antiguidade tardia que contribui
poderosamente para preservar a legitimidade da ciência secular, nomeadamente da
retórica. À medida que a Igreja passa a ter o controlo, surgem os fenómenos do
anacoretismo e do monaquismo.

- Cassiodoro considera que é impossível chegar à compreensão dos livros sagrados sem
saber as artes liberais. Tentou expandir a Cristandade.
- Gregório Magno, papa dos séculos VI e VII, legitimou a aprendizagem da cultura pagã,
ou seja, da cultura não cristã (não monoteísta). Para essa aprendizagem era essencial o
estudo das Sagradas Escrituras, apesar de, este ter de ser complementado pelo estudo dos
livros profanos (alheio à religião), caso este fosse com a finalidade única de, a partir daí,
haver uma melhor compreensão dos ensinamentos e da palavra de Deus.

Cristãos radicalistas:

 Acreditam que a palavra de Deus não é compatível com outras religiões, então
isolam-se no deserto para se aproximarem mais de Deus (Egito, século III);
 Fazem uma série de rituais: aproximação de Deus/salvação (jejum, mortificação da
carne);
 Eram conhecidos como mona chus (o mais conhecido era Santo Antão);

Entre o século V e VIII há uma retração da escrita, diminuição da alfabetização e uma


religiosidade da cultura. Na Antiguidade Tardia não houve uma dissolução da latinidade,
mas sim um afastamento entre a escrita e a oralidade.

Evolução desde 774:

 Civilização de cultura predominantemente oral;


 Ausência de escolas públicas;
 Raridade de um ensino privado;
 Novo itinerário intelectual obrigado: orações, canto, salmodia;
 Cânone de leituras: Sagradas Escrituras;
 Bibliotecas unicamente privadas (mosteiros);
 Códices, tabulae;
 Cálamo, estilete;
 Minúscula carolina;
 Raridade da produção escrita usual;
 Retoma quantitativa esporádica da produção escrita nobre;
 Atividade epigráfica esporádica e regionalizada;
 Administração muito parcialmente escrita;
 Direito escrito limitado a certas regiões, poucas escolas de direito;
 Regionalização das leis;
 Desaparecimento da noção de cidadania, substituída pelos laços de homem para
homem, cultura erudita disseminada: prioridade absoluta à gramática;
 Mudança da tradição literária;
 Conservação das artes liberais, limitação ao utilitarismo cristão;
 Apagamentos e ressurgimentos aleatórios do prestígio do passado imperial;
 Fragmentação dialetal do latim falado;
 Dispersão intercultural do latim falado;
 Desaparecimento do latim como língua de comunicação geral;
 Aparecimento de escrita das línguas vernáculas.

Monge - era aquele que se isolava e se afasta = eremita. Vão para os desertos e eram
letrados que repudiavam os centros urbanos e na cidade.

Diferenças no movimento entre o ocidente e o oriente:

 Este movimento no oriente era espontâneo, enquanto que no ocidente era sempre
dirigido por um bispo;
 No oriente era também individual pois, cada um decidia por si, enquanto que no
ocidente era coletivo (cenobítico = reunião);
 Como não existiam desertos no ocidente, criaram-se os mosteiros em florestas, ilhas
ou montanhas;
 O monaquismo no ocidente não repudiava por completo a cultura da Antiguidade,
ao contrário do oriente, em que o livro de leitura era a Bíblia, mais propriamente os
Salmos e Provérbios;
 No ocidente há também monaquismo urbano, algo que não acontece no oriente.

Mantém-se:

 A oração constante;
 Rituais de purificação;
 Rituais de mortificação da carne;
 Regra de vida (muitas vezes escrita);
 3 votos monásticos: voto de pobreza; castidade; obediência (quele que tinha
autoridade em casa designava-se abade = pai).
A partir do século XI surgem os conventos que, ao contrário dos mosteiros, são urbanos,
albergam freires ou freiras e têm um prior (eleito de 3 em 3 anos).

Ensino monástico:

 O professor era, regra geral, o abade mais velho;


 O objetivo era preparar os monges;
 A gramática aprendia-se a partir da Bíblia;
 Cálculo/aritmética;
 Ensino do canto, importante para o ritual da missa;
 Introdução da leitura silenciosa;
 Mantêm-se a retórica, a gramática, a dialética e aritmética.

A maior parte dos monges realizava duas tarefas principais: a oração e o trabalho
(manual) – Ora et labora (São Bento).

Os mosteiros foram instituições essenciais para que não se perdesse a cultura. As pessoas
que se submetiam à comunidade monástica, convertiam-se. Os mosteiros eram
instituições letradas. Dentro destes existia quase sempre uma escola, tal como uma
biblioteca, um scriptorium, etc.

Alguns mosteiros desenvolveram programas de renascimento da Antiguidade, com os


objetivos de: unificar o Império; unificar a liturgia; e unificar a vida monástica, com a
expansão da Regra de São Bento (a primeira regra era promover a educação dos monges–
tinham de ler um livro por ano).

Na regra beneditina, cada mosteiro é independente dos outros, ao contrário dos


cistercienses. Os monges beneditinos eram os melhores letrados, tinham a melhor
formação.

Em 901 nasce o mosteiro de Cluny, que interpreta a regra beneditina à sua maneira. O
ora = monge = sacerdote. O labora = trabalho intelectual, sendo a primeira instituição do
ocidente que permite a formação dos monges de forma diferente. Os monges eram os
verdadeiros sábios e o mosteiro era como um Paraíso na Terra. Nos mosteiros
cistercienses, o claustro tem sempre uma fonte com água, isto porque a água é a fonte da
vida, e também árvores, arbustos ou uma horta, de forma a que o espaço seja uma imitação
do jardim do Paraíso.
2. Idade Média Rural (VIII- XI):

Os grandes centros urbanos perdem a importância e esta passa para os campos: como por
exemplo, os mosteiros, as fortificações, os castelos, etc. Os camponeses eram homens
livres, que praticavam a agricultura itinerante. Depois existiam as grandes explorações
agrícolas que eram trabalhadas por escravos. O norte da Europa desurbanizou-se mais
cedo que o sul. Do século VII ao século XII os homens letrados eram todos da Igreja: ou
eclesiásticos ou religiosos.

A escrita nesta sociedade não serve par as funções habituais de hoje em dia.
Comunicavam através da palavra, da imagem e dos gestos. A escrita era um meio de
comunicação com Deus tendo, portanto, uma dimensão sagrada. Servia para produzir
milagres e para tirar sortes.

1) Cartas celestes:
 Lidas e explicadas pelos padres;
 Cartas “vindas de Deus” – eram escritas por monges;
 Cartas de Domingo (dia do Senhor);
 Algumas delas foram escritas para identificar os pertences de alguns santos e
igrejas;
 Listar os pecados.
2) Livro:
 A sociedade cristã era uma sociedade do livro e, portanto, este tinha uma
importância capital;
 A Bíblia servia para guiar o Homem, era conhecida como o livro da vida;
 Na missa o livro ocupa o centro das atenções;
 O livro é caro pois é como um tesouro;
 Copiar um livro inteiro era encarado como uma forma de penitência.
3) Acreditava-se que a escrita tinha capacidades de preservar o poder do objeto do
qual se fala, ou santos, então:
 Lia-se em voz alta a história do santo, para ajudar no problema, à espera de um
milagre;
 A escrita podia “apagar” pecados;
 Era comum os analfabetos andarem com pergaminhos escritos, como amuleto
contra o mau-olhado.
A escrita não era exclusiva do mundo europeu ocidental. Era uma atividade marginal,
apesar de ser muito importante pois punha as pessoas em contacto com Deus.

1- Saber:

É diferente de criação/novidade. O saber é criado pelo Homem e pode aumentar ou


diminuir. Requer uma iniciação (aprende-se latim para ler os livros). O saber é revelado
(era transmitido ao Homem por Deus, porque Deus podia comunicar de qualquer forma).
O saber tem origem divina. Tem de ser decifrado e é algo útil.

2- Tradição:

É o contrário de novidade (na época não gostavam de novidades – achavam que era uma
restauração de tradições antepassadas). Houve uma recuperação de realidades passadas,
uma reconquista. Respeitavam muito as tradições.

3- Velhice:

Os velhos eram poços de sabedoria, verdadeiros sábios. Era habitual dizer-se que quem
tinha experiência, tinha esperança. Até ao século XI os velhos tinham prestígios e os
novos eram desconsiderados. Na cidade era mais comum a valorização dos novos e no
campo a valorização dos velhos.

Bíblia:

 Antigo Testamento: Deus-pai


 Novo Testamento: Deus-filho
 É um texto dialógico, ou seja, cada pessoa que o lê, interpreta-o de forma
diferente.

Os universos culturais da Idade Média são a cultura letrada e os monges e clérigos.


Conhecemo-las através das fontes escritas e representam apenas 2% da população da
época.

Cultura letrada monástica e cultural:

Não há fontes escritas acerca dos guerreiros ou dos camponeses. Dos guerreiros faziam
parte, os reis e as famílias, todos os que viviam para e da guerra e como atributos tinham
cavalaria e equipamentos, poder militar e político. Os camponeses eram a maioria da
população medieval.

Não há testemunhas diretas, só indiretas: os monges e clérigos escreviam “em nome” dos
guerreiros e dos camponeses, acerca das suas respetivas culturas. Só a partir do século XI
é que começam a existir testemunhos diretos dos mesmos.

Em relação aos guerreiros existiam uma prática muito importante que é: as práticas orais
(cantos épicos, eram um género de propaganda política).

Os clérigos e monges escreviam em dois tipos de textos: hagiografias (vida de santos) e


espelhos de príncipes (tratados de educação moral).

Acerca dos camponeses sabe-se pouco. Eram preocupados com o clima, devido à prática
da agricultura. Existiam festas de cariz religioso. Havia uma regulação da fertilidade da
mulher e da mão-de-obra. Existia também o culto dos mortos (dentro de casa). Era uma
cultura de resistência (silêncio) à novidade e ao que vinha de fora.

- Traços (“Salvaguardas culturais”) da génese cultural da Europa:

 Civilização de cultura predominantemente oral;


 Ausência de escolas publicas;
 Raridade do ensino privado;
 Cânone de leituras (Sagradas Escrituras);
 Bibliotecas unicamente privadas (mosteiros);
 Raridade da produção escrita usual;
 Novos centros de ensino e de cultura;
 Direito escrito limitado a certas regiões;
 Regionalização das leis;
 Mudança da tradição literária;
 Conservação parcial das artes liberais;
 Dispersão intercultural do latim falado;
 Aparecimento de scriptae das línguas vernáculas.

Igreja – Ecclesie – Assembleia (sentido primitivo da palavra).


O pão era levado de casa (Bispo ou popular), que era consagrado (transformava-se no
corpo de Cristo) e era partilhado por todos. O mesmo acontecia com o vinho,
transformando-se no sangue de Cristo. A missa era uma refeição ritual e em latim.

O Novo Testamento foi maioritariamente escrito em grego pois era a língua franca do
Médio Oriente. A partir dos séculos IV/V o latim ganha prestígio na escrita e na vida
pública em geral, a partir da tradução da Vulgata, o grego perde importância.

Processos:

 1) Ritualização das práticas litúrgicas (missa/batismo);


 2) Desenvolvimento do culto dos mortos;
 3) Desenvolvimento do culto dos santos, anjos e arcanjos;
 4) Desenvolvimento do culto das paraliturgias.
1) A Igreja passa a ter dois significados: a instituição e o edifício; com isto aparece a
sacristia. A refeição ritual deixa de haver, passando a haver apenas a hóstia e o vinho,
que só era consumido pelos sacerdotes. Quando se deixa de saber o latim, deixa de se
cantar nas celebrações também. O sacerdote passa a celebrar a missa de costas para os
fiéis, mas de frente para o altar. A penitência muda de estatuto.

2) O culto dos mortos era familiar, em casa. A Igreja chama para si esse trabalho, já que
enterravam as pessoas no adro da igreja/no espaço em redor da igreja (era o cemitério).
O fim do enterramento nas igrejas dá-se, em Portugal, com Costa Cabral, nos anos 40
do século XIX. Era normal enterrar-se os santos nas igrejas e os populares também o
quiseram fazer. A Igreja, cria na missa, um momento em que se reza pelos mortos.
3) São poucos os anjos na Bíblia. A Igreja vai multiplica-los, com os Anjos da Guarda,
um para cada pessoa. Os arcanjos têm funções especiais, como por exemplo, São
Miguel que era o mensageiro de Deus. Um santo para a Igreja, é uma pessoa que
participa de dois mundos: muitos eram mártires (morreu pela fé) e tinham uma metade
divina e uma metade humana. A partir do século VI os santos deixam de ser mártires
e passam a ser protetores dos vivos; pessoas poderosas e que se entregam a Deus à fé
(reis, rainhas, bispos, etc.) – o culto poderia ser feito ainda em vida. Existiam duas
formas de santificação: aclamação popular ou decisão de um tribunal (Inquisição). Os
santos eram intermediários de Deus na Terra, capazes de ajudar e proteger os vivos
(camponeses).

Relíquia: significava algo que se deixava para trás (corpo), daí que guardassem as coisas
dos santos em relicários nas igrejas. A partir do século XI as peregrinações começaram a
ser mais frequentes e, consequentemente, o culto das relíquias. Ao contrário do que alguns
fiéis pensavam, as relíquias eram honradas por representarem santos/mártires em nome
de Deus.

Iconoclasmo/Iconoclastia - Doutrina dos iconoclastas ou de quem se opõe ao culto das


imagens. Foi um movimento político-religioso contra a veneração de ícones e imagens
religiosas no Império Bizantino que começou no início do século VIII e perdurou até ao
século IX. Os iconoclastas acreditavam que as imagens sacras seriam ídolos, e a
veneração e o culto de ícones por consequência, a idolatria. Este era um ato condenável
pelo Antigo Testamento, mas que na Idade Média ganhou um cariz mais religioso do que
pagão e, portanto, foi ganhando cada vez mais adeptos, daí a realização das peregrinações.

4) a) Bênção; b) Maldição; c) Exorcismo.


a) Ato de comunicação. Abençoava-se tudo: pessoas, animais, objetos… O costume da
bênção, eclesiástica, estende-se pelo mundo camponês e ganha popularidade.
b) É o contrário da bênção. É um ritual onde se pregam todos os males do mundo a
alguém ou a alguma casa. A maldição eclesiástica tinha outros objetivos, como a
humilhação do santo.
c) Os exorcismos são executados nos pecados carnais. Usam-se passagens bíblicas, água-
benta, sal… Os exorcismos são uma forma de restabelecer a ligação com Deus,
eliminando os demónios.

- Programa monástico de educação dos leigos:

a) Educação pela palavra;


b) Educação pela imagem;
c) Educação pelo espetáculo.
a) Surgem novos géneros literários: homiliários- partes de homilias. Género literário com
textos escritos nas diferentes línguas. Trazem a língua dos gestos pela primeira vez
para os géneros literários e o romance.
b) Era uma realidade problemática para o Cristianismo. No século VII, na Grécia, é
iniciado um movimento: o iconoclastismo (destruição das imagens). Gregório Magno
defendeu a utilização das imagens como complemento da fé. O Islão também
condenava a idolatração das imagens. A primeira forma da imagem entrar na Igreja foi
através da pintura. As paredes transformaram-se em pinturas das cenas bíblicas.
Funcionava como uma Bíblia para os pobres que não sabiam ler. A escultura começa
por ser introduzida nos pórticos, nos capitéis das colunas e nos relicários –
representação escultórica (aproxima os fiéis dos episódios da Bíblia.
c) Vem da palavra “espelho”, teatro. A partir do século X torna-se frequente a
apresentação de pequenas peças teatrais – autos (episódios da vida de Cristo ou da
Virgem) e milagres (episódios da vida de santos). Representações feitas por homens
(clérigos e monges) e as mulheres eram representadas por crianças – teatro medieval
e teatro europeu não tinham mulheres, até ao século XVII. A partir do século XI
passam a ser as confrarias e irmandades que organizam os espetáculos. A partir do
século XIII as procissões passam a ser grandiosas (a do Corpo de Deus torna-se a mais
importante). A celebração das missas passa a ser um espetáculo de luz e som.

Ordem de Cluny (século X): para Deus, só o mais belo é que serve – recurso a metais
preciosos, a bons tecidos, etc.

 Reinterpretação da Regra de São Bento;


 A espetacularidade das celebrações vai ser muito desenvolvida;
 Novidades arquitetónicas que esta ordem emprega: elevação do altar (através de um
podium); nas igrejas, multiplicam-se o nº de altares (podendo haver duas missas em
simultâneo).
Ordem de Cister (século XII): São Bernardo.

 Reinterpretação da Regra de São Bento;


 Os monges têm de trabalhar (manualmente);
 Recuperar da tradição – ora et labora;
 Distancia-se muito de Cluny pela simplicidade, não tinham nada de valioso.

- Corpo
3. Idade Média Urbana (XII-XV):

- Classificação Social

Lícitas Ilícitas
Camponeses Guerreiros
Monges Mercadores + usuários + judeus
Carniceiros
Mimos + histriões + trovadores + segréis

O século XII é o século de afirmação das cidades: pelo crescimento demográfico e


económico. A valorização das cidades no século XII vem associado à cultura dos valores
Antigos, recuperando-os. Novidades a nível cultural: núcleos de povoamento; difusão da
escrita (com novas funções no quotidiano, como expor a opinião pessoal), ganha funções
profanas; dinheiro e juro; direito; religião; escolas.
Afirmação das cidades: trocas comerciais (cidades portuárias); desenvolvimento urbano.

As cidades e o mundo urbano trouxeram uma realidade religiosa diferente: espiritualidade


interventiva (diferente de contemplativa) – praticar caridade, organização de
confrarias/irmandades, cruzadas; reforma – nova forma de educar, proximidade da vida
na Terra com os mandamentos (“ordens mendicantes”).

Os próprios habitantes das cidades mais importantes, como Paris e Londres, tinham duas
perspetivas muito diferentes acerca das mesmas, uma sempre mais positiva e outra
claramente mais negativa.

- Renascimento cultural (século XII):

 Novas escolas urbanas (catedrais);


 Novas formas de organização das escolas;
 Novos saberes (profanos e racionais): ética e lógica de Aristóteles; física de
Arquimedes; dialética; álgebra – todas estas obras mostram uma forma racional do
conhecimento.

Direito Imperial (romano) – pensamento jurídico que permitia organizar o quotidiano da


Idade Média. Deu origem ao direito civil e ao direito canónico. Foi codificado por
Justiniano. O direito dos monarcas foi influenciado pelo direito imperial.

Renovação completa do ensino e dos saberes. Novos conhecimentos sobre o mundo.


Saberes profanos e saberes racionais.

As zonas de periferia foram muito importantes:

 Península Ibérica – tradução;


 Península Itálica – direito.

Estes novos saberes dão mais importância às escolas urbanas, tornando-as mais
interessantes que as escolas monásticas.

Método intelectual (Escolástica): as escolas monásticas ficavam-se pela lectio, leitura +


explicação, as quais iam buscar a obras de pessoas ilustres, como Santo Agostinho ou São
Jerónimo e, caso fossem opiniões diferentes, retiravam a da pessoa com mais reputação
junto da Igreja. Depois com os novos saberes, as escolas urbanas passaram a introduzir:
a questio (questão); disputatio (discussão); e conclusio (conclusão). A escolástica faz-se
à base de gramática. O segundo estágio da escolástica é a dialética. A escolástica busca
as ligações entre Deus e a Natureza.

III Concílio de Latrão (1179):

1. Em todas as dioceses da cristandade passa a haver um mestre escola, nomeado pelo


bispo, com a função de ensinar os saberes antigos e os saberes novos (ensino
gratuito);
2. Criação de uma Litentia Docendi.

Os intelectuais da Idade Média nascem com as cidades. Antes a especialização dos


homens era, o que reza – clérigos; o que protege – nobreza; o que trabalha – servos. O
nobre era também proprietário, juiz, administrador. O servo era também artesão. Os
clérigos podiam ser professores, escritores, sábios. O intelectual sente-se como um
homem de ofício, a sua função é o estudo e o ensino das artes liberais.

Os Goliardos eram estudantes pobres e clérigos vagabundos. Eram de origem urbana,


camponesa ou até nobre. Fariam qualquer coisa para ganharem a vida.

Universidade: associação (corporação) livre, composta pelos mestres e alunos, que se


reúnem para, de forma autónoma, organizarem o ensino. Mas também é uma instituição
eclesiástica (eram quase todos clérigos), e democrática (eleição do Reitor). Exemplos:
Bolonha (1180-1190), Paris (1207-1211) e Oxford. Em Paris havia um reitor, da
Faculdade de Artes. Em Oxford não havia um só reitor. Em Bolonha os professores não
faziam parte da Universidade, as corporações apenas agrupavam estudantes.

Naquela época, numa fase inicial, não haviam muitos estudantes universitários. Quando
não existiam as corporações, chamavam-se Estudos Gerais. Em Portugal, a sede era em
Lisboa e depois passou para Coimbra. O ensino era teórico (livresco). O século XIII é o
século das Universidades porque é o século das corporações.

O poder da corporação universitária baseia-se em três privilégios essenciais: a autonomia


jurisdicional (no quadro da Igreja com algumas restrições locais e o poder de apelação do
Papa), o direito de greve e de cessação.
A Universidade vai criar uma nova profissão: o livreiro. Livros de bolso; sem iluminuras
(sem riqueza); ganha utilidade. O livro torna-se a base do ensino. Nas Universidades no
norte da Europa predominam os mestres de teologia e artes. Já nas do sul da Europa, os
mestres e os alunos elegem o Reitor e predominam os cursos de direito (civil e canónico)
e medicina. Os cardeais eram, na maioria, licenciados em direito civil, canónico ou
ambos. Surgiu a contabilidade e também a prestação de contas. Já os números árabes eram
usados por astrónomos e astrólogos e também para o registo de despesas e receitas. Para
viverem, no caso do mestre ou tinham salário ou benefício e no caso do estudante, a bolsa
ou a prebenda.

Mundo urbano: Espaço da lei e da escrita:

 Carta de Burgo;
 Foral (XI);
 Costumes (XII-XIV);
 Posturas (X);
 Livros de atas (1384).

4 crimes escritos no foral: homicídio, roubo, rapto e ofensas corporais ou verbais.


Estabelece algumas isenções. Costumes- nele está presente o caráter sagrado da casa de
cada um, entre outras coisas. São práticas consuetudinárias.

O mundo urbano é um espaço de igualdade política e é também um espaço de governos


centralizados (Capítulo Geral, eleito de 3 em 3 anos), constituído pela assembleia, juiz,
procurador, tesoureiro e vereadores. É um espaço de afirmação do individualismo.

A cidade é um espaço de afirmação do individualismo – formas de organização política:


Assembleia; Confrarias; Corporações. Em relação à morte, as sepulturas começam a ser
individualizadas (epígrafes, nomes, monumentos), o testamento escrito é individual e a
oração é interior.

Pobre- até ao século XII todo o indivíduo ou instituição que não tem como se defender.
Rico- o poderoso.

Na escrita, aparecem autores de textos de filosofia, cantigas, etc. Os textos eram de


opinião, ódios e expressões (o que aufere uma marca individual e a afirmação dos valores
individuais – séculos XII e XIII).
A escrita tem um lugar importantíssimo na cidade no século XII: profano; ganham
autoria; “não” existe plágio. Na política, a escrita é um meio de comunicação que ganha
poder, através das leis, cartas ou mandados.

Oralidade – os livros eram para serem lidos em voz alta, em privado ou em público.

Desenvolvimento da caridade pública, com os hospitais, albergarias, calcetação das ruas,


arranjo de chafarizes, etc. – Reforma do Mundo. O fim do mundo estava cada vez mais
longe, e não mais próximo como se pensava.

Século XI – urbano- espiritualidade ativa

Os legados que se deixavam eram relativos à vida, à morte e à família (oblato e donato).

Em Cister, os conversos participam nas orações, nos ofícios e assumem um lugar na


manutenção do altar.

Moeda:

 A riqueza era avaliada pelas cabeças de gado;


 Rico/pobre – novos sentidos;
 Circulação e adaptação da moeda às trocas romanas.

O intelectual da Idade Média vai desaparecer, substituído pelo Humanista. Constitui-se


uma oligarquia universitária. A escolástica vai alargar o seu método de ensino. A teologia
vai-se desviar daquele que era, até então, o caminho da escolástica: o equilíbrio entre a
razão e a fé.

O humanista é mais literário do que científico, mais fideísta do que racionalista. Ao


binómio dialética-escolástica, propõe como substituto, o binómio filologia-retórica. Para
os humanistas a forma é tudo, para os escolásticos a forma está ali apenas para servir o
pensamento.

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